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DETERMINAÇÃO DA TEMPERATURA DE COZEDURA DE CERÂMICAS ARQUEOLÓGICAS: LUMINESCÊNCIA - POTENCIALIDADES E LIMITAÇÕES

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DETERMINATION OF THE FIRING TEMPERATURES OF ARCHAEOLOGICAL CERAMICS:

THERMOLUMINESCENCE - POTENTIALITIES AND LIMITATIONS

G. O. Cardoso1, M. I. Prudêncio1, A. Zink2, M. I. Dias1, J. C. Waerenborgh1 1. Instituto Tecnológico e Nuclear. Sacavem, Portugal.

2. C2RMF - Centre de Recherche et de Restauration des Musées de France. Palais du Louvre, Paris, France.

RESUMO

Um projecto mais vasto sobre cerâmicas pré-históricas permitiu já determinar proveniências e tecnologias de produção para uma rede de povoados da Beira-Alta, Portugal. Nesses trabalhos, o estabe-lecimento das temperaturas de cozedura por difracção de raios-X levantou uma série de questões, nomeadamente quando foram identificadas fases de baixa tem-peratura num grande grupo de amostras. Pretende-se com este trabalho contribuir para uma melhor definição das tem-peraturas de cozedura atingidas na pro-dução de cerâmicas arqueológicas.

Recorreu-se à difracção por raios-X (DRX) da amostra total e da fracção argilosa, ao método instrumental de análise por activação com neutrões (AAN), à espectroscopia de Mössbauer (EM), e à termoluminescência (TL).

A identificação de minerais argilosos em algumas cerâmicas, bem como a presença significativa de óxidos de ferro (essen-cialmente hematite) com granulometria nanométrica, sugere que, ou a cerâmica não foi aquecida a temperaturas superiores a 500ºC, ou houve alterações pós-deposicionais. Os resultados até agora obtidos para a TL, foram mais escla- recedores, observando-se dois tipos de comportamento, um que reflecte tem-peraturas máximas atingidas durante o processo de cozedura inferiores a 550ºC, e outro que para além de apontar também para esta temperatura de cozedura, apresenta modificações na rede cristalina que poderão traduzir fenómenos naturais, como alterações pós deposicionais.

PALAVRAS CHAVE: tecnologias de produção; cerâmica arqueológica; termoluminescência; difrac- ção de raios-X; Espectroscopia Mössbauer.

ABSTRACT

A more general project regarding Portuguese prehistoric ceramics, has already allowed the establishment of pottery provenance and production technologies. In that work, the establish- ment of firing temperatures by X-ray diffraction has pointed out several questions, particularly when low temperature phases have been identified in a great group of samples. In this work we intend to contribute for a better definition of firing temperatures of archaeological ceramics.

Methodology includes X-ray diffraction (XRD) of the bulk sample and the clay fraction, instru- mental neutron activation analysis (INAA), Mössbauer spectroscopy (MS), and thermolumines- cence (TL).

The identification of clay minerals in some ceramics, as well as the significant presence of iron oxides (essentially hematite) with nanometre granulometry, suggests that pottery was not fired at temperatures above 500ºC, or had had post-burial alterations. The already obtained TL results have been more enlightening, with the differentiation of two types of behaviour, one reflecting maximum firing temperatures lower than 550ºC, and other that also points to that firing temper- ature, but in addition presents modifications in the crystalline net that could reflect post-burial alterations.

KEYWORDS: production technologies; archaeological ceramics; thermoluminescence; X-ray diffraction; Mössbauer spectroscopy.

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INTRODUÇÃO

O estudo de cerâmicas é um instrumento muito importante no esta-belecimento de considerações sobre o sistema económico, social e cultural das sociedades Pré-Históricas. A cerâmica é, pois, uma importante fonte de informação arqueológica, como elemento de datação e documento das tecnologias de produção, constituindo um bom testemunho das condições sócio-económicas das comunidades indígenas.

O estabelecimento de temperaturas de cozedura de cerâmicas é um dos critérios importantes na evolução da tecnologia de produção. Tem sido particularmente estabelecido com base em métodos de identificação de fases minerais, sendo por vezes questionado devido a possíveis contaminações pós-deposicionais, ou seja, a existência de fases de baixa temperatura, pode não ser indicador de temperaturas de cozeduras baixas, mas sim devida à presença de minerais de argila e óxidos de ferro formados durante o enterramento da cerâmica.

Note-se que, vários estudos de datações por termoluminescência, mostraram que os tra- tamentos térmicos efectuados nos materiais, como o quartzo ou o feldspato, podem induzir alterações significativas nas propriedades dos materiais: espectro de emissão, forma da curva de luminescência, ou o aumento de TL em laboratório (David e Sunta, 1981). O grau de modificação nas propriedades dos minerais está relacionado com a natureza do material em estudo, com a dose fornecida antes do tratamento térmico (pré dose) e ainda com as condições físicas desse tratamento (tem- peratura, atmosfera, duração, etc.) (David e Sunta, 1983).

Estudos anteriores de peças cerâmicas dos sítios arqueológicos de uma rede de povoados pré- históricos identificados na Beira Alta, Portugal, e de potenciais matérias-primas regionais (Dias et al, 2005, 2003, 2002, 2000 a, b) permitiram identificar produções locais e respectivas maté- rias-primas utilizadas, bem como importações.

Para além disso, fez-se um estudo diacrónico das tecnologias de produção na região, tendo-se estabelecido métodos de fabrico. Nesses trabalhos, para o estabelecimento das tempe- raturas de cozedura recorreu-se à difracção de raios-X, tendo-se questionado a sua aplicação, em particular quando foram identificadas fases de baixa temperatura num grande grupo de amostras.

Pretende-se com este trabalho contribuir para o estabelecimento de uma metodologia em que o efeito dos fenómenos pós-deposicionais seja

minimizado, facilitando a sua identificação, tendo- se estudado cerâmicas de dois sítios arqueo- lógicos da rede de povoados acima mencionada, para o que se utilizou a termoluminescência, da qual se obtém a temperatura máxima atingida na cozedura. Este método foi complementado com a identificação de fases minerais por difracção de raios-X e a identificação dos óxidos de ferro, em particular os que possuem baixo grau de cristalinidade ou de pequena granulo- metria, por espectroscopia de Mössbauer.

MÉTODOS E MATERIAIS ESTUDADOS

MÉTODOS

Difracção de Raios X (DRX)

A composição mineralógica foi obtida por difracção de raios-X (DRX) à amostra total e à fracção argilosa, preparada respectivamente em agregado não orientado e em agregado orientado ao natural, aquecido a 500ºC e glicolado (etileno glicol). Os difractogramas foram obtidos num aparelho Philips PW 1710 (APD-version 3.6j) utilizando a radiação Kα Cu a 40 Kv e 30 mA, a 0.02º 2θ e tempo de contagem de 1.250s.

Espectroscopia Mössbauer (EM)

Prepararam-se absorvedores de amostras seleccionadas de fragmentos cerâmicos reduzidos a pó, contendo aproximadamante 5mg de Fe/cm2. Os espectros de transmissão foram obtidos usando uma fonte de 57Co com uma actividade de 25m Ci. As medidas a baixa temperatura foram obtidas recorrendo a um criostato de fluxo de hélio líquido. Os espectros foram analisados ajustando um somatório de lorentzianas por um método de regressão não linear (Waerenborgh et al, 1994).

Método instrumental de análise por acti- vação com neutrões (AAN)

As análises químicas foram realizadas pelo método instrumental de análise por activação com neutrões (AAN), utilizando-se o Reactor Português de Investigação – RPI (Sacavém) como fonte de neutrões. Os materiais de referência usados foram o GSD-9 (sedimento) e o GSS-1 (solo) do “Institute of Geophysical and Geochemical Prospecting” (IGGE). As amostras e os padrões foram irradiados no RPI a um fluxo térmico de 3.34 x 1012n cm-2s-1; φepi/φth= 1.4%; φth/φfast=12.1, durante 2 minutos (irra- diação curta) e durante sete horas (irradiação longa). Esta análise permitiu a obtenção dos seguintes elementos: Na, K, Fe, Sc, Cr, Mn, Co, Zn, Ga, As, Br, Rb, Zr, Sb, Cs, Ba, La, Ce, Nd, Sm, Eu, Tb, Dy, Yb, Lu, Hf, Ta, Th, U. Os valores de referência foram obtidos dos dados tabulados por Govindaraju (1994). Dois espectrómetros γforam usados: (1) um consistindo de um detector de Ge coaxial de 150cm3 conectado através de um

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amplificador Canberra 2020 a um analisador multi-canal Accuspec B (Canberra). Este sistema apresenta uma FWHM de 1.9 keV a 1.33 MeV;

e (2) o outro consiste num detector de baixas energias (LEPD) conectado através de um ampli- ficador Canberra 2020 a um analisador multi- canal Accuspec B (Canberra). Este sistema apresenta uma FWHM de 300 eV a 5.9 keV e 550 eV a 122 keV.

As correcções para a interferência espectral dos produtos de fissão do U na determinação das concentrações do bário, terras raras e zircão foram efectuadas de acordo com os procedimentos de Gouveia et al, 1987 e Martinho et al, 1991.

Termoluminescência (TL)

Amostras de fragmentos cerâmicos reduzidos a pó foram pré-tratadas com uma solução de HCl a 10% e de H2O2 a 30%, para remoção do carbonato de cálcio e de materiais orgânicos que possam existir, seguidas de crivagem para obten- ção de grãos com dimensões entre 100-160 mm (Cardoso, 2005).

Prepararam-se diferentes alíquotas de uma mesma amostra de cerâmica para medições de TL. Neste estudo, estas foram efectuadas segundo dois processos (1) “Característica da Activação Térmica” – TAC (Aitken. 1985) e (2) Annealing (Roque, et al. 2004), que consistem respectivamente em:

TAC

a) pré aquecimento da amostra a temperaturas definidas (com inter-valos de 25ºC) de 200ºC a 675ºC;

b) irradiação da amostra a 25 Gy;

c) aquecimento até 200ºC (medição da intensidade do sinal de luminescência do pico de 110ºC);

b) repetição do ponto a), com Ti + 25ºC.

Annealing

a) divide-se a amostra em 7 sub-amostras (alíquotas);

b) alíquota 1: aquecer até 650ºC (TL natural);

c) alíquota 2: irradiar a 20 Gy;

d) aquecer a 650ºC (TL Nat + 20 Gy);

e) alíquotas 3 a 7: aquecer (annealing) a amostra a temperatura Ti, onde i refere-se ao número de sub amostras de 200 a 600ºC, em intervalos de 100ºC;

f) irradiar todas as alíquotas a 20 Gy;

e) aquecer a 650ºC (TL Nat + TL de annealing + 20 Gy).

As alíquotas são colocadas em discos de inox, com a ajuda de silicone, para uma melhor adesão, sendo as medições efectuadas num leitor RISØ TL-DA-15.

A medição por TL é efectuada nos grãos de quartzo e feldspato, em simultâneo, utilizando um filtro para lâmpadas de halogéneo, Corn 7-59, acoplado a um tubo foto multiplicador EMI 9635 QA. Para a irradiação β recorreu-se a uma fonte 25 mCi 90Sr/90Y.

Os resultados obtidos foram tratados por um software específico – Analyst, RISØ.

Estes dois processos de medida de TL permitiram-nos construir curvas de Lumi- nescência versus temperatura. No caso das representações gráficas obtidas pelo processo TAC, cada ponto reflecte a resposta do pico a 110ºC, para uma mesma dose, mas após vários pré aquecimentos diferentes. A variação corres- ponde assim, à sensibilidade do pico de 110ºC, sendo que, como primeira aproximação, a varia- ção da sensibilidade reflecte a variação na ordem local (da temperatura). O processo de Annealing dános curvas de comportamento do sinal de luminescência para cada temperatura de pré aquecimento de 100ºC em 100ºC, sendo a temperatura máxima atingida traduzida por inflexões nas curvas das temperaturas em causa.

MATERIAIS ESTUDADOS

Os materiais cerâmicos estudados provêm de dois sítios arqueológicos pertencentes a uma rede de povoados de Fornos de Algodres (Beira Alta, Portugal): Fraga da Pena (Calcolítico Final– Bronze Inicial) e Malhada (Calcolítico) (Valera, 1995, 1997, 2003). Para os estudos detalhados por termoluminescência seleccionaram-se treze frag- mentos cerâmicos, com base na sua composição mineralógica (presença/ausência de minerais de argila e de óxidos de ferro) e química (teor em ferro). Nove amostras são provenientes da Fraga da Pena e quatro da Malhada.

RESULTADOS

COMPOSIÇÃO MINERALÓGICA

Estudos anteriores (Dias et al., 2000a, 2003) revelaram que as matérias primas utilizadas no fabrico da generalidade das cerâmicas da rede de povoamento regional foram os materiais decorrentes da alteração dos granitos, que são os mais disponíveis na região. Também foram usadas argilas decorrentes da alteração dos doleritos, com a adição de têmpera de natureza dominantemente granítica. Realce-se que no caso dos dois sítios aqui estudados (Malhada e Fraga da Pena) nas cerâmicas da ocupação Calcolítica, para além do uso dos granitos, também os doleritos foram muito utilizados, nomeadamente na produção de cerâmicas mais finas e com tecnologias de produção mais cuidadas (Dias et al, 2005), ao que não será alheio o facto de junto aos dois sítios ocorrerem extensos filões de doleritos.

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Dos materiais alterados amostrados, os do- leritos são os mais argilosos, como aliás se pode constatar nas associações mineralógicas predominantes da amostra total, onde os fi- lossilicatos assumem uma proporção significativa (Doleritos: Quartzo ≥ filossilicatos > feldspatos alcalinos > micas > plagioclases > piroxenas >

goethite > ilmenite > hematite; Granitos: Quartzo

> feldspatos alcalinos > plagioclases > micas >

filossilicatos > vestígios de goethite), destacando- se dos granitos também pela presença de piroxenas e óxidos de ferro. Como seria de esperar a composição mineralógica da fracção argilosa é distinta, apresentando os materiais decorrentes da alteração dos granitos uma associação mineralógica predominante do tipo: caulinite >

esmectite > ilite > vestígios de interestratificados, e os doleritos uma associação do tipo: esmectite >

caulinite > ilite > clorite > interestratificados >

óxidos de ferro (Dias et al, 2000a, 2003).

A composição mineralógica das cerâmicas estudadas é semelhante, sendo que as associa- ções predominantes observadas são do tipo:

quartzo > feldspatos potássicos > plagioclase >

filossilicatos > hematite, ocorrendo também vestígios de clorite e/ou esmectite. (Dias et al.

2002, 2005).

Foi a presença destes minerais argilosos em algumas cerâmicas, que levantou a questão se seriam indicadores de baixas temperaturas de cozedura, ou se seriam devidos a fenómenos pós deposicionais.

CRISTALOQUÍMICA DO FERRO

Os espectros Mössbauer de todas as amostras estudadas por esta técnica são semelhantes (Fig. 1). Foram analisados considerando um sexteto, cujos parâmetros são atribuíveis à hematite e dois dobletos devidos a Fe3+ e Fe2+

paramagnéticos. Os parâmetros do Fe para- magnético são compatíveis com os do Fe3+ e Fe2+ na estrutura de silicatos. No entanto no caso do Fe3+ à temperatura ambiente a contribuição de óxidos cujos domínios mono- cristalinos tenham dimen-sões da ordem dos 10 nm pode estar sobreposta à do Fe3+em silicatos, uma vez que esses óxidos têm um compor- tamento superparamagnético, com uma relaxa- ção das direcções dos momentos magnéticos mais rápida do que o tempo de observação da espectroscopia Mössbauer à temperatura ambiente (Vandenberghe et al. 2000). A 4K a temperatura é suficientemente baixa para que a diminuição da frequência de relaxação permita a observação das interacções magnéticas, isto é, a observação de um sexteto nos espectros. No caso das amostras da Fraga da Pena o claro aumento da área relativa do sexteto observado a 4K relativamente ao observado a 300K evidencia a

presença significativa de óxidos, neste caso de hematite, com granulometria nanométrica. Este facto por sua vez sugere que, ou a cerâmica não foi aquecida a temperaturas superiores a 500ºC, ou houve alterações pós-deposicionais (Wagner e Wagner 2004).

Deste modo a espectroscopia Mössbauer aponta para as mesmas questões colocadas pelos resultados obtidos por DRX.

COMPOSIÇÃO QUÍMICA

A composição química das argilas estudadas reflecte a composição mineralógica, distinguindo- se os materiais resultantes da alteração dos granitos e dos doleritos, pelo teor em Na e K (feldspatos alcalinos e plagioclases), que é maior no primeiro caso, e pelas maiores proporções de elementos com afinidade geoquímica a minerais ferromagnesianos, como o Cr, Co, Sc e Fe, no caso dos doleritos (Dias et al, 2000a, 2003).

As cerâmicas dos sítios arqueológicos aqui estudados podem dividir-se em dois grandes grupos composicionais: 1) cerâmicas cuja compo- sição química apresenta afinidades com os grani- tos, incluindo a generalidade das amostras Calcolíticas da Malhada e um pequeno grupo de amostras da Fraga da Pena; 2) um segundo grupo com menor número de amostras que inclui cerâmicas relacionadas com os doleritos, com- preendendo essencialmente recipientes cam- Fig. 1. Espectros Mössbauer obtidos à temperatura am- biente e a 4K de uma amostra de cerâmica da Fraga da Pena.

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paniformes da Fraga da Pena e algumas cerâ- micas Calcolíticas da Malhada (Dias et al. 2005).

CARACTERIZAÇÃO DA LUMINESCÊNCIA

Neste trabalho aplicou-se o método da lumi- nescência, não para datar, mas sim para inferir sobre temperaturas de cozedura de cerâmicas arqueológicas. Para o que se partiu do princípio base da luminescência, em que as perturbações observadas por aquecimento na rede cristalina induzem alterações nas características da lumi- nescência do material (Aitken, 1985), e extra- polou-se que estas alterações podem traduzir temperaturas máximas atingidas pela amostra.

Optou-se também por efectuar o mesmo tipo de testes às amostras de argilas decorrentes da alteração dos granitos e dos doleritos. Dos resultados obtidos para estes materiais, como seria de esperar, não se detectou qualquer alteração na rede cristalina (Fig. 2), observando- se a anulação do sinal de luminescência com o aquecimento das amostras, já que, qualquer aquecimento fornecido a este tipo de amostras será necessariamente mais forte do que o fornecido anteriormente, por uma exposição solar, levando forçosamente ao esvaziamento da rede cristalina.

No conjunto de treze cerâmicas analisadas obtiveram-se dois tipos de resultados para os

ensaios TL efectuados, independentemente do processo utilizado (TAC e Annealing). Num primeiro caso, num conjunto de cerâmicas, aplicando o processo TAC, obtém-se apenas um pico máximo de acumulação, que traduz a temperatura máxima a que a peça foi sujeita, e que varia entre os 525ºC e os 550ºC; aplicando o processo Annealing observa-se o mesmo tipo de leitura, com uma inflexão única das curvas de 500ºC e 600ºC, traduzindo o mesmo intervalo de temperaturas máximas atingidas. Estes resultados foram independentes dos sítios em estudo, observando-se o mesmo comportamento para as cerâmicas da Fraga da Pena (Fig. 3e 4) e da Malhada (Fig. 5 e 6).

Fig. 2. Processo “TAC” – sinal de luminescência para as argilas.

Fig. 3. Processo “TAC” – Sinal de luminescência para uma cerâmica de Fraga da Pena (FP-1).

Fig. 4. Processo “Annealing” – Sinal de luminescência para uma cerâmica de Fraga da Pena (FP-1).

Fig. 5. Processo “TAC” – Sinal de luminescência para uma cerâmica da Malhada (Ma-3).

Fig. 6. Processo “Annealing” – Sinal de luminescência para uma cerâmica da Malhada (Ma-3).

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Num segundo caso, as cerâmicas após sujeitas aos ensaios TL apresentaram comportamentos distintos, observando-se a presença de dois picos de acumulação do sinal de luminescência com o processo TAC (250ºC - 275ºC; 525ºC - 550ºC), fenómeno igualmente observado com o processo Annealing, onde são visíveis duas inflexões, uma correspondente às curvas de 200ºC e 300ºC, e outra às curvas de 500ºC e 600ºC. Estes resulta- dos foram independentes dos sítios em estudo, observando-se o mesmo comportamento para as cerâmicas da Fraga da Pena (Fig. 7 e 8) e da Malhada (Fig. 9 e 10).

Existem, assim, amostras com dois tipos de comportamento quando sujeitas aos processos de medida de TL, que nos permitem retirar diferentes ilações. No primeiro caso referido, em que se observa apenas uma alteração significativa da curva de luminescência, poder-se-á inferir que essa alteração corresponde à temperatura má- xima atingida durante o processo de cozedura da cerâmica, que foi necessariamente inferior a 550ºC, tendo-se assistido a uma modificação única da rede cristalina.

No segundo caso, em que se observam dois pontos de alteração do sinal de luminescência,

pode, por um lado, continuar-se a apontar que a temperatura atingida durante o processo de cozedura da cerâmica foi inferior a 550ºC, já que a detecção deste pico implica que necessaria- mente, num primeiro momento, ocorreu uma limpeza de qualquer sinal de luminescência até essa temperatura. Contudo, atendendo a que se observa um outro pico a temperaturas mais baixas, este teve que se formar posteriormente, ocorrendo uma nova alteração da rede cristalina, que se traduziu numa alteração do sinal de luminescência a baixas energias, o que poderá significar que a cerâmica esteve sujeita a novos fenómenos, tais como alterações pós deposicionais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos com a composição mineralógica (DRX), a espectroscopia Mössbauer e os ensaios TL efectuados às cerâmicas dos sítios Calcolíticos da Fraga da Pena e da Malhada apon- tam todos para tecnologias de produção cerâmica que envolveram temperaturas de cozedura infe- riores a 550ºC.

A hipótese de em alguns casos as tem- peraturas de cozedura serem ainda mais baixas, poderá ser questionada, já que para um conjunto

Fig. 7. Processo “TAC” – Sinal de luminescência para uma cerâmica de Fraga da Pena (FP-2). Realce-se a presença de 2 picos de acumulação do sinal de luminescência.

Fig. 8. Processo “Annealing” – Sinal de luminescência para uma cerâmica de Fraga da Pena (FP-2). Realce-se a presença de 2 inversões do sinal de luminescência (círculo representa as baixas temperaturas, rectângulo as altas temperaturas).

Fig. 9. Processo “TAC” – Sinal de luminescência para uma cerâmica da Malhada (Ma-1). Realce-se a presença de 2 picos de acumulação do sinal de luminescência.

Fig. 10. Processo “Annealing” – Sinal de luminescência para uma cerâmica da Malhada (Ma-1). Realce-se a presença de 2 picos de acumulação do sinal de luminescência (círculo representa as baixas temperaturas, quadrado as altas temperaturas).

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de cerâmicas, as alterações observadas no sinal de lumi-nescência também a baixas energias, reflectindo um rearranjo da rede cristalina, poderá ser explicado por fenómenos pós- deposicionais.

Estão ainda em curso mais ensaios em cerâmicas com temperaturas de cozedura controladas para uma melhor afinação do método da termoluminescência aplicado a este tipo de problemática. No entanto, este trabalho

permite já constatar a utilidade do método para o estudo de tecnologias de produção na Pré- História, onde as questões relacionadas com as temperaturas de cozedura são muitas vezes relevantes à investigação arqueológica. Este método tem ainda como vantagens o facto de possibilitar determinar um intervalo da ordem dos 25ºC para uma provável temperatura de cozedura, recorrendo a uma quantidade mínima de amostra.

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