Relatos de Experiência
A importância do trabalho com a
informação jurídica esportiva na cidade
de São Paulo
Ana Maria Rodrigues Carvas da Costa Monteiro
Bibliotecária Coordenadora do Centro de Documentação e Biblioteca – CDB da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação – SEME da cidade de São Paulo - SP
E-mail: ammonteiro@prefeitura.sp.gov.br
Maria Antonia Gaviolli Mendes Botelho
Bibliotecária do Centro de Documentação e Biblioteca – CDB da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação – SEME da cidade de São Paulo - SP
E-mail:mbotelho@prefeitura.sp.gov.br
Resumo: Este artigo se propõe a explorar a faceta jurídica na área do esporte e da Educação Física. Mostra ações desenvolvidas pelo Centro de Documentação e Biblioteca – CDB para respaldar decisões estratégicas na Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação da cidade de São Paulo e pontua algumas instituições e órgãos geradores de determinações legais nessa área.
Palavras-chave:Informação jurídica esportiva; Gestão do conhecimento; Instituições esportivas; Direito Esportivo; Legislação esportiva.
INTRODUÇÃO
O esporte em seu aspecto jurídico tem seus alicerces nas diferentes esferas de atuação: internacional, nacional, estadual e municipal.
Em âmbito internacional temos como exemplo de documento base a Carta Internacional de Educação Física e do Desporto1, a qual, no seu artigo 7º, valoriza o armazenamento e disseminação da informação esportiva.
Art.7. A informação e a documentação contribuem para promover a educação física e o desporto
Art. 7.1. Reunir, subministrar e difundir informações e documentações relativas à Educação Física e ao desporto constituem uma necessidade primordial, assim como, em particular, a difusão de informações sobre os resultados das investigações e dos estudos de avaliação relativos aos programas, a experimentação e as atividades
A Constituição Brasileira2 estabelece em seu artigo 217 que “É dever do Estado fomentar
práticas desportivas formais e não formais; como direito de cada um (...)”. Assim,
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Carta Internacional da Educação Física e do Desporto, adotada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas, reunida em Paris, na sua 20ª sessão para a Educação, a Ciência e a Cultura, em novembro de 1978. Disponível em:
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compreende-se o estabelecido na Lei federal 9.615/19983, em seu artigo 4º, §1º, sobre o Sistema Brasileiro do Desporto, que tem por objetivo garantir a prática desportiva regular e melhoria de seu padrão de qualidade.
Para a municipalidade de São Paulo a Lei Orgânica do Município4 de 1990, no seu Título 6º, Capítulo 5º - Do Esporte, Lazer e Recreação, nos artigos 230 a 235, estabelece que:
“É dever do município apoiar e incentivar, com base nos fundamentos da Educação Física, o esporte, a recreação, o lazer, a expressão corporal, como formas de educação e promoção social e como prática social cultural e de preservação da saúde física e mental do cidadão”
(Artigo 230).
A Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação - SEME, criada pela Lei 10.255/865 e reestruturada pelo Decreto 49.799/20086, tem como missão7 formular
políticas, fomentar e apoiar projetos e ações que incorporem atividades físicas, esporte e lazer aos hábitos de vida saudável da população paulistana. O campo funcional da SEME está definido no Decreto 49.799/2008.
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Constituição da República Federativa do Brasil. Disponível em:
http://www.senado.gov.br/sf/legislacao/const/
3 Lei 9.615/1998 - Institui normas gerais sobre desporto e dá outras providências. (Também
conhecida como Lei Pelé ou Lei Geral sobre Desporto – LGSD) – Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9615Compilada.htm
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Lei Orgânica do Município de São Paulo com suas alterações – Disponível em:
http://www.camara.sp.gov.br/central_de_arquivos/homepage/lom_05.pdf. 5
Lei 10.255, de 23 de dezembro de 1986. Dispõe sobre a criação da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação (Seme), e dá outras providências. Disponível em:
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/esportes/servicos/biblioteca/0023/portal/secretarias/esp ortes/servicos/biblioteca/legislacao/0009
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Decreto 49.799, de 22 de julho de 2008 - Dispõe sobre a reorganização da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, bem como altera a denominação e a lotação dos cargos de provimento em comissão que especifica. Disponível em:
http://www3.prefeitura.sp.gov.br/cadlem/secretarias/negocios_juridicos/cadlem/integra.asp?alt=230 72008D%20497990000
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Missão da SEME - Disponível em:
Figura 1 – Estrutura da SEME
1 INFORMAÇÃO JURÍDICA
Em revisão de literatura, Rezende (2000) considera que a necessidade pela busca da informação hoje é frequente, e o universo desta é muito maior.
Para facilitar esta busca, devemos entender primeiro o processo legislativo e sua abrangência. As normas jurídicas se dividem em superiores e marginálias e podem ser federais, estaduais e municipais. As normas superiores são geradas a partir de uma norma maior de ação, abrangem mais pessoas de forma geral. E são elas: leis, leis complementares, medidas provisórias, decretos. Já as normas inferiores são geradas por órgãos para determinados grupos de pessoas ou áreas. O controle e acesso são mais difíceis. Existem em grande volume porque são muito minuciosas e pela quantidade de órgãos que existem. Muitas vezes, não são publicadas, dificultando ainda mais o seu acesso (REZENDE, 2000).
Entende-se por documentação jurídica a reunião, análise e indexação da doutrina, da legislação, da jurisprudência e de todos os documentos oficiais relativos a atos normativos ou administrativos (ATIENZA, 1979).
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“conjunto de documentos, sobre qualquer suporte de informação em
que estejam representados, cujo conteúdo refere-se direta ou indiretamente a questões relacionadas com o Direito ou regulados por este, e portanto, são significativos para os usuários específicos desse macrodomínio temático (advogados, escrivães, empresas, governos, instituições, professores, estudantes), e de interesse para a sociedade
em geral”.
Cada informação potencialmente registrada possibilita não só provar fatos e atos, mas também gerar novo conhecimento (GUIMARÃES; NASCIMENTO, 2007). Afirmam ainda
que “em todas as áreas, é preciso que se trabalhe com informações documentais confiáveis, com presunção de autenticidade e veracidade, seja para a resolução de
conflitos, ou seja para a construção de novo conhecimento”.
Verifica-se, assim, ao adentrar o campo do Direito, que o documento assume uma função específica que irá ao encontro da atuação e finalidade maior da área. Tem-se, então, dentro de uma visão ampla, o documento como fonte de informação, como meio de prova judicial e controle administrativo, envolvendo todos os documentos registrados de modo manual, impresso, fotográfico, cinematográfico, micrográfico, magnético, ótico e outros, produzidos, emitidos e recebidos por agentes públicos (Estado) e privados (particulares) (GUIMARÃES; NASCIMENTO, 2007).
2 INFORMAÇÃO JURÍDICA ESPORTIVA
Não há código ou disposição de Lei comum que desenvolva ou alcance o conjunto da atividade desportiva. As disposições pertinentes ao direito desportivo emanam dos regulamentos, regras e preceitos criados pela própria instituição do desporto e que constituem a legislação desportiva (PERRY, 2002).
Regras e regulamentos de esportes e campeonatos - editados por associações, federações e confederações esportivas (nacionais e internacionais) – Ex. CBF –
Confederação Brasileira de Futebol, FIFA – Federação Internacional de Futebol, FIA – Federação Internacional de Automobilismo
Deliberações de organismos gestores do esporte e da Educação Física em âmbito nacional e internacional – Ex. COB – Comitê Olímpico Brasileiro, COI –
Comitê Olímpico Internacional (normas para cidades postulante a sede dos Jogos Olímpicos), ODEPA – Organização Desportiva Pan-Americana, WADA –
Agência Mundial Anti-doping, CONFEF – Conselho Federal de Educação Física, CREF – Conselho Regional de Educação Física
Deliberações do Estado relacionadas ao esporte e à Educação Física, em nível federal, estadual e municipal - Ex. Políticas públicas, incentivo ao esporte, criação e funcionamento de instituições
Deliberações de organismos nacionais e internacionais com área de atuação correlata – Ex. ONU – Organização das Nações Unidas (Carta Internacional da Educação Física e do Desporto), UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, OEA – Organização dos Estados Americanos
Documentos gerados em eventos nacionais e internacionais, com diretrizes de ação para a área – Ex. Carta de São Paulo, Carta de Brasília
É necessário registrar ainda o entrelaçamento do esporte com outras áreas como medicina e saúde, educação, meio ambiente, cultura de paz, relações internacionais, marketing, psicologia, sociologia e outras.
3 CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E BIBLIOTECA DA SEME – CDB
O Centro de Documentação e Biblioteca – CDB da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação – SEME, criado pelo Decreto 49.799/088, tem suas atribuições definidas no Artigo 40, onde em seu inciso I consta “proceder à guarda e conservação de
documentos específicos da Secretaria, garantindo a recuperação da informação, o acesso ao documento e a preservação de sua memória, prestando informações atualizadas no âmbito interno e externo”. Em seu inciso VI estabelece ainda “orientar os interessados nas consultas e pesquisas legislativas e bibliográficas”.
Sendo assim, entendemos que um de seus campos de ação dentro do Esporte e da Educação Física é na área jurídico-legislativa esportiva (em âmbito municipal, estadual, federal e até mesmo internacional). O serviço prestado nessa área auxilia no
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embasamento de decisões estratégicas, mostra o interesse e preocupação da administração vigente, o perfil do nosso usuário e ao mesmo tempo o interesse do CDB em procurar suprir as necessidades de seu público, com diferencial da inovação.
Com o objetivo de maximizar o acesso da comunidade esportiva e em geral à legislação esportiva, decidiu-se construir ferramentas específicas para o tratamento da legislação esportiva no CDB da SEME, a saber: base de dados e disponibilização de acesso a textos integrais na página Web do CDB, além de links para outros sites de busca.
3.1 Base de dados LEGIS
Considerando-se a afirmação de Rezende (2000), que o controle e acesso às normas inferiores (geradas por órgãos para determinados grupos de pessoas ou áreas de atuação) são mais difíceis, porque existem em grande volume e são muito minuciosas (há quantidade significativa de órgãos emissores); considerando-se ainda que essas normas, muitas vezes, não são publicadas, dificultando ainda mais o seu acesso, decidiu-se pela criação de uma base de dados específica.
A base de dados LEGIS, foi criada em janeiro de 2002, em CDS/ISIS for Windows (WINISIS)9, possibilitando a customização da base de dados específica para registro, tratamento, armazenamento e recuperação rápida para os diversos tipos de informação e documentos disponíveis. Com atualização diária, essa base registra:
- legislação municipal relacionada à gestão da SEME (leis, decretos, portarias, despachos, ordens internas, pareceres, resoluções, entre outros);
- todos os atos editados na administração da SEME, publicados em diário oficial; - legislação em âmbito estadual e federal relacionada às diretrizes da SEME.
Nessa base foram inseridos os dados retrospectivos do cadastro da legislação da SEME desde 1977, substituindo controles anteriormente elaborados em documentos texto e planilhas eletrônicas. Todos os atos editados na administração da SEME estão sendo digitalizados e linkados para acesso ao documento integral. O acesso on-line estará disponível brevemente na página do CDB, com recuperação e acesso aos textos integrais digitalizados.
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Figura 1 – Representação de Despacho
Figura 2 – Representação de Portarias
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3.2 Página do CDB no portal da PMSP/SEME
Todos os sistemas de informação convergem, nos dias que correm, para as páginas web da Internet. Isto permite uma melhor difusão da informação do centro, assim como uma publicidade acrescida dos serviços e produtos documentais de que dispõe (CLARKE, 2000).
... é primordial que os objectivos desse serviço de informação desportiva estejam em concordância com os objectivos da organização, instituição ou agência que o alberga. [...] Se o centro de informação estiver localizado num departamento ministerial, o serviço deverá então estar vocacionado ao fornecimento de informação aos decisores da política desportiva. Se, por outro lado, o centro pertencer a um Instituto de Desporto, estará, provavelmente direccionado para as necessidades informativas dos treinadores, dos atletas e, talvez, dos investigadores ou dos médicos desportivos que trabalham no Instituto (CLARKE, 2000).
Em 2005, o CDB desenvolveu o conceito e a arquitetura da informação na construção de sua página web (Figura 4) inserida na página da SEME, dentro do portal da PMSP, com o seguinte endereço:
http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/esportes/servicos/biblioteca/0001
Em duas opções do menu lateral oferecemos possibilidade de acesso à legislação esportiva: Legislação e Links.
3.2.1 Opção do menu: LEGISLAÇÃO
As informações foram distribuídas em grandes grupos, com o texto integral linkado: - Legislação básica da SEME e alterações – legislação desde a criação da Secretaria Municipal de Esportes;
- Legislação básica esportiva – legislação considerada de base em âmbitos federal, estadual e municipal;
- Incentivo ao Esporte – legislação específica na área de incentivo ao esporte; - Legislação correlata administrativa e
- Políticas Públicas – políticas de ação estratégica governamental.
Figura 5 – Página da Legislação no site do CDB
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3.2.2 Opção do menu: LINKS / Legislação Brasileira – Geral
Nessa página disponibilizamos links dos sites dos Diários Oficiais, da Presidência da República, Senado Federal, Câmara dos Deputados e Assembléia Legislativa de São Paulo, que também oferecem acesso integral a seus conteúdos.
Figura 7 – Página de Links da Legislação Brasileira - Geral na página do CDB
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem jurídica em todas as áreas do conhecimento, inclusive a esportiva, tem papel fundamental nas organizações, em razão de justificar a tomada de decisões.
A legislação esportiva tem se desenvolvido de modo ousado, exigindo maior dedicação dos profissionais da informação. Assim, as informações e documentos legais em vigor precisam ser tratados e armazenados de forma apropriada para que a recuperação e disseminação atendam as necessidades da organização de forma oportuna, rápida e precisa.
REFERÊNCIAS
CLARKE, Nerida et al. Manual do centro de informação desportiva. Tradução do Centro de Estudos e Formação Desportiva. Lisboa: Instituto Nacional de Formação e Estudos do Desporto, 2000. 136 p. Disponível em: <http://www.iasi.org/publications/pdf/ManualPortuguese.pdf>. Acesso em: 23 jul. 2009.
GUIMARÃES, José Augusto Chaves; NASCIMENTO, Lucia Maria Barbosa do. A organização da informação jurídico-digital e os avanços teóricos da diplomática: uma reflexão acerca da eficácia probatória do documento.
Informação & Informação, Londrina, v.12, n.2, jul./dez. 2007. Disponível em:
<http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/informacao/article/viewFile/1762/1506>. Acesso em: 13 jul. 2009.
PERRY, Valed. O direito desportivo. Revista Brasileira de Direito Desportivo, São Paulo, a.1, n.1, 2002, p.18-26.