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A PRODUÇÃO DA VITICULTURA NO MUNICÍPIO DE TOLEDOPR: UMA EXPERIÊNCIA EM CONSTRUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR – 2000-2010 DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

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MARIZE RAUBER ENGELBRECHT

A PRODUÇÃO DA VITICULTURA NO MUNICÍPIO DE TOLEDO/PR: UMA EXPERIÊNCIA EM CONSTRUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR – 2000-2010

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

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MARIZE RAUBER ENGELBRECHT

A PRODUÇÃO DA VITICULTURA NO MUNICÍPIO DE TOLEDO/PR: UMA EXPERIÊNCIA EM CONSTRUÇÃO DA AGRICULTURA FAMILIAR – 2000-2010

DOUTORADO EM SERVIÇO SOCIAL

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Serviço Social, sob a orientação da Profª. Doutora Maria Lúcia Carvalho da Silva

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- Primeiramente quero agradecer às Instituições que viabilizaram minha participação no Curso de Doutorado do Programa de Estudos de Pós-Graduação em Serviço Social da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, a Universidade Estadual do Oeste do Paraná, que concedeu licenciamento para o referido programa de Pós–

Graduação, a Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela bolsa parcial no período de dois anos e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela bolsa integral que possibilitou dar continuidade ao doutorado. Sem o apoio financeiro e o incentivo a formação acadêmica, das instituições ora nominadas essa experiência teria sido impossível.

- Um agradecimento imenso a minha orientadora Dra. Maria Lúcia Carvalho da Silva, pela dedicação, paciência e cobrança nas horas certas, permitindo a estruturação deste estudo. Com carinho minha mestre amiga, serei sua eterna aprendiz.

- A todos os professores do programa de Pós–Graduação em Serviço Social, que pelos seus ensinamentos proporcionaram-me um crescimento pessoal e profissional.

- O meu agradecimento às secretárias do Programa de Estudos Pós-Graduados Kátia Cristina da Silva e Vânia Lima, que muitas vezes, devido à distância, foram nossas intermediadoras junto ao programa nos encaminhamentos. Obrigada pela presteza e dedicação.

- Agradecimento especial as professoras da banca de qualificação, professora Raquel Raichelis que trouxe reflexões valiosas para rever posicionamento teórico metodológico. A professora Eliane Brennensein, que dispôs de sua experiência e conhecimento da região oeste paranaense e de estudos rurais que contribuiu para a construção desta tese.

- Um destaque especial para meus pais e minha sogra , agricultores familiares que sempre estiveram me apoiando e acompanhando neste processo, compartilhando alegria, tristezas, inseguranças, medos... e que sempre acreditaram em mim.

- Ao meu querido marido Mário, que vem me acompanhando nesta caminhada, obrigado pelo seu companheirismo e compreensão nestes momentos de tanta angústia e ansiedade. Agradeço por você estar sempre ao meu lado.

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burocráticas mostrando-se preocupada e responsável em resolver da melhor forma as situações. Também agradeço a Clarice Stahl, por ter contribuído na formatação e diagramação da tese e a Marilene Donadel, que colaborou com as correções das referências bibliográficas. Ao professor Osmir, pelas contribuições e sugestões na leitura da tese. Vocês são pessoas muito especiais para mim.

- Com grande carinho quero agradecer a professora Mauraci que prontamente se dispôs a revisão ortográfica da tese. Fiquei muito feliz em conhecer a pessoa querida e amável que você é, pois em pouco tempo de convivência pude reconhecer e admirar o seu profissionalismo e empenho na docência.

- Aos amigos e colegas de doutorado: Vera, Eliana, Eugênia, Cleonilda, Andréia Zimba, Carlos, Mailiz, Carla, Lúcia, Gisela, Lourdes, Eucaris e Angélica, que bom conhecer vocês. Passamos momentos alegres e sofridos que permitiu nos afirmarmos ainda mais em nossas amizades.

- O agradecimento relevante aos sujeitos entrevistados que através dos depoimentos e relato das vivências fundamentaram este estudo. Proporcionaram momentos ímpares quando mostravam com orgulho o trabalho que realizavam na

propriedade e propiciaram momentos de lazer quando conversávamos sobre “tudo um pouco”.

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EPÍGRAFE

QUANDO CHEGA O CHEIRO DA UVA

Com o final do ano chegam à minha cidade as barraquinhas onde se vende uva em caixas de madeira. Elas se proliferam nas esquinas. Nas encruzilhadas. Nas ruas estreitas. Nas ruas largas. Nas estradas. Nos becos sem saídas.

Há na minha cidade sítios onde mãos rudes na iminente chegada do Natal, santamente se aveludam para a colheita da uva. É um ritual onde veludos se abençoam; o da mão do viticultor e o da pele do fruto maduro.

Quando a uva por aqui chega chega também a chuva. Chuva de fim de tarde. Chuva fina. Chuva de verão. Tempestuosa. Chuva de granizo. Chuva granítica. Tem chuva que a uva gosta, porque acaricia. Tem chuva que a uva não gosta, porque machuca.

E quando as uvas passam e as barraquinhas se vão, pode-se ver por toda a cidade flores brancas e dóceis, pequeninas como um olhar ternas como um perdão; e minha cidade hospeda em suas ruas poesias órfãs.

Oswaldo Antônio Begiato

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f. 2012. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

RESUMO

A presente tese tem como objeto de pesquisa a experiência da produção da viticultura no município de Toledo/Paraná, no contexto da agricultura familiar, no período de 2000-2010. Tem por objetivo geral compreender e analisar como a produção da viticultura vem viabilizando economicamente as unidades de produção familiar, desenvolvendo o associativismo entre os viticultores, ampliando as formas de comercialização local e possibilitando a permanência e reprodução das famílias no meio rural. Definiu-se como perguntas norteadoras: como os agricultores familiares de Toledo que passavam por um processo gradativo de descapitalização, encontraram formas de fortalecimento no processo de organização através do plantio da viticultura para viabilizar economicamente a propriedade rural? Em que medida os viticultores encontraram meios viáveis e condições para a família permanecer, se fortalecer e se reproduzir no campo? A hipótese formulada foi a de que os agricultores familiares de Toledo se reorganizaram associativa e tecnicamente nas propriedades, adequando-se às novas tecnologias e assim, alterando o perfil das unidades produtivas, dos viticultores e das formas de produzir, o que está permitindo viabilidade econômica e melhores condições de vida às famílias em sua permanência no meio rural. As referências conceituais centrais recaem sobre o campesinato, agricultura familiar e família no processo de organização produtiva, em autores clássicos e contemporâneos das áreas de ciência sociais, ciência política, ciências econômicas e serviço social. Do ponto de vista metodológico, trata-se de pesquisa qualitativa, abrangendo pesquisa documental, pesquisa de campo e observação participante. Foram escolhidos 16 sujeitos significativos para a pesquisa, entre viticultores, técnicos e dirigentes de entidades representativos do setor agrícola, utilizando a entrevista semi-estruturada, com base em um roteiro de questões. A pesquisa documental apresentou como fontes principais a EMATER, Secretaria da Agricultura de Toledo, IBGE e Ministério do Desenvolvimento Agrário. A observação participante teve como instrumento o diário de campo. A interpretação dos dados da pesquisa repousou na análise de conteúdo. A investigação apresentou como resultado que a experiência em construção da viticultura em Toledo tem sido inovadora para os agricultores familiares à medida que vem oportunizando uma nova atividade produtiva, aumentado a rentabilidade e permitido a reprodução social e permanência das famílias na área rural.

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2012. Tese (Doutorado em Serviço Social) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

ABSTRACT

This thesis has as its object of research experience in the production of viticulture in the city of Toledo/Parana, in the context of family farming in the period 2000-2010. Its general objective to understand and analyze how the production of viticulture is economically enabling the family production units, developing partnerships between harvesters, expanding forms of local marketing and enabling the permanence and reproduction of families in rural areas. Were defined as guiding questions: How farmers of Toledo who passed by a gradual process of decapitalization found ways to strengthen the process of organizing through the planting of vines to the farm economically viable? Which extent the winemakers find viable means and conditions for the family to stay, to strengthen and reproduce in the field? The hypothesis was that the farmers of Toledo reorganized themselves technically and associative in the properties, adapting to the new Technologies and so, changing the profile of production units, grape growers and the ways to produce, what is allowing economic viability and better living conditions for families in their stay in rural areas. According to classical and contemporary authors in the areas of social science, political science, economic science and social service, the central conceptual references passed on to the peasantry, family farms and family in the process of organizing productive. From the methodological point of view, it is a qualitative research, covering research documents, Field research and participant observation. Sixteen subjects were chosen for the significant research, between winemakers, technicians and leaders of organizations representing the agricultural sector, using the semi-structured interview, based on a script of questions. The documentary research had as main sources EMATER, Secretary of Agriculture of Toledo, IBGE and Ministry of Agrarian Development. Participant observation was the instrument field diary. The interpretation of research data rested on content analysis. The research result showed that the construction experience of viticulture in Toledo has been an innovator for the family farmers as new opportunities for providing productive activity, increased profitability and allowed social reproduction and retention of families in the rural areas.

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Quadro 1 – Produção de frutas no Paraná – 2006... 123 Quadro 2 – Produção de Uvas e Áreas Plantadas de Videiras no Brasil

por estado Produtor 2002-2003... 129 Quadro 3 – População rural e urbana do município de Toledo

(Ano de 1956 a 1980)... 139 Quadro 4 – População rural e urbana do município de Toledo (Ano de 2010)... 140 Quadro 5 – Número de Estabelecimentos, Área e Valor Bruto da

Produção, Categorias Familiares por Tipo de Renda e Patronal

do município de Toledo/PR- 1996... 141 Quadro 6 – Evolução da Vitivinicultura na Região do Núcleo de Toledo

(2003/2004) ... 151 Quadro 7 – Evolução da produção de suco na região de Toledo-PR

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ACARPA – Associação de Crédito e Assistência Rural do Paraná ACIT – Associação Comercial e Industrial de Toledo

BIRD – Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social BRDE – Banco Regional de Desenvolvimento Extremo Sul

CAI – Complexo Agroindustrial

CEASA – Centrais de Abastecimento do Paraná S.A. CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

COFATOL – Cooperativa dos Agricultores Familiares de Toledo CONAB – Companhia Nacional de Abastecimento

CONTAG – Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura COOPAGRO – Cooperativa Agropecuária Mista do Oeste Ltda

CPT – Comissão Pastoral da Terra CUT – Central Única dos Trabalhadores DAP – Declaração de Aptidão ao Pronaf DERAL – Departamento de Economia Rural

EMATER – Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EMBRATER – Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural ETA – Escritório Técnico de Agricultura

FAEP – Federação da Agricultura do Estado do Paraná

FAO – Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FETAEP – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Paraná FMI – Fundo Monetário Internacional

FPM – Fundo de Participação dos Municípios IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IBRAVIN – Instituto Brasileiro do Vinho

ICMS – Imposto sobre Circulação de Mercadoria

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MDA – Ministério do Desenvolvimento Agrário

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome MIRAD – Ministério da Reforma Agrária e Desenvolvimento MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST NEAD – Núcleo de Estudos Agrários e Desenvolvimento Rural PAA – Programa de Aquisição de Alimentos

PCA – Paradigma do Capitalismo Agrário PIB – Produto Interno Bruto

PIPSA – Pesquisadores do Projeto de Intercâmbio de Pesquisa Social em Agricultura

PNME – Programa Nacional da Merenda Escolar PNRA – Plano Nacional da Reforma Agrária PQA – Paradigma da Questão Agrária

PROCERA – Programa Especial de Crédito para a Reforma Agrária PROFRUTA – Programa de Desenvolvimento da Fruticultura

PROGER – Programa de Geração de Emprego e Renda no Meio Rural PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar PRONERA – Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária PRP – Partido de Representação Popular

PSD – Partido Social Democrático PTB – Partido Trabalhista Brasileiro

SAPPP – Sociedade Agrícola de Plantadores e Pecuaristas de Pernambuco SEAB – Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento do Paraná SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural

SUPLAN – Subsecretaria de Planejamento e Orçamento

TOFRUTTI – Sociedade dos Fruticultores de Toledo e Região Oeste do Paraná UDN – União Democrática Nacional

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INTRODUÇÃO ... 15

CAPÍTULO I – APROXIMAÇÕES TEÓRICAS SOBRE CAMPESINATO E

AGRICULTURA FAMILIAR ... 32

1 IDEIAS CENTRAIS SOBRE O CAMPESINATO EUROPEU... 32

2 CONCEPÇÕES BÁSICAS SOBRE O CAMPESINATO BRASILEIRO... 46

3 UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CONCEITUAL SOBRE A

AGRICULTURA FAMILIAR BRASILEIRA... 67

4 A FAMÍLIA NA ORGANIZAÇÃO PRODUTIVA DA AGRICULTURA

FAMILIAR... 77

CAPÍTULO II ESTRUTURA AGRÁRIA E A MODERNIZAÇÃO DA

AGRICULTURA NO BRASIL ... 85

1 O DESENVOLVIMENTO E A EXPANSÃO CAPITALISTA NA

AGRICULTURA BRASILEIRA... 85

2 O PROCESSO DE MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA

BRASILEIRA E A PRODUÇÃO AGRÍCOLA FAMILIAR... 93

3 POLÍTICA AGRÍCOLA NO BRASIL E AGRICULTURA FAMILIAR: O PROGRAMA NACIONAL DE FORTALECIMENTO DA

AGRICULTURA FAMILIAR PRONAF... 106

CAPÍTULO III – O PROCESSO HISTÓRICO DA VITICULTURA NO BRASIL E NO ESTADO DO PARANÁ ... 117

1 ASPECTOS DA FRUTICULTURA NO BRASIL E NO PARANÁ... 117

2 UM BREVE HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA

VITICULTURA NO BRASIL E NO PARANÁ... 125

CAPÍTULO IV – AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-

PARANÁ ... 133

1 ORIGENS E CARACTERIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE TOLEDO... 133

2 INOVAÇÕES TÉCNICO/PRODUTIVAS AGRÍCOLAS E AS

MUDANÇAS NA AGRICULTURA FAMILIAR DE TOLEDO ... 140

3 A FRUTICULTURA/VITICULTURA ENQUANTO UM NOVO RAMO

PRODUTIVO PARA OS AGRICULTORES FAMILIARES DE TOLEDO 147

CAPÍTULO V A EXPERIÊNCIA DA VITICULTURA NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TOLEDO: UMA ANÁLISE

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dos viticultores Sociedade dos Fruticultores de Toledo e

Região Oeste do Paraná-TOFRUTTI... 154

b) A Cooperativa Vinícola dos Viticultores de Toledo: um desdobramento da TOFRUTTI... 158

c) Formas de comercialização da viticultura, rentabilidade, crédito rural, e diversificação produtiva... 160

d) Participação da família na produção da viticultura, condições de vida e a permanência dos filhos no campo... 165

e) Principais resultados da produção da viticultura... 169

2 PERCEPÇÕES DOS TÉCNICOS ... 171

a) Ações e inovações técnicas desenvolvidas com os viticultores.... 171

b) Acompanhamento técnico junto aos viticultores e seu processo participativo... 173

3 PERCEPÇÕES DOS DIRIGENTES DE ENTIDADES REPRESENTATIVAS DO SETOR AGRÍCOLA ... 175

a) A implantação da viticultura e as exigências produtivas do mercado... 175

b) Visibilidade dos viticultores no município a partir do Programa de Aquisição de Alimentos PAA... 176

c) A agricultura familiar em Toledo... 178

4 EIXOS ANALÍTICOS E SIGNIFICADOS DA EXPERIÊNCIA NA VITICULTURA DA AGRICULTURA FAMILIAR DE TOLEDO ... 179

a) A viabilidade da viticultura da agricultura familiar de Toledo... 179

b) A participação da família: componente fundamental do processo produtivo da viticultura de Toledo... 198

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 212

REFERÊNCIAS ... 217

APÊNDICES ... 230

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O Serviço Social no exercício profissional se concretiza na dinâmica das relações sociais vigentes na sociedade e nas diferentes conjunturas históricas. O serviço social se gesta e se desenvolve como profissão na divisão social e técnica do trabalho inserido no contexto do capitalismo.

O Serviço Social inscrito no âmbito da produção e da reprodução da vida social intervém sobre as expressões da questão social, entendendo-as como “o

conjunto das expressões das desigualdades da sociedade capitalista madura”

(IAMAMOTO, 1998, p. 27). É nesta inserção do Serviço Social no processo de reprodução das relações sociais que se encontra circunscrita a prática profissional na qual – o profissional assistente social – propõe respostas profissionais em diferentes áreas de atuação e, sobretudo, procura encontrar soluções para as necessidades apresentadas pelos usuários. Compreende-se a prática profissional na sua dimensão histórica como uma prática em processo e em constante renovação diante das modificações verificadas nas manifestações da questão social e nas contradições fundamentais que estão presentes no desenvolvimento da sociedade capitalista.

Conforme Iamamoto (1992), novas situações históricas vão se apresentando e a prática profissional se redefinindo e expressando nestas constantes redefinições a consciência de seus agentes, a temporalidade das práticas e a necessidade de redefinições. No entanto, reforça a autora, que se faz necessário repensar a questão social justo porque as bases de sua produção sofrem na atualidade uma profunda transformação verificada no padrão de acumulação que marca a ampla expansão da economia capitalista.

Os assistentes sociais intervêm nas expressões da questão social através

das políticas sociais, entendidas enquanto “maneira de expressar as relações sociais, cujas raízes se localizam no mundo da produção [...] e que só podem existir

com o surgimento dos movimentos populares.” (VIEIRA, 1992, p. 22).

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Os habitantes rurais compreendem: trabalhadores do campo, agricultores familiares e sujeitos que têm acesso a uma pequena área de terra e sobrevivem do autoconsumo. Este conjunto de trabalhadores tem sido historicamente alijado das políticas agrícolas, o que acentua a pobreza no espaço rural, devido à inserção da

propagada “modernização da agricultura”. Por isso, discutir o universo rural significa dispor-se a compreender um espaço da sociedade capitalista, que mesmo fazendo parte do todo que a constitui, geralmente é colocado como um espaço periférico a ela; logo, como um espaço que não demanda olhares, escutas, debates e, destarte, atendimento.

Verifica-se que do processo migratório do trabalhador do campo para a cidade, ocorreram investimentos maiores das políticas públicas na área urbana do que no campo. No entanto, observa-se ainda que o trabalhador rural que permaneceu no campo, apesar das transformações do seu modo de vida determinado pelo acirramento das relações sociais capitalistas como as crises econômicas, ambientais e sócio urbanas, procura manter uma identidade rural.

Assim, a opção de estudar esta temática decorre da vivência da pesquisadora com sua família da cidade para o campo em Toledo/Pr. Neste deslocamento pessoal e familiar foram necessárias mudanças culturais, socioambientais e produtivas, com o aprendizado do cultivo da terra e os cuidados com a propriedade para suprir as condições básicas de vida da família.

A aproximação da família com o meio rural e as novas formas de vida, bem como as grandes dificuldades enfrentadas enquanto agricultores familiares foram aspectos que sempre estiveram presentes e inquietavam a autora desta pesquisa, a qual tentou buscar respostas para entender o que dificultava tanto a reprodução da vida no campo. A partir da trajetória pessoal, busca-se compreender com maior profundidade o contexto histórico que envolve a agricultura familiar, porque isto retratava uma experiência de vida.

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Desse modo, decidiu-se prosseguir o estudo, através do Doutorado em Serviço Social na PUC/SP para enfocar o segmento dos agricultores familiares do município de Toledo, do ramo da viticultura – enquanto uma nova experiência que permite a reprodução das famílias no espaço rural e propicia melhores condições de vida.

Nesse sentido, desenvolveu-se uma releitura da agricultura familiar a partir de uma ótica que privilegia a unidade agrícola familiar em sua organização interna, na racionalidade em que se apoiam as ações dos sujeitos sociais em questão visualizando o modo de organização e reprodução dos produtores familiares, com alternativas de vida para além da exclusão; fato este presente para a maior parte da população, no âmbito do atual modelo econômico.

Todavia, com o início da modernização da agricultura no Brasil, a partir da década de 1960, observou-se como resultado da expansão intensiva do capitalismo no campo a transformação consubstancial das condições de produção, interferindo nas formas de organização dos produtores para a sua reprodução no campo. O aumento da demanda por produtos agrícolas e os novos papéis da agricultura no mercado interno e externo, bem como nas políticas agrícolas governamentais, levaram a uma diversificação das formas de organização produtiva dos produtores familiares.

Através do modelo de modernização brasileiro ocorreu a necessidade de ampliar e intensificar as superfícies cultivadas e, para que isso acontecesse modificaram-se as técnicas de produção, que até então eram baseadas em culturas tradicionais voltadas para a subsistência e desenvolvidas como rotação de culturas; este procedimento afetou profunda e diretamente em maior escala a pequena produção familiar, que precisou recorrer a outros ramos produtivos.

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Assim, as diferentes formas de desenvolvimento da agricultura, no Brasil, levaram à formação de pequenas unidades de produção agrícola familiar nos mais diversos segmentos produtivos agrícolas e regiões do país. Esta diversidade abrange desde a pequena produção agrícola familiar descapitalizada e subordinada às grandes propriedades, até a pequena produção agrícola familiar com propriedade própria e relativamente autônoma da grande propriedade; ambas se desdobraram significativamente após a década de 1970 e, apresentaram uma considerável produção agrícola familiar com suportes tecnológicos para poder competir em diferentes mercados.

Apesar das mudanças do meio rural, uma grande massa de produtores familiares depende de atividades agrícolas e derivadas para sobreviver. A partir dos anos de 1990, foram criados projetos de desenvolvimento rural de âmbito federal, cada vez mais apoiados e fortalecidos na produção familiar. Porém, para o produtor familiar descapitalizado e intencionalizado a deixar o campo, esses projetos

contribuíram para a construção de uma “nova ruralidade” compatível com os marcos da sociedade moderna e urbanizada.

A proposta desta pesquisa faz um recorte espacial, o município de Toledo/PR, pelo fato de ter se criado neste espaço novas frentes de produção e incentivos de comercialização aos produtos da agricultura familiar. Toledo, atualmente, passa por experiências no processo de implantação dos restaurantes populares, cozinha social, merenda escolar, feiras municipais, apoio de venda nos mercados locais, em que os produtos de gêneros alimentícios são adquiridos através da produção da agricultura familiar; evidencia-se assim, a relevância de um tema em processo de construção o qual repercute positivamente com a projeção e a ampliação de mercado e, sobretudo, garante a permanência das famílias no campo. Um estudo desta natureza é de grande relevância, na medida em que a pesquisa envolve um debate contemporâneo que permite aproximações com dados e informações atuais e propicia uma abordagem dos acontecimentos significativos do setor da viticultura da agricultura familiar, do município de Toledo.

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interesses e demandas de políticas públicas apresentando novas exigências e posicionamentos diferenciados de ações voltadas ao pequeno produtor agrícola familiar. Entretanto, os interesses ficaram sufocados pelas estruturas de dominação política e de subordinação econômica dirigida pelas elites rurais por longas décadas.

Destaca-se também a relevância do tema na medida em que o debate sobre a agricultura familiar e a relação com a natureza e o desenvolvimento sustentável, no contexto da agricultura brasileira tem tomado aspectos importantes e apontado novas fronteiras quanto ao reconhecimento e a legitimidade deste segmento, principalmente a partir da década de 1990.

Nessa perspectiva, a relevância deste estudo também recai diante da abertura de um novo ramo de produção, a viticultura, que tomou proporções de crescimento na região oeste caracterizando um processo de produção que não era comum pelos agricultores, mas que diante da evolução e do desenvolvimento já demonstra resultados positivos na esfera econômica.

O tema também apresenta importância social à medida em que oportuniza aos agricultores familiares e a sua família a permanência no campo; retira da produção da viticultura um excedente para sobreviver e evita a saída dos mesmos do espaço rural para o urbano, o que permite em grande parte o não agravamento da pobreza na cidade.

Assim, essa temática contribuirá como estudo investigativo sobre a agricultura familiar no município, uma vez que sua premissa é afirmar a agricultura familiar do setor da fruticultura para o desenvolvimento socioeconômico local e regional. Outro destaque é a contribuição significativa para a área do Serviço Social, bem porque propicia um novo apreço aos estudos da área rural. Todavia, constata-se que de sobremaneira, a grande maioria de objetos de pesquisas na graduação, especialização, mestrado e doutorado recaem sobre o espaço e demanda urbana, o

que de certa forma “não prioriza” uma população que precisa ser reconhecida sob o viés do social e, principalmente das políticas públicas que fazem o recorte.

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Para estudar esta experiência partiu-se de questões norteadoras e inter-relacionadas, assim definidas:

- Como os agricultores familiares do município de Toledo que estavam passando por um processo gradativo de descapitalização e marginalização encontraram formas de fortalecimento no processo de organização e reprodução através do plantio da viticultura para viabilizar economicamente a propriedade rural?

- Em que medida os agricultores familiares do setor da viticultura encontraram meios viáveis e condições para a família permanecer, fortalecer-se e se reproduzir no campo?

A partir destas questões formulou-se como hipótese que os agricultores familiares de Toledo se reorganizaram tecnicamente nas propriedades e adequaram-se às novas tecnologias para gradualmente conseguirem colocar no mercado a produção da uva e alteraram com isso o perfil das unidades produtivas, dos produtores e das formas e condições de produzir. Essas mudanças permitiram que os agricultores familiares do município de Toledo permanecessem no campo com pouca área de terra e invistam na produção da viticultura enquanto viabilidade econômica de sobrevivência no campo, o que proporciona condições dignas de vida das famílias e a sua reprodução na área rural.

A presente pesquisa tem como objeto de estudo a experiência de produção da viticultura no município de Toledo/PR, no contexto da agricultura familiar, no período de 2000-2010, com foco na reorganização técnica da produção e da organização coletiva dos produtores, de modo a viabilizar econômica e comercialmente as unidades produtivas familiares e possibilitar a permanência e a reprodução das famílias no espaço rural.

Assim, a pesquisa estabelece como objetivo geral compreender e analisar se e como a produção da viticultura em Toledo/PR, no período de 2000-2010, viabilizou economicamente as unidades de produção, desenvolveu o associativismo entre os produtores, ampliou formas de comercialização local e possibilitou a permanência e a reprodução das famílias no espaço rural, especialmente no contexto da agricultura familiar.

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contemporâneos brasileiros. A perspectiva teórica predominante da pesquisa se insere na abordagem histórico-crítica.

O conceito de campesinato no modelo europeu que mais se aproxima do objeto da pesquisa é de Alexandre Chayanov, que compreende os sistemas econômicos inseridos na realidade social contemporânea em especial, os destinos da agricultura familiar. Outras referências foram de Lênin e Kautsky.

Os conceitos de campesinato e agricultura familiar, no modelo brasileiro, que mais fundamentaram a análise desta pesquisa foram José de Souza Martins, Octávio Velho e Maria Nazareth Wanderley. Martins contribuíu no sentido de compreender a particularidade histórica da formação do modelo camponês no Brasil com a expansão do capitalismo.

Velho expõe a relação do campesinato com as colônias de plantation e criação da Lei de Terras que alteraram as formas de acesso à propriedade territorial.

Wanderley apresenta uma contribuição sobre o campesinato ao identificar os

processos de “campesinização”, “descampesinização” e “recampesinização”, a partir

da dinâmica da instabilidade estrutural em que estão colocados os camponeses na realidade brasileira; também destaca que a agricultura camponesa tradicional é uma das formas sociais da agricultura familiar, uma vez que se funda no tripé propriedade, trabalho e família.

Quanto ao conceito de viticultura, utilizou-se como autores principais Paulo Andrade e Carlos Fachinello, que apresentam conceitos e definições sobre a fruticultura e a viticultura ao acrescentar dados estatísticos desta produção e comercialização no Brasil e no Paraná.

Para o desenvolvimento desta pesquisa adotou-se como procedimento metodológico um conjunto estruturado de regras operatórias necessárias para que a metodologia assumida responda às exigências de credibilidade, consistência e confiabilidade. Diante da necessidade de uma postura aberta de escolha de métodos, procedimentos e técnicas, definiu-se para este estudo investigativo a pesquisa qualitativa, por pressupor basicamente que a investigação dos fenômenos humanos traz características específicas em que se cria e atribui significados às coisas e às pessoas nas interações sociais e estas podem ser descritas e analisadas em cada contexto.

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o entendimento da realidade da agricultura familiar, por sua vez trazem elementos importantes no reconhecimento e na interpretação do objeto de estudo.

O primeiro passo na pesquisa bibliográfica se configurou através da revisão da produção acadêmica, realizada inicialmente com o levantamento bibliográfico para em seguida fazer as leituras e fichamentos de teses e dissertações que contemplam a agricultura familiar. Realizou-se a revisão da produção acadêmica nos programas de graduação e pós-graduação das áreas de Serviço Social, Economia e Ciências Sociais nas seguintes universidades: Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, especificamente no Campus de Toledo, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, e na Universidade Federal de Curitiba – UFPR.

Este levantamento permitiu o encontro de temas como crédito agrícola, pluriatividade, agricultura familiar, cooperativismo, agronegócio, campesinato e assentamentos, os quais ampliaram o conhecimento do campo dos estudos e da pesquisa. Em busca de temas como fruticultura, viticultura, vitivinicultura não foram encontrada teses e/ou dissertações nas referidas áreas e universidades, precisou-se, porém, recorrer a outras referências e fontes. Isto vem demonstrar e reforçar a relevância do tema proposto por esta pesquisa, ou seja, em relação à experiência que vem sendo construída pelos agricultores familiares na perspectiva do ramo da viticultura; no município de Toledo, não foram encontradas produções específicas, o que pode considerar o caráter inédito deste estudo.

O segundo passo foi a busca de conceitos sobre agricultura familiar, campesinato, modernização agrícola e viticultura; tanto em livros como na internet procurou-se diferentes autores que contribuíram para a compreensão do tema. No caso dos livros, primeiramente realizou-se um apanhado amplo, lendo apenas o sumário, o prefácio e a introdução. Depois desta etapa, foram separadas as referências que contemplassem ou se aproximassem do tema da pesquisa e, mediante leituras mais aprofundadas foram realizados apontamentos mais rigorosos, para em seguida, elaborar o referencial teórico da tese.

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Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar; Dados Estatísticos: Censo Agropecuário do IBGE de 2010 e 1996, Censo Demográfico do IBGE de 2010, dados cedidos pela EMATER; Atas e Estatutos: a) Ata de Reuniões da TOFRUTTI; b) Estatuto e Regimento Interno da TOFRUTTI.

Outros dados que contemplam informações acerca da agricultura familiar e viticultura também foram disponibilizados pelo Sindicato Rural dos Trabalhadores Rurais (Propostas encaminhadas ao 1º Congresso dos Trabalhadores e trabalhadoras rurais do Paraná), EMATER e Secretaria da Agricultura e Abastecimento de Toledo (dados estatísticos elaborados pelos dois segmentos sobre a fruticultura no município de Toledo).

Realizada esta etapa, partiu-se para a pesquisa de campo que designa o local físico e social onde os dados foram coletados; também contempla a escolha do grupo de pesquisa, o estabelecimento dos critérios de amostragem e a estratégia de entrada no campo – a saber, conhecer o espaço, formas de contato com os sujeitos, enfim até como apresentar-se.

O primeiro passo da pesquisa de campo contemplou os contatos iniciais para reconhecimento do campo de investigação, para isso recorreu-se ao técnico da EMATER, responsável pela fruticultura no município de Toledo. O profissional demonstrou um quadro geral de informações sobre os fruticultores e viticultores do município, que caracteriza os tipos de frutas plantadas na região e quem eram os produtores da viticultura. Diante das informações obtidas em conjunto com o técnico, apresentou-se um universo de 78 agricultores familiares produtores de frutas no município e um total de 25 produtores da viticultura.

Dentre este número de viticultores foi selecionado um grupo representativo que se organizou através de critérios da amostra de caráter intencional. Assim, definiram-se os seguintes critérios: a) agricultores (as) pioneiros na produção da viticultura; b) agricultores (as) familiares que estão mais tempo (anos) no ramo da produção da viticultura; c) agricultores (as) familiares de diferentes distritos/linhas; d) ser dono (a) efetivo (a) da propriedade.

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aquele que reside na propriedade e tem parceiro (um); e aqueles que residem, trabalham e não têm parceiros utilizando estritamente a mão-de-obra familiar (cinco). Também foram escolhidos aleatoriamente outros sujeitos significativos que trouxeram informações e dados relevantes sobre o tema da tese, ou seja, técnicos e dirigentes de entidades representantes do setor agrícola.

Quanto aos técnicos são: Técnico da EMATER responsável pela fruticultura no Núcleo Regional da Emater de Toledo (22 municípios); Técnico da Secretaria da Agricultura de Toledo, responsável pela fruticultura no município de Toledo; Técnico do município de Marialva/PR – engenheiro agrônomo que presta assessoria particular aos viticultores de Toledo. Totalizou-se 03 (três) técnicos.

Os dirigentes de entidades representantes do setor agrícola selecionados para a entrevista são sujeitos que contêm informações ímpares cujo potencial explicativo tem que ser levado em conta, bem porque contribuem com conhecimentos e opiniões sobre a agricultura familiar no município de Toledo. Considera-se este grupo, de fato, como um conjunto de informantes diversificado que possibilitou apreender as semelhanças e diferenças das informações; estes dirigentes das entidades são: Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais; Presidente do Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Toledo; Presidente da TOFRUTTI; Presidente da Cooperativa dos Agricultores Familiares de Toledo (COFATOL); Ex-Secretário da Agricultura do município de Toledo. Esta amostra compôs-se de 05 (cinco) sujeitos. O Presidente da TOFRUTTI, porém, também é produtor de uva e devido a isso, o número de dirigentes entrevistados totalizou 04 (quatro) sujeitos. Assim, são 07 (sete) os sujeitos dentre os técnicos e dirigentes.

No total, a amostragem foi composta por 16 (dezesseis) sujeitos da pesquisa selecionados. Acredita-se, assim, que esta amostragem significa o mais representativo possível do universo.

Definidos os sujeitos, seguiram-se os procedimentos metodológicos. Utilizou-se como instrumentos e técnicas de trabalho de campo para coleta dos dados empíricos da pesquisa a observação participante e a entrevista.

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Cultura da Uva, que apresentam resultados e perspectivas do trabalho desenvolvido junto ao segmento da agricultura familiar, além de palestras com temas técnicos sobre a atividade. Sem sombra de dúvida, estas atividades permitiram uma aproximação direta com os agricultores familiares e técnicos, tanto nos debates como no entendimento dos rumos que este setor vem tomando.

Além da observação pontual, realizada de 2006 até 2008, e já definidos os sujeitos da pesquisa, registrou-se no instrumento chamado diário de campo as informações sobre o espaço de vivência dos produtores, conversas informais, comportamentos, instituições/entidades que participam na comunidade que residem, espaço geográfico, entre outros.

No diário de campo foram registrados todos os momentos da etapa seguinte, isto é, a entrevista. No que confere à entrevista, pode-se afirmar que esta é a técnica mais usada no processo de trabalho de campo; sendo esta estratégia uma fonte de informações de dados secundários e primários referentes às ideias, opiniões, crenças, sentimentos e maneiras de atuação.

Diante de várias modalidades de entrevistas as quais se diferenciaram pelo fato de serem mais ou menos dirigidas, optou-se pela entrevista de caráter semi-estruturada, por permitir que o sujeito possa se expressar livremente sobre a sua experiência, prestar informações que se manifestam em seus atos e significados

“revelando tanto a singularidade quanto a historicidade dos atos, concepções e

idéias.” (CHIZZOTTI, 1995, p. 93).

Sobretudo, elegeu-se esta técnica por entender que ela permite conduzir a coleta de dados e possibilitar a participação direta dos entrevistados através da interação e por considerar que estes sujeitos envolvidos na pesquisa podem trazer o máximo de conhecimento da realidade vivenciada. Para que se possa atingir este objetivo, propôs-se um roteiro de questões em que o entrevistado teve a possibilidade de discorrer sobre o tema sem respostas pré-fixadas.

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Convém esclarecer que as entrevistas se dirigiam ao homem ou à mulher do grupo familiar, ou a ambos. Do total de 09 (nove) famílias detectamos que 03 (três) destas famílias não residem na propriedade e as suas respectivas esposas têm uma profissão no meio urbano, tendo uma vida independente e profissional sem nenhum vínculo com a terra. Nas outras 06 (seis) famílias ocorre o contrário, as mulheres trabalham diretamente com seus maridos nas diversas atividades agrícolas da propriedade.

Vale também destacar que destas seis famílias, somente 03 (três) mulheres participaram da entrevista com os seus maridos e, que geralmente estes se sobrepunham nas falas. Dois maridos entrevistados não contaram com a participação das suas mulheres na entrevista; embora tenham sido convidadas, não quiseram participar para se ocuparem com seus afazeres domésticos.

Para melhor abranger as informações pretendidas, construíram-se dois roteiros de entrevista, sendo que um se dirigiu aos agricultores familiares e o outro roteiro foi específico aos técnicos e representantes das entidades. Também elaborou-se um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido impresso em duas vias, o qual foi assinado pela pesquisadora e pelos sujeitos; o termo expunha que as duas partes se comprometiam em ser responsáveis pelas fidedignidades das falas dos entrevistados. Portanto, uma via ficou para o entrevistado e a outra ficou arquivada com a pesquisadora, para assegurar assim, o direito de preservar o anonimato dos sujeitos.

De posse do roteiro e do Termo, os sujeitos definidos para pesquisa foram contatados e iniciou-se o processo de entrevistas. O momento de entrada no campo ocorreu após contato telefônico, quando foram explicados os objetivos das entrevistas e solicitadas a autorização para gravação; neste momento, foi agendado o local e o horário com antecedência para em seguida haver o deslocamento e a realização das entrevistas. Os sujeitos definiram que estas fossem em suas residências ou no local de trabalho e, cada entrevista teve uma duração de 45 minutos a 01 (uma) hora. Ressalta-se que o procedimento de coleta dos dados empíricos foi realizado nos meses de março e abril de 2011.

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sujeitos marcavam a entrevista para o mesmo dia ou no máximo para o dia seguinte e, não demonstravam, de modo algum, impaciência ou intolerância à presença do pesquisador; pelo contrário, ao desligar o gravador ainda conversavam por um longo tempo sobre sua vivência como produtor rural ou no caso dos técnicos e dirigentes relatavam as situações e os problemas que encontram nas suas entidades representativas.

Um aspecto interessante que convém destacar é que por ser um segmento que trabalha com a terra, as entrevistas com os sujeitos, na sua maioria eram marcadas para o horário das 13 horas, na própria residência, justo porque depois

tinham que ir para a “lida”, o seu trabalho de rotina. Este horário também era o mais apropriado por ser um momento em que os agricultores não trabalhavam na roça para evitar à exposição ao sol.

Outra situação interessante a ser ressaltada, refere-se à opção do horário das 13 horas, pois este era o momento em que os produtores tiravam uma sesta –

hábito comum dos agricultores – uma vez que a “lida” começava ao raiar do sol. Mas

em virtude da entrevista, deixavam do descanso para contribuírem com a pesquisa. Já os técnicos e representantes marcavam a entrevista pela manhã ou para à tarde, logo no início do expediente, para que não interferisse nas suas atividades regulares.

Passada esta etapa, seguiu-se à fase da transcrição das informações coletadas. Todas as transcrições totalizaram 175 páginas digitadas. Para que houvesse uma sistematização detalhada das informações coletadas, organizou-se uma planilha em que constam as diferentes respostas, além de observações identificadas nas falas dos sujeitos.

Concluída a etapa, pretendeu-se evidenciar o perfil dos entrevistados para conhecer algumas de suas características. A apresentação dos dados do perfil dos sujeitos da pesquisa propiciou a caracterização dos agricultores familiares, que na sua totalidade são filhos de migrantes alemães e italianos. Além de que algumas características dos agentes técnicos e dirigentes das entidades também foram observadas.

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representativas do setor agrícola, utilizamos as letras D1 até a letra D4. Desta forma, manteve-se o sigilo dos entrevistados.

Compõem-se os dados gerais de identificação dos sujeitos entrevistados. - AF 1: 68 anos, casado, graduação, advogado, prefeito municipal1 (gestão 1992-1996) pelo Partido Democrático Trabalhista - PDT, reside há 42 anos no município, 04 (quatro) filhos, propriedade no município/sede, não reside na propriedade, tem parceiros, há 12 anos planta uva, área de plantio 04 (quatro) hectares2, 10 mil pés de uva, colhe 80 toneladas/ano (predomina uva Itália e Rubi), diversifica com noz-pecan (300 pés).

- AF 2: 61 anos, casado, graduação, técnico em agronegócio, reside há 37 anos no município, 02 (dois) filhos, propriedade na Linha Britânia, não reside na propriedade, tem parceiro, há 10 anos planta uva, área de plantio 02 (dois) hectares, 6.500 pés de uva, colhe 20 toneladas/ano (predomina uva Niágara), não a diversifica.

- AF 3: 69 anos, casado, ensino médio, professor aposentado, reside há 49 anos e tem propriedade no distrito de São Miguel, 03 (três) filhos, reside na propriedade, não tem parceiro, há 10 anos planta uva, área de plantio 3.500 m², 1.000 pés de uva, colhe 4.500 mil Kg/ano (predomina uva Niágara), diversifica com gado leiteiro e panificação.

- AF 4: 53 anos, casado, ensino médio incompleto, agricultor, reside há 23 anos e tem propriedade na Linha Sanga Funda, 02 (dois) filhos, reside na propriedade, não tem parceiro, há 08 anos planta uva, área de plantio 4.000 m², 1.800 pés de uva, colhe 8.500 mil Kg/ano (predomina uva Niágara), diversifica com maçã, figo e gado leiteiro.

- AF 5: 56 anos, casado, graduação, engenheiro ambiental, reside há 45 anos no município, 02 (dois) filhos, propriedade em Concórdia do Oeste, não reside na propriedade, tem parceiro, há 10 anos planta uva, área de plantio 2,5 hectares,

1 Assumiu a administração municipal de Toledo no período de 1992 a 1996, sendo que após a gestão

investiu em sua propriedade com a produção de uva, sendo o pioneiro da ideia e da experiência inicial deste ramo produtivo.

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6.000 pés de uva, colhe 20.000 mil Kg/ano (predomina uva Niágara), diversifica com amora e castanha.

- AF 6: 65 anos, casado, ensino fundamental incompleto, agricultor, reside há 53 anos e tem propriedade em Vila Nova, 02 (dois) filhos, reside na propriedade, não tem parceiro, há 08 anos planta uva, área de plantio 01 (um) alqueire, 8.000 pés de uva, colhe 16.000 mil Kg/ano (predomina uva Niágara), não diversifica.

- AF 7: 45 anos, casado, ensino fundamental incompleto, agricultor, reside há 05 anos e tem propriedade na Cerâmica Prata, 02 (dois) filhos, reside na propriedade, não tem parceiro, há 04 anos planta uva, área de plantio 07 mil m², 2.400 pés de uva, colhe 10.000 mil Kg/ano (predomina uva Niágara), não diversifica.

- AF 8: 64 anos, casado, ensino fundamental incompleto, agricultor, reside há 24 anos e tem propriedade em Novo Sobradinho, 02 (dois) filhos, reside na propriedade, não tem parceiro, há 11 anos planta uva, área de plantio 13 mil m², 5.200 pés de uva (predomina uva Niágara), colhe 20.000 mil Kg/ano, diversifica com maçã, figo e ameixa.

- AF 9: 50 anos, casado, graduação, técnico em agronegócio, Secretário3 Municipal da agricultura (gestão 1992-1996) pelo Partido Democrático Trabalhista - PDT, reside há 30 anos e tem propriedade em Concórdia do Oeste, 03 (três) filhos, reside na propriedade, tem parceiro, há 12 anos planta uva, área de plantio 03 hectares, 4.500 pés de uva, colhe 30 mil Kg/ano (predomina uva Itália e Rubi), diversifica com maçã, abacaxi, noz-pecan, gado leiteiro e soja.

São dados gerais de identificação dos técnicos:

- T 1: 43 anos, cursando graduação de agronomia, técnico agropecuário, formado há 24 anos, especialização em Fruticultura, tempo de trabalho no setor 20 anos, (Técnico da EMATER).

- T 2: 50 anos, graduação, licenciatura plena em agropecuária, professor, formado há 27 anos, especialização em Fruticultura, tempo de trabalho no setor 23 anos, (Técnico da Secretaria Municipal da Agricultura).

- T 3: 48 anos, graduação e mestrado em agronomia, engenheiro agrônomo, formado há 28 anos, tempo de trabalho no setor 28 anos, (Técnico contratado pela TOFRUTTI).

3 Assumiu a administração municipal com a pasta de Secretário Municipal da Agricultura e do

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São dados gerais de identificação dos dirigentes de entidades representativas do setor agrícola:

- D 1: 35 anos, graduação, advogado, especialização em Direito Empresarial, tempo de trabalho no setor 04 (quatro) anos, (Conselho do Desenvolvimento Rural de Toledo).

- D 2: 59 anos, ensino fundamental incompleto, tempo de trabalho no setor 01(um) ano, (Cooperativa dos Agricultores Familiares de Toledo- COFATOL).

- D 3: 64 anos, ensino fundamental incompleto, tempo de trabalho no setor 11 anos, (Sindicato dos Trabalhadores Rurais).

- D 4: 54 anos, mestrado em Agronegócio, engenheiro agrônomo, tempo de trabalho no setor 12 anos. Atuou como Secretário da Agricultura no município de Toledo em três gestões (1997 a 2004 na administração de Derli Donin e 2005 a 2009 na administração de José Carlos Schiavinatto) pelo Partido Progressista - PP.

Para entender e interpretar as percepções dos sujeitos da pesquisa utilizou-se a análiutilizou-se de conteúdo no intuito de compreender suas vivências. A análiutilizou-se de conteúdo, segundo Chizzotti (1995), objetivou compreender criticamente os sentidos das percepções dos sujeitos entrevistados, seu conteúdo manifesto ou latente e os significados explícitos ou ocultos.

A tese está estruturada em cinco capítulos articulados entre si. No

CAPÍTULO I APROXIMAÇÕES TEÓRICAS SOBRE CAMPESINATO E AGRICULTURA FAMILIAR, trata dos determinantes históricos conceituais do campesinato, agricultura familiar e família.

O CAPÍTULO II – ESTRUTURA AGRÁRIA E MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO BRASIL aborda a história da estrutura agrária e da modernização agrícola no Brasil, bem como a construção da política agrícola direcionada à agricultura familiar, o PRONAF.

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No CAPÍTULO IV – AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE TOLEDO-PARANÁ, caracteriza o município estudado – Toledo/Paraná e a viticultura enquanto um novo ramo produtivo para os agricultores familiares.

O CAPÍTULO V – A EXPERIÊNCIA DA VITICULTURA NA AGRICULTURA FAMILIAR DO MUNICÍPIO DE TOLEDO: UMA ANÁLISE EM PROCESSO, trata da análise da experiência da viticultura na agricultura familiar de Toledo e seus significados.

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Delimitar o universo agrário é extremamente complexo, seja em consequência da grande diversidade da paisagem agrária – do meio físico, do ambiente, das variáveis econômicas – seja em virtude da existência de diferentes tipos de agricultores que têm interesses particulares, estratégias próprias de sobrevivência e de produção que, correspondem aos desafios e às restrições semelhantes, de acordo com as particularidades de seus contextos históricos.

Para entender a complexa organização da agricultura familiar, é necessário remeter-se à busca de um referencial teórico que permita compreender os debates sobre sua conceituação e sobre a lógica interna. Para isso, o presente capítulo se ampara no debate clássico sobre o campesinato, que referenda estudos posteriores sobre a agricultura familiar.

Este capítulo partirá das reflexões que emergiram com as transformações desencadeadas pelo desenvolvimento capitalista na Europa, nos séculos XIX e XX. Os teóricos contribuíram fundamentalmente com suas argumentações sobre os rumos da produção agrícola familiar na lógica do capitalismo. Assim, este breve caminho conceitual apresentará as contribuições dos estudos clássicos sobre agricultura camponesa em Vladimir Lênin, Karl Kaustsky e Alexandre Chayanov; tais autores buscaram explicar as consequências do capitalismo para a agricultura e consequentemente para a organização do campesinato, tendo como substrato o debate relativo à exploração da produção rural familiar.

1 IDEIAS CENTRAIS SOBRE O CAMPESINATO EUROPEU

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Os autores mencionados desenvolveram suas teorias mais especificamente em meados do século XIX na Rússia4, no que tange à condição camponesa no modelo de desenvolvimento capitalista na agricultura.

Inicialmente, serão apresentadas as principais ideias de Lênin, que consistem na importância do trabalho assalariado, no contexto do campesinato russo para a compreensão do desenvolvimento da exploração agrícola capitalista. Lênin e os teóricos da Social-Democracia defenderam a estratégia política baseada na transição direta da estrutura comunitária do campesinato para o socialismo, que seria materializada a partir da tendência dominante de dissolução do campesinato, nas duas classes básicas da sociedade capitalista. Estas proposições diferem completamente das argumentações apresentadas por Alexandre Chayanov e os populistas que se limitaram à teorização da lógica não capitalista sobre a família camponesa.

Lênin (1985), afirmou que o camponês era definido pela tragédia de seu destino social e seria extinto pela própria dinâmica capitalista de diferenciação entre os produtores, quando o camponês é considerado apenas como pequeno patrão ou futuro proletário. Lênin também demonstrou que a desintegração do campesinato já era um fato e o desenvolvimento das contradições presentes resultavam em uma nova classe social.

Nesta lógica, o processo de proletarização seria total ou parcial, uma vez que as pequenas propriedades abarcavam uma massa de indivíduos paupérrimos, os quais ao possuírem um lote de terra, eram obrigados a assalariarem-se para viver, não totalmente expropriados. Mas deixavam de ser camponeses; isto referenda a destruição radical do antigo campesinato patriarcal e a criação de novos tipos de população rural.

O campesinato antigo não se ‘diferencia’ apenas: ele deixa de existir, se destrói, é inteiramente substituído por novos tipos de população rural que constituem a base de uma sociedade dominada pela economia mercantil e pela produção capitalista. Esses novos tipos são a burguesia rural (sobretudo, a pequena burguesia) e o proletariado rural – a classe dos produtores de mercadorias na agricultura e a classe dos operários agrícolas assalariados. (LÊNIN, 1985, p. 114).

4 Lênin em seu estudo sobre o desenvolvimento do capitalismo na Rússia e a formação de um

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Todavia, o empobrecimento do campesinato não foi um obstáculo para a expansão capitalista. Segundo o autor, o importante para o desenvolvimento capitalista é a demanda originada pelos próprios capitalistas, ou seja, a crescente transformação da mais-valia em capital constante, com um rápido crescimento do setor de bens de capital.

Lênin entende que a “economia natural” ao se abrir para a produção

mercantil tende a se dissolver nas fileiras do proletariado rural, restando uma pequena fração para a transformação em produtores capitalistas. Para ele, o processo de expansão do capitalismo foi, concomitantemente à criação do mercado para a produção capitalista, um processo de destruição de estruturas socioeconômicas velhas e a criação de novas.

Assim, a comunidade camponesa desintegra-se e originam as “novas”

classes sociais: três segmentos nitidamente diferenciados e com interesses conflitantes: “os camponeses ricos (que vão compor a burguesia rural), o campesinato médio (grupo menos desenvolvido que seria eliminado) e os camponeses pobres (que vão formar o proletariado camponês).” (LÊNIN, 1985, p.

17).

Lênin classifica os camponeses em ricos, de médias posses e pobres, utilizando como critério principal a compra e venda da força de trabalho. Um camponês rico compra força de trabalho adicional; um de médias posses se baseia na sua e na de sua família, e um pobre é obrigado a vender durante um ano a sua força de trabalho para poder subsistir. (PONTES, 2005, p. 38).

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da economia capitalista: a eliminação dos componentes médios e a intensificação dos extremos – a descamponização.” (LÊNIN, 1985, p. 118).

Argumenta que o velho campesinato não apenas se diferencia, mas está sendo totalmente dissolvido, deixando de existir e sendo deslocado por tipos de população rural totalmente novos, por tipos que constituem a base da sociedade, na qual domina a economia mercantil e a produção capitalista. Sob estes dois tipos, o autor denomina de burguesia rural e proletariado rural, ou seja, a classe dos produtores de mercadorias na agricultura e a classe dos trabalhadores agrícolas, assalariados.

Com essa desintegração põe-se fim à natureza do estatuto da casta do campesinato, sendo este um processo determinado pelas relações agrárias na direção do capitalismo em que os camponeses estão permeados por contradições inerentes à economia mercantil e capitalista. Segundo Lênin, a situação econômica e social em que se insere o campesinato russo é a da economia mercantil em que “o camponês está inteiramente subordinado ao mercado, depende dele tanto para seu consumo pessoal como para sua atividade, sem falar dos impostos”. (1985, p. 112-113).

Além dos aspectos da desintegração do campesinato, Lênin também estava interessado em mostrar que o desenvolvimento capitalista na Rússia se tornaria irreversível, tanto no campo da indústria como na esfera da agricultura. A separação entre as indústrias transformativas e as extrativas, a separação entre a manufatura e a agricultura, transforma a própria agricultura em uma indústria, ou seja, num ramo econômico que produz mercadorias.

O desenvolvimento da produção mercantil e do capitalismo é decorrente da divisão social do trabalho que;

Consiste em diferentes tipos de transformação de matérias-primas e de diferentes operações que se realizam nesta transformação se separando sucessivamente da agricultura e constituem ramos independentes da indústria, trocando seus produtos convertidos em mercadorias pelos produtos agrícolas. Desse modo, a própria agricultura torna-se indústria, isto é, passa a produzir mercadorias e fazendo que nela o mesmo processo de especialização se efetive. (LÊNIN, 1985, p. 32).

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produção para si converte-se em produção para toda a sociedade e quanto mais alto é o desenvolvimento do capitalismo, mais intensa se torna a contradição entre o caráter social da produção e o caráter privado de apropriação. Assim, o capitalismo substitui a antiga dispersão da produção por uma concentração sem precedentes, quer na agricultura, quer na indústria, cria assim, a dependência pessoal do produtor não apenas na agricultura, mas também na indústria de transformação.

Não só Lênin, mas também Karl Kautsky, no âmbito teórico marxista, consideravam as leis do capitalismo como tendências gerais válidas para todos os setores produtivos, inclusive a agricultura. Não havia razão para supor que a forma de produção camponesa ficasse livre, inatingível e/ou apresentasse qualidade ou atributos econômicos e sociais superiores no processo de expansão do capital, conforme aponta Stoffel (2004).

Apesar de Kautsky não dedicar atenção especial ao trabalho assalariado, propriamente dito, como fez Lênin, sua obra decorre da teorização da exploração familiar no contexto da subordinação agroindustrial e não deriva de qualquer teorização da dinâmica contraditória do processo de trabalho na exploração familiar. A questão principal do seu debate consiste na ênfase da dependência da agricultura em relação à indústria, na qual o camponês estaria reduzido à condição de um trabalhador disfarçado, isto é, exerce o mesmo papel de proletário, não desaparecendo como defendeu Lênin (WILKINSON, 1986).

Karl Kautsky, adepto de um marxismo científico e objetivista5, demonstra em sua obra, a superioridade da grande exploração capitalista sobre a propriedade familiar e a inutilidade de qualquer trabalho político de frear o movimento inelutável que o capitalismo promove de expropriação camponesa. Procura provar em suas reflexões “que onde os camponeses sobrevivem não é sinônimo de eficiência, mas de superexploração pelo fato de venderem seus produtos a preços que não cobrem sequer a sua própria subsistência.” (ABRAMOVAY, 1998, p. 46).

Para o autor Kautsky, os aspectos acima são demonstrados quando há superioridade técnica e econômica da grande produção e a inferioridade da pequena produção em que a proletarização do camponês era a tendência universal de

5 O materialismo objetivista concebe a evolução social como a arma mais favorável em favor da

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desenvolvimento capitalista; isto se traduz à medida em que foram criadas condições técnicas e científicas da agricultura racional e moderna, a qual surgiu com o emprego de máquinas e deu-lhes, pois, a superioridade da grande exploração capitalista sobre a pequena exploração camponesa.

A superioridade técnica da grande exploração era evidente, dado o maior potencial da sua divisão interna de trabalho e, portanto, dos ganhos de sua especialização produtiva. As causas desta superioridade, conforme Kautsky (1986) derivavam também do tipo de organização dessas propriedades, onde não havia o desperdício de trabalho e meios de produção que ocorriam na pequena exploração; da possibilidade de uso mais intensivo de instrumentos e máquinas modernas; do trabalho humano especializado empregado; dos animais especializados que possuem para cada tarefa; da possibilidade de desenvolvimento das forças produtivas; a união entre indústria e agricultura; o acesso a créditos institucionalizados e a possibilidade de compra e venda em grande quantidade e menores preços.

Nas relações entre agricultura e indústria, na ideia de ‘industrialização da agricultura’, há impossibilidade de o pequeno estabelecimento agrícola incorporar as conquistas técnicas, organizacionais e econômicas à disposição dos capitalistas e, portanto, a tendência é que o grande e não o pequeno produtor se integre com a indústria.” (ABRAMOVAY, 1998, p. 46).

Assim, o campesinato não desaparecerá, principalmente porque a sua existência é funcional para o desenvolvimento capitalista no campo, pela reserva de mão-de-obra que representa. Logo, o camponês persiste, mas está sempre subordinado à empresa capitalista e na atualidade pode-se referir à empresa capitalista por excelência, a representada pela agroindústria.

Kautsky dá ênfase à subordinação da agricultura à indústria, em que há uma articulação entre a exploração familiar e a agroindústria que reduz o camponês à condição de um trabalhador disfarçado, como já citado.

Desta forma, o camponês de dono de sua própria produção agrícola, converte-se, ele próprio, em um apêndice da produção industrial tendo de submeter-se às demandas desta última, onde se transforma em parte, em um operário. (KAUTSKY, 1986, p. 286).

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capitalistas de larga escala, particularmente em consequência das novas demandas impostas pela qualidade da produção.

O sistema de produção capitalista, geralmente se desenvolve primeiro nas cidades, mais especificamente na indústria. A agricultura neste primeiro momento, foge da sua influência mais direta, mas aos poucos a evolução da indústria consegue modificar o caráter de produção rural e a agricultura passa a ser um ramo da indústria, subordinando a natureza ao capital.

Kautsky (1986) argumenta que só a indústria capitalista se reveste de grande superioridade de modo a eliminar rapidamente a indústria doméstica do camponês que produz para seu próprio uso e sustento. O quanto mais determinado processo avança, mais se desagrega a indústria doméstica e mais aumenta sua necessidade de dinheiro, não apenas para comprar coisas dispensáveis e supérfluas, mas também para coisas necessárias, ou seja, não se pode mais lavrar a terra e nem prover a sua manutenção sem dinheiro.

Neste sentido, constata-se que o capitalismo ao expandir-se até o campo provoca a concentração de riqueza, a exemplo da indústria. As grandes propriedades absorvem as pequenas propriedades camponesas e ocorre a proletarização das camadas mais pobres do campesinato. Assim, a tendência lógica é a proletarização do campesinato, em que a indústria subjuga a agricultura e fica evidente a industrialização da agricultura.

Para Kautsky, a concorrência capitalista impunha que a pequena produção camponesa não poderia existir isoladamente e que não haveria espaço para os proletários permanecerem no meio rural, devendo empregar-se nas indústrias, onde a pequena produção agrícola familiar podia subsistir, mas na condição de subordinação à indústria.

Em síntese, o autor afirma que não se deve pensar que a pequena propriedade se encontra em fase de desaparecimento da sociedade ou que será desalojada completamente pelo latifúndio, mas sim o pequeno estabelecimento agrícola se mantém porque não é considerado um concorrente deste último mas, porque deixa de ser um vendedor e passa à condição de comprador do produto que o grande estabelecimento ‘produz em excesso’. “A mercadoria que ele mesmo produz em abundância é precisamente o meio de produção de que o grande estabelecimento agrícola tanto necessita, ou seja, a mão-de-obra.” (KAUTSKY,

Imagem

Figura 1  –  Distribuição da Fruticultura no Paraná  –  Ano 2008

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