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ANÁLISE DOS PADRÕES DE DEPÓSITOS DE PATENTES DE UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

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ANÁLISE DOS PADRÕES DE

DEPÓSITOS DE PATENTES DE

UNIVERSIDADES BRASILEIRAS

Cristina Gomes de Souza (CEFET/RJ)

cgsouza@cefet-rj.br

Rafael Garcia Barbastefano (CEFET/RJ)

barbastefano@gmail.com

Fernando Oliveira de Araujo (CEFET/RJ)

faraujo@sustentabile.com.br

A difusão do conhecimento e a transferência de tecnologia das universidades para as empresas podem se dar de diversas formas - spin-offs envolvendo pessoal acadêmico, licenciamentos, contratos de pesquisa, consultorias, mobilidade de alunoss e pesquisadores, entre outras formas. Assim sendo, a comercialização dos direitos conferidos por uma patente constitui apenas um dos instrumentos que permite essa interação. Este trabalho possui como objetivo contribuir para uma melhor compreensão do padrão de patenteamento por parte das

universidades brasileiras, identificando particularidades do

patenteamento conjunto entre instituições, sua distribuição geográfica, além das principais áreas de concentração. Através do levantamento de registros de depósitos na base Derwent, verificou-se que o patenteamento conjunto entre instituições ainda é atividade incipiente no Brasil. Além disso, observou-se que existe grande concentração de depósitos em poucas regiões/instituições. Os resultados também evidenciam que os depósitos estão concentrados em áreas onde as Universidades apresentam maior expertise científica.

Palavras-chaves: Patentes, Universidades, Desenvolvimento Tecnológico

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2 1. Introdução

A difusão do conhecimento e a transferência de tecnologia das universidades para as empresas podem se dar de diversas formas – spin-offs envolvendo pessoal acadêmico, licenciamentos, contratos de pesquisa, consultorias, mobilidade de alunos e pesquisadores, entre outras modalidades (WRIGHT et al., 2008). A este respeito é importante destacar que a comercialização dos direitos conferidos por uma patente constitui um dos instrumentos, e não o único, que permite essa interação. Ainda assim, é bastante forte a questão do patenteamento das universidades no cerne de uma discussão e que ainda gera bastantes controvérsias envolvendo aspectos conceituais e ideológicos sobre o papel dessas instituições na sociedade. Apesar das críticas existentes, Etzkowitz et al. (2000) afirmam que a nova configuração de universidade, surgida no final do século XX e intitulada de “empreendedora”, emergiu com o fortalecimento do papel desempenhado por essas instituições – geradoras de conhecimento – no processo de inovação tecnológica, em consonância com a Triple Helix Theory, baseada na relação entre academia – indústria – governo. Segundo os autores, trata-se de um fenômeno global em que “os governos encorajam essa transição acadêmica como uma estratégia de desenvolvimento que também reflete uma mudança na relação entre produtores de conhecimento e usuários”.

O apoio dos governos na configuração desse modelo, principalmente no que se refere a questões envolvendo direitos de propriedade intelectual, encontra-se explícito em iniciativas como o Bayh–Dole Patent and Trademark Amendments Act dos EUA (1980), que permitiu que universidades pudessem realizar depósitos e conceder licenças sobre as patentes resultantes da investigação financiada com recursos públicos (Rafferty, 2007) recebendo os

royaties decorrentes de sua comercialização. Segundo Gusmão (2002), foram mudanças

legais como essa, ocorridas nos EUA e em outros países europeus, que fizeram com que fossem criadas agências dentro das universidades e institutos de pesquisa, principalmente a partir de meados dos anos 90, para intermediar essa interação com o setor privado.

Esse novo cenário fez com que o patenteamento por parte das universidades aumentasse significativamente nas últimas décadas despertado o interesse da academia conforme pode ser constatado pelos diversos artigos que têm sido publicados em conceituados periódicos internacionais como Research Policy, Technovation, Research Evaluation, Scientometrics,

IEEE Transactions on Engineering Management e outros. Tratam-se de artigos que

descrevem como se dá a transferência de tecnologia das univeridades para as empresas; que procuram identificar os impatos do patenteamento por parte das universidades; e que apresentam métricas de avaliação (HENDERSON et al., 1998; COHEN et al., 1998; MOWERY & ZIEDONIS, 2002; MEYER, 2003; CHAPPLE et al., 2005; MEYER & TAMG, 2007; BERMAN, 2008; THRUSBY et al., 2009).

A literatura sobre o assunto, entretanto, mostra-se bastante fragmentada para proporcionar respostas conclusivas sobre essa complexa configuração organizacional que envolve relações de colaboração, negociação e comercialização entre universidades e empresas e que apresenta muitas especificidades que variam conforme o país, a instituição e as diversas áreas de pesquisa.

Especificamente no caso do Brasil, existe regulamentação desde 1998 permitindo o recebimento, a título de incentivo, de premiação referente a uma parcela do valor das vantagens auferidas pelo órgão ou entidade com a exploração de uma patente ou registro por

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qualquer servidor da administração pública (Decreto no 2.553, de 16 de abril de 1998). Entretanto, o marco regulatório do modelo de interação da academia com o setor privado, pode ser considerado a chamada Lei da Inovação que estabelece medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo, com vistas à capacitação e ao alcance da autonomia tecnológica e ao desenvolvimento industrial do País (Lei 10.973 de 02 de dezembro de 2004).

De acordo com a referida Lei, toda ICT (Instituição Científica e Tecnológica) – órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico – deverá dispor de Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), próprio ou em associação com outras ICTs, com a finalidade de gerir sua política de inovação. No âmbito das atribuições mínimas estabelecidas para os NITs observa-se forte preocupação com a proteção que confere direitos de propriedade intelectual.

Por tratar-se de fenômeno recente na realidade do país, existe carência de estudos que mostrem como está se dando o processo não só de constituição dos NITs como, particularmente, a contribuição da Universidade para o desenvolvimento tecnológico, em nível nacional. Dentro desse contexto, o objetivo do artigo é o de realizar um estudo exploratório, sinalizando oportunidades de aprofundamentos futuros, com o intuito de contribuir para uma melhor compreensão acerca do patenteamento por parte das universidades brasileiras.

Especificamente almeja-se identificar alguns padrões de depósitos efetuados pelas universidades do país, procurando evidenciar:

— A (possível) colaboração entre universidades;

— A distribuição geográfica dos principais depositantes;

— Em que áreas de conhecimento se observam a maior concentração de depósitos.

A pesquisa foi feita a partir da análise de informações contidas nos documentos de patentes depositados por essas universidades no Insituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, ao longo do período 1999-2008. O universo pesquisado consistiu de 1.228 documentos recuperados a partir da base Derwent Innovation Index do Insitute for Scientific Information (ISI) acessada através do portal de periódicos da CAPES.

2. O patenteamento das universidades

Conforme indica Gusmão (2002), a aproximação entre o setor público e o privado para efeitos de pesquisa e desenvolvimento tecnológico (P&D) não é recente estando presente no sistema alemão desde o século XIX. Foi nas últimas décadas, entretanto, que essa prática intensificou-se com as relações ciência-indústria assumindo papel fundamental na política tecnológica e de inovação da maioria dos países. Ainda segundo a autora, o desempenho dos sistemas de inovação passaram então a ser associados “à intensidade e eficácia das interações entre os diferentes atores envolvidos na geração e difusão de novos conhecimentos e novas tecnologias”.

Embora a relação universidade-empresa possa se dar de diversas formas, Gusmão (2002) afirma que o depósito de patentes por parte das universidades é uma das modalidades formais que visa à transferência de tecnologia que mais cresceu nos últimos anos. Apesar do

Bayh-Dole Act, de 1980, ser considerado um marco no patenteamento das universidades

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existente que vinha sendo intensificada ao longo dos anos 70 e que pode ser explicada em função do aumento dos investimentos em P&D e do desenvolvimento de pesquisas nas áreas biomédica e farmacêutica (Mowery et al. 2001; Mowery & Ziedonis, 2002) que são mais sujeitas à proteção patentária.

Rapini (2007) cita estudos indicando que efetivamente setores como engenharia genética, química orgânica e inorgânica, tecnologia de alimentos, biotecnologia, tecnologia a laser, e microeletrônica (telecomunicações, componentes eletrônicos, processamento de dados), notadamente caracterizados por serem baseados em ciência (science-based), são mais propensos à interação universidade-empresa uma vez que o conhecimento é o motor propulsor de inovações nessas áreas em que o binômio Ciência-Tecnologia configura-se fortemente articulado.

A intensificação da interação entre universidade-empresa e o expressivo aumento do número de patentes de universidades têm feito com que estudos sejam realizados a fim de verificar o impacto dessa nova configuração no ambiente acadêmico. Uma das grandes preocupações apontadas na literatura com relação ao patenteamento por parte das universidades consiste no efeito dessa atividade sobre a qualidade das pesquisas desenvolvidas uma vez que a demanda por invenções comercializáveis não necessariamente faz avançar a fronteira do conhecimento (TRAJTENBERG et al., 1997). Cohen et al. (1998) e Henderson et al. (1998) compartilham dessa preocupação e acrescentam que tal atitude pode fazer a universidade focar em pesquisa aplicada reduzindo o foco da pesquisa básica.

Em contraposição a tais especulações, Mansfield (1995) assevera que a interação universidade-empresa traz inspiração para o desenvolvimento de novas pesquisas. Siegel, Waldman & Link (2003), por sua vez, verificaram que cientistas por eles entrevistados apontaram que a interação com a indústria trouxe resultados positivos para seus trabalhos experimentais. Acrescenta-se a argumentação de Stokes (2005), na clássica obra intitulada O

Quadrante de Pasteur, em que o autor apresenta uma visão interativa da ciência e da

tecnologia em que sinaliza a importância da pesquisa básica orientada pelo uso.

Outra preocupação recorrente na literatura que aborda o patentemento no ambiente universitário recai sobre o temor de que essa prática venha impactar negativamente as publicações dos pesquisadores. Rosell & Agrawal (2009) e Geuna & Nesta (2006), entretanto, afirmam que muitos estudos têm mostrado existir evidências de que existe uma complementariedade entre publicação e patenteamento e que os pesquisadores mais produtivos em termos de patenteamento são também aqueles que mais publicam, respeitadas evidentemente as diferenças entre as diversas áreas científicas uma vez que nem todo conhecimento gerado é passível de proteção através do patenteamento.

Apesar de existirem evidências de correlação positiva entre patenteamento e publicações de pesquisadores, estudo feito por Czarnitzki et al (2008) – em que foram analisadas patentes em que constavam como inventor cientistas da Alemanha – identificou que nem todas as patentes envolvendo pesquisadores possuem o mesmo impacto sobre as publicações dos mesmos. Os autores observaram que, no caso das patentes cujos titulares eram os próprios acadêmicos, suas universidades ou instituições de pesquisa sem-fins lucrativos efetivamente não ocorreu redução do nível das publicações; ao contrário, essas aumentaram em quantidade e qualidade. No entanto, quando os titulares eram empresas verificou-se um impacto negativo em termos de quantidade e qualidade das publicações.

Uma possível explicação para esse fato pode estar relacionada às inferências feitas Thursby et al. (2009) em que os autores – com base em estudo envolvendo patentes em que

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pesquisadores de universidades constavam como inventores – sugerem que as patentes cuja titularidade são de empresas apresentam natureza de pesquisa menos básica do que aquelas cuja titularidade é das universidades. Os autores também observaram que nas áreas de ciências físicas e engenharia a titularidade das patentes por parte das empresas apresentava-se maior que nas áreas envolvendo ciências biológicas em se tratando, conforme mencionado anteriormente, de patentes em que pesquisadores constavam como inventores.

Esse é um aspecto importante a ser considerado quando se faz estudos sobre patenteamento de universidades. Existem patentes cuja titularidade efetivamente é da universidade

(university-owned patents) e patentes que possuem pelo menos um membro da universidade entre os

inventores (university-invented patents). Estudos internacionais (Meyer, 2003; Balconi et al., 2003 e Saragosi & van Pottelsberghe de la Potterie, 2003 apud Geuna & Nesta, 2006; Thursby et al, 2009) têm apontado que o número das chamadas university-invented patents é bem superior ao das chamadas university-owned patents. Conforme sinalizado por Meyer (2003), este fato deve ser considerado quando se usa o indicador de patentes cuja titularidade é de universidades para avaliar a contribuição da pesquisa universitária para o desenvolvimento tecnológico acrescentando que o uso das university-invented patents pode ser uma alternativa menos distorcida para essa mensuração.

O fato de muitas patentes não serem de titularidade de universidades mas terem como inventor(es) pesquisadores pertencentes a seus quadros pode ser explicado em função de diferenças de legislação, regulamentação, estrutura organizacional, cultura e práticas que variam de acordo com os países e as Instituições. Nesse particular Thursby et al. (2009) trazem uma contribuição para a discussão ao mencionarem que esse resultado também decorre de atividades de consultoria de pesquisadores junto a empresas. Os autores chamam a atenção que a consultoria, por ser menos visível, se constitui numa das modalidades menos pesquisadas de transferência de tecnologia da universidade para a empresa requerendo a realização de mais estudos.

3. Patenteamento de universidades no Brasil

O Brasil encontra-se hoje na 15ª posição do ranking de produção do conhecimento considerando-se artigos publicados em periódicos internacionais indexados na base do ISI/Web of Science, sendo responsável por cerca de 2% da produção mundial (MCT, 2008). Entretanto, o mesmo desempenho não se verifica no que se refere ao número de patentes depositadas, o que tem levado a várias discussões onde se argumenta que o país não é capaz de transformar esse conhecimento em tecnologia. Apesar das críticas existentes com relação às patentes como indicador de inovação, principalmente considerando-se os países emergentes e periféricos (Albuquerque, 2003; Andreassi, 2007), observa-se o estabelecimento de políticas e ações voltadas para promoção da inovação tecnológica e aumento do patenteamento no Brasil, com as universidades figurando como importantes atores nesse processo.

Muito do desenvolvimento das pesquisas e da pós-graduação brasileiras deve-se ao regime militar que investiu na criação de capacidade de P&D nas universidades para atender a estratégia de busca da autonomia tecnológica do país. Conforme Etzkowitz et al. (2005), foi nos anos 70 que a pesquisa passou a ser explicitada como uma missão das universidades brasileiras levando à criação de cursos de pós-graduação em todas as grandes universidades públicas e em algumas poucas universidades católicas.

Segundo referidos os autores, em 1976, o CNPq também teve sua missão expandida passando a ser responsável por programas de desenvolvimento tanto científico quanto tecnológico. Dentro desse escopo de atuação, o CNPq, ainda no início dos anos 80 (e, portanto,

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paralelamente ao Bayh–Dole Act ocorrido nos EUA), deu suporte à criação de escritórios de inovação tecnológica nas universidades e instituições de pesquisa para promover a inovação, a transferência de tecnologia para a indústria e a realização de estudos de prospecção tecnológica. Em decorrência da crise econômica tais iniciativas acabaram sendo abandonadas (Etzkowitz et al., 2005). Maior detalhamento sobre a construção e evolução da pesquisa no Brasil encontra-se disponível em Schwartzman (2001).

A reativação da estratégia da criação de núcleos de inovação tecnológica nas universidades só nos últimos anos voltou a ser realidade no contexto brasileiro. Com exceção de poucas universidades como a Unicamp e USP, que mantiveram uma estrutura capaz de dar apoio aos pesquisadores em questões de patenteamento, a grande maioria das universidades do país só recentemente passou a se organizar para esta finalidade. Nesse particular muito contribuiu a existência de editais de apoio à criação desses referidos núcleos nas universidades e instituições de pesquisa, o Decreto no 2.553/98 que permitiu que pesquisadores recebessem

royalties, a inserção de cláusulas relacionadas aos direitos de propriedade intelectual nas

pesquisas financiadas por órgãos públicos e nas parcerias com empresas como Petrobrás e outras e, especialmente, a Lei de Inovação que, conforme mencionado anteriormente, estabelece que toda ICT deve dispor de um Núcleo de Inovação Tecnológica próprio ou em associação com outras ICTs.

Estudo realizado no início dos anos 2000 mostrou que, de 93 universidades brasileiras que responderam a um questionário enviado a 143 instituições, apenas 26 possuíam núcleos de propriedade intelectual (SANTOS, 2002). Dados do Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT – indicam um crescimento dessas unidades na estrutura das ICTs do país. No entanto, no que se refere ao patenteamento nas universidades brasileiras, existe ainda um longo caminho a ser percorrido que vai, desde a capacitação de pessoal para atuar nos NITs e disseminação da cultura da propriedade intelectual entre os pesquisadores, até a resolução de conflitos entre a Lei de Inovação e outros instrumentos legais referentes ao setor público como, por exemplo, a Lei das Licitações (Lei 8.666 de 21 de junho de 1993).

O fato é que a participação das universidades e institutos de pesquisa brasileiros como depositantes de pedidos de patentes no Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI tem crescido nos últimos anos, podendo ser citado o exemplo da Unicamp que, no período de 1999 a 2003, foi a instituição brasileira que mais requereu pedidos de patentes no país superando empresas como a Petrobrás, que tradicionalmente faz uso do sistema patentário. Outras universidades como a UFMG e a USP também passaram a figurar na relação de residentes com maior número de depósitos no INPI (UNIVERSIA, 2006 apud CORREA, 2008).

Esses resultados ilustram uma mudança de cenário em relação aos anos 90 em que os depósitos feitos por universidades eram bastante reduzidos conforme apontado por Assumpção (2001) e ilustrado na Figura 1.

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7 0 10 20 30 40 50 60 70 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999

Figura 1 Patentes depositadas por universidades brasileiras no INPI no período 1990-1999

De acordo com o referido autor, o crescimento do número de depósitos de universidades verificado após 1996 encontra-se relacionado à entrada em vigor da nova Lei da Propriedade Industrial (LPI – Lei 9.279/96) que eliminou as restrições então existentes ao patenteamento nos campos da química, biotecnologia e alimentos, que são áreas em que a pesquisa universitária brasileira se destaca (ASSUMPÇÃO, 2001).

4. Metodologia

Os dados usados neste trabalho são as referências de documentos de patentes obtidas na base Derwent, mantida pelo Institute for Scientific Information (ISI – http://isiknowledge.com), responsável também pelas bases do Science Citation Índex e pelo Journal of Citation Reports. Foram selecionados 1228 documentos no período entre 1999 e 2008 no qual alguma instituição universitária brasileira aparecia como depositante, em patentes depositadas no Brasil a partir de uma pesquisa de depositantes com palavras-chave “UNIV OR UNIVERSITY OR UNIVERSIDADE". Foram removidas patentes de universidades estrangeiras, nas quais não aparecia universidade brasileira como depositante.

Verificou-se, para cada registro, quais foram os depositantes, se individuais, universitários, empresas ou órgãos de fomento, bem como respectiva classificação Derwent. Foram geradas redes de co-autoria, ou seja, um grafo no qual os vértices representam as instituições e as arestas são aplicadas se existir documento no qual duas instituições participam como depositantes. Valorou-se as arestas do grafo pelo número de documentos que as duas instituições depositaram conjuntamente.

5. Discussão dos resultados

5.1. Sobre o patenteamento conjunto entre Universidades

Uma vez obtidos os documentos, a primeira análise foi o número de patentes depositadas por instituição. Verificou-se que os depósitos de patentes de universidades estão concentrados em um número bem reduzido de instituições, conforme se pode observar na Tabela 1. As quinze instituições universitárias com quinze ou mais patentes depositadas são responsáveis por mais de 85% dos depósitos de patentes.

Em contrapartida, nota-se uma menor concentração da pesquisa científica universitária publicada em periódicos catalogados pelo ISI. No caso de papers publicados em periódicos catalogados pelo referido Instituto, as quinze instituições que mais patentearam no período respondem por cerca de 60% dos artigos no período estudado.

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Ainda em relação à Tabela 1, observa-se que o patenteamento conjunto entre duas ou mais Universidades brasileiras é uma prática pouco usual. No caso das 15 principais Universidades do país em termos de depósito, das 1184 solicitações de patente, somente 38 (3,21%) se caracterizam como Patentes com Outras Universidades. Pode-se especular que tal situação ocorra por falta de formalização de redes de colaboração em desenvolvimento tecnológico.

Instituição Quantidade

Número de Depósitos de Patente com Outras

Universidades

Percentual de Depósitos de Patente em Colaboração com outras Universidades

UNICAMP 406 7 1,72 USP 162 3 1,85 UFMG 148 0 0,00 UFRJ 105 9 8,57 UFRGS 65 6 9,23 UNESP 51 3 5,88 UFPE 40 0 0,00 UFV 36 1 2,78 UFPR 33 0 0,00 UEM 28 0 0,00 UFSCAR 28 5 17,86 UnB 26 2 7,69 UFSC 25 1 4,00 UFOP 16 1 6,25 UFU 15 0 0,00

Tabela 1 Depósitos por cada instituição e depósitos em conjunto

O grafo da Figura 2 apresenta poucas arestas, evidenciando a pouca conectividade existente entre as Universidades que mais depositaram pedidos de patente no período de 1999 a 2008.

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Figura 2 Grafo de relações de depósitos conjuntos entre universidades

5.2. Sobre a concentração geográfica das patentes

A Tabela 2 e a Tabela 3 ilustram a concentração dos depósitos de patentes universitárias por Unidade da Federação e por Região Geográfica, respectivamente. Observa-se que os Estados da Região Sudeste respondem por 81,67% das patentes depositadas no Brasil e, individualmente, somente São Paulo abrange 54,65% dos depósitos universitários nacionais. A relação Xi/Xi+1 evidencia, em ordem decrescente, a razão entre o número de depósitos de

patentes de uma determinada Unidade da Federação e sua subseqüente. Ou seja, pode-se depreender, a título de ilustração, que as Universidades do Estado de São Paulo (primeiro Estado do Brasil em termos de depósito) possuem três vezes mais depósitos do que as de Minas Gerais (o segundo em depósitos) e, assim, sucessivamente.

UF Nº de Depósitos de Patentes Relação Xi/Xi+1 1 SP 647 3,00 2 MG 215 2,04 3 RJ 105 1,61 4 RS 65 1,06 5 PR 61 1,52 6 PE 40 1,53 7 DF 26 1,04 8 SC 25 –

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A Tabela 3 sinaliza uma fragilidade importante tanto em termos competitivos, quanto – sobretudo – de soberania nacional. Apesar de toda a riqueza da biodiversidade brasileira evidenciada na Região Norte, não se observa qualquer depósito de patente universitária da referida região no período analisado, representando uma importante lacuna a ser estreitada em termos de oportunidades comerciais e estratégicas.

Região Nº Patentes Sudeste 967 Sul 151 Nordeste 40 Centro-Oeste 26 Norte 0

Tabela 3 Concentração de depósitos de patentes universitárias por Região Geográfica

A grande quantidade de depósitos de patente nas regiões Sudeste e Sul era um resultado esperado, uma vez que nestas regiões se concentram tradicionais Universidades e Centros de Pesquisa do Brasil, com os maiores investimentos públicos e privados orientados à P&D, podendo culminar no depósito de patentes universitárias.

Ressalta-se ainda que nas regiões Sul e Sudeste do Brasil estão concentradas boa parte das indústrias intensivas em tecnologia nas áreas de fármacos, química fina e alimentos, altamente demandantes de pesquisa científica.

5.3. Sobre os campos tecnológicos de patenteamento

Na Tabela 4 são apresentados os dados a respeito da Classificação Derwent dos documentos pesquisados. Verifica-se uma concentração de documentos nas áreas de Química, Instrumentação Científica e Biomédica.

Classificação Derwent Descrição Percentual dos documentos Percentual Acumulado

B04 Produtos Naturais e polímeros, testagem,

compostos de estrutura desconhecida 16,4 16,4

D16 Indústria de Fermentação 13,4 29,7

S03 Instrumentação científica, fotometria e calorimetria 8,9 38,6 B05 Outros orgânicos - aromáticos, alifáticos,

organo-metálicos 5,5 44,1

J04 Processos Químicos/Físicos e aparatos, incluindo

catálise 4,9 48,9

D15 Tratamento de água, rejeitos industriais e esgotos 4,8 53,7 A96 Produtos médicos, dentários, veterinários e

cosméticos 4,6 58,4

T01 Computadores digitais 4,3 62,7

D13 Outros alimentos e tratamentos 3,7 66,4

S02 Instrumentação em engenharia, equipamentos de

gravação e métodos gerais de testagem 3,6 70,0 L02 Refratários, cerâmicos e cimento 3,3 73,4

Tabela 4 Classificação dos depósitos de patentes

Da Tabela 4, pode-se depreender ainda que o conjunto de depósitos de patentes universitárias brasileiras se concentra em atividades intensivas em ciência (science-based). Os dados acima corroboram com os estudos de Assumpção (2001), na medida em que revelam a vocação da

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pesquisa científica em áreas de conhecimento passíveis de patenteamento no país, a partir da LPI (Lei 9.279/96).

6. Considerações finais e sugestões de novas pesquisas

Este estudo exploratório buscou trazer contribuições relativas ao patenteamento nas Universidades. Preliminarmente foram apresentadas algumas questões discutidas em nível internacional, relacionadas com a questão do patenteamento na Universidade. Em seguida, foram apresentados dados históricos relacionados ao processo de patenteamento das Universidades no Brasil, culminando com a apresentação dos resultados de um levantamento de depósitos feitos por Universidades brasileiras de 1999 a 2008.

Os resultados evidenciam que os depósitos estão concentrados em áreas onde as Universidades apresentam maior expertise científica, sendo o número de depósitos de patentes majorado, a partir de 1996, com a entrada em vigor da LPI que acaba com as restrições de patenteamento em campos tecnológicos onde a pesquisa universitária brasileira se destaca. Como sugestão para a realização de novas pesquisas, recomenda-se analisar as possíveis correlações entre concentração de investimentos em PD&E e número de depósitos de patentes universitárias. Adicionalmente, investigar no caso brasileiro o impacto do patenteamento sobre as atividades de pesquisa científica das universidades, possivelmente por meio da verificação de publicações de autoria dos inventores das patentes universitárias, além de uma análise mais aprofundada da concentração de publicações por instituição, associando às suas eventuais vocações.

Referências

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