Abordagem Burocrática
ABORDAGEM BUROCRÁTICA
Hoje em dia, a Burocracia tem ao menos dois sentidos: um científico (seu tipo puro, estudado dentro da sociologia weberiana) e um popular (que acabou se disseminando por causa das disfunções da burocracia - papelada, morosidade, ineficiência etc.).
Inicialmente será abordada a visão sociológica, que vai definir as características “puras” da burocracia. Após, serão mostradas suas disfunções.
Burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos, a fim de garantir a máxima eficiência.
O conceito de Burocracia teria sido usado pela primeira vez em meados do século XVIII pelo economista Vincent de Gournay para designar o poder exercido pelos funcionários da administração estatal sob a monarquia absolutista francesa.
A burocracia remonta à época da Antiguidade, quando o ser humano elaborou e registrou suas primeiras normas estatais e sociais. Contudo, a burocracia, tal como existe hoje, teve sua origem nas mudanças religiosas verificadas após o Renascimento – séc. XV.
O grande teórico da Burocracia é o sociólogo alemão Max Weber. Importante ressaltar que Weber não inventou a burocracia, tampouco a defendia. Ele relacionou suas características ao estudar a modernização* da sociedade alemã no século XIX. Em outras palavras, a administração burocrática já era praticada na sociedade, mas não era conhecida em detalhes porque ninguém a tinha estudado a fundo e conceituado suas principais características. Modernização, no contexto do autor, representa as mudanças ocorridas nas sociedades capitalistas a partir do século XVIII, que fizeram o mercado e a sociedade civil se distinguirem do Estado: liberalismo, democratização, iluminismo, reforma protestante, revolução industrial, emergência de novas classes sociais etc.
A Burocracia Weberiana
No livro A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber busca compreender quais foram as especificidades que levaram algumas sociedades ocidentais ao desenvolvimento do capitalismo, enquanto outras sociedades não desenvolveram (ou demoraram a desenvolver) este pensamento.
O sociólogo tinha a convicção de que as concepções religiosas exerciam um papel preponderante na condução e nas transformações econômicas que ocorriam nas sociedades.
Comparando as diversas sociedades ocidentais (local de origem do capitalismo) e as sociedades orientais (onde nenhum sistema econômico parecido havia se desenvolvido), ele concluiu que o protestantismo, mais especificamente o calvinismo, foi o fator principal do desenvolvimento do capitalismo.
Weber notou que o capitalismo, a organização burocrática e a ciência moderna constituem três formas de racionalidade que surgiram a partir dessas mudanças religiosas ocorridas inicialmente em países protestantes – como Inglaterra e Holanda – e não em países católicos. Segundo ele, nas sociedades católicas o lucro era pecado (sendo a pobreza uma das chaves para entrar no céu); porém, as sociedades que adotaram os valores do protestantismo acreditavam que por meio do trabalho o homem alcançaria Deus e, como o trabalho gerava lucros, a riqueza não seria um impeditivo para alcançar o Senhor.
A diferença entre as sociedades está, portanto, na ética protestante: conjunto de normas sociais e morais que pregam o trabalho árduo, a poupança e o ascetismo (desapego aos prazeres mundanos). Essa ética proporcionava a reaplicação das rendas excedentes no próprio negócio, em vez de seu consumo em símbolos materiais e improdutivos de vaidade e de prestígio. Dessa forma, as religiões protestantes contribuíram para a ascensão do capitalismo, enquanto as sociedades católicas conservaram os valores da idade média.
E onde está a burocracia nisso tudo?
O capitalismo é definido pela existência de empresas cujo objetivo é produzir o maior lucro possível, e cujo meio é a organização racional do trabalho e da produção. Nesse contexto, a burocracia entra mais fortemente nas sociedades protestantes como uma tentativa de racionalizar a evolução do capitalismo, organizando as pessoas e o crescimento econômico, político e social.
Weber, no livro Economia e Sociedade, define:
“Poder significa toda probabilidade de impor sua própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade”.
Dentre os tipos de poder, ele cita a disciplina e a dominação.
• Disciplina é a “[...] probabilidade de encontrar obediência pronta, automática e esquemática a uma ordem, entre uma pluralidade indicável de pessoas, em virtude de atividades treinadas”.
Tipos de Dominação
Dentre os fundamentos da dominação está a crença na legitimidade, portanto, quem é dominado crê que tal dominação é legítima.
Existem três tipos puros de dominação legítima, que se distinguem pelo objeto de sua crença: carismática, tradicional e racional-legal.
Importante: “tipo puro” ou “tipo ideal” mostra como se desenrolaria uma ação humana se estivesse orientada para o fim de maneira estritamente racional, pura, sem perturbações ou desvios irracionais. É uma construção conceitual, abstrata, formada a partir de elementos empíricos e, portanto, não é encontrada nessa forma pura na vida real, mas sim misturada com as demais e influenciada por fatores irracionais.
1. Dominação Carismática: baseada na veneração, nas características pessoais que tornam uma pessoa “alguém a ser seguido” (profeta, líder etc.); o líder carismático é assim reconhecido por possuir poderes, senão sobrenaturais, ao menos um comportamento exemplar, ímpar.
2. Dominação Tradicional: tem respaldo nos costumes, nas tradições que legitimam a autoridade; não se obedece a estatutos, mas à pessoa indicada pela tradição; o governante domina com ou sem um quadro administrativo e tem total liberdade para emitir ordens, ficando apenas limitado pelos costumes e hábitos de seu grupo social. Durante o período do Estado Absolutista na Europa, a dominação tradicional redundou em um forte Patrimonialismo: o Estado era uma extensão do patrimônio do soberano, não havia diferenciação entre os bens do governante – res principis – e os bens públicos – res publica –; os empregos públicos eram concessões individuais e os servidores possuíam status de nobreza.
3. Dominação Racional (legal): baseada nas regras e no direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação (autoridade legal e funcional).
Segundo Weber, a forma de legitimidade mais corrente na sociedade é justamente a crença na legalidade, a submissão a estatutos e a procedimentos formalmente corretos.
Ao explorar a questão da dominação racional-legal, o autor aborda que o Estado Moderno é formado por um conjunto de normas e regras, de origem impessoal e pré-determinada, que limita o poder de dominação, mas, ao mesmo tempo, o legitima. Como exemplos dessa dominação legal tem-se a burocracia e o exercício, pelo Estado, do monopólio da violência institucionalizada.
Para Weber, a dominação legal com quadro administrativo burocrático (Administração Burocrática) está mais adaptada às mudanças sociais de sua época - surgimento da sociedade industrial, desenvolvimento da economia monetária, crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas. Por ser a forma mais racional do ponto de vista técnico e formal, ela seria inevitável para as necessidades de administração de massas.
saber. No Estado Moderno, portanto, a administração burocrática representa uma forma de profissionalização, um contraponto ao patrimonialismo.
Características
A Burocracia é definida como o conjunto de regulamentos, leis e normas que os funcionários devem cumprir, sempre supervisionados e respeitando a hierarquia. Em outras palavras, ela traduz uma organização legal, formal e racional por excelência.
Segundo Weber, a burocracia é um sistema que busca organizar, de forma estável e duradoura, a cooperação de um grande número de pessoas, cada qual detendo uma função especializada. O homem organizacional é um ser que age racionalmente (racionalidade funcional) com base nas regras formais que lhe estabelecem um papel na organização (função). Separa-se a esfera privada e familiar da esfera do trabalho, esta vista como a esfera pública do indivíduo.
A racionalidade da burocracia permite adequar os meios da melhor forma possível para o alcance dos fins, ou, em outras palavras, alcançar a máxima eficiência da organização.
Para o Estado, ela representa uma forma de profissionalização, a qual preconiza o controle a priori das ações, o formalismo, a racionalidade, o atendimento fiel às regras, a impessoalidade, a divisão do trabalho, a hierarquia funcional e a competência técnica baseada no mérito. Pode-se dizer, também, que ela parte de uma desconfiança prévia nos administradores públicos e nos cidadãos que buscam serviços e que, por isso, são sempre necessários controles rígidos dos processos.
As principais características da burocracia são:
1. Caráter legal das normas e regulamentos: normas e regulamentos são estabelecidos previamente, por escrito, determinando todo o funcionamento – define competências, funções, autoridade, sansões etc. Predomínio da lógica científica e racional sobre a lógica "mágica", "mística" ou "intuitiva".
2. Caráter formal das comunicações: comunicações são escritas, gerando comprovação e interpretação unívoca. Por outro lado, a informação é discreta, pois é fornecida apenas a quem deve recebê-la.
3. Racionalidade e divisão do trabalho: divisão racional do trabalho, limitando as tarefas a serem realizadas por cada cargo, buscando maior eficiência. Cada função é específica, com competências, poderes e responsabilidades bem definidas. Isso reduz o atrito entre as pessoas, pois cada funcionário conhece o que é exigido dele e quais os limites entre suas responsabilidades e as dos outros.
4. Impessoalidade nas relações: o poder e a responsabilidade de cada pessoa são impessoais, não pertencem a ela, mas derivam da função que ela exerce. As relações são baseadas nos cargos/funções e não nas pessoas.
aceitam as ordens dos superiores como justificadas, porque concordam com um conjunto de preceitos ou normas que consideram legítimos e dos quais deriva o comando.
6. Rotinas e procedimentos padronizados: as atividades de cada função são definidas e padronizadas pelos regulamentos. A pessoa não faz o que quer, e sim que deve fazer de acordo com as regras. Há aprimoramento dos processos de trabalho em função dos objetivos.
7. Competência técnica e meritocracia: profissionalização das relações de trabalho, visando à garantia da igualdade de tratamento perante regras e à redução do clientelismo. Da mesma forma, a escolha da pessoa (seleção, transferência, promoção etc.) para exercer uma função é feita de forma técnica e baseada no mérito e na qualificação profissional. Somente o chefe supremo da organização ocupa sua posição de autoridade em virtude de apropriação, eleição ou designação para a sucessão, mas mesmo sua autoridade consiste num âmbito de competência legal.
8. Especialização da administração: separação entre propriedade e administração. As pessoas não são donas do cargo ou dos bens a ele ligados.
9. Profissionalização dos participantes: o cargo é uma profissão e as pessoas devem ter intensa instrução para assumir a função. As pessoas em uma estrutura burocrática tornam-se profissionais especialistas, ocupam um cargo por tempo indeterminado, são assalariadas, nomeadas por instâncias superiores dentro das regras definidas, devem ser fiéis ao cargo, podem ser promovidas pelo mérito e seguem carreira dentro da instituição.
10. Completa previsibilidade do funcionamento: esta é a consequência desejada. A previsibilidade do comportamento das pessoas, de acordo com as normas, gera rapidez nas decisões, univocidade nas tarefas, confiabilidade, redução de falhas e maior eficiência, pois cada um conhece o que deve ser feito e por quem e as ordens e papéis tramitam através de canais pré-estabelecidos.
Por fim, uma característica menos citada na literatura, mas que também explica o avanço da burocracia é o isomorfismo: a estrutura impessoal é um modelo fácil de ser transportado para outras sociedades, países e culturas.
Vantagens
Diversas razões explicavam o avanço da burocracia sobre as outras formas de associação. Essas chamadas “vantagens” da Burocracia são:
• Precisão na definição dos cargos e operações.
• Rapidez nas decisões – cada um conhece as regras e os canais de comunicação.
• Univocidade de interpretação – regulamentação específica e escrita, transmitida para quem deve recebê-la.
• Uniformidade de rotinas e procedimentos – favorece a padronização e a redução de erros.
• Continuidade da organização, mesmo com a substituição do pessoal.
• Redução do atrito entre as pessoas – cada funcionário sabe seu papel e responsabilidades.
• Constância – os mesmos tipos de decisão devem ser tomados nas mesmas circunstâncias.
• Confiabilidade – regras conhecidas, processos previsíveis (gerando os mesmos resultados).
• Benefícios para as pessoas – hierarquia formalizada, trabalho ordenado, treinamento, carreira e meritocracia.
Crítica: as Disfunções da Burocracia
O próprio Weber era um crítico à burocratização, que, para ele, constituía a maior ameaça à liberdade individual e às instituições democráticas e, por isso, deveria ser controlada pelo Parlamento: “É horrível pensar que o mundo possa vir a ser um dia dominado por homenzinhos colados a pequenos cargos, lutando por maiores [...]”.
A teorização de Weber foi empobrecida pela reinterpretação cultural, principalmente na obra do americano Talcott Parsons, que traduziu Weber para o inglês. Parsons usou diversos conceitos weberianos de forma equivocada e fomentou o chamado Funcionalismo Estrutural (posteriormente adotado na Administração como Teoria Estruturalista). O estruturalismo vê a sociedade como um organismo unívoco e funcional. Dentro desse sistema, o indivíduo é simplesmente um reflexo da vida social, se adaptando e cumprindo uma função (um papel), como uma formiga em um formigueiro.
Essa mesma interpretação errada fez alguns autores incluírem Weber na Escola Clássica.
Não se pode esquecer que o ponto central da obra de Weber era a dominação burocrática, não a estrutura burocrática em si como um modelo a ser seguido para organizações. As críticas à burocracia “tipo puro” de Weber são, portanto, oriundas de um erro de interpretação, pois ele não tinha a intenção de tornar a burocracia um modelo administrativo para as organizações modernas, ele apenas descreveu as características mais básicas de algo que já existia na sociedade.
de burocracia, os quais prezam principalmente pela “humanização” e necessidade de adaptação ao ambiente.
Um desses autores foi Robert K. Merton. Segundo ele, o homem foi excluído dos estudos de Max Weber – o qual descreveu um sistema social desumano e mecanicista. Quando participa da burocracia, o homem passa por transformações que fazem com que toda a previsibilidade, que deveria ser a maior consequência da organização, escape ao modelo preestabelecido. Merton diagnosticou e caracterizou as seguintes disfunções:
1. Internalização das normas.
2. Excesso de formalismo e papelório. 3. Resistência a mudanças.
4. Despersonalização do relacionamento.
5. Categorização do processo decisório – excesso de hierarquia.
6. Superconformidade às rotinas e procedimentos – maior importância ao modo de fazer do que ao resultado.
7. Exibição de sinais de autoridade. 8. Dificuldades com clientes.
Outros autores citam diversas disfunções:
• Individualismo: consequência da disputa pelo poder. • Defesa de interesses particulares e corporativismo
• A burocracia não assimila as novas tecnologias adotadas pela organização.
• Mecanicismo: o ponto de vista de Weber é puramente mecânico e não político, no qual as pessoas são vistas como seguidoras de regras em um sentido mecanicista e não como criaturas sociais interagindo dentro de relacionamentos sociais. Em outras palavras, não considerou os aspectos subjetivos e informais, como a aceitação das normas e a legitimação da autoridade, nem a reação formal da organização perante a falta de consentimento dos subordinados.
• Os recursos humanos não são plenamente utilizados por causa da desconfiança, do medo de represálias etc. Ela modifica a personalidade das pessoas que se tornam obtusas, limitadas e obscuras: o "homem organizacional" (funcional) condicionado.
• Ao formular o modelo burocrático de organização, Weber não previu a possibilidade de flexibilidade da burocracia para atender a duas circunstâncias: a adaptação da burocracia às exigências externas dos clientes; a adaptação da burocracia às exigências internas dos participantes.
• O modelo "racional" de organização adota a lógica de sistema fechado em busca de certeza e previsão exata; não considera a natureza organizacional e nem as condições circunjacentes do ambiente; em resumo, a teoria weberiana se assemelha à Teoria Clássica da organização quanto à ênfase na eficiência técnica e na estrutura hierárquica da organização.
• Dentro da organização formal desenvolve-se uma estrutura informal que gera atitudes espontâneas das pessoas e grupos para controlarem as condições de sua existência. Assim, a burocracia deve ser estudada sob o ponto de vista estrutural e funcional e não sob o ponto de vista de um sistema fechado e estável, como no modelo weberiano. Essa análise deve refletir os aspectos do comportamento organizacional interno, bem como o sistema de manutenção da organização formal.
• O caminho moderno consiste em utilizar o modelo burocrático de Weber como ponto de partida, mas reconhecendo as suas limitações e consequências disfuncionais. A forma burocrática é mais apropriada para atividades rotineiras e repetitivas da organização em que a eficiência e a produtividade constituem o objetivo mais importante; mas não é adequada às organizações flexíveis que se veem à frente de atividades não rotineiras, em que a criatividade e a inovação são mais importantes.
• Para Gouldner, não há um tipo único de burocracia, mas uma infinidade, variando dentro de um continuum, que vai desde o excesso de burocratização (em um extremo) até a ausência de burocracia (no extremo oposto), ou seja, há graus de burocratização. Ele também cita 3 tipos de estruturas burocráticas: falsa – formada por regras que não representam ninguém e, por isso, são frequentemente desobedecidas; autocrática – representa os interesses de um grupo dominante; representativa – respeita interesses de todos os grupos organizacionais.
Perrow, um defensor da burocracia, a chama de visão “instrumental" das organizações: essas são vistas como arranjos conscientes e racionais dos meios para alcançar fins particulares. Para Perrow a burocratização envolve: especialização; necessidade de controlar as influências dos fatores externos sobre os componentes internos; um ambiente externo imutável e estável. Por fim, há uma terceira visão sobre Burocracia (além da weberiana e da popular). Alguns autores enxergam a burocracia (mais especificamente os burocratas) como uma classe social, a qual assume várias formas: burocracia estatal, burocracia empresarial, partidária, sindical etc. Os burocratas teriam a tendência a se unir como um segmento social diferenciado da população em geral, buscando privilégios e poder. No caso dos burocratas do serviço público, por exemplo, entrar nessa classe exige certo nível de instrução, que na maioria dos casos só está amplamente disponível a uma minoria da população, e dessa forma a Burocracia se torna mais uma fonte de captação de segmentos sociais privilegiados.
consegue privilégios, do mesmo modo diversas classes dominantes foram privilegiadas ao longo da história.
Slides – Abordagem Burocrática
Max Weber – Teoria da Burocracia
•
☼ 1864 – † 1920
•
Professor, Sociólogo, Filósofo, Jurista, Economista,
Cientista Político...
•
Era Administrador de empresas?
•
Inventou a burocracia?
•
Defendia a Burocracia?
1
Burocracia
• Século XVII - Vincent de Gournay
‒Poder exercido pelos funcionários da administração estatal
sob a monarquia absolutista francesa.
‒Bureau = escritório + krátos = poder, força
‒“Temos uma doença que faz muitos estragos; essa doença
se chama buromania”.
‒Gounay considerava a burocracia uma quarta forma de
governo (junto com monarquia, aristocracia e democracia).
Burocracia
• O que é burocracia?
‒Diversas visões:
o
Sociológica - Weber - tipo puro, tipo ideal
oPopular – disfunções
o
Classe social
X
3
Max Weber
•
Para Weber interessava sobretudo entender a forma pela
qual uma comunidade social aparentemente amorfa
chegava a transformar-se em sociedade dotada de
racionalidade.
•
Entendia que a peculiaridade histórica do Estado moderno
estava exatamente em ser uma empresa similar a uma
fábrica.
Max Weber
• Weber não se preocupou em definir a burocracia: ele
relacionou suas características ao estudar a modernização na
sociedade alemã no século XIX.
‒Modernização = mudanças nas sociedades capitalistas:
liberalismo, democratização, iluminismo, reforma
protestante, revolução industrial, emergência de novas
classes etc.
• Para Weber: burocracia é uma forma de organização humana que se baseia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos, a fim de garantir a máxima eficiência.
5
Max Weber
Max Weber
• Burocracia - remonta à Antiguidade, quando o ser
humano elaborou e registrou suas primeiras normas
estatais e sociais.
• Burocracia de hoje: origem nas mudanças religiosas
verificadas após o Renascimento – séc. XV.
7
Max Weber
“A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”
• Por que algumas sociedades ocidentais desenvolveram o
capitalismo, enquanto outras sociedades não?
‒Por convicções religiosas!
• Catolicismo: lucro = pecado
• Ética Protestante: normas sociais e morais que pregam o
trabalho árduo, a poupança e o ascetismo (desapego aos
prazeres mundanos).
‒ Reaplicação dos excedentes no próprio negócio, em vez do consumo
em símbolos improdutivos de vaidade e de prestígio.
Max Weber
“A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”
• O capitalismo, a organização burocrática e a ciência moderna
são três formas de racionalidade que surgiram a partir das
mudanças religiosas ocorridas inicialmente em países
protestantes - Inglaterra e Holanda – e não em países católicos.
‒Capitalismo = empresas cujo objetivo é o maior lucro possível
e cujo meio é a organização racional do trabalho/produção.
• Papel da Burocracia = racionaliza a evolução do capitalismo,
organizando as pessoas e o crescimento econômico, político e
social.
9
Max Weber
• Livro “Economia e Sociedade”
‒Originalmente: parte da coletânea Grundriss
der Sozialökonomik - Elementos de economia
social
‒Obra póstuma:
o
4 primeiros capítulos (conceitos sociológicos
básicos) - escritos em 1919-1920 e entregues
para publicação pelo próprio Weber.
o
Outros segmentos – manuscritos
(entre 1909 e 1914) organizados
pela viúva (Marianne Weber).
Economia e Sociedade
• “Tipo puro” ou “Tipo ideal”: mostra como se desenrolaria uma
ação humana se estivesse orientada para o fim de maneira
estritamente racional, pura, sem perturbações ou desvios
irracionais.
‒Conceito abstrato - não encontrado na vida real.
‒“A sociologia constrói conceitos de tipos e procura regras
gerais dos acontecimentos”
‒Ex: três tipos puros de dominação legítima - carismática,
tradicional, racional-legal
• Ação real: influenciada por irracionalidades
11
• Estudos sobre poder: probabilidade de impor a própria
vontade em uma relação social.
• Tipos de poder:
‒Disciplina - obediência pronta, automática
‒Dominação - “probabilidade de encontrar obediência a
uma ordem de determinado conteúdo, entre
determinadas pessoas indicáveis”
Burocracia Weberiana
• Tipos de dominação:
‒Carismática: baseada na veneração - características pessoais
especiais, poderes sobrenaturais etc.
‒Tradicional: baseada em costumes, tradições – típica do
Estado Absolutista - patrimonialismo
‒Racional-legal: baseada nas regras, nos estatutos, no direito
de mando das autoridades legais
• “a forma de legitimidade mais corrente na sociedade é moderna é a
crença na legalidade, a submissão a estatutos e a procedimentos
formalmente corretos.”
‒Estado Moderno = conjunto de normas e regras, de origem
impessoal e pré-determinada
‒Vantagem da administração burocrática: é a forma mais racional
do ponto de vista técnico e formal
‒É inevitável para a administração de massas
‒É uma forma de profissionalização
‒É a dominação baseada no saber/conhecimento
Dominação Tradicional
• Não se obedece a estatutos, mas a pessoas indicadas pela
tradição.
‒Tem respaldo nos costumes, nas tradições.
• Não possui elementos como:
‒competência fixa segundo regras objetivas;
‒hierarquia racional fixa;
‒nomeação e promoção regulada por contrato;
‒formação profissional;
‒salário fixo - as fontes de sustento dos "servidores" são a
apropriação privada de bens e a degeneração do direito a
taxas.
15
Dominação Tradicional
• Base do Patrimonialismo.
• Estado = extensão do poder e do patrimônio do soberano
‒Não havia diferenciação entre os bens do governante (res
principis) e os bens públicos (res publica).
‒Captura da Adm. Pública por entes privados.
‒Falta de regras universais – predominância de situações
casuísticas e personalistas.
• Consequências: Nepotismo, Prebendas e sinecuras,
Clientelismo, Corrupção, Fisiologismo.
Dominação Carismática
• Carisma: qualidade pessoal considerada extracotidiana.
‒Se atribuem a uma pessoa poderes ou qualidades
sobrenaturais.
o“O Líder” e “os adeptos”
‒Psicologicamente, esse “reconhecimento” é uma entrega
crente e inteiramente pessoal, nascida do entusiasmo ou da
miséria e esperança.
17
Burocracia Weberiana - características
Pra quem adora listagens:
1. Caráter legal das normas e regulamentos 2. Caráter formal das comunicações
3. Racionalidade e divisão do trabalho 4. Impessoalidade nas relações
5. Hierarquia de autoridade
Burocracia Weberiana - características
1. Caráter legal das normas e regulamentos
‒Estabelece previamente todo o funcionamento – define
competências, funções, autoridade, sansões etc.
‒Predomínio da lógica científica e racional sobre a lógica
"mágica", "mística" ou "intuitiva".
2. Caráter formal das comunicações
‒Escritas, gerando comprovação e interpretação unívoca.
‒Discreta - fornecida apenas a quem deve recebê-la.
Burocracia Weberiana - características
3. Racionalidade e divisão do trabalho
‒Limita as tarefas de cada cargo/função
o
Objetivo: reduz o atrito entre as pessoas
‒Cada função é específica e especializada, com
competências, poderes e responsabilidades bem
definidas.
o
Homem organizacional – racionalidade funcional
4. Impessoalidade nas relações
Burocracia Weberiana - características
5. Hierarquia de autoridade
‒Hierarquia rígida – superior controla e
supervisiona
‒Subordinados aceitam as ordens como legítimas
6. Rotinas e procedimentos padronizados
‒A pessoa não faz o que quer, mas o que deve.
‒Processos de trabalho aprimorados em função
dos objetivos.
7. Competência técnica e meritocracia
‒Profissionalização das relações de trabalho
‒Igualdade de tratamento perante regras
‒Seleção, promoção por mérito e competência
‒Exceção: o chefe supremo da organização
8. Especialização da administração
‒Separação entre propriedade e administração
‒Ninguém é dono do cargo e dos bens a ele ligados
9. Profissionalização dos participantes
‒O cargo é uma profissão (especializada).
‒Exige-se intensa instrução para assumir a função
‒Ocupação do cargo por tempo indeterminado
‒Assalariado
‒Nomeação e promoção por instâncias superiores
dentro das regras definidas (competência, mérito)
‒Fidelidade ao cargo
Burocracia Weberiana - características
Burocracia Weberiana - características
10. Completa previsibilidade do funcionamento
‒É a consequência desejada.
‒Gera rapidez nas decisões, univocidade nas tarefas,
confiabilidade, redução de falhas e maior eficiência.
–
típicos termos pra pegadinha da banca
• Característica “extra”:
Burocracia Weberiana - características
Causas
• Legalidade; • Impessoalidade;
• Formalidade das comunicações – documentação; • Racionalidade; • Divisão do trabalho; • Qualificação e meritocracia; • Profissionalização; • Disciplina, controle; • Hierarquia;
• Separação patrimonial (público e privado) Consequências • Previsibilidade do comportamento • Padronização do desempenho • Máximo rendimento – eficiência
Burocracia Weberiana - vantagens
• Vantagem = avanço da burocracia sobre as outras formas de
associação
‒Racionalidade e precisão
‒Rapidez nas decisões
‒Univocidade de interpretação
‒Uniformidade de rotinas e procedimentos
‒Continuidade da organização e constância
‒Redução do atrito entre as pessoas
‒Confiabilidade – previsibilidade
Resumo - Burocracia Weberiana
• Palavras-chave
: formal, legal, racional, impessoal,
eficiente, profissional, mérito, especialização
• Coisas que as bancas dizem:
‒ Conjunto de regulamentos, leis e normas que os funcionários devem
cumprir, sempre supervisionados e respeitando a hierarquia.
‒ É um sistema que busca organizar, de forma estável e duradoura, a
cooperação de um grande número de pessoas, cada qual detendo
uma função especializada.
‒ Separa-se a esfera privada e familiar da esfera do trabalho, esta vista
como a esfera pública do indivíduo.
‒ Permite adequar os meios da melhor forma possível para o alcance
dos fins, ou, em outras palavras, alcançar a máxima eficiência da
organização.
Disfunções da Burocracia
• Disfunções: problemas da burocracia na prática
• Para os autores que criticam a burocracia:
Disfunções da Burocracia
• Weber era um crítico à burocratização:
‒“É horrível pensar que o mundo possa vir a ser um dia
dominado por homenzinhos colados a pequenos cargos,
lutando por maiores”
• Weber foi reinterpretado de forma equivocada: o ponto central
de sua obra era poder e dominação.
‒As críticas à burocracia “tipo puro” de Weber são oriundas
desse erro
‒Ele não queria tornar a burocracia um modelo administrativo
para as organizações modernas
‒Ele apenas descreveu suas características mais “puras”
Disfunções da Burocracia
• Merton - burocracia é um sistema social desumano e
mecanicista.
‒ Internalização das normas.
‒ Excesso de formalismo e papelório. ‒ Resistência a mudanças.
‒ Despersonalização do relacionamento.
‒ Categorização do processo decisório - excesso de hierarquia.
‒ Superconformidade às rotinas e procedimentos - maior importância ao modo de fazer do que ao resultado.
Disfunções da Burocracia
• Outros autores:
‒Weber analisou a burocracia sob um ponto de vista puramente
mecânico e não político.
‒Weber não considerou a estrutura informal que gera atitudes
espontâneas das pessoas e grupos.
‒A burocracia não assimila as novas tecnologias.
‒Pessoas não são plenamente utilizadas, se tornam obtusas,
limitadas e obscuras.
‒Weber não previu a possibilidade de flexibilidade para atender
exigências internas e externas.
‒Adota a lógica de sistema fechado em busca de certeza e previsão
exata.
Disfunções da Burocracia
• Autores estruturalistas:
‒O caminho moderno consiste em utilizar o modelo
burocrático de Weber como ponto de partida, mas
reconhecendo as suas limitações e consequências
disfuncionais.
o