Mecanismos
microbianos da
patogenicidade
Microbiologia FFI 0751
Profa. Nelma
20/10/2017
Glossário
• Microbiota normal do corpo: microrganismos que estabelecem uma
residência mais ou menos permanente em um animal, mas que não
produzem doença em condições normais.
• Parasita: organismo que cresce no interior ou na superfície de um
hospedeiro, provocando danos a este.
• Patógeno: microrganismo capaz de causar doença.
•
Patogenicidade: capacidade de uma patógeno de produzir doença
superando as defesas do hospedeiro.
• Virulência: grau ou extensão da patogenicidade. Dose Letal (DL), DI
(dose infecciosa), toxicidade e invasividade são medidas da virulência de
um microrganismo.
Glossário
•Infecção: invasão ou colonização do corpo por microrganismos patogênicos.
Pode existir na ausência de uma doença detectável (pessoa infectada
com o vírus HIV que não apresenta sintomas).
•Doença: dano ou lesão causado em um hospedeiro, prejudicando suas
funções ou ocorre quando a infecção resulta em qualquer alteração de um
estado de saúde.
• Sintomas: alterações subjetivas (não aparente a um observador). Ex.: dor, mal-estar.
• Sinais: alterações objetivas (podem ser observadas e medidas). Ex.: lesões, edema, febre, paralisia.
• Exames laboratoriais
diagnosticada por
Microbiota normal dos humanos: ~ 100 trilhões de bactérias.
Presentes nas regiões do corpo expostas ao ambiente, como pele, boca,
ouvido, tratos respiratório superior, gastrointestinal e urogenital.
Dificilmente em órgãos internos, linfa, sangue e sistema nervoso, o que
caracterizaria uma infecção.
Microbiota normal dos humanos
Fonte: Tortora, Funke & Case (2012).
Representantes da microbiota normal por região do corpo.
Distribuição e
composição é
determinada por
Nutrientes (derivados de produtos celulares secretados ,
substâncias em fluidos corpóreos, células mortas,
alimentos no trato gastrointestinal e boca). Temperatura, pH, O2, umidade, salinidade Substâncias inibitórias (enzimas, barreira física)
Fonte: Tortora, Funke & Case (2012).
Em indivíduos saudáveis:
Fonte: Madigan et al., 2010.
Trato superior: colonizado por grande variedade e quantidade de microrganismos.
Trato inferior: apresenta poucos ou nenhum
Fonte: Madigan et al., 2016
Barreiras naturais
físicas, químicas e
anatômicas contra a
colonização e infecção
por patógenos.
Human Microbiome Project –
National Institutes of Health (NHI)
Projeto Microbioma Humano
http://commonfund.nih.gov/hmp/overview
1ª. Fase – 2007-2012: desenvolvimento de base de dados metagenômica e ferramentas computacionais para caracterizar a microbiota de adultos
saudáveis.
2ª. Fase 2013-2015: avaliação integrada de dados taxonômicos,
metagenômicos e funcionais (multi-omic data) na compreensão do papel da microbiota humana na saúde e na doença.
MECANISMOS
MICROBIANOS DE
PATOGENICIDADE
Quando os microrganismos são
Mecanismos microbianos de patogenicidade
Adesão
Fímbrias, cápsulas
Colonização e
Crescimento
Fatores de Virulência
• membranas mucosas (tratos respiratório,
gastrointestinal, genitourinário) e
conjuntiva (olho).
• pele: por aberturas como dutos de glândulas
sudoríparas e folículos pilosos.
• via parenteral: perfurações da pele ou mucosas
(punção, injeção, picadas, cortes, ferimentos,
cirurgias).
Adesão à pele ou mucosas
• Acontece por meio de interações entre moléculas de superfície
do patógeno – adesinas ou ligantes – e receptores
complementares de superfície nas células teciduais do
hospedeiro
• Adesinas localizam-se no glicocálice ou em estruturas como
pili, fímbrias e flagelos.
• Interação pode ser seletiva, ou seja, pode ser com células
de uma região corpórea particular ou de uma espécie
Adesão à pele ou mucosas
Adesinas: lipoproteínas ou
glicoproteínas.
Receptores:
carboidratos,
geralmente
manose.
Fonte: Tortora, Funke & Case (2012).Adesão à pele ou mucosas
Vibrio cholerae aderido à borda
em escova das vilosidades
intestinais de coelho. A adesão é por meio de pili.
Células de E. coli enteropatogênica aderidas à borda em escova das vilosidades intestinais de bezerro por meio de cápsula.
Adesão à pele ou mucosas
Linhagens fimbriadas de E. coli são causa mais frequente de infecções do trato urinário.
Neisseria gonorrhoeae em
leucócitos humanos presentes em secreção uretral.
Fatores de adesão (não mostrados):
pili de adesão e proteína de superfície (membrana externa) Opa.
NÚMERO DE MICRORGANISMOS
INVASORES
• Virulência expressa como
DI
50: dose infecciosa para 50% dos
animais de um grupo teste.
• Bacillus anthracis:
DI
50pele 10 a 50 esporos
DI
50inalado 10-20 mil esporos
DI
50ingerido 250 mil a 1 milhão de esporos
• potência de toxina =
DL
50(dose letal para 50% dos animais
de um grupo teste)
DL para a toxina botulínica em camundongos = 0,03 ng/kg.
PENETRAÇÃO NAS CÉLULAS OU EVASÃO
DAS DEFESAS DO HOSPEDEIRO
1. Cápsulas
Pode aumentar a virulência de certas bactérias:
Streptococcus pneumoniae, Klebsiella pneumoniae,
Haemophilus influenzae, Bacillus anthracis, Yersinia pestis.
2. Enzimas
Coagulase
(Staphylococcus aureus): provoca a deposição de
fibrina sobre os cocos, protegendo-os da fagocitose.
Infecções localizadas como pústulas.
Quinase
(Streptococcus, Staphylococcus): dissolve os
coágulos de fibrina formados pelo hospedeiro no local da
invasão microbiana.
Hialuronidase
(estreptococos, Clostridium, p.e.): degrada
ácido hialurônico, um polissacarídeo presente
particularmente em tecidos conjuntivos.
Colagenase
(Clostridium): rompe a rede de colágenos que
sustenta os tecidos, permitindo a disseminação do patógeno
pelo corpo.
3. Componentes da parede celular
– Proteína M (foto): Evita a
fagocitose e a morte por
ação dos neutrófilos.
Streptococcus pyogenes
Proteína M de estreptococos beta-hemolíticos. Fonte: Tortora, Funke e Case, 2010.
₋ Ácido micólico: resiste à digestão por fagócitos.
Mycobacterium tuberculosis
4. Penetração no citoesqueleto
Enrugamento da membrana plasmática da célula hospedeira
Fonte: Tortora, Funke e Case, 2012.
Invasina
– Salmonella: provoca
rearranjo dos
filamentos de actina
do citoesqueleto
celular no ponto de
contato.
Toxicidade
Produção de toxinas
:
~ 220 toxinas bacterianas conhecidas.
Podem produzir febre, diarréia, interromper a
síntese protéica, lisar células do sangue, causar
espasmos, etc.
O dano causado ao hospedeiro por bactérias frequentemente é devido a toxinas.
Exotoxinas e Endotoxinas Bacterianas
Exotoxinas
Produto metabólico da célula em crescimento.
Podem ser facilmente transportadas para locais
distantes da infecção.
Fonte bacteriana: principalmente bactérias
gram-positivas.
Constituição protéica, muitas de natureza
enzimática.
Genes codificantes estão nos plasmídeos ou
fagos.
Podem ser convertidas em toxóide para
imunização: inativação da toxina in vitro pela ação
do calor ou agente químico (formol, iodo).
Exotoxinas
1. Toxinas citolíticas
2. Toxinas A-B
Exotoxinas
1. Citolíticas: agem na membrana plasmática, causando lise e
morte celular. Rompem a porção fosfolipídica (fosfolipases) ou
formam canais protéicos (alfa-toxina de estafilococos).
Figura acima: Zonas de beta-hemólise ao redor de colônias de Streptococcus
pyogenes, crescendo em uma placa de ágar
sangue.
Fonte: Madigan et al., 2010.
Figura acima: Alfa-toxina de estafilococo.
Exotoxinas
2. Toxinas A-B:
2 subunidades protéicas ligadas
covalentemente, partes A e B.
Parte A é o componente ativo (enzima) e
parte B é o componente de ligação com a
superfície celular.
Exemplos: toxinas colérica, diftérica,
tetânica e botulínica.
Exotoxinas
Toxina colérica – Vibrio cholerae – mais
conhecida.
E. coli, Salmonella enteritidis - toxinas com
ação e estrutura similares às da toxina
colérica.
Exemplos de exotoxinas que atuam no
intestino delgado (= enterotoxinas) e
provocam uma grande secreção de
fluidos para o lúmen intestinal, causando
Ação da toxina colérica, de Vibrio cholerae.
Fonte: Madigan et al., 2010. (Glicolipídeo de membrana) Ativa a adenil clclase, ↑ a [AMPc]. ↑ [AMPc] promove a abertura dos canais de cloro.
Causa efeito cascata: AC promove aumento
da [ ] de AMP cíclico, que estimula a
proteína quinase-dependente de AMP, que fosforila trasportadores de íons da
membrana. Estes exportam íons, causando perda de fluido, potássio e cloreto da célula para o lúmen intestinal.
Toxina tetânica - bloqueia impulsos nervosos para a via de relaxamento muscular, resultando em contrações
musculares incontroláveis.
Ação da toxina tetânica, de Clostridium tetani.
Fonte: Madigan et al., 2010.
Charles Bell, 1809.
Opisthotonus in a patient suffering from tetanus.
Exotoxinas
3. Superantígenos
Exotoxinas que não agem diretamente no alvo celular. Subvertem o sistema imune. (Receptor de célula T) (Complexo principal de histocompatibilidade) (p.e., macrófago) Libera citocinas, mediadores inflamatórios. Ex.: toxinas estafilocócicas que causam intoxicação alimentar e síndrome do choque séptico.Endotoxinas
Porção lipídica (lipídeo A) do LPS da membrana externa da
parede celular.
É liberada com a destruição da célula ou durante a divisão
celular.
Fonte bacteriana: bactérias gram-negativas.
Dose letal necessária é maior que para as exotoxinas.
Sintomas são os mesmos para os diferentes tipos: febre,
fraqueza, dores e choque.
Não produz toxóides efetivos (não é facilmente neutralizada
pelas antitoxinas).
Ex.: febre tifóide (Salmonella typhi), infecções do trato
urinário (por Proteus spp) e meningite meningocócica (N.
Endotoxinas e a resposta pirogênica: o
mecanismo proposto pelo qual as
endotoxinas causam febre.
Fonte: Tortora, Funke & Case (2012).
Tem a síntese inibida pela aspirina, p.e.
Estrutura da parede de bactérias gram negativas
• Portas de saída
• trato respiratório (tosse ou espirro)
• trato gastrointestinal (saliva ou fezes)
• trato urogenital (secreções da vagina
ou do pênis)
Bibliografia
- Kaiser, F.H. et al. Medical Microbiology. New york: Thieme,
2005.
- Levinson, W. Review of Medical Microbiology &
Immunology, Tenth Edition. USA: McGraw-Hill – Lange, 2008.
- Madigan et al., Microbiologia de Brock. São Paulo:
Prentice-Hall, 12ª ed., 2010.
Capítulo 28
.
- Madigan et al., Microbiologia de Brock. São Paulo:
Prentice-Hall, 14ª ed., 2016.
- Tortora et al., Microbiologia. Porto Alegre: ArtMed, 10ª ed.,
2012.
Capítulos 14 e 15
.
- Tortora et al., Microbiologia. Porto Alegre: ArtMed, 12ª ed.,
2017.
Questões de revisão
1. Quais fatores determinam a distribuição e composição da microbiota do corpo humano?
2. Diferencie patogenicidade de virulência.
3. Quais as portas de entrada para os patógenos no corpo humano? O que significa porta de entrada preferencial?
4. Qual o papel das estruturas a seguir nos mecanismos de patogenicidade de bactérias:
a) Adesinas b) Cápsula
c) Enzimas: coagulase, quinase, proteases IgA, colagenase, hialuronidase. 5. Por quais meios as bactérias patogênicas danificam as células do hospedeiro? 6. Compare as endotoxinas e exotoxinas quanto à fonte bacteriana, modo de ação,
estrutura. Dê exemplos.
7. Explique como os fármacos que se ligam a cada uma das estruturas a seguir podem afetar a patogenicidade:
a) Ferro no sangue do hospedeiro b) Fímbrias da Neisseria gonorrhoeae c) Proteína M do Streptococcus pyogenes
8. Vacinas contra exotoxinas, como a toxina diftérica e tetânica, são utilizadas para prevenir doenças. Por que não são desenvolvidas vacinas contra as endotoxinas? 9. Quais os tipos de exotoxinas, segundo suas estruturas e modos de ação?