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Quão Pró-Pobre tem sido o Crescimento Econômico no Nordeste do Brasil? Uma Análise do Período

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Academic year: 2021

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Quão Pró-Pobre tem sido o Crescimento Econômico no Nordeste do Brasil? Uma Análise do Período 1991-2010

Resumo

Este trabalho examina o crescimento econômico na região Nordeste do Brasil no período 1991- 2010 investigando, especificamente, em que medida a dinâmica da renda desta região tem sido relativamente mais favorável aos indivíduos mais pobres desta região, até o presente, residência de mais da metade das pessoas em situação de extrema pobreza no país. A partir de um indicador que considera tanto a redução da extrema pobreza, como o crescimento relativo da renda das pessoas nesta condição, os resultados são analisados para os estados da região e suas mesorregiões, considerando-se tanto a renda total, como a renda do trabalho. As evidências obtidas indicam que os períodos 1991-2000 e 2000-2010 são bastante diferentes com respeito à natureza do crescimento da renda total. Quando o foco é na dinâmica da renda do trabalho, tal distinção entre os períodos é substantivamente menor.

Palavras-chave: crescimento, pobreza, pró-pobre, Nordeste.

Abstract

This paper analyses the quality of economic growth of the Brazilian Northeast region, the poorest region of the country, during the period 1991-2010 specifically investigating the relative benefices of poor individuals. By using an indicator that considers both traditional poverty measures and the relative growth of the income from poorest individuals, it provides evidence for the states and mesorregions of the Brazilian Northeast. The set of evidence indicates that the results for the periods 1991-2000 and 2000-2010 are very different: during the second period the income dynamic is clearly favorable to poorest individuals; during the first, the opposite situation is observed. Nevertheless, focusing on the labor income, instead of on total income, generates much little difference between these two periods.

Key-word: growth, poverty, pro-poor, Northeast.

Código JEL O15, O12.

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Quão Pró-Pobre tem sido o Crescimento Econômico no Nordeste do Brasil? Uma Análise do Período 1991-2010

1. Introdução

Parecer haver um consenso entre os economistas que estudam a questão da pobreza no Brasil de que os períodos 1991-2000 e 2000-2010 guardam significativas diferenças entre si com respeito não apenas ao crescimento da renda no Brasil, mas, sobretudo, quanto à associação entre a dinâmica de renda apresentada nestes períodos e a redução da pobreza ou da extrema pobreza no país (SOUZA, 2103; OSÓRIO e SOUZA, 2012; HOFFMAN e NEY, 2008). O período mais recente, da mesma forma parece fora de questão, também é caracterizado pela efetividade das políticas públicas sociais de transferência de renda no que diz respeito à redução da pobreza (BARROS,

et al. 2006; SOARES, 2006, HOFFMAN e NEY, 2008). Neste cenário de maior

melhoria das condições sociais do país, como mostraram recentemente Silveira Neto e Azzoni (2012), há, além disto, evidentes diferenciações espaciais no país com respeito aos padrões de melhoria da renda também no sentido de redução da desigualdade, agora espacial: os estados da região mais pobre do país, o Nordeste, apresentam taxas de crescimento bem acima daquelas apresentadas pelos estados mais ricos do país, situados nas regiões Sudeste e Sul.

Este último aspecto de diferenciação entre os períodos 1991-2000 e 2000-2010 tem importância para além do aspecto do equilíbrio da desigualdade regional de renda, uma vez que tanto em 1991 como em 2000 situava-se na região Nordeste mais da metade das pessoas na pobreza ou extrema pobre do país (ROCHA, 2003; SILVEIRA NETO, 2005). De fato, com cerca de 18,2% da área do território nacional e 28% da população do país, a região Nordeste era residência em 2000 de cerca de 55% das pessoas em situação de extrema pobreza no Brasil

1

. Os períodos supracitados apresentam, assim, uma dupla diferenciação: não apenas há maior crescimento de renda e redução da pobreza no segundo, como, em geral, a renda cresce mais exatamente nas unidades ou na região da federação onde se encontram a maioria das pessoas em situação de pobreza ou extrema pobreza do país.

Os resultados desta pesquisa foram obtidos durante o período que autor foi bolsista do Projeto Cátedras para o Desenvolvimento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) entre 2011 e 2012, Cátedra Josué de Castro, a quem o autor agradece o auxílio. Evetuais imprecisões e omissões são, evidentemente, de inteira e exclusiva resposnabilidado autor.

1 Os dois últimos percentuais são obtidos utilizando-se os microdados do Censo Demográfico de 2010. Para a porporção se utiliza, além disto, uma linha de pobreza de R$ 70,00 em julho de 2010, o Índice de Preços ao Consumidor (INPC) e a renda docmiliar per capita dos domicílios da região.

(3)

É importante salientar, contudo, que o maior crescimento relativo da renda no Nordeste do país, dada a elevada desigualdade e maior intensidade da pobreza, está longe de assegurar maiores benefícios para mais pobres e maior redução da pobreza e da extrema pobreza na região, ou seja, está longe de garantir uma natureza pró-pobre do crescimento. Como mostrou Silveira Neto (2005), por exemplo, a partir das microrregiões do NE, entre 1991 e 2000, apesar do maior crescimento da renda, a região apresentou menor redução da pobreza e menor crescimento relativo da renda dos mais pobres quando comparada às demais regiões do país. Além disto, mesmo quando se investiga o caráter ou não pró-pobre do crescimento para anos mais recentes como fizeram Manso, Pereira e Barreto (2008) para o período 2001-2005, dada a importância das políticas sociais de transferência de renda, é importante conhecer se os maiores ganhos relativos dos mais pobre ou a redução da pobreza também ocorreu considerando-se a inserção produtiva dos indivíduos, ou seja, a partir da renda do trabalho.

Este trabalho tem, pois, três objetivos. Primeiro, investiga em que medida a natureza do crescimento da renda na região Nordeste e em seus estados pode ser considerada pró-pobre durante os períodos 1991-2000, 2000-2010 e 1991-2010. Nesta tarefa, utiliza uma medida que considera simultaneamente a redução da pobreza a partir de indicadores tradicionais de pobreza e os ganhos relativos dos mais pobres. Em segundo lugar, procura determinar se tal natureza pró- pobre ou não pró-pobre da dinâmica de renda observada para a região como um todo nestes períodos pode ser estendida para o espaço físico regional, reconhecidamente bastante diverso.

Nesta segunda tarefa, utiliza como unidades de análise as 42 mesorregiões nordestinas, nível de desagregação que eleva a chance de coincidência espacial entre as informações de ocupação e de residência dos indivíduos. Por fim, buscando-se uma medida do quanto as dinâmicas observadas estão associadas a fontes de renda não diretamente associadas à inserção produtiva dos indivíduos, além de evidências considerando-se a renda de todas as fontes dos domicílios, são obtidas evidências a respeito da natureza pró-pobre do crescimento da renda para os supracitados períodos considerando-se exclusivamente a renda do trabalho.

Os resultados obtidos quando se considera a renda de todas as fontes, de forma geral,

mostram que enquanto no período 1991-2000 o crescimento da renda no Nordeste, em seus

estados e em suas mesorregiões não pode ser considerado pró-pobre, para o período 2000-2010 o

crescimento é generalizadamente pró-pobre: há tanto redução da pobreza, como ganhos relativos

(4)

maiores de renda para os mais pobres da região. Em virtude do período inicial, os resultados para a natureza do crescimento da renda quando todo o horizonte 1991-2010, contudo, não pode ser considerado como pró-pobre. Mesmo quando se considera o período 2000-2010, há qualificações importantes a fazer quanto ao caráter pró-pobre do crescimento observado: não só a obtenção deste tipo de crescimento depende do indicador de pobreza utilizado (por exemplo, proporção de pobres ou hiato de renda), como da mesorregião considerada (por exemplo, mesmo quando se utiliza a proporção de pobres, três das cinco mesorregiões do Maranhão não apresentam crescimento pró-pobre).

Quando considerada a natureza do crescimento a partir exclusivamente da renda do trabalho, os resultados são bem menos favoráveis aos mais pobres da região Nordeste: não só há para o período 1991-2000 parte dos estados da região com crescimento com elevação da pobreza, como, considerando a proporção de pobres como indicador de pobreza, mesmo entre 2000 e 2010, apenas três estados e só metade das 42 mesorregiões apresentaram crescimento pró-pobre, estando estas últimas geograficamente concentradas na parte nordeste da região. Os resultados são ainda menos favoráveis quando se consideram como indicadores de pobreza o hiato de renda e o hiato quadrático de renda.

Além desta introdução, o trabalho está estruturado em mais seis seções. Na próxima, apresenta uma breve discussão sobre as conceituações de crescimento pró-pobre disponíveis na literatura e aquela utilizada neste trabalho. Na seção três, é apresentada a estratégia empírica para obtenção dos resultados da pesquisa, enquanto que na quarta seção apresenta-se uma situação da evolução da extrema pobreza do Nordeste e de seus estados no contexto nacional. Na quinta seção, são apresentados os principais resultados da pesquisa considerando-se a renda de todas as fontes dos domicílios, o que é complementado, na sexta seção, com evidências quanto à natureza pró-pobre do crescimento obtidas exclusivamente a partir da renda do trabalho. As considerações finais são apresentadas na sétima seção.

2. Crescimento pró-pobre: conceituações

Dois aspectos estão envolvidos quando se considera a noção de crescimento pró-pobre a

partir da dimensão renda, a dimensão considerada neste trabalho. O primeiro diz respeito

diretamente à redução da pobreza, apreendida esta a partir de um dado indicador e utilizando uma

(5)

linha de pobreza, associada à dinâmica observada de renda. O segundo, sem necessário imediato vínculo ao comportamento de um indicador de pobreza, diz respeito à dinâmica de renda dos indivíduos pobres em cotejo com a dinâmica de renda dos indivíduos não pobres. Tais dois aspectos, na verdade, associam-se a duas visões distintas do que deve ser considerado um crescimento pró-pobre correntes na literatura empírica recente do Desenvolvimento Econômico (RAVALLION, 2004; LOPEZ, 2005).

Especificamente, uma primeira noção trata o crescimento como pró-pobre quando este reduz a pobreza (RAVALLION e CHEN, 2003; RAVALLION, 2004). Desta forma, nesta perspectiva de ganhos absolutos de renda dos mais pobres, não há uma associação direta e necessária do conceito às alterações na distribuição de renda, mas apenas à relação entre crescimento e ganhos de bem-estar suficientes dos pobres a ponto da renda dos mesmos ultrapassarem a linha de pobreza. Já a noção de crescimento pró-pobre proposta por Kakwani e Pernia (2000) e White e Anderson (2001) enfatiza os ganhos relativos de renda dos mais pobres, estando associada à situação em que o crescimento da renda dos mais pobres é maior que o crescimento da renda média da economia, havendo, portanto, aumento da parcela da renda detidas por estes indivíduos. Neste caso, o crescimento pró-pobre estaria diretamente associado à diminuição da desigualdade de renda e não diretamente aos ganhos absolutos de bem-estar dos pobres

2

.

Nestes apontamentos, é adotada a versão de Kakawani, Khandker e Son (2004) para a noção de crescimento pró-pobre. Tal perspectiva é interessante porque considera tanto a necessidade de redução de pobreza, a partir de um indicador e de uma linha de pobreza, associada à dinâmica da renda, como a exigência de que os indivíduos mais pobres apresentem variações positivas de renda relativamente maiores que os indivíduos não pobres. A perspectiva representa, assim, certa conciliação com as duas visões apontadas acima.

Mais especificamente, a noção de crescimento pró-pobre dos referidos autores faz uso da noção de Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR), em linhas gerais, uma taxa de crescimento que, sendo a mesma para todos os indivíduos, acarretaria a variação da pobreza efetivamente verificada. Para a formalização desta noção, considere-se

x o nível de renda de um

indivíduo,

z uma linha de pobreza e P(z, x) um indicador de insuficiência de renda. É possível,

então, representar um índice de pobreza ou extrema pobreza como:

2 Uma discussão mais detalhada destes conceitos podem ser encontradas em Lopez (2004) e Klassen (2005).

(6)

(4) Onde

f(x) é a densidade de distribuição da renda entre os indivíduos. Desta expressão, é possível

obter a taxa de variação deste índice de extrema pobreza como:

ou

(5) Onde nesta última expressão H é o quantil da distribuição correspondente à linha de pobreza z e g é taxa de variação da renda. Utilizando-se a relação entre o crescimento da renda no quantil p e o crescimento da renda média,

,  é possível obter a seguinte expressão

para a taxa de variação do indicador de extrema pobreza (Kakawani, Khandker e Son, 2004):

, (6) onde

corresponde à elasticidade da pobreza em relação ao crescimento quando não há mudanças na desigualdade (ou seja, a percentagem de redução da pobreza decorrente da variação de 1% na renda média da economia com desigualdade inalterada). Note-se que a equação (6) mostra, então, a taxa de variação do indicador de pobreza em função do crescimento da renda média e da variação da desigualdade (capturada a partir da variação da Curva de Lorenz,

). Em termos de elasticidade-renda da taxa de variação da extrema

pobreza, a expressão (6) pode ser posta como:

(7)

Onde a primeira parcela do lado direito da equação,  , representa o efeito da variação da renda e o segundo,

, representa o efeito da desigualdade sobre a pobreza.

A Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) pode, então, ser definida como a taxa *

que garante a mesma taxa de variação do indicador de pobreza

na situação em que  = 0, ou seja, em que a desigualdade não varia, isto é:

 (8)

Note-se que de (7) e (8), a relação entre a PEGR e a taxa de crescimento efetiva da renda média é

dada por

(7)

 (9)

Onde = e .

A partir desta relação, Kakawani, Khandker e Son (2004) definem o crescimento como sendo pró-pobre quando

 > 

( > 1), isto é, quando a Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente é maior que a taxa de crescimento efetivamente verificada para a renda média da economia. Por outro lado, a taxa de crescimento é anti pobre ou não pró-pobre se 

<  ( < 1),

isto é, quando a taxa de crescimento comum a todos os agentes necessária para garantir mesma variação da pobreza que a verificada na economia (PEGR) é menor que a taxa de crescimento efetivamente verificada para a renda média da economia.

Nesta perspectiva, o crescimento econômico pode ser dito ainda empobrecedor (immizering growth) quando

 > 0 e há elevação da pobreza, situação, então, em que

necessariamente

 , ou seja, a Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente é negativa3

. Ainda de outra forma, se todos devem ter a mesma taxa de variação da renda, de forma que a desigualdade fique inalterada, quando ocorre efetivamente aumento da pobreza, então esta taxa deve ser negativa.

3. Crescimento pró-pobre: estratégia empírica e base de dados

Neste trabalho, utiliza-se a estratégia sugerida por Kakawani (2000) para estimar os valores da

PEGR

para os intervalos 1991-2000, 2000-2010 e 1991-2010, o que envolve a obtenção de variação de indicadores de pobreza para diferentes situações quanto ao nível de renda () e à desigualdade, medida esta a partir da Curva de Lorenz (L(p)). Mais especificamente, com

correspondendo a estimativas, respectivamente, das elasticidades da pobreza em

relação ao crescimento e em relação à desigualdade, estimativas da PEGR são obtidas a partir da equação (9) como:

, (9)’

3. Kakawani, Khandker e Son (2004) definem ainda o crescimento como sendo “super pró-pobre” quando os benefícios do crescimento para os pobres são em valor absoluto no mínimo igual àqueles do indivíduos não pobres.

Por sua vez, recessões poderiam ser ditas pró-pobre ou anti pobre, respectivamente, no casos em que < * <0 e *

< <0, ou seja no primeiro caso os pobres perderiam relativamente menor que os não pobre e no segundo caso relativamente mais. Finalmente, a recessão poderia ser dita “fortemente pró-pobre” (strongly pro-poor) caso < 0<

*, ou seja, quando há redução de pobreza mesmo com redução da renda média da economia. Obsereve-se que em nehum dos casos houve redução de renda para as unidades geográficas consideradas neste trabalho.

(8)

onde ,

e (10)

. (11)

Os indicadores de pobreza () utilizados nesta investigação correspondem aos três tradicionais indicadores da família proposta por Foster, Greer e Thorbecke (1984): a proporção de pobres (P0), o índice de hiato de pobreza (P1) e o hiato quadrático de pobreza (P2). Mais formalmente, para uma população de tamanho

n, níveis de renda familiar per capita denotados

por

para cada pessoa i e uma linha de pobreza de valor z, tais indicadores são representados

formal e respectivamente por:

(12) FGT (1)

(13)

, (14)

onde

Ii

corresponde a uma função indicadora que assume valor 1 se z > y

i

(pessoa com renda familiar

per capita menor que linha de pobreza) e 0 se z yi

pessoa com renda familiar

per capita maior ou igual à linha de pobreza). Note-se que, no primeiro caso (P0), obtém-se

informação sobre a extensão da pobreza, uma vez que é obtida a proporção da população na situação da pobreza. Já no segundo caso (P1), gera-se informação a respeito do hiato de renda ou distância da renda individual da linha de pobreza, obtendo-se, desta forma, um indicador que informa sobre a intensidade da pobreza. Por fim, a utilização do terceiro indicador (P2), que considera indivíduos mais distantes da linha de pobreza com maior peso, permite, além de captar as duas dimensões anteriores (amplitude e intensidade), captura variações na distribuição de renda dos pobres.

De acordo com as equações (10) e (11) exposta acima, para a obtenção de estimativas da

elasticidade da pobreza em relação ao crescimento e em relação à desigualdade se faz necessário

a obtenção de valores dos três índices acima em diferentes situações quanto à desigualdade e à

(9)

renda média. Neste trabalho, estes diferentes índices são obtidos a partir da estimação dos parâmetros da versão quadrática da Curva de Lorenz, expressa como:

(15)

Onde, L representa a proporção acumulada da renda, p a proporção acumulada da população e a,b e

c

são parâmetros a estimar

4

(Villasenor e Arnold, 1989). Como mostraram Datt e Ravallion (1992), valores para os indicadores de pobreza apontados acima podem ser obtidos diretamente a partir dos parâmetros da Curva de Lorenz, da linha de pobreza (z) e da renda média () da seguinte forma:

(16) (17)

(18) Onde,

.

Todas as informações utilizadas neste trabalho derivam dos microdados da amostra dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). Para a obtenção das informações sobre a renda domiciliar

per capita foram considerados

apenas os domicílios particulares permanentes, sendo os valores ajustados para julho de 2010 a partir do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), também do IBGE. A linha de pobreza utilizada corresponde a R$ 70,00 (setenta reais) de julho de 2010, valor nominal que correspondia em 2011 àquele adotado pelo Plano Brasil Sem Miséria e pelo Programa Bolsa Família no mesmo ano. Ao longo de todo o texto os termos extrema pobreza e pobreza fazem sempre referência ao mesmo universo de indivíduos, ou seja, são intercambiáveis.

4. A Evolução dos níveis de pobreza entre 1991 e 2010: o Nordeste no contexto nacional

Na tabela 1, a seguir, são apresentados os indicadores de pobreza na dimensão renda e os níveis de renda domiciliar

per capita (RD) do Brasil e de suas macrorregiões para os anos de

1991, 2000 e 2000. Embora as tendências gerais sejam conhecidas, os valores dos indicadores de pobreza para a linha de pobreza utilizada apresentam novas particularidades. Neste sentido, ao menos três conjuntos de evidências são dignas de nota.

4 Utiliza-se para tal o métodos do Mínimos Quadrados Ordinários.

(10)

Primeiro, os níveis de renda domiciliar

per capita da região Nordeste, nos dois anos

primeiros anos, equivaliam a aproximadamente metade daquele observado para o país (49,8% em 1991 e 52% em 2000). Contudo, em 2010 a renda nordestina equivalia a quase 60% (59,9%) da brasileira. Tal dinâmica indica que houve muito pouca alteração em sua renda relativa àquela do país entre 1991 e 2000, mas que entre 2000 e 2010 a evolução da renda da região é muito mais favorável que a do país como um todo.

Segundo, a referida região, também nos dois primeiros anos, destacava-se por apresentar o maior percentual de muitos pobres: 38,5% em 1991 e 29,3% em 2000, percentuais que correspondiam aproximadamente 2,0 vezes àqueles observados para o país. O que indica que, medida pelo indicador pela proporção de pobreza (P0), a pobreza no Nordeste se reduz aproximadamente no mesmo ritmo que o observado para o país como um todo. De fato, em relação à população do país e do total de indivíduos muito pobres, os valores da tabela indicavam que em 1991 a região Nordeste, com 28,8% da população, continha 57,7% dos muito pobres do Brasil, ou cerca de 16,4 milhões dos 28,5 milhões de muito pobres do Brasil no referido ano. Já em 2000, tais percentuais correspondiam a 28,1% da população e 55,7% dos muito pobres.

Contudo, no ano de 2010, os indivíduos na extrema pobreza na região Nordeste perfaziam 50,1%

do total de extremamente pobres do país, o que indica um avanço relativo maior da região quando cotejada com o país neste indicador entre 2000 e 2010.

No cotejo entre as regiões em relação ao indicador P0 (proporção de pobres), observa-se, na comparação entre 1991 e 2010, por um lado, menor redução da extrema pobreza na região Norte, que passa a figurar como região com maior percentual na extrema pobreza, e, por outro lado, a mais rápida redução da extrema pobreza nas regiões Sul e Centro-Oeste do país.

Em terceiro lugar, as evidências obtidas para o indicador que captura a intensidade da

pobreza (P1) indicam um desempenho bastante inferior àquele observado para a proporção de

pobres (P0) para o Brasil e para suas macrorregiões. Também aqui, entre os anos de 1991 e 2010,

o indicador para região Nordeste aponta para uma mais rápida redução da extrema pobreza no

Nordeste que no país, o que, novamente, decorre, sobretudo, do desempenho da região entre 2000

e 2010. Na verdade, as únicas regiões que apresentam redução na extrema pobreza entre 1991 e

2010 para ambos os indicadores P1 (intensidade da pobreza) e P2 (severidade da pobreza) são as

regiões Nordeste e Sul do país, sendo as reduções relativamente maiores na segunda destas

regiões.

(11)

Tabela 1 – Renda Domiciliar per capita (RD) mensal e Medidas de Pobreza – Brasil e macrorregiões.

1991 2000 2010

RD P0 P1 P2 RD P0 P1 P2 RD P0 P1 P2

NO 304 0,2603 0,1154 0,0735 352 0,2419 0,1373 0,1072 494 0,1715 0,1178 0,0985 NE 224 0,3852 0,1720 0,1033 301 0,2932 0,1620 0,1219 458 0,1707 0,1036 0,0782 SE 610 0,0926 0,0432 0,0299 755 0,0730 0,0466 0,0399 940 0,0558 0,0468 0,0437 Sul 473 0,1142 0,0479 0,0298 664 0,0698 0,0400 0,0322 918 0,0375 0,0294 0,0268 CO 500 0,1094 0,0448 0,0282 667 0,0845 0,0507 0,0421 932 0,0561 0,0454 0,0417 BR 450 0,1931 0,0862 0,0540 577 0,1480 0,0851 0,0670 765 0,0948 0,0659 0,0553 Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Renda mensal per capita (RD) em Reais de julho de 2010. Linha de Pobreza de R$ 70,00 da mesma data.

Nas evidências apresentadas na tabela 2, a seguir, diminui-se o nível de agregação das unidades espaciais consideradas acima: os valores dos três índices de pobreza são apresentados para as unidades da federação.

Os valores da referida tabela confirmam, também para 2010, por um lado, que os mais elevados níveis de renda e mais baixos níveis de extrema pobres são observados para os estados das regiões Sudeste e Sul do País e, por outro, os mais baixos níveis de renda são registrados nos estados do Nordeste. No que se refere à dinâmica de renda, entretanto, há uma evidente melhora relativa da posição dos estados nordestinos. Especificamente, por exemplo, embora em 1991 todos os estados da região figurassem entre os dez estados de mais baixa renda, seis dos nove estados do Nordeste figuram entre as dez unidades com mais elevadas taxas de crescimento da renda entre este ano e 2010. Os números da tabela 2 também tornam evidente que tal melhor desempenho relativo dos estados do Nordeste entre 1991 e 2010 deve-se, sobretudo, ao ocorrido entre 2000 e 2010, período de melhor desempenho generalizado dos estados brasileiros: neste período, entre os nove estados da região, apenas Pernambuco não figura entre os 10 estados brasileiros com maior crescimento da renda.

Associados a tais dinâmicas de renda entre 1991 e 2010, há também evidentes progressos dos estados nordestinos no que diz respeito a níveis de extrema pobreza no período. Observa-se, por exemplo, que todos os nove estados nordestinos figuravam entre os dez estados brasileiros com maior proporção de pobres (P0) em 1991, sendo tal número reduzido para seis em 2010.

Note-se, contudo, que apesar do relativo melhor desempenho da renda dos estados do Nordeste

entre 1991 e 2010, apenas três estados da região figuram entre os dez estados brasileiros que mais

reduziram relativamente a proporção de extremamente pobres no período (Paraíba, Rio Grande

do Norte e Bahia). Na verdade, os quatros estados que mais reduziram em termos relativos a

(12)

proporção de extremamente pobres pertencem às regiões Sul e Sudeste do país: Santa Catarina, Minas Gerais, Paraná e Espírito Santo.

De forma semelhante ao verificado para a renda, a performance dos estados brasileiros entre 1991 e 2010 com respeito aos indicadores de extrema pobreza, de forma geral, é muito melhor entre 2000 e 2010 que no período 1991 e 2000. Tal constatação também se aplica na comparação entre o desempenho dos estados da região Nordeste e aqueles dos demais estados brasileiros: enquanto entre 1991 e 2000 apenas três dos nove estados do Nordeste (Piauí, Paraíba e Bahia) figuram entre os dez estados brasileiros que mais reduziram em termos relativos a proporção de extremamente pobres, entre 2000 e 2010, seis dos nove estados da referida região figuram entre os dez estados brasileiros de melhor performance em termos de redução relativa da proporção de extremamente pobres.

É interessante observar que, em termos de redução da extrema pobreza, o desempenho dos estados do Nordeste entre 1991 e 2010 é relativamente melhor quando se foca a análise nos indicadores de extrema pobreza associados à intensidade (P1) e à severidade da mesma (P2). De fato, entre estes dois anos, dos nove estados da região, cinco e seis deles figuram entre os dez estados brasileiros que mais reduziram, respectivamente, a intensidade (P1) e a severidade (P2) da extrema pobreza. Entre 2000 e 2010 a performance das unidade nordestinas é ainda melhor:

apenas o estado do Maranhão não figura entre os dez estados brasileiros que mais reduziram em termos relativos a extrema pobreza medida esta a partir destes dois indicadores.

Tabela 2 - Renda per capita (RD) mensal e Medidas de Pobreza – Unidades da Federação

1991 2000 2010

RD P0 P1 P2 RD P0 P1 P2 RD P0 P1 P2

RO 307 0,2575 0,1292 0,0895 454 0,1443 0,0855 0,0700 645 0,0929 0,0717 0,0638 AC 287 0,2853 0,1265 0,0788 351 0,2428 0,1385 0,1086 496 0,1877 0,1373 0,1186 AM 345 0,2426 0,1227 0,0878 338 0,2987 0,1839 0,1496 507 0,2017 0,1440 0,1232 RR 552 0,2362 0,1777 0,1616 461 0,1892 0,1206 0,1031 576 0,1845 0,1402 0,1220 PA 282 0,2629 0,1051 0,0606 329 0,2444 0,1300 0,0971 429 0,1840 0,1213 0,0990 AP 378 0,1632 0,0736 0,0500 411 0,1963 0,1059 0,0818 575 0,1309 0,0886 0,0744 TO 250 0,3147 0,1308 0,0752 338 0,2401 0,1420 0,1138 571 0,1224 0,0818 0,0661 MA 158 0,4540 0,2043 0,1228 215 0,3810 0,2075 0,1507 349 0,2419 0,1525 0,1163 PI 169 0,4715 0,2255 0,1391 251 0,3339 0,1799 0,1291 409 0,1994 0,1165 0,0831 CE 222 0,3922 0,1724 0,1003 304 0,2966 0,1663 0,1252 446 0,1673 0,0978 0,0719 RN 243 0,3299 0,1470 0,0892 343 0,2393 0,1383 0,1097 531 0,1229 0,0751 0,0570 PB 198 0,4094 0,1885 0,1156 292 0,2710 0,1460 0,1084 462 0,1525 0,0894 0,0659 PE 276 0,3201 0,1397 0,0840 357 0,2495 0,1406 0,1086 508 0,1505 0,0938 0,0729 AL 212 0,3682 0,1587 0,0944 272 0,3466 0,1967 0,1507 420 0,1873 0,1128 0,0840 SE 249 0,3129 0,1298 0,0749 317 0,2685 0,1392 0,1008 507 0,1418 0,0828 0,0631 BA 235 0,3907 0,1748 0,1055 312 0,2799 0,1539 0,1168 481 0,1618 0,0987 0,0753 MG 388 0,1812 0,0722 0,0411 537 0,1090 0,0590 0,0458 732 0,0544 0,0389 0,0334 ES 380 0,1673 0,0660 0,0378 562 0,0915 0,0480 0,0373 793 0,0548 0,0427 0,0388

(13)

RJ 603 0,0893 0,0427 0,0309 802 0,0688 0,0463 0,0409 991 0,0663 0,0572 0,0540 SP 742 0,0437 0,0272 0,0233 857 0,0557 0,0406 0,0369 1032 0,0524 0,0468 0,0450 PR 441 0,1324 0,0546 0,0333 623 0,0814 0,0464 0,0371 869 0,0401 0,0311 0,0283 SC 454 0,1001 0,0439 0,0284 677 0,0559 0,0333 0,0277 966 0,0281 0,0237 0,0223 RS 512 0,1045 0,0438 0,0272 695 0,0664 0,0375 0,0299 938 0,0404 0,0310 0,0280 MS 437 0,1130 0,0420 0,0243 560 0,0954 0,0543 0,0435 781 0,0547 0,0400 0,0347 MT 402 0,1440 0,0639 0,0427 562 0,1049 0,0659 0,0560 734 0,0776 0,0635 0,0585 GO 413 0,1151 0,0460 0,0282 558 0,0826 0,0487 0,0401 783 0,0524 0,0431 0,0398 DF 911 0,0472 0,0208 0,0143 1.169 0,0530 0,0332 0,0285 1655 0,0408 0,0349 0,0330 Fonte: Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Renda mensal per capita (RD) em reais de julho de 2010. Linha de extrema pobreza de R$ 70,00 na mesma data.

Ao menos três constatações são possíveis e merecem ser destacadas com respeito ao conjunto de evidências e observações feitas acima sobre os números das tabelas 1 e 2. Primeiro, deve estar claro que um melhor desempenho dos estados ou macrorregiões brasileiras entre 1991 e 2010 com respeito à dinâmica de renda nem sempre esteve também associado a maior progresso relativo em termos de redução da extrema pobreza. Ou seja, maior crescimento não necessariamente esteve associado a maior redução relativa da extrema pobreza. Segundo, sobretudo para a região Nordeste e seus estados, observou-se que, para uma mesma dinâmica de renda, há significativas diferenças na dinâmica de redução da extrema pobreza associada quando são utilizados os indicadores de pobreza que medem intensidade (hiato de renda, P1) e severidade (hiato quadrático de renda, P2), ao invés do indicador de extrema pobreza que mede a extensão da mesma (proporção de pobres, P0). Finalmente, tornou-se claro que o período 2000-2010 é muito mais favorável para redução da extrema pobreza dos estados e macrorregiões brasileiras que o período 1991-2000.

Tomadas em conjunto, estas constatações sugerem que a mensuração do quão pró-pobre

foi o crescimento da região Nordeste entre 1991 e 2010 deve considerar, por um lado, o

crescimento da renda dos indivíduos na extrema pobreza e não só a redução do indicador de

extrema pobreza. É importante salientar, contudo, que a consideração dos indicadores que apenas

consideram o crescimento do grupo de indivíduos na extrema pobreza (como as medidas P1 e P2)

nada informam sobre o crescimento da renda destes indivíduos em relação à renda dos indivíduos

não pobres. Ou seja, na mensuração do caráter pró-pobre ou não pró-pobre do crescimento não

basta apenas substituir na análise o indicador da extensão da pobreza pelos indicadores de sua

intensidade ou severidade. Por outro lado, as experiências brasileira e, em particular, nordestina

apontadas acima sugerem também que os períodos 1991-2000 e 2000-2010 devem envolver

experiências bastante distintas com respeito ao caráter pró-pobre do crescimento econômico.

(14)

No restante deste trabalho, utiliza-se a noção de Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) proposta por Kakwani et al. (2004), uma perspectiva que, como foi argumentado, na definição do crescimento pró-pobre considera tanto a redução da extrema pobreza a partir dos indicadores acima utilizados, como o crescimento da renda dos extremamente pobres em relação aquele da renda dos indivíduos não pobres.

5. Crescimento pró-pobre no Nordeste do Brasil entre 1991 e 2010 5.1 Evidências para a região e seus estados

Na tabela 3, a seguir, são apresentados os valores obtidos para a PEGR utilizando os três indicadores de pobreza considerados anteriormente (P0, P1 e P2) para as macrorregiões brasileiras nos períodos 1991-2000, 2000-2010 e 1991-2010, juntamente com a taxa de crescimento efetivamente observada para estes períodos (EGR) nestas macrorregiões. Como se pode imediatamente observar, há importante diferenças tanto entre os resultados para os diferentes períodos considerando-se um único indicador de extrema pobreza, como entre os resultados a partir dos diferentes indicadores em um mesmo período ou entre resultados para diferentes regiões para mesmos indicador e período.

Entre 1991 e 2010, quando se utiliza como indicador de extrema pobreza a proporção de extremamente pobres (P0), os valores apresentados nas últimas linhas da referida tabela indicam que apenas para a região Sul do país observou-se um crescimento considerado pró-pobre de acordo com a definição de Kakwani et al. (2004) utilizada neste trabalho, uma vez que apenas para esta macrorregião a Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR), em torno de 98%, esteve acima da taxa de crescimento econômico efetivamente verificada (EGR), de 94%.

Ou seja, entre 1991 e 2010, na região Sul, para se obter a mesma redução da extrema pobreza, medida este pela proporção de extrema mente pobres, com todos os indivíduos com taxas de variações idênticas de renda, seria necessário um crescimento econômico maior (próximo de 98%) que aquele efetivamente verificado (de 94%), o que significa que não só nesta região houve redução na proporção de extremamente pobres, como os indivíduos nesta situação se beneficiaram mais com a dinâmica da renda que os indivíduos não extremamente pobres.

Para todas as demais regiões no mesmo período, inclusive o Nordeste, verifica-se

crescimento do tipo não pró-pobre, já que a Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente

registrada, embora positiva, situa-se abaixo a taxa de crescimento da renda nas regiões. Por sua

(15)

vez, quando a mesma comparação é feita a partir dos indicadores que consideram a intensidade (P1) e a severidade (P2) da extrema pobreza, o crescimento pode ser considerado do tipo

“empobrecedor” para as regiões Norte, Sudeste e Centro-Oeste do país, já que os valores estimados para a PEGR destas regiões a partir destes dois indicadores são negativos

5

. Para o Nordeste e Sul do país, contudo, os valores positivos obtidos para a PEGR a partir dos dois indicadores apenas indicam crescimento não pró-pobre, mas não do tipo “empobrecedor”.

Os resultados revelam-se consideravelmente distintos, contudo, quando as duas décadas são consideradas separadamente. Especificamente, enquanto que entre 1991 e 2000 nenhuma das macrorregiões brasileiras apresentou crescimento do tipo pró-pobre para qualquer dos indicadores de extrema pobreza, no período 2000-2010 todas as macrorregiões do país apresentaram crescimento do tipo pró-pobre quando este é considerado a partir do indicador que captura a extensão da pobreza (P0), ou seja, neste último período, todas as macrorregiões apresentaram a PEGR acima da taxa de crescimento efetivamente registrada para a renda da região quando se considera a proporção de extremamente pobres. Para a região Nordeste em particular, nota-se que enquanto a renda per capita neste período cresceu cerca de 52%, a Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente estimada utilizando o indicador P0 foi de 63%.

Observe-se, contudo, que mesmo para o período 2000-2010, o crescimento das macrorregiões brasileiras só pode ser considerado pró-pobre quando se considera como indicador de extrema pobreza a proporção de extremamente pobres. Quer se meça a extrema pobreza a partir de sua intensidade (P1) ou de sua severidade (P2), em nenhuma das regiões verifica-se tal tipo de crescimento, sendo o crescimento do tipo não pró-pobre para o Norte, Nordeste, Sul e Centro-Oeste do país e do tipo “empobrecedor” para a região Sudeste. Estes resultados evidenciam as dificuldades de se beneficiar relativamente mais os indivíduos em situação de extrema pobreza no país, mesmo quando se observa um significativo crescimento da renda, como o observado entre 2000 e 2010.

Tabela 3 – Taxa de Crescimento da Renda (EGR) e Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente da Renda (PEGR) para as macrorregiões brasileiras (%) – Renda de todas as fontes

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste

1991-2000

EGR 15,9 34,5 23,7 40,3 33,4

PEGR (P0) 7,3 29,1 21,0 40,7 19,4

PEGR (P1) -10,6 4,0 -5,0 12,1 -8,8

5 Um resultado esperado, uma vez que houve elevação destes indicadores entre 1991 e 2010 para estas regiões.

(16)

PEGR (P2) -19,8 -9,9 -17,7 -5,0 -28,4

2000-2010

EGR 40,1 52,3 24,6 38,2 39,7

PEGR (P0) 44,8 63,0 28,1 63,7 48,6

PEGR (P1) 13,0 36,2 -0,4 24,5 10,1

PEGR (P2) 5,8 28,5 -5,9 11,9 0,7

1991-2010

EGR 62,4 104,8 54,2 94,0 86,4

PEGR (P0) 44,8 97,2 48,4 98,2 64,6

PEGR (P1) -1,9 50,8 -7,5 46,8 -1,6

PEGR (P2) -27,7 28,1 -36,2 11,0 -50,0

Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.Linha de Pobreza de R$ 70,0 de julho de 2010. “*” indica não significância estatística para a diferença ente a EGR e a correspondente PEGR

É interessante notar que tal padrão de diferenciação entre os períodos 1991-2000 e 2000- 2010 também vigora para os estados da região Nordeste do país, foco deste trabalho. Nas tabelas 4, 5 e 6, a seguir, são apresentadas as taxas de crescimento dos referidos estados, juntamente com as Taxas de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR), das unidades federativas desta região, respectivamente, para os períodos 1991-2010, 1991-2000 e 2000-2010.

De acordo com os valores da tabela 4, entre 1991 e 2010, percebe-se que nenhum dos estados da região apresentou crescimento do tipo pró-pobre, independentemente da medida de extrema pobreza que se utilize. Na verdade, com taxas com Taxas de Crescimento da Pobreza Equivalente positivas, mas menores que aquelas efetivamente verificadas, os resultados para os estados são qualitativamente similares àquele já registrado para o Nordeste como um todo: todos os estados apresentam crescimento econômico do tipo não pró-pobre em todo o espaço de tempo desta análise.

Como verificado na tabela 3, também para os estados nordestinos, há forte contraste entre

os resultados obtidos para os períodos 1991-2000 e para o período 2000-2010. Para o primeiro

destes períodos, os valores da tabela 5 permitem perceber que apenas o estado da Bahia

apresentou crescimento pró-pobre, com uma Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente

(PEGR) 1,3 ponto percentual acima daquela efetivamente verificada, em torno de 32%. Ainda

assim, tal resultado não é robusto à utilização dos dois outros indicadores de extrema pobreza (P1

e P2). Para o indicador que captura a severidade da extrema pobreza (P2), por exemplo, entre

1991 e 2000 o estado da Bahia apresenta inclusive crescimento do tipo “empobrecedor”, assim

como outros seis estados da região. Na verdade, os estados de Alagoas, Maranhão e Sergipe são

os destaques negativos do período: tanto para o indicador P1 (intensidade da pobreza), como para

(17)

o indicador P2 (severidade da pobreza) os três estados apresentam crescimento do tipo

“empobrecedor”.

Finalmente, os valores da Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) estimadas para os estados nordestinos para o período 2000-2010 apresentados na tabela 6 mostram-se em perfeito acordo com os valores observados para a região Nordeste como um todo já apresentados na tabela 3: para todas as unidades federativas da região, o crescimento dos estados é do tipo pró-pobre quando a extrema pobreza é medida a partir da proporção de pobres (P0), mas configura-se como do tipo não pró-pobre quando os dois outros indicadores de pobreza (P1 e P2) são utilizados. Confirma-se, assim, para os estados do Nordeste, um resultado apontado acima: mesmo em um contexto de crescimento econômico significativo, há dificuldades de se beneficiar relativamente mais os mais extremamente pobres quando cotejados com os indivíduos não extremamente pobres ou mesmo com os menos extremamente pobres.

Tabela 4 – Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) e Crescimento (EGR) para os Estados do Nordeste (%) – 1991-2010 – Renda total

PEGR EGR

P0 P1 P2

MA 86,9 36,2 6,9 121,7

PI 130,7 78,5 60,2 141,5

CE 97,9 52,9 31,2 100,8

RN 117,0 69,0 46,7 118,4

PB 128,3 81,3 61,1 132,9

PE 78,0 36,0 12,9 84,0

AL 78,8 35,0 12,0 97,8

SE 86,3 44,8 18,0 103,5

BA 101,9 55,7 33,2 104,7

Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Linha de pobreza de R$ 70,0 (julho de 2010).

Tabela 5 – Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) e Crescimento(EGR) para os Estados do Nordeste (%) – 1991-2000 – Renda total

PEGR EGR

P0 P1 P2

MA 20,6 -0,4 -12,4 36,2

PI 42,4 17,7 5,4 48,2

CE 31,3 3,2 -13,5 36,8

RN 34,9 5,1 -13,8 42,6

PB 44,1 19,2 4,7 47,2

PE 24,1 0,2 -14,8 29,2

AL 6,4 -14,6 -29,8 28,0

SE 14,5 -3,7 -16,5 27,3

BA 34,0 8,8 -5,4 32,7

Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Linha de pobreza de R$ 70,0 (julho de 2010).

(18)

Tabela 6 – Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) e Crescimento (EGR) para os Estados do Nordeste (%) – 2000-2010 – Renda total

PEGR EGR

P0 P1 P2

MA 64,2 28,3 19,7 62,7

PI 70,5 37,5 30,5 63,0

CE 64,6 39,5 31,7 46,7

RN 74,5 49,3 40,7 54,9

PB 67,2 40,5 33,0 58,2

PE 63,2 31,0 23,8 42,5

AL 75,2 44,4 36,4 54,5

SE 70,6 41,8 31,7 59,9

BA 63,1 36,8 29,1 54,3

Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010.

Linha de pobreza de R$ 70,0 (julho de 2010).

5.2 Evidências para as mesorregiões nordestinas

No sentido de conhecer com maior especificidade espacial a natureza da relação entre crescimento econômico e os benefícios relativos dos indivíduos extremamente pobres, procura- se, nesta subseção, apontar diferenças intrarregionais a respeito do caráter pró-pobre ou não pró- pobre do crescimento econômico no Nordeste do Brasil entre 1991 e 2010. Para tal, são obtidas evidências a respeito da Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) referentes aos subperíodos 1991-2000 e 2000-2010 para as 42 mesorregiões do Nordeste.

De forma geral, a maior vantagem analítica de se considerar tal nível de desagregação decorre do fato de que, diferentemente dos municípios ou mesmo microrregiões, há, no caso das mesorregiões, muito maior probabilidade das informações domicílios coincidirem com aquela dos espaços geográficos das fontes de emprego dos indivíduos, ou seja, há muito maior chance, da renda dos domicílios de uma mesorregião coincidir com a renda do trabalho gerada na mesma mesorregião. Em adição, a divisão do espaço nordestino entre mesorregiões permite diferenciar espaços físicos da região a partir das mais importantes características geográficas gerais presentes no Nordeste.

Neste sentido, a partir da figura 1, a seguir, e dos nomes associados aos números da

referida figura, registrados na tabela 7, em seguida, é possível registrar a localização espacial de

cada uma das 42 mesorregiões do Nordeste do Brasil e verificar os níveis de extrema pobreza,

(19)

medida pela proporção de extremamente pobres

6

, de cada uma das mesorregiões nos anos de 1991, 2000 e 2010.

Da figura 1, note-se que as subdivisões são referenciadas em relação a longitudes (leste- oeste e, mais especificamente, a distâncias ao litoral) e latitudes (norte-sul, mais importantes para MA, BA, PI e CE). Os estados da Bahia (7), Ceará (7) e Pernambuco (5) apresentam os maiores números de mesorregiões e os estados de Sergipe (3) e Alagoas (3), os menores.

Figura 1- Mesorregiões do Nordeste do Brasil

De acordo com os valores para a renda

per capita das mesorregiões nordestinas

apresentados na tabela 7, em todos os três anos, cerca de 81% destas unidades apresentavam renda menor que a renda da região considerada como um todo, um fato que apenas revela o maior peso populacional das mesorregiões litorâneas de maior renda

per capita. Entre 1991 e 2010,

contudo, em média, o crescimento médio da renda das mesorregiões supera o crescimento obtido na região como um todo, o que sugere um movimento de convergência de renda. No ano mais recente, 2010, nota-se que as mesorregiões de maiores renda ainda situavam-se no litoral leste da região, com as três mesorregiões de mais alta renda que incluem as RMs de Recife, Salvador e Fortaleza, e áreas da Mata nordestina.

6 Por razões de espaço, não são apresentados os níveis de extrema pobreza das mesorregiões nordestinas nos referidos anos obtidos a partir dos indicadores P1 (intensidade da extrema pobreza) e P2 (severidade da extrema pobreza). Tais informações, contudo, podem ser disponibilizadas imediatamente pelo autor.

(20)

No que diz respeito aos níveis e à evolução da extrema pobreza, apreendida a partir da proporção de extremamente pobres, os números da tabela 7 indicam que, em todos os três anos, o percentual das mesorregiões com níveis mais elevados de extrema pobreza que aquele apresentado pela região como um todo e pelo país nunca é menor, respectivamente, que 66% e 95%. Ainda mais especificamente, em 1991, todas as mesorregiões do Nordeste apresentavam proporções de extremamente pobres acima daquela observada para o Brasil; já em 2000 e 2010, apenas duas não estavam nesta situação, respectivamente, os pares Metropolitana do Recife e Metropolitana de Fortaleza e Leste Potiguar e Metropolitana de Fortaleza. Perceba-se, por outro lado, que os maiores níveis de extrema pobreza, em todos os anos, são encontrados nas mesorregiões do sertão nordestino (Sertão Alagoano e Sertões Cearenses, por exemplo) e nas partes leste do Maranhão e sudoeste do Piauí. Ou seja, também aqui o menor nível de extrema pobreza da região Nordeste como um todo quando cotejado com o nível médio das mesorregiões decorre de situações menos precárias das regiões litorâneas mais populosas.

Em relação à dinâmica de redução da extrema pobreza, é possível perceber que, diferentemente do observado para o movimento da renda, o desempenho das mesorregiões (considerado em termos relativo), em média, se aproxima daquele observado para região Nordeste como um todo, o que sugere ausência de convergência entre as mesorregiões da região nordestina e, ao mesmo tempo, alguma dificuldade de maior redução da extrema pobreza a partir do crescimento de renda para as mesorregiões em situações mais precárias quanto à extrema pobreza.

Tabela 7 – Pobreza (proporção de pobres) e renda per capita(RD) (R$) das mesorregiões do Nordeste

1991 2000 2010

P0 RD P0 RD P0 RD

Norte Maranhense 1 0,3967 206 0,3351 283 0,2140 447 Oeste Maranhense 2 0,4333 157 0,3625 202 0,2221 315 Centro Maranhense 3 0,5016 117 0,4117 157 0,2765 269 Leste Maranhense 4 0,5172 113 0,4615 143 0,3037 240 Sul Maranhense 5 0,5475 121 0,3871 219 0,1984 388 Norte Piauiense 6 0,5390 120 0,4020 181 0,2368 297 Centro-Norte Piauiense 7 0,3842 228 0,2635 330 0,1473 530 Sudoeste Piauiense 8 0,5606 124 0,3828 185 0,2560 307 Sudeste Piauiense 9 0,5322 120 0,3977 181 0,2440 306 Noroeste Cearense 10 0,5273 119 0,4259 166 0,2534 272 Norte Cearense 11 0,4969 114 0,4208 155 0,2461 255 Metropolitana de Fortaleza 12 0,1889 383 0,1463 495 0,0779 675 Sertões Cearenses 13 0,5714 115 0,4233 166 0,2676 265 Jaguaribe 14 0,4265 142 0,3080 203 0,1744 311 Centro-Sul Cearense 15 0,5324 135 0,3806 184 0,2197 309

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