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Crescimento pró-pobre no Nordeste do Brasil a partir da renda do trabalho

6. Crescimento pró-pobre no Nordeste entre 1991 e 2010: evidências a partir da renda do trabalho

6.2 Crescimento pró-pobre no Nordeste do Brasil a partir da renda do trabalho

Mais dependente de outras fontes de renda para redução para redução da extrema pobreza, os valores das tabelas 9, 10, 11, a seguir, que apresentam as Taxas de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) e crescimento efetivamente verificado (EGR), respectivamente, para os períodos 1991-2010, 1991-2000 e 2000-2010, para a região Nordeste do Brasil e seus estados, de forma geral, indicam também maiores dificuldades do crescimento econômico no sentido de maior favorecimento aos mais pobres da região.

De fato, considerando-se todo o período 1991-2010, os valores da tabela 9 indicam que, a partir apenas a dinâmica da renda do trabalho per capita, a região Nordeste e seus estados apresentaram, sem exceção, ou crescimento do tipo não pró-pobre (para o indicador que mede a proporção de extremamente pobres, P0) ou do tipo “empobrecedor” (quando os indicadores P1 e P2 são considerados para medição da extrema pobreza). Note-se que embora os resultados quanto à natureza do crescimento para todo o período sejam qualitativamente os mesmos que àqueles obtidos para a renda total quando a proporção de extremamente pobres é utilizada, quando se faz uso dos indicadores que consideram a distância dos indivíduos em relação à linha de extrema pobreza (indicadores P1 e P2), a utilização da renda do trabalho ao invés da renda total implica dinâmica de renda muito mais desfavorável para a região e seus estados: todos passam a apresentar crescimento “empobrecedor”9

. Ou seja, há evidentes dificuldades no período com respeito à obtenção de maiores ganhos relativos de renda do trabalho para indivíduos situados nas piores colocações entre os extremamente pobres da região.

Tabela 9 – Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) e Crescimento (EGR) para os Estados do Nordeste (%) – 1991-2010 – Renda do trabalho

PEGR EGR

P0 P1 P2

MA 51,7 -38,6 -79,4 80,3

PI 64,3 -11,6 -51,2 100,6 CE 49,9 -13,7 -44,8 70,6 RN 62,5 -3,6 -33,3 88,4 PB 69,9 -0,1 -31,3 97,0 PE 34,7 -18,8 -40,1 53,2 AL 27,6 -30,9 -57,9 62,3 SE 36,9 -20,0 -47,1 70,8 BA 48,5 -13,5 -43,6 71,1 NE 45,4 -17,1 -46,7 71,4

Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Linha de pobreza de R$ 70,0 (julho de 2010).

Como já observado para a dinâmica de renda total, há, aqui também, importantes diferenças a destacar entre as naturezas do crescimento econômico e o ganhos relativos dos extremamente pobres nos períodos 1991-2000 e 2000-2010. Como se poder perceber a partir dos números da tabela 10, referentes ao período 1991-2000, além da dinâmica de renda com crescimento do tipo “empobrecedor” quando se considera os indicadores P1 (hiato de renda ) e P2 (hiato quadrático de renda), quatro estados da região (Maranhão, Pernambuco, Alagoas e Sergipe) também apresentam esta natureza do crescimento mesmo quando se utiliza a proporção de pobres (P0) e nenhum dos estados ou a região apresenta crescimento pró-pobre no período. Ou seja, o período não apenas apresenta dificuldades em termos de propiciar maiores ganhos relativos de renda para os mais pobres, como as possibilidades de obtenção destes ganhos a partir da renda do trabalho são ainda mais difíceis.

Tabela 10 – Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente (PEGR) e Crescimento (EGR) para os Estados do Nordeste (%) – 1991-2000 – Renda do trabalho

PEGR EGR P0 P1 P2 MA -3,4 -19,9 -27,3 21,2 PI 15,0 -7,1 -16,1 31,7 CE 5,3 -17,3 -27,0 22,5 RN 5,6 -16,7 -25,5 25,1 PB 17,3 -7,6 -16,4 30,7 PE -2,0 -20,2 -26,0 15,0 AL -9,8 -24,8 -29,7 13,2 SE -5,2 -17,8 -22,4 13,0 BA 9,8 -12,5 -21,3 19,4 NE 4,2 -15,9 -23,3 18,6

Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Linha de pobreza de R$ 70,0 (julho de 2010).

Os mapas da figura 5, a seguir, que apresenta a natureza do crescimento da renda do trabalho para as 42 mesorregiões do Nordeste do Brasil, indicam que tais padrões observados

para o período 1991-2000 são, além disto, generalizados no espaço físico nordestino. De fato , a partir do mapa 5a da referida figura, que evidencia a natureza do crescimento a partir da proporção de extremamente pobres, é possível notar que apenas uma única mesorregião, a do Sertão Paraibano, apresenta crescimento pró-pobre no período e que 14 destas mesorregiões apresentam crescimento do tipo “empobrecedor”, incluindo neste grupo todas as mesorregiões de Alagoas, três das cinco mesorregiões do Maranhão e a Metropolitana do Recife. Todas as demais 27 mesorregiões apresentam crescimento da renda do trabalho do tipo não pró-pobre para a proporção de pobres.

A situação é bastante pior quando os indicadores da Intensidade e da Severidade da extrema pobreza são utilizados, como mostram os mapas 5b e 5c. Na verdade, apenas duas exceções, as mesorregiões do Sul Baiano e Sudoeste Piauiense10, impedem a generalização irrestrita dos resultados da tabela 11 para estes indicadores. Mais especificamente, os referidos mapas permitem perceber que entre 1991 e 2000 apenas estas duas mesorregiões apresentam crescimento do tipo não pró-pobre, ainda assim apenas quando o indicador P1 é utilizado, e todas as demais apresentam crescimento do tipo “empobrecedor”.

5a-Proporção de extremamente pobres (P0) 5b-Intensidade da extrema pobreza (P1)

10

Note-se que as mesorregiões do Sertão Paraibano, do Sul Baiano e do Sudeste Piauiense estão entre as seis mesorregiões com crescimento pró-pobre observado para o indicador P0 utilizando-se a renda total.

5c-Severidade da Extrema pobreza (P2)

Pró-pobre Não pró-pobre Empobrecedor Figura 5 – Natureza do crescimento nas mesorregiões do Nordeste – 1991-2000 - Renda do Trabalho

Embora mais desfavorável no cotejo com a dinâmica da renda total observada anteriormente, a situação dos indivíduos mais pobres em termos de ganhos relativos derivados do crescimento da renda do trabalho na região Nordeste e em seus estados entre 2000 e 2010 é bem mais favorável que a do período anterior, como pode ser constatada a partir dos números da tabela 11, que reptem os indicadores das duas tabelas anteriores, agora para o período 2000-2010. Como se pode perceber a partir da segunda coluna da referida tabela, quando o indicador para medição da extrema pobreza é a proporção de extremamente pobres, os estados do Ceará, Pernambuco e Alagoas e a região como um todo apresentam Taxas de Crescimento da Pobreza Equivalente maiores que a taxa de crescimento da renda do trabalho per capita, ou seja, crescimento pró-pobre e nenhum dos estados apresenta crescimento tipo “empobrecedor”.

Mesmo para este período mais recente, contudo, nem a região, nem nenhum de seus estados apresentaram uma dinâmica da renda do trabalho do pró-pobre quando os indicadores da intensidade (P1) e da severidade (P2) da extrema pobreza são utilizados. Na verdade, para o primeiro destes indicadores, o estado do Maranhão apresentou crescimento “empobrecedor” e, para o segundo indicador, registra-se crescimento “empobrecedor” para os estados do Piauí, Alagoas, Sergipe, Bahia, o próprio Maranhão e para a região Nordeste como um todo.

(EGR) para os Estados do Nordeste (%) – 2000-2010 – Renda do trabalho PEGR EGR P0 P1 P2 MA 39,9 -2,2 -12,7 50,5 PI 48,5 1,3 -10,1 52,3 CE 56,9 10,9 1,8 39,3 RN 19,1 19,8 9,4 50,7 PB 52,0* 10,6 1,1 50,7 PE 50,7 9,5 1,9 33,2 AL 45,9 8,3 -0,8 43,4 SE 47,3 10,3 -0,2 51,1 BA 40,4 6,5 -2,0 43,3 NE 45,1 7,3 -1,6 44,5

Fonte: cálculos do autor a partir de informações dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010. Linha de pobreza de R$ 70,0 (julho de 2010). “* “ indica não significância estatística para a diferença entre a corresponde PEGR e a taxa de crescimento efetiva (EGR) a 5%.

Na figura 6, a seguir, são apresentados mapas que informam sobre a natureza do crescimento da renda do trabalho para as 42 mesorregiões do Nordeste no período 2000-2010, considerando-se as três medidas de extrema pobreza. As informações do mapa 6a, que considera a proporção de extremamente pobres como indicador de pobreza, indicam que 21 das 42 mesorregiões apresentaram crescimento pró-pobre (PEGR maior que EGR) e as demais 21 apresentaram no período crescimento não pró-pobre. Consistente com o que foi registrado para os estados, perto de metade destas mesorregiões com comportamento mais favorável situa-se nos estados do Ceará, Pernambuco e Alagoas e todas as mesorregiões litorâneas destes estados apresentam crescimento do tipo pró-pobre. Na verdade, do ponto de vista geográfico, além de ser verificado crescimento pró-pobre nas três mesorregiões correspondentes às três regiões metropolitanas do Nordeste (Fortaleza, Recife e Salvador), há uma nítida concentração das mesorregiões com este tipo de crescimento na parte nordeste da região, entre os estados de Alagoas e Ceará.

Diferentemente do período 1991-2000, entre 2000 e 2010, não há mesorregiões com crescimento “empobrecedor”, porém, em comparação com a natureza do crescimento registrado a partir da renda total vista anteriormente, o percentual de mesorregiões do Nordeste no período mais recente com crescimento pró-pobre diminui de 78,6% para 50%. Ou seja, mesmo no período de maior crescimento da renda, metade das mesorregiões não apresenta uma dinâmica de crescimento de renda do trabalho que garante relativos maiores para indivíduos na situação de extrema pobreza quando o indicador de extrema pobreza considerado é a proporção de extremamente pobres.

Os mapas 6b e 6c da figura 6, também permitem perceber que, quando os indicadores de extrema pobre que medem a intensidade da extrema pobreza (hiato de renda, P1) e a severidade da mesma (hiato quadrático de renda, P2), a qualidade do crescimento da renda do trabalho das mesorregiões do Nordeste entre 2000 e 2010, no que diz respeito aos impactos relativos na renda dos mais pobres e da redução da extrema pobreza, é significativamente inferior àquele observado para renda total (figuras 3 e 4). Na verdade, para tais indicadores de extrema pobreza, não apenas não há qualquer mesorregião com crescimento do tipo pró-pobre, como se registra crescimento do tipo “empobrecedor” para quatro mesorregiões (Norte Maranhense, Oeste Maranhense, centro Maranhense e Sudoeste Piauiense) com o indicador P1 (mapa 6b) e para 24 mesorregiões com indicador P2 (mapa 6c). Também aqui, quando se considera a renda do trabalho, o destaque negativo é o estado do Maranhão, onde, no mínimo, três de suas cinco mesorregiões, apresentam crescimento “empobrecedor” para qualquer dos dois indicadores de extrema pobreza.

Perceba-se que, por considerarem também os movimentos de renda dos indivíduos mais pobres entre os extremamente pobres em relação à linha de extrema pobreza, os resultados obtidos para os indicadores que medem a intensidade (P1) e a severidade (P2) da extrema pobreza a partir da renda do trabalho indicam que, apesar do significativo crescimento da renda entre 2000 e 2010 média do trabalho da região, tais indivíduos em situação mais precária foram relativamente menos beneficiados e, para algumas mesorregiões do Nordeste (aquelas com crescimento “empobrecedor”), não houve sequer melhoria na renda do trabalho destes indivíduos. Estas evidências confirmam a importância dos programas sociais de transferência de renda para elevação do bem-estar dos indivíduos em situações sociais mais precárias e ressaltam as dificuldades da inserção produtiva destes indivíduos mesmo em contextos de crescimento da renda e do emprego.

6a-Proporção de extremamente pobres (P0) 6b-Intensidade da extrema pobreza (P1)

6c-Severidade da Extrema pobreza (P2)

Pró-pobre Não pró-pobre Empobrecedor

Figura 6 – Natureza do crescimento nas mesorregiões do Nordeste – 2000-2010 - Renda do Trabalho

7. Conclusões

Frente a duas décadas recentes de desempenhos bastante distintos, seja no que tange à renda, seja no que diz respeito à redução da pobreza no Brasil, este trabalho procurou fornecer

um conjunto de evidências a respeito da qualidade o crescimento econômico, considerada a partir dos ganhos relativos de renda dos indivíduos mais pobres, na região mais pobre e com maior contingente de extremamente pobres do país, a região Nordeste. Ou seja, o trabalho reuniu um amplo conjunto de evidências a respeito do quão pró-pobre foi o crescimento econômico nesta região entre 1991 e 2010.

Na investigação, que parte de uma definição de crescimento pró-pobre baseada na noção de Taxa de Crescimento da Pobreza Equivalente devida a Kakwani et al. (2004), que concilia a redução da extrema pobreza medida por indicadores tradicionais com o maior crescimento relativo da renda dos indivíduos mais pobres, foi considerada tanto a dinâmica da renda total como a dinâmica da renda do trabalho. Além disto, diferenças espaciais internas foram evidenciadas ao se considerar resultados para os estados e para as 42 mesorregiões nordestinas.

Considerando o contexto nacional e suas macrorregiões, os resultados quanto à natureza pró-pobre ou não do crescimento econômico indicam que, no período 1991-2010, apenas a para a região Sul é registrado um crescimento do tipo pró-pobre (redução da pobreza com crescimento relativo maior da renda dos mais pobres), ainda assim, um resultado obtido apenas quando o indicador da proporção de pobres é utilizado na mensuração da extrema pobreza. Para o mesmo indicador, a região Nordeste e todas as demais apresentaram crescimento do tipo não pró-pobre. Para os indicadores que consideram a intensidade (hiato de renda) e a severidade (hiato quadrático de renda) da pobreza, contudo, as regiões Nordeste e Sul do país são as únicas que não apresentaram crescimento do tipo “empobrecedor” (situação em que a taxa de crescimento comum a todos os indivíduos e necessária para garantir mesma redução da extrema pobreza verificada é negativa), pois há elevação dos indicadores paras demais regiões do país.

Contudo, medida a extrema pobreza pela proporção de pobres, o Nordeste e todas as demais regiões do país apresentam crescimento pró-pobre no período 2000-2010, sendo a região Sul do país a única que apresenta este tipo de crescimento entre 1991 e 2000. Ou seja, de forma geral, o período 2000-2010 é bem mais favorável para o crescimento da renda dos indivíduos mais pobres que o período inicial. Ainda assim, em tal período mais favorável, nem para o Nordeste, nem para as demais regiões do país se observa crescimento pró-pobre quando os dois outros indicadores de extrema pobreza são utilizados (hiato e hiato quadrático de renda).

Os resultados obtidos para o período 1991-2010 considerando os estados e as mesorregiões do Nordeste, em geral, não diferem daquele observado para a região como um todo:

em nenhum estado ou mesorregião registra-se crescimento do tipo pró-pobre, qualquer que seja dos três indicadores de extrema pobreza utilizado. Assim, a região, todos os seus estados e maioria de suas mesorregiões, quando considerado todo o período 1991-2010, apresentaram crescimento dito não pró-pobre (ou seja, um crescimento uniforme da renda necessário para reduzir extrema pobreza positivo, porém menor que aquele efetivamente verificado) para todos os três indicadores tradicionais de pobreza na dimensão renda utilizados (proporção de pobres, hiato de renda e hiato quadrático de renda).

Há, todavia, diferenças significativas entre os períodos 1991-2000 e 2000-2010 para estados e mesorregiões do Nordeste, sendo as evidências para o primeiro período menos e para o segundo mais favoráveis aos indivíduos na extrema pobreza. Para o período 1991-2000, os resultados observados foram qualitativamente semelhantes àqueles observados para todo o período (crescimento do tipo não pró-pobre) apenas quando se considera o indicador proporção de extremamente pobres. Quando se considera os dois outros indicadores de extrema pobreza, registra-se crescimento “empobrecedor” em três estados (Maranhão, Alagoas e Sergipe) e 15 mesorregiões do Nordeste, quando se considera o hiato de renda, e em sete estados (Piauí e Paraíba são as exceções) e em 35 mesorregiões, quando se considera o hiato quadrático de renda.

Entre 2000 e 2010, não há registro de crescimento do tipo “empobrecedor” para nenhum dos estados ou mesorregiões do Nordeste, independentemente da medida de extrema pobreza utilizada. Na verdade, para o indicador proporção de extremamente pobres, todos os estados da região apresentam crescimento pró-pobre e apenas oito das 42 mesorregiões do Nordeste não apresentam tal comportamento (tem crescimento do tipo não pró-pobre). Mesmo para este período de maior crescimento da renda, quando são consideradas as duas outras medidas de extrema pobreza (hiato e hiato quadrático de renda), o crescimento não pode ser considerado pró-pobre em nenhum estados ou mesorregião do Nordeste. Neste ambiente, há um claro destaque negativo: o estado do Maranhão, que tem três de suas cinco mesorregiões com crescimento não pró-pobre, qualquer que seja a medida de extrema pobreza utilizada.

Finalmente, quando se considera a renda do trabalho, ao invés da renda de todas as fontes ou total, as estimativas indicam que também aqui nem a região Nordeste, nem nenhum de seus estados e apenas uma mesorregião (Sertão Paraibano) apresenta crescimento pró-pobre no período 1991-2010 ou no subperíodo 1991-2000. Na verdade, entre 1991 e 2010, todos os estados e a grande maioria das mesorregiões do Nordeste apresentaram crescimento

“empobrecedor” quando a extrema pobreza é medida a partir do hiato ou do hiato quadrático de renda, prevalecendo um tipo de crescimento do tipo não pró-pobre quando a proporção de extremamente pobres é utilizado como medida da extrema pobreza, ou seja, situação em que há redução da extrema pobreza sem crescimento relativo maior da renda dos extremamente pobres.

Mesmo quando se considera o período 2000-2010, quando apenas a renda do trabalho é utilizada, só metade das 42 mesorregiões do Nordeste apresenta crescimento pró-pobre para o indicador proporção de extremamente pobres e há, além disto, um claro padrão espacial no melhor desempenho da renda do trabalho dos mais pobres quando se considera a proporção na extrema pobreza: 18 das 21 mesorregiões com crescimento pró-pobre situam-se na parte nordeste da região (entre os estados de Alagoas e Ceará), incluindo as três regiões metropolitanas do Nordeste e estando neste grupo apenas uma mesorregião do Maranhão e uma do Piauí.. Por outro lado, nenhuma destas mesorregiões apresenta este tipo de crescimento quando se utiliza os outros dois indicadores de extrema pobreza, sendo, também aqui, o destaque negativo o estado do Maranhão: seja para o hiato ou para o hiato quadrático de renda, ao menos três de suas cinco mesorregiões apresenta um crescimento do tipo “empobrecedor”.

Este último resultado evidencia tanto as dificuldades de se obter crescimento econômico relativamente mais favorável aos mais pobres a partir da renda do trabalho no Nordeste como um todo, como, e ao mesmo tempo, a presença de diferenças espaciais marcantes no interior da região, com menores dificuldades para aqueles indivíduos situados nas regiões metropolitanas e nas mesorregiões situadas a nordeste da região. Neste sentido, todo o esforço de pesquisa deve voltar-se, agora, para entender as razões para estas diferenças intrarregionais e, de forma mais abrangente, para a identificação de características individuais e locais determinantes do padrão de evolução de renda das mesorregiões que apresentaram crescimento pró-pobre para a renda do trabalho.

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