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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO MÓDULO 1 CONSTRUINDO A PROFICIÊNCIA LEITORA

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COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO

MÓDULO 1

CONSTRUINDO A PROFICIÊNCIA

LEITORA

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Comunicação e Expressão – Módulo 1: Construindo a Proficiência Leitora

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Índice

1. Introdução...3

1.1 Concepções de Língua e Linguagem ...3

1.2 O Texto Escrito e o Texto Oral: Características ...4

1.3 As Condições de Produção do Texto ...6

1.4 As Concepções e Estratégias de Leitura ...8

1.5 A Intertextualidade – Um Diálogo entre Textos ... 10

1.6 As Informações Implícitas (Pressuposto e

Subentendido) ... 13

1.6.1 Pressupostos... 14

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1. INTRODUÇÃO

Língua Esta língua é como um elástico Que espicharam pelo mundo. No início era tensa, De tão clássica. Com o tempo, se foi amaciando, Foi-se tornando romântica, Incorporando os termos nativos E amolecendo nas folhas de bananeira As expressões mais sisudas. Um elástico que já não se pode Mais trocar, de tão gasto; Nem se arrebenta mais, de tão forte. Um elástico assim como é a vida Que nunca volta ao ponto de partida.

(Gilberto Mendonça Teles)

1.1 CONCEPÇÕES DE LÍNGUA E LINGUAGEM

A linguagem, em suas diversas manifestações, é fundamental para todo e qualquer ser. No início da humanidade, o homem necessitava expressar sensações e estabelecer as mais variadas relações. Uma dessas formas de expressão acontecia, assim como ainda acontece, por meio da linguagem.

Mas a linguagem não é única, alheia à realidade e ao mundo. Ela é influenciada pelos meios social e cultural e esses, por sua vez, também são influenciados por ela. Isso porque o homem é o principal agente que participa desse processo, criando recursos que auxiliam ou aperfeiçoam a produção da linguagem, com o objetivo de melhorar a comunicação, cujo maior recurso é a palavra.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, “não há linguagem no vazio, seu grande objetivo é a interação, a comunicação com um outro, dentro de um espaço social”.

O termo linguagem deve ser entendido como a faculdade mental que distingue os humanos de outras espécies animais e possibilita nossos modos específicos de pensamento, conhecimento e interação com os semelhantes. É a capacidade específica à espécie humana de se comunicar por meio de um sistema de signos (ou língua).

Para Saussure, o pai da Lingüística, a linguagem é composta de duas partes: a Língua, essencialmente social porque é convencionada por determinada comunidade lingüística; e a Fala, que é individual, ou seja, é veículo de transmissão da Língua, usada pelos falantes através da fonação e da articulação vocal. Saussure, no Curso de Lingüística Geral, define e diferencia a língua da fala afirmando que:

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Comunicação e Expressão

“A língua é o produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social, para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos. Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais exatamente, nos cérebros dum conjunto de indivíduos, pois a língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe.”

Em resumo, podemos dizer que:

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Linguagem: é uma faculdade mental que possibilita a interação entre os

seres humanos.

Língua: é um tipo de código formado por palavras e leis combinatórias por

meio do qual as pessoas se comunicam e interagem entre si.

Fala: é a atividade lingüística concreta. Inclui todas as variações que o

falante pode acrescentar às inúmeras estruturações lingüísticas já formuladas e aceitas socialmente. Representa sempre um ato individual.

Os usuários de uma língua exercitam sua capacidade de organizar e transmitir idéias, informações, opiniões em situações de interação comunicativa, utilizando o texto. Tradicionalmente, entende-se por texto um conjunto de enunciados interrelacionados formando um todo significativo, que depende da coerência conceitual, da coesão seqüencial entre seus constituintes e da adequação às circunstâncias e condições de uso da língua.

O conceito de texto, sob o ponto de vista das modernas teorias lingüísticas, pode ser entendido de maneira mais abrangente. Ao ampliar esta noção, duas esferas devem ser consideradas: a primeira mantém-se numa perspectiva ainda estritamente lingüística; a segunda estende-se para outras linguagens além da verbal. Daí podermos falar de texto verbal, texto visual, texto verbal e visual, texto musical, texto cinematográfico, texto pictórico, entre outros. Assim, podemos dizer que o ser humano dispõe de diferentes linguagens para se comunicar e interagir com o mundo e com as pessoas. No entanto, parece que a palavra tem sido o instrumento preferido para objetivar seu pensamento, interagir com o outro e se fazer compreender. É por essa razão que a seguir focalizaremos o texto escrito e o texto oral.

1.2 O TEXTO ESCRITO E O TEXTO ORAL: CARACTERÍSTICAS

O processo de comunicação pode realizar-se através da linguagem oral ou da escrita. Embora a língua seja a mesma, a expressão escrita difere muito da oral, sendo ponto pacífico, largamente comprovado, que ninguém fala como escreve, ou vice-versa.

Originalmente, só havia a língua falada; a escrita apareceu em estágios mais avançados da civilização, mas até hoje ainda existem línguas ágrafas, isto é, sem escrita. Entretanto, a escrita adquiriu, através do tempo, tão alto prestígio, a ponto de se esquecer que, anterior a ela, há uma

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linguagem oral que lhe serve de suporte. Na verdade, a escrita é apenas uma tentativa imperfeita de reprodução gráfica dos sons da língua. Algumas características da linguagem oral, tais como entonação, timbre, altura, ênfase, pausas, velocidade da enunciação e muitas outras são impossíveis de ser representadas graficamente. Essas características são precariamente reproduzidas pelos sinais de pontuação (exclamação, interrogação, reticências, hífen, parênteses, travessão etc.), pelo emprego de maiúsculas, de negrito, itálico ou de sublinhas. A língua falada pressupõe contato direto com o falante, o que a torna mais concreta; é mais espontânea, não apresentando grande preocupação gramatical do ponto de vista normativo. Seu vocabulário é mais restrito, mas está em constante renovação. Na linguagem familiar, em situações informais, as preocupações com a clareza e a correção vão-se tornando menos evidentes.

Na língua falada, além da restrição do vocabulário, não há grande preocupação com as regras gramaticais de concordância, regência e colocação, nem com a clareza das construções sintáticas.

A língua escrita mantém contato indireto entre quem escreve e quem lê, o que a torna mais abstrata; é mais refletida, exige grande esforço de elaboração e obediência às regras gramaticais. Seu vocabulário é mais apurado e é, por natureza, mais conservadora. A língua falada conta com recursos extralingüísticos, contextuais, tais como gestos, expressões faciais, postura, que muitas vezes completam ou esclarecem o sentido da comunicação. A presença do interlocutor permite que a língua falada seja mais alusiva, enquanto a escrita é menos econômica, mais precisa.

Do ponto de vista gramatical, as duas linguagens, escrita e falada, apresentam características específicas, cientificamente comprovadas. De maneira geral, as principais construções gramaticais são observadas no uso da língua escrita.

É interessante acrescentar aqui a visão de Denise Bértoli Braga. Em seu artigo - A constituição híbrida na internet: a linguagem nas salas de bate-papo e na construção dos hipertextos - a estudiosa diz que o contexto cibernético não só permite que a escrita ocupe espaços antes reservados para as interações orais, como também viabiliza a existência de um novo texto, o hipertexto, que é híbrido na construção dos fatos lingüísticos, ou seja, incorpora textos escritos e orais e diferentes recursos audiovisuais: fotografia , som e vídeo. Ainda, segundo a autora, a escrita passa a desenvolver características próprias, mas não houve, ao contrário do que propõem algumas teorias mais tradicionais, uma ruptura drástica entre as práticas orais e escritas. Ela diz também que as salas de bate-papo na internet introduzem a escrita em um novo espaço comunicativo até recentemente restrito à oralidade: conversa informal. Essa importação de gênero acarreta mudanças que, por um lado, aproximam a escrita da oralidade e, por outro lado, induzem novos recursos expressivos, adequados a essa nova situação de uso e aos recursos que o meio eletrônico oferece.

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LINGUAGEM ORAL LINGUAGEM ESCRITA

 Repetição de palavras.  Vocabulário rico e variado, emprego de sinônimos.  Emprego de gíria e neologismos.  Emprego de termos técnicos.  Maior uso de onomatopéias.  Vocábulos eruditos, substantivos

abstratos.

 Colocação pronominal livre.  Colocação pronominal de acordo com a gramática.

 Supressão dos relativos (“cujo”,

por exemplo).  Emprego de pronomes relativos.  Frases feitas, chavões.  Variedade na construção das

frases.  Anacolutos (rupturas de

construção).  Sintaxe bem elaborada.  Frases inacabadas.  Frases bem construídas.  Formas contraídas, omissão de

termos no interior das frases.

 Clareza na redação, sem omissões e ambigüidades.

Vale informar que, nos e-mails utilizados em correspondências empresariais ou para fins profissionais, deve-se respeitar a língua–padrão e evitar frases longas, palavras de baixo calão, abreviaturas (como as usadas em salas de batepapo, blogs etc.), letras maiúsculas como – ENTENDEU –, excesso de recursos - negrito, itálico e sublinhado - ao mesmo tempo.

1.3 AS CONDIÇÕES DE PRODUÇÃO DO TEXTO

Você já parou para pensar que em cada situação da vida cotidiana produzimos, quase que intuitivamente, textos diferentes para atender a diferentes finalidades?

Veja:

Podemos, por exemplo, escrever uma carta a um jornal se quisermos expressar nossa indignação ou admiração em relação a uma matéria que tenhamos lido. Para divulgar um serviço que prestamos podemos escrever um anúncio para uma revista, um folheto de propaganda para ser distribuído em diversos lugares. Se desejarmos uma vaga de emprego, devemos escrever um currículo para informar nossa experiência profissional e nossa formação. Se fizemos uma pesquisa e queremos divulgar os resultados dela, podemos escrever um artigo acadêmico-científico para uma revista especializada. Quando queremos saber notícias de uma pessoa querida que está distante, podemos escrever uma carta ou um e-mail.

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Isso significa que em várias circunstâncias da vida escrevemos textos para diferentes interlocutores, com distintas finalidades, organizados nos mais diversos gêneros, para circularem em espaços sociais vários. Por isso, a cada circunstância correspondem:

a) finalidades diferentes: manifestar nossa forma de pensar a respeito de determinada matéria lida; divulgar determinados serviços buscando seduzir possíveis clientes; convencer a respeito de determinadas interpretações de dados; obter notícias sobre um ente querido; informar sobre sua qualificação profissional; b) interlocutores diversos: leitores de um determinado veículo da

mídia impressa (jornal, revista); transeuntes de determinados locais (vias de circulação, rodoviária etc.); colegas de trabalho, leitores de determinada revista acadêmico-científica ou de determinado tipo de livro; um parente próximo ou um amigo; um possível contratante;

c) lugares de circulação determinados: mídia impressa; academia; família ou círculo de amizades; determinada empresa (esfera profissional); vias públicas de grande circulação de veículos e pessoas;

d) gêneros discursivos específicos: carta de leitores; anúncio; folheto de propaganda; outdoor; artigo acadêmico-científico; carta pessoal; currículo.

Quer dizer: escrever um texto é uma atividade que nunca é a mesma nas diferentes circunstâncias em que ocorre, porque cada escrita caracteriza-se por diferentes condições que determinam a produção dos discursos. Essas condições referem-se aos elementos apresentados acima. Mas não apenas a eles. Um aspecto a ser considerado ainda é o lugar social do qual se escreve.

Todos nós desempenhamos diferentes papéis na vida: o de mãe/pai, de filho/filha, de irmão/irmã, de associado de determinado clube, de consumidor de determinado produto, de cidadão brasileiro, o relativo à profissão que exercemos (professores, médicos, dentistas, vereadores, escritores, revisores, feirantes, digitadores, diretores de escola etc) entre outros. Cada um desses papéis estabelece entre nós e aqueles com quem nos relacionamos determinados vínculos, que implicam responsabilidades assumidas, pontos de vista a partir dos quais acontecimentos são analisados, recomendações são feitas, atitudes são tomadas...

Ainda que esses papéis se articulem todo o tempo, uma vez que são todos constitutivos do sujeito e que, dessa forma, influenciam-se mutuamente, quando assumimos a palavra para dizer alguma coisa a alguém, um desses papéis predomina, em função das demais características do contexto de produção (sobretudo do lugar de circulação do discurso e do interlocutor presumido).

Ser um escritor/leitor proficiente, portanto, significa saber lidar com todas as características do contexto de produção dos textos, de maneira a

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orientar a produção do seu discurso pelos parâmetros por elas estabelecido. Contexto é a situação histórico-social de um texto, envolvendo não somente as instituições humanas, como ainda outros textos que sejam produzidos em volta e com ele se relacionem. Pode-se dizer que o contexto é a moldura de um texto. O contexto envolve elementos tanto da realidade do autor quanto do leitor — e a análise destes elementos ajuda a produzir sentidos possíveis. Isto significa que todo discurso é uma construção social, não individual, e que só pode ser analisado considerando seu contexto histórico-social, suas condições de produção; significa ainda que o discurso reflete uma visão de mundo determinada, necessariamente, vinculada à do(s) seu(s) autor(es) e à sociedade em que vive(m).

1.4 AS CONCEPÇÕES E ESTRATÉGIAS DE LEITURA

Em relação à leitura, ter fluência e ser eficaz na construção de sentidos para os textos lidos significa, inicialmente, compreender que ler é uma prática social que acontece em diferentes espaços com características muito específicas: o tipo de conteúdo dos textos que nele circulam, as finalidades da leitura, os procedimentos mais comuns, decorrentes dessas finalidades, os gêneros dos textos.

Por exemplo, em uma sala de aula, a professora costuma ler histórias para que seus alunos aprendam a ouvir, para que aprendam a recontar etc. Não é apenas uma leitura de entretenimento, ela também tem um objetivo pedagógico. Nessa situação, a leitura costuma ser feita em voz alta, e pode ser interrompida pelas crianças ou pela própria professora de acordo com as necessidades da aula.

http://www.cm-evora.pt/mutic/Magazine.htm

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Sabemos que, nas últimas décadas, a demanda pela leitura e pelo domínio da linguagem escrita é uma questão mundial, que hoje exige o domínio da linguagem escrita como condição para a produção e acesso ao conhecimento, para ampliar a participação social e exercício efetivo da cidadania. Para responder a essa exigência a condição fundamental é ser um usuário competente da linguagem escrita, pois nas sociedades letradas, como a nossa, a apropriação do conhecimento e de meios de produção e de divulgação desse conhecimento está estreitamente ligada ao conhecimento da linguagem escrita, principalmente no que se refere à leitura, visto que ela é requerida para que se possa ter acesso a informações veiculadas das mais diversas maneiras: na Internet, na televisão, em outdoors espalhados pelas cidades, em cartazes afixados, sistematicamente, nos muros das ruas, nas mais diferentes placas informativas, folders, impressos de propaganda, distribuídos insistentemente aos transeuntes, e, até mesmo, em receitas médicas e bulas de remédios.

Usar a leitura de forma competente significa, também, compreender que ler é tanto uma experiência individual e única, quanto uma experiência

interpessoal e dialógica. É individual porque significa um processo pessoal

e particular de processamento dos sentidos do texto. Mas, também é interpessoal porque os sentidos não se encontram no texto, exclusivamente, ou no leitor, exclusivamente; ao contrário, os sentidos situam-se entre texto e leitor.

Esse conhecimento, tal como hoje compreendemos, refere-se a um grau ou tipo de letramento que inclui tanto o saber decifrar o escrito, quanto o ler/escrever com proficiência de leitor/escritor competente, quer dizer, saber utilizar estratégias e procedimentos que conferem maior fluência e eficácia ao processo de produção e atribuição de sentidos aos textos com os quais se interage. Dessa forma, a leitura é um processo complexo que envolve o controle planejado e deliberado de atividades que levam à compreensão. Entre essas atividades, destacam-se:

 definir o objetivo de uma determinada leitura (“Vou ler este texto para ver como se monta este brinquedo”, “Só quero ver a data da morte de Napoleão”. “Vou correr os olhos pelo sumário para ter uma idéia geral do livro”);

 ativar o conhecimento prévio que temos sobre todos os aspectos envolvidos na leitura para selecionar as informações que possam criar o contexto de produção de leitura, garantindo, assim, sua fluência. Refere-se a conhecimento sobre o assunto, sobre o gênero, sobre o portador onde foi publicado o texto (jornal, revista, livro, folder, panfleto, folheto etc.); sobre o autor do texto, sobre a época em que foi publicado, ou seja, sobre as condições de produção do texto a ser lido;

 antecipar informações que podem estar contidas no texto a ser lido;

 realizar inferências, quer dizer, lermos para além do que está nas palavras do texto, lermos o que as palavras nos sugerem;

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 conferir as inferências e antecipações realizadas ao longo do processamento do texto, de forma a podermos validá-las ou não;

 localizar informações presentes no texto; identificar os segmentos mais e menos importantes de um texto (“Aqui o autor está apenas dando mais um detalhe”. “Esta definição é importante”);

 distribuir a atenção de modo a se concentrar mais nos segmentos mais importantes (“Isto aqui é novo para mim e preciso ler com mais cuidado”. “Isto eu já conheço muito bem e posso ir apenas passando os olhos”). A importância de um segmento pode variar não só de um leitor para outro, mas até de uma leitura para outra;

 sintetizar as informações dos trechos do texto;

 estabelecer relações entre os diferentes segmentos do texto;  avaliar a qualidade da compreensão que está sendo obtida da

leitura (“Estou entendendo perfeitamente o que o autor está tentando dizer”. “Este trecho não está muito claro para mim”);  determinar se os objetivos de uma determinada leitura estão

sendo alcançados (“Estou lendo este capítulo para ter uma idéia geral do que é fenomenologia, mas ainda não consegui ter uma noção clara do assunto”);

 tomar as medidas corretivas quando falhas na compreensão são detectadas (“Vou ter que consultar o dicionário para entender esta palavra, já que o contexto não me bastou”. “Parece que vou ter que ler aquele outro artigo para poder entender este”);  corrigir o rumo da leitura nos momentos de distração,

divagações ou interrupções (“Estou tão distraído que passei os olhos por este parágrafo sem prestar atenção no que estava lendo; vou ter que relê-lo”);

 estabelecer relações entre tudo o que o texto nos diz e o que outros textos já nos disseram, e o que sabemos da vida, do mundo e das pessoas.

Ler, como se vê, é uma atividade complexa. A proficiência em leitura envolve o domínio dos aspectos discutidos acima.

1.5 A INTERTEXTUALIDADE – UM DIÁLOGO ENTRE TEXTOS

Observe os textos a seguir e perceba como todo texto é um texto já lido e nenhum nasce do nada. Os textos relacionam-se entre si e, assim, formam uma trama de infinitos discursos.

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“Minha terra tem palmeiras, Onde canta o sabiá” (Gonçalves Dias) “Eu quero ouvir na laranjeira, à tarde, Cantar o sabiá” (Casimiro de

Abreu)

“Minha terra tem palmares Onde gorjeia o mar” (Oswald de Andrade) “Minha terra não tem palmeiras...” (Mário Quintana)

“Um sabiá na palmeira, longe” (Carlos Drummond de Andrade) “Minha terra tem Palmeiras Corinthians e outros times” (Eduardo

Alves da Costa)

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Veja que os textos são semelhantes. Como o de Gonçalves Dias é anterior aos demais, o que ocorre é que esses fazem alusão àquele. Eles citam e/ou retomam aquele. Assim, um escritor, ao fazer uso da palavra, muitas vezes, recorre a textos alheios específicos para fundamentar sua fala, discordar da fala alheia, citar um conceito, aludir a um conhecimento coletivo ou ilustrar o que pretende dizer etc. Dessa maneira, estabelece-se um diálogo entre dois ou mais textos. A esse diálogo entre os textos dá-se o nome de intertextualidade.

A intertextualidade é mais um dos recursos de que se dispõe para compor significados ou para compreender textos que o utilizam também. Isso permite afirmar que nenhum texto se produz no vazio ou se origina do nada; pelo contrário, todo texto se alimenta, de modo claro ou subentendido, de outros textos. A intertextualidade é condição de produção de textos. Isso significa que um texto sempre toma posição em relação a outros textos.

A percepção das relações, das referências de um texto a outro, depende do repertório do leitor, do seu acervo de conhecimentos literários e de outras manifestações culturais. Daí a importância da leitura. Quanto mais se lê, mais se amplia a competência para apreender o diálogo que os textos travam entre si por meio de referências, citações e alusões. Diz-se que todo texto remete a outros no passado e aponta para outros no futuro. Quanto mais elementos reconhecermos em um texto, mais fácil será a leitura e mais enriquecida será a nossa interpretação, ou seja, a intertextualidade é um fenômeno cumulativo: quanto mais se lê mais se destacam vestígios de outros textos naquele que se está lendo.

Observe:

Disponível em http://www.fortunecity.com/campus/study/42/sosia.gif

Neste anúncio, dois textos se cruzam e se relacionam: 1. a foto mais famosa e irreverente do cientista Albert Einstein, fórmulas escritas a giz num fundo verde que simula uma lousa; 2. o garoto-propaganda em pose idêntica à do cientista, fórmulas ao fundo simulando a fórmula perfeita do produto anunciado, paródia de uma fórmula matemática em que se usam palavras

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em vez de números e letras. O anunciante pretende, com essa vinculação, induzir à leitura de que seu produto é o que tem a fórmula mais avançadas entre todos os similares. A compreensão desse significado somente é possível se o leitor conhecer o intertexto (ou seja, o texto que inspirou a produção do outro).

(TERRA, Ernani. 2001 p. 53) A presença de vestígios de outros assuntos dá sustentação à tese de que a intertextualidade constitutiva do texto é eminentemente interdisciplinar (o mesmo texto pode ser utilizado em diversas disciplinas com enfoques específicos a cada uma delas). O conjunto de relações com outros textos e com outros temas transforma o texto num objeto tão aberto quantas sejam as relações que o leitor venha a perceber.

1.6 AS INFORMAÇÕES IMPLÍCITAS (PRESSUPOSTO E SUBENTENDIDO)

Um dos aspectos mais intrigantes da leitura de um texto é a verificação de que ele pode dizer coisas que parece não estar dizendo; além das informações explicitamente enunciadas, existem aquelas outras que ficam subentendidas ou pressupostas.

Observe o quadrinho a seguir:

1. Qual é a informação óbvia contida no primeiro quadrinho?

O marido parar de beber. O verbo “parou” (explícito no enunciado de Helga) marca a informação implícita de que ele bebia antes.

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2. O que se pode concluir a respeito do marido de Irma a partir da leitura do segundo quadrinho?

Conclui-se que ele (o marido) parou de beber porque morreu. Informação implícita marcada na palavra “enterro”.

Podemos dizer que nesse texto há informações explícitas e implícitas. Logo, para realizar uma leitura eficiente, o leitor deve captar tanto os dados explícitos quanto os implícitos. Esses últimos são os pressupostos e os subentendidos.

1.6.1 Pressupostos

Os pressupostos são aquelas idéias não expressadas de modo explícito, mas que o leitor pode perceber a partir de certas palavras ou expressões contidas no enunciado. Da leitura do quadrinho acima, podemos depreender que a informação explícita pode ser questionada, pois a amiga da Helga poderia concordar ou não com ela. Entretanto, o pressuposto de que o marido da Irmã “bebia antes” é verdadeiro, pois está marcado no verbo “parou”.

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Pressuposto: circunstância ou fato considerado como antecedente necessário de outro. É um dado posto como indiscutível para o falante ou ouvinte, não é para ser contestado.

Logo, tem-se que o pressuposto tem de ser verdadeiro ou pelo menos admitido como tal, porque é a partir dele que se constroem as informações explícitas. Se o pressuposto é falso, a informação explícita não tem cabimento.

Os pressupostos são marcados, nos enunciados, por meio de vários indicadores lingüísticos, dentre eles podemos citar como exemplo:

 Certos advérbios como, por exemplo, ainda, já, agora. Exemplo: Os resultados da pesquisa ainda não chegaram. (Pressupõe-se que os resultados já deveriam ter chegado ou que os resultados vão chegar mais tarde)

 Verbos que indicam mudança ou permanência de estado, como ficar, começar a, passar a, deixar de, continuar, permanecer, tornar-se etc... Exemplo: Maria continua triste. (Pressupõe-se que Maria estava triste antes do momento da enunciação).

 Certos conectores circunstanciais, especialmente quando a oração por eles introduzida vem anteposta. Ex.: desde que, antes que, depois que, visto que etc.

Exemplo: Desde que Ricardo casou, não cumprimenta mais as amigas. (Pressupõe-se que Ricardo cumprimentava as amigas antes de se casar).

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1.6.2 Subentendidos Leia o quadrinho a seguir:

http://hq.cosmo.com.br/textos/quadrindex/qhagar.shtm

1. O que se pode concluir da fala de Helga no primeiro quadrinho? Um homem para ser “grande” precisa do apoio da mulher.

2. O que se subentende do diálogo das duas personagens no último quadrinho?

Hagar não é um grande homem.

Subentendidos são as insinuações escondidas por trás de uma afirmação. O subentendido difere do pressuposto num aspecto importante: ele é de responsabilidade do ouvinte, pois o falante, ao subentender, esconde-se por trás do sentido literal das palavras e pode dizer que não estava querendo dizer o que o ouvinte depreendeu. Logo, o subentendido, muitas vezes, serve para o falante se proteger diante de uma informação que quer transmitir para o ouvinte sem se comprometer com ela.

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 Implícito: é algo que está envolvido naquele contexto, mas não é revelado, é deixado subentendido, é apenas sugerido.

 Quando lidamos com uma informação que não foi dita, mas tudo que é dito nos leva a identificá-la, estamos diante de algo implícito.  A compreensão de implícitos é essencial para se garantir um bom

nível de leitura.

 • Há textos em que nem tudo o que importa para a interpretação está registrado.

 • O que não foi escrito deve ser levado em consideração para que se possa verdadeiramente interpretar um texto.

Portanto,

Para encerrarmos esta unidade dedicada à leitura, convém lermos o pensamento de uma autora dedicada aos estudos que dizem respeito ao desenvolvimento do processo de leitura, a Dra. Ângela Kleiman:

“A leitura tem sido chamada de atividade cognitiva por excelência pelo fato de envolver todos os nossos processos mentais. A compreensão de um texto (seja ele escrito ou falado) exige o envolvimento da atenção e a percepção, a memória, o pensamento. Esses processos mentais realizam, durante a leitura, operações necessárias para a compreensão da linguagem, tais como o raciocínio dedutivo (próprio da inferência, da leitura das entrelinhas) e o raciocínio indutivo (necessário para a predição baseada no conhecimento de mundo, de outros textos, do autor, das condições sociais em que se vive).”

Uma abordagem de leitura deve levar o leitor ao prazer da descoberta, a fim de ter efeito nos seguintes aspectos: 1) percepção de elementos lingüísticos significativos, com funções importantes no texto; 2) ativação do conhecimento anterior; 3) elaboração e verificação de hipóteses que permitam ao leitor perceber outros elementos, mais complexos. Todas essas etapas envolvem a adivinhação e a descoberta do sentido que o escritor tentou deixar no seu texto, elemento importante para o leitor chegar à construção do SEU sentido do texto.

Vale lembrar que o leitor proficiente é capaz de utilizar os três itens acima e que esse conhecimento é socialmente adquirido, portanto quem nunca participou da prática social da leitura de notícias e reportagens, em revistas semanais de informação, não partilhará desse conhecimento. Ou seja, um aluno que não dispõe de revistas e jornais na sua casa, e cuja única experiência com a leitura é a do livro didático, não integrará os diversos elementos num todo significativo de forma espontânea. Precisa ser orientado para fazê-lo.

Referências

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