E M E N T A
Órgão : 8ª TURMA CÍVEL
Classe : APELAÇÃO CÍVEL
N. Processo : 20160910188509APC
(0018445-14.2016.8.07.0009)
Apelante(s) : CONDOMINIO RESIDENCIAL VIA TROPICAL E OUTROS
Apelado(s) : OS MESMOS
Relatora : Desembargadora NÍDIA CORRÊA LIMA
Acórdão N. : 1170189
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO.
PRELIMINARES DE JULGAMENTO EXTRA PETITA E N U L ID AD E D A SENTEN ÇA R EJEI TADA S. MÉR I TO.
A C I D E N T E C O M C R I A N Ç A E M P L A Y G R O U N D D E CONDOMÍNIO EDILÍCIO. NEGLIGÊNCIA DO CONDOMÍNIO QUANTO À MANUTENÇÃO DO BRINQUEDO. DEFEITO VISÍVEL. DESCUIDO POR PARTE DOS RESPONSÁVEIS PELA CRIANÇA. CULPA CONCORRENTE. DANO MORAL CARACTERIZADO. FIXAÇÃO DE FORMA PROPORCIONAL.
QUANTUM INDENIZATÓRIO. MANUTENÇÃO. GRATUIDADE J U D I C I Á R I A . I M P U G N A Ç Ã O . I N E X I S T Ê N C I A D E CIRCUNSTÂNCIA SUPERVENIENTE APTA A ENSEJAR A R E V O G A Ç Ã O D O B E N E F Í C I O . H O N O R Á R I O S D E S U C U M B Ê N C I A . R E D U Ç Ã O . N Ã O C A B I M E N T O . 1. Verificado que o d. Magistrado sentenciante, ao examinar a lide, ateve-se aos fatos alegados pelo autor e aos fundamentos de defesa apresentados pelo réu, não há como ser reconhecido o julgamento extra petita.
2. A queda de criança de brinquedo instalado em playground de condomínio edilício, causando a fratura de membro superior, configura hipótese apta a caracterizar danos de ordem moral.
3. Mostra-se correto o reconhecimento da culpa concorrente entre o condomínio e os responsáveis pelo menor, quando
constatado que o brinquedo utilizado pela criança se encontrava visivelmente danificado no momento do acidente.
4. Para a fixação do quantum debeatur a título de indenização por danos morais, cabe ao magistrado levar em consideração a capacidade as condições pessoais das partes litigantes, a extensão do dano experimentado, bem como o grau de culpa do réu para a ocorrência do evento, não havendo justificativa para a redução do valor arbitrado, quando não observados os princípios da proporcionalidade e razoabilidade.
5. Não se mostra cabível a redução do valor dos honorários de sucumbência, nos casos em que foram devidamente sopesados os parâmetros fixados no § 2º do artigo 85 do Código de Processo Civil.
6. Deixando o réu de demonstrar a alteração das circunstâncias fáticas que deram ensejo ao deferimento da gratuidade de justiça em favor do autor, não há razão para que o benefício seja revogado em grau de recurso de apelação.
7. Apelações Cíveis conhecidas. Preliminares rejeitadas. No mérito, recursos não providos.
A C Ó R D Ã O
Acordam os Senhores Desembargadores da 8ª TURMA CÍVEL do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, NÍDIA CORRÊA LIMA - Relatora, ANA CANTARINO - 1º Vogal, DIAULAS COSTA RIBEIRO - 2º Vogal, sob a presidência do Senhor Desembargador DIAULAS COSTA RIBEIRO, em proferir a seguinte decisão: APELAÇÕES CÍVEIS CONHECIDAS. PRELIMINARES REJEITADAS. NO MÉRITO, RECURSOS NÃO PROVIDOS. UNÂNIME., de acordo com a ata do julgamento e notas taquigráficas.
Brasilia(DF), 9 de Maio de 2019.
Documento Assinado Eletronicamente NÍDIA CORRÊA LIMA
Relatora
Matheus Augusto Franco ajuizou o presente feito de conhecimento em desfavor de Condomínio Residencial Via Tropical.
Narra o autor que em 25/09/2015 foi vítima de acidente ocorrido no parque recreativo para crianças, localizado no condomínio requerido, sofrendo fratura do cotovelo direito, devido à queda provocada por um brinquedo defeituoso.
Informa que o brinquedo não estava em bom estado de conservação, apresentando assoalho quebrado, partes cortantes e redes rasgadas.
Relata, ainda, que no momento do acidente, estava sob a supervisão de um adulto.
Assevera que, em virtude dos fatos, necessitou submeter-se a tratamento médico-cirúrgico, o qual lhe acarretou abalo psicológico, bem como à sua família.
Aduz que não recebeu qualquer auxílio por parte do condomínio requerido.
Por fim, sustenta que a lesão e os danos por si suportados foram ocasionados por negligência do réu, em tomar as medidas necessárias à segurança das crianças que freqüentavam o aludido espaço.
Diante do exposto, requer a condenação do requerido ao pagamento de indenização por danos morais relativos ao sofrimento suportado com o evento danoso e circunstâncias posteriores, à ordem de R$ 1000.000,00 (cem mil reais).
Os documentos de folhas 11/142 instruíram a petição inicial.
Deferiu-se a gratuidade judiciária à parte autora (fl. 161/162).
R E L A T Ó R I O
Cuida-se de Apelações Cíveis interpostas por MATHEUS AUGUSTO FRANCO,representado por ADILSON CERQUEIRA FRANCO,e por CONDOMÍNIO RESIDENCIAL VIA TROPICAL, em face da r. sentença de fls.
301/304, cujo relatório transcrevo, in verbis:
Devidamente citada (fl. 163-v), a parte ré apresentou a contestação de fls. 211/215, acompanhada dos documentos de fls. 216/279.
Em sua defesa, o requerido sustenta que não houve negligência de sua parte, tampouco defeito no brinquedo alocado na brinquedoteca. Salienta, ademais, que a responsabilidade pelo ocorrido seria da pessoa incumbida para acompanhar o menor no recinto, uma vez que o espaço em questão somente poderia ser utilizado por crianças na presença de um responsável.
Alega a existência de sinalização no espaço com a indicação da necessidade de acompanhamento das crianças por um responsável, estando tal regra incluída também no regimento interno do condomínio.
Continua com a sua tese defensiva, alegando que não há evidência de culpa de sua parte, pelo que não se cogita da existência do dever de indenizar os danos que o autor alega ter sofrido.
Por derradeiro, impugna os documentos juntados pelo requerente e requer seja o pedido julgado improcedente.
Colaciona os documentos de fls. 216/279.
A réplica à contestação foi juntada às fls. 282/286, oportunidade em que o autor protestou pelo julgamento antecipado da lide.
Instado a especificar provas, o requerido quedou-se inerte (fl.
289)
Parecer ministerial às fls. 290 e 296/297.
Acrescento que o d. Magistrado sentenciante julgou parcialmente procedente o pedido inicial, para condenar o condomínio réu ao pagamento de indenização por danos morais, no importe de R$ 4.000,00 (quatro mil reais).
Em virtude da sucumbência recíproca, as partes foram condenadas ao pagamento de 50% (cinquenta por cento) das custas e dos honorários advocatícios, estes fixados em 20% (vinte por cento) do valor atualizado da
condenação.
Irresignadas, as partes recorreram.
O autor interpôs recurso de apelação às fls.306/308, arguindo preliminar de julgamento extra petita, ao pautar a análise da causa na tese de que a conduta dos pais da criança teria contribuído para o evento danoso, sem observar que estes não são parte no processo.
Quanto ao mérito, o autor/apelante afirmou que o entendimento firmado pelo d. Magistrado sentenciante se mostra contrário às provas dos autos. Ao final, postulou a reforma da r. sentença, para que a indenização por danos morais seja fixada no patamar de R$ 100.000,00 por danos morais.
Sem preparo, tendo em vista que o autor é beneficiário da gratuidade judiciária.
Por sua vez, o condomínio réu, no recurso de apelação interposto às fls. 320/329, arguiu preliminar de nulidade da r. sentença, por ausência de fundamentação. Quanto ao mérito, sustentou que o autor não conseguiu demonstrar o fato constitutivo do seu direito, eis que não há nos autos prova de que o brinquedo estivesse danificado. Destacou que, no livro de ocorrências do condomínio, não há informações sobre o registro do acidente, nem o pedido de filmagens.
O réu/apelante asseverou que, não estando demonstrado o nexo de causalidade entre a conduta que lhe foi imputada e os supostos danos suportados pelo autor, dever ser afastada a sua condenação ao pagamento de indenização por danos morais. Ao final, impugnou a gratuidade de justiça deferida em favor do autor e postulou a reforma da r. sentença, para que seja julgado improcedente o pedido inicial. Sucessivamente, pugnou pela redução do quantum indenizatório e dos honorários de sucumbência.
Preparo regular (fls. 330/331).
Contrarrazões ofertadas pelo réu às fls. 334/336 e pelo autor às fls.
339/345.
A d. Procuradoria de Justiça ofertou parecer às fls. 352/355-v, oficiando pelo não provimento dos recursos.
É o relatório.
Trata-se de Apelações Cíveis interpostas por MATHEUS AUGUSTO FRANCO,representado por ADILSON CERQUEIRA FRANCO,e por CONDOMÍNIO RESIDENCIAL VIA TROPICAL, em face da r. sentença de fls. 301/304.
Consoante relatado, MATHEUS AUGUSTO FRANCO ajuizou Ação de Indenização em desfavor de CONDOMÍNIO RESIDENCIAL VIA TROPICAL, alegando que, em 25/09/2015, quando brincava no parquinho infantil do condomínio sofreu fratura do cotovelo direito, devido à queda provocada por um brinquedo defeituoso. Asseverou que em razão do acidente necessitou submeter-se a tratamento médico-cirúrgico e que não recebeu qualquer auxílio por parte do condomínio réu. Ao final, pleiteou a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 100.000,00 (cem mil reais).
Acrescento que o d. Magistrado sentenciante julgou parcialmente procedente o pedido deduzido na inicial, nos seguintes termos, in verbis:
Ante o exposto, acolho o parecer ministerial e julgo parcialmente procedente o pedido para condenar a parte ré a indenizar o autor pelos danos morais sofridos, à ordem de R$
4.000,00 (quatro mil reais), corrigidos monetariamente pelo INPC, com incidência de juros de mora de 1% a.m. a contar da data de prolação desta sentença.
Diante da sucumbência recíproca, nos termos do art. 86 do CPC, condeno a parte autora e a parte ré ao pagamento das c u s t a s e d e s p e s a s d o p r o c e s s o , s e n d o 5 0 % d a r e s p o n s a b i l i d a d e p a r a c a d a p a r t e .
Nos termos do art. 85, §§2º e 6º, CPC, condeno a parte autora e a parte ré, respectivamente, ao pagamento de honorários advocatícios, que fixo em 20% do valor atualizado da condenação, para cada um dos patronos da parte adversa (20% aos patronos da parte autora e 20% aos patronos da parte ré), tendo em vista o grau de zelo, a complexidade da
V O T O S
A Senhora Desembargadora NÍDIA CORRÊA LIMA - Relatora
Conheço dos recursos, porquanto atendidos os pressupostos de admissibilidade.
causa, o trabalho desenvolvido e o tempo necessário a tanto.
Para a parte autora, a condenação aos ônus da sucumbência fica suspensa pelo prazo de 5 (cinco) anos, nos termos do art.
98, §3º, do CPC, diante da gratuidade judiciária deferida nos autos.
Declaro o feito extinto com resolução de mérito nos termos do art. 487, inc. I, do CPC.
Em suas razões de apelo (fls.306/308), o autor arguiu preliminar de julgamento extra petita e, quanto ao mérito, o autor/apelante afirmou que o entendimento firmado pelo d. Magistrado sentenciante se mostra contrário às provas dos autos e pugnou que a majoração da indenização por danos morais seja fixada no patamar de R$ 100.000,00 por danos morais.
O condomínio réu interpôs recurso de apelação, arguindo preliminar de nulidade da r. sentença, por ausência de fundamentação. No mérito, asseverou que o brinquedo estava em bom estado de conservação e que a responsabilidade pelo acidente é dos pais do menor ou da pessoa por eles incumbida de acompanhar a criança. Sustentou, assim, a inexistência de fundamento para que seja condenado ao pagamento da indenização por danos morais vindicada na inicial. Postulou, ainda, a reforma da r. sentença quanto ao deferimento da gratuidade de justiça em favor do autor.
Em caráter subsidiário, o réu pleiteou a redução do quantum indenizatório e dos honorários de sucumbência.
É a suma dos fatos.
DA PRELIMINAR DE JULGAMENTO EXTRA PETITA:
O autor arguiu a nulidade da r. sentença, ante o julgamento extra petita, eis que baseado na tese de que a conduta de seus pais teria contribuído para o evento danoso. Destacou que seus pais não integram a lide, razão pela qual não poderia sofrer reflexo da sentença, sob pena de violação dos princípios do contraditório e da ampla defesa.
Nos termos do artigo 141 do Código de Processo Civil, "O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte".
Ademais, o artigo 492 do mesmo diploma legal estabelece que "É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em quantidade superior ou em objeto diverso do que lhe foi demandado".
Neste sentido:
PROCESSO CIVIL. DESPEJO. JULGAMENTO ULTRA PETITA. ADEQUAÇÃO DA CONDENAÇÃO AOS LIMITES DO PEDIDO. DECOTE DO EXCESSO. 1. O decisum configura corolário da exordial; a correlação entre pedido e sentença é medida que se impõe, mostrando-se vedado ao julgador decidir aquém (citra ou infra petita), fora (extra petita), ou além (ultra petita) do requerido na inicial. Eis o porquê de a decisão vincular-se à causa de pedir e ao pedido. 2. No caso vertente, constatou-se julgamento ultra petita, na medida em que se condenou a locatária a pagar por aluguéis não cobrados pela locadora. Nessas condições, necessário o decote do excesso na r. sentença. 3. Apelo provido, a fim de decotar da r. sentença o seguinte trecho:
CONDENO, ainda, a Ré ao pagamento dos aluguéis (R$220,00 mensais) vencidos até a desocupação do imóvel e atualizados até a data do efetivo pagamento, acrescidos de juros legais de 1% (um por cento) ao mês e correção monetária (INPC) a partir dos respectivos vencimentos; dos honorários advocatícios à razão de 10% (dez por cento) sobre o valor da causa, nos exatos termos do contrato de fl. 11. (Acórdão n.344558, 20080310101504APC, Relator: FLAVIO ROSTIROLA 1ª Turma Cível, Data de Julgamento: 05/02/2009, Publicado no DJE:
09/03/2009. Pág.: 42) - grifo nosso.
Tem-se por configurada sentença extra petita quando o juiz conceder algo diverso do pedido formulado na inicial, quando o magistrado se utilizar de fundamento de causa de pedir não alegada pelas partes, ou quando a sentença
atingir terceiro estranho à relação jurídica processual instaurada, deixando de decidir em relação a quem dela participou.
Assim, à exceção das matérias de ordem pública, o magistrado deve restringir a atividade jurisdicional aos limites dos pedidos formulados pelo autor na inicial, sob pena de nulidade, que pode ser reconhecida a qualquer tempo, inclusive de ofício.
No caso dos autos, o r. decisum monocrático mostra-se consentâneo com o pedido e a causa de pedir deduzidos na inicial, tendo se limitado a reconhecer que houve culpa concorrente do autor ou de seu responsável, porquanto, sendo visível o mal estado de conservação do brinquedo, a pessoa por ela responsável poderia ter agido a fim de evitar o acidente.
O fato de o d. Magistrado sentenciante haver reconhecido que a omissão por parte dos responsáveis pelo autor teria contribuído para que o acidente ocorresse, não representa afronta aos limites objetivos ou subjetivos da lide.
Com efeito, o condomínio apresentou defesa na qual sustentou que não cometeu ato ilícito e que, conforme o regimento interno do condomínio, "a responsabilidade pela guarda e cuidado das crianças que utilizam a sala dos brinquedos é dois pais ou de quem estes lhes guardar confiança".
Cumpre ressaltar que não foi imposta aos genitores do autor qualquer condenação, mas apenas foi reconhecido a concorrência de culpas, a justificar a fixação da indenização por danos morais de forma proporcional.
Pelo exposto, rejeito a preliminar de julgamento extra petita.
DA PRELIMINAR DE NULIDADE DA SENTENÇA
A ré apelante sustentou que a r. sentença padece de nulidade, em virtude da falta de fundamentação. Ressaltou que o d. Magistrado sentenciante teria considerado incontroverso o modo como ocorreu o acidente, ou seja, a queda da criança do brinquedo, apesar de ter sido negada nos autos a existência do defeito.
No entanto, observa-se que a r. sentença expôs de forma clara e fundamentada as razões que embasaram o julgamento de procedência do pedido inicial, mencionando, inclusive, as disposições normativas que, no entender do d.
Magistrado sentenciante, assegurariam o direito do autor, de modo que não se encontra caracterizada qualquer afronta às disposições contidas no artigo 489, § 1º, do Código de Processo Civil.
Assim, a preliminar arguida pelo condomínio/apelante deve ser afastada, uma vez que a r. sentença recorrida apresenta fundamentação suficiente e idônea.
Eventual discordância acerca do conteúdo da fundamentação é matéria atinente ao mérito da demanda e com ele deve ser examinado.
Pelo exposto, rejeito a preliminar de nulidade da sentença.
DO MÉRITO:
Quanto ao mérito, o autor sustentou que o acidente ocorreu por culpa exclusiva do condomínio réu.
O réu, por sua vez, afirma que os genitores do autor ou a pessoa por eles incumbida de acompanhar o menor, deixou de tomar os cuidados necessários, circunstância que foi determinante para que o acidente ocorresse.
É incontroverso nos autos o fato de que, em 25 de setembro de 2015, quando brincava no playground do condomínio, o autor, então com 4 (quatro) anos de idade, teria fraturado o cotovelo direito, devido a queda em um brinquedo defeituoso.
Ademais, ficou demonstrado que, em razão do acidente, o autor precisou se submeter a tratamento médico cirúrgico, sessões de fisioterapia, colocação de gesso.
De igual modo, o acervo probatório constante dos autos demonstra que o brinquedo no qual o autor se acidentou, e que compunha o acervo da brinquedoteca do condomínio réu, estava danificado, com assoalho quebrado, com partes cortantes e redes rasgadas, consoante comprovam as fotografias acostadas às fls. 141/142.
Além disso, a cópia do informativo encaminhado pela administração do condomínio/apelante aos condôminos (fls. 20) demonstra que o condomínio tomou conhecimento do acidente e não deixa dúvida de que o brinquedo estava danificado.
No mesmo sentido, o e-mail da administração do condomínio aos condôminos comprova que o brinquedo defeituoso foi retirado do local logo após a ocorrência do acidente (fl. 21).
Assim, ficou devidamente comprovado que o autor caiu do brinquedo que estava com a rede de proteção rasgada e resultando na quebra do braço direito e que o brinquedo foi retirado do parquinho exatamente em virtude do defeito apresentado.
Destarte, evidente a responsabilidade do condomínio réu/apelante pelo acidente, em decorrência da falta do dever de cuidado com a segurança das crianças que freqüentam o parquinho que lhes foi destinado para o lazer, porquanto não procedeu a manutenção adequada.
De acordo com o artigo 927 do Código Civil, Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo".
Por outro lado, não se pode ignorar a culpa concorrente da vítima ( in casu, de seus responsáveis legais) para a ocorrência do evento danoso, visto que, como o próprio autor alega na inicial, o brinquedo estava visivelmente danificado,
"com assoalho quebrado, com partes cortantes e redes rasgadas".
Dessa forma, em virtude da configuração da concorrência de culpas, correta se mostra a fixação de indenização por danos morais, de forma proporcional à contribuição para o evento danoso.
O autor pleiteou a majoração da indenização para R$ 100.000,00 (cem mil reais) e o condomínio réu postulou a redução da verba indenizatória.
O d. Magistrado sentenciante fixou a indenização por danos morais no importe de R$ 4.000,00 (quatro mil reais).
A indenização por danos morais tem por finalidade compensar a parte ofendida pelos constrangimentos, aborrecimentos e humilhações experimentados, bem como advertir a parte ofensora, além de prevenir e desestimular a reincidência na prática de condutas ilícitas semelhantes.
Neste aspecto, a indenização deve ser fixada mediante prudente arbítrio, levando-se em consideração o grau de culpa para a ocorrência do evento, a extensão do dano experimentado e as condições pessoais das partes envolvidas.
Ademais, deve ser levado em consideração a concorrência de culpa entre o condomínio réu e os responsáveis pelo autor, o que ensejou a fixação da verba indenizatória de forma proporcional.
Assim, atenta às peculiaridades do caso concreto, especialmente quanto à repercussão dos fatos e a natureza do direito subjetivo fundamental violado, tenho que o quantum indenizatório deve ser mantido.
O condomínio réu pugnou pela revogação da gratuidade judiciária deferida ao autor, sob alegação de que não teria sido comprovada a hipossuficiência financeira alegada.
De acordo com o artigo 100 do Código de Processo Civil, concedida a gratuidade de justiça, a parte contrária poderá requerer a revogação da benesse como preliminar na contestação, na réplica ou nas contrarrazões de recurso. Se o pedido for superveniente ou formulado por terceiro, deverá ser impugnado por meio de petição simples, a ser apresentada no prazo de 15 (quinze) dias, nos autos do próprio processo, sem suspensão de seu curso.
No caso, a gratuidade de justiça foi concedida por decisão interlocutória à fl. 161, de modo que, se o condomínio desejasse apresentar
impugnação à concessão do benefício deveria tê-lo feito mediante preliminar de contestação, não havendo razão para que a impugnação ofertada apenas por ocasião da interposição do recurso de apelação, exceto se estiver fundamentada em fatos supervenientes.
No caso em apreço, nada obstante o condomínio autor sustente que o autor possui condições de arcar com as despesas do processo, não trouxe aos autos quaisquer elementos de prova de que houve alteração da circunstância fática desde a concessão da gratuidade de justiça.
Assim, não merece prosperar o recurso de apelação quanto a este ponto.
Por fim, o condomínio réu pleiteou a redução dos honorários de sucumbência, fixados na r. sentença em 20% (vinte por cento) sobre o valor da condenação.
De igual modo, tenho que o recurso de apelação não merece acolhimento.
Com efeito, tratando-se de sentença condenatória, deve ser observada a regra inserta no § 2º do artigo 85 do Código de Processo Civil, que assim estabelece:
§ 2º. Os honorários serão fixados entre o mínimo de dez e o máximo de vinte por cento sobre o valor da condenação, do proveito econômico obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa, atendidos:
I - o grau de zelo do profissional;
II - o lugar de prestação do serviço;
III - a natureza e a importância da causa;
IV - o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço.
No caso em apreço, muito embora a demanda não tenha apresentado grande complexidade, a indenização fixada não apresenta valor elevado, de modo que a fixação da verba honorária no patamar de 10% (dez por
cento) do valor da condenação, na forma requerida pelo condomínio réu, conduziria ao importe de R$ 400,00 (quatrocentos reais), a ser dividido em igual proporção entre os advogados das partes litigantes.
Assim, considero adequado o valor fixado pelo d. Magistrado sentenciante a título de honorários advocatícios, não havendo razão para a redução pretendida pelo condomínio réu.
Pelas razões expostas, REJEITO AS PRELIMINARES E NEGO PROVIMENTO AOS RECURSOS DE APELAÇÃO, mantendo íntegra a r. sentença.
Com fundamento no artigo 85, § 11, do Código de Processo Civil, majoro os honorários de sucumbência, fixando-os em 11% (onze por cento) do valor da condenação, observadas a proporção fixada na r. sentença e a suspensão da exigibilidade da aludida verba em relação ao autor, por ser beneficiário da justiça gratuita.
É como voto.
A Senhora Desembargadora ANA CANTARINO - Vogal Com o relator
O Senhor Desembargador DIAULAS COSTA RIBEIRO - Vogal Com o relator
D E C I S Ã O
A P E L A Ç Õ E S C Í V E I S C O N H E C I D A S . P R E L I M I N A R E S REJEITADAS. NO MÉRITO, RECURSOS NÃO PROVIDOS. UNÂNIME.