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Relações Públicas e Comunicação Interna: uma Abordagem a Luz da Ética 1

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1 Relações Públicas e Comunicação Interna: uma Abordagem a Luz da Ética1

Victor Silva THEODORO2 Marcela Guimarães e SILVA3

Universidade Federal do Pampa, São Borja, RS RESUMO

A partir da fundamentação teórica acerca do conceito-chaves como das Relações Públicas e público interno, este artigo tem como objetivo compreender como se articula a relação entre o trabalho do profissional de Relações Públicas e a ética do mesmo, na proposição de estratégias de relacionamento com o público interno, no campo da comunicação organizacional. Para tanto, são apresentados os quatro modelos de relações públicas, propostos por James Grunig, e sua teoria da excelência para abordar a questão da atuação profissional, bem como através da Teoria do Agir Comunicacional de Jürgen Habermas e do conceito de "pragmatismo universal". Com isso, se observa que o relações públicas deve considerar e analisar o contexto em que atua para pensar e agir no âmbito da comunicação interna e na consolidação de relacionamento duradouros.

PALAVRAS-CHAVE: Comunicação Organizacional; Público Interno; Relacionamento.

1. INTRODUÇÃO

Os alicerces dos paradigmas sistêmicos das Relações Públicas foram criados por James Grunig, em meados de 1986. A ideia de que o profissional de Relações Públicas deve atuar de forma excelente, ou seja, visar à efetivação dos objetivos da organização e seus diversos públicos se torna mais perceptíveis com o passar dos anos, pois os públicos estão mais críticos.

Para que o mesmo atue de forma ética, deve estar inserido no alto escalão da organização (Grunig, 2009), corroborando na escolha das ações e estratégias. A busca pela

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Trabalho apresentado no Grupo de Trabalho Estudos em Comunicação Institucional e Organizacional do V SIPECOM - Seminário Internacional de Pesquisa em Comunicação

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Estudante de Graduação do 5° semestre de Relações Públicas - ênfase em Produção Cultural da Universidade Federal do Pampa, email: victortheodoro1@hotmail.com

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melhor forma de se comunicar com o público se torna constante, pois a organização necessita desse apoio para continuar consolidada. Caso isso não ocorra, a sua imagem pode ser abalada. O objetivo do artigo é entender a relação existente entre o trabalho do profissional de Relações Públicas e a ética do mesmo ao efetuar as diversas ações e estratégias voltadas para o estreitamento de laços entre a organização e o seu público interno.

Para isso, o aporte teórico do artigo trouxe consigo autores renomados como James Grunig, Roberto Porto Simões, Margarida Kunsch e Jürgen Habermas. Primeiramente,

contextualiza-se e conceitua-se a profissão e os quatro modelos de Relações Públicas. Em um segundo momento, aborda-se Relações Públicas Excelentes. E por fim, a ideia da Teoria do Agir Comunicacional, Habermas (1984), e até que ponto, pelo olhar teórico, esse profissional atua de forma ética ao se comunicar com os seus diversos públicos, mais especificamente, o público interno.

2. OS MODELOS DE RELAÇÕES PÚBLICAS DE JAMES GRUNIG

A profissão de Relações Públicas, no início do século XXI, vem se destacando4 com profissionais trabalhando em diversas áreas, tais como: agências governamentais e não governamentais, escolas, assessorias, hospitais, sindicatos, seja de caráter social, cultural,entre outras. No contexto das organizações as Relações Públicas se orientam para o estabelecimento de relacionamentos estratégicos entre a organização e seus públicos. Nesta perspectiva James Grunig enfatiza a necessidade e a importância de um Relações Públicas

As organizações mantêm relacionamentos com a sua "família" de colaboradores, com as comunidades, com os governos, consumidores, investidores, financistas, patrocinadores, grupos de pressão e com muitos outros públicos. Em outras palavras, as organizações necessitam das relações públicas porque mantêm relacionamentos com públicos (GRUNIG, 2009, p. 27, grifo do autor).

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Desta forma, a profissão de Relações Públicas, considerando seu aporte teórico - efetivação dos objetivos da organização e dos seus diversos públicos - e prático - a verdadeira intenção da efetivação dos objetivos desses diversos públicos -, tem como finalidade obter o retorno mercadológico/financeiro e/ou institucional/imagem para a organização na qual trabalha. Numa teoria geral

As relações públicas contribuem para a eficácia organizacional quando auxiliam na reconciliação dos objetivos da organização com as expectativas de seus públicos estratégicos. Essa contribuição tem valor monetário para a organização. As relações públicas contribuem para a eficácia ao construir relacionamentos de qualidade e de longo prazo com públicos estratégicos. As relações públicas muito possivelmente contribuem para a eficácia quando o executivo de relações públicas é membro da coalizão dominante, participa do estabelecimento dos objetivos da organização e auxilia na identificação dos públicos externos mais estratégicos (GRUNIG, 2009, p. 41).

O mesmo deve atuar na legitimação de poderes e opiniões, ou seja, corroborar na escolha da melhor opção para a empresa. O Relações Públicas deve atuar dentro da alta administração organizacional, que segundo Grunig (2009), configurando a atividade como função "gerencial"

Para que um programa de relações públicas seja eficaz, é necessário que um profissional o gerencie estrategicamente. É necessário que o programa seja orientado aos públicos que exercem maior impacto sobre a organização a respeito das consequências de decisões organizacionais sobre o público, avaliando se tais decisões podem prejudicar ou beneficiar os relacionamentos com esses mesmo públicos (GRUNIG, 2009, p. 22).

Partindo do pressuposto de que o Relações Públicas deve atuar no alto escalão da organização e que o desenvolvimento do seu trabalho vise atingir os seus diversos públicos, é essencial que o mesmo saiba a sua importância para o sistema social. Margarida Kunsch afirma

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4 aos quais têm de se posicionar institucionalmente, assumindo sua missão e dela prestando contas à sociedade (2003, p. 90).

Corroborando com a ideia de Margarida Kunsch (2003), de acordo com Roberto Porto Simões a profissão de Relações Públicas vai “além de tratar da relação de poder entre dois ou mais elementos, analisa e interfere na relação, de maneira específica, com cada grupo de interesse; jamais atua, globalmente, tomando decisões que afetem todos os grupos ao mesmo tempo” (2001, p. 75), ou seja, o mesmo tende a entender os seus diversos públicos, e a partir disso, criar ações de comunicação dirigida.

A partir do trabalho das Relações Públicas na comunicação entre a organização e os seus diversos públicos, Grunig (2009) conceitua e denomina quatro modelos de atuação desse profissional. O primeiro modelo, denominado "agência de imprensa/divulgação", unidirecional, visa obter a promoção favorável da organização através da divulgação pelos meios de comunicação de massa. O segundo, designado "informação pública", também apresenta sentido único, ou seja, não há o feedback dos diversos públicos, além disso, não há o emprego de pesquisas e/ou reflexões estratégicas, seu foco consiste na mudança de comportamento do público e mantendo estática a organização. O mesmo é semelhante a uma assessoria de imprensa, que entende a atuação de Relações Públicas apenas para a disseminação de informações.

Empresas que adotam o terceiro modelo, "assimétrico bidirecional/de duas mãos", segundo o autor, conseguem persuadir os públicos, pois utilizam-se de pesquisas relacionadas as atitudes do seu público-alvo. Esse modelo é alvo de críticas, porque a organização que o utiliza, acredita estar sempre certa. No caso de uma crise de imagem e/ou financeira o problema, segundo o modelo, está no público interno/externo da organização.

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5 [...] baseia as relações em negociação e concessões, normalmente é mais ético que os demais modelos. Este modelo não obriga a organização a decidir se está correta em determinadas questões. Ao contrário: as relações públicas simétricas de duas mãos permitem que a questão do que é correto seja objetivo de negociação (2009, p. 32 - 33).

Dentre os quatro modelos apresentados acima, o quarto modelo - "simétrico bidirecional/de duas mãos" - é o único que se atêm a necessidade, opinião e objetivos do público interno e externo de uma organização.

Frente a esta busca pelo diálogo entre as organizações e seus públicos, Maria Aparecida Ferrari (2009) destaca a importância dos diversos públicos para uma organização no contexto das atividades das Relações Públicas,

Dessa maneira, as relações públicas atuam para construir relacionamentos com públicos, que são grupos de pessoas cujo comportamento pode afetar as organizações ou ser por elas afetadas. Os públicos são o objeto da atividade de relações públicas e é para eles que desenvolvemos os relacionamentos, visando estabelecer o equilíbrio de interesse (FERRARI, 2009, p. 247).

A autora continua argumentando que “se construirmos nossos relacionamentos com os públicos estratégicos, pensando nas organizações para os quais prestamos serviços, mesmo que indiretamente, estaremos também beneficiando a sociedade” (2009, p. 247). Assim como Ferrari, Fábio França complementa esta perspectiva, explicando a necessidade desse estreitamento de laços,

[...] o principal objetivo do relacionamento organização-públicos sustenta-se por interesses institucionais, promocionais ou de desenvolvimento de negócios como sucede com os colaboradores, clientes, fornecedores, revendedores e de mais públicos ligados às operações produtivas e comerciais da organização (FRANÇA, 2004, p. 100).

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Partido do pressuposto da importância desses diversos públicos para uma organização, apresentado por Fabio França (2008) e Maria Aparecida Ferrari (2009), nomomento em que está visível os objetivos dos stakeholders, o verdadeiro relacionamento entre a organização e os mesmos está estabelecido. Segundo Harrison "Os stakeholders criam expectativas sobre a forma como a empresa vai se comportar e os resultados que eles esperam receber; quando estes se tornam abertamente insatisfeitos com as práticas empresariais, a imagem ética e a reputação da empresa são manchadas." (HARRISON, 2005, p. 34). Caso a organização não apresente uma conduta satisfatória, e apenas enfoque o retorno mercadológico (econômico), a mesma pode perder o apoio do seu público.

Segundo a tipologia tradicional dos públicos há: o público misto "é aquele que apresenta claras ligações socioeconômicas e jurídicas com a empresa, mas não vivencia as rotinas da empresa, e não ocupa o espaço físico da instituição" (FRANÇA, 2008, p.44), ou seja, pessoas, empresas e produtos terceirizados.

Há também o público externo, que segundo Rabaça e Barbosa é

Qualquer conjunto de indivíduos que têm interesses comuns com a organização, instituição ou empresa, direta ou indiretamente, a curto ou a longo prazo, por exemplo, fornecedores, consumidores concorrentes, entidades patronais, sindicatos, profissionais, órgãos de informação (imprensa), autoridade (governo), público em geral (2001, p.604)

De acordo com França (2008), o público interno abrange as pessoas que tem uma dependência financeira (socioeconômica) e que estão incluídas "dentro" da organização, como por exemplo: funcionários do setor administrativo, do setor de comunicação, do alto escalão da empresa, entre todos os outros.

O público interno é tão importante quanto quaisquer outros públicos, pois os mesmo influenciam de maneira direta a organização a qual pertence. O seus objetivos devem estar inclusos no planejamento estratégico do relações públicas e agregá-los com o da organização. Essa necessidade surge para que desse modo o público sempre esteja satisfeito com o que a organização esta propondo e oferecendo.

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implicam a necessidade do público em se identificar com a organização, que este conheça os objetivos desta, bem como entenda a sua importância para a sociedade e para si mesmo.

"Públicos estratégicos" é a definição superficial de "stakeholders", ou seja, seguindo a conceituação de Fábio França (2008), o público interno, misto e externo são considerados "públicos estratégicos", pois influenciam diretamente nos objetivos da organização.

Caso isto não ocorra, o público atinge o terceiro estado que é o "estado dos problemas",

Para antecipar ou contrariar as consequências negativas deste último estado [...] os autores $sublinham a importância de uma correcta identificação e segmentação dos públicos, enquanto condição para o desenvolvimento de actividades comunicacionais mais efetivas (GONÇALVES, 2013, p. 68).

Gonçalves (2013) sistematiza os quatro modelos de Relações Públicas propostos por Grunig (2009). Com o objetivo de entender a importância dos públicos para uma organização, inclui-se os mesmos no quadro, a fim de compreender a relevância destes no contexto de cada modelo, como pode ser observado no quadro a seguir.

Quadro 01: Os quatro modelos de Relações Públicas de Grunig, sistematizados por Gonçalves (2013).

MODELOS DE RELAÇÕES PÚBLICAS Características Agente de imprensa/ Publicity Informação Pública Assimétrico Bidirecional Simétrico Bidirecional Finalidade Desinformação (Propaganda) Disseminação de informação Persuasão "científica" Compreensão mútua Natureza da Comunicação Unidirecional; Verdade completa não é essencial Unidirecional; Verdade é importante Bidirecional; Efeitos desequilibrados Bidirecional; Efeitos equilibrados Esquema de Comunicação E -> R E -> R E -> R<- Grupo -> Grupo Públicos Massa; não

existe participação

ativa

"o público tem o direito de ser informado"; não existe participação ativa Utilização de pesquisa para persuadir o público; mínima participação Participação mais ativa; o público tem voz

nas decisões da organização

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A importância da opinião dos públicos para a organização nos dois primeiros modelos é inexistente. Se comparada com os anteriores, o terceiro modelo - assimétrico bidirecional - já se difere, em parte, dos outros modelos nesse quesito. O mesmo caracteriza-se pela utilização de pesquisa para persuadir o público, mas ainda assim, a participação é mínima.

No quarto modelo - simétrico bidirecional - o público tem voz nas decisões da empresa e os seus objetivos tem relevância. A organização que adota esse modelo tem a percepção da importância dos públicos para a mesma e atua de forma social para ter o apoio.

Desta forma, o profissional de Relações Públicas deve priorizar o relacionamento com o público para evitar este terceiro estado. O mesmo deve atuar de forma excelente, como definido por James Grunig em seus estudos ao propor uma teoria de Relações Públicas voltada para consecução efetiva dos objetivos da organização e dos seus diversos públicos, no caso desse artigo, mais especificamente, o público interno.

3. A EXCELÊNCIA EM RELAÇÕES PÚBLICAS

Em meados de 1986, financiado pela Internacional Association of Business Communicators Research Foundation (Fundação de Pesquisa da Associação Internacional Comunicadores Empresariais), James Grunig coordenou um grupo de seis pesquisadores que realizaram um trabalho extenso para identificar as características dos departamentos de excelência de Relações Públicas, e como as mesmas podem influenciar e cooperar com o desenvolvimento de uma organização.

O universo da pesquisa, ou seja, os ambientes em que a mesma foi aplicada diversificaram, entre elas: corporações, organizações sem lucrativos, organizações governamentais, entre outras. Em primeira instância, a pesquisa, de caráter quantitativo, foi aplicada em 327 organizações. Os questionários foram preenchidos por 407 executivos da Comunicação, 292 Chief Executive Officer (diretor geral), executivos graduados e 4.631 funcionários.

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especificações de um departamento de comunicação excelente. A partir desses dados, realizou-se outra pesquisa quantitativa e entrevistas qualitativas com profissionais da área da comunicação, gestores de relações públicas e presidentes de 25 organizações com a mais alta e mais baixa pontuação - segundo a pesquisa - índice de excelência organizacional.

Através desses estudos Grunig (2009) objetiva criar uma teoria ampla e geral para as Relações Públicas. Segundo o autor

Nosso objetivo não era impor uma teoria única de relações públicas, mas tentar a união das teorias complementares e as concorrentes de forma que respondessem questões e solucionassem problemas relevantes para a maioria dos profissionais e estudiosos de relações públicas (2009, p. 36).

Assim, Grunig, afirma que "essa teoria geral consiste em vários princípios genéricos que parecem ser aplicados distintamente em diferentes culturas e sistemas político-econômico" (2009, p. 37), ou seja, como a nomenclatura de "teoria geral", entende-se que as Relações Públicas deve atuar de maneira específica. Cada organização possui a sua missão, visão, valores, portanto, a sua cultura/filosofia organizacional; e não apenas a questão cultural, mas, também, a econômica e política.

O Relações Públicas excelentes deve atuar de forma que efetive os objetivos da organização e de seu público-alvo. Grunig (2009, p. 39) divide público-alvo em duas vertentes, a primeira, denominada "públicos estratégicos/stakeholders", e a segunda, denominada "públicos". O autor define o enfoque dos stakeholders

Nossa proposição central é que a prosperidade organizacional pode ser criada (ou destruída) por meio de relacionamentos com stakeholders de todos os tipos - investidores, clientes e fornecedores, atores sociais e políticos. Assim, a gestão eficaz dos stakeholders - ou seja, a administração dos relacionamentos com os públicos para benefício mútuo - é requisito fundamental para o sucesso corporativo (GRUNIG, 2009, p. 40, grifo do autor).

Grunig (2009) afirma que os stakeholders detêm uma grande influência sobre a organização, seja de caráter político e/ou econômico. E por isso, o Relações Públicas excelentes deve sempre estar atento as necessidade impostas pelo "público estratégico".

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10 estratégicos. Essa contribuição tem valor monetário para a organização. As relações públicas contribuem para a eficácia ao construir reacionamentos de qualidade e longo prazo com públicos estratégicos. (GRUNIG, 2009, p. 41).

O trabalho desenvolvido pelo profissional de Relações Públicas é essencial para o crescimento organizacional, tanto no quesito econômico, social e cultural. Como visto, esse profissional deve atuar de forma excelente para facilitar estreitamento de laços da organização com o público interno. E para que isso ocorra, o Relações públicas deve se ater a necessidade de trabalhar de forma ética.

4. UM OLHAR A LUZ DA ÉTICA

O profissional de Relações Públicas deve se comunicar com o seu público de maneira objetiva para que haja o entendimento. Jürgen Habermas (1984) cria a "Teoria da Ação Comunicacional" para entender esse processo de construção da compreensão mútua no ato de se comunicar através da linguagem. A fundamentação dessa teoria comunicacional intersubjetiva chama-se "pragmática universal", ou seja, a busca pelo entendimento entre a relação sujeito/sujeito e/ou sujeito/objeto,

É denominada "Pragmática universal", por dois motivos: o "universal" porque visa reconstruir as condições do sujeito (os processos implícitos) e pretende entender o ambiente no qual o mesmo está incluído, seja de caráter econômico, social, político e/ou cultural. E "pragmático”, pois analisa a maneira de se comunicar através dos modos e atos de fala.

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11 A distinção entre mundo da vida e sistema não deve ser entendida como uma análise empírica da realidade, mas antes como distinção entre formas diferentes de racionalidade, tendo cada uma as suas próprias implicações na acção. Referem-se, portanto, a diferentes esferas na sociedade, a diferentes formas de acção social e a diferentes meios de coordenar acções. De forma simples, o mundo da vida pode ser compreendido como o conjunto de conhecimentos culturais e normas sociais; inclui todas as normas espontâneas referentes à família, moral, religião, etc. É no mundo da vida que as relações intersubjectivas se organizam intuitivamente, onde ocorrem as problematizações e discussões práticas que podem ou não levar à discussão de valores morais (GONÇALVES, 2013, p.183).

Segundo Habermas (apud GONÇALVES, 2013) há duas formas de informar, a ação "comunicacional" e a ação "estratégica". O Relações Públicas não deveria utilizar a ação estratégica, pois

A acção estratégica está orientada para o sucesso. Agir estrategicamente significa orientar o comportamento exclusivamente de forma a alcançar determinadas consequências. O indivíduo tenta alcançar seus objectivos sem olhar aos outros envolvidos na interacção, por ex., através da força ou de truques (HABERMAS apud GONÇALVES, 2013, p. 187)

O profissional sempre deve estar atento aos objetivos dos diversos públicos, para que assim, a organização tenha o apoio dos mesmos. A ação comunicacional

[...] é orientada para o consenso. Neste caso, a comunicação é apenas usada para atingir a compreensão mútua e não para influenciar ou ser bem sucedido. Daí que a linguagem desempenhe um papel crucial nas sociedades modernas. É através da linguagem, é que através da troca contínua de opiniões que criamos ordem, significado e racionalidade no nosso mundo. É através do agir comunicacional que os actores procuram um entendimento sobre uma situação de acção, a fim de coordenarem consensualmente os seus planos de acção e, assim, as suas acções (HABERMAS apud GONÇALVES, 2013, p. 186).

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A busca por essa compreensão mútua diverge muito pela questão do "olhar" desse profissional, e o modelo em que o mesmo adota, juntamente com a organização "[...] esse "olhar" depende da adopção de um paradigma assimétrico ou simétrico das relações públicas e do correspondente papel social assumido pelo próprio profissional" (GONÇALVES, 2013, p. 198, grifo do autor). Segundo Grunig e White (1992, p. 50-54), o relações públicas adota em relação ao papel social, o modelo "assimétrico", devido algumas visões: "papel social pragmático", "papel social conservador" e "papel social radical".

No "papel social pragmático" as relações públicas acrescentam valor ao cliente ajudando-o a atingir os seus objetivos e por isso, as atividades desenvolvidas tem um grande valor para a organização. Os profissionais não percebem a necessidade de utilização de códigos éticos e de conduta, porque essa visão pode interferir na obtenção de resultados para a organização. No segundo, denominado "papel social conservador", as relações públicas buscam apenas o retorno mercadológico e manter o sistema de privilégios.

No "papel social radical" as relações públicas são consideradas um instrumento que utiliza a pesquisa e a informação para as organizações ganharem poder. Apenas no primeiro modelo, a ética das relações públicas "pode" interferir na escolha das ações, e incluir nas metas da empresa, a efetivação dos objetivos da organização, nesse caso, denominado Relações Públicas Excelentes.

O Relações Públicas, apropriando o conceito de Katz e Kahn, deve atuar no papel de "limite ou de fronteira", ou seja, operar de maneira satisfatória, para efetivar os objetivos da organização e do público, intermediando ambos. Segundo Katz e Kahn (apud GONÇALVES, 2013)

O papel de "limite ou de fronteira" das relações públicas traduz-se concretamente no apoio a outros subsistemas da organização, ajudando-os a comunicar-se com outros subsistemas internos da organização e com outros sistemas externos, como as organizações concorrentes, não concorrentes, o governos, ou outros públicos externos (KATZ apud GONÇALVES, 2013, p. 21-22, grifo do autor)

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uma organização, auxiliando na comunicação existente em qualquer meio, ou seja, entre os diversos setores. Logo, para que isso ocorra, o profissional de Relações Públicas deve atuar de forma excelente, na "fronteira" entre a organização e o público interno.

5. ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Com o passar dos anos, as organizações começaram a perceber a importância de se comunicar com os diversos públicos existentes no sistema social, seja de caráter interno, externo ou misto. A organização deveria adotar o quarto modelo definido por Grunig (2009) – simétrico bidirecional – para que o trabalho flua de uma melhor forma e para que o público tenha voz nas decisões da organização.

O Relações Públicas deve levar em conta a ideia da “pragmática universal”, pois a mesma explica a importância de entender como se comunicar com os diversos públicos, quando esses se encontram em determinados ambientes, seja esse cultural, econômico, social e político. No que diz respeito à comunicação interna o profissional deve atuar na “fronteira” entre a organização e os diversos públicos, priorizando o estreitamento de laços.

Assim, conclui-se que o profissional de Relações Públicas deve sempre agir de forma ética para que ocorra esse estreitamento de forma “saudável”, ou seja, comunicar com transparência. O mesmo deve ter como foco a efetivação dos objetivos da organização e dos seus diversos públicos.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FRANÇA, Fábio. Públicos: como identificá-los em uma nova visão estratégica. 2. ed. São Caetano do Sul: Yendes. 2008.

GONÇALVES, Gisela. Introdução à Teoria das Relações Públicas. Portugal: Porto Editora, 2010. __________________. Ética das Relações Públicas. Portugal: Minerva Coimbra, 2013.

GRUNIG, James E. Relações Públicas: Teoria, contexto e relacionamentos. 1ed., São Caetano do Sul: Difusão Editora., 2009

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HABERMAS, Jürgen. Consciência moral e agir comunicativo. 2.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2003.

HARRISON, Jeffrey S. Administração estratégica de recursos e relacionamentos. Porto Alegre: Bookman, 2005

JORNAL O FLUMINENSE. Dados sobre o crescimento da profissão de Relações Públicas. Site disponível em: <http://www.ofluminense.com.br/editorias/oportunidades/relacoes-publicas-esta-em-alta>. Acesso em: 15 de agosto de 2013

KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de relações públicas na comunicação

integrada. 4. ed. São Paulo: Summus, 2003.

__________________. Relações Públicas: História, teorias e estratégias nas organizações contemporâneas. São Paulo: Saraiva, 2009.

RABAÇA, Carlos Alberto; BARBOSA, Gustavo Guimarães. Dicionário de Comunicação. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, 2001.

ROCHA, Thelma.; GOLDSCHMIDT, Andrea. Gestão dos Stakeholders: como gerenciar o relacionamento e a comunicação entre a empresa e seus públicos de interesse. São Paulo: Saraiva, 2010.

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