fender a necessidade dos contos para o desenvolvimento das crianças. Dizendo que contos são irreais, porque eventos má-gicos acontecem num mundo irracional, ele destaca que os contos não são falsos porque refletem o mundo interior das crianças, suas angústias, seus desejos e suas fantasias. O . conto mostra quais passos são necessários para o
desenvolvi-mento das crianças para a sua maturidade. Quer dizer, Bettel-heim intérpreta as ações exteriores no decorrer do conto como expressão de um processo psicológico da maturação e do de-senvolvimento interior das crianças.
Mas independente das opiniões científicas sobre os contos pode-se constatar, em variação do título do livro de Charles Bettelheim Crianças precisam de contos: Crianças gostam de contos!
.1'1 Rev. de Letras. Fortaleza, 11 (2): jul./dez. 1986
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AS FUNÇõES DA LITERATURA INFANTIL*
Horácio Dídimo
(À luz das "Historinhas do Mestre Jabuti" **)
1 . DIVERTIR
O
anãozinhoO anãozinho alisou as antenas, escovou as grandes asas coloridas e saiu voando.
- Zzzzzzzzz! - exclamou bem humorado.
E a velhinha bem velhinha, que não pensava mais em nada, ficou pensando que o anãozinho verde era uma borbo-leta azuL
A Literatura Infantil é um anãozinho verde bem humo-rado.
Nós, adultos sabidos, somos a velhinha.
A arte literária é uma manifestação de criatividade atra-vés do poder poético-lúdico da palavra.
A primeira grande função da Literatura Infantil é di-vertir.
* Horácio Dídimo. "As sete dimensões do exercício de escrever" in: Revista de Letras, Fortaleza, 7(1/2): 27-29; 1984.
u Horácio Dídimo, Historinhas do Mestre Jabuti. Fortaleza, 1983.
2. EMOCIONAR
O guarda-chuva
O guarda-chuva amanheceu muito triste. Pendurado num canto do guarda-roupa, amargurado, quase sentia nas costas o bafo branco do sol.
- Ufa! - começou a pensar devagarinho.
A Literatura Infantil é o bafo branco do sol.
Nós, adultos sabidos, somos o guarda-chuva preto pendurado no guarda-roupa.
A arte literária é uma manifestação de sensibilidade, através do poder expressivo-catártico da palavra .
A segunda grande função da Literatura Infantil é emo-cionar.
3. EDUCAR
O leão e
o
carpinteiroO leão queria civilizar-se e mandou chamar um car-pinteiro para fazer a mesa de jantar.
Quando chegou em casa à tardinha e viu a mesa pron-ta, deu grandes urros de satisfação.
Depois virou-se para o carpinteiro e, medindo-o com os olhos, bradou:
- Agora, vamos à inauguração: amigos, amigos; ne-gócios à parte.
A Literatura Infantil é a mesa de jantar do carpinteiro. Nós, adultos sabidos, somos o leão mal-comportado. A arte literária é uma manifestação de maturidade, através do poder apelativo-pragmático da palavra.
A terceira grande função da Literatura Infantil é educar.
4. CONsCIENTIZAR
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A fábula
Era uma vez uma fábula cheia de animais que abriam a boca e falavam e de homens desanimados que abriam a boca e bocejavam.
Rev. de Letras. Fortaleza, 11 (2) : jul./dez. 1986
A fábula, preocupada, resolveu correr o mundo em busca da solução.
Andou, andou noites e noites e noites sem madrugada. Afinal, quando já estava morta de cansada, a bem dizer não encontrou mais nada: somente uma netinha vovozinha · sentada junto do fogão .
A Literatura Infantil é a fábula que fala. . Nós, adultos sabidos , abrimos a boca e bocejamos. A arte literária é uma manifestação de discernimento, através do poder metapoético da palavra.
A quarta grande função da Literatura Infantil é cons-cientizar.
5. INSTRUIR A formiguinha
Era uma vez uma formiguinha que não passava de uma formiguinha, mas trazia na sacola uma idéia tão cabeçuda que, mal saía para o seu passeio, a idéia também se punha a passear e, mais do que isso, corria na frente, pulava e cantava que era uma coisa demais.
E a formiguinha que não passava de uma formiguinha tanto não sabia mais o que fazer que acabou fazendo mais do que sabia.
E nunca mais foi-se embora para sempre.
A Literatura Infantil é a formiguinha que trazia uma Idéia na sacola.
Nós, adultos sabidos , sempre queremos ir embora para sempre.
A arte literária é uma manifestação de conhecimento, através do poder referencial-cognitivo da palavra.
A quinta grande função da Literatura Infantil é instruir.
G. INTEGRAR O lado
Quando a guerra rebentou, todos foram para a rua gritando:
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A fábula, preocupada, resolveu correr o mundo em busca da solução.
Andou, andou noites e noites e noites sem madrugada. Afinal, quando já estava morta de cansada , a bem dizer não encontrou mais nada: somente uma netinha vovozinha · sentada junto do fogão.
A Literatura Infantil é a fábula que fala.
Nós, adultos sabidos, abri mos a boca e bocejamos. A arte literária é uma manifestação de discernimento, através do poder metapoético da palavra.
A quarta grande função da Literatura Infantil é cons-cientizar.
5 . INSTRUIR A formiguinha
Era uma vez uma formig uinha que não passava de uma formiguinha, mas trazia na sacola uma idéia tão cabeçuda que, mal saía para o seu passeio, a idéia também se punha a passear e, mais do que isso, corria na frente, pulava e cantava que era uma coisa demais.
E a formiguinha que não passava de uma formiguinha tanto não sabia mais o que fazer que acabou fazendo mais do que sabia.
E nunca mais foi-se embora para sempre.
A Literatura Infantil é a formiguinha que trazia uma idéia na sacola.
Nós, adultos sabidos , sempre queremos ir embora para sempre.
A arte literária é uma manifestação de conhecimento, através do poder refe rencial -cognit ivo da palavra.
A quinta grande função da Literatura Infantil é instruir.
6. INTEGRAR
O lado
Quando a guerra rebentou, todos foram para a rua gritando:
- De que lado estamos? De que lado estamos? - Esta guerra não tem lado - anunciou o porta-va - é uma guerra redonda e total.
A Literatura lnfantil é redonda e total, mas não é, evi -dentemente, a guerra.
Nós, adultos sabidos, é que somos a guerra e o porta-voz.
A arte literária é uma manifestação de solidariedade avavés do poder fático-sinfrônico da palavra.
A sexta grande função da Literatura Infantil é integrar.
7 . LIBERTAR
3G
O cavalo e o passarinho
O cavalo tinha muita vontade de voar. Um dia criou coragem e pediu emprestado as asas do passarinho. O pas-sarinho achou muita graça, mas acabou emprestando as asas depois de mil recomendações.
O cavalo, satisfeito, vesti u-as cuidadosamente , trepou-se numa cadeira bem alta e voou longamente em direção a todas as estrelas.
A Literatura Infantil é o passarinho.
Nós, adultos sabidos , se um dia formos sabidos de verdade, aprenderemos a voar com as asas do passarinho.
A arte literária é uma manifestação de simplicidade, através do poder comunicativo-humanizador da palavra.
A sétima grande função da Literatura Infantil , função-síntese de todas as demais, é libertar.
R ev. de Letr as. F ortal eza , 11 {2) : jul./dez. 1986
ELEGIA CEARENSE
poema de Artur Eduardo Benevides
Vertido para o castelhano por Guarino Alves de Oliveira .
1 . Largo es el estío.
Largos los caminos para los pies de los hombres. Largo el silencio en los campos . Larga
la mirada a amar lo que perdió.
Ya no vienen las albas en el pico de las aves ni se escucha la canción de amor
del tangerina.
La muerte nos guía. Exhaustos resistimos. V si acaso caímos en el suelo nuestros dedos empiezan a replantar la rosa de la esperanza. Ay Ceará
tu nombre está
en nosotros como un signo de sangre, ensuefío y sol!
Tierra de lirios y espadas flameantes, territorio que Dias ha sacado del diablo, mujer de los emigrantes, dalia de la canícula, en nosotros eres
un rocío . Posas. Eres canción.
2 . Para cantarte me bano en tu memoria y escucho la voz enternecida
delante de efigies siempre tristes . Oh! verte apufíalada - y el sol robando la fragil adolescencia y poniendo en tu rastro el dolor de quien se siente, de subito , perdido . Los pobres ríos secan
los gajos perden frutos las aves picotean el cielo