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SANTOS-DUMONT: REPRESENTAÇÕES E LEITURAS NA INVENÇÃO DO VÔO Renato Vilela Oliveira de Souza

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Renato Vilela Oliveira de Souza

SANTOS-DUMONT: REPRESENTAÇÕES E LEITURAS NA INVENÇÃO DO VÔO

RIO DE JANEIRO

2014

(2)

RENATO VILELA OLIVEIRA DE SOUZA

SANTOS-DUMONT: REPRESENTAÇÕES E LEITURAS NA INVENÇÃO DO VÔO

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia.

Orientador: Henrique Gomes de Paiva Lins de Barros.

RIO DE JANEIRO

2014

(3)

S729 Souza, Renato Vilela Oliveira de

Santos Dumont: representações e leituras na invenção do vôo. – 2014.

169 f. : il., 30 cm.

Tese (Doutorado em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa

de Pós Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, 2014.

Orientador: Henrique Gomes de Paiva Lins de Barros

1. Santos-Dumont, Alberto, 1873-1932 - Teses. 2. Aeronáutica – História – Teses. 3. Ciência - História – Teses. I. Barros, Henrique Gomes de Paiva Lins de (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia.

CDD 926

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Renato Vilela Oliveira de Souza

Santos-Dumont: representações e leituras na invenção do vôo

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Doutor em História das Ciências e das Técnicas e Epistemologia.

Aprovada em 31 de março de 2013

________________________________________________

Henrique Gomes de Paiva Lins de Barros, Drº, HCTE/UFRJ Orientador

________________________________________________

Adílio Jorge Maques, Drº.UFF

________________________________________________

Alda Lúcia Heizer , Drº. JBRJ

.

_______________________________________________

Carlos Benevenuto Guisard koehler Drª. HCTE/UFRJ

________________________________________________

Ildeu de Castro Moreira, Drº. HCTE/UFRJ

(5)

Fly, on your way, like an eagle, Fly as high as the sun, On your way, like an eagle, Fly as high as the sun”.

Flight of Icarus (Iron Maiden) Em memória de um grande amigo...

Felipe D’Ávila Bonan

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]AGRADECIMENTOS

Diversas pessoas foram importantes à conclusão deste trabalho, no entanto sem o apoio de alguns nada teria começado. O apoio e incentivos destes, aqui citados, foram de grande ajuda intelectualmente como pessoalmente, tendo compreensão não apenas nas horas de grande criatividade, mas nos momentos de dificuldades que permearam minha vida pessoal nos últimos períodos da redação e elaboração da dissertação.

Em primeiro lugar, devo meu contato inicial ao tema pelo Projeto Santos- Dumont do Centro de Documentação Histórica da Força Aérea Brasileira. Sem o apóio de toda equipe do CENDOC este projeto não seria possível não apenas pelas fontes, mas como também pelo valoroso incentivo. Agradeço a Tânia Aparecida de Souza Vicente, Mauro Vicente Sales pelo carinho e presteza que fui recebido.

Agradeço ao meu orientador professor Henrique Lins de Barros, que pacientemente revisou os capítulos, mesmo quando tal tarefa se tornou, de certo modo, um exercício de paciência. Agradeço também ao professor Carlos B. G.

Koeller por sua atenção e apoio ao longo das pesquisas.

À todos amigos e companheiros de estudo e lutas do Programa de Pós- Graduação em História das Ciências das Técnicas e Epistemologia. Pessoas como Adílio, Gil, Leonardo, foram de grande importância não só pela camaradagem como também pelo carinho. Faço também um agradecimento a Ana Cristina pela colaboração na revisão da tese que na faze final foi de grande ajuda.

Aos meus pais Yolanda e Paulo, assim como meu irmão Alexandre que com o atencioso apoio e paciência, facilitaram este importante exercício de reflexão que foi escrever este trabalho.

À minha querida Ruth com sua atenção e amor Gigante me levou em voos

inesquecíveis. Ao meu filho Miguel, pelas perguntas sinceras a respeito do tema que

me levaram a questionamentos simples porém de vital importância.

(7)

SOUZA, Renato Vilela Oliveira de. Santos-Dumont: representações e leituras na invenção do vôo . Orientador: Prf. Dr. Henrique Gomes de Paiva Lins de Barros.

Programa Inter Unidade de Pós-Graduação em História das Ciências das Técnicas e Epistemologia. UFRJ/ CCMN/ I 2014.

RESUMO

Este trabalho analisa as repercussões e as leituras da imagem de Santos-Dumont nos Estados Unidos, durante os anos de 1898 a 1910 , tendo como base a questão da solução do vôo . Neste contexto, a pesquisa tem como objetivo estudar a construção de uma imagem pública de Santos-Dumont nos jornais Norte Americanos da época. Assim como, refletir sobre as diferentes leituras e interpretações das experiências de Santos-Dumont e seus dirigíveis. A análise deste material neste contexto histórico oferece uma rica oportunidade de estudar a construção da imagem de Santos-Dumont e suas respectivas modificações nos diferentes cenários envolvidos.

PALAVRAS-CHAVE: História das Ciências, História da Aviação, Santos Dumont

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SOUZA, Renato Vilela Oliveira de. Santos-Dumont: representações e leituras na invenção do vôo . Orientador: Prf. Dr. Henrique Gomes de Paiva Lins de Barros.

Programa Inter Unidade de Pós-Graduação em História das Ciências das Técnicas e Epistemologia. UFRJ/ CCMN/ I 2014.

ABSTRACT

This work analyses the echoes and readings of Santos-Dumont reputation in Europe

and United States of America between 1898 and 1910, based on the search on the

driven flight solution and invention of airplane. The research present the development

of his public image published on periodic newspapers and magazines of United

States. Another issue addressed on this text is the different interpretation and

explanations on his experiences and invention of airplane. This subject offers a huge

opportunity to understand the building on the career and fame of the Brazilian

businessman, the perception of his success among several countries.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 Ilustração publicada pela revista Scientific American em 1898 fazendo alusão ao sistema propulsor.

FIGURA 2 : Ilustração do vôo do N-4

FIGURA 3: Ilustração publicada pela revista , demonstrando a manobra do dirigível N5

FIGURA 4: Jornal da Filadélfia, EUA, publicou os vôos de 12 e 13 de julho.

FIGURA 5: Ilustração representa uma forma de comparação entres os modelos.

FIGURA 6 Charge a respeito dos dirigíveis de Santos-Dumont FIGURA 7 : Descrição do Trajeto sugerido por Santos-Dumont

FIGURA 8. Ilustração editado pelos jornal em virtude da saída inesperado de

Santos Dumont em Nova Iorque.

FIGURA 9: Dirigível N10 modelo foi projetado para transportar 10 pessoas FIGURA 10:Santos-Dumont e o dirigível N-7 rasgado.

FIGURA 11: Fotografia do plano inclinado e do trilho utilizado como força extra a decolagem.

FIGURA 12: Fotografia do N-13 ; FIGRUA 13: Dirigivél N-14

FIGURA 14: Ilustração do dirigivel que seria projetado para a viagem ao Polo Norte segundo as consepções técncias defendidas por Santos-Dumont

FIGURA 15: Diagrama das diveras secções que formavam o dirigivel do progeto.

FIGURA 16 : Diagrama original de patente dos rimãos Wilbur e Orville Wrigths FIGURA 17: Experiência de Gabriel Voisin no rio Sena

FIGURA 18: Ilustração apesentada pos Hargrere no Congresso Internacional de Navegação Aérea em 1896.

FIGURA 19: 14 BIS

FIGURA 20: N-15

(10)

FIGURA 21: N-16

FIGURA 22: Fotografia do Acervo pessoal de Santos-Dumont do invento N-18 FIGURA 23: Cartão Postal com um dos inventos de Santos-Dumont N-18.

FIGURA 24: Foto o N-19

FIGURA 26: Ilustração editada em virtude da vitória Farman e vôo de um quilômetro FIGURA 27 Cada da revista Le Velo

FIGURA 28; O encontro dos velhos amigos, em janeiro de 1929, da esquerda para

direita: Farman, Santos-Dumont e Voision

(11)

LISTA DE ABREATURAS

CENDOC-CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO HISTÒRICA DA

AERONAUTICA

INCAER- INSTITUTO HISTÓRICO CULTURAL DA AERONÁUTICA MUSAL-MUSEU AERO AESPACIAL

MAST-MUSEU DE ASTRONOMIA E CIÊNCIAS AFIMS

(12)

SUMÁRIO

PÁGINA

Introdução--- 14

1 Apresentação do Tema--- 14

2 Objetivos Gerias e Específicos--- 19

2.1 Objetivos Específicos--- 20

3 Quadro Teórico e Historiográfico--- 20

4 Avião e os jornais no início do século XX--- 24

5 Acervos Documentais a respeito de Santos-Dumont--- 27

5.1 Acervos Pessoais do Santos Dumont--- 27

5.2 Fontes complementares --- 29

6 Resumo dos capítulos e anexos--- 31

Capítulo 1 : O dirigível e a invenção da navegação aérea--- 33

1 As primeiras referências a Santos-Dumont na impressa Americana- - 33 1.1 Do Balão ao Dirigível--- 33

2 Prêmio Duetsch--- 35

3 Santos-Dumont em Nova Iorque--- 45

3.1 Encontro com Thomas Edison--- 45

3.2 Voando sobre a Estátua da Liberdade--- 49

4 O dirigível N-9: um sonho ao alcance de todos--- 55

5 Feira Mundial de St. Louis--- 58

Capítulo 2: Do Dirigível ao Avião--- 62

1 A América e seus pioneiros--- 62

1.1 Aerodrome de Langley--- 62

1.2 Vaodores ou Mentirosos--- 65

2 De volta ao campo de prova: entre o dirigível e avião --- 68

3 Dirigível ou Avião; duas possibilidades de desenvolvimento--- 74

(13)

3.1 Expedição ao Pólo Norte e a consolidação de uma idéia--- 74

Capitulo3 : Da invenção ao vôo da ave de rapina--- 81

1 Em Busca de vôo perfeito--- 81

1.1 Criação dos Critérios de Homologação do Vôo--- 83

2 Vôos do 14BIS: a ave de rapina.--- 86

2.1 A caixa de Hargrave e a Construção do 14 BIS--- 86

2.2 Americano ou Brasileiro--- 90

2.3 O vôo do 14BIS e a volta dos rei dos Céus--- 94

3 Comparação ente Santos-Dumont e os Irmãos Wright--- 98

4 Desenvolvimento de uma idéia--- 100

4.1 Os inventos apos o vôo do 14 BIS--- 101

4.2 Hidroplanador N-18 e o vôo sobre as águas do rio Sena--- 103

Capítulo 4: Santos-Dumont e a consolidação da aviação--- 106

1 Em busca do vôo de um quilômetro--- 106

1.1 A construção do Demoiselle--- 106

1.2 As comparações entre Farman e Santos-Dumont--- 110

2 Ampliando os Céus--- 114

2.1 Aviação cursando fronteiras--- 115

2.2 O grande encontro de Reims--- 117

2.3 Demoiselle e o vôo da libélula--- 119

3 Santos-Dumont e a Aviação no Continente Americano--- 124

3.1 Em tempos de guerra--- 124

3.2 Aviação Pan Americana--- 126

4 Regresso ao Brasil--- 130

Conclusão--- 136

Referências--- 141

Bibliografia--- 145

Anexo--- 152

(14)

Introdução

1 APRESENTAÇÃO DO TEMA

Após as comemorações do centenário do voo do 14Bis em 2006, uma grande variedade de material de divulgação foi lançada, em várias mídias como textos, filmes e desenhos, entre outras. Porém, mesmo com a repercussão criada por estas homenagens, algumas questões fundamentais ligadas à trajetória de Santos- Dumont ainda permanecem abertas. Apesar das inúmeras biografias, pouco foi feito no que diz respeito a uma pesquisa sistemática seguindo uma abordagem acadêmica sobre sua trajetória. Suas realizações no campo da ciência do voo e da técnica ainda carecem de uma análise mais profunda, de maneira que se compreenda a importância do processo de invenção do voo para o público contemporâneo. Sem uma análise sensível aos diversos grupos e opiniões, os grandes avanços no campo da aviação aparecem como simples demonstrações de coragem. O Santos-Dumont como personagem histórico oferece uma rica oportunidade de refletir sobre os diferentes pontos de leitura e interpretações da aviação.

A leitura da trajetória de Santos-Dumont, assim como uma análise mais aprofundada das primeiras experiências com aviões, demonstram a captura, por parte do público, destes eventos. Esta pesquisa busca refletir as atividades de Santos-Dumont sobre o ponto de vista dos periódicos americanos e de como esses acompanharam este processo histórico

Até 1900, a imagem de Santos-Dumont estava diretamente ligada à prática esportiva. Em paralelo às primeiras colunas e crônicas a respeito dos voos do balão Brasil, Santos-Dumont já começava a refletir sobre a questão da dirigibilidade e controle dos balões de hidrogênio. Este quadro começa a ser alterado na medida que Santos-Dumont se engajava na busca por soluções que oferecessem aos balões um maior controle. Em 1898, Santos-Dumont construiu seu primeiro modelo de dirigível N-1 e conforme as experiências eram conduzidas foi aperfeiçoando novos modelos, N-2 e N-3 até chegar a uma configuração típica e viável.

No ano de 1900 despertava uma incrível onda de otimismo. Em Paris foram

organizadas comemorações pela passagem do século e estavam previstos vários

(15)

eventos, dentre estes a montagem de uma Feira Internacional de Inovações Técnicas

1

. Tal feira internacional colocava em evidência um pouco de tudo o que fora produzido até aquele momento e daria uma visão da criatividade que dominou os últimos anos do século XIX. Neste clima de competição, foi lançado pelo milionário Henri Deutsch de La Meurthe o prêmio para aquele que fosse capaz de realizar um voo num circuito previamente estabelecido, que contornasse a Torre Eiffel e retornasse ao ponto de partida no tempo de 30 minutos. Foi neste momento que Santos-Dumont planejou e construiu o seu quarto dirigível o N-4, que chegou a realizar voos, porém logo percebeu as falhas e começou a projetar um novo dirigível.

Em 1901, Santos-Dumont projetou um novo modelo de dirigível para competir ao prêmio Deutsch e com o N-5 realizou outras tentativas. Estes voos, principalmente, os de 12 e 13 de junho de 1901, colocaram Santos-Dumont nas primeiras páginas dos principais jornais da época, tendo uma grande repercussão em toda a imprensa internacional.

Em muitos artigos, Santos-Dumont incorporou a imagem de um herói, que desafiava as adversidades e conquistava a glória a partir de fatos memoráveis. O público contemporâneo a Santos-Dumont se apropriou de modo diferenciado das leituras feitas nos jornais. A imagem do brasileiro como herói começou a ter uma dimensão própria. Na medida em que a repercussão das imagens foi crescendo, o enfoque central dos artigos acabou incorporando uma leitura paralela à questão da dirigibilidade.

Em 1902, Santos-Dumont viaja para a Inglaterra e depois aos Estados Unidos, fazendo contatos que lhe rendaram uma série de questionamentos a respeito dos dirigíveis. Com o afastamento de Santos-Dumont do Aeroclube da França imediatamente após ter ganhado o prêmio Deutsch, ele buscou se aproximar do mundo de língua inglesa. Suas idas à Inglaterra não renderam o desejado. Ele não conseguiu realizar a demonstração com o seu dirigível, embora tivesse apoio da comunidade inglesa. Com isso, sua imagem ficou comprometida.

Logo após ter visitado o Brasil em 1903, os jornais americanos noticiaram o voo dos irmãos Wright realizado em dezembro do mesmo ano. De fato, a busca do voo a partir de um aparelho mais pesado que o ar ganhava cada vez mais espaço

1

CASTRO, Ângela Marques de, Lilia Moritz Schwarcz, 1894-1914; no temo das certezas. São Paulo,

Companhia das Letras, 2000, p18

(16)

nos jornais na época. O professor S. Langley

2

surpreendeu a todos com suas experiências com o modelo reduzido do Aeródromo, e Octave Chanute

3

mantinha os franceses informados das últimas experiências aeronáuticas americanas.

De volta ao cenário europeu, em 1905, Santos-Dumont presenciou as experiências no rio Sena realizadas por Gabriel Voisin. No mesmo ano, Santos- Dumont começou a realizar alguns estudos a respeito desta nova maneira de voar.

O brasileiro também realizou experiências com um pequeno planador, um modelo reduzido do que seria o N-11, inspirado no modelo do inglês George Cayley

4

. Ele desenvolveu um projeto de um helicóptero, o N-12, que chegou a ser construído, porém apresentava algumas questões técnicas que estavam além das perspectivas da época.

A concepção de aviação a partir de aparelhos mais pesados que o ar ganhava cada vez mais força na comunidade de estudiosos da aeronáutica. Santos- Dumont acompanhava atentamente as experiências de outros pioneiros, porém era um campo novo no qual ele teve que recomeçar. Até aquele momento, nenhum avião tinha sido capaz de realizar um voo completo partindo de uma decolagem e voando sem auxilio externo.

A análise deste retorno ao cenário europeu oferece uma rica oportunidade de estudar como a imagem de Santos-Dumont se modificou no momento de retomada de suas atividades como inventor. Sua imagem pública possivelmente acabou por ganhar novos elementos, pois a corrida pela construção de um avião tinha um maior número de pioneiros envolvidos.

2

Samuel Peirpoint Langley (1841-1906). Astrônomo e inventor norte-americano nascido em Roxbury, pioneiro da aviação norte-americana na construção de máquinas mais pesadas que o ar e de grande importância para a evolução da meteorologia. Ele foi secretário da Smithsonian Institution (1887-1906), em Washington DC.

Fundou o Smithsonian Astrophysical Observatory (1890) e dedicou-se à aerodinâmica. Construiu um aparelho a que denominou Aerodrome que foi lançado mediante catapulta, de um barco no rio Potomac (1903), porém redundou em total fracasso.

Fonte: <http://invention.psychology.msstate.edu/i/Langley/Langley.html> acessado em 13 de agosto de 2011.

3

Octave Alexandre Chanute, nasceu na França, em 18 de fevereiro de 1832, e viveu nos Estados Unidos, até sua morte em 23 novembro de 1910. Ele foi engenheiro civil e estudioso da aviação, sendo autor de diversos artigos e trabalhos sobre o tema, influenciando pioneiros no começo do século XX. Foi um sintetizador de informações e uma ponte de contato entre vários inventores. Também foi o principal incentivador dos trabalhos dos irmãos Wright.

Fonte: <http://invention.psychology.msstate.edu/i/Langley/Langley.html> acessado em 13 de agosto de 2011.

4 Sr. George Cayley Bt. (1773 - 1857). Engenheiro inglês que foi pioneiro no estudo de muitos conceitos e elementos fundamentais do avião moderno. Cayley foi o pioneiro na aplicação de métodos de pesquisa e ferramentas da ciência e engenharia para a solução dos problemas de voo. Foi o primeiro a entender e explicar os conceitos de elevação e de empuxo. Por volta de 1804 os modelos dos seus planadores eram semelhantes a uma aeronave moderna, apresentando já um par de longas asas, como as utilizadas em monoplanos, um estabilizador horizontal na parte de trás, e um leme vertical.

Fonte:< http://www.ctie.monash.edu.au/hargrave/cayley.html>. Acesso em:10 de setembro de 2011.

(17)

Naquela época, dois prêmios foram criados na França, seguindo o exemplo do prêmio Deutsch. Uma comissão científica foi criada para acompanhar as provas.

O Sr. Archdeacon

5

estabeleceu um primeiro prêmio para quem realizasse um voo com mais de 25 metros. E o Aeroclube da França criou uma recompensa para aquele que conseguisse voar mais de cem metros. O voo deveria ser público e o aparelho deveria decolar por seus próprios meios e voar uma distância mínima pré- estabelecida. A decolagem deveria ser realizada sem auxílio de catapulta ou qualquer artefato, e o aparelho teria que pousar em segurança num terreno plano e horizontal.

Santos-Dumont em pouco tempo construiu seu primeiro avião, o 14BIS. Em 23 de outubro 1906, o brasileiro realizou um voo de 60 metros e logo a seguir, em 12 de novembro, realizou o primeiro voo homologado da história da aviação, ao percorrer 220 metros no ar. Ensaios anteriores já despertavam o interesse e anunciavam avanços relevantes.

O dia 13 de setembro de 1906 será daqui para diante, histórico porque, pela primeira vez um homem se elevou nos ares pelos seus próprios meios; Santos-Dumont, sem cessar os seus trabalhos com “o mais leve que o ar” faz, também, estudos muito importantes com o “mais pesado que o ar” e foi ele que conseguiu voar nesse dia memorável.

Santos-Dumont demonstrou, de modo indiscutível, que é possível se elevar do solo pelos próprios meios e se conservar no ar.

6

A 23 de outubro, diante de uma comissão de aviação, às 4:45 da tarde, seu aeroplano deixa o solo, suavemente e sem choque. A multidão estupefata tem a impressão de um milagre:

fica muda de admiração, mas logo solta um brado de

5

Ernest Archdeacon (1863 - 1950) foi um advogado francês de renome, de ascendência irlandesa. Teve grande influência no desenvolvimento da aviação, apesar de não ser piloto. Foi sócio fundador do Aeroclube da França sendo um dos membros mais ativos. Em outubro de 1904, Ernest Archdeacon patrocinou, juntamente com Henri Deutsch de la Meurthe, o Grande Prêmio da Aviação, também conhecido como Prêmio Deutsch-Archdeacon, para o primeiro voo circular realizado por um mais pesado que o ar, no valor de 50.000 francos, o equivalente a 10.000 dólares. O prêmio foi ganho em 13 de janeiro de 1908 por Henry Farman ngramado de Issy-les- Moulineaux

6 La Nature: tradução do texto:WANDERLEY- LAVENERE, Nelson Freire. “Santos Dumont e sua Glória”,

Conferência apresentada no Instituto de Geografia e História Militar da Brasil,1973 .

(18)

entusiasmo no momento da aterrissagem e carrega o aviador em triunfo”

7

Os jornais voltavam-se novamente para Santos-Dumont. O voo do 14BIS abriu a porta para novas experiências e renovou a imagem de Santos-Dumont. A vitória de um importante prêmio num cenário disputado trouxe Santos-Dumont novamente ao centro do desenvolvimento da aeronáutica. Nos jornais, o nome Santos-Dumont era referência para os principais acontecimentos no desenvolvimento da aviação. Seu voo retomava a ligação da imagem de Santos- Dumont com a sociedade da época.

Paris 12 November, Santos-Dumont made another series of experiments with his perfected airplane in the Bois de Boulogne this morning. He made two flights of between five and six seconds, covering between fifty and sixty meters each time.

In the afternoon, M. Santos-Dumont met with better success, and was only prevented by the immense crowds, which surged on the field for accomplishing a height of fifteen feet and at a speed of thirty miles per hour for a distance of 215 meters, when fear that his whirling propeller would strike the cheering people forced him to descend. The right wing of his machine was slightly damaged,

The principal change in the airplane to day was that the side-rudder reins were attached to the shoulders of M. Santos- Dumont, who operated them with instinctive movements of the body. He was thus completely successful in preventing the rolling motion of the machine.

8

Neste sentido, a alternância da forma pela qual Santos-Dumont era compreendido pela sociedade da época ganhava um novo significado com o mais pesado que o ar. Além da relação com o público, que era construída pela leitura dos jornais, Santos-Dumont não era o único candidato à “inventor do avião”.

O processo de construção de um avião foi uma trajetória longa, tendo uma maior visibilidade e competição entre seus contemporâneos. Sua tradição balonista lhe dava certa vantagem, embora para se aprofundar nos estudos com aeronaves, Santos-Dumont teve que renovar suas posições. Na Europa grandes nomes ascendiam com soluções e modelos novos. Nos Estados Unidos, os irmãos Wright

7

Feber em “Aviation”. Tradução em tradução do texto: WANDERLEY- LAVENERE, Nelson Freire. Santos Dumont e sua Glória, Conferência Apresentada no Instituto de Geografia e História Militar da Brasil, 1973.

8

The New Iorque Times, 18 de setembro de 1906. Fonte

http://query.nytimes.com/search/sitesearch?query=Santos Dumont&less=multimedia&more=date_all >. Acesso

em:10 de setembro de 2011

(19)

já reivindicavam a primazia do voo que haviam feito em 1903, sem, contudo, apresentarem qualquer documentação relativa a este voo e aos feitos em 1904 e 1905. E, para criar mais desconfiança, os irmão Wright anunciaram estar parando suas experiências e se retirando do campo de provas.

De certa maneira, o voo do 14BIS demarcou um ponto de virada na trajetória pública do brasileiro, pois as soluções apresentadas por Santos-Dumont ofereceram subsídios técnicos para toda uma geração de aviadores e construtores. Em pouco tempo, em 1907, Santos-Dumont construiu o que viria a ser um dos seus inventos de maior importância, o Demoiselle, o invento de N-19. Já em 1909, algumas fábricas iniciaram a produção do novo Demoiselle, N-20, chegando a mais de 40 unidades construídas.

O Demoiselle apresentava inovações de grande importância, sua construção simples lhe dava leveza e rapidez, batendo recordes de velocidade e desenvolvendo a marca de 96 km/h. Numa época em que os aviões construídos por seus contemporâneos voavam a 60km/h com motores pesados, o Demoiselle se afirmava como um passo adiante na história da aviação. Seu desenho foi publicado por Santos-Dumont, o que permitiu sua reprodução em larga escala pela ainda incipiente indústria de aviões.

A partir da coleção de recortes de jornais e artigos, a pesquisa se volta à análise das repercussões e leituras que a sociedade da época construiu sobre a trajetória de Santos-Dumont no que tange ao desenvolvimento do avião. Tal processo demonstra não apenas a história ou a biografia de um inventor, mas também os percursos e conflitos que se desenvolveram no momento da consolidação de seu reconhecimento público. A contraposição da imagem de Santos-Dumont com as diversas fontes contemporâneas da sua trajetória nos remete à ligação entre os relatos e suas respectivas formas de interpretação.

2 OBJETIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS.

A pesquisa tem como objetivo central refletir sobre as formas de

interpretação da trajetória de Santos-Dumont pela imprensa da época, buscando

analisar como sua invenção foi compreendida e as diferentes leituras que foram

construídas a partir do debate desta nova tecnologia.

(20)

2.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Refletir a respeito das diferentes leituras e o processo de construção da imagem pública de Santos-Dumont, observando os diferentes momentos e projetos.

 Compreender a relação entre o inventor e a sociedade no que diz respeito ao processo de consolidação e legitimação do voo como campo de pesquisa.

 Analisar como a opinião pública da época interpretou e reconstruiu o voo de Santos-Dumont, criando uma imagem em volta da figura deste pioneiro.

 Refletir sobre o papel da imprensa neste processo, sendo uma parte ativa neste contexto, capaz de não apenas reproduzir como também edificar opiniões e leituras

3 QUADRO TEÓRICO E HISTORIOGRÁFICO

Antes de nos debruçarmos sobre as diferentes manchetes que noticiaram os feitos de Santos-Dumont, é necessário a demarcação de alguns parâmetros conceituais que são fundamentais para a análise. Das várias maneiras de se compreender o passado trazido à luz de uma pesquisa histórica, o estudo de jornais e textos editoriais incorpora elementos subjetivos e de grande variedade de interpretação. Faz-se necessário compreender o artigo de jornal, ou notícia, como parte integrante de um contexto mais amplo, na qual estão englobadas relações sociais, culturais e muitas falas projetadas e outras vozes silenciadas.

De várias maneiras, os produtos da comunicação de massa interferem nas informações e na diversão que recebemos em nossa vida, assim como em inúmeros assuntos de interesse público. Dessa forma, seria um erro desprezar a imprensa escrita como fonte documental para a historiografia.

Para Francisco das Neves Alves

9

, o estudo da imprensa vem se constituindo num dos elementos fundamentais para o empreendimento da reconstrução histórica, que, por seu intermédio, pode se aproximar das práticas políticas, econômicas,

9

ALVES, Francisco das Neves. A pequena Imprensa Rio-Grandina no século XIX. Editora da FURG, Rio

Grande,1999. E ALVES, Fábio Lopes, GUARNIERI, Ivanor Luiz. A utilização da imprensa escrita para a escrita

da História: diálogos contemporâneos. Revista brasileira de ensino de jornalismo, Brasília: vol.1, nº 2, p. 30-53,

ago./nov. 2007.

(21)

sociais e mesmo das correntes ideológicas dos diversos setores de uma determinada sociedade. Nos jornais, esses conflitos encontram seu espaço de propagação, chegando o jornalismo a servir como elo de ligação ou agente de combate entre diferentes tendências politico-ideológicas.

[...]os jornais não são, no mais das vezes, obras solitárias, mas empreendimentos que reúnem um conjunto de indivíduos, o que os torna projetos coletivos, por agregarem pessoas em torno de idéias, crenças e valores que se pretende difundir a partir da palavra escrita.”

10

A análise do relato jornalístico, assim como sua construção, pode ser assumida como uma representação

11

. Em certa medida, um jornal assume um elemento simbólico e tais fontes nos conduzem a uma leitura da realidade histórica.

A informação ou narrativa do passado, ou até a interpretação em segunda mão de um evento, devem ser tratados como uma leitura do evento histórico

12

. Sua correspondência com a realidade histórica se torna possível através de inúmeras mediações com outras fontes históricas

Outro elemento teórico relevante é de como a aviação era retratada pela imprensa na época. O jornalismo científico ao longo do século XIX até as primeiras décadas de 1900 encontrava-se em franca expansão. A ciência, como uma noção de progresso e ideal cultural, passou a se tornar parte integrante do cotidiano das populações urbanas, servindo de eixo para conversas, opiniões e ações públicas

13

. Nas colunas científicas dos jornais observa-se a aproximação da rotina dos laboratórios aos leitores. Estes textos demonstram que os inventores e suas oficinas eram espaços de ações sociais e não apenas um local cultuado. Sendo assim, é necessário penetrar nas formas de respostas entre o inventor e seus “clientes” ou beneficiados em potenciais, demonstrando como o observador é tão construtor dos fatos como o próprio criador.

A proposta de uma história cultural

14

, neste contexto, não estaria voltada apenas pela busca de estruturas da sociedade nas ações científicas, mas

10

CALONGAO, Maurilio Dantielly. JORNAL E SUAS REPRESENTAÇÕES: OBJETO OU FONTE DA HISTÓRIA? Comunicação & Mercado/UNIGRAN - Dourados - MS, vol. 01, n. 02 – edição especial, p. 79-87, nov 2012

11

CHARTIER, Roger. A história cultural. Entre práticas e representação. Lisboa: Difel,1988.

12

MOLLIER, Jean-Yves. Uma revolução cultural silenciosa no final do XIX, in A leitura e seu público no mundo contemporâneo; Ensaios sobre histórica Cultural.Belo Horizonte: Autêntica Editora,2008.

13

OLIVEIRA, Fabíola, Jornalismo Científico - Coleção Comunicação. São Paulo, Contexto, 2005, 2 Ed pag 20

14

BURKE. Peter. Escrita da História : As novas perspectivas, São Paulo, Editora: UNESP.2001.

(22)

compreender e “desemaranhar” as relações entre os protagonistas desta ação social. De maneira geral, o presente estudo busca analisar os laços de diálogos entre a sociedade e a atividade científica, mergulhando na relação entre inventor e seu público de comentaristas. Através dos jornais e depoimentos, tem-se a oportunidade de compreender de como as invenções de Santos-Dumont foram capazes de dialogar com a sociedade de sua época.

Este pressuposto teórico deve estar de acordo com a produção historiográfica que aborda os efeitos sociais da invenção do avião. Um trabalho marcante neste sentido foi o estudo de Willian F Ogbun, em The Social Effects of Aviation

15

, publicado em 1946, que de forma pioneira trazia uma contextualização pelo viés sociológico da aeronáutica como atividade inventiva e industrial. O momento que tal obra é produzida também nos chama atenção, pois em 1943, o acervo histórico do irmãos Wright foi doando ao Instituto Smitithosnina.

Ao longo dos anos, outros trabalhos foram sendo desenvolvidos buscando uma demarcação histórica de legitimação da importância social da trajetória dos irmãos Wright. Uma corrente historiográfica institucional buscou, de forma diversificada, apresentar e discutir não apenas o legado tecnológico e inventivo, mas sobretudo, a construção de uma noção de heróis e mistificação de uma geração de pioneiros

16

.

Uma alteração neste processo foi o trabalho de Peter l Jakab, em Visions of a Flying Machine: The Wright Brothers and the Process of Invention, publicado pelo Smithsonian Institution em 1990, e o trabalho de James Tobins em To Conquest the Air: the Wright Brothers and Great Race for Flight . Estes dois trabalhos buscaram refletir sobre a produção tecnológica envolvida nos primeiros projetos e modelos, ao contrário de seus predecessores, a trajetória biográfica era secundária. De forma complementar, os autores retomam a discussão a respeito do contexto social no qual o desenvolvimento dos primeiros voo estava inserido. Porém, esta análise se limitava a comparações entre os atores históricos, como foi no caso da disputa entre os irmãos Wright e Glen Curtiss envolvendo o registro de patente.

Outro elemento relevante que contribuiu para uma mudança na historiografia foi a realização de estudos comparados entre os contexto históricos nos Estados Unidos e Franca. O estudo de Claude Carlier, intitulado Le Match France-Amerique

15

SYON, Guillaume de. What the Wrights wrought. The Centennial of flight in recent literature.

16

Idem 11

(23)

17

, demonstrava que a questão envolvendo os primeiros anos da aeronáutica está inserida num quadro maior, havendo uma rede internacional que competia por resultados e espaço público. Tal tese também foi sinalizada por Tobin Heppenheimer

18

. Nesta perspectiva, a questão da dirigibilidade dos balões de hidrogênio utilizados durante o século XIX também era debatida. De certa maneira, Carlier demonstrava que a questão aérea apresentava um processo histórico que retomava ao século XIX, sendo o balonismo a primeira forma de voo tripulado conhecida, e as implicações políticas quanto ao uso de balões em diferentes conflitos armados.

Um ponto relevante neste estudo comparado realizado por Carlier seria a definição que os cenários dos Estados Unidos e França respondiam por características próprias, com respectivas características culturais, políticas e tecnológicas. Apesar de alguns pontos de ligação, era necessário considerar que o momento histórico de construção e invenção dos primeiros aviões, no cenário dos Estados Unidos, fora intensamente reconstruído posteriormente.

Com o centenário do voo dos irmãos Wright, em 2003, observa-se uma variedade maior de trabalhos produzidos sobre a história da aeronáutica. Destacam- se os trabalhos publicados pelo periódico Technology and Culture

19

, que fortaleceu um pressuposto historiográfico que ia além do progresso tecnológico isolado. Neste periódico, são apresentados diversos artigos que buscam uma analise da interação entre contextos sociais e históricos com o processo de desenvolvimento tecnológico, tornando possível trabalhos pelo viés culturalista. Tendo como foco a questão cultural, destaca-se o estudo coordenado por Dominic Pisano, em The Airplane in American Culture, pois neste trabalho foram analisadas as formas de representação e repercussões sociais da invenção do avião presentes nos jornais, literatura e formas artísticas da época. A partir de pressuposto externo ao processo de

17

CARLIER, Claude. Le Match France-Amerique, Paris Economic 2003.

18

T.A Heppenheimer. First Flight: the Wright brothers and the invention of Airplane . Hoboken, N.J: John Wiley, 2003.

19

Technology and Culture : periódico especializado em história da tecnologia voltado a diversas disciplinas e ao

público de leitores em geral, bem como especialistas. Os artigos incluem trabalhos multidisciplinar: engenheiros,

antropólogos, sociólogos, economistas, curadores de museus, arquivistas, acadêmicos, bibliotecários,

educadores, historiadores e muitos outros. Além de ensaios acadêmicos, cada edição traz resenhas de livros e

opiniões de novas exposições do museu. Para acender debates importantes e chamar a atenção para temas

específicos, o jornal publica ocasionalmente questões temáticas. Tecnologia e Cultura é o jornal oficial

da Sociedade de História da Tecnologia (SHOT)

(24)

invenção, os diversos autores reunidos nesta obra apresentam relevantes estudos a respeito da imagem pública da invenção.

“The Airplane in American Culture, exemplifies aspects of as significant twentieth-century technology as it comes in contact with the ebb and flow of cultural forces in American society. It is my hope that the book will sever as an entry into the social and cultural history of aviation, and that it will help to identify areas in which the airplane played a part in the cultural history of the United States. The areas outlined in this collection and other relevant ones could form the basis for a wide scale reevaluation of the conceptual framework for the history of aviation. If the book succeeds as an initial attempt to delineate areas of interest for in-depth research in the social-cultural history of aviation, it will have fulfilled my fondest expectation for it

20

.”

Neste sentido, tendo como base tais elementos historiográficos, o presente trabalho busca a utilização de uma metodologia que transcenda as leituras biográficas imediatas. A partir de uma análise cultural dos jornais observa-se uma oportunidade de analisar as estratégias de montagens e remontagens da biografia de Santos-Dumont. Por outro lado, busca-se a montagem de um quadro expositivo destes argumentos e interpretações que são atribuídos a Santos-Dumont ao longo de sua trajetória. Este quadro teria a função de apresentar os conteúdos em contraposição com o contexto histórico. Além do recorte temático a respeito das experiências de Santos-Dumont, o quadro busca compreender a formatação e disposição destes artigos ao longo do período estudado.

4. AVIAÇÃO E JORNAIS NO INICIO DO SÉCULO XX

Nas últimas décadas do século XIX e nos primeiros anos do século XX, a aviação ganhou um novo impulso com os avanços e conquistas de uma geração de inventores. Em paralelo, a rotina das oficinas e os testes no campo de provas criavam um público ávido por novidades e as crônicas cresciam e alimentavam a procura dos jornalistas pelos progressos da aviação. Nas páginas dos jornais, as notícias sobre aviação ainda apreciam com uma nova fronteira da ciência, que despertava um misto de aventura e desafio.

20P

ISANO, Dominick, The Airplane in American Culture. University of Michigan Press, 2006 pg15

(25)

Uma das primeiras colunas dedicadas à aviação em jornais de grande circulação foi Aerostation, editada pelo jornal La Matin, em 1898. Outros espaços dedicados à prática de balonismo também foram recorrentes em jornais como Le Figaro e Le Press. Os artigos e publicações apresentavam em linhas gerais alguns elementos que, até aquele período, eram exclusivos de alguns pioneiros. Autores como Emmanuel Aimé, que assinava artigos para o jornal The New Iorque Times, traziam ao grande público um debate sobre a aviação que antes estava restrito aos círculos que se formavam em torno do recém criado Aeroclube da França.

Desde o final do século XIX, os principais jornais americanos traziam notícias e relatos de experiências com dirigíveis e os primeiros modelos de planadores. O balonismo e o automobilismo foram temas de grande impacto, de tal maneira que seu crescimento acabou por transferir as crônicas esportivas para artigos em colunas específicas, possibilitando a introdução de colunas regulares em jornais.

Nas palavras de Santos-Dumont: se quando nas ruas de Paris apareceu o primeiro automóvel se quando a Torre Eiffel foi circunavegada não tivesse a imprensa incentivando essas iniciativas, acompanhando de perto o seu progresso, não teríamos hoje, estou certo, as locomoções de automóveis e maquinas aéreas, que são o orgulho de nossa época.

21

O New Iorque Herald foi um jornal de grande distribuição baseado em Nova Iorque que existiu no período 6 de maio de 1835 a 1924. A primeira edição do documento foi publicado por James Gordon Bennett, (1795 - 1872).O jornal financiou Henry Morton Stanley em sua expedição para a África para encontrar David Livingstone, e em 1879 apoiou a malfadada expedição de George W. DeLong à região ártica .

A imprensa foi uma das principais formas de comunicação ao grande público dos avanços técnicos da aviação. Os pilotos e suas máquinas, apesar de poucos numerosos, ganharam uma dimensão muito maior com as representações e crônicas trazidas pelos jornais de grande circulação. De diferentes maneiras a imagem de liberdade, risco, velocidade e superação passaram a ser representadas através de artigos em jornais, ilustrações em capas de revistas e uma infinidade de materiais editoriais. Nos jornais norte-americanos, britânicos e franceses, além das

21

DUMONT, Alberto Santos. O que eu vi o que nos veremos. São Paulo 1918.

(26)

crônicas que retratavam e comentavam o dia-dia dos pioneiros, uma onda de publicidade foi criada utilizando máquinas voadoras.

Na virada do século XIX ao XX observoua-se um momento singular neste contexto, não apenas pelo já consagrado crescimento das redações dos jornais interligados apor correspondentes via cabo telegráfico, mas, sobretudo, pelo crescimento de uma indústria de comunicação, ou seja, o crescimento de uma atividade que alcançava seu patamar sócio-cultural, como produtor e reprodutor de valores e práticas sociais. Para Santos-Dumont, esta expansão favoreceu sua introdução na mídia impressa, principalmente, pelo jornal Herald, que se expandia no cenário europeu.

Em 4 de outubro de 1887, Bennett Jr. lançou o Herald Europeia editado em Paris, França. Após Bennett Jr deslocar-se para Paris, o The New Iorque Herald sofreu de sua tentativa de gerir o seu funcionamento em Nova Iorque por telegrama.

Quando o Herald estava ainda sob a autoridade da sua editora original Bennett, que foi considerada a maior invasão e sensacionalistas nos principais jornais de Nova Iorque na época. A sua habilidade para entreter o público com oportunas notícias diárias tornou o jornal líder em circulação do seu tempo.

Uma das primeiras questões levantas pelos jornais frente aos pioneiros da aviação foi a navegação aérea. Nas páginas dos grandes veículos de comunicação, os dirigíveis construídos por Santos-Dumont completavam um ciclo de desenvolvimento que advinha do século XIX, além de demonstrar a confiabilidade dos motores à combustão interna para a aviação.

Os colunistas e especialistas que vinham a público trazidos pela necessidade de uma análise técnica dos fatos, acabavam por criar um espaço de divulgação científica, uma janela que trazia uma amostra de todo um universo de experimentação e criação presente nos primeiros anos da aviação.

Embora otimistas muitos jornalistas apresentavam uma avaliação duvidosa,

trazendo para os leitores a realidade de uma atividade que ainda apresentava um

ardo caminho para se consolidar como um meio de locomoção. Mesmo sobre o

manto da fantasia e modernidade, a aviação nos primeiros anos do século XX sofria

críticas dos observadores e comentadores presentes nos principais veículos de

comunicação impressa.

(27)

5 ACERVOS DOCUMENTAIS A RESPEITO DE SANTOS-DUMONT

5.1 ACERVOS PESSOAIS DE SANTOS-DUMONT

Durante ao anos de 1898 à 1904, Santos-Dumont contratou os serviços de empresas especializadas em reunir matérias de jornais. Qualquer artigo, ilustração e notícias de jornais de Paris, Londres e Nova Iorque sobre assuntos aeronáuticos eram coletados e enviados ao brasileiro. Desta forma, foi reunida uma coleção de diversos documentos dos mais variados tipos e espécies documentais. Santos- Dumont trouxe-a consigo para o Brasil, guardando-a na Encantada, sua residência de Petrópolis, onde permaneceu até seu falecimento, quando passou aos cuidados de Jorge Toledo Dodsworth, casado com a sobrinha de Santos-Dumont, Sophia Dumont. Os documentos foram reunidos pela família num baú de vime com os

“papéis” de Santos-Dumont, que foi depositado no porão da sua residência no Flamengo – RJ, onde permaneceu por mais de 30 anos.

Com o falecimento de. Jorge Toledo Dodsworth, em 1969, o acervo foi deixado sob a guarda do Ten. Brig. Ar Nelson Lavenère-Wanderley. A documentação encontrava-se em péssimas condições naquela época. Não existia ainda o Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro e o mar ficava a poucos metros da casa, invadindo o porão.

Nos três anos subsequentes, o Brigadeiro cuidou dos documentos, organizando-os em cinco volumes encadernados. Ele foi responsável pela primeira organização do acervo em formato de coleção

22

, tendo um objetivo biográfico especifico, de construir uma interpretação da trajetória do Santos-Dumont. O próprio Brigadeiro era um importante biógrafo da trajetória deste pioneiro da aviação. Ao longo de décadas coletou e agrupou documentos que foram de grande valia na montagem de sua cronologia das experiências. O estudo da interpretação do Nelson L. W., conforme fora apresentado por ele, no Ciclo de Conferências Comemorativo

22

Cabe registrar: alguns destes documentos, encontram-se em fase de organização do acervo, poderão ser

identificados com espécies documentais diferentes. Assim sendo, esta quadro representam a quantidade

aproximada de documentos do acervo. A respeito das coleções e sua influência na constituição dos arquivos

pessoais ver: MENESS, Ulpiano T. Bezerra. Memória e Cultura Material: Documentos Pessoais no Espaço

Público, Revista Estudos históricos, Rio de Janeiro, CPDOC/FGV, 1998 – 21, (p. 89-103).

(28)

do centenário do nascimento de Alberto Santos-Dumont

23

, demonstra uma forma de construção biográfica, edificada a partir do estrito uso de fontes primárias, muitas delas oriundas do próprio acervo da família de Santos-Dumont

Estes volumes demonstram não apenas uma farta coleção de recortes de jornais, cartas e fotografias, como também uma montagem temática a respeito da vida e obra de Santos-Dumont. Esta montagem se torna clara, na medida que, ao longo dos volumes estão memorandos e documentos pertinentes à coleta e produção deste acervo. Contudo, esta organização acabou por criar um conjunto de documentos avulsos que não foram utilizados nos álbuns: no total possuem em torno de 1473 unidades documentais.

Quadro 1

24

- Álbuns do Acervo Santos-Dumont Espécie Volume

I

Volume II

Volume III

Volume IV

Volume V Total Textos

manuscritos 19 40 22 29 105 215

Jornais 292 226 318 31 260 1108

Fotocopias 23 20 28 177 165 413

Fotografia 94 26 33 154 17 324

Outros 7 35 37 25 10 114

Total por

Volume 418 341 438 416 557 2174

Com o passar dos anos, foi crescendo a necessidade do acervo de ganhar um tratamento que lhe oferecesse uma maior visibilidade. Neste sentido, em agosto de 2004 os herdeiros firmaram um termo de doação do acervo à Força Aérea Brasileira. Após a doação foi realizada a conservação do acervo em cooperação com o Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), tendo início a higienização e a digitalização individual de todos os documentos.

O Acervo Santos-Dumont assume um papel fundamental na consolidação dos estudos biográficos do Santos-Dumont como agente histórico, ou ligados à história

23

O texto da conferência proferida no Instituto de Geografia e Historia Militar do Brasil, em 2 de outubro de 1973.Tal texto abre a série de quatro volumes que agrupam os principais documentos apresentados pelo biógrafo. Hoje faz parte do acervo do CENDOC, Centro de Documentação Histórica da Aeronáutica.

24

Fonte: Projeto Santos-Dumont. Disponível em

<http://www.fab.mil.br/portal/personalidades/sdumont/sdumont_acervo>. Acesso em: 10 setembro. 2010.

(29)

da aviação. A característica marcante de um arquivo pessoal, sendo possuidor de uma grande variedades de espécies documentais, fica muito visível neste acervo. O grande leque de fontes oferece ao pesquisador um universo de análise amplo, tanto para elaboração de novas leituras do passado como também na construção de novas hipótese.

Hoje, o Acervo Santos-Dumont

25

encontra-se no Centro de Documentação Histórica da Aeronáutica(CENDOC) e hoje pertence ao acervo de documentação do INCAER. Porém, devido à grande variedade de documentos o acervo necessita de um estudo mais aprofundado do seu conteúdo, que possibilite um arranjo documental mais completo e diversificado.

O acervo iconográfico publicado nos jornais contemporâneo das experiências de Santos-Dumont demonstra um rico universo de interpretações deste brasileiro no inicio do século XX. As caricaturas, perante a biografia de Santos-Dumont, assumem um sentido singular, pois mostram como a imagem pública do brasileiro se relacionava com todo um universo de valores e estereótipos da vida cotidiana.

De maneira geral, ao apresentarmos as diferentes leituras biográficas construídas tendo como base este acervo, no que tange ao Santos-Dumont e à história da ciência, temos, além da sua trajetória pessoal, as formas de captura e usos de sua memória. Santos-Dumont como patrono da Força Aérea Brasileira incorpora uma série de mitos que fundamentam posturas sociais, isto é, legitimam o status de uma ciência nacional. Em certa medida, o estudo da construção dos mitos fundadores nos introduz nas estratégias de representação do passado.

5.2 FONTES COMPLEMENTARES .

Embora o acervo existente seja diversificado, uma pesquisa que ofereça uma complementação deste material fica evidente. A partir de um estudo maior, é possível a montagem de um quadro comparativo da imagem de Santos-Dumont.

Assim como, o contexto e leituras sociais na época da construção do 14Bis e nos anos seguintes, oferecem uma visão mais profunda do conjunto da obra e vida do inventor brasileiro.

25

Mais informações sobre Projeto Santos-Dumont. Disponível em:

<http://www.fab.mil.br/portal/personalidades/sdumont/sdumont_acervo>. Acesso em: 10 setembro 2010.

(30)

Um percentual destas fontes referentes ao cenário norte americano já se encontra disponível em arquivos online

26

, oferecendo um ponto de referência para a elaboração de uma base de dados que possibilite um comparação entre os dois acervos.

Num primeiro momento, a pesquisa procurou coletar todas as referências diretas a Santos-Dumont entre anos 1905 até 1910, (tabela 2) contendo artigos, editoriais e ilustrações em jornais norte americanos.

Tabela 2

Estados 1905 1906 1907 1908 1909 1910

Nova Iorque 139 122 77 95 30 10

Washington DC 26 25 28 18 9 2

Flórida 28 25 30 30 4 --

Califórnia 36 30 57 38 -- --

Howrah 3 --- --- --- -- --

Kentucky 15 16 11 11 1 --

Missouri 2 -- --

Nebraska 7 8 3 2 -- --

Texas 3 4 1 1 -- --

Virginia 19 18 19 19 -- --

Minnesota 10 -- --

Arizona 1 3 2 1 -- --

Ohio 2 1 -- --

Total 287 253 231 215 44 12

Esta primeira coleta chama a atenção pela amplitude das diversas regiões que faziam referência a Santos-Dumont. O principal centro de disseminação de artigos sobre o brasileiro nos Estados Unidos ainda se mantinha em Nova Iorque.

Contudo, os jornais editados na Califórnia se destacam não apenas pelo número, mas pela forma com que tratavam o tema. A grande maioria, além de retransmitirem muitas das informações técnicas do voo, também conduziam uma certa reinterpretação dos artigos editados em Nova Iorque.

De diferentes maneiras, a imagem de liberdade, risco, velocidade e superação passaram a ser representadas através de artigos em jornais americanos.

As ilustrações em capas de revistas e uma infinidade de materiais editoriais demonstram o grande apelo público que o tema, assim como a trajetória de Santos- Dumont, teve neste momento. Nos jornais norte americanos, além das crônicas que

26

The New Iorque Time <http://query.nytimes.com/search/sitesearch?query=Santos+dumont&srchst=cse>

The Washington Post <http://pqasb.pqarchiver.com/washingtonpost_historical/>

(31)

retratavam e comentavam o dia-dia dos pioneiros, também observa-se uma onda de crônicas, caricaturas e ilustrações em geral que foram produzidas utilizando máquias voadoras.

Num segundo momento, foram coletados os artigos que faziam uma referência à imagem pública do Santos-Dumont, e de como a imprensa americana e britânica, no inicio do século XX, tratava as questões referentes à aviação e principalmente à posição de Santos-Dumont neste processo.

6 RESUMO DOS CAPITULOS E ANEXOS

Capítulo 1

O primeiro capítulo busca apresentar as primeiras referências de Santos- Dumont nos jornais Americanos. Neste momento destaca-se sua atuação na construção dos primeiros dirigíveis dos anos 1898 à 1904, assim como o debate público quanto a dirigibilidade dos balões. A aeronáutica como campo de estudo ainda era um campo em aberto no final de século XIX. Uma série de experimentos já apontavam duas direções bem definidas: mais pesado que o ar, e os dirigíveis . No entanto, foi ainda sob a ótica do balonismo que Santos-Dumont começou sua atuação internacional e alcançou um patamar de grande repercussão.

Capítulo 2

Retorno de Santos-Dumont ao cenário europeu e sua introdução na discussão a respeito do voo mais pesado que o ar. Analisar como o tema era trabalhado pela imprensa, no que se refere à discussão sobre qual seria o modelo mais apropriado: avião ou dirigível, e as possibilidades que a aviação teria na sociedade da época

Capítulo 3

Criação dos prêmios e a atuação reguladora do Aeroclube da França. O

reconhecimento do voo do 14BIS e de Santos-Dumont no contexto americano.O

debate público sobre a primazia do voo e os critérios de reconhecimento. Santos-

Dumont e a construção do Demoiselle. Desenvolvimento da aviação no que se

refere ao aumento da autonomia dos aviões e potência dos motores.

(32)

Capítulo 4

Trajetória pública de Santos-Dumont como divulgador da aviação e seu papel no debate público pela consolidação da aviação. Desdobramentos sociais do voo de travessia do Canal da Mancha, por Blériot. Importância dos voos transoceânicos para o debate público nos jornais. O Demoiselle e a popularização da aviação como um elemento cultural, carregando valores de vanguarda e modernos perante a sociedade da época.

Anexo

Demonstração da diversidade de material publicado tendo como foco a

trajetória de Santos-Dumont. Destacam-se as ilustrações e as caricaturas. No

entanto, devido ao volume e à natureza específica das fontes de pesquisa, este

material será tratado de forma complementar, sem uma análise iconográfica

profunda. O objetivo desta exposição seria divulgar e sinalizar possíveis tópicos que

foram levantados no decorrer da pesquisa textual. Para futuras pesquisas este

material se destaca como uma rica fonte de pesquisa iconográfica.

(33)

Capitulo 1: O dirigível e a invenção da navegação aérea

1 AS PRIMEIRAS REFERÊNCIAS A SANTOS-DUMONT NA IMPRESSA AMERICANA

1.1 DO BALÃO AO DIRIGÍVEL

As primeiras referências em jornais americanos ao nome de Santos-Dumont remontam ao final do século XIX, a 1898. Santos-Dumont já conduzia automóveis e seu nome era mencionado nas colunas esportivas que começavam a se tornar parte integrante dos jornais. Contudo, a presença mais marcante nos jornais se deu a partir do início de suas atividade como balonista.

O balonismo e o automobilismo foram temas de grande impacto, seu crescimento acabou incentivando a transferência das crônicas esportivas eventuais, para artigos específicas possibilitando a introdução de colunas regulares nos jornais.

Pequenas colunas especializadas e crônicas noticiaram as experiências aeronáuticas trazendo ao grande público as várias questões ligadas ao início da aeronáutica

27

.

Em 1898, após um período de aprendizagem na condução de balões de voo livre, Santos-Dumont construiu o seu próprio balão, o Brasil, com pouco mais de 110 metros cúbicos de hidrogênio. Inovou a técnica de construção usando a seda japonesa, reduzindo o lastro e o peso da barquilha. Foi com a repercussão do voo do balão Brasil que foram publicadas as primeiras referências a respeito de Santos- Dumont.

Nesta mesma época, o jornal The New Iorque Herald, que começava a operar uma edição europeia, iniciava uma longa trajetória de artigos que iriam acompanhar as diversas ações públicas de Santos-Dumont. O exemplo deste vínculo com o The New Iorque Herald demonstra a importância dos jornais neste contexto, onde a participação destes não se limitava apenas a publicação de artigos. As iniciativas de grande mecenas como James Gordo Bennett Junior, proprietário do The New Iorque Herald, em financiar os primeiros torneios ciclísticos de Paris-Brest-Paris(1891) e as primeiras corridas automobilísticas Paris-Rouen em 1894 e 1895, faziam com que a

27

Hartamann, Gerard. L´ aéronutique dans La presse. Paris, Hachette.2004. pg25

(34)

prática esportiva começasse a se popularizar como lazer para todos, sendo retratada e divulgada nos jornais.

No mesmo ano, Santos-Dumont iniciou a construção de um balão dirigível, o N-1. No dia 18 de setembro de 1898, realizou sua primeira tentativa de voo com seu dirigível. Contudo, o aparelho foi jogado de encontro às árvores do Parque da Aclimatação, no bosque de Bolonha em Paris. Em uma segunda tentativa, em 20 de setembro, Santos-Dumont decolou na presença de 2 mil espectadores, atingiu uma altura de cerca de 400 metros, manobrou com destreza, mas na descida uma falha em uma das válvulas do invólucro fez o dirigível perder a rigidez e cair.

28

Sua queda foi noticiada, bem como várias das inovações incorporadas por ele ao dirigível. A idéia de um invólucro com um motor à gasolina despertou o interesse da revista americana Scientific American

29

, que publicou extenso artigo ilustrado.

Esta publicação foi importante por introduzir o trabalho de Santos-Dumont num veículo editorial vinculado a divulgação da ciência

30

, uma vez que neste período não havia grande número de periódicos ligados a aeronáutica.

Figura 1 Ilustração publicada pela revista Scientific American em 1898 fazendo alusão ao sistema propulsor.

28

CENDOC, Ascension Mouvemente. En Ballon Dirigeable. Acervo Santos-Dumont, SD1 096.

29

CENDOC, Scientific American, 29 de outubro de 1898. Acervo Santos-Dumont, SD1 089.

30

Luisa Massarani , Ideu de Castro Moreira. Divulgación de La ciencia: perspectivas históricas y dilemas

permanentes. In Quark: Ciencia, medicina, comunicación y cultura. Número 32, abril-junho2004

(35)

Poucas revistas traziam artigos a respeito da aeronáutica, no caso de Santos- Dumont observa-se que os artigos dedicados aos seus experimentos ultrapassavam os limites deste espaços editoriais que se dedicavam ao papel social de vulgarização científica

31

.No artigo da Scientific American o enfoque principal foram os elementos centrais da aeronave, principalmente o sistema de escapamento do motor que diminuía os riscos de explosão.

Nos anos seguintes a produção de Santos-Dumont se manteve num ritmo acelerado, em 1899 construiu dois novos dirigíveis. O N-2 caiu logo no primeiro teste. O N-3 voou diversas vezes sobre a capital francesa. Os voos com seus dirigíveis se destacavam pela dimensão publica que ganhava a cada exibição. A solução dada por ele para acoplar um motor à explosão ao invólucro cheio de hidrogênio foi vista como um avanço significativo para a aerostação

32

.

2 PRÊMIO DEUTSCH.

Em 1900, motivado pelo prêmio criado pelo magnata do petróleo Henri Deutsch de La Meurthe começa a construir um modelo específico para competição.

Em 1º de agosto ficou pronto o dirigível N-4, bem a tempo de uma demonstração aos membros do Congresso Internacional de Aeronáutica. Contudo, devido ao mau tempo, o novo aparelho ficou impossibilitado de realizar novos testes em campo aberto restando assim testá-lo no hangar. Por causa do tempo frio e úmido e do vento produzido pela hélice, Santos-Dumont contraiu uma pneumonia, que forçou o inventor a fazer uma pausa em suas atividades.

O N-4 era um projeto diferente, tinha uma forma mais alongada do que o anterior, era maior e com um motor mais potente. Usava lastro líquido pela primeira vez na aerostação. Para reduzir o peso, Santos-Dumont ia sentado em um selim de bicicleta. Porém o modelo mostrou-se frágil e instável. Santos-Dumont viu cair por água a possibilidade de disputar o prêmio Deutsch durante os eventos realizados em 1900 em Paris.

31

VERGARA, Moema de Rezende. Ensaio sobre o termo vulgarização cientifica no Brasil no século XIX.

Revista Brasileira de História da Ciência, Rio de Janeiro, V1 n2, p 137-145, jul-dez 2008.

32

NICOLAOU, Stephane. Les premiers dirigeables français. Le Bourget: ETAI. Musée de l‟Air et de l‟Espace,

1997

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