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Aula 01. Auditor da Receita Federal Prof. Nathalia Masson. Direito Constitucional Constituição: conceito, estrutura e supremacia constitucional

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Aula 01

Direito Constitucional – Constituição: conceito, estrutura e supremacia constitucional

Auditor da Receita Federal

Prof. Nathalia Masson

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Sumário

SUMÁRIO ... 2

CONSTITUIÇÃO: CONCEITO, ESTRUTURA E SUPREMACIA CONSTITUCIONAL ... 3

(1)RECADO INICIAL ... 3

(2)CONSTITUIÇÃO: CONCEITO ... 3

(3)CONSTITUIÇÃO: ESTRUTURA ... 9

(4)SUPREMACIA DA CONSTITUIÇÃO E ANÁLISE DO PRINCÍPIO HIERÁRQUICO DAS NORMAS ... 12

(5)CONCEPÇÕES DE CONSTITUIÇÃO ... 16

(5.1)CONSTITUIÇÃO SOB O PRISMA SOCIOLÓGICO ... 16

(5.2)CONSTITUIÇÃO SOB O ASPECTO POLÍTICO ... 18

(5.3)CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO JURÍDICO ... 19

(6)OUTRAS QUESTÕES: PARA TREINAR ... 24

(7)RESUMO DIRECIONADO ... 30

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 33

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CONSTITUIÇÃO: CONCEITO, ESTRUTURA E SUPREMACIA CONSTITUCIONAL

(1) Recado inicial

Lembre-se que esta aula foi produzida para concurso de Auditor da Receita Federal, sendo datada de junho de 2022. Como o conteúdo de Direito Constitucional é o que mais se altera no mundo jurídico (em razão das constantes mudanças legislativas e, em especial, das incessantes novas decisões do STF), não desperdice seu tempo ou arrisque sua aprovação estudando um material desatualizado.

Busque sempre a versão oficial da aula no site do nosso curso!

(2) Constituição: conceito

Quando você pensa na palavra “Constituição”, o que lhe vem à mente? Talvez você pense em constituir, criar, delimitar... Todos esses termos realmente se associam à palavra que estamos analisando. Muitas vezes, aliás, a palavra “Constituição” é apresentada em frases comuns do nosso dia- a-dia com a intenção de indicar uma criação ou organização de entidades ou seres. Por exemplo: você já pode ter dito em algum momento que iria constituir uma sociedade ou um grupo no WhatsApp.

A partir dessas ideias iniciais, sugiro que você comece a pensar na nossa Constituição como um conjunto de normas que vão criar, estruturar e organizar o nosso país, o nosso Estado Nacional.

Veja, então, que as Constituições são documentos muitos importantes. Mais que isso: são essenciais! Todo Estado Nacional (todo país) deve possuir a sua. Afinal de contas, em todos os países teremos que organizar as regras que vão orientar o funcionamento do Estado. E serão as Constituições que vão dizer de que forma o Estado vai funcionar (quais Poderes cumprirão quais funções, quais serão os direitos e as garantias asseguradas aos indivíduos, etc.).

Repare que o art. 16, da Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão (da Revolução Francesa, de 1789) reforça a explicação do parágrafo anterior, ao dizer que: “Toda sociedade na qual não está assegurada a garantia dos direitos nem determinada a separação dos poderes, não tem constituição”.

Em prova, essa noção introdutória sobre a Constituição pode ser exigida de você. Quer saber de que forma? Vamos resolver juntos duas questões que trataram do assunto:

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Questões para fixar

[CESPE - 2014 - TJ-SE - Técnico Judiciário] Acerca dos direitos fundamentais e do conceito e da classificação das constituições, julgue o item a seguir:

Do ponto de vista jurídico, a constituição funda as bases do ordenamento jurídico, contendo, em seu corpo, disposições estruturais acerca do funcionamento do Estado, seus entes e órgãos, e dos limites à atuação estatal, quais sejam, os direitos e garantias fundamentais do cidadão.

Comentário:

Este item é verdadeiro por definir corretamente que o Estado (o país) surge (juridicamente falando) quando a Constituição é apresentada e que o documento constitucional é que irá estabelecer as regras centrais de estruturação do Estado (seus entes e órgãos), bem como trará os direitos e garantias fundamentais do cidadão.

Gabarito: Certo [FUNDEP-Gestão de Concursos - 2014 - TJ-MG - Juiz de Direito Substituto] Sobre o conceito de Constituição, assinale a alternativa CORRETA:

A) É o estatuto que regula as relações entre Estados soberanos.

B) É o conjunto de normas que regula os direitos e deveres de um povo.

C) É a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação, à formação dos poderes públicos, direitos, garantias e deveres dos cidadãos.

D) É uma norma de um Estado, que regula os direitos e deveres de um povo nas suas relações.

Comentário:

Qual alternativa você marcaria? Ora, se queremos um conceito de Constituição, só podemos assinalar a letra

‘c’ que corretamente identifica que ela representa a lei suprema e fundamental do Estado, pois prevê sua estrutura essencial, trata do funcionamento dos Poderes e estabelece direitos deveres e garantias para os indivíduos.

Gabarito: C

Dando sequência ao nosso estudo, entenda que apesar de na doutrina encontrarmos vários e diferentes conceitos para o termo “Constituição”, quero lhe mostrar, neste início do nosso curso, um muito importante, de um autor português respeitadíssimo no mundo todo, que é J.J. Gomes Canotilho.

Segundo ele, uma constituição ideal deve conter os seguintes elementos:

a) deve ser escrita;

b) deve possuir um conjunto de direitos e garantias individuais;

c) deve estabelecer expressamente o princípio da separação dos poderes;

d) deve adotar um sistema democrático formal.

(5)

Seguindo em nossa conversa, quero lhe lembrar que como a Constituição trata dos assuntos mais importantes do Estado, ela ocupa no ordenamento jurídico uma posição diferenciada. “Como assim?”, você me pergunta. Ora, meu caro aluno, quando você imaginar o conjunto de normas (leis, medidas provisórias, decretos...) que temos em nosso país, não as visualize de forma espalhada e bagunçada! Nosso ordenamento jurídico é muito organizado e poderia ser visualmente ilustrado da seguinte maneira:

Essa estrutura é conhecida como “pirâmide de Kelsen” (Hans Kelsen é um dos juristas mais importantes da história da Teoria do Direito, tendo escrito em 1934 uma obra que é referência mundial no assunto, chamada “Teoria Pura do Direito”). Ela foi pensada pelo professor austríaco para explicitar a ideia de que existe hierarquia entre as normas que integram o ordenamento jurídico, vale dizer, as normas não têm a mesma importância e, por isso, não podem ser colocadas no mesmo patamar (no mesmo plano). Assim, existirão normas que serão superiores e normas que serão inferiores. As inferiores são consideradas normas fundadas pelas superiores (que, por isso, são chamadas de fundantes) e delas retiram seu fundamento de validade, sua razão de existir. Para visualizar uma correta definição de hierarquia e de superioridade, veja a assertiva abaixo:

Constituição Federal

Leis (complementares, ordinárias, delegadas);

Resoluções; Decretos legislativos e Medidas

provisórias

Decretos Regulamentares; Instruções normativas; Portarias ...

Normas Infraconstitucionais

Normas Infralegais

(6)

Questões para fixar

[ESAF - 2013 - MF - Conhecimentos Básicos - Adaptada] Quanto à hierarquia das normas, julgue o item:

Há hierarquia entre as normas jurídicas quando uma delas, a norma superior, é fundamento de validade da outra, a norma inferior.

Comentário:

Sabendo que nosso ordenamento jurídico é escalonado (formado por normas superiores e normas inferiores), você deve voltar à ilustração posta acima e identificar qual é a norma superior a todas as demais.

Ficou fácil visualizar a importância da Constituição agora, certo? Ela ocupa o ápice (o topo) do ordenamento jurídico, sendo superior a todas as outras (princípio da supremacia da Constituição)! E se ela é superior a todas as outras normas, é porque todas essas outras normas (que são chamadas de infraconstitucionais) a ela devem irrestrita obediência. Ficou confuso? Vou explicar novamente com outras palavras: imagine que uma lei ordinária desrespeite uma regra que está inserida na Constituição. Essa lei pode continuar no nosso ordenamento? Claro que não! Afinal, ela é uma norma inferior, que só poderá permanecer validamente na ordem jurídica se obedecer completamente a norma superior, que é a Constituição. Aliás, é para isso que serve o “Controle de constitucionalidade”: para fiscalizarmos todas as normas inferiores feitas, se elas estão (ou não) de acordo com a norma superior (com a Constituição). E as que não estiverem terão que ser retiradas da ordem jurídica (serão declaradas inconstitucionais).

Gabarito: Certo [CESPE - 2018 - MPE-PI - Analista Ministerial - Área Processual - Adaptada] Julgue o item seguinte, acerca da supremacia da Constituição e da aplicabilidade das normas constitucionais:

Decorre da noção de supremacia da Constituição o pressuposto da superioridade hierárquica constitucional sobre as demais leis do país.

Comentário:

O item é verdadeiro, pois realmente há hierarquia normativa (entre normas) em nossa ordem jurídica, estando a Constituição em posição de supremacia (de superioridade) perante as demais.

Gabarito: Certo

Agora, um detalhe importante: nossa Constituição Federal de 1988 foi elaborada pelo chamado “Poder Constituinte Originário” e promulgada em 05/10/1988. Nossos representantes (eleitos pelo povo), se reuniram em uma Assembleia Nacional Constituinte e, de fevereiro de 1987 até outubro de 1988, se dedicaram à redação da nossa atual Constituição. Essas normas, que foram feitas pelo Poder Originário durante o período citado, são chamadas de normas constitucionais originárias.

Uma pergunta para você: de outubro de 1988 até o presente momento, nossa Constituição manteve exatamente a mesma redação? Não. Ela foi objeto de diversas emendas constitucionais, que alteraram vários dos seus artigos. Por que isso ocorre? Ora, as Constituições não podem ser imutáveis

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(ou imodificáveis), pois elas precisam se adaptar às mudanças sociais e à evolução histórica, senão seus textos perdem a sintonia com a realidade. Assim, vez ou outra, nossa Constituição passa por modificações, que nada mais são do que pequenos ajustes que pretendem rejuvenescer seu texto e melhor adequá-lo ao momento histórico. Estudaremos, futuramente, o modo como essas emendas constitucionais são feitas (como elas são apresentadas, discutidas, votadas, etc), mas, nesse momento do curso, futuro Auditor da Receita Federal, eu preciso que você saiba que elas são elaboradas pelo chamado Poder Constituinte Derivado (representado pelo Congresso Nacional) e, por essa razão, também podem ser chamadas de normas constitucionais derivadas.

Pois bem. A explicação acima lhe permite notar que em nossa Constituição existem normas constitucionais que são originárias (pois estão no texto constitucional desde 5/10/1988) e normas constitucionais que são derivadas, que foram sendo inseridas ao longo das últimas três décadas. Mas repare: pouco importa se a norma constitucional é originária ou derivada, ela é constitucional e, por isso, situa-se no topo da pirâmide de Kelsen, no ponto mais alto do ordenamento jurídico. Isso significa que não há hierarquia entre normas constitucionais originárias e normas constitucionais derivadas, já que, rigorosamente, todas as normas constitucionais estão no mesmo plano, se situam no mesmo patamar.

Mas muito cuidado com um detalhe: apesar de não haver hierarquia entre normas constitucionais originárias e derivadas, há uma importante diferença entre elas. As normas constitucionais originárias não podem ser declaradas inconstitucionais, sendo sempre constitucionais (afinal, elas representam a própria Constituição). Já as normas constitucionais derivadas (as emendas constitucionais) devem ser produzidas em obediência as regras que o Poder Originário inseriu na Constituição quando a elaborou. Isso significa que uma emenda constitucional que desobedeça às normas que regulamentam a sua feitura poderá ser declarada inconstitucional. Em outras palavras: as normas constitucionais originárias não podem ser objeto do controle de constitucionalidade; já as normas constitucionais derivadas podem.

Abaixo, um item verdadeiro que ilustra o modo como esse tópico pode ser apresentado em uma prova:

Questão para fixar

[ESAF - 2013 - MF - Conhecimentos Básicos - Adaptada] Quanto à hierarquia das normas, julgue o item:

As emendas constitucionais têm a mesma posição hierárquica das normas constitucionais originárias, embora somente aquelas estejam sujeitas a controle de constitucionalidade.

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Comentário:

Este é um item verdadeiro. Como vimos acima, as emendas constitucionais têm a mesma posição hierárquica das normas constitucionais originárias.

Gabarito: Certo

Considero igualmente importante destacar que não há hierarquia entre as normas constitucionais em razão do conteúdo. Em outras palavras: não seria correto dizer que o art. 5° da Constituição, que consagra direitos e garantias individuais e coletivos é, do ponto de vista hierárquico, superior a um outro artigo constitucional que trate de um tema de menor relevância, como, por exemplo, o art. 242 que, em seu § 2°, determina que “O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal”. Independentemente do assunto tratado, se a norma é constitucional ela é superior e está no topo do ordenamento jurídico.

Olhando agora para as normas infraconstitucionais (que são assim chamadas porque estão abaixo da Constituição), tampouco há hierarquia entre elas, pois estão todas elas no mesmo patamar:

num nível inferior ao da Constituição. Por isso, leis complementares não são superiores às leis ordinárias ou às medidas provisórias. Todas elas (as infraconstitucionais) inovam no ordenamento jurídico, podem prever direitos, deveres e obrigações.

No mesmo sentido, e ao contrário do que muitos podem imaginar, também não há hierarquia entre leis federais, estaduais e municipais: todas são leis, são normas infraconstitucionais. Não pense que a lei editada pela União, por ter abrangência nacional, é superior a uma lei editada por um Estado ou por um Município. Por isso, se houver um conflito entre essas leis, a solução não será dada por critério hierárquico, claro que não. Teremos que verificar qual ente da federação (União, Estados- membros ou Municípios) possui a competência para legislar sobre o tema. Se, por exemplo, a competência para legislar é dos Estados, a lei estadual vai prevalecer; se é dos Municípios, a lei municipal prevalecerá.

Essa discussão sobre a existência ou não de hierarquia entre certas normas, é constantemente objeto de questionamento em prova. Vamos juntos resolver duas questões, para você começar a entender o tipo de pergunta que enfrentará:

Questões para fixar

[MPE-BA - 2015 - MPE-BA - Promotor de Justiça Substituto] No que tange à disciplina normativo- constitucional 2015expressa do processo legislativo (artigo 59 e seguintes da Constituição Federal de 1988), julgue a assertiva:

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Existe hierarquia entre lei complementar e lei ordinária, bem como entre lei federal e estadual.

[ESAF - 2012 - MI - Nível Superior - Conhecimentos Gerais - Adaptada] Sobre a hierarquia constitucionalmente caracterizada entre os atos jurídico-normativos do Poder Público, julgue a assertiva:

As leis complementares são hierarquicamente superiores às leis ordinárias.

Comentário:

Já sabemos que não há hierarquia entre lei ordinária e lei complementar, pois elas estão no mesmo nível hierárquico: ambas são normas infraconstitucionais. Também não há hierarquia entre lei federal e lei estadual: são leis e estão abaixo da Constituição Federal. Desta forma, os dois itens são falsos.

Gabarito: Errado / Errado

Por último, repare que na pirâmide de Kelsen, abaixo das normas infraconstitucionais, temos as normas infralegais. Essas são normas secundárias que não podem gerar direitos, deveres ou prever obrigações. Por serem inferiores às normas infraconstitucionais (que são chamadas também de normas primárias), as secundárias devem obediência a elas, podendo ser invalidadas e retiradas do ordenamento em caso de desrespeito. Em outras palavras: pense em um decreto regulamentar (que é uma norma infralegal). Ele foi editado para regulamentar uma lei. Ele não cria direitos e deveres, ele só facilita a aplicação de uma lei (ela sim cria os direitos e deveres). E se esse decreto desrespeitar a lei, desobedecê-la, ele deverá ser retirado do nosso ordenamento jurídico.

(3) Constituição: estrutura

Agora que você já sabe que todos os Estados Nacionais possuem uma Constituição e que ela representa o documento jurídico mais importante do país, ocupando o topo do ordenamento normativo, quero iniciar a apresentação do nosso documento constitucional vigente: a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Vamos conhece-la melhor a cada aula! E começaremos com a estrutura.

Saiba que, estruturalmente, nossa Constituição pode ser dividida em três partes:

(i) preâmbulo;

(ii) parte permanente (ou parte dogmática) e

(iii) ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias).

Vamos aprender um pouco sobre cada um desses fragmentos.

O preâmbulo é a 1ª parte que você nota na Constituição. Ele vem antes do primeiro artigo e diz o seguinte:

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Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

De largada, preciso que você conheça o entendimento do STF sobre o preâmbulo: ele não é uma norma jurídica, não é uma norma constitucional. Representa um “recado” do legislador constituinte a nós, que somos os destinatários da Constituição. Ele vem antes do texto constitucional, como se fosse uma “carta de intenções” que resume as posições ideológicas (os valores e as intenções) do Poder Constituinte Originário (que é o poder que faz, que elabora, a Constituição). Sua importância é histórica, de guia/diretriz interpretativa.

Como nossa Corte Suprema (o STF) já definiu que o preâmbulo não é norma constitucional, como responder as seguintes perguntas que podem ser feitas pelo examinador?

(i) Uma lei que violar o preâmbulo da Constituição Federal pode ser considerada inconstitucional?

- Não. Afinal, se o preâmbulo não é uma norma jurídica, ele não pode ser considerado uma norma constitucional. Logo, ele não serve de parâmetro (de paradigma) para a declaração de inconstitucionalidade de uma lei. Pensemos em uma situação que pode ser criada pelo examinador em prova: uma Lei Estadual X determina que está proibida a utilização de símbolos religiosos em repartições públicas; o Governador do Estado ajuíza uma ação direta de inconstitucionalidade (ADI) no STF, argumentando que a Lei X desobedece o preâmbulo da Constituição Federal, pois o Preâmbulo da CF diz que o texto constitucional foi promulgado “sob a proteção de Deus”. Claro que o STF não vai considerar a Lei Estadual X inconstitucional por violação do preâmbulo da CF, pois ele não é uma norma constitucional que tenha que ser estritamente obedecida.

(ii) O preâmbulo é norma de repetição obrigatória para as demais esferas da federação? Ou seja: os preâmbulos das Constituições estaduais devem reproduzir o preâmbulo da Constituição Federal?

- O STF diz que não. Afinal, se ele não é norma jurídica, não vincula as Constituições estaduais. Isso significa que os preâmbulos das Constituições estaduais podem ser diferentes.

Para você ter informações adicionais que vão lhe ajudar a gravar a posição do STF sobre o preâmbulo da nossa Constituição Federal, vou lhe contar um caso muito interessante que envolveu o preâmbulo da Constituição do Acre.

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Em 1999, o Partido Social Liberal (PSL), ajuizou uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (a ADI 2076) contra o preâmbulo da Constituição do Acre, pois ele (na época) não trazia a expressão “sob a proteção de Deus”. O partido alegava que o preâmbulo da Constituição do Acre ofendia o preâmbulo da Constituição Federal, que traz a expressão. Aliás, dizia o PSL, essa “omissão” da Constituição do Estado o tornava “o único no país privado de ficar sob a proteção de Deus”.

Ao julgar a ADI, o STF entendeu que o preâmbulo da Constituição Federal não cria direitos e deveres, nem tem força normativa, refletindo apenas a posição ideológica do Poder Constituinte Originário. “O preâmbulo, portanto, não contém norma jurídica”, disse o ministro relator da ação, Carlos Velloso.

Desta forma, o STF firmou o entendimento de que o preâmbulo da Constituição do Acre, ao não usar a expressão “sob a proteção de Deus”, não estava violando a Constituição Federal. Só não invocava a proteção de Deus, mas tudo bem, pois essa frase posta no preâmbulo da Constituição Federal somente reflete um sentimento religioso do Poder Constituinte Originário.

Agora vamos à parte permanente (ou dogmática) da Constituição: ela representa o texto constitucional propriamente dito e se inicia no art. 1° e vai até o 250. São os artigos que organizam o Estado, estruturam os Poderes e estabelecem os direitos e as garantias fundamentais. Essa parte é chamada de “permanente” não porque esses artigos sejam imutáveis e não possam ser modificados:

eles podem sim ser alterados por meio das emendas constitucionais feitas pelo Poder Derivado Reformador. O nome dessa parte (“permanente”) foi dado justamente para diferencia-la do último fragmento da Constituição, que é a parte transitória.

A parte transitória da Constituição é chamada de ADCT (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Seu intuito é o de facilitar a passagem de uma ordem jurídica antiga para a nova. Numa metáfora, é como se o ADCT fosse um “colchão”, que vai amortecer essa mudança de uma Constituição para outra, facilitando o processo de substituição de quando do advento de uma nova Constituição, garantindo a segurança jurídica e evitando o colapso entre um ordenamento jurídico e outro. Suas normas são formalmente constitucionais, embora, no texto da CF/88, apresente numeração própria (vejam ADCT – Ato das Disposições Constitucionais Transitórias). Assim como a parte dogmática, a parte transitória pode ser modificada por reforma constitucional. Além disso, também pode servir como paradigma para o controle de constitucionalidade das leis.

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Questões para fixar

[UFPR - 2014 - DPE-PR - Defensor Público - Adaptada] Quanto ao âmbito da Teoria da Constituição, Normas Constitucionais no Tempo, Hermenêutica Constitucional e Preâmbulos Constitucionais, julgue a assertiva:

O preâmbulo constitucional consiste em um texto introdutório à Constituição, sendo uma declaração de princípios, de caráter obrigatório, vinculativo, cujo conteúdo é de observância necessária aos demais entes da federação, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal.

Comentário:

Assertiva incorreta. O STF, acionado em ação direta de inconstitucionalidade (ADI 2076), definiu que o preâmbulo da Constituição Federal não é norma jurídica, logo não é de observância obrigatória em âmbito estadual, tampouco parâmetro para o controle de constitucionalidade. Foi nessa ADI 2076 que o STF decidiu que o preâmbulo da Constituição do Acre não era inconstitucional por não reproduzir na literalidade o que constava do preâmbulo do texto constitucional federal (na Constituição do Acre não havia menção à proteção de Deus, como o preâmbulo da Constituição Federal faz; e o STF disse que não havia inconstitucionalidade nesse comportamento de não repetir o preâmbulo da CF/88).

Gabarito: Errado [VUNESP - 2014 - DPE-MS - Defensor Público] No que se refere à interpretação da natureza jurídica do preâmbulo da Constituição, segundo jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, julgue a assertiva:

O preâmbulo da Constituição não constitui norma central, não tendo força normativa e, consequentemente, não servindo como paradigma para a declaração de inconstitucionalidade.

Comentário:

A assertiva está correta, segundo o STF o preâmbulo não é uma norma jurídica, não é uma norma constitucional (ADI 2076).

Gabarito: Certo

(4) Supremacia da Constituição e Análise do Princípio Hierárquico das Normas

Primeiramente, futuro Auditor, cumpre informar que o último edital que tivemos para o seu concurso, da ESAF-2012 (banca que não mais organizará o certame), trouxe dois itens muito curiosos, que são os seguintes: “4. Supremacia da Constituição” e “10. Análise do princípio hierárquico das normas”. Ambos se relacionam de forma muito estreita com o tema trazido pelo item 8 do edital, que trata do ”Controle de Constitucionalidade”. Aliás, poderíamos deixar para conversar sobre eles juntamente com o controle.

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Minha opção neste curso, todavia, foi a de trazê-los logo nesta aula 03 (ao invés de esperarmos as aulas 11 a 14, sobre a jurisdição constitucional), a fim de aproximar estes temas da supremacia constitucional e da hierarquia das normas da concepção jurídica kelseniana que vimos no item anterior.

Claro que, futuramente, iremos voltar nas ideias que serão aqui apresentadas, pois falar de escalonamento do ordenamento, status de normas e hierarquia é algo ínsito ao estudo do controle de constitucionalidade. Mas com as informações básicas já discutidas desde este nosso encontro, lhe garanto que será bem mais agradável tratar do controle (talvez o tema mais instigante e interessante da nossa disciplina!).

Enfim, vou começar esta parte teórica lhe lembrando que a expressão “controle de constitucionalidade” deve ser entendida como uma verificação de compatibilidade (de adequação) entre normas: as leis (e os demais atos normativos) e a Constituição. Todavia, você só entenderá bem o controle de constitucionalidade se já tiver assimilado previamente a concepção de Constituição sob o prisma kelseniano.

Como vimos no tópico anterior, nosso mestre estruturou o ordenamento normativo de forma estritamente jurídica, baseando-se na constatação de que toda norma retira sua validade de outra que lhe é imediatamente superior. Segundo ele, no mundo das normas jurídicas, uma norma só pode receber validade de outra, de modo que a ordem jurídica sempre se apresente estruturada em normas superiores fundantes – que regulam a criação das normas inferiores – e normas inferiores fundadas – aquelas que tiveram a criação regulada por uma norma superior1.

Essa relação de validade que Kelsen estabeleceu culminou em um escalonamento hierárquico do sistema jurídico, uma vez que as normas nunca estarão lado a lado, ao contrário, apresentarão posicionamentos diferenciados em graus inferiores e superiores. Nos dizeres de Kelsen, “a ordem jurídica (...) não é um sistema de normas coordenadas entre si, que se acham, por assim dizer, lado a lado, no mesmo nível, mas uma hierarquia de diferentes níveis de normas”2.

Assim, por ser a ordem jurídica “uma construção normativa de diferentes camadas”3, sua unidade é produto da conexão de dependência que resulta do fato de as normas inferiores serem

1. “Consequência disso é o ordenamento jurídico se apresentar como uma estrutura de normas superiores-fundantes e inferiores-fundadas. Sendo que, por norma “superior-fundante” deve-se entender a que regula a criação da inferior- fundada; e, por sua vez, por norma “inferior-fundada” aquela que foi regulada em sua criação por uma norma superior fundante. A esse processo, pelo qual se obtém normas cada vez mais específicas, Kelsen chama “concretização” e, às vezes,

“determinação””. SGARBI, Adrian. Hans Kelsen– Ensaios Introdutórios (2001-2005). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 10.

2. KELSEN, Hans. Teoria geral do direito e do Estado. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 181.

3. KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. 6ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 247.

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produzidas em absoluta conformidade com outra norma que lhes seja superior, lembrando que a Constituição, enquanto representante do escalão normativo mais elevado dessa ordem, é quem, por fim, fixa os critérios que objetivamente vinculam essa tarefa de elaboração das normas inferiores.

Ademais, vale lembrar que nosso documento constitucional é marcado pela rigidez, pois a modificação de suas normas sujeita-se a um procedimento mais sofisticado e dificultoso, que impossibilita a alteração das normas constitucionais pelo (mais simples) mecanismo legislativo estruturado para a feitura de normas infraconstitucionais (basta ler o art. 60, CF/88 que você imediatamente comprova a rigidez!). Esse processo mais detalhado e rebuscado exigido para a modificação das normas constitucionais é, definitivamente, outro fator caracterizante da supremacia formal da Constituição em face das demais normas que compõem o ordenamento. Isso porque, acaso fosse permitido ao legislador ordinário modificar as normas da Constituição a partir da edição de uma norma infraconstitucional comum – como acontece nas Constituições flexíveis –, todas as normas produzidas seriam dotadas da mesma hierarquia, o que desconfiguraria qualquer tipo de supremacia formal de uma norma frente a outra4.

Em síntese, meu caro aluno, a constatação da inequívoca hierarquia normativa entre as normas constitucionais e as demais, justifica a realização do controle de constitucionalidade. Afinal, se a Carta Constitucional encontra-se em posição diferenciada no ordenamento (diga-se, superior), todas as demais normas lhe devem estrita observância e irrestrita obediência e precisam estar afinadas, em absoluto, com os seus preceitos, de modo que qualquer dissintonia possa ser detectada e solucionada em favor da Constituição. A instituição desse instrumental teórico de fiscalização da constitucionalidade dos diplomas é, pois, o que impede que o ideal da supremacia constitucional torne- se mera retórica.

Assim, e a partir da breve digressão exposta, conclui-se que o controle de constitucionalidade pressupõe a rigidez constitucional, e, por consequência, a supremacia formal da Constituição, o que nos permite arquitetar como premissas para a sua realização as seguintes:

(a) a Constituição deve ser escrita e marcada pela rigidez;

(b) é preciso reconhecer que a Constituição é norma superior (supremacia constitucional) e pressuposto de validade de todos os demais diplomas normativos (lembrando que todos esses outros são inferiores);

(c) deve ser estipulada uma relação de parametricidade (de comparação), isto é, feitura de uma

4. FIGUEIREDO DANTAS, Paulo Roberto de. Direito Processual Constitucional. São Paulo: Atlas, 2009, p. 152.

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avaliação de compatibilidade entre a norma superior (Constituição) e o restante do ordenamento jurídico, conferindo primazia (prefrência) sempre a norma fundamento (superior);

(d) deve-se estabelecer uma consequência jurídica ante a violação da parametricidade – por exemplo, o reconhecimento da inexistência, da nulidade ou da anulabilidade do ato inferior incompatível com a Constituição. Aqui no Brasil, como veremos a partir da nossa aula de número 20, adotaremos como regra a de que o ato inconstitucional é nulo (excepcionalmente vamos considerá-lo como anulável).

Bom, vou finalizar nosso estudo sobre a supremacia da Constituição e análise do princípio hierárquico das normas sugerindo algumas questões para nosso treinamento. Vamos resolvê-las juntos!

Questões para fixar

[TRT 21ªR - 2011 - TRT 21ªR-RN – Juiz - Adaptada] Julgue a seguinte assertiva:

A proteção especial dada às normas constitucionais que são “cláusulas pétreas” lhes confere superioridade jurídica, diante do reconhecimento da sua condição peculiar de imutabilidade, elemento de distinção em face das outras normas constitucionais.

Comentário:

Todas as normas constitucionais são dotadas de superioridade, por ocuparem o ápice do ordenamento jurídico. Não há hierarquia entre elas, todavia. Nem mesmo as chamadas cláusula pétreas, cuja importância axiológica (de conteúdo) é indiscutível, são superiores às demais normas constitucionais. O item, portanto, é falso.

Gabarito: Errado [VUNESP - 2014 - DPE-MS - Defensor Público - Adaptada] No que se refere à Hermenêutica Constitucional, analise as assertivas:

Há hierarquia entre normas constitucionais originárias, admitindo-se a declaração de inconstitucionalidade de determinada norma em face de outra, gerando assim declaração das normas constitucionais inconstitucionais.

Comentário:

O STF e a doutrina pátria não admitem a tese da hierarquia entre as normas constitucionais. Todas elas possuem o mesmo status hierárquico-normativo, pois são todas constitucionais (isto é, ocupam o ápice do ordenamento jurídico).

Gabarito: Errado [FGV - 2015 – OAB - Adaptada] Muitos Estados ocidentais, a partir do processo revolucionário franco-americano do final do século XVIII, atribuíram aos juízes a função de interpretar a Constituição, daí surgindo a denominada jurisdição constitucional. A respeito do controle de constitucionalidade exercido por esse tipo de estrutura orgânica, julgue a assertiva abaixo:

A supremacia da Constituição e a hierarquia das fontes normativas destacam-se entre os pressupostos do controle de constitucionalidade.

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Comentário:

Item verdadeiro! De fato, podemos apontar a supremacia e a hierarquia constitucional como pressupostos para a feitura do controle de constitucionalidade.

Gabarito: Certo

(5) Concepções de Constituição

Este tema trazido pelo seu edital é exclusivamente doutrinário. Isso significa que não teremos nenhum artigo da Constituição Federal para lermos, tampouco alguma decisão do STF a ser comentada. Vamos nos concentrar naquilo que a doutrina diz sobre o assunto.

E começaremos lembrando que conceituar de forma precisa o vocábulo “Constituição” é uma tarefa árdua, já que é uma palavra que pode ser utilizada em variados sentidos. Na tentativa de desvendar tal vocábulo, surgiram várias concepções, cada qual construída a partir de uma diferente forma de entender e explicar o Direito. Em que pese serem todas muito diversas e possuírem bases teóricas muitas vezes opostas, são de grande importância doutrinária, pois foram possivelmente adequadas em algum momento histórico (ou segundo um específico prisma de análise) e nos fornecem os elementos para entendermos o constitucionalismo contemporâneo.

Por isso vamos estudar, nos itens seguintes, os sentidos e as concepções de maior repercussão, que disputam a conceituação adequada do termo “Constituição”.

(5.1) Constituição sob o prisma sociológico

O conceito sociológico foi pensado pelo autor alemão Ferdinand Lassalle que, em sua obra “A essência da Constituição” (das primeiras décadas do século XIX), sustentou que a Constituição seria o produto da soma dos fatores reais de poder que regem a sociedade.

Segundo esta concepção, a Constituição é um reflexo das relações de poder vigentes em determinada comunidade. Assim, os contornos dessa Constituição real (ou efetiva) são definidos pelas forças políticas, econômicas e sociais atuantes e pela maneira como o poder está distribuído entre os diferentes atores do processo político.

Oposta a essa “Constituição real”, temos a “Constituição escrita” (ou jurídica) que, ao incorporar num texto escrito esses fatores reais de poder, os converte em instituições jurídicas. Todavia, essa Constituição escrita não passa de um mero “pedaço de papel”, sem força diante da “Constituição real”, que seria a soma dos fatores reais de poder, isto é, das forças que atuam para conservar as instituições jurídicas vigentes.

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Como num eventual embate entre o texto escrito e os fatores reais de poder estes últimos sempre prevalecerão, deverá a “Constituição escrita” sempre se manter compatível com a realidade, pois, do contrário, ela será esmagada (como uma simples “folha de papel") pela sua desarmonia com o que de fato acontece na sociedade.

O autor exemplifica a essencial consonância entre o texto escrito e a realidade fática com uma interessante metáfora:

Podem os meus ouvintes plantar no seu quintal uma macieira e segurar no seu tronco um papel que diga:

“Esta árvore é uma figueira”. Bastará esse papel para transformar em figueira o que é macieira? Não, naturalmente. E embora conseguissem que seus criados, vizinhos e conhecidos, por uma razão de solidariedade, confirmassem a inscrição existente na árvore de que o pé plantado era uma figueira, a planta continuaria sendo o que realmente era e, quando desse frutos, destruiriam estes a fábula, produzindo maçãs e não figos.5

Por outro lado, quando há uma correspondência entre a Constituição real e a escrita, estaremos diante de uma situação ideal, em que a Constituição é compatível com a realidade que ela pretende normatizar. Deste modo, para Ferdinand Lassale, só é eficaz aquela Constituição que corresponda aos valores presentes na sociedade.

Essa concepção de Lassale nos permite dizer que todas as comunidades, mesmo aquelas mais arcaicas e rudimentares, já tinham uma ‘Constituição real’, pois já possuíam um modo específico de se organizarem (ainda que essas ‘regras’ de organização não estivessem inseridas em um texto escrito).

Portanto, não se esqueça que as Constituições escritas são um fenômeno moderno (surgiram no final do século XVIII, com a Constituição dos EUA de 1787 e a da França de 1791). No entanto, ter um modo

‘real’ de estruturar as relações, de organizar a comunidade, é algo bem mais antigo. Por isso, podemos dizer que a noção de ‘Constituição real’ existe desde sempre (porque em todos os lugares, em todos os momentos, sempre houve a necessidade de organizar a comunidade, de impor regras de funcionamento; só depois essas ideias foram colocadas em um documento escrito, fazendo surgir as Constituições escritas que a modernidade conhece).

Observe como a concepção sociológica de Constituição pode ser cobrada:

Questões para fixar

[MS CONCURSOS - 2012 - PC-PA - Delegado de Polícia - Adaptada] Julgue a proposição abaixo:

5. FERDINAND, Lassalle. A Essência da Constituição. 9ª ed. Brasília: Lumen Juris, 2009, p. 21.

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Constituição, em sentido sociológico, conforme concepção de Ferdinand Lassale, é a soma dos fatores reais de poder que regem um determinado Estado.

Comentário:

Em sua obra “A essência da Constituição”, Ferdinand Lassalle afirmou que a Constituição é produto da soma dos fatores reais de poder que regem a sociedade, sendo reflexo das relações de poder predominantes na comunidade, com contornos definidos pelas forças políticas, econômicas e sociais atuantes e pela maneira como o poder está distribuído. Deste modo, a assertiva é verdadeira.

Gabarito: Certo.

[CESPE - 2017 - TRT - 7ª Região (CE) - Analista Judiciário - Área Judiciária - Adaptada] A respeito das concepções das constituições, julgue o item:

Na concepção sociológica, constituição consiste no somatório dos fatores reais de poder em uma sociedade, sendo consideradas sinônimas a constituição real e efetiva e a constituição jurídica.

Comentário:

Essa assertiva é iniciada com uma informação verdadeira: realmente na concepção sociológica, constituição consiste no somatório dos fatores reais de poder em uma sociedade. Todavia, repare que ela segue informando que poderiam ser consideradas sinônimas a constituição real e efetiva e a constituição jurídica, o que não é verdade. A concepção sociológica parte, justamente, da distinção entre a Constituição real e a escrita. Lembrando que, se houver um embate entre o texto escrito e os fatores reais de poder estes últimos sempre prevalecerão! Por isso, a “Constituição escrita” deve sempre se manter compatível com a realidade, pois, se isso não acontecer, ela será esmagada (como uma simples “folha de papel") pela sua desarmonia com o que acontece de fato na sociedade. Portanto, meu caro aluno, pode marcar essa alternativa como falsa.

Gabarito: Errado.

(5.2) Constituição sob o aspecto político

A concepção de Carl Schmitt, que ele apresenta na clássica obra “Teoria da Constituição” (de 1920), traz um novo olhar sobre o modo de entendermos a Constituição: não mais ligada à distribuição de forças na comunidade política, agora a Constituição corresponde à “decisão política fundamental”

que o Poder Constituinte (quando elabora o documento constitucional) reconhece e explicita ao impor uma nova existência política.

Nessa concepção política, portanto, pouco interessa se a Constituição corresponde ou não aos fatores reais de poder, o importante é que ela se apresente enquanto o produto de uma decisão política fundamental oriunda de um Poder Constituinte.

Para Schmitt, a compreensão do vocábulo “Constituição” passa ainda pela aceitação de que o documento constitucional é um conjunto de normas que não estão conectadas por nenhuma unidade

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lógica. Os dispositivos só se assemelham no aspecto formal, pois estão todos inseridos num mesmo documento e não podem ser alterados por lei ordinária; sob o ponto de vista material os dispositivos integrantes da Constituição variam: enquanto uns são cruciais para a comunidade (porque referem-se à estruturação do Estado ou aos direitos fundamentais), outros só estão ali para se protegerem de uma modificação por lei ordinária, pois não trazem conteúdo de grande relevância jurídica e política.

Essa leitura que o autor faz cria uma divisão das normas da Constituição em “constitucionais”

(aquelas normas vinculadas à decisão política fundamental) e em “leis constitucionais” (aquelas que muito embora integrem o texto da Constituição, sejam absolutamente dispensáveis por não fazerem parte da decisão política fundamental daquele Estado).

Desta forma, constitucionais são somente aquelas normas que fazem referência à decisão política fundamental, constituindo o que hoje denominamos de “normas materialmente constitucionais”. Todos os demais dispositivos que estão inseridos na Constituição, mas não são normas essenciais numa Constituição (ou seja, poderiam estar em uma lei ordinária), são meramente

“leis constitucionais”, isto é, nos dizeres atuais: são normas somente formalmente constitucionais (que estão na Constituição, mas não tratam de matéria constitucional).

Veja como essa concepção poderá ser cobrada pelo examinador:

Questão para fixar

[CESPE - 2017 - TRT - 7ª Região (CE) - Analista Judiciário - Área Judiciária - Adaptada] A respeito das concepções das constituições, julgue o item:

Segundo o critério político, a validade de uma constituição não se apoia na justiça de suas normas, mas na decisão política que lhe dá existência.

Comentário:

A assertiva é correta, uma vez que, de acordo com o critério político (de Carl Schmitt), a validade de uma Constituição se apoia justamente na decisão política fundamental oriunda de um Poder Constituinte.

Gabarito: Certo.

(5.3) Constituição em sentido jurídico

Esta concepção foi construída a partir das teses do mestre austríaco Hans Kelsen, que se tornou mundialmente conhecido como o autor da Teoria Pura do Direito. Observe-se, porém, que a teoria pura não é somente o título de uma obra e sim de um projeto que tencionava livrar o Direito de elementos estranhos à uma leitura jurídica de seu objeto – isto é, visava desconsiderar a influência de

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outros campos do conhecimento como o político, o social, o econômico, o ético e o psicológico, uma vez que estes em nada contribuíam para a descrição das normas jurídicas – possibilitando que o Direito se elevasse à posição de uma verdadeira ciência jurídica.

Kelsen estruturou o ordenamento de forma estritamente jurídica, baseando-se na constatação de que toda norma retira sua validade de outra que lhe é imediatamente superior.

De acordo com o autor, no mundo das normas jurídicas uma norma só pode receber validade de outra, de modo que a ordem jurídica sempre se apresente estruturada em normas superiores fundantes – que regulam a criação das normas inferiores – e normas inferiores fundadas – aquelas que tiveram a criação regulada por uma norma superior.

Essa relação de validade culmina em um escalonamento hierárquico do sistema jurídico, uma vez que as normas nunca estarão lado a lado, ao contrário, apresentarão posicionamentos diferenciados em graus inferiores e superiores.

Para exemplificar a sua teoria, Kelsen sugere que partamos de uma sentença. Acaso você se pergunte por que uma sentença de um juiz tem que ser obedecida, o autor te responde lhe remetendo ao código que autoriza ao juiz decidir o caso através da prolação da decisão – já que o código funciona como norma superior fundante que confere validade jurídica à sentença. Mas você pode fazer outra pergunta, querendo conhecer a razão de obedecermos ao código. Por mais uma vez , Kelsen vai lhe remeter a norma superior que dá validade ao código: o legislador editou o código pois está devidamente autorizado pela Constituição a editar as leis; deste modo, ao fazê-lo, está obedecendo a Constituição. A Constituição também compõe o sistema normativo e, como todas as outras normas, depende que algo lhe confira validade: se uma norma somente adquire tal status a partir de uma outra norma, será preciso admitir que existe uma norma fundamentando a Constituição6.

Pode ser que a atual Constituição vigente em determinado Estado tenha sido criada mediante uma lei autorizada pela Constituição anterior, retirando sua validade deste documento. Mas este último também pode ter sua validade questionada e assim sucessivamente, até se chegar à primeira Constituição daquele Estado, provavelmente criada através da emancipação de um Estado frente a outro – revolução ou declaração de independência.

Ainda assim, frente a essa primeira Constituição (que não esteja em disputa e seja, portanto, eficaz7), a questão da validade permaneceria imperiosa, principalmente porque se não for devidamente

6. SGARBI, Adrian. Hans Kelsen. Ensaios Introdutórios. 1ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2007, p. 13.

7. Para nosso autor a Constituição deixa de ser considerada em disputa e torna-se globalmente eficaz quando as normas

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resolvida, toda a cadeia de fundamentação deixa de fazer sentido: afinal, acaso se perca o fundamento da Constituição, esta não estará apta a validar mais nada, os códigos perderiam seu suporte e, por conseguinte, os atos que nele se fundamentam também. O sistema desmoronaria.

Essa cadeia de validade ou hierarquia do Direito deve, portanto, encontrar um ponto final sob pena de se chegar ao infinito, já que toda norma dependerá de uma superior e assim indefinidamente.

A busca por esse último alicerce da ordem normativa levou Kelsen a construir a teoria da norma fundamental, que irá justificar a validade objetiva de determinada ordem jurídica positiva. Chega-se a esta norma básica quando não se admite um único passo para trás na cadeia de validade jurídica, pois ela será a norma superior por excelência, única a não depender de outra que lhe dê suporte. E esta independência é característica que decorre do próprio sentido que ela possui: não é um documento factual, mas sim algo pressuposto. Kelsen explica muito melhor:

A norma que representa o fundamento de validade de uma outra norma é, em face desta, uma norma superior. Mas a indagação do fundamento de validade de uma norma não pode, tal como a investigação da causa de um determinado efeito, perder-se no interminável. Tem de terminar numa norma que se pressupõe como a última e a mais elevada. Como norma mais elevada, ela tem de ser pressuposta, visto que não pode ser posta por uma autoridade, cuja competência teria de se fundar numa norma ainda mais elevada. [...] Uma tal norma, pressuposta como a mais elevada, será aqui designada como norma fundamental. [...] Todas as normas cuja validade pode ser reconduzida a uma e mesma norma fundamental formam um sistema de normas, uma ordem normativa. A norma fundamental é a fonte comum da validade de todas as normas pertencentes a uma e mesma ordem normativa, o seu fundamento de validade comum (grifo nosso)8.

Ao se valer, pois, dessa pressuposição – de que há uma norma básica, através da qual todas as outras podem ser identificadas numa sequência de atribuição de validade –, Kelsen demonstrou se submeter à influência de Kant no que diz respeito a aceitação de que em todo ramo do conhecimento haverá de se reconhecer alguma pressuposição9.

estão sendo obedecidas, isto é, servindo de parâmetro para as condutas, ou quando as normas não são devidamente observadas, mas os funcionários estão efetivamente punindo, através da aplicação de sanções, aqueles transgressores.

8. KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 217.

9. "Segundo Kant, o trabalho de se encontrar os elementos universais do conhecimento não se dá sem alguma pressuposição, através da qual todo o resto obtém sentido” (SGARBI, Adrian. Teoria do Direito. 1ª ed. Brasília: Lumen Juris, 2007, p. 48).

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Seguindo na análise da concepção jurídica, deve-se dizer ainda que foram desenvolvidos dois sentidos para o vocábulo “Constituição”:

(i) No primeiro, lógico-jurídico, “Constituição” significa a “norma fundamental hipotética”, que não é posta, mas sim pressuposta, e que positiva apenas o comando “obedeçam a Constituição positiva”. Você deve notar, meu caro aluno, que esta norma hipotética não tem um texto explícito: é apenas numa ordem implícita, dirigida a todos nós, de que devemos obedecer a Constituição positiva (que, no caso brasileiro, é a Constituição Federal de 1988).

(ii) O segundo, jurídico-positivo, traz “Constituição” como norma positiva suprema, que fundamenta e dá validade a todo o ordenamento jurídico, somente podendo ser alterada se obedecidos ritos específicos.

Note, para concluirmos, que a concepção puramente jurídica da Constituição não considera se o documento constitucional é estabelecido por alguma vontade política, tampouco se reflete fielmente os fatores reais de poder que regem a sociedade. Ao contrário, vê a Constituição enquanto um conjunto de normas jurídicas, devidamente estruturadas e hierarquizadas num ordenamento escalonado (hierarquizado), que encontra seu fundamento de validade definitivo e último na norma fundamental, ponto de convergência de todas as normas integrantes do sistema jurídico e fundamento de validade transcendental de toda a estrutura normativa.

Veja uma questão que demonstra como o tema poderá ser cobrado:

Questão para fixar

[CESPE - 2008 - STF - Analista Judiciário - Área Judiciária] Acerca da teoria geral da constituição e do Poder Constituinte, julgue o item seguintes.

Considere a seguinte definição, elaborada por Kelsen e reproduzida, com adaptações, de José Afonso da Silva (Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Atlas, p. 41...).

“A constituição é considerada norma pura. A palavra constituição tem dois sentidos: lógico-jurídico e jurídico-positivo. De acordo com o primeiro, constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é servir de fundamento lógico transcendental da validade da constituição jurídico-positiva, que equivale à norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei nacional no seu mais alto grau.”

É correto afirmar que essa definição denota um conceito de constituição no seu sentido jurídico.

Comentário:

Repare, me caro aluno, que essa é a definição exata da concepção kelseniana. De fato, o mestre austríaco identificou um sentido lógico-jurídico (para o qual a Constituição se apresenta como norma fundamental hipotética, que fundamenta e dá validade a todo o ordenamento jurídico) e um sentido jurídico-positivo (para

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o qual a Constituição significa norma geral positiva). Deste modo, a assertiva é verdadeira.

Gabarito: Certo.

Observe agora a tabela posta abaixo, que lhe ajudará a gravar os pontos centrais das três concepções clássicas que temos:

CONCEPÇÃO AUTOR OBRA MATRIZ CONCEITO CENTRAL Sociológica Lassalle “A Essência da

Constituição”

A Constituição é a soma dos fatores reais de poder

Política Schmitt “Teoria da Constituição” A Constituição é a decisão política fundamental

Jurídica Kelsen “Teoria Pura do Direito”

A Constituição é uma norma jurídica pura, superior e fundamental do Estado

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(6) Outras questões: para treinar

QUESTÃO 01

[CESPE - 2011 - EBC - Analista - Advocacia] Julgue o item seguinte, relativo às normas constitucionais:

As normas previstas no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias possuem natureza de norma constitucional.

QUESTÃO 02

[CESPE - 2017 - DPU - Defensor Público Federal] A respeito da evolução histórica do constitucionalismo no Brasil, das concepções e teorias sobre a Constituição e do sistema constitucional brasileiro, julgue o item a seguir:

A CF goza de supremacia tanto do ponto de vista material quanto do formal.

QUESTÃO 03

[CESPE - 2013 - STF - Analista Judiciário - Área Administrativa] Acerca do Estado federal brasileiro, tendo como referência a Constituição Federal de 1988 (CF), julgue o item a seguir:

Dada a subordinação dos entes federados à força normativa da CF, seu preâmbulo deve ser obrigatoriamente reproduzido nas constituições estaduais.

QUESTÃO 04

[CESPE - 2016 - PGE-AM - Procurador do Estado] Julgue o item seguinte, relativos à aplicabilidade de normas constitucionais e à interação destas com outras fontes do direito:

Embora o preâmbulo da CF não tenha força normativa, podem os estados, ao elaborar as suas próprias leis fundamentais, reproduzi-lo, adaptando os seus termos naquilo que for cabível.

QUESTÃO 05

[CESPE - 2014 - Câmara dos Deputados - Analista Legislativo - Consultor Legislativo Área III] À luz dos princípios fundamentais de direito constitucional positivo brasileiro, julgue o item a seguir:

Quando um estado da Federação deixa de invocar a proteção de Deus no preâmbulo de sua constituição, contraria a CF, pois tal invocação é norma central do direito constitucional positivo brasileiro.

QUESTÃO 06

[CESPE - 2012 - ANAC - Especialista em Regulação de Aviação Civil - Área 5] A respeito de constitucionalismo, interpretação, eficácia e hierarquia das normas constitucionais, julgue o item que se segue:

(25)

As emendas constitucionais têm o mesmo grau hierárquico que as normas constitucionais originárias e, por isso, não estão sujeitas ao controle de constitucionalidade.

QUESTÃO 07

[NC-UFPR - 2014 - DPE-PR - Defensor Público - Adaptada] Quanto ao âmbito da Teoria da Constituição, Normas Constitucionais no Tempo, Hermenêutica Constitucional e Preâmbulos Constitucionais, julgue o item a seguir:

O preâmbulo constitucional consiste em um texto introdutório à Constituição, sendo uma declaração de princípios, de caráter obrigatório, vinculativo, cujo conteúdo é de observância necessária aos demais entes da federação, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal.

QUESTÃO 08

[VUNESP - 2016 - TJ-RJ - Juiz Substituto - Adaptada] No que se refere à Teoria das Normas Constitucionais Inconstitucionais, julgue o item a seguir, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal:

Há hierarquia e contradição entre normas constitucionais advindas do Poder Constituinte Originário, o que legitima o controle de constitucionalidade de normas constitucionais, produto do trabalho do Poder Constituinte Originário.

QUESTÃO 09

[CETREDE - 2016 - Prefeitura de Itapipoca - CE - Procurador - Adaptada] Levando-se em consideração a norma e o direito constitucional, no que diz respeito à evolução histórica, conceito e classificação, julgue a assertiva:

O preâmbulo constitui norma central da Constituição Federal, possuindo força normativa para descortinar a inconstitucionalidade de uma norma.

QUESTÃO 10

[FCC - 2018 - ALESE - Técnico Legislativo - Técnico-Administrativo - Adaptada] À luz da Teoria Geral da Constituição, julgue a assertiva a seguir:

O preâmbulo da Constituição Federal brasileira é norma de reprodução obrigatória nas Constituições Estaduais.

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GABARITO COMENTADO

QUESTÃO 01

[CESPE - 2011 - EBC - Analista - Advocacia] Julgue o item seguinte, relativo às normas constitucionais:

As normas previstas no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias possuem natureza de norma constitucional.

Comentário:

A assertiva deve ser julgada como verdadeira. O ADCT representa a parte transitória do texto constitucional e tem o intuito de facilitar a passagem de uma ordem jurídica antiga para uma ordem jurídica nova. Suas normas, cumpre dizer, são formalmente constitucionais, ainda que apresente numeração própria.

QUESTÃO 02

[CESPE - 2017 - DPU - Defensor Público Federal] A respeito da evolução histórica do constitucionalismo no Brasil, das concepções e teorias sobre a Constituição e do sistema constitucional brasileiro, julgue o item a seguir:

A CF goza de supremacia tanto do ponto de vista material quanto do formal.

Comentário:

Eis um item verdadeiro. Na estruturação do nosso ordenamento jurídico, a Constituição Federal, norma fundante, é aquela que confere fundamento e validade a todas as demais, consideradas normas fundadas. Sendo assim, não se situa no mesmo plano hierárquico das normas infraconstitucionais e infralegais: ocupa, sozinha, o ápice do ordenamento jurídico. É, portanto, um diploma que goza de supremacia material e formal diante de todas as demais. Material porque em seu texto estão estruturados os temas mais essenciais para a organização do Estado. Formal porque suas normas são superiores e só podem ser modificadas por um rito mais solene e gravoso do que aquele previsto para os diplomas inferiores.

QUESTÃO 03

[CESPE - 2013 - STF - Analista Judiciário - Área Administrativa] Acerca do Estado federal brasileiro, tendo como referência a Constituição Federal de 1988 (CF), julgue o item a seguir:

Dada a subordinação dos entes federados à força normativa da CF, seu preâmbulo deve ser obrigatoriamente reproduzido nas constituições estaduais.

Comentário:

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A assertiva é falsa. De acordo com entendimento firmado pelo STF, o preâmbulo não é norma jurídica e, tampouco, norma constitucional. Deste modo, não vincula as Constituições estaduais, que não estão obrigadas a reproduzi-lo.

QUESTÃO 04

[CESPE - 2016 - PGE-AM - Procurador do Estado] Julgue o item seguinte, relativos à aplicabilidade de normas constitucionais e à interação destas com outras fontes do direito:

Embora o preâmbulo da CF não tenha força normativa, podem os estados, ao elaborar as suas próprias leis fundamentais, reproduzi-lo, adaptando os seus termos naquilo que for cabível.

Comentário:

Os Estados, ao elaborar suas Constituições, não estão obrigados a reproduzir o preâmbulo da Constituição Federal, vez que ele não possui força normativa. Sendo assim, nada impede que os Estados, caso optem por reproduzir o texto do preâmbulo da CF, realizem adaptações. Deste modo, a assertiva apresentada pelo examinador é verdadeira.

QUESTÃO 05

[CESPE - 2014 - Câmara dos Deputados - Analista Legislativo - Consultor Legislativo Área III] À luz dos princípios fundamentais de direito constitucional positivo brasileiro, julgue o item a seguir:

Quando um estado da Federação deixa de invocar a proteção de Deus no preâmbulo de sua constituição, contraria a CF, pois tal invocação é norma central do direito constitucional positivo brasileiro.

Comentário:

Não há dúvidas de que estamos diante de uma assertiva falsa. De acordo com o STF, o preâmbulo da Constituição Federal não é norma jurídica e, sendo assim, não vincula os Estados na confecção de suas Constituições Estaduais. Foi exatamente isso que nossa Suprema Corte firmou no julgamento da ADI 2076, ao explicitar que a ausência da expressão “sob a proteção de Deus” na Constituição Estadual do Acre não violou a Constituição Federal.

QUESTÃO 06

[CESPE - 2012 - ANAC - Especialista em Regulação de Aviação Civil - Área 5] A respeito de constitucionalismo, interpretação, eficácia e hierarquia das normas constitucionais, julgue o item que se segue:

As emendas constitucionais têm o mesmo grau hierárquico que as normas constitucionais originárias e, por isso, não estão sujeitas ao controle de constitucionalidade.

Comentário:

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