Como Aproveitar o Centro Histórico de São Luís do
Maranhão em Um Dia
Cheia de cor e sons, o Centro Histórico da capital maranhense – Patrimônio Mundial da UNESCO – parece ter saído de um livro de histórias. As famosas casas coloridas nos transportam para o Brasil colonial. A animação das ruas faz a gente se sentir parte da cidade.
Passei um dia explorando essa região e agora trago para você dicas de onde ir, o que fazer, o quanto gastar e, é claro, o que comer.
Rua de pedra e os tradicionais casarões do Centro Histórico
Decidi viajar para o Maranhão de última hora. Numa madrugada insone, abri o Google Flights, escolhi uma data aleatória e fiquei brincando de procurar destinos baratos. Admito, passo bastante tempo passeando por buscadores de voos, mesmo quando não tenho nenhuma viagem em mente. Além de sonhar com futuros
destinos, é uma boa maneira de encontrar voos baratos para lugares que você nem imaginava – o que foi exatamente o caso aqui.
Nem considerava voltar para o Nordeste tão cedo. As passagens saindo de Porto Alegre, especialmente nessa época do ano e ainda mais em cima da hora, costumam sair bem caras. Dei sorte e achei meu bilhete dourado: Porto Alegre X São Luís por R$700 – ida e volta! Nem pensei muito, abri a carteira, peguei o cartão e concluí a compra de uma vez antes que aquela oferta incrível sumisse do ar. Depois da passagem garantida, comecei a pesquisar sobre o meu futuro destino.
Um viajante bem informado é um viajante que gasta menos e aproveita mais!
Por que ir para São Luís?
Fundada pelos franceses no século VII, é uma das cidades mais antigas do Brasil. É uma capital turística que recebe visitantes do mundo todo. O belo Centro
Histórico é tombado e reconhecido como Patrimônio Cultural Mundial pela Unesco. É famoso por sua arquitetura inconfundível, com casarões e sobrados coloridos. Parece um lugar fantástico para visitar a qualquer momento do ano, certo?
Mas aí veio o banho de água fria: todos os artigos, posts e matérias que eu li sobre o Maranhão diziam a mesma coisa: não viaje para lá em Março! O motivo? Essa é a época de chuvas, que são imprevisíveis e quase incessantes. Não vai dar para aproveitar quase nada que o estado tem para oferecer.
Pensei um pouco e decidi encarar esta aventura. Afinal, mesmo com chuva, é sempre incrível conhecer um lugar novo e tinha certeza que encontraria alguma coisa legal para fazer por lá.
Depois da chuva, recordações.
Quantos dias devo ficar no Maranhão?
Minha viagem teve a duração de dez dias. Separei três dias para conhecer São Luís e Alcântara e deixei o resto para curtir os Lençóis Maranhenses com calma. Achei importante reservar alguns dias extras nos lençóis para o caso de haver muita chuva. Gosto de viajar com calma, quando possível. Nem sempre temos essa oportunidade de curtir a cidade, conhecer as pessoas, caminhar sem pressa.
Resolvi aproveitar.
Falarei com mais detalhes sobre a minha aventura inesquecível em Barreirinhas e nos Lençóis Maranhenses em um post futuro. Agora, vou contar sobre um dia super divertido e agitado em São Luís. Darei também algumas dicas de onde comer pagando pouco e como aproveitar o máximo desse centro histórico cheio de cor e memória!
O que fazer em um dia no Centro Histórico de São Luís?
Desembarquei em São Luís à noite, perto das 21h. O aeroporto fica um pouco longe da cidade e o transporte público me pareceu um pouco confuso – principalmente para uma turista recém-chegada e com uma mochila nas costas. Chamei um Uber que custou R$20. Aproveitei o trajeto para pedir umas dicas ao motorista. Ele afirmou categoricamente que não existe cidade mais bonita e mais animada que São Luís. Eu estava ansiosa para descobrir.
Cheguei ao hostel perto das 23h. Fiquei em um quarto para 6 pessoas que, por sorte, estava vazio. Esse é um ponto positivo de viajar durante a baixa
temporada: acomodações vazias e mais baratas. Me hospedei noPalma Hostel, no coração do Centro Histórico – localização imbatível. A diária foi R$63. Ele fica num casarão lindo com uma decoração de muito bom gosto.
Vista da Janela do Quarto
O quarto é limpo e tem banheiro privativo e o ar condicionado funciona muito bem.
Importante, pois estava muito abafado e o calor era difícil de suportar! Junto ao hostel funciona um pequeno café onde você pode comprar lanches e guloseimas. Foi ali mesmo que fiz uma rápida refeição antes de pular para a cama. Estava cansada e queria acordar cedo para aproveitar muito bem o meu dia.
CAFÉ DA MANHÃ: SUCO DE CAJU, TAPIOCA E CAMINHADA PELA ORLA
Acordei cedo, abri as janelas e sorri: o céu estava limpo e o sol já estava brilhando.
Corri para a área de café da manhã do hostel. O café é incluído na diária. Simples e bem saboroso: frutas locais frescas, bolo de macaxeira, pães, frios, dois sabores de suco natural e tapioca feita na hora. Pedi uma tapioca e tomei um suco de caju bem fresquinho enquanto aguardava. Delícia. Já comecei o dia bem alimentada com um prato bem nordestino.
Na hora de sair, qual não foi a minha surpresa? Aquele lindo céu azul não estava mais lá. Chegava rapidamente um grande temporal. Me frustrei na hora. Será que os meus planos iriam acabar assim, logo de manhã? O recepcionista do hostel disse que a chuva era passageira. Coisas de São Luís. Voltei à área de café, me servi de mais um copo de suco de caju e fiquei observando a chuva e tentando manter o bom humor.
Em menos de 20 minutos o temporal cessou, o céu abriu e eu corri para a rua.
Caminhei sem rumo por alguns quarteirões para sentir o clima da cidade. A
arquitetura é colonial portuguesa, famosa pela azulejaria colorida e diversa. Alguns prédios estão ali desde o século XVII. É uma aula de história a céu aberto e com aquele brilho pós-chuva, tudo fica ainda mais encantador.
As ruas coloridas do Centro de São Luís
Passei pelo Palácio dos Leões, o robusto edifício-sede do governo maranhense. O prédio fica em uma falésia em frente ao mar e a vista à partir da orla é estonteante. Como tinha pouco tempo, resolvi não entrar e seguir minha caminhada. Subi a ladeira e cheguei até a Catedral de São Luís, que foi construída em 1677. Ali as ruas são bastante agitadas, com comércios e escritórios, ótimo para observar e conhecer um pouco mais o povo maranhense.
Seguindo em frente, cheguei à simpática Praça Pantheon, onde fica a Biblioteca Pública Benedito Leite. É um outro belo prédio no estilo neoclássico. Tive que recorrer ao abrigo da biblioteca pois uma nova tromba d’água chegou
repentinamente. Um bom momento para descansar as pernas e ler os jornais locais.
Biblioteca Pública de São Luís, segundos antes do temporal.
ALMOÇO TRADICIONAL: COMIDA INDÍGENA E DE TERREIRO
Almocei no restauranteCozinha Ancestral – Projeto de Culinária Ritual. É um lugar para ir com calma. Sentir o ambiente, curtir a música e,
principalmente, degustar um cardápio cheio de personalidade e sabor.
Os pratos, de raiz nordestina e indígena, trazem inspirações das religiões de matriz africana. Tem também uma lojinha de produtos artesanais. Eles se descrevem como
“um projeto de arte, cultura e comida”. E é tudo isso mesmo.
Quadros na entrada do Cozinha Ancestral
Eu comecei pedindo um “axé de fala”, uma espécie de licor de fermentação artesanal aromatizado com especiarias e servido na cuia. Forte e saboroso! De entrada, escolhi uma porção de mini acarajés, acompanhados de vatapá e molho de pimenta da casa. Para o prato principal, a pedida foi arroz com jambu, filé de peixe e vatapá. Servido na cumbuca, é claro. Para finalizar, tomei um cafézinho coado e curti o clima agradável do redário.
Outro lugar que recomendo é oRestaurante do SENAC. Quem comanda as panelas são os estudantes de gastronomia do SENAC e é tudo feito com muito capricho e qualidade. É ótimo para quem quer provar os pratos típicos da região. O buffet tem muita variedade e toda sexta-feira é dia de frutos do mar. O almoço sai em torno de R$50,00 por pessoa.
TARDE CULTURAL: PASSEIO NOS MUSEUS E CHOPP DE VINAGREIRA
Reservei boa parte da tarde para conhecer um pouco da história de São Luís. O Maranhão é um estado cheio de cultura e eles se orgulham muito disso e fazem questão de mostrar para todo mundo. Existem dezenas de museus espalhados pelo Centro Histórico. Cada um conta um pouquinho da cultura e da história
maranhense, seja através da dança, da religião ou da música. E o melhor de tudo:
todos os museus são gratuitos. Além disso, a maioria oferece passeios guiados (que também são de graça!).
Separei aqui quatro dos meus museus favoritos:
– Museu do Reggae
São Luís é conhecida como “A Jamaica Brasileira”, e aqui entendemos o porquê. O museu é cheio de memorabília, figurinos e raros discos de vinil. A profunda e antiga relação do maranhense com o gênero musical é contada com detalhes e muita música.
– Casa do Tambor de Crioula
O Tambor de Crioula é uma expressão cultural histórica que une elementos de dança, canto e tambores. Nesse belo casarão, você aprende mais sobre essa tradição que data dos tempos de escravidão – e se der sorte, ainda pode ver uma apresentação ao vivo!
– Museu Histórico e Artístico do Maranhão
Aqui, a história do Maranhão é contada através de um acervo de mais de dez mil peças. São esculturas, pinturas, porcelanas e muito mais que exaltam a arte e os artistas maranhenses.
– Casa de Cultura Hughenote Daniel de La Touche
Também conhecido como o Museu da Colonização Francesa. Conheça um outro lado da história do Maranhão e da fundação de São Luís, contada pelos
franceses.
Cansada de tanto caminhar pelos museus, sentei numa mesinha de calçada de um restaurante para ver o movimento. Pedi um Chopp de Vinagreira para
acompanhar, é claro. A flor de vinagreira é uma planta tradicional do Maranhão e
eles utilizam em tudo. Azedinha e refrescante, você a encontra em saladas, temperando peixes e também no tradicional Arroz de Cuxá.
NOITE RELAX: ARROZ DE CUXÁ, REGGAE NA RUA E ARTESANATO
Já começava a anoitecer e percebi uma movimentação diferente. Muitas pessoas reunidas, jovens bebendo nas calçadas, amigos tomando cerveja ao redor de mesas.
Turistas e locais se divertiam e relaxavam depois de um longo dia. Chegou a hora do happy hour e o centro histórico é o lugar certo para aproveitar.
Antes do jantar, resolvi dar mais uma caminhada. Estava louca para conhecer o artesanato local. Além de muitas lojinhas, existe a animada Feirinha de São Luís.
Lá você encontra de tudo: brincos e colares com sementes de açaí e capim dourado;
toalhas de mesa feitas à mão com palha de buriti; vestidos e saias rendadas;
chaveiros, postais e várias outras opções de presentes e lembranças de viagem. Foi difícil escolher o que levar, achei tudo lindo!
Para jantar, escolhi o famoso Cafofinho da Tia Dica. O restaurante é especializado em cozinha tradicional maranhense, repleto de frutos do mar. A calçada estava lotada de mesas, quase todas ocupadas. Enquanto olhava o cardápio, pedi um chopp e curti um show de reggae improvisado que acontecia do outro lado da rua.
Encerrando o dia em grande estilo, escolhi um clássico: camarões ao alho e óleo e arroz de cuxá. Saboroso, mas achei o preço um pouco salgado. Pedi meia porção – a grande maioria dos pratos são para duas pessoas – e dois chopps (sede!). A conta saiu R$77.
Jantar ao ar livre em São Luís
O clima estava ótimo. A noite estava quente e o céu, limpo. Deu vontade de ficar um pouquinho mais curtindo aquele reggae. Aliás, pra quem quer esticar a noite e conhecer o verdadeiro reggae de São Luís, recomendo o tradicional Bar do Nelson. Lá a dança é intensa, mas começa bem tarde, depois da meia noite.
Tentador, mas optei ir para o hostel descansar. O catamarã para Alcântara sairia no dia seguinte bem cedo e minha aventura no Maranhão estava apenas começando.
Em breve, conto aqui sobre meu Passeio em Alcântara e os Cinco dias nos Lençóis Maranhenses. Até mais!