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B i b l i o t e c á r i o e m u d a n ç a s o c i a l : p o r u m

b i b l i o t e c á r i o a o l a d o d o p o v o

W a l d o m i r o d e C a s t r o S . V e r g u e i r o

Prof.-Assistente do Dep. de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes

da Universidade de São Paulo. 01000 São Paulo, SP

R e s u m o - A Biblioteconomia no Brasil caracteriza-se por estar

relativa-mente desenvolvida nas áreas de bibliotecas universitárias e especializadas, e bastante deficitária na áreas de bibliotecas públicas ou populares. Bibliotecá-rios brasileiros necessitam optar por um trabalho mais ligado às necessidades cotidianas da população. A biblioteconomia não é neutra ou simplesmente um conjunto de técnicas desvinculadas da sociedade em que ocorrem. É ne-cessário aos bibliotecários brasileiros procurar caminhos para uma nova prá-tica bibliotecária, que responda melhor às necessidades de um país

subde-senvolvido.

1 I n t r o d u ç ã o

A Biblioteconomia e a Ciência da Informação, tal como as conhecemos, pa-recem estar demasiadamente ligadas a concepções tecnicistas da profissão. Imagina-se, desta forma, que o trabalho do bibliotecário consista, na realida-de, em fazer-se o profissional de ponte entre uma informação registrada nos mais diversos suportes (impressos, audiovisuais etc.) e seu usuário potencial, a cujas necessidades os bibliotecários buscariam, teoricamente, atender da melhor forma possível. O aprimoramento das técnicas de recuperação e dis- c.! seminação da informação aparece, assim, como o supra-sumo do avanço bi-blioteconômico. Este "avanço", digamos assim, irá representar também, na consciência dos profissionais, o preenchimento de seu papel na sociedade contemporânea. Afinal, dentro desta concepção tecnicista da profissão, a medida da utilidade social dos bibliotecários deve, necessariamente, passar ._. pelo cômputo dos sistemas de informação por eles implementados e pela

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BIBLIOTECÁRIO E MUDANÇA SOCIAL

pidez e seu aperfeiçoamento técnico, para definir, localizar e colocar ao al-cance do usuário a informação solicitada.

Éevidente que o domínio de técnicas documentais é imprescindível ao

bibliotecário. Da mesma forma, é impossível negar a necessidade de otirniza-ção dos sistemas informacionais através da utilização de novas tecnologias no campo da informação. Quanto a isto, não há o que refutar. O que se pode colocar em dúvida, isto sim, é se esta evolução tecnológica nas áreas de Do-cumentação e Ciência da Informação está realmente ocorrendo em benefício da população como um todo, e não, apenas de uma minoria privilegiada. O que se pode perguntar é até que ponto os bibliotecários estão contribuindo -pelo menos em termos de países subdesenvolvidos da esfera de influência capitalista, como é o caso do Brasil - para integrar à sociedade como cida-dãos, àquelas parcelas da população desprovidas das condições mínimas para uma participação social digna. São perguntas, sem nenhuma dúvida, bastante incômodas para profissionais cujo desempenho pretende ser, dentro do con-texto de seu saber específico, essencialmente apolítico e neutro. Mas pare-cem ser, também, perguntas bastante pertinentes, exatamente por colocarem em xeque esta postura. Este artigo tem como finalidade discutir um pouco a resposta a estes questionamentos.

2AS i t u a ç ã o a t u a l n o B r a s i l e n o m u n d o

A literatura biblioteconômica nacional é bastante tímida na discussão de questões deste tipo. A grande maioria de livros e artigos de periódicos pare-ce pare-centrar sua atenção em questões técnicas ou administrativas e em como resolvê-Ias. São poucos os trabalhos que demonstram preocupação em dire-cionar o esforço bibliotecário de modo a possibilitar um acesso mais efetivo da população aos canais informacionais, buscando popularizar serviços de informação e documentação (1, 4). Talvez falte ao bibliotecário brasileiro a consciência de que a biblioteca pode atuar como instrumento de mudança social, não tendo que, necessariamente, fixar-se a um papel de disseminadora de informações socialmente aprovadas (por a9ueles que determinam o que deve ser "socialmente" aprovado, é claro ..). E rara, por isso mesmo, a dis-cussão da biblioteca como local de efervescência e produção de novos co-nhecimentos, como "desordenadora" de idéias(5), ou a percepção de que as-pectos ideológicos interferem na eficácia dos instrumentos documentários tradicionais, principalmente para a recuperação de informações referentes a países do Terceiro Mundo(2).

O panorama bibliotecário nacional oferece, também, quadros bastante

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208 R.Bibliotecon.Brasília, 16(2):207 - 215 ,jul.l dez.1988

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diversos. Por um lado, temos as bibliotecas universitárias, normalmente liga-das a universidades públicas, em que a inforrnatização começa pouco a pou-co a fazer-se sentir, possibilitando grandes avanços na recuperação da in-formação necessária à presquisa e ao ensino de terceiro grau; da mesma for-ma, já em termos muito mais avançados, centros de informação e documen-tação ligados a multinacionais e a grandes empresas estatais encontram-se em tal estágio de sofisticação técnica, que chegam quase a rivalizar com al-guns centros de documentação de países mais avançados. Nesta área, são freqüentes ao projetos de cooperação e intercâmbio bibliográficos, visando aprimorar o atendimento a um usuário especializado e exigente. Por outro la-do, no entanto, no campo das bibliotecas públicas (para não dizer das escola-res ligadas ao ensino público), o quadro é totalmente diferente: bibliotecas com acervos inadequados e mal processados, atendendo de maneira insatis-fatória a uma população que a elas recorre mais ou menos aleatoriamente. Enquanto as primeiras contam com computadores e com acesso a grandes ba-ses de dados - ou, pelo menos, com a possibilidade de ter este acesso em fu-turo bastante próximo -, as últimas contam apenas com materiais impressos produzidos pela indústria editorial do País, constituindo um acervo informa-cional normalmente distante das necessidades cotidianas da população, ao mesmo tempo que, para elas, a participação e aproveitamento de inovações tecnológicas parece um sonho por demais longínquo. Enquanto nas bibliote-cas universitárias e especializadas pode-se contar com o trabalho de bibliote-cários formados - por pior que seja esta formação - em bibliotecas públicas este fato já não é tão comum. Retrato de um país de contrastes.

Logicamente, este panorama não é assim tão uniforme como a leitura desta descrição pode deixar transparecer: existem diferenças de região para região, e o quadro tende a agravar-se à medida que se caminha de sul para norte do País. As iniciativas de organização e desenvolvimento de Centros de Documentação voltados às necessidades da população mais humilde, que, em anos recentes, surgiram no Brasil, estiveram normalmente ligadas a orga-nizações religiosas, como é o caso da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB): estes "Centros Populares de Documentação" procuram or-ganizar e disseminar documentos e informações que normalmente não se en-contram disponíveis nos Centros de Documentação ou Bibliotecas tradicio-nais. Já no campo das bibliotecas públicas, presenciou-se o florescimento, em algumas regiões, de uma preocupação maior com o registro e forneci-mento das informações consideradas utilitárias, ou seja, que visam satisfazer uma necessidade premente e momentânea, essencial para a resolução de um determinado problema, como, por exemplo, o esclarecimento sobre docu-mentos necessários para uma finalidade específica, endereços de pessoas ou instituições etc. De qualquer forma, trata-se de iniciativas relativamente in-cipientes no território nacional, refletindo mais exceções no trato da

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BIBLIOTECÁRIO E MUDANÇA SOCIAL WALDOMIRO DE C. S. VERGUEIRO

mação que regras de conduta profissional. Como regra geral, pode-se tran-qüilamente, afirmar que o panorama esboçado no parágrafo anterior retrata aproximadamente a realidade documentária brasileira: bibliotecas especiali-zadas e universitárias são, geralmente, melhor aquinhoadas em termos de re-cursos, sejam eles financeiros, humanos ou físicos, como, também, em ter-mos de acesso a inovações tecnol6gicas no campo da informação.

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uma mentalidade passiva e não reinvindicat6ria. Da mesma forma é difícil aceitar que a decisão técnica, dentro do contexto bibliotecário, esteja total-mente desvinculada de fatores polftico-ideolõgicos ...

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O c a m i n h o p a r a a m u d a n ç a

Éclaro que o assunto tratado no parágrafo anterior não pode ser apon-tado como característica exclusiva do panorama bibliotecário brasileiro. Pa-rece ser bastante comum que as bibliotecas universitárias e especializadas recebam maior ênfase e atenção da parte de autoridades governamentais e bibliotecários mesmo em países mais avançados tecnologicamente, onde os usuários dessas instituições têm acesso a uma enorme quantidade de infor-mações bem organizadas, podendo obter, por intermédio de redes de teleco-municações intercontinentais, um sem-número de documentos - ou c6pias deles -, conforme o seu interesse. Ao mesmo tempo, as bibliotecas públicas desses países, apesar de contarem com acervos informacionais bastante am-plos e abrangendo os mais variados suportes, não oferecem a seus usuários potenciais - teoricamente, a grande maioria da população, - um tratamento técnico do material sequer comparável ao realizado nas bibliotecas universi-tárias e especializadas, mesmo levando-se em conta as especificidades de ca-da uma delas. O argumento mais vulgarmente utilizado para explicação des-sas discrepâncias é o de que não se deve exigir o mesmo rigor técnico de tratamento da informação para tipos diversos de instituições. Afinal, o usuá-rio potencial da biblioteca pública não é, de forma alguma, o especialista ou pesquisador a necessitar de uma informação ultra-depurada e específica, mas o cidadão comum com necessidades corriqueiras de informação, cultura e la-zer. Sendo assim, um tratamento mais ou menos simples do material possuí-do pela biblioteca, possibilitando o acesso a grandes blocos de informação (sempre o título do peri6dico ou livro, raramente o artigo ou capítulo) parece ser mais que suficiente para o grosso da população.

A resposta a estas últimas indagações talvez deva ser buscada no ambiente em que são formados os profissionais, e nas raízes por eles possuídas. Neste país, o bibliotecário parece caracterizar-se como advindo da classe média. Esta suposição baseia-se no fato de que parte expressiva das Escolas ou Fa-culdades de Biblioteconomia estão vinculadas a universidades públicas(6:6), às quais têm acesso, teoricamente, apenas os estudantes mais afortunados e que tiveram a oportunidade de freqüentar, durante os anos de primeiro e se-gundo graus, escolas particulares de melhor gabarito (e maiores preços). Desta forma, imagina-se que a grande maioria dos profissionais esteja im-buída de mentalidade burguesa, partilhando, embora muitas vezes sem se dar conta disto, de uma ideologia capitalista que tende a privilegiar algumas ca-madas da população em detrimento de outras, e a justificar este privilégio como natural e correto. O ensino de Biblioteconomia no Brasil, por seu lado, ligado quase desde seu nascedouro à influência norte-americana(6:6) - que teve início já na década de 20 -, parece também enfatizar demasiadamente o domínio do conhecimento de técnicas de documentação e informação. Desta forma, não é surpresa constatar que, ao se traçar o perfil do bibliotecá-rio, tenha-se tendência a" enquadrá-Io como profissional de classe média, desvinculado - ou afastado - de questões mais específicas das classes popu-lares, o que os leva, inclusive, a optar por exercer sua profissão, quando possível, em bibliotecas universitárias ou especializadas, onde a remunera-ção percebida é, geralmente, mais elevada. Écerto que, devido a diversos fatores - entre eles a proletarização cada vez maior da classe média brasi-leira-, este perfil tem sofrido algumas ligeiras modificações. Mas, no geral, a análise aqui esboçada poderia ainda ser considerada válida para boa par-cela dos profissionais existentes no mercado.

Se nesses países mais industrializados, dêvido

à

uma distribuição me-nos injusta de renda, este fato não chega a constituir grande agravante - uma vez que não são tão poucos os que têm acesso às instituiçõs de pesquisa e ensino superior -, em países subdesenvolvidos, como é o caso do Brasil, isto é um fator vexatório, para dizer o menos. Como justificar a priorização de uma pequena parcela da população para recebimento de um serviço de do-cumentação hiper-sofisticado, enquanto o resto da comunidade deve conten-tar-se com as migalhas de "sistema" desorganizado de bibliotecas públicas que lhes oferece apenas o que de mais banal existe em termos de informação e lazer? É difícil acreditar que isto seja resultado da evolução natural dos '-- fatos e não fruto de uma decisão a favor do s t a t u s - q u o e pela manutenção de

Será um pouco de ingenuidade esperar que o panorama bibliotecário brasileiro possa obter grande mudanças em prazo reduzido. Na realidade, isto é muito difícil de acontecer, pois algumas convicções estão por demais arraigadas nos bibliotecários, para que possam ser modificadas sem o apare-cimento de traumas de problemática resolução. A questão parece ser sobretu-do política, e não simplesmente técnica. O caminho para a mudança deverá necessariamente passar pela modificação de alguns pressupostos da profis-são, a começar por aqueles que propugnam - embora não em termos

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BIBLIOTECÁRIO E MUDANÇA SOCIAL

cientemente claros - pela neutralidade da mesma. Este é o caminho que vem sendo buscado em países como a Nicarágua, onde, seguindo os passos de uma revolução política, os bibliotecários procuram desmistificar a técnica e assumir uma posição de vanguarda na sociedade que os nicaragüenses in-tentam organizar. Para os bibliotecários desse país, segundo as palavras do diretor da Escuela de Bibliotecologia, Universidad Centroamericana de Ma-nágua, "a biblioteconomia e as ciências da informação não são neu-tras"(3:8), contrariamente ao que possam pensar os bibliotecários ligados a correntes positivistas, e não são, também, "meras técnicas independentes dos fins culturais, sociais e políticos de cada modelo de sociedade" (3:8). Esta conclusão é alcançada, segundo o autor nicaraguense, a partir da constatação de que, "apesar dos tremendos recursos econômicos e técnicos do mundo in-dustrializado ocidental, não se desenvolveu uma Ciência da Informação a fa-vor do povo, a seu alcance e produzida com sua direta participação"(3:9), salientando, ainda, que "a informação acumulada e detalhadamente proces-sada serve prioritariamente a uma elite tecnocrática, a investigadores, em sua maioria desligados do povo e a alguns autodidatas muito motivados" (3:9).

É certo que esta visão da biblioteconomia pode ser acusada de possuir um engajamento político excessivamente ligado a tendências esquerdistas. Afinal - dirão - revoluções ocorridas em países como a Nicarágua ou Cuba são revoluções socialistas e não podem fornecer modelos de conduta a bi-bliotecário de um país de "tradição democrática" como o nosso, em que o bibliotecário tem pautado sua conduta profissional pelo fornecimento de in-formações sobre todos os assuntos possíveis, enfocados sob todos os aspec-tos, de modo a que os próprios usuários ou interessados possam escolher o ponto de vista que melhor lhes apeteça ... Esta afirmação, na realidade, pro-cura transmitir a idéia de que a prática bibliotecária, tal como a arte, é essen-cialmente pura e não deveria ser corrompida por interesses ou controles so-ciais. Mais ainda, propugna a idéia de um bibliotecário que se colocaria aci-ma de qualquer contenda política ou ideológica, o qual forneceria informa-ções - todas elas, sem censura - para que os próprios interessados decidis-sem, por si sós, seus caminhos e suas idéias. Em outras palavras, o bibliote-cário não deve ser, em sua prática profissional, nem de esquerda, de direita ou de centro, devendo ser totalmente apolítico e neutro. Sem dúvida, esta po-de ser uma proposição sincera e bem intencionada, mas pode ser, também, uma maneira de utilizar bibliotecários, bibliotecas e centros de documenta-ção como armas de controle, para depois afirmar que estes não têm absolu-tamente nada a ver com isso. Até que ponto os bibliotecários podem ter cer-teza de que não é isto o que está ocorrendo neste país?

Não se pode deixar de lado, de forma alguma, a noção de que todos os profissionais possuem uma

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r e s p o n s a b i l i d a d e s o c i a l para com a população

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que, teoricamente, devem atender. No caso de bibliotecários e documenta-lista, esta responsabilidade social será devidamente equacionada quando es-ses profissionais conseguirem colocar-se como canais não mais entre as in-formações produzidas e um usuário potencial totalmente descaracterizado, mas entre estas informações e aquelas camadas da população que sempre fo-ram mantidas afastadas delas. E isto só poderá ocorrer a partir de práticas políticas que permitam, aos bibliotecários, uma opção diversa da que ocorre atualmente, em termos gerais, neste país; uma opção que, tal como defende Jacques Depallens, diferencie os usuários a serem ativamente atendidos, que não devem ser, absolutamente, "os mesmos que na biblioteconomia do mun-do ocidental industrializado"(3: 11); além disso, tornar acessíveis à popula-ção informações compatíveis e úteis a suas necessidades cotidianas, normal-mente não disponíveis nos veículos tradicionais de comunicação de massa; e por último, ainda segundo este último autor, buscar "como ir além da mera catalogação e indexação simplificada"(3:11), afim de que o tesouro de in-formações acumuladas em bibliotecas e centros de documentação tenham relação mais próxima com a comunidade e suas necessidades prioritárias. Neste aspecto, é essencial que os profissionais procurem integrar-se à comu-nidade que estão atendendo, conhecendo suas carências e necessidades. Este parece ser um ponto primordial, nem sempre suficientemente trabalhado por profissionais bibliotecários que, muitas vezes, devido aos mais diversos fato-res, colocam-se acima das comunidades que estão servindo, tomando deci-sões, que a elas são concernentes, sem o devido conhecimento das particula-ridades envolvidas. Sem dúvida, esta é uma postura que necessita modificar-se radicalmente quando se pretende organizar bibliotecas ou centros p o p u l a

-res de documentação e comunicação ...

4 C o n c l u s ã o

O que se procurou questionar aqui não foi tanto os bibliotecários em si - que são formados com tantas deficiências e a tão duras penas por um sistema educacional provavelmente equivocado em suas premissas básicas -, mas muito mais o papel relativamente passivo que estes vêm assumindo em sua prática profissional (mesmo levando-se em consideração todas as exceções que poderiam ser apontadas). O panorama nacional, seja pelo que deixa vis-lumbrar a literatura biblioteconômica em língua portuguesa, como pelo que a experiência diariamente mostra a olhos mais atentos, revela que as iniciativas de organização e disseminação da informação, ocorridas neste país, que vi-sam a camadas menos privilegiadas em termos de recursos informacionais (e econômicos), nem sempre tiveram o bibliotecário - ou suas instituições de classe - à frente delas. Um espaço muito importante pode não estar sendo

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preenchido pelos profissionais da informação - e aqui poderíamos incluir também os arquivistas e museólogos - na organização das sociedades de paí-ses subdesenvolvidos: o de trabalhadores de vanguarda. E isto, se realmente estiver ocorrendo, é algo realmente deplorável. Afinal, isto viria apenas a demonstrar que nós, os bibliotécarios, estamos perdendo o trem da história sem provavelmente, sequer nos darmos conta disso. Uma pena ainda maior é que a justificativa para este fato seja sempre colocada em termos de "exigências" impostas por uma sociedade em desenvolvimento, que exige um profissional bibliotecário que esteja à frente - ou ao lado - de inovações tecnológicas, esquecendo-se de que esta "vanguarda" tecnológica, digamos assim, não prescinde, necessariamente, de um posicionamento social permeável a mu-danças e a favor de uma distribuição equitativa das informações disponíveis. Afinal, como diz Depallens, "as barreiras e os obstáculos se encontram em nossas cabeças, no estilo de trabalho com o qual estamos acostumados, em nossos preconceitos culturais que nos impedem de estar atentos às necessi-dades do povo, para atendê-Ias de maneira dinâmica e solidária"(3: 13). Tal-vez seja exigir demais, querer que os bibliotecários tomem consciência dis-so ... Ou não?

Abstract - Librarianship in Brazil has been characterized as relatively de-veloped in the fields of university and special libraries and very poor in the field of public or pop~lar libraries. Brazilian librarians should opt for a work more linked to people's day-to-day needs. Librarianship is not neutral or just a group of techniques with no bearings to the society in with they occur. It is necessary that Brazilian librarians try to find ways for a new practice in li-brarianship.

5 Referências bibliográficas

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214 R.Bibliotecon.Brasília,16(2):207- 215,jul.ldez.1988

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