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O INQUÉRITO POLICIAL NO DIREITO BRASILEIRO: UM ENSAIO SOBRE REFORMA DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NO SISTEMA PÁTRIO

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UNIVERSIDADE REGIONAL INTEGRADA DO ALTO URUGUAI E DAS MISSÕES PRÓ-REITORIA DE ENSINO, PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CAMPUS DE ERECHIM

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS CURSO DE DIREITO

BRENDA KAZMIROWSKI

O INQUÉRITO POLICIAL NO DIREITO BRASILEIRO: UM ENSAIO SOBRE REFORMA DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NO SISTEMA PÁTRIO

ERECHIM

2019

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BRENDA KAZMIROWSKI

O INQUÉRITO POLICIAL NO DIREITO BRASILEIRO: UM ENSAIO SOBRE REFORMA DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NO SISTEMA PÁTRIO

Monografia apresentada ao Curso de Direito como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Direito Jurídicas e Sociais na Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Campus de Erechim.

Orientadora: M.e Simone G. de Albuquerque

ERECHIM

2019

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BRENDA KAZMIROWSKI

O INQUÉRITO POLICIAL NO DIREITO BRASILEIRO: UM ENSAIO SOBRE REFORMA DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NO SISTEMA PÁTRIO

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em Direito, Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões – Erechim.

_________, ____de ______ de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_______________________________

Prof. M.e

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

_______________________________

Prof.

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

_______________________________

Prof.

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões

(4)

Dedico este trabalho primeiramente a Deus,

por ser essencial em minha vida, aos meus

pais, irmãos, avó, namorado e a Sophie, pelo

apoio nesta jornada.

(5)

AGRADECIMENTOS

Inicialmente agradeço a Deus, que iluminou o meu caminho durante esta caminhada.

Agradeço a minha família, por me apoiarem e acreditarem nas minhas escolhas. Mãe e Pai, obrigada pela dedicação, amor e paciência.

À minha irmã e meu irmão, por estarem sempre presentes nos momentos mais importantes da minha vida.

Sou grata também ao meu namorado, pelo amor, paciência, e por ser meu maior incentivador.

À Sophie, melhor companheira de quatro patas do mundo, por ser um anjo de Deus e alegrar os meus dias.

As amigas que conheci na faculdade e levarei para a vida, obrigada por

esses cinco anos juntas, compartilhando as alegrias e dividindo as angústias.

(6)

Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante.

Antoine de Saint-Exupéry

(7)

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo tratar do tema Inquérito Policial no Direito Brasileiro, que é um instrumento composto por um conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária e tem como finalidade a apuração da infração penal e sua autoria para servir como subsídio da ação penal. Foi feito um levantamento histórico, descrevendo sua evolução, conceito e legitimidade ativa no sistema pátrio. Além disso, foi realizada uma explanação de como são os procedimentos utilizados na investigação criminal de outros países, como França, Espanha e Estados Unidos.

Na sequência foram analisados os pontos negativos do Inquérito Policial, como o seu caráter inquisitorial, que desrespeita o direito de defesa, que por sua vez é um princípio garantido em nossa Constituição, bem como a repetição na produção de provas na persecução criminal. Outrossim, foram explanados alguns pontos que demonstram que, apesar de ser um método muito antigo, criado em 1871 e após isso foi mantido no Código de Processo Penal de 1941, o Inquérito Policial é de extrema relevância para a investigação, de modo que se torna uma peça de referência durante a fase judicial. Ademais, é presidido por uma autoridade que tem como propósito, tão somente, a verdade e a autoria do fato. Ainda, foi tratado a respeito de alguns pontos que devem ser aprimorados, como por exemplo a insuficiência de recursos para o trabalho da polícia. Por fim, não se pode atribuir todos os problemas da Justiça Criminal ao modelo de Inquérito Policial, é necessário salientar que não se quer o fim do inquérito policial, e sim sua modernização. A pesquisa é resultado de uma revisão bibliográfica e documental, em que se utilizou o método de abordagem indutiva.

Palavras-chave: Inquérito Policial. Investigação Criminal. Polícia Judiciária.

Persecução Criminal. Justiça Criminal.

(8)

ABSTRACT

The present paper aims to address the theme Police Inquiry in Brazilian Law, which is an instrument composed by a set of proceedings accomplished by the Judiciary Police that aims to investigate the criminal offense and its authorship to serve as a support to criminal action. A historical research was done, describing its evolution, concept and active legitimacy in the homeland system. Moreover, an explanation of how the procedures used in criminal investigation of other countries, such as France, Spain and the United States, was performed. After that, it was analyzed negative aspects of the Police Inquiry, such as its inquisitorial character, which violates the right of defense, which in turn is a guaranteed principle in our Constitution, as well as the repetition in the production of evidence in criminal prosecution. Furthermore, it was explained some points which demonstrate that, despite of being a very old method, created in 1871 and after that was sustained in the Criminal Procedure Code of 1941, the Police Inquiry is extremely relevant to the investigation, so that becomes a reference piece during the judicial phase. Besides, it is presided over by an authority whose purpose is only the truth and the authorship of the fact. And also, it was discussed about some points that should be improved, such as insufficient resources to the police work. Finally, it can not attribute all the problems of criminal justice to the model of Police Inquiry, it is necessary to emphasize that it should not seek the end of the police inquiry, but its improvement. This research is the result of a bibliographic and documentary review, using the inductive approach method.

Keywords: Police Inquiry. Criminal investigation. Judiciary Police. Criminal

Persecution. Criminal Justice.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO... 09

2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INQUÉRITO POLICIAL NO BRASIL... 11

2.1 EVOLUÇÃO... 11

2.2 CONCEITO... 14

2.3 LEGITIMIDADE ATIVA... 18

3 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: UMA ANÁLISE DOS ORDENAMENTOS ALIENÍGENAS... 21

3.1 A INSTRUÇÃO PRELIMINAR NA FRANÇA... 21

3.2 A INVESTIGAÇÃO COMPLEMENTAR NA ESPANHA... 23

3.3 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NOS ESTADOS UNIDOS... 26

4 EFICIÊNCIA OU INEFICIÊNCIA DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL?... 30

4.1 ASPECTOS NEGATIVOS DO INQUÉRITO POLICIAL... 30

4.2 O INQUÉRITO POLICIAL: INSTRUMENTO RELEVANTE PARA A PERSECUÇÃO CRIMINAL... 32 4.3 A NECESSIDADE DE REFORMA E MODERNIZAÇÃO DO INQUÉRITO... 34

5 CONCLUSÂO... 36

REFERÊNCIAS... 38

(10)

1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho acadêmico visa pesquisar o Inquérito Policial no Direito Brasileiro e fará um ensaio sobre a reforma da investigação criminal no sistema pátrio. Trata-se de um tema de grande importância, pois o inquérito consiste em uma documentação das provas, indícios e diligências realizadas durante a investigação criminal, contribuindo efetivamente com a elucidação do fato criminoso.

Outrossim, é relevante compreender como se dá o procedimento do inquérito, pois é uma peça que serve de base a fase judicial. Ademais, é por meio da investigação prévia que é verificado se há fundamento que justifique ou não o processo. O inquérito evidencia os elementos de convicção que interessem ao julgando da causa. Diante disso, é necessário analisá-lo para entender quais são os pontos que podem ser aperfeiçoados de acordo com a atual situação da sociedade brasileira.

O primeiro capítulo abordará o inquérito policial desde o seu surgimento com a promulgação do Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, até a atual Constituição Federal de 1988, explanando sobre o seu conceito e legitimidade ativa para o comando. O Inquérito é um procedimento persecutório e possui caráter administrativo, sendo antecedente a fase processual. Constitui-se por um conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária para a apuração de uma infração penal e sua autoria.

O segundo capítulo irá versar sobre como é feita a investigação criminal em outros países, são eles a França, Espanha e Estados Unidos, trazendo uma breve análise dos procedimentos adotados no sistema comparado. É válido ressaltar a importância do estudo dos modelos de investigação exercidos em outros ordenamentos jurídicos, a fim de observar quais atos estão tendo eficácia na prática e o que eventualmente poderia ser aplicado ao sistema pátrio.

Finalmente, no último capítulo verifica-se a eficiência ou ineficiência do

inquérito policial nos moldes que está regulamentado no ordenamento jurídico

brasileiro. Foram analisados os pontos negativos do Inquérito Policial, como o seu

caráter inquisitorial e a repetição na produção de provas. Ainda, foram explanados

alguns pontos positivos relativos ao Inquérito Policial, visto que é um instrumento

muito valoroso na persecução criminal.

(11)

Este trabalho acadêmico pretende esclarecer como funciona o inquérito

policial e se há pontos que podem ser aprimorados, visando a sua atualização. A

pesquisa é resultado de uma revisão bibliográfica e documental, em que se utilizou o

método de abordagem indutiva.

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2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO INQUÉRITO POLICIAL NO BRASIL

O trabalho passará a apresentar um levantamento histórico sobre o inquérito policial no Brasil, desde o seu surgimento com a promulgação do Decreto nº 4.824, de 22 de novembro de 1871, até a atual Constituição Federal de 1988. Neste capítulo desenvolve o conceito e a legitimidade ativa para condução do instrumento de persecução criminal.

2.1 EVOLUÇÃO

O Inquérito Policial foi criado por meio do Decreto, nº 4.824, em 22 de novembro de 1871, que, por sua vez, regulamentou a Lei nº 2.033, de 1871. O artigo 42 do referido decreto definia “O inquérito policial consiste em todas as diligências necessárias para o descobrimento dos fatos criminosos, de suas circunstâncias e dos seus autores e cúmplices; e deve ser reduzido a instrumento escrito” (BRASIL, 1871).

Este decreto não está mais em vigor, no entanto o Código de Processo Penal de 1941 manteve o Inquérito Penal, com o motivo de ser um instrumento de garantia dos cidadãos contra abusivas acusações, sendo posteriormente recepcionado pela Constituição Federal. De acordo com VIEIRA (2010, p. 01) “Pelas mesmas razões, a Constituição Federal de 1988, conhecido a Constituição Cidadã, através de seus princípios foi o mesmo recepcionado, já que para acusar alguém, necessário elementos com fundamentos fáticos e jurídicos suficientes para ser promovida a ação penal”.

O intuito é a apuração da infração penal e da sua autoria, para servir como subsídio a ação penal e fundamentar as diligências da investigação. Para Luiz Carlos Rocha (1998, p. 05) o objetivo da investigação criminal é descobrir a verdade, até onde ela possa ser revelada, em todas as indagações que se possa fazer sobre o fato que infringiu uma norma legal.

O inquérito policial é um instrumento que inicia a persecução penal e de

acordo com Baldissera (2012, p. 01) “[...] o inquérito policial seria uma

documentação de todos os fatos, provas, indícios e suspeitas desse crime.

(13)

Relaciona-se com o verbo inquirir, que significa perguntar, indagar, procurar, averiguar os fatos, como ocorreram e quem é o seu autor”.

Trata-se, portanto, de um procedimento prévio que antecede a fase processual, composto por um conjunto de diligências realizadas pela Polícia Judiciária para a apuração de uma infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo. Nesse sentido:

Esse objetivo de investigar e apontar o autor do delito sempre teve por base a segurança da ação da justiça e do próprio acusado, pois, fazendo-se uma instrução prévia, por meio do inquérito, reúne a polícia judiciária todas as provas preliminares que sejam suficientes para apontar, com relativa firmeza, a ocorrência de um delito e o seu autor. O simples ajuizamento da ação penal contra alguém provoca um fardo à pessoa de bem, não podendo, pois, ser ato leviano, desprovido de provas e sem um exame pré- constituído de legalidade. Esse mecanismo auxilia a Justiça Criminal a preservar inocentes de acusações injustas e temerárias, garantindo um juízo inaugural de delibação, inclusive para verificar se se trata de fato definido como crime. (NUCCI, 2015, p. 01)

Aury Lopes Jr. (2003, p. 37) diz que a investigação preliminar pode ser considerada como um inter, uma situação intermediária que serve de elo de ligação entre a notitia criminis e o processo penal. Não podendo, a investigação ser confundida com a instrução, pois a primeira tem o objetivo de colher elementos para a formação da opinio delicti por parte do Ministério Público, visando o oferecimento da ação penal. Já o objeto da instrução, é a colheita de provas dirigidas ao convencimento do juiz. Dessa forma:

A investigação criminal, portanto, é o conjunto de atividades e diligências tomadas com o objetivo de esclarecer fatos ou situações de direito relativos a supostos ilícitos criminais. Tal entendimento, com esta amplitude acaba por abarcar a própria instrução em juízo como uma espécie de investigação criminal, uma vez que é a busca da verdade processual acerca de um ilícito.

É neste sentido que se afirma que a persecução criminal é formada pela fase processual e pela fase pré-processual em que a investigação é a atividade cujo objetivo é o de verificar, sumariamente, através de um juízo de probabilidade, se há elementos mínimos a garantir que não seja leviana a instauração de processo criminal. (GOMES e SCLIAR, 2008, p. 01)

O responsável por presidir o inquérito penal é a autoridade policial, ou seja, o

Delegado de Polícia, nos termos do artigo 144, inciso IV, parágrafo 4º, da

Constituição Federal combinado com o artigo 4º, caput do Código de Processo

Penal. O artigo 6º e incisos do Código de Processo Penal apontam um roteiro a esse

(14)

profissional, indicando quais são os seus deveres após tomar conhecimento da prática da infração penal.

O procedimento deve ser escrito, com formalidade, clareza e coerência dos elementos apresentados. Nesse sentido:

Tanto é que estes fundamentos fáticos e jurídicos são colhidos através de uma investigação dirigida e presida por um Bacharel de Direito, o Delegado de Polícia, com atribuições e poderes instituídos (artigo 4º, IV, p. 4º da CF).

Nos termos do já não vigente Decreto n. 4.824, de 1871 em seu artigo 11, p.

3º. In fine e no artigo 42, o Inquérito Policial tem como objeto “a verificação da existência da infração penal, o descobrimento de todas as suas circunstâncias e da respectiva autoria.” Na mesma esteira, o Código de Processo Penal em seu artigo 4º dispõe que o inquérito policial “terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria”. Assim, na legislação não há um conceito legal, já que o artigo 4º do Código de Processo Penal não dá uma definição, mas sim a finalidade. (VIEIRA, 2010, p. 01)

Ainda que o nome inquérito policial tenha sido mencionado pela primeira vez no supracitado decreto, as suas funções são mais antigas. Visto que já havia no Código de Processo de 1832 comandos legais que previam sobre o procedimento informativo, mas não sob a nomenclatura inquérito policial. Dessa forma:

Não se pode olvidar que, embora tenha trazido discussões acerca de sua eficiência, transparência e até mesmo paridade com o sistema constitucional, uma peça tão importante tem sua eficiência atestada na medida em que sofreu poucas alterações legislativas ao longo do tempo.

(ALMEIDA, 2012, p. 01)

Afirmam Vinícius de Andrade e Gleick Meira:

Em essência, o Inquérito Policial, não sofreu alterações desde a segunda metade do séc. XIX, ainda no Brasil Império. A atual legislação praticamente inalterada desde 1940, apesar das releituras e adequações constitucionais e infraconstitucionais após a Constituição de 1988, não conseguiu dotá-lo de objetividade e eficiência. (ANDRADE; OLIVEIRA, 2011, p. 02)

Em consequência ao acontecimento de algum ilícito penal o Estado apurará os fatos, colhendo provas de autoria e materialidade delitiva. No entanto, Almeida (2012, p. 01) destaca que “Não há, para o inquérito policial, ao contrário dos procedimentos judiciais, um codex acerca dos ritos a serem seguidos, de forma pormenorizada, envolvendo os atos a serem praticados [...]”.

Conforme Almeida (2012, p. 01) “No sistema vigente, há duas etapas da

persecução penal: o inquérito policial e a ação penal. O primeiro serve para colher

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elementos aptos a ensejarem o oferecimento de uma ação penal, estruturando e dando justa causa à propositura desta, servindo para fundamentá-la”.

O inquérito policial tem início com a notícia crime e a autoridade policial ao tomar ciência de algum fato criminoso lavrará o Boletim de Ocorrência, que servirá como base para instauração do Inquérito Policial. Nesse sentido:

Uma vez iniciado, o Inquérito Policial não é regido por um rito preestabelecido, da construção doutrinária e do próprio Código de Processo Penal tem-se que o mesmo tramita por três fases: início; instrução (oitiva da vítima, do indiciado, das testemunhas, perícias etc. e a conclusão (relatório);

[...]. Sendo o Inquérito Policial uma peça informativa prévia, salutar destacar, que seu valor probatório não é absoluto, não serve como amparo único a um decreto condenatório, já que não há o contraditório no seu curso, em que pese a figura do Advogado ser legalmente cabível, necessário produzir as respectivas provas dentro da instrução processual criminal, para fazer prova em Juízo. Por esta razão tem-se que os indícios ou circunstâncias deverão ser provados de forma a permitir uma conclusão lógica, suficiente para subsidiar a ação penal, afastando as incertezas e dúvidas. A verdade é uma só, o Inquérito Policial não um mero instrumento de colheita de prova, exerce ele um importantíssimo papel dentro da persecução criminal, tendo seu valor probatório para ao final, não só procurar um culpado, mas buscar Justiça. (VIEIRA, 2010, p. 03-04)

É válido considerar que em quase todos os países, antes do processo penal há uma etapa de investigação, que tem como objetivo apurar indícios da materialidade e autoria do delito. No Brasil, cabe à polícia a investigação preliminar.

2.2 CONCEITO

O inquérito policial pode ser conceituado como “atividade desenvolvida pela Polícia Judicial com a finalidade de averiguar o delito e sua autoria”, consistindo em um conjunto de atividades desenvolvidas por vários órgãos do Estado, por meio de realização das diligências necessárias para o descobrimento de fatos criminosos, circunstâncias e autoria, devendo ser reduzido a escrito.

Para Baldissera (2012, p. 01) “Quando um sujeito pratica um determinado delito, o Estado tem o dever de puni-lo. Para isso, ele precisa de um órgão responsável para apurar os fatos e circunstancias e até mesmo os suspeitos desse crime. Esse órgão responsável por tal ato é chamado de Polícia Judiciaria. Essa polícia judiciaria é quem realiza o Inquérito Policial”.

Segundo Mehmeri (1992, p. 4), o termo Inquérito Policial tem origem na

palavra inquisitivo, que significa: “procurar informações, indagar, investigar”. Já

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Tourinho Filho (2001, p. 188), conceitua inquérito policial como sendo: “Conjunto de diligências realizas pela Polícia Judiciária para apuração de uma infração penal e sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo”.

O Inquérito Policial é o dispositivo pelo qual o responsável pela investigação a materializará, reunindo as informações coletadas acerca da investigação criminal.

Dessa forma:

O CPP de 1941 denomina a investigação preliminar de inquérito policial em clara alusão ao órgão encarregado da atividade. O inquérito policial é realizado pela polícia judiciária, que será exercida pelas autoridades policiais no território de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da sua autoria (art. 4º). Merece destaque o substantivo feminino utilizado pelo art. 4º para designar a atividade que será levada a cabo: apuração. O substantivo deriva do verbo apurar, que, no seu sentido etimológico, deriva de puro e significa purificar, aperfeiçoar, conhecer o certo. (LOPES JUNIOR, 2003, p. 138)

Aury Lopes Jr. (2003, p. 32) constata que a natureza da investigação preliminar é complexa, pois nelas são praticados atos de diversas naturezas (administrativos, judiciais e até jurisdicionais), assim ela será dada com a análise de sua função, estrutura e órgão encarregado. Dessa forma, sua natureza jurídica se caracteriza pela a dos atos predominantes.

De acordo com Baldissera:

O inquérito é necessário para colher e juntar elementos e informações indispensáveis na propositura da ação penal. Porém, este não é obrigatório, pois ele pode ser substituído por quaisquer outras peças que contenham as informações e elementos necessários à propositura da devida ação penal.

Nota-se que o inquérito policial seria uma fase investigatória, da qual opera- se no âmbito administrativo. Para gerar o inquérito, não necessita ser somente um fato típico, mas também um fato jurídico, pois somente após a investigação será concluída se o fato é típico e antijurídico culpável (crime).

(BALDISSERA, 2012, p. 01)

Na legislação brasileira a investigação cabe à polícia judiciária. Para Andrade

e Oliveira (2011, p. 107) hoje no Brasil, o inquérito policial encontra-se basicamente

com os mesmos moldes de sua primeira definição legal. Tornou-se burocrático e

pouco eficaz, pois com a evolução da sociedade houve consequentemente a

evolução da prática criminosa (criminalidade organizada, intensificação e facilidade

das comunicações, massificação de serviços, globalização, crimes cibernéticos,

fraudes contábeis de alto impacto econômico). Dessa forma, uma investigação

preliminar baseada majoritariamente no inquérito policial passa por crises profundas.

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Como mostram Vinícius de Andrade e Gleick Meira:

Todavia, a investigação preliminar brasileira baseada majoritariamente nesse instrumento, passa por crise profunda, devido as grandes transformações da sociedade (criminalidade organizada, intensificação e facilidade das comunicações, massificação de serviços, globalização, crimes cibernéticos, fraudes contábeis de alto impacto econômico) e as mudanças nos papéis e procedimentos no interior do sistema acusatório.

(ANDRADE; OLIVEIRA, 2010)

De acordo com Augusto Mondin (1967, p. 54, apud SILVA, 1994, p. 50) “o inquérito policial, apreciado em seus vários aspectos, é o registro legal, formal e cronologicamente escrito, elaborado por autoridade legitimamente constituída, mediante o qual está autêntica as suas investigações e diligências na apuração das infrações penais, das suas circunstâncias e dos seus autores”.

O inquérito penal não é uma peça meramente informativa, se dispõe a buscar informações que demonstrem a ocorrência de um suposto fato típico penal por meio de comprovação do delito e da identificação do autor. Portanto, suas conclusões possibilitam a propositura de ação penal, visando obter os resultados úteis e socialmente esperados.

Segundo explica o autor Lenza e outros (2013, p.62), é um procedimento investigatório instaurado em razão da prática da uma infração penal, composto por uma série de diligências, que tem como objetivo obter elementos de prova para que o titular da ação possa propô-la contra o criminoso.

Nesse mesmo raciocínio Capez (2012, p.111):

É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em juízo (CPP, art. 4º). Trata-se de procedimento persecutório de caráter administrativo instaurado pela autoridade policial.

(CAPEZ, 2012, p.111)

Nessa senda:

Sua finalidade é a investigação a respeito da existência do fato criminoso e da autoria. Não é uma condição ou pré-requisito para o exercício da ação penal, tanto que pode ser substituído por outras peças de informação, desde que suficientes para sustentar a acusação (GRECO FILHO, 2012, p.122).

(18)

O inquérito policial engloba os resultados da investigação, que devem ser adaptados para a lógica e linguagem jurídicas, seguindo as observações elencadas no Código de Processo Penal brasileiro. Consoante Vargas e Rodrigues:

Nele, encontram-se agrupados, dentre outros: o registro da ocorrência realizado por policiais militares; laudos e exames confeccionados por peritos; ordens de serviços cumpridas por investigadores; depoimentos transcritos por escrivães; portarias e relatórios de delegados; manifestações de promotores, solicitando novas investigações ou autorizando a dilatação dos prazos; despachos de juízes sobre prisão; escuta telefônica e mandados de busca e apreensão; e, até mesmo, petições de defensores.

Isso tudo com o aval dos carimbos e assinaturas que visam tornar esses registros, documentos de fé pública, isto é, com veracidade atestada pelo Estado. (VARGAS e RODRIGUES, 2011, p. 01)

Para analisar sistemas de vários países, segundo Lopes Junior:

[...] o melhor é utilizar o termo instrução que investigação, não só pela maior abrangência do primeiro (pois pode referir-se tanto a uma atividade judicial – juiz instrutor – como também a uma sumária investigação policial) [...]. Ao vocábulo instrução devemos acrescentar outro – preliminar – para distinguir da instrução que também é realizada na fase processual. (LOPES JUNIOR, 2003, p. 34)

No Brasil, é utilizado o emprego da nomenclatura investigação criminal preliminar, reservando o termo instrução para a fase processual. De acordo com Lopes Junior (2003, p. 34) “A nosso juízo, o termo instrução pode ser utilizado, desde que acompanhado do adjetivo preliminar, evitando assim qualquer confusão com a instrução definitiva realizada na fase processual”.

O Código de Processo Penal, no artigo 5º estabelece que: “Art. 5º Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo”. Baldissera elucida que:

O inquérito policial, dependendo do caso em que se segue, pode ser instaurado por portaria da autoridade policial e pela lavratura de flagrante, mediante representação do ofendido, por requisição do juiz ou do Ministério Público, e por requerimento da vítima. O inquérito policial apresenta nas ações penais publicas incondicionadas o Ministério Publico, do qual é seu titular exclusivo e, nas ações penais privadas, o ofendido, do qual é o titular de tais ações. Nas ações penais publicas condicionadas, cabe mediante representação, ou seja, essa representação seria a manifestação da vontade da vitima de ver processado o agente do fato. (BALDISSERA, 2012, p.01)

(19)

O inquérito possui caráter sigiloso, no entanto os advogados podem ter acesso. Essa característica está prevista no Código de Processo Penal, em seu artigo 20 “A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da sociedade”.

Outra característica do inquérito policial é sua inquisitoriedade, ou seja, não admite o princípio do contraditório e a ampla defesa, pois não tem o poder de incriminar. Conforme Baldissera (2012, p. 01) “O indiciado não pode recusar-se a fazer o interrogatório. O mesmo ocorre com as testemunhas. Em se tratando do silencio, em regra e previsto em lei, não pode prejudicar a defesa do acusado, mesmo que mostre aparente culpa do mesmo”.

Ademais, segundo Baldissera, o inquérito policial também pode ser dispensado:

A obrigatoriedade também é uma característica do inquérito policial, fazendo com que o delegado e a policia judiciaria tenham o dever de instaurar o inquérito, a não ser que o Ministério Publico, por já ter provas suficientes para se iniciar a ação penal, dispense o inquérito, sendo este ato outra característica do mesmo, ser dispensável.

Ainda, segundo o artigo 17, do Código de Processo Penal, a polícia judiciária não pode mandar arquivar autos de inquérito, este, posteriormente, fornecerá ao órgão de acusação os elementos necessários para que seja proposta a ação penal.

2.3 LEGITIMIDADE ATIVA

A legitimidade para instaurar e conduzir o Inquérito Policial é conferida pela nossa Constituição à Polícia Judiciária. Consoante Lopes Junior (2003, p. 37) “A Constituição (art. 144) outorga as polícias civis e federais, nos seus respectivos âmbitos, a função de polícia judiciária, mas isso não quer dizer que pertençam ao Poder Judiciário e tampouco que suas atividades tenham o status de ato judicial”.

Nesse sentido:

O sistema de investigação preliminar policial caracteriza-se por encarregar à Polícia Judiciaria o poder de mando sobre os atos destinados a investigar os fatos e a suposta autoria, apontados na notitia criminis ou através de qualquer outra fonte de informação. Todas as informações sobre os delitos públicos são canalizadas para a polícia, que decidirá e estabelecerá qual será a linha de investigação a ser seguida, isto é, que atos e de que forma.

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Praticará ela mesma as provas técnicas que julgar necessárias, decidindo também quem, como e quando será ouvido. Para aqueles atos que impliquem a restrição de direitos fundamentais – prisões cautelares, buscas domiciliares, intervenções corporais, telefônicas etc. - deverá solicitar ao órgão jurisdicional. (LOPES JUNIOR, 2003, p. 63)

Isso posto, a norma constitucional assegura as Polícias Federal e Civil:

Art. 144 [...]

§ 1º A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a:

IV - exercer, com exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

[...]

§ 4º Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares. (Brasil, Constituição Federal, 1988)

De acordo com Cabette:

O traço mais marcante do sistema de investigação policial é a neutralidade do inquérito. Ora, a autoridade policial, por não ter participação na acusação, tampouco no julgamento, só é conduzido pela necessidade de busca da verdade reale é justamente essa imparcialidade que garante a igualdade processual. (CABETTE, 2003, p. 197)

A atividade de polícia judiciária é exercida de acordo com a Constituição Brasileira pelas Polícias Federal ou Civil, que possuem atribuições de polícia administrativa, e são auxiliares do Poder Judiciário. Todavia, nota-se que a polícia judiciária não possui autonomia, conforme explanam Gomes e Scliar:

Por outro lado, a leitura constitucional do tema indica que se a instituição Polícia Judiciária não tem autonomia orgânica, e dificilmente virá a tê-la, a função de Polícia Judiciária exercida pela autoridade policial na condução das investigações desfruta de autonomia como um imperativo decorrente de princípios constitucionais da maior envergadura. Esta atividade, entretanto não está protegida com garantias funcionais suficientes para que possa ser exercida com serenidade e isenção nos moldes em que o constituinte a confiou. O reconhecimento da autonomia funcional do delegado de polícia na investigação, verdadeiro escudo protetor contra intervenções políticas no exercício das suas funções, passa por um processo de filtragem constitucional do instituto investigação preliminar, uma mudança da postura interpretativa atual que deve ser feita à luz da Constituição e não baseada nas normas infraconstitucionais ou entendimentos anteriores a Carta de 1988. (GOMES e SCLIAR, 2008, p. 01)

Nesse mesmo sentido, Gomes e Scliar explicam:

(21)

Ora, a mais intensa atividade de intervenção estatal em um Estado Democrático de Direito se realiza justamente através da persecução criminal, que pode resultar na restrição do jus libertatis do indivíduo, e mesmo quando não chega a tanto já atuou em outros âmbitos da sua esfera de direitos individuais, como o direito à intimidade e à vida privada. Por isso, é preciso que esta função seja exercida em conformidade com o princípio da separação dos poderes, cláusula pétrea que com o seu corolário sistema de freios e contra-pesos norteou o estabelecimento do Estado como o conhecemos hoje, tendo um elevado caráter democrático por se prestar a limitar e controlar o poder estatal que recai sobre os particulares, ao mesmo tempo em que é uma importante ferramenta organizacional na estrutura de qualquer país que o adote. Por outro turno pode-se dizer que o sistema de freios e contrapesos, não é apenas uma técnica a serviço do princípio da separação de poderes, mas o próprio princípio da separação de poderes visto de outro ângulo, na medida em que a divisão das funções do poder estatal em função legislativa, função executiva e função judiciária, estabelece, originariamente, um sistema de controles e contenções recíprocos, com o objetivo de evitar o abuso do poder. Assim, esta divisão originária do poder, até o mais inferior grau de controle entre os órgãos estatais, será decorrência da adoção do princípio da separação de poderes.

No ponto, cabe destacar que este sistema de controles e contenções recíprocas, pode ser dar de forma implícita, quando determinada atividade é compartilhada entre órgãos estatais, sistema no qual, cada um exercendo um estágio da atividade, evita o monopólio da atuação do outro sobre toda ela, prevenindo o abuso do poder. Este é o caso da persecução criminal, dividida entre Poder Executivo, que realiza a investigação criminal;

Ministério Público, como dominus litis; Poder Judiciário, que aplica a lei penal e Poder Legislativo, que elabora as leis processuais e materiais referentes à persecução criminal. O mesmo sistema pode se dar também de maneira explícita, sem que haja divisão da atividade de que se trata, mas estabelecendo o constituinte que determinado órgão fiscalizará o trabalho do outro. Esta forma se apresenta no controle externo realizado pelo Ministério Público sobre a atividade policial, previsto no artigo 129, VII da Carta Magna. (GOMES e SCLIAR, 2008, p. 02)

Para Marcos Kac (2004, p. 145) o sistema preliminar de investigação brasileira está superado, podendo até se falar em uma crise no inquérito policial, uma vez que oferece uma série de aspectos negativos, não satisfaz ao titular da ação penal, tampouco à defesa [...].

No próximo capítulo tratar-se-á da investigação criminal, fazendo uma análise

de dos procedimentos adotados em outros países, como a França, Espanha e

Estados Unidos.

(22)

3 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL: UMA ANÁLISE DOS ORDENAMENTOS ALIENÍGENAS

Segundo Luiz Carlos Rocha (1998, p. 05), em todos os países os métodos de investigação são iguais, o que difere são os procedimentos adotados no ordenamento jurídico de cada país, ou seja, a forma de documentar as diligências, os depoimentos e as perícias.

3.1 A INSTRUÇÃO PRELIMINAR NA FRANÇA

Na França a instrução preliminar é realizada por um juiz instrutor, que tem a incumbência de averiguar e comprovar o fato criminoso. No entanto, em 1958, por meio do Código de Processo Penal Francês foi introduzida uma nova modalidade de instrução preliminar, conforme explana Lopes Junior:

No Code de Procédure Penale de 1958, a instrução preliminar propriamente dita - instruction preparatoire - é realizada pelo juiz instrutor, a quem corresponde a tarefa de averiguar e comprovar o fato e a participação do sujeito passivo. Inobstante, o CPPf de 1958 introduziu uma nova modalidade de instrução preliminar, para os delitos de menor gravidade e complexidade, a cargo do Ministério Público, denominada de l'enquete preliminaire. Na década de 90, especialmente no ano de 1993, o processo penal francês seguiu essa linha evolutiva no sentido de dar maior protagonismo ao Ministério Público na fase pré-processual. (LOPES JUNIOR, 2003, p. 234)

A Polícia judiciária designa tanto o corpo de funcionários encarregados do inquérito, como o trabalho das operações de polícia que estes efetuam. Distingue-se polícia administrativa e polícia judiciária, pois a primeira tem o encargo de prevenção, impedindo a perturbação da ordem pública e a segunda tem a tarefa de constatar as infrações.

Segundo Aguiar:

A polícia judiciária possui duas atribuições principais. De uma forma geral, tem por missão constatar as infrações à lei penal, colher provas e procurar os autores. Especificamente, quando uma instrução é aberta por um juiz de instrução, a polícia judiciária deve executar as delegações deste magistrado e deferir suas requisições, ou seja, executar comissões rogatórias e mandatos. [...] Considerada dentro da qualificação de administração de polícia, a Polícia Judiciária obedece aos principais ditames do controle hierárquico, mas, dentro do exercício de suas atribuições judiciais, depende do controle da autoridade judiciária e das regras de processo penal. [...] A polícia judiciária é, por excelência, comandada pelo procurador da

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República. O Procurador geral vigia os oficiais de polícia de sua área, podendo ordenar sanções contra membros da polícia, como suspenção.

O Chambre d´instruction possui também um poder disciplinar. Ele pode, por exemplo, transmitir ao procurador geral o dossiê do agente considerado como infrator à lei penal. (AGUIAR, 2016, p. 01)

Há dois tipos de inquérito na França, o de flagrante delito e o preliminar. Cada um possui regras específicas. De acordo com Aguiar:

A primeira obrigação do oficial de polícia judiciária, ao saber da ocorrência do delito, é informar imediatamente o ocorrido ao procurador da República, porque este dirige o inquérito, e deve se destinar ao local. Tal oficial deve se transportar ao local, contudo, com a chegada do procurador, pode ser dispensado. O procurador, então, realiza todos os atos da polícia judiciária no local, ou pode ordenar tais atos ao oficial. Pode, ainda, transitar pelo local e proceder às primeiras constatações, quando há, por exemplo, um cadáver ou alguém muito ferido. O juiz de instrução também pode se dirigir ao local. Inclusive, na prática, quando o delito é grave, tanto o procurador como o juiz restam presentes no local. O Procurador da República pode expedir um mandado de busca, sendo o suspeito preso preventivamente pelo oficial de polícia judiciária do lugar da descoberta, efetuando o seu depoimento. Quando não é dispensado pelo Procurador da República, o oficial de polícia pode proceder à constatação dos indícios suscetíveis de serem úteis para a busca da verdade. Para isso, ele pode tirar fotografias, proceder a levantamentos, colher objetos, etc. (AGUIAR, 2016, p. 01)

Após serem realizadas as investigações necessárias o dossiê seguirá para o inquérito preliminar ou para a Instrução. O Inquérito preliminar, também é chamado de inquérito de exceção, pois só pode existir quando não há condições de se instaurar um inquérito de flagrante delito. Tem por objetivo reunir elementos para que o Procurador da República possa exercer seus poderes com conhecimento da causa.

Aguiar (2016, p. 01) explica que é necessário tomar cuidado com o procedimento supracitado, visto que “[...] em certos casos, ele substitui a fase de instrução, sem dar aos interessados as garantias que lhe são devidas no momento da divulgação de uma informação. Ademais, os elementos recolhidos no curso do inquérito poderão ser provas perante o juízo penal”.

Segundo Stafusa:

Em cognição sumária de prática delitiva, a persecução penal inicia-se com a fase de inquérito, onde um policial ou Membro do Ministério Público inicia a colheita de provas preliminares e indícios de autoria delitiva. Por ser apenas de cognição inicial, vigora o princípio inquisitivo e a imposição de sigilo.

A segunda fase trata-se da instrução. Diferentemente do que ocorre no Brasil onde já se há uma acusação apresentada, neste momento há a colheita de provas para verificar se há condições de viabilidade para apresentação de uma acusação contra o investigado.

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Nessa segunda etapa processual, quem conduz a investigação é o juiz de instrução. Ele detém o poder de diligenciar a fim de trazer ao processo os elementos probatórios a fim verificar se haverá causa para demanda penal [...]. Tanto o Ministério Público, quanto o investigado podem requerer produção probatória, que será atendida conforme deliberação do juiz de instrução. Ainda há sigilo na investigação, porém as partes têm acesso ao conteúdo probatório já colhido. Tais provas colhidas gozam de caráter jurisdicional.

Por fim, havendo admissibilidade dos fatos alegados contra o investigado é que este será submetido a julgamento perante algum tribunal a depender da natureza da infração penal cometida. O julgamento é feito por juiz diferente daquele que promoveu a instrução [...]. (

STAFUSA, 2017, p. 01)

Ainda, na França a Polícia Judiciária, no exercício das suas atribuições judiciárias, depende do controle do juiz. Sanguiné e Sanguiné explicam o motivo:

Um dos motivos que justificam esse controle é de ordem jurídica: a autoridade judiciária é a guardiã da liberdade individual. O exercício da função policial apresenta o risco de atentar contra a liberdade individual. A autoridade judiciária previne esse risco, controlando a polícia judiciária. Em termos gerais, durante a investigação, os funcionários da polícia judiciária são colocados sob a direção do Procurador da República, que tem todos os poderes e todas as prerrogativas próprias dos funcionários de polícia judiciária, podendo realizar todos os atos que sejam necessários à investigação preliminar (“l’enquête préliminaire”). No ano 2000, o legislador francês introduziu novas disposições visando reforçar o controle, pelo juiz, de liberdades e de detenção, da investigação preliminar, quanto a sua duração e quanto a sua direção efetiva pelo Procurador da República. Tanto este como o Juiz de Instrução dispõem de todos os poderes de polícia judiciária, podendo realizar, por si mesmos, os atos investigatórios necessários à investigação e à persecução de infrações penais (art. 40 e ss.

do CPP). O legislador outorgou ao Procurador da República a faculdade de participar da execução dos atos que ele tiver requisitado. Considerou-se que a atribuição ao Ministério Público da investigação constitui garantia de eficácia e rapidez em relação à investigação conduzida por um magistrado isolado e exposto a riscos diversos. (SANGUINÉ e SANGUINÉ, 2013, p. 12)

No próximo item verificar-se-á a forma da instrução criminal realizada na Espanha.

3.2 A INSTRUÇÃO COMPLEMENTAR NA ESPANHA

Na Espanha, o processo penal é fracionado em duas fases, são elas:

instrução preliminar e judicial oral ou fase processual. Segundo Lopes Junior:

Entre essas duas fases, é possível apontar a existência de um elo de ligação, um período denominado de fase intermedia, destinado a decidir sobre a conclusão da instrução preliminar e a abertura do processo ou o seu arquivamento, conforme a caso. Em um macro-análise, a fase pré- processual é claramente inquisitória, enquanto que a fase processual aproxima-se mais das características do sistema acusatório. A fase pré-

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processual é essencialmente dominada pela figura do juiz de instrução, caracterizando o que anteriormente definimos como "investigação preliminar judicial". (LOPES JUNIOR, 2003, p. 219 e 220)

O titular da ação penal acusatória é o Ministério Fiscal. Conforme Lopes Junior (2003, p. 220) “A instrução preliminar está estruturada em um complexo sistema, pois coexistem na atualidade três formas distintas: o sumário, as diligências prévias e a instruccion complementaria”.

Lopes Junior explana que:

O sumário foi concebido em 1882 e constitui a fase pré-processual dos processes que seguem o procedimento ordinário. Está estruturado de forma clara, bem definida, e, considerando a sua pureza; podemos afirmar que é o modele de instrução judicial por excelência. Mais de cem anos depois - mantendo o sumLrio -, a lECrim (código processual penal espanhol) foi objeto de uma reforma pontual, através da LO 7/88, que institui o procedimento abreviado e as diligências prévias como sistema de instrução preliminar. O procedimento abreviado é fruto de uma legislação feita "às pressas" para adequar-se à STC 145/88 e com isso marcar o retorno do princípio do juiz não prevenido. Ademais de separar as funções de instruir e julgar, a LO 7/88 pretendeu incrementar as atribuições do MP na instrução preliminar e implantar um rito mais célere. O que pretendia ser um procedimento especial, na realidade, constitui um procedimento semelhante ao "ordinário", tendo em vista, principalmente, a ampla gama de delitos submetidos a ele [...]. (LOPES JUNIOR, 2003, p. 211)

Observa-se que os objetivos em parte foram alcançados. Segundo Lopes Junior (2003, p. 221) “Ademais da clara separação das funções de instruir e julgar, foi estabelecido um rito acelerado, em que predomina a oralidade e a concentração de atos, que estabelece uma certa liberdade (limitada) para as partes alcançarem o consenso”.

Dessa forma Lopes Junior:

Está claramente estabelecido que no exercício das funções de investigação, a polícia depende das instruções dos juízes e promotores (dependência funcional). No que se refere as funções de prevenção de delitos e manutenção da ordem e segurança do Estado, a polícia atua segundo as diretrizes de política criminal traçadas pelo Poder Executivo, constitucionalmente responsável pela política geral do Estado (art. 97 CE).

Para garantir a realização da investigação preliminar, estabelece o art. 446 da LOPJ que os membros da Policia Judicial gozam de inamovibilidade enquanto atuam em uma investigação concreta - dentro de suas atribuições -, de modo que não poderão ser removidos ou afastados enquanto não finalizem a mesma, salvo por decisão ou com autorização do juiz ou promotor que esteja ao mando. Desta forma, evita-se a molesta contaminação política na atividade judicial. Por fim, quando existirem ordens conflitantes, emanadas de um juiz e de um promotor, prevalecerá a ordem

(26)

do juiz, atendendo-se ao fato de que na Espanha ainda cabe ao juiz instrutor a palavra final. (LOPES JUNIOR, 2003, p. 233)

Outrossim, segundo Prada:

Após trinta anos de vigência constitucional, a definição da natureza jurídico- política do Ministério Público na Espanha continua sendo objeto de debate.

A Constituição de 1978 pôs fim a um Ministério Público hierarquicamente subordinado ao governo, mas não pôde, não soube ou não quis definir a posição do Ministério Público no novo sistema político. O problema tampouco ficaria solucionado no Estatuto Orgânico de 1981, no qual se definiu o Ministério Público como “órgão integrado com autonomia funcional no Poder Judicial”. Desde então e até agora, não existe nada com relação à posição constitucional do Ministério Público nem na doutrina, nem na política, nem na opinião pública, nem na própria carreira que se assemelhe à unanimidade. (PRADA, 2011, p. 82)

Ademais, de acordo com Prada:

[...] pode-se afirmar que as transformações do Estado de Direito revelaram uma crise profunda relacionada com a incapacidade do sistema judicial em responder às expectativas depositadas na aplicação do Direito como instrumento de transformação e de melhoria das condições sociais.

(PRADA, 2011, p. 84)

Diante da reforma do sistema judicial e em meio ao moderno sistema político é necessário entender que desde a entrada das constituições do Estado Social, o Ministério Público enfrente uma crise de identidade. Prada explana que:

Parece claro que as transformações do Estado de Direito também tornaram evidente o esgotamento do Ministério Público liberal, sem que tal modelo tenha sido substituído satisfatoriamente, até agora, pelo que poderíamos chamar de novo Ministério Público do Estado social. O problema fundamental consiste em encontrar novas categorias e espaços intermediários entre a dependência e a independência que sejam capazes de definir, para o Ministério Público, uma posição de equilíbrio entre a comunicação com o governo e as garantias de legalidade e de imparcialidade que, em todo caso, devem nortear o exercício da ação pública no sistema constitucional moderno. (PRADA, 2011, p. 84 e 85)

Nesse mesmo sentido:

Parece evidente que, em um Estado democrático de Direito moderno, o exercício da ação penal deve estar orientado por uma difícil compatibilização entre as exigências de legalidade e a política criminal. O problema é, naturalmente, encontrar o modelo e os instrumentos que permitam conciliar duas vertentes - defesa objetiva da legalidade e atuação da política criminal - na configuração do Ministério Público moderno. A necessidade e também a dificuldade de encontrar um equilíbrio entre ambas

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constitui, no meu entender, a causa e a origem dos problemas colocados pela definição do Ministério Público no sistema constitucional moderno.

(PRADA, 2011, p. 92)

Finalmente, no próximo item, abordar-se-á a investigação criminal nos Estados Unidos, que possui um procedimento muito peculiar, principalmente no sentido de que cada estado da Federação adota um modelo próprio.

3.3 A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL NOS ESTADOS UNIDOS

Nos Estados Unidos há diversos sistemas processuais. Cada estado adota um modelo próprio, também há um rito penal adotado em casos de competência federal para processo e julgamento. Conforme Stafusa (2017, p. 01) “Nos Estados Unidos, em virtude do federalismo “sui generis” ali adotado, há diversos sistemas processuais no território estadunidense”.

A investigação criminal pode ser dirigida pela polícia ou conjuntamente pelo Ministério Público e pelos órgãos policiais com atribuição distinta para determinado tipo de delito. Dessa forma:

Na fase de investigação, tal como no sistema pátrio, a colheita de provas se dá por meio inquisitivo, não havendo a participação efetiva da defesa em tal momento.

O órgão acusador dispõe de liberdade para deliberar sobre a instauração de ação penal contra o investigado. A depender dos elementos colhidos e da gravidade delitiva, o promotor poderá deixar de promover o processo penal, não necessitando de homologação judicial tal decisão de não- prosseguimento da demanda penal. O Ministério Público tem grandes de poderes de transação penal, muito mais amplos que os conferidos pela Lei 9099/1995 aos membros do “parquet” brasileiro. Nos Estados Unidos, os promotores têm discricionariedade para barganhar penas, confissões, condições de cumprimento de pena, colaborações premiadas e entre diversas outras medidas. Tal liberdade tem permitido que diversas ações que poderiam acumular-se nos tribunais, sejam resolvidas antes de irem à pauta de instrução judicial. (STAFUSA, 2017, p. 01)

O Ministério Público norte americano tem flexibilidade, podendo durante a investigação do ato criminoso trabalhar com as agências federais, realizar oitiva das testemunhas. Nesse sentido Cabral elucida como se dá a persecução criminal:

Na esfera federal, a primeira etapa da persecução criminal é a investigação.

Ela normalmente inicia-se por meio de uma notícia-crime, sendo conduzida pela polícia. No entanto, o Promotor (Criminal Prosecutor) tem amplos poderes de negociação e discricionariedade no ajuizamento da ação penal.

O Sistema penal norte-americano é flexível, ao permitir que o Ministério

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Público leve a julgamento apenas os fatos penalmente relevantes. Dessa forma, a ação penal nos Estados Unidos não apresenta como característica a indisponibilidade, podendo o Ministério Público sobre ela transigir.

Também é interessante destacar que o Ministério Público norte-americano, durante a fase de investigação, pode trabalhar com uma agência federal (FBI) ou com várias agências federais ao mesmo tempo (FBI, DEA, USSS, por exemplo). O Ministério Público norte-americano também pode participar das investigações, realizando oitivas de testemunhas já ouvidas pelos investigadores policiais. Após o término das investigações, o Promotor (Prosecutor) irá avaliar se existe um caso consistente (strong case), ou seja, um caso que tenha indícios suficientes de materialidade e autoria do cometimento de uma infração penal. Depois disso, o Promotor irá indiciar o investigado e oferecer a denúncia. A pessoa acusada ou indiciada receberá uma notificação com a justificativa de seu indiciamento e do oferecimento da denúncia. (CABRAL, 2009, p. 01)

Na segunda fase e terceira fase, segue o autor descrevendo que:

A segunda fase da persecução criminal nos Estados Unidos é chamada de Decisão de acusar (Decision to charge). O Promotor irá apresentar as provas perante um grupo de cidadãos imparciais (Grand júri). As testemunhas poderão ser chamadas a depor e os jurados irão escutar os argumentos apresentados pelo Promotor. Os membros do Júri decidirão se há evidências suficientes para acusar uma pessoa do cometimento de um crime. Já a terceira fase da persecução criminal nos Estados Unidos é chamada de Initial hearing (audiência inicial). Nesta fase, no mesmo dia ou no dia seguinte da prisão ou da acusação do réu, este será levado perante um juiz para a primeira audiência sobre o caso, em que conhecerá as acusações formuladas. O juiz irá também decidir pela prisão ou pela liberdade do réu para o acompanhamento do processo em liberdade. Em muitos casos, será permitido o pagamento de fiança (bail). Se o réu não puder pagar a fiança, ficará preso até o seu julgamento. (CABRAL, 2009, p.

01)

Cabral elucida a quarta e a quinta fase da persecução criminal, trazendo que:

A quarta fase da persecução criminal nos Estados Unidos é conhecida como Pre-Trial (pré-julgamento). Nesta fase, o Ministério Público irá se familiarizar com os fatos do crime, falar com testemunhas, estudar as provas e definir a estratégia que utilizará no dia do julgamento. Após, inicia- se a quinta fase da persecução criminal nos Estados Unidos que é conhecida de Plea Agreement (moções preliminares). Ela ocorre quando o Promotor tem um forte argumento para condenar o acusado, tais como o relato de diversas testemunhas ou uma prova pericial contundente. Neste caso, ele oferecerá um acordo para que o acusado se declare culpado. Isso ocorre para evitar o julgamento. O promotor poderá oferecer uma pena menor ao acusado, caso este se declare culpado. (CABRAL, 2009, p. 01)

Finalmente, na sexta, sétima e oitava fases, o autor explica que:

A sexta fase da persecução criminal nos Estados Unidos é chamada de Motion in limine (moção em liminar). O Promotor e o advogado de defesa poderão pedir mais tempo ou adiamento do julgamento para a coleta de mais provas e testemunhos. Já a sétima fase é chamada de Trial (julgamento). O Promotor faz as primeiras declarações com as

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acusações formuladas contra o acusado e o resumo dos fatos investigados.

Logo em seguida, começa o interrogatório das testemunhas. Após a oitiva de todas as testemunhas, o advogado de defesa tem o direito de fazer uma explanação sobre a inocência do réu. Durante a oitiva das testemunhas, os advogados podem fazer objeção (objection) a perguntas formuladas que descumpram as regras do Tribunal. Neste caso, o juiz poderá concordar ou não com a objeção. Se não concordar com a objeção, poderá desconsiderá- la (overrules) e o julgamento continua. Após a fase de exame cruzado das testemunhas, o júri entrará em deliberação até a apresentação do veredicto, que o juiz pronunciará em audiência. Se o réu for considerado culpado, irá se conduzido imediatamente a prisão pelos US Marshals. Por fim, a oitava fase da persecução criminal é a condenação. O acusado, alguns dias após a decisão do júri, retorna à Corte para que o juiz informe a quantidade da pena que lhe foi imposta. (CABRAL, 2009, p. 01)

Vale ressaltar que essa total discricionariedade do Ministério Público Federal é alvo de muitas críticas, visto que cabe a esse profissional estabelecer as suas prioridades e o que pode ser barganhado ou não durante a investigação.

Cabral também cita que:

No que se refere à persecução criminal na fase judicial, o modelo norte- americano tem como característica principal uma competência ampla dos Tribunais de Júri, ao contrário do modelo brasileiro em que a sua utilização é restrita aos crimes dolosos contra a vida. [...]

Por todo o exposto, concluiu-se que a grande contribuição que o Direito norte-americano poderia dar ao Direito brasileiro na persecução criminal seria a desburocratização da fase de investigação, com a simplificação do inquérito policial, que perderia formalidades desnecessárias e se tornaria um caderno investigatório enxuto e célere. (CABRAL, 2009, p.01)

Nos Estados Unidos não existe juiz de instrução ou juiz investigador. De acordo com Sanguiné e Sanguiné:

A fase da investigação inicial está confiada aos agentes policiais e às agências federais de investigação, que logo entregam o informe ao Promotor e este então determina se há ou não elementos para apresentar a prova ante o “Grand Jury”, que é tecnicamente parte do Departamento de Justiça e que se utiliza também para investigar dados ou obter prova sobre uma atividade delitiva suspeita. No sistema federal, a investigação é dirigida por agentes federais de acordo e em coordenação com o Promotor ou um advogado do Departamento de Justiça. Durante a fase de investigação, há uma colaboração entre o Promotor e os agentes policiais. Mesmo após a realização da acusação formal, o agente policial auxilia o Promotor.

(SANGUINÉ e SANGUINÉ, 2013, p. 16 e 17)

No mesmo sentido:

Na década de setenta, quando foi realizado o mais completo estudo empírico em relação a 153 Departamentos de Polícia sobre as deficiências na investigação criminal pelos detetives policiais, os autores desse estudo recomendaram a atribuição de algumas tarefas de investigação ao

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Ministério Público. São escassos os serviços de polícia norte-americanos de investigação criminal que recolhem os principais elementos de prova capazes de oferecer ao Ministério Público probabilidades sérias de conseguir uma condenação. Talvez essa insuficiência de provas tenha contribuído para o incremento de casos arquivados sem acusação e ao enfraquecimento da posição do promotor em sua negociação (“plea bargaining”) com a defesa.(SANGUINÉ e SANGUINÉ, 2013, p. 16 e 17)

Finalmente, no último capítulo verifica-se a eficiência ou ineficiência do

inquérito policial nos moldes que está regulamentado no ordenamento jurídico

brasileiro.

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4 EFICIÊNCIA OU INEFICIÊNCIA DA INVESTIGAÇÃO CRIMINAL?

As informações contidas no inquérito policial são de suma importância, pois delimitam o que será usado na fase processual, evitando debates desnecessários.

Segundo Lopes Junior (2003, p. 45) “[...] a investigação tem a finalidade característica de recolher e selecionar o material que haverá de servir para o juízo, eliminando todo o que resulte confuso, supérfluo ou inatendível [...]”.

4.1 ASPECTOS NEGATIVOS DO INQUÉRITO POLICIAL

De acordo com Machado e outros (1993, p. 14) “O Direito Processual oferece aos indivíduos os instrumentos e remédios para a defesa de seus direitos, razão pela qual a Constituição, que é onde se definem os direitos básicos da pessoa humana, traça e prevê garantias e meios para eficazmente garanti-los”.

É evidente que o Inquérito Policial, idealizado no século XIX não se atualizou e ainda possui o mesmo procedimento extrajudicial de cunho inquisitorial e presidido por ocupantes do cargo de Delegado de Polícia. Ademais, seu caráter escrito e burocrático, prejudica a celeridade das investigações. Lopes Junior diz que esse modelo de investigação policial não está sendo eficaz para nenhuma das partes:

Não serve para o MP, pois, ao ser levado a cabo por uma autoridade diversa daquela que irá exercer a ação penal, não atende a suas necessidades. Ademais, e patente o descompasso na relação promotor- policial.

Não serve para a defesa, pois a polícia nega qualquer possibilidade do sujeito passivo participar da investigação e solicitar diligências de descargo.

Ademais, em regra geral, a autoridade policial nega arbitrariamente o contraditório (visto como direito de informação) e o direito de defesa (ainda que em grau mínimo e previsto na Constituição).

Não serve para o juiz, porque a própria forma de atuar da polícia não permite dar maior credibilidade ao material recolhido. (LOPES JUNIOR, 2003, p. 69)

Nesse sentido:

O inquérito policial brasileiro é um bom exemplo de sistema de investigação preliminar policial, inclusive porque reflete os graves problemas e desvantagens do sistema, a tal ponto que se pode falar em crise do inquérito policial e na urgente necessidade de modificações. Esta crise está materializada no fato de que as imperfeições do nosso sistema são de tal monta que sobre o inquérito policial só existe uma unanimidade: não satisfaz ao titular da ação penal pública, tampouco à defesa e resulta de

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pouca utilidade para a juiz (principalmente pela pouca qualidade e confiabilidade do material fornecido). (LOPES JUNIOR, 2003, p. 64)

Ainda, há que se ressaltar que durante a investigação criminal não é respeitado o direito de defesa, que por sua vez é um princípio garantido em nossa Constituição, como direito fundamental inerente à pessoa humana, conforme explana Machado e outros:

Os princípios constitucionais caracterizam-se como regras gerais, cuja fonte está na própria Constituição. Por derivarem de mandamentos da Lei Maior, ou por serem eles próprios conteúdo formalmente expresso de normas da Constituição, entendem alguns, como, v. gratia, o professor Mauro Capeletti, da Universidade de Firenzi, que tais princípios encarnam o próprio direito natura, embora direito natural de valores atualizados e lastreado no Direito positivo. Eles (esses princípios) consubstanciam-se em regras geras de obediência obrigatória, daí resultando, aos demais, preceitos particulares ou corolários também inclináveis. Mais que simples enunciados extraídos do ius scriptum, são eles preceitos amplos e genéricos, impostos pela Constituição, para assegurar os valores éticos e políticos que ela consagra e adota. (MACHADO E OUTROS, 1993, p. 14 e 15)

Nesse ponto de vista:

A garantia da plenitude da defesa e todas as que derivam do “devido processo legal” necessitam ser respeitadas, cumpridas e obedecidas no juízo prévio, sem o que não pode haver a imposição de pena. Sem tais garantias, faltará validade e eficácia à sentença condenatória proferida no juízo prévio. [...]

A extensão do devido processo legal aos atos investigatórios decorre do próprio texto em que essa garantia vem declarada. Todavia, esse devido processo não se identifica como da instrução judicial, isto é, processual.

Basta ler o item nº 55, do artigo 5º, onde o contraditório e a defesa plena só se encontram assegurados “aos acusados em geral”. Ora, acusado só existe na relação processual, e não no procedimento investigatório do inquérito policial, em que há apenas indiciado. (MACHADO E OUTROS, 1993, p. 17 e 18)

Destaca ainda Lopes Junior (2003, p. 17) que “Não há prova sem defesa”.

Assim, Machado e outros (1993, p. 15) destacam que “[...] o direito ao direito, o direito de pedir justiça, o direito ao Juiz, a independência do Juiz e o princípio do Contraditório são direitos indissociáveis [...]”.

Outro ponto que merece ser levado em consideração na forma em que é

realizada a investigação criminal brasileira é a respeito da repetição na produção de

provas. Segundo Lopes Junior:

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