• Nenhum resultado encontrado

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL"

Copied!
14
0
0

Texto

(1)

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

Janilce S. Domingues Graça1 Arleide Barreto Silva2 Michelline Roberta S. Nascimento3 GT9 – Políticas Públicas e Gestão Socioeducacional.

RESUMO

Este artigo tem por pretensão analisar os aspectos legais da Psicopedagogia no Brasil, com destaque no seu contexto histórico nas últimas décadas, objeto de estudo, área de atuação, formação do psicopedagogo e a trajetória de luta empreendida para a regulamentação da atividade laboral deste profissional que atuava numa função, habilitada na graduação, em nível de especialização em Psicopedagogia regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura, com a atual legislação este profissional passa a ter uma nova identidade. Faz-se necessário à articulação de novos conhecimentos integrados, para uma melhor compreensão do campo da aprendizagem. O trabalho está fundamentado na pesquisa exploratória em fontes bibliográficas e documentais. Os referenciais teóricos que subsidiaram a pesquisa foram:

Bossa (1994), Campos (1999), Lomonico (1992), Scoz (1994), Visca (1992) e Weiss (1991).

PALAVRAS – CHAVE

Psicopedagogia, Formação, Regulamentação Profissional.

1 Mestre em Ensino de Ciências e Matemática/UFS, Psicopedagoga Institucional e Clinica, Licenciada em Pedagogia e Professora da graduação e pós-graduação da Universidade Tiradentes – UNIT, Membro do Grupo de pesquisa CNPq Políticas Públicas, Gestão Socioeducacional e Formação de Professor (GPGFOP/Unit).

2 Mestre em Administração pela Universidade Federal da Paraíba (2003); Especialista em Administração Universitária - OUI/IGLU (2002); Especialista em Administração e Gerência de Unidades de Ensino - FITS (1992); Licenciada Plena em Pedagogia - Associação de Ensino e Cultura Pio Décimo (1991).

3 Graduada em Pedagogia pela Universidade Tiradentes (2002), Pós-graduada em Educação Especial e Inclusiva (2004), Mestranda em Educação pela Universidade Tiradentes (2013), membro do Grupo de Pesquisa Sociedade, Educação, História e Memória- GPSEHM.

(2)

THE INSTITUTIONALIZATION OF PSICOPEDAGOGÍA IN BRAZIL

ABSTRACT

This article has the intention to analyze the legal aspects of psychoeducation in Brazil, especially in its historical context in the last decades, the object of study, area of expertise, training and educational psychologist record of struggle waged for the regulation of labor activity of this person who acted a function, enabled the graduate level specialization in Educational Psychology regulated by the Ministry of Education and Culture, with the current legislation this professional now has a new identity. It is necessary to articulation of new integrated knowledge for a better understanding of the field of learning. The work is based on exploratory research in bibliographic and documentary sources. The theoretical framework that supported the research were: Bossa (1994), Campos (1999), Lomonico (1992), Scoz (1994), Visca (1992) e Weiss (1991).

WORDS-KEY

Psychoeducation, Training, Professional Regulation.

(3)

I - INTRODUÇÃO

Atualmente, a Psicopedagogia tem sido frequentemente solicitada na sociedade contemporânea, na medida em que busca assegurar a efetivação da aprendizagem, haja vista que, somente o acesso à educação conforme insculpido no art. 205 da Constituição Federal vigente, não garante o aprendizado. Nas últimas quatro décadas, enquanto área de conhecimento interdisciplinar com atuação em Saúde e Educação, a Psicopedagogia se dedicou exclusivamente ao processo de aprendizagem humana, além do combate ao fracasso escolar, denominado recente patologia originária da “instauração da escolarização obrigatória a partir do século XXI, em função das mudanças econômicas e estruturais da sociedade” de acordo BOSSA (2002 p.41).

Assim, esta constitui uma nova área de conhecimentos sistematizados, cujo desenvolvimento contou, segundo LOMONICO (1992, p.15) com as “contribuições da Filosofia, Neurologia, Sociologia, Linguística, Psicanálise, Psicologia Genética, Psicologia Social e da Linguística”, articulada ao campo teórico da Pedagogia e Psicologia Geral, no sentido de alcançar a compreensão desse processo. Considerando tais ideias, a pesquisa buscou destacar a formação do psicopedagogo e expor a trajetória de luta empreendida para a regulamentação da atividade laboral deste profissional. Buscou também, compreender a realidade destes profissionais por meio da pesquisa, do estudo da legislação, e do aporte teórico da Psicopedagogia no Brasil.

Os objetivos da pesquisa foram analisar os aspectos legais da Psicopedagogia no Brasil, além do histórico nas últimas décadas, objeto de estudo, área de atuação e enfatizar a trajetória de luta empreendida para a regulamentação da atividade profissional do Psicopedagogo.

A metodologia utilizada foi à pesquisa exploratória em fontes bibliográficas e documentais. Os principais referenciais teóricos que subsidiaram a pesquisa foram: Bossa (1994), Campos (1999), Lomonico (1992), Scoz (1994), Visca (1992) e Weiss (1991).

No decorrer das ações foram realizadas leituras e pesquisas em livros, periódicos, revistas e instrumentos (leis, pareceres, resoluções acerca da regulamentação da atividade de Psicopedagogia), com escopo de atingir os objetivos pactuados aqui.

Os questionamentos que nortearam esta pesquisa foram: Qual é a importância da regulamentação da atividade de psicopedagogo na sociedade?Existe uma lei que regulamenta a profissão de Psicopedagogo? Qual é a área de atuação deste profissional? Quais aspectos

(4)

que embasam a formação do Psicopedagogo?E quanto a CBO - Classificação Brasileira de Ocupação deste profissional junto ao Ministério do Trabalho e Emprego?

II-CAMPO DE CONHECIMENTO DA PSICOPEDAGOGIA

A Psicopedagogia surgiu para atender os problemas de aprendizagens e compreender melhor esse processo no sistema de ensino brasileiro por meio de uma ação preventiva objetivando tecer novas propostas alternativas de ações voltadas para a melhoria da prática pedagógica disseminada nas escolas.

Assim sendo, Neves apud Bossa, defende que a

Psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos (1991, p.12)

Considerando que a Psicopedagogia dedica-se ao estudo da aprendizagem com a finalidade de prevenir ou curar os seus problemas. Para complementar essa ideia SARA PAIN (1986, p.28) colocou que os problemas de aprendizagem se manifestam sempre num quadro multifatorial, o qual são resultados da concorrência de uma série de fatores (orgânicos, psico, emotivo e social) que interferem na aprendizagem.

Na ação preventiva caberá ao psicopedagogo conforme destacado por BOSSA:

detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem;

participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer processos de integração e troca;

promover orientação metodológicas de acordo com as características dos indivíduos e grupos;

realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo. (1994, p.23)

Em síntese, a Psicopedagogia busca compreender fatores que intervém nos problemas dentro do contexto familiar, escolar e social, objetivando alternativa de ação para uma mudança significativa frente ao ensinar e ao aprender.

III-CAMPO DE ATUAÇÃO DA PSICOPEDAGOGIA

A prática Psicopedagógica consiste na intervenção no processo de ensino aprendizagem, na avaliação e no diagnóstico de possíveis dificuldades patológicas educacionais.

(5)

O objeto de estudo da Psicopedagogia, conforme definido por GOLBERT, deve:

ser entendido a partir de dois enfoques: preventivo e terapêutico. O enfoque o preventivo considera o objeto de estudo da Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento, enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a ser educada, seus processos de desenvolvimento e as alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades do aprender, num sentido amplo. Não deve restringir a uma só agencia como a escola, mas ir também à família e à comunidade. Poderá esclarecer, de forma mais ou menos sistemáticas, a professores, pais, e administradores sobre as características das diferentes etapas do desenvolvimento, sobre o progresso nos processos de aprendizagem, sobre as condições psicodinâmicas da aprendizagem, sobre as condições determinantes de dificuldades de aprendizagens. O enfoque terapêutico considera o objeto de estudo da Psicopedagogia a identificação, análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e tratamento das dificuldades de aprendizagens. (1985, p.13)

Como foi visto o psicopedagogo dentro ou fora do ambiente escolar atua preventivamente ou terapeuticamente, conforme os ensinamentos de LOMONICO, destacamos:

Preventivamente, ele atua juntos aos professores, pais, e técnicos, de vários modos:

Proporcionando condições para análise e reflexão sobre o papel da escola;

Proporcionando condições para que as situações de ensinos sejam percebidas e organizadas, de acordo com o desenvolvimento dos alunos, mediante conhecimento e reflexão sobre habilidades e princípios que são pré-requisitos para as aprendizagens;

Auxiliando toda equipe escolar na determinação, escolha e elaboração dos objetivos educacionais, das estratégicas de ensino e dos instrumentos de avaliação;

Proporcionar condições para a ação e reflexão sobre os erros metodológicos dos professores e erros dos alunos, a fim de encontrar soluções mais accessíveis para os mesmos.

Numa linha terapêutica, ele poderá:

Discutir e, se necessário, preparar e/ou ajudar o professor para a realização de atendimento psicopedagógico a grupos de alunos (5 a 8 anos) ou individualmente;

Participar do diagnóstico dos distúrbios específicos de aprendizagem;

Dar atendimento psicopedagógico a grupos de alunos, quando dispuser de tempo;

Auxiliar professor na compreensão de problema de aprendizagem e/ou bloqueio de aprendizagem, de modo que ele levante alternativas de ação para solução dos mesmos. (1992, p.19)

Desse modo, o psicopedagogo atua na prevenção dos problemas de aprendizagem visando obter a solução, tendo como enfoque o aprendiz ou a instituição de ensino público ou particular.

Inicialmente, a Psicopedagogia enveredou pela Orientação Educacional, na assessoria psicopedagógica cuja contextualização não extrapolou a sua problemática escolar e familiar, exceto a estrutura social e cultural. Além do âmbito escolar, a Psicopedagogia expandiu, de acordo com LOMONICO (1992, p.18) para os hospitais, instituições de ensino superiores e outras. Contudo, a Orientação atualmente, não se confunde com a Psicopedagogia, pois tem sido uma formação de graduação no curso de Pedagogia e essa

(6)

formação encontra-se legitimado com a promulgação das diretrizes curriculares para o curso de Pedagogia com função de contribuir com mudanças educativas.

Relativo à avaliação psicopedagógica, com base no Construtivismo, parte do princípio de que a aprendizagem é uma tarefa de apropriação e de domínio do objeto de conhecimento. Partindo desse pressuposto, CAMPOS destaca que:

um sujeito constituído de identidade e autonomia , que seja agente de apropriação do conhecimento e da construção do saber, supõe, também, que o sujeito só assimila o objeto quando organiza de forma significativa em termos de espaço, tempo, causalidade.Não há assimilação de um mundo neutro, segundo Piaget.Todo conhecimento é significativo, necessariamente.

(2001, p.211)

A realização de diagnóstico e intervenção psicopedagógica ocorre mediante o uso de objetos cognoscitivos inerentes da Psicopedagogia.

As modalidades de atuação do psicopedagogo são especificamente: Clínica, preventiva e teórica. Conforme fundamentam OLIVEIRA e BOSSA (1997, p.215) o trabalho psicopedagógico é de orientação no processo ensino aprendizagem visando favorecer a apropriação do conhecimento no ser humano, ao longo de sua evolução. Essa modalidade desenvolve-se na forma individual ou grupal, na área de saúde mental e da Educação.

O trabalho clínico quando trata de transtornos de aprendizagens leva em conta as peculiaridades de cada processo. Desse modo, tanto a área clínica ou preventiva resulta num trabalho teórico. Na área hospitalar, o psicopedagogo opera junto com a equipe composta médica e demais profissionais tais como: fonoaudiólogo, neurologista, psiquiatra, etc. no processo preliminar do diagnóstico, por meio de informações psicopedagógicas, entre outras atribuições delimitadas da área.

A intervenção psicopedagógica lida diretamente nas dificuldades com base na reflexão acerca dos processos objetivos e subjetivos vivenciado pelo indivíduo nas suas relações com o conhecimento. Refletir a aprendizagem num sentido amplo é considerar a cognição, o desejo e a simbologia que cada um atribui aos objetivos externos a partir de suas representações de objeto inconsciente. Sendo que essas representações interferem nas relações com o conhecimento.

Com base no Projeto de Lei 3.124/97 a Intervenção Psicopedagógica no processo de aprendizagem e de dificuldades tem por foco o sujeito que aprende em vários contextos sociais. Considerando a trivial influência do meio (família, escola, sociedade), o profissional utiliza-se do meio inerente à Psicopedagogia. Posto isso, esta é um campo de atuação em

(7)

Saúde e Educação que trata do processo de aprendizagem com base nos padrões normais e patológicos enraizados, nas primeiras instâncias sociais.

IV-CAMPO TEÓRICO

Desde o surgimento da Psicopedagogia inúmeras abordagens teóricas corroboraram com as dificuldades de aprendizagens no âmbito escolar. No qual de um lado, de acordo com LOMONICO, um grupo composto por propostas dos neurologistas

“Myklebust e Johnson sobre os distúrbios de aprendizagem, a tese do psicólogo behaviorista Allan O. Ross sobre também o distúrbio de aprendizagem e a teoria da Epistemologia Convergente sobre os obstáculos da aprendizagem, de Jorge Visca” (1992, p.21), considerado pela literatura este último o pai da Psicopedagogia. Esse grupo recorreram às bases científicas e/ou técnicas dos problemas, enfatizando o atendimento clínico terapêutico e individual.

O autor ainda considera que no outro grupo, Masini (1984) elabora uma abordagem fenomenológica de aconselhamento ao aluno difícil, uma proposta nascida da vivência da Psicologia Escolar, da qual tratou da relação entre o fracasso escolar e a desnutrição (rotulado de mito da privação cultural), sendo revisto seus aspectos filosóficos e sociais, além das bases técnico ou científica, preocupou-se no atendimento institucional, grupal e sobretudo de modo preventivo.

V-ASPECTOS HISTÓRICOS DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

A Psicopedagogia surgiu no Brasil na década de 1970 sob influência tanto americana, quanto europeia, via Argentina. Os argentinos sob influência dos europeus passaram a cuidar de pessoas portadoras de dificuldades de aprendizagem por mais de 30 anos. Assim, o trabalho de reeducação passou a ser objeto de estudo com base nos conhecimentos da Psicanálise e da Psicologia Genética, além do conhecimento da Linguagem, e da Psicomotricidade, no sentido de melhor entender o comportamento das pessoas com esse tipo de dificuldades.

Diversos autores argentinos a exemplo de Dr. Quirós, Jacob, Feldaman, Sara Paín, Jorge Visca, Alícia Fernandez, Ana Maria Muniz dentre outros, ministraram cursos na área de Psicopedagogia, remetendo contribuições para o enriquecimento e desenvolvimento do aporte teórico da Psicopedagogia. O final do século XIX, de acordo com THOMSEN(2001), Psiquiatras e Neuro-Psiquiatra preocupados com fatores que interferiam na aprendizagem

(8)

organizaram novos métodos de Educação Infantil sob influência dos educadores Esquiral, Montessori e Ovidir Decroly, dentre outros.

Na Europa o movimento que originou a Psicopedagogia, disseminou a crença de que o baixo rendimento escolar estava associado às causas orgânicas e que precisava de atendimento especializado. No Brasil, ainda, de acordo com o autor, as dificuldades de aprendizagens inicialmente foram associadas a uma disfunção neurológica denominada de Disfunção Cerebral Mínima (DCM) que virou moda, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos.

Nos escritos de BOSSA, consta registrado, que os problemas de aprendizagens eram estudados e tratadas por médicos, o qual assumia grande importância nas decisões de família. (1994, p.43-44).

Os educadores e os familiares depositavam toda confiança neste profissional.

Contudo, nem sempre todo problema de aprendizagem poderia ser causado por fatores orgânicos (patológicos) embora a crença perdurasse por muitos anos como forma de tratamento deste distúrbio.

Segundo BARBOSA (2002), O Psicopedagogo e professor argentino, Jorge Visca implantou os Centros de Estudos Psicopedagógicos (CEPs) no Rio de Janeiro, São Paulo, capital e Campinas, Salvador e Curitiba, sendo que os Centros do Rio de Janeiro e Curitiba funcionaram ininterruptamente, com o objetivo de difundir a Epistemologia Convergente

“utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Psicogenética de Piaget; Escola Psicanalítica (Feud); a escola de Psicologia Social e Enrique Pichon Riviere”(THOMSEN, 2007).

Decorridos 20 anos de práticas psicopedagógicas, o primeiro curso de Psicopedagogia de acordo com Bossa (1994, p.45) foi criado na cidade de São Paulo, Instituto Sedes Sapientiae(1979). Alguns profissionais que terminaram a especialização formaram a Associação Estadual de Psicopedagogia de São Paulo (AEP), dando origem posteriormente a Associação de Psicopedagogia, órgão de classe voltada aos interesses da classe e de luta pelos direitos dos psicopedagogos.

A Psicopedagogia esta fundamentada por referenciais teóricos e é reconhecida pela área acadêmica por meio de produções científicas consolidadas em teses, publicações dentre outras. Durante o V encontro e II congresso de Psicopedagogia, entrou em vigor o código de ética elaborado pelo Conselho Nacional do Biênio 91/92 da Associação Brasileira de Psicopedagogos - ABPp, aprovado em assembleia no ano de 1992. Desde 1980 que a ABPp atua junto aos profissionais filiados da área, com uma proposta de uma atuação

(9)

científica – cultural em razão da ausência de um Sindicato, para a sua representação política desses profissionais, frente à questão da legalização da profissão.

VI- ENFOQUE DA LEGALIDADE DA PSICOPEDAGOGIA NO BRASIL

A Psicopedagogia surgiu para dá voz e expressão e as práticas diversas no âmbito educacional, em face da complexa rede de fatores que interferem no processo ensino - aprendizagem, no qual as crianças resistem em aprender.

Para reforçar essa ideia BOSSA postula:

“o que caracteriza uma atuação como psicopedagógica é a sua especificidade, ou seja, o campo de atuação voltado para o processo de aprendizagem e seus fatores intervenientes com objetivo alheio tanto o psicanalista quanto ao epistemólogo”. (1994, p.55)

Quanto à formação do Psicopedagogo nos remete questionar: Uma Psicopedagogia ou várias práxis pedagógicas? Na verdade não há uma unidade em Psicopedagogia. Há práticas diferentes com peculiar importância para o seu desenvolvimento.

Embora não seja uma ciência ainda, atua em diversas áreas do conhecimento com base na Psicologia Genética, Psicanálise, Psicologia social e da Linguística, articuladas como já vimos com ao aporte teórico da Pedagogia e da Psicologia Geral.

No início do século XXI, a formação do psicopedagogo foi autorizada pelo MEC.

Contudo, esta pós – graduação não adquiria credibilidade no mercado de trabalho na medida em que não havia o percurso da formação de uma identidade profissional, ou seja, o Brasil não reconhecia ainda, como uma profissão do ponto de vista legal. A formação em nível de especialização, em programas Lato Sensu regulamentados pelas resoluções 12/83, 03/99 e 01/2001 formavam os especialistas em Psicopedagogia ou Psicopedagogos. O curso contava com profissionais de diferentes graduações: Pedagogia, Psicologia, Fonoaudiólogo, letras dentre outros.

Segundo informação da ABPp, o curso de formação ocorre no país em caráter regular e oficial, desde a década de setenta em universidades. Os cursos são ofertados na modalidade de Pós-Graduação, Lato Senso e Strito Senso, nos quais possuem carga horária de 360 a 720 horas, com 75% de aulas teóricas e 25% de estágio supervisionado, conforme determina o Ministério da Educação (MEC).

No tocante aos cursos de Educação à Distância (EAD), regulamentados pelo MEC, na qual a mediação didática - pedagógica ocorrem por meio de mídia educacional sob o credenciamento do SESU. A carga horária deve compor pelo menos 20% de atividades presenciais.

(10)

Atualmente, há cursos oficiais nos estados da Federação brasileira: Amazonas, Pará, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande Sul, São Paulo, Distrito Federal, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte. Regulamentar essa profissão significa o reconhecimento de um trabalho que vem ocorrendo a mais de 30 anos com afinco, dedicação e responsabilidade. Além de contribuir na ampliação do atendimento às classes menos favorecidas e para o sucesso escolar.

É de interesse público a regulamentação da atividade de Psicopedagogo, tendo em vista a realidade persistente da educação brasileira de altos índices de insucesso escolar, em razão da falta da criação de uma política educacional eficiente que promova o sucesso educacional de fato, ou seja, uma política educacional que possibilitem aos educandos além do saber, o acesso à cidadania.

Diante disto a Psicopedagogia visa não apenas sanar os problemas da aprendizagem, mas sim levar em consideração as características multidisciplinares do indivíduo que aprende, objetivando melhorar o seu desempenho e aumentar suas potencialidades de aprendizagens. De acordo com AMORIN, p.15, os aspectos norteadores do processo da regulamentação da Psicopedagogia frutificou após discussões de várias instituições e universidades brasileiras, o conselho nacional de psicopedagogos.

No sentido de concretizar a proposta de regulamentação, o Deputado Federal Barbosa Neto viabilizou contato com o Ministro d Educação Paulo Renato, em setembro de 1995. Após essa contrapartida, vários documentos foram elaborados para alicerçar o processo de regulamentação da referida profissão.

O primeiro Projeto apresentado na Câmera dos Deputados que tratou em caráter emergencial da questão da regularização do exercício da atividade de psicopedagogo foi do Deputado Barbosa Neto em 1997. O pleito foi arquivado com fundamento no artigo 105 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados sem que fosse apreciado o parecer de Constituição de Justiça e de Cidadania.

Em 12 de setembro de 2001, o Projeto de Lei 10.891, do Deputado Estadual de São Paulo, Claury Alves da Silva, foi aprovado após um trabalho intenso da redatora Marisa Serrano, e dos Psicopedagogos do Brasil. Autorizando o poder Executivo a implantar assistência psicologia e Psicopedagógica em todos os estabelecimentos de ensino público objetivando diagnosticar e prevenir problemas de aprendizagem.

Decorrido mais uma década, na busca pela regulamentação e reconhecimento da Psicopedagogia como profissão foi proposto e aprovado o Projeto de Lei 3.512/08 de autoria da Deputada Raquel Teixeira com referência ao autor da primeira posposta, sendo que alguns artigos foram preservados e outros excluídos por tratarem da criação de Conselhos Federal e

(11)

Regionais de Psicopedagogia do Projeto de Lei do Deputado Barbosa Neto. Cabendo ressaltar que a exclusão ocorreu devido constar na lei brasileira que conselhos são considerados parte da administração pública e de incumbência do Poder Executivo. Com base nesse Projeto criou-se o Projeto de Lei da Câmara nº31/2010 de autoria da Deputada Raquel Teixeira que propôs além da regulamentação da profissão de Psicopedagogia a abertura para atuação nas especificidades tangentes a qualidade da humanização hospitalar em setores infantis e à preservação de incapacidade Proteção à Independência de Idosos, tendo em vista que estes profissionais trazem na sua formação a multiplicidade necessária para contribuir de forma decisiva no desenvolvimento da aprendizagem em suas diversas instâncias.

Outro passo importante na luta pelo reconhecimento e formação da identidade profissional dos Psicopedagogos foi à inclusão no ano de 2004 da Psicopedagogia na Classificação Brasileira de Ocupação (CBO) sob o número 2394, possibilitando a inclusão do Psicopedagogo nos planos de carreiras do serviço público, pois como uma categoria profissional reconhecida, poderá participar de concursos públicos. Recentemente a Lei nº 15.719, de 24 de abril de 2013 foi instituída também, a assistência psicológica e Psicopedagógica pelo Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad na rede Municipal de Ensino, tendo como enfoque o educando e instituições de Educação Infantil e Ensino Fundamental.

VII – CONCLUSÃO

A Psicopedagogia é uma área de conhecimento interdisciplinar com atuação em saúde e educação que se dedicou ao processo de ensinagem e aprendizagem humana. Partindo desse pressuposto precisamos tê-la não como solução de todos os problemas, mas que possamos vislumbrar um caminho a ser seguido por todos que necessitem de tratamento Psicopedagógico.

O Psicopedagogo conta com um corpo de conhecimento científico proveniente de várias áreas (ancoradas na Neurologia, Linguística, Psicanálise, Psicologia Genética, Psicologia Social, Pedagogia e Psicologia Geral, dentre outras) aliada a uma prática clínica e institucional que considera fatores que interferem na aprendizagem (orgânicos, psico, cognitivo, afetivo, físico e etc.) no sentido de alcançar a compreensão desse processo, para auxiliar na superação das dificuldades.

Essa área do conhecimento tem contribuído para uma melhor compreensão da realidade do aprendente com dificuldade de aprendizagem. Enquanto Psicopedagogia clínica, trata de transtornos de modo preventivo. Como Psicopedagogia Institucional. Na ação preventiva o psicopedagogo proporciona condições para que as situações de ensino sejam

(12)

percebidos e organizados, mediante conhecimento e reflexão acerca das habilidades e princípios inerentes ao processo de aprendizagem. Além de valorizar novos conhecimentos, novas formas de aprender e avaliar o conhecimento.

Faz-se necessário a mudança de política pública educacional que efetivamente promova a educação de qualidade, que em nenhuma escola existam alunos do Ensino Fundamental maior, analfabetos funcionais. Que esta realidade seja transformada com a ajuda de todos: escola, professores, alunos, pais e comunidade, dentre outros profissionais (Psicólogo, Psicopedagogo, Fonoaudiólogo e etc).

Vivemos um momento em que a sociedade está em crise estrutural familiar e social. A escola enquanto espaço privilegiado tem o papel de emancipar o sujeito, com a erradicação da lacuna do fracasso escolar. Para isso é preciso que todos se responsabilizem em promover a efetiva aprendizagem, os pais procurem dar uma assistência aos seus filhos no seu processo de formação cognitiva, a comunidade participe mais das ações realizadas na escola para a melhoria da qualidade da educação.

O governo de fato saia da zona de conforto e invista na educação de fato com responsabilidade e cobrança de retorno, além de promover uma política de formação de qualidade dos professores e valorização das remunerações destes profissionais que trabalham na maioria das vezes em três turnos para suprir uma remuneração que contemple as suas necessidades pessoais e da sua família.

Os professores são agentes transformadores de realidade, quando a educação de qualidade ganha corpo nas suas práticas, embora dependa da relação interpessoal e organizacional da escola, da sociedade e da política para que tudo funcionem bem.

Em geral, a sociedade privilegia a educação por configurar ascensão social, o fracasso escolar perpetua a promoção da marginalização social e com isso cresce cada vez mais o abismo entre as classes sociais, com o fenômeno da globalização mundial. Frente ao contexto do insucesso escolar, constatou-se que o psicopedagogo no seu campo de atuação é cada vez capaz de criar novas respostas para os antigos problemas educacionais.

Contudo, estes profissionais atuavam sob a legitimidade da sociedade há quase 30 anos, embora não possuíssem legalidade na sua atividade profissional junto às instituições governamentais. Assim, estes profissionais eram contratados como psicopedagogos ou para prestar serviço de assessoria psicopedagógica.

A trajetória de luta empreendida para regulamentação destes profissionais iniciou com ajuda da ABPp, dos psicopedagogos do Brasil e de parte de alguns representantes políticos. A criação da identidade profissional concretizou-se no processo de inclusão do psicopedagogo na Classificação Brasileira de Ocupação - CBO cadastrado no nº2394. Haja

(13)

vista, que a CBO tem por objetivo a identificação das ocupações no mercado de trabalho especificamente ao serviço público, em razão de ser de ordem administrativa, sem extensão às relações de trabalho. A regulamentação hoje é uma conquista revestida nos esforços dos Psicopedagogos e da Sociedade, assim configurou - se uma conquista de todos envolvidos diretamente e indiretamente.

REFERÊNCIAS

AMORIN, Elaine Soares, Psicopedagogia: Regulamentação e Identidade Profissional. Artigo Científico veiculado pela Internet: http://blog.newtonpaiva.br/pos/wp- content/uploads/2013/02/E4-P-27.pdf < acessado em 23/11/2013>

BARBOSA, Laura Mont Serrat. A história da psicopedagogia contou também com Visca. In: Psicopedagogia e Aprendizagem. Coletânea de reflexões. Curitiba, 2002.

BOSSA, Nádia Aparecida. A Psicopedagogia no Brasil:Contribuições a partir da prática.Porto Alegre: Editora Artes Médicas,1994.

________, fracasso escolar- Um olhar Psicopedagógico. Porto Alegre: Editora Artes Médicas, 2002 p.41

CAMPOS, W. C. M, Psicopedagogo: um generalista especialista em problemas de aprendizagem- IN: Bossa, N.A (org.); oliveira. B(org.). Avaliação psicopedagógica da criança zero a seis anos. 11 ed. Petrópolis: Vozes, 2001.

GOLBERT, Clarissa S. Considerações sobre as atividades dos profissionais em Psicopedagogia na Região de Porto Alegre. In Boletim da Associação Brasileira de Psicopedagogia. Ano quatro nº. oito agosto de 1985.

LOMONICO, Circe Ferreira. Psicopedagogia: Teoria e Prática.1ª edição.São Paulo:EDICON, 1992

OLIVEIRA, Vera Barros ET al BOSSA, Nádia Aparecida (org). Avaliação Psicopedagógica da criança de sete a onze anos. 2ª. Ed. Petrópolis: Vozes, 1997, p.215.

PAÍN, Sara. Diagnóstico e Tratamento dos Problemas de Aprendizagem.Porto Alegre:Editora Artes Médicas, 1986 p.28

SCOZ, Beatriz. Judith. Lima. Psicopedagogia e realização escolar. Rio de janeiro:Editora Vozes,1994

(14)

__________, CAMPOS, Maria Cecília Malta, As queixas escolares vistas a partir da Pedagogia, da Psicologia, da Psicanálise e Psicopedagogia: Contribuições para o diálogo interdiciplinar (1999)

THOMSEN, Débora Bernadi Grandjean.Ponto de vista – Psicopedagogia: Contexto, Conceito e Atuação.FEV./2007:Disponível em http://www.abpp.com.br/artigos/74.htm>

acessado em 19/01/2014.

VISCA, Jorge.Clínica Psicopedagógica – Epistemologia Convergente.Porto Alegre: Artes Médicas, 1992, p.21

WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia Clínica: Uma visão diagnóstica. 2ª edição. Porto Alegre:Artes Médicas, 1994

Referências

Documentos relacionados

▪ Um estudo da UNESCO, publicado em 2005, mostra que Austrália, Inglaterra e Japão, onde as armas são proibidas, estão entre os países do mundo onde MENOS se mata com arma de

De acordo com a Resolução 3.988, do Banco Central do Brasil, define-se o gerenciamento de capital como o processo contínuo de: (i) monitoramento e controle do capital mantido

Conclusão: a mor- dida aberta anterior (MAA) foi a alteração oclusal mais prevalente nas crianças, havendo associação estatisticamente signifi cante entre hábitos orais

Considerando a presença e o estado de alguns componentes (bico, ponta, manômetro, pingente, entre outros), todos os pulverizadores apresentavam alguma

Figura 47 - Tipografias utilizadas no aplicativo Fonte: Acervo da autora (2015). Contudo, o logotipo é formado basicamente por elementos estéticos resgatados da identidade

E mesmo sendo um instrumento autônomo de Gestão Ambiental, a Au- ditoria Ambiental tem por objetivo averiguar o cumprimento da legislação am- biental, de forma rígida,

It leverages recently released municipality-level information from Brazil’s 2017 Agricultural Census to describe the evolution of three agricultural practices typically connected

E para opinar sobre a relação entre linguagem e cognição, Silva (2004) nos traz uma importante contribuição sobre o fenômeno, assegurando que a linguagem é parte constitutiva