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6 Trabalho na posição de sentado

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Academic year: 2022

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6 Trabalho na posição de sentado

6.1 Adequação às características das tarefas

Está hoje perfeitamente demonstrado que os principais problemas posturais das pessoas que trabalham sentadas estão relacionados com a postura da coluna, particularmente nas regiões lombar e cervical. Por essa razão, os ergonomistas atribuem bastante relevo a este aspecto. Contudo é de real- çar que, para além da coluna, há outros aspectos importantes a considerar, tais como o trabalho muscular estático exigido à musculatura de suporte do tronco, a altura do plano de trabalho, a forma e os materiais das superfícies do assento, as exigências visuais ou mecânicas das tarefas, as caracterís- ticas anatómicas e biomecânicas dos utilizadores, a própria natureza das tarefas a desempenhar e suas as exigências físicas e visuais. Na verdade, são esses factores que, no seu conjunto, determinam a postura. Por isso é importante ter sempre presente este conceito abrangente ao analisar postos de trabalho sentados. Nas secções seguintes serão abordados os principais aspectos determinantes da qualidade ergonómica da postura sentada.

De uma maneira geral, as cadeiras e outros equipamentos afins devem ser concebidos com o objectivo de proteger a integridade do sistema músculo-esquelético. Os requisitos mais importantes para uma boa cadeira de trabalho são as seguintes:

• adequar-se às características das tarefas a executar de modo a permitir as posturas mais correctas,

• evitar a necessidade de inclinar o tronco à frente,

• permitir a preservação da lordose lombar,

• ser ajustável a fim de facilitar a natural mobilidade das articulações, aspecto muito importante nos postos de trabalho sedentários,

• apoiar confortavelmente o corpo de modo a suportar o seu peso sem excessiva pressão nas nádegas e nas coxas,

• assegurar um apoio efectivo das costas a fim de reduzir o trabalho estático dos músculos dorsais que sustentam o peso do tronco,

• ter uma altura que permita ao utilizador apoiar os pés no chão ou, se isso não for possível, estar dotada de um apoio de pés que possibilite essa postura.

Em alguns casos é muito difícil, chegando mesmo a não ser possível, especificar o assento “ideal” para uma aplicação mais ou menos genérica. Bastará apenas que reparemos na variedade de posturas que encontramos, por exemplo, em diferentes pessoas em postos de trabalho com equipamento dotado de teclados, variedade essa relacionada com o tipo de tarefa realizada. Assim, a entrada full-time de dados numéricos em terminais ou máquinas de contabilidade, geralmente feita com uma só mão, tem características posturais diferentes do trabalho de dactilografia ou processamento de texto, que por sua vez diferem substancialmente em tarefas interactivas do tipo “conversacional” comuns em muitos postos de trabalho com terminal de computador, tais como “caixas” bancários, reserva de passagens aéreas, consultas de bases de dados, recepção de doentes em hospitais, etc. Como é evidente, essas diferenças posturais são devidas, primordialmente, às diferenças no conteúdo, na duração e nas exigências das tarefas, pouco tendo a ver com o assento propriamente dito. Por sua vez, o assento

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deve ser especificado tendo em atenção as características principais dessas tarefas de modo a permitir desempenhá-las confortavelmente, durante períodos de tempo por vezes bastante longos.

Ora se é difícil especificar correctamente um assento genérico para uso em trabalho informático, mais difícil será fazê-lo para tarefas industriais dada a grande diversidade de actividades. Por isso é indispensável que se conheça muito bem o conteúdo de trabalho de cada tarefa, o tipo de actividade, a altura das bancadas ou dos planos de trabalho, o peso dos objectos ou a força a exercer, a precisão de movimentos, as exigências visuais, as ferramentas a utilizar, a duração das tarefas, se há mobilidade ou sedentarismo, etc.

A esta informação há que acrescentar o conhecimento das dimensões antropométricas dos operadores e eventualmente outras características, tais como restrições funcionais ou sensoriais que possam ser relevantes.

Só na posse de toda a informação necessária se poderá realizar uma correcta escolha ou especificação da cadeira ou dispositivo de apoio mais adequado.

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6.2 Fisiologia e biomecânica da postura sentada

Antes de avançarmos nesta exposição sobre a postura de sentado, será útil recordar alguns conceitos de fisiologia da contracção muscular e da biomecânica.

6.2.1 Trabalho muscular estático postural

No desempenho de tarefas sedentárias e, em particular, na posição de sentado, ocorre frequentemente trabalho muscular estático de natureza postural. Como é sabido, trata-se de um trabalho em grande parte anaeróbio por se realizar predominantemente à custa do oxigénio e das reservas energéticas existentes nos músculos visto a irrigação sanguínea destes estar total ou parcialmente interrompida durante a contracção muscular. Como não há irrigação suficiente, o oxigé- nio existente no músculo tende a esgotar-se e os metabólitos resultantes da própria contracção muscular acumulam-se. Por estas razões, o trabalho muscular estático é muito fatigante e deve ser evitado a todo o custo. A manutenção prolongada de trabalho muscular estático só não produzirá fadiga se a intensidade da contracção isométrica não exceder 8 a 10 % da força máxima voluntária (FMV) do músculo, valor relativamente baixo que facilmente será excedido se não houver cuidado na escolha da postura. Na maioria dos postos de trabalho na posição de sentado, o esforço muscular estático mais importante resulta da sustentação do peso do próprio tronco, da cabeça e dos braços, quando não são devidamente apoiados. A concepção do assento deve considerar estes factos, de modo a reduzir ao mínimo o trabalho muscular estático de origem postural.

6.2.2 Pressão interna nos discos intervertebrais

Um indicador fisiológico bastante utilizado para avaliar o esforço e o cansaço inerente à postura de sentado é a pressão interna dos discos intervertebrais. Entre os numerosos estudos que relacionam diversas posturas com as correspondentes pressões intra discais, citaremos alguns resultados mais significativos a propósito da importância da inclinação do espaldar (ou costas) do assento. Na verdade, a medição da pressão intra discal é uma técnica delicada que só pode ser realizada em laboratórios muito especializados, não sendo por isso utilizável em análises de rotina. Servem, contudo, para que melhor entendamos as implicações fisiológicas que um mau assento pode ter e para fortalecer os argumentos em favor do design ou da escolha de cadeiras de melhor qualidade. Mas embora seja difícil medir a pressão intra discal, ela pode ser estimada pela análise biomecânica dos esforços a partir das dimensões e massas dos segmentos do corpo e do cálculo de momentos. Uma vez que se conhece razoavelmente a relação entre a pressão intra discal e as lesões potenciais, aquela estimativa pode então ser utilizada para a avaliação do risco.

6.2.3 Electromiografia

Outro indicador fisiológico útil é a actividade eléctrica gerada nos músculos durante a contracção.

Sabida a relação directa existente entre a intensidade da contracção muscular e a actividade eléctrica associada, é possível estudar os efeitos de diferentes posturas na actividade muscular, por meio de electromiografia (EMG). Esta técnica tem sido bastante usada no estudo comparativo de assentos através da medição por EMG das variações da actividade muscular resultantes das várias posturas e

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embora seja mais fácil de realizar que a medição da pressão intra discal, ela é essencialmente uma técnica laboratorial de difícil aplicação em estudos de campo.

6.2.4 Biomecânica da coluna vertebral

A coluna vertebral é sem dúvida o órgão de suporte mais sensível às condições posturais do corpo humano e às variadíssimas solicitações e esforços a que ele é sujeito na actividade física. Tratando-se de uma estrutura esquelética capaz de realizar grandes esforços, ela sustenta permanentemente o tronco e a cabeça e constitui o suporte no qual se apoiam os membros superiores e a partir do qual realizam o seu trabalho. A sua grande capacidade muscular é acompanhada de notável flexibilidade que lhe permite combinar movimentos de flexão e rotação do tronco e da cabeça nas mais variadas direcções. Essa versatilidade tem, contudo, um reverso. Como em tantas coisas na vida, a maior complexidade implica também alguma fragilidade. É por isso que, embora sendo capazes de, incólu- mes, arrancar do chão um fardo com setenta ou oitenta quilos – se utilizarmos a técnica correcta – poderemos facilmente contrair uma lesão lombar se pegarmos com negligência num inofensivo volume com dez quilos, ou ainda menos, de peso.

De um modo geral, a postura “sentada” é considerada como uma posição confortável, segura e repousante. Todavia, os numerosos estudos realizados durante os últimos 50 anos sugerem exacta- mente o contrário. Na realidade, as evidências científicas acumuladas revelam factos indesmentíveis como, por exemplo, que a simples mudança de sentado com o tronco erecto para a posição de pé, reduz em 35% a pressão interna dos discos intervertebrais lombares (Nachemson e Harris, 1964). A figura 6.2.1 mostra o efeito de quatro posturas na pressão no disco intervertebral L3/L4..

Figura 6.2.1

Efeito de quatro posturas na pressão no disco intervertebral L3/L4, referidas em relação à posição de pé, à qual foi atribuído o valor 100 %. As posturas sentadas provocam as pressões intra discais mais gravosas (Segundo Nachemson e Elfstrom, 1970).

Face a essa evidência, podemos dizer que, segundo o ponto de vista postural, o corpo humano está em equilíbrio natural quando em andamento ou na postura erecta, de pé. Nestas condições, a coluna mantém as três curvas características (figura 6.2.2a) que ajudam a conciliar a função de sustentação do peso do tronco com as necessidades funcionais de mobilidade e flexibilidade. Ao caminharmos, a bacia oscila num movimento alternante e semi rotativo em torno de um eixo horizontal que passa pelas articulações das ancas. Este movimento oscilante tonifica a musculatura e as articulações e promove o fluxo dos fluidos nutritivos ao longo do canal espinal. O movimento também é benéfico para os discos intervertebrais cujo interior não tem irrigação sanguínea. Por isso, a alimentação do disco é feita por difusão através da camada fibrosa exterior. A pressão exercida no disco cria um gradiente do interior para o exterior que faz o líquido sair. Quando a pressão diminui, o gradiente é invertido e o fluido

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entra de novo no disco, transportando os nutrientes. Daqui se conclui que as frequentes mudanças de pressão resultantes do movimento, funcionando como uma espécie de mecanismo de bombagem, são uma condição necessária para manter os discos em boas condições.

Ao sentarmo-nos numa postura estática, interrompemos o movimento oscilante natural do corpo e reduzimos drasticamente o movimento da cintura pélvica. A flexão da coxa e do joelho cria novas forças de tensão e compressão sobre as estruturas músculo-esqueléticas de suporte. O contacto do corpo com as superfícies do assento e o espaldar da cadeira contribui para a fixidez da postura e aumenta a complexidade da interacção daquelas forças. O movimento da coluna lombar fica assim restringido, reduzindo os fluxos de irrigação. Durante os períodos de trabalho nessa posição resta-nos apenas a liberdade para a flexão anterior da coluna, oscilando apenas para a frente e para trás com uma amplitude muito limitada, em geral insuficiente para as necessidades de irrigação da coluna. Para além destas limitações, se a concepção do assento for incorrecta para a actividade em causa, origi- nam-se pressões desiguais sob as nádegas e as coxas, geradoras de desconforto e incomodidade.

Figura 6.2.2

Alterações posturais da bacia ao passar da posição de pé (a) para sentado (b). Ao sentar, a bacia roda cerca de 40º, como indica a seta negra, tendendo a transformar a lordose lombar numa cifose (setas cinzentas), situação que deve ser evitada.

(Adaptado de Grandjean, 1988).

Devido às suas próprias características anatómicas e funcionais, a articulação pélvica tem um comportamento que favorece pouco a adopção automática da lordose lombar quando nos sentamos.

Na realidade, quando mudamos da posição de pé para a de sentados, a pélvis sofre uma rotação de um ângulo de cerca de 95° com a vertical para cerca de 55°, isto é, roda cerca de 40° conforme ilustra a figura 6.2.2b. A lordose transforma-se em cifose pois, ao sentar, a força de tensão nos músculos que actuam na face posterior da região lombar, puxando-a, torna-se maior que a tensão da musculatura na face abdominal, assim deformando a coluna. A cifose origina uma compressão desigual dos discos intervertebrais, deformando-os conforme exemplifica a figura 6.2.3, podendo comprimir dolorosamente os nervos que saem da espinal-medula ao nível dos discos intervertebrais e, por vezes, originar hérnias discais crónicas.

a b

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Figura 6.2.3

Ilustração da forma como o disco intervertebral (D), sofrendo a compressão na parte anterior das vértebras L3 e L4 (setas cinzentas) causada pela flexão anterior do tronco, se deforma na zona posterior, tocando num nervo (N) oriundo da espinal- medula (M) no ponto assinalado pela seta negra.

Mesmo a níveis baixos de fadiga (EMG entre 5 e 10% da FMV) a capacidade muscular é reduzida de 12% ao fim de uma hora (Jorgensen et al., 1988). A simples posição de sentado com o tronco erecto produz níveis semelhantes de fadiga (EMG de 8% da FMV). A fadiga muscular e a pressão intra discal aumentam drasticamente quando o tronco se inclina à frente: Actividade EMG sobe para mais de 18% da FMV numa flexão anterior de apenas 10° (Anderson et al., 1974). Um simples cálculo de momentos de forças mostra que uma flexão anterior do tronco de 40° sem apoio produz uma compressão de cerca de 220 Kg nas articulações lombares, valor muito próximo do seu ponto de ruptura sem musculatura de suporte (Nachemson e Elfstrom, 1970). As elevadas tensões e os diferenciais de pressão resultantes de algumas posturas incorrectas podem lesionar músculos e tendões e em última análise causar graves deformações nos discos intervertebrais da coluna lombar. O resultado é a verdadeira epidemia de afecções mais ou menos incapacitantes que afectam o mundo do trabalho, tais como discos herniados ou deslocados, músculos, tendões e ligamentos lesionados e lombalgias crónicas.

6.2.5 A postura ‘normal’, ‘natural’ ou ‘neutra’ da coluna lombar

Segundo Keegan (1953), a posição mais confortável e repousante para a coluna lombar e a articulação pélvica corresponde a um ângulo de aproximadamente 135° entre a base da coluna lombar e a coxa (figura 6.2.4), segundo um estudo realizado em doentes hospitalizados. Keegan designou essa postura ‘normal’, mas a designação mais correcta seria talvez ‘natural’ pois corres- ponde à posição de maior conforto e descontracção adoptada espontaneamente pela maioria dos indivíduos quando em decúbito lateral. Também podemos considerar esta postura como ‘neutra’ pois há um equilíbrio perfeito entre a musculatura anterior e posterior à pelve. Investigadores da NASA observaram posturas semelhantes em estudos posturais de indivíduos na situação de impondera- bilidade. Nesses estudos, à postura ‘neutra’ corresponde um ângulo de 128°± 8°. Supõe-se que nessa posição as tensões musculares sobre os segmentos da coluna lombar encontram um equilíbrio mais estável. Aliás, essa postura é muito semelhante à do corpo mergulhado descontraidamente na água. Julga-se que, sempre que a coluna vertebral não está a suportar o peso do corpo, quer por este estar deitado de lado, quer em situação de imponderabilidade, quer por o seu peso ser anulado pela a impulsão quando está mergulhado na água, ela naturalmente tende a assumir essa postura neutra.

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Figura 6.2.4

Radiografias de um indivíduo deitado de lado. A postura C, que o autor designou por ‘normal’ é adoptada naturalmente pela maioria das pessoas quando em decúbito lateral, em condições de imponderabilidade ou com o peso do corpo neutralizado pela impulsão por estar imerso em água (Adaptado de Keegan 1953).

6.2.6 A importância do espaldar da cadeira

Deve ser referida explicitamente a importância que o espaldar da cadeira tem para a qualidade da postura sentada. Na verdade, um bom espaldar beneficia a postura por duas razões: Em primeiro lugar, porque ajuda decisivamente a manter a lordose da coluna lombar, aspecto que é vital para a saúde dos discos intervertebrais. Em segundo lugar, porque sustenta uma parte significativa do peso do tronco, contribuindo para aliviar o trabalho muscular estático dos músculos dorsais, tornando a postura menos fatigante.

Muitos resultados experimentais confirmam a teoria de Keegan. Entre outros, podemos citar os de Anderson e Ortengren (1974b) sobre o efeito do ângulo entre o assento e o espaldar na pressão inter discal e na actividade dos músculos dorsais (figuras 6.2.5 e 6.2.6).

Figura 6.2.5

Efeitos do ângulo entre o assento e o espaldar na pressão intra discal e na actividade EMG dos músculos do tronco, medidas, respectivamente, no disco L3/L4 e ao nível da oitava

vértebra torácica (T8). O valor zero (0) na escala de pressão é um valor de referência correspondente ao ângulo de 90º. O valor absoluto correspondente ao valor de referência zero era cerca de 0,5 MPa ( ˜ 5 kp/cm2). (Adaptado de Anderson e Ortengren, 1974a).

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O segredo fundamental para conservarmos uma coluna saudável é sermos capazes de manter a postura correcta, qualquer que seja a actividade que realizemos. É evidente que este cuidado é tanto mais importante quanto maiores forem o esforço ou a amplitude de movimentos ou a duração dessa actividade. Como já foi dito, a postura correcta da coluna corresponde às três curvas características ilustradas na figura 6.2.2a, que a coluna assume naturalmente quando estamos em pé. Por essa razão é muito importante que, na posição de sentado, seja possível à coluna manter essas curvaturas natu- rais, designadamente a lordose nas regiões lombar e cervical.

Para aproximar a postura de trabalho sentada da postura ‘natural’, é necessário que o ângulo entre as coxas e a coluna lombar se aproxime dos valores encontrados por Keegan ou, pelo menos pela NASA, ou seja, algures no intervalo entre 120º e 135º. Ora isto só é possível de conseguir à custa da inclinação do espaldar da cadeira, mas essa inclinação do tronco seria demasiadamente restritiva ou, por outras palavras, poucas seriam as actividades que seria possível realizar com o tronco tão inclinado. Resta então a alternativa de conseguir um ângulo que se aproxime dos valores recomendados, conjugando a inclinação do espaldar com a inclinação do assento à frente. Assim não seria necessário inclinar tanto o tronco atrás. No entanto, essa solução tem as suas dificuldades, pois a inclinação anterior do assento pode, por sua vez, criar a tendência de as coxas escorregarem para a frente, o que também não é desejável e restringe, de algum modo, a adopção desta regulação do assento.

Figura 6.2.6

Efeitos de várias posturas na pressão intra discal.

A pressão relativamente baixa da posição de escrita manual deve-se aos cotovelos estarem apoiados na mesa, suportando uma parte significativa do peso do tronco, assim aliviando os músculos das costas. (Segundo Anderson e Ortengren, 1974a).

6.2.7 O espaldar da cadeira com apoio lombar

Felizmente há outra maneira de favorecer a boa postura da coluna lombar sem que seja necessário utilizar ângulos de inclinação do espaldar e do assento tão grandes. Trata-se de associar ao espaldar da cadeira de inclinação ajustável um adequado apoio lombar. Anderson e Ortengren (1974) estudaram o efeito combinado da inclinação do espaldar dotado com um apoio lombar e um apoio torácico. Os resultados estão resumidos na figura 6.2.7.

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Figura 6.2.7

Efeitos combinados da inclinação do espaldar e da utilização de apoio lombar e torácico na pressão intra discal em L3/L4. e na oitava vértebra torácica (T8). Foi usada como

referência (100%) a pressão correspondente ao ângulo do espaldar de 90º sem apoio lombar (AL) (condição A). A utilização de um apoio na região torácica (AT), condição E, mostrou ser pior que a condição C, em que não foi usado qualquer apoio (Adaptado de Anderson e Ortengren, 1974).

Os mesmos autores estudaram também os efeitos combinados do ângulo do espaldar de assentos de automóveis com diferentes espessuras do apoio lombar. Conforme ilustra a figura 6.2.8, confirmam-se os benefícios da inclinação do espaldar e a maior eficácia da espessura de 5 cm na redução da lordose lombar. Com o apoio lombar de 7 cm de espessura, a actividade EMG aumentou significativamente, pelo que foi considerada óptima a espessura de 5 cm.

Figura 6.2.8

Efeitos combinados do ângulo do espaldar de assentos de automóvel com diferentes

espessuras do apoio lombar em assentos de automóvel. (Adaptado de Anderson et al.

1974c).

Também há evidência de que muitos indivíduos preferem trabalhar com o espaldar da cadeira com inclinação entre 100 e 110º (figura 6.2.9), sendo uma minoria os que preferem trabalhar com o tronco a 90º. Ao assumirem a postura mais reclinada, os operadores adoptam instintivamente a posição mais correcta, contrariando a postura erecta do tronco, ainda hoje erradamente recomendada pela maioria das normas em vigor.

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Figura 6.2.9

Postura característica de muitos trabalhadores em terminais de computador com o tronco bastante reclinado, aliás semelhante à postura adoptada por muitos condutores de automóvel (Segundo Grandjean 1987).

6.2.8 Extensão vertical do espaldar da cadeira

Trata-se de outro aspecto importante. Na realidade, está demonstrado por EMG dos músculos de suporte na região torácica da coluna que, quanto maior for a extensão vertical do espaldar, tanto menor será o esforço muscular de sustentação do peso do tronco. Isto deve-se à sustentação proporcionada pela aderência do vestuário ao material do forro do espaldar. Por isso é desejável que os espaldares das cadeiras, para além de proporcionarem a manutenção das curvas naturais do tronco, sejam suficientemente altos e sejam forrados com tecido que contrarie a tendência para o es- corregamento do corpo. Grandjean (1987) recomenda uma altura do espaldar na ordem dos 500 mm. Assim se conseguirá aliviar os músculos desse trabalho estático de suporte. Relativamente à altura e à largura do espaldar há, contudo, que evitar que ela dificulte os movimentos laterais dos braços em actividades em que esses movimentos sejam importantes, tais como na condução de veícu- los, especialmente tractores agrícolas e máquinas de movimentação de terras ou da construção civil.

Nesses casos, a largura da parte superior do espaldar deve ser menor, de modo a não reduzir a amplitude de movimentos dos braços.

Esta extensão do assento é especialmente recomendável para assegurar um apoio efectivo em toda a extensão da região torácica da coluna em posturas com o tronco inclinado a mais de 90º, para além do apoio indispensável à região lombar.

6.2.9 Vantagens dos braços da cadeira

Deve ser também referido o efeito combinado da inclinação do espaldar e da utilização de apoios de braços nas cadeiras para a redução da pressão intra discal. Anderson e Ortengren (1974b) estudaram este efeito e concluíram que a pressão intra discal em L3/L4 é significativamente menor com os braços apoiados do que com os braços pendentes, conforme demonstra a figura 6.2.10. Esse efeito é especialmente evidente quando o ângulo do espaldar com o assento é próximo dos 90º. A partir da medição da carga no 3º disco intervertebral lombar (L3), Occhipinti et al. (1985) compararam os efeitos de apoiar ou não os braços para diversas posturas de sentado. Observaram que as forças de suporte variaram, em função da postura do tronco, entre 3,5% e quase 15% do peso corporal.

Verificaram que o apoio dos braços reduziu significativamente a carga nos discos intervertebrais. Por esta razão considera-se vantajosa a utilização de cadeiras com braços nos postos de trabalho em que não seja essencial o livre movimento dos braços fora do plano de trabalho ou em que os apoios de braço dificultem a realização das tarefas. Esta recomendação é particularmente importante em tarefas interactivas com o computador em que o operador tem que esperar algum tempo para pensar ou enquanto aguarda a resposta do sistema, como é típico em muitas tarefas informáticas.

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Figura 6.2.10

Efeito combinado da inclinação do espaldar e da utilização de apoios de braços nas cadeiras na redução da pressão intra discal. (Adaptado de Anderson e Ortengren 1974b).

Os apoios de braços permitem aliviar os músculos das espáduas e dos membros superiores e podem, em certos casos, ajudar a sentar e a levantar do assento. São em geral recomendados para trabalhos de precisão, artísticos ou de leitura, pois contribuem para uma maior firmeza dos braços e mãos.

Em certos casos, porém, estes apoios podem ser indesejáveis por não permitirem aproximar sufici- entemente a cadeira da mesa de trabalho ou poderem restringir a liberdade de movimentos dos bra- ços. Por isso são por vezes desaconselháveis. Em alguns casos, tais como em actividades repetitivas ou em que as mãos têm pouca mobilidade pela necessidade de manipular um só controlo, como acontece na microscopia, é preferível integrar os apoios para braços no próprio plano de trabalho e não no assento, como se pode ver na figura 6.3.4. Assim se facilitam os movimentos, as mudanças de posição e a entrada e saída da cadeira.

Os apoios de braços suportam a parte carnuda dos antebraços e, a não ser que sejam muito bem almofadados, não devem estar em contacto com a parte óssea do cotovelo onde o nervo muito sensitivo está próximo da superfície. Por isso pode ser desejável um afastamento de cerca de 100 mm entre os apoios de braços e as costas do assento. Se a cadeira for utilizada para trabalho a uma mesa, o apoio não deve limitar o acesso, pelo que a extremidade anterior não deve distar mais de 350 mm das costas da cadeira.

Quanto à altura dos apoios de braços, é preferível que seja ligeiramente inferior (cerca de 50 mm) à altura do cotovelo, se pretendermos favorecer uma postura descontraída. De um modo geral, considera-se adequada uma altura de 200 a 250 mm acima do assento.

Em princípio, os braços da cadeira devem ser mais baixos que a mesa de trabalho, para permitir ao operador aproximar o corpo da mesa se tiver necessidade, sem que isso o impeça de manter as costas apoiadas no espaldar da cadeira. Contudo, se quizermos manter uma postura mais erecta, os braços da cadeira, para serem eficazes, têm que ser um pouco mais altos que o nível do cotovelo. Ora essa situação não será possível se a mesa de trabalho estiver situada ao nível do cotovelo ou abaixo desse nível pois entrarão em conflito com ela. Nesse caso, os braços da cadeira teriam que ser mais curtos, permitindo apenas apoiar a parte posterior do antebraço.

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6.2.10 Apoio de pulsos e mãos

Foram encontradas evidências de que o uso de apoios para os pulsos ou as mãos no trabalho com teclados tende a reduzir a actividade muscular nos ombros (trapézios) (Weber et al. 1984) e a pressão intra discal nas vértebras lombares (Occhipinti et al. 1985). Por essa razão é aconselhável o uso desses apoios em postos de trabalho sedentários com uso prolongado de teclados.

6.2.11 A coluna cervical

A região cervical da coluna é também muito importante. Tal como a coluna lombar, é um segmento com muita mobilidade que apresenta uma lordose natural quando na posição de pé. É uma região muito delicada pois, além de vulnerável a lesões nas vértebras e discos intervertebrais, é também susceptível aos processos degenerativos e à artrose. Os sintomas mais frequentes são endurecimentos dolorosos nos músculos dos ombros e da base do pescoço, dores e mobilidade reduzida da coluna cervical e, por vezes, radiação dolorosa para os braços. Em alguns países – como o Japão – estes sindromas cervicais são considerados doença profissional pois afectam com frequência trabalhadores com tarefas massivas de entrada de dados alfanuméricos (banca, contabilidade, seguros, registos, bases de dados, processamento de texto, etc.), operadores telefónicos e trabalhadores industriais em linhas de montagens com posturas sedentárias e tarefas repetitivas. Um facto importante com óbvias implicações com a qualidade do assento é que o desconforto físico do pescoço aumenta directamente com a inclinação anterior da cabeça. No entanto, a inclinação do pescoço depende de outros aspectos para além da qualidade e das dimensões do assento. De facto, a posição do pescoço e da cabeça também pode ser condicionada pela altura do plano de trabalho, pelas dimensões dos equipamentos, pela iluminação ambiente e pela natureza da própria tarefa. Por isso estes aspectos devem ser também analisados quando estivermos perante queixas de dores cervicais em actividades na posição de sentado.

Para trabalho sentado, a maioria dos especialistas aceitam que a direcção ‘normal’ de visão se situa entre 10 e 15º abaixo do plano horizontal que passa pelos olhos.

Um dos problemas frequentes resulta de a direcção principal de visão ser demasiadamente elevada, muitas vezes associada ao trabalho em terminais de computador se o monitor estiver alto demais. Na verdade, no trabalho na posição de sentado, o posto de trabalho deve estar dimensionado de modo que a direcção principal de visão esteja centrada num ângulo de 10 a 15º abaixo da horizontal que passa pelos olhos do operador, conforme mostra a figura 6.2.11. Segundo Grandjean (1987)

Figura 6.2.11

A direcção preferencial de visão está situada aproximadamente no eixo do cone dentro do qual a rotação dos olhos se faz com facilidade. (Adaptado de Grandjean 1987).

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Embora ainda sujeita a alguma controvérsia, a opinião geral entre os especialistas é de que a flexão anterior da cabeça e do pescoço relativamente à vertical não deve ser superior a 15º, para se evitar a fadiga muscular e problemas vertebrais associados. Ora esta inclinação está de acordo com o ângulo de visão entre -10 e -15º observado na maioria dos utilizadores de terminais de computador.

6.2.12 Altura e inclinação do assento

A altura e a inclinação do assento estão intimamente relacionadas entre si, assim como com a inclinação do apoio de costas, pois determinam, em conjugação, a existência e a extensão da lordose lombar.

Quanto à altura, a regra básica é que seja inferior ou igual à altura do poplíteo (acrescida da espessura do calçado), a fim de permitir apoiar o pé no solo. Assim se assegura que o peso da perna é suportado pelo próprio solo, pois de outro modo iria comprimir os tecidos da face posterior da coxa e as grandes artérias, prejudicando a circulação sanguínea no membro inferior.

É sabido que a altura da cadeira, se a forma do assento permitir a inclinação anterior das coxas, pode contribuir para aumentar a lordose lombar até igualar, no limite, a lordose da posição de pé, como ilustra a figura 6.2.12. No entanto, também se sabe que, à medida que a altura do assento aumenta, a utilização do espaldar tende a diminuir até eventualmente deixar de existir na posição de pé. Isto é um inconveniente, pois o espaldar é útil para a aliviar a tensão na musculatura de suporte do tronco. Por isso há toda a vantagem em que a altura do assento permita que o espaldar seja minimamente útil para os músculos do tronco, pelo que Bendix (1986) recomenda as posturas B ou C da figura 6.2.12.

Figura 6.2.12

Ao aumentar a altura do assento a lordose lombar tende a aumentar. No entanto, o efeito de utilização do espaldar da cadeira como suporte do tronco vai diminuindo, como é indicado pela espessura das setas (Segundo Bendix et al. 1985).

À luz destas ideias, o conceito clássico de um assento horizontal ou com uma inclinação entre 0 e -5°

(ou seja, para trás) e a uma altura inferior ou igual à altura do poplíteo sofre contestação. Com ele se pretendia assegurar um apoio eficaz da região lombar pois a inclinação negativa do assento con- tribuiria para manter a região lombar mais encostada ao espaldar, favorecendo a lordose. Contudo, as concepções baseadas na importância de se manter um ângulo neutro (i.e., entre 120º e 135º, conforme foi referido nas secções 6.2.5 e 6.2.6) como factor essencial para a conservação da lordose, levaram à revisão do problema e novas conclusões emergiram do trabalho de diversos in- vestigadores (Mandal 1982, 1986; Bendix et al. 1983, 1985, 1986; Andersson 1974; Eklund e Cor- lett 1984, entre outros), baseados em muitos dados experimentais. Embora sem recolher a unanimidade de todos os autores, parece ser recomendável a possibilidade de inclinação anterior do

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assento (até cerca de –5°), a ser utilizada em conjugação com uma elevação da altura do assento entre 30 e 50 mm acima da altura poplíteo acrescida da espessura do calçado. No entanto, outros autores sugerem diferentes amplitudes para a inclinação.

A fim de assegurar mais estabilidade e contrariar a tendência de escorregamento do corpo para a frente devida à inclinação negativa do assento, Bendix (1986) recomenda que o espaldar seja ajustado de modo a que quando estiver encostado à concavidade lombar, as tuberosidades isquiais, que são os pontos de máxima pressão da bacia sobre o assento, estejam apoiadas 40 a 60 mm para trás do eixo de inclinação do assento.

6.2.13 Ajustabilidade

Chama-se a atenção para a importância em considerar em conjunto todos os parâmetros relevantes, conjugados com as características e exigências das tarefas a executar. Como é evidente, o dimen- sionamento do assento deverá ter em consideração as dimensões antropométricas do utilizador.

Contudo, para além de todas as considerações teóricas, não deverá ser esquecida a sua própria opinião acerca da postura que lhe é mais confortável. Na verdade, a grande variabilidade humana também se manifesta relativamente à sensação subjectiva de conforto.

Acima de tudo, deve ser dada ao indivíduo a oportunidade de ajustar o posto de trabalho às suas preferências, que não serão necessariamente sempre as mesmas. É muito importante que o posto de trabalho permita ao indivíduo variar a sua postura ao longo do dia sempre que necessite, pois trata-se de uma condição essencial para o seu bem-estar e para a boa saúde dos músculos, tendões e articula- ções. Porém, a ajustabilidade só será plenamente satisfatória se os dispositivos de ajustamento forem fáceis e rápidos de manipular pelo próprio utilizador, de preferência sem ter de se levantar do assento, pois de contrário a sua utilidade ficará comprometida.

A ajustabilidade dos equipamentos permite, como é evidente, que estes sejam utilizados confortavelmente por muitos trabalhadores e, se bem concebidos, poderão adaptar-se satisfatoriamente à grande maioria. A diferença de custo (mais elevado) dos equipamentos ajustáveis é em geral rapidamente recuperada graças aos benefícios, directos e indirectos, resultantes do aumento de produtividade e da satisfação geralmente associados à boa prática ergonómica. A figura 6.3.3 mostra as componentes do assento que devem ser ajustáveis pelo utilizador.

6.2.14 A forma e a superfície do assento

A forma e a superfície do assento devem permitir uma distribuição adequada da pressão devida ao peso do corpo. Quanto à forma, as opiniões dividem-se. Para permanências de curta duração pode aceitar-se o assento duro, moldado ou de madeira escavada com concavidades bem adaptadas à forma das nádegas e das coxas, mas para permanências mais longas é preferível que o assento seja mais ou menos plano e almofadado afim de permitir maior liberdade para mudança de posição. É es- sencial que o rebordo anterior do assento seja arredondado para facilitar a circulação sanguínea nas grandes artérias da perna, que de outro modo ficaria prejudicada. Também assim se evita a compressão dos feixes nervosos superficiais que resultaria das pressões mecânica directas, susceptí- veis de provocar perturbações sensitivas, formigueiros e mesmo dores, em certos casos. O revesti- mento almofadado deve ser relativamente rijo, sendo de evitar os assentos muito moles. Há quem

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recomende uma dureza tal que um indivíduo pesado não deforme o assento mais que 25 mm. Uma vez que o peso mais elevado é suportado pela parte posterior do assento, recomenda-se que o almofadado do terço posterior do assento seja substancialmente mais rijo que a parte anterior.

O material de revestimento deve ser poroso para permitir a ventilação e relativamente áspero para dar estabilidade. O tecido é preferível à napa ou ao plástico (que no Verão tornam os assentos quentes e húmidos por não absorverem a transpiração) ou à madeira por ser demasiadamente dura.

Recomendam-se capas amovíveis para os assentos e espaldares pois permitem a lavagem fácil e frequente.

6.2.15 Apoio de pés

Os assentos demasiadamente elevados obrigam as pernas a ficar pendentes cujo peso comprime as grandes artérias das coxas, o que dificulta a irrigação sanguínea das pernas e dos pés. Nesses casos, para uma postura confortável e saudável é indispensável que o posto de trabalho esteja dotado de um apoio de pés que deverá satisfazer as seguintes recomendações:

• O apoio deve ser plano, fixo, fazendo um ângulo com a horizontal de 15° ou, ainda melhor, ser ajustável entre 10 e 30°;

• A altura deve ser regulável de 0 a 15 cm, com a cota medida ao centro da superfície de apoio;

• Recomendam-se como dimensões mínimas 40 cm de largura e 30 cm de profundidade.

6.2.16 Espaço para as pernas

Outro aspecto importante é o espaço disponível para as pernas. Para uma postura confortável, é preciso que o espaço seja suficiente. Três dimensões (espaço lateral, vertical e profundidade) se podem considerar:

a) Espaço lateral: O espaço lateral de um bom assento deve permitir uma postura descontraída das coxas e joelhos, para o que Pheasant (1986) recomenda um espaço livre de 500 a 600 mm enquanto que a Norma Britânica 5940 indica um mínimo de 580 mm.

b) Espaço vertical: Habitualmente, este espaço é determinado pela altura do joelho dos indivíduos mais altos (por exemplo, o 95º percentil da população masculina, na ordem de 620 mm) ou pela altura do poplíteo adicionada à espessura da coxa dos mesmos indivíduos, que atingirá cerca de 700 mm (a Norma Britânica 5940 indica mínimos de 650 e 620 mm, respectivamente para mesas de trabalho de uso geral e para o trabalho com máquinas).

c) Horizontal: Trata-se de um aspecto mais difícil de determinar. Ao nível dos joelhos, a profundi- dade é determinada pela distância das nádegas ao joelho, ou seja, para um homem que seja do 95º percentil quanto ao comprimento da coxa, será de 645 mm. Se a cadeira for móvel, admi- tamos que o abdómen possa ficar em contacto com a borda da mesa, embora a maioria das pessoas prefira estar mais afastada. Na prática, a distância mínima será determinada pela dife- rença entre o comprimento da coxa e a espessura abdominal. Assim, num caso muito desfavorá- vel (e improvável) de um indivíduo que seja simultaneamente do 95º percentil para o comprimento da coxa e do 5º percentil para a espessura abdominal (220 mm), a profundidade

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, por mais confortável e bem concebido que seja o assento. A organização do trabalho deve prever pausas curtas e tão frequentes quanto necessário para preservar o bem-estar dos trabalhadores. Pausas curtas e frequentes são preferíveis às pausas longas e raras. Para igual tempo total de pausa, as primeiras são muito mais eficazes em termos de descanso efectivo.

6.2.19 Resumo

• Para que a coluna dorsal se conserve saudável é essencial manter a postura correcta, qualquer que seja a actividade que se realize.

• A postura correcta implica a manutenção da lordose da coluna lombar que pode ser facilitada se a cadeira possuir um espaldar adequado para apoiar as costas, o que implica ter uma secção vertical em “S” que preserve as curvas naturais da coluna.

• Além de ser regulável em inclinação, esse espaldar também deve ser ajustável em altura a fim de se adaptar às diferenças morfológicas dos utilizadores, particularmente quanto à altura da concavi- dade da lordose da coluna lombar.

• O espaldar da cadeira deve assegurar apoio à região lombar, favorecendo a lordose, e à região torácica da coluna, assim sustentando o peso do tronco, reduzindo a fadiga muscular.

• O uso de suporte lombar melhora a postura da coluna lombar, aproximando-a da lordose e assim reduz a deformação dos segmentos lombares. A espessura mais eficaz do apoio lombar é de 5 cm medidos a partir da superfície do espaldar. O apoio lombar é mais eficaz ao nível de L4 / L5.

• Quanto maior for a inclinação do espaldar da cadeira, maior será a transferência de peso do tronco para o espaldar, reduzindo assim a pressão intra discal.

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• De um modo geral, as cadeiras convencionais e, em particular, as cadeiras moldadas, proporcionam uma postura aceitável desde que os espaldares tenham uma inclinação ajustável e o relevo do assento se adapte bem à topografia das nádegas e coxas.

• No trabalho sedentário na postura de sentado, a mudança ocasional da inclinação do tronco passando por inclinado à frente, erecto ou inclinado atrás são benéficas no que concerne a irrigação dos discos intervertebrais.

• É indispensável que haja frequentes mudanças de postura, modificando um pouco os ajustamentos da cadeira. É importante fazer breves pausas frequentes, de preferência passando pela postura de pé, flectindo as pernas, movendo os braços e o pescoço e fazendo alguns exercícios de extensão do tronco, seguidos de momentos de relaxamento muscular. É preferível parar 5 minutos no fim de cada hora do que 10 minutos após 2 horas de trabalho.

• Os braços da cadeira suportam o peso dos membros superiores, reduzem a actividade EMG dos ombros e reduzem a pressão intra discal. Por isso devem ser utlizados sempre que possível.

• Para facilitar a circulação sanguínea nos membros inferiores, os pés devem apoiar-se no solo ou num apoio de pés com alguma inclinação para maior comodidade.

• Em máquinas e veículos que produzam vibrações e oscilações, a cadeira deve dispor de amortecedores para impedir que o operador seja afectado por elas.

(18)

6.3 Recomendações gerais para a concepção do assento

Como parece claro, não é possível encontrar neste texto a especificação do assento “ideal”, pois trata-se de uma abstracção impossível de materializar. Várias razões existem para essa impossibilidade, mas talvez a mais evidente seja o facto de as características do assento para realizar um determinado trabalho dependerem das características desse trabalho. Portanto, a escolha correcta de um assento só é possível após serem conhecidas as condições em que esse assento será utilizado.

Se pensarmos na grande diversidade de tarefas ocupacionais, compreenderemos a dificuldade em especificar assentos para essa variedade. Antes de se esboçar qualquer especificação será necessário recolher informação acerca das actividades que serão desempenhadas, entre as quais avultam aspectos como:

• a natureza da tarefa,

• a altura do plano de trabalho,

• as exigências visuais,

• a localização dos objectos a trabalhar,

• a precisão de movimentos,

• a utilização de ferramentas,

• a localização dos dispositivos de controlo,

• as exigências de força,

• o espaço livre necessário para a movimentação dos braços e do tronco,

• a duração dos períodos ininterruptos de actividade,

• as características de mobilidade ou o sedentarismo do posto de trabalho,

• o modo de alimentação do posto de trabalho (obtenção de peças),

• o modo de evacuação de peças, etc.

A extensão desta lista, provavelmente incompleta, mostra bem a complexidade que pode ter a especificação de um assento para actividades menos comuns. Facilmente se compreenderá não ser possível, num texto desta natureza, sequer apresentar um esboço de cada um dos tipos de assentos ocupacionais. Por isso, nas secções seguintes serão abordados apenas os aspectos genéricos dos assentos para as actividades ocupacionais mais comuns: Trabalho tipicamente administrativo, vulgarmente designado “de escritório” e trabalho “industrial geral”, sem mais especificações.

Em qualquer dos casos, tratando-se de assentos para utilização prolongada, devem satisfazer as seguintes condições fundamentais:

1. assegurar a manutenção da lordose lombar,

2. garantir a boa circulação sanguínea do membro inferior,

3. evitar a fadiga dos músculos do tronco devida ao suporte do peso do tronco,

4. permitir ao executante realizar as suas tarefas sem fadiga por trabalho muscular estático dos braços e ombros e sem flexão anterior da coluna,

5. facilitar a adopção da postura mais correcta do pescoço e da cabeça.

A 1ª condição pode ser satisfeita com:

• inclinação do espaldar da cadeira com ângulos superiores a 100º (podendo ir até 120º),

• utilização de apoio lombar no espaldar da cadeira,

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• elevação do plano de trabalho e eventualmente com alguns graus de inclinação, para reduzir a flexão anterior do tronco,

• elevação do assento 3 a 5 cm acima do poplíteo incluindo espessura do sapato, conjugada com a

• inclinação anterior do assento até -5º.

A 2ª condição só pode realizar-se se:

• a altura do assento for inferior à altura do poplíteo incluindo a espessura do calçado, ou

• o assento, embora mais alto que o poplíteo, for inclinado à frente, permitindo apoiar os pés no chão.

A 3ª condição exige que o espaldar da cadeira proporcione um bom apoio ao tronco, incluindo a região torácica da coluna. Para isso é vantajoso que o espaldar seja forrado com tecido para aumentar a aderência com o vestuário e assim contribuir para a sustentação do peso do tronco.

A 4ª condição implica que as alturas do assento e do plano de trabalho permitam que as mãos do operador fiquem situadas à altura mais adequada para realizar a sua tarefa com o mínimo de fadiga e máxima eficiência, sem necessidade de flectir o tronco à frente.

A 5ª condição implica que as alturas do assento, do plano de trabalho e das tarefas visuais permitam realizar o trabalho com a correcta postura do pescoço e da cabeça.

6.3.1 O assento para trabalho ‘de escritório’

A investigação ergonómica da postura de sentado tem sido orientada para o estudo das preferências ou do comportamento dos utilizadores. Após estudos prolongados por vários anos, Grandjean et al.

(1969, 1973) obtiveram a forma “preferida” de uma cadeira para uso geral, cujo perfil se apresenta na figura 6.3.1(a).

Figura 6.3.1

A: Perfil de uma cadeira para uso geral resultante de diversos estudos (quadrícula 10×10 cm).

B: Recomendações para o espaldar e o assento de uma boa cadeira de escritório (Segundo Grandjean et al. 1969 e 1973).

Com base na investigação conduzida durante vários anos, Grandjean (1988) propõe as seguintes

“regras de oiro” para cadeiras de escritório, ilustradas nas figuras 6.3.2 e 6.3.3:

1. As cadeiras devem ser adaptadas quer ao tradicional trabalho de escritório, quer ao moderno equipamento informático.

(20)

2. As cadeiras devem permitir tanto a postura com o tronco inclinado à frente, como reclinado para trás, como mostra a figura 6.3.2.

3. A inclinação do espaldar (a) deve ser ajustável entre 100 e 120º com possibilidade de fixar qualquer inclinação dentro desse intervalo.

4. O espaldar deve ter cerca de 50 cm de altura acima do assento e deve ser ligeiramente côncavo na parte superior. A largura do espaldar deve ter entre 32 e 36 cm. Deve ser côncavo em todos os planos horizontais com um raio de curvatura de 40 a 50 cm.

Figura 6.3.2

Uma cadeira de escritório deve ser concebida de modo a permitir trabalhar confortavelmente com o tronco inclinado à frente e atrás. O espaldar deve dar apoio à coluna lombar em ambas as posturas (Segundo Grandjean 1988).

5. O espaldar deve ter um apoio que dê bom apoio à região lombar da coluna entre L3 e a vértebra sagrada (S1); para isso, deve ter altura regulável (b) entre 10 e 20 cm acima do ponto mais baixo do assento.

6. A largura máxima do assento deve situar-se entre 40 e 45 cm e a profundidade (c) (antero- posterior) deve ser ajustável entre 35 e 42 cm em relação ao rebordo anterior da cadeira.

7. O assento deve ser almofadado com espuma de borracha de elevada densidade e forrado com tecido ou outro material permeável. Deve ter uma ligeira concavidade fazendo um ângulo de 4 a 6º com a horizontal para evitar que as nádegas deslizem para a frente e o rebordo anterior deve ser arredondado.

8. O assento deve ser também regulável em inclinação (d) entre os +5 e –5º, segundo alguns autores, embora outros recomendem maior amplitude de inclinação (±10º).

9. A altura do assento (e) deve ser ajustável entre 38 e 54 cm.

10. Deve haver apoios de pés de altura (f) e inclinação (g) ajustáveis, entre 10 e 30º.

11. A cadeira deve ter uma base com cinco pés com rodas. Os manípulos de ajustamento da cadeira devem ser fáceis de alcançar e de accionar sem que o utilizador tenha que se levantar da cadeira.

Figura 6.3.3

Principais dimensões e graus de liberdade recomendados para o ajustamento da cadeira, apoio de pés e mesa de trabalho de escritório (ver legenda no texto). (Segundo Grandjean 1988 e Kroemer 1983).

(21)

6.3.2 O assento para tarefas industriais

De uma forma algo simplista, podemos resumir as posturas de trabalho industrial em quatro grandes categorias: De pé, sentado, semi-sentado e sentado/de pé.

Tradicionalmente, muitas tarefas industriais são desempenhadas na posição de pé. Dado este capítulo tratar especificamente do trabalho na posição de sentado, a postura de pé não será aqui abordada, remetendo-se o leitor para os capítulos 3, 4 e 5 (Antropometria, Fisiologia e Biomecânica) em que são referidos diversos aspectos relacionados com essa postura. Vejamos então as restantes posturas.

POSTURA DE SENTADO

De um modo geral, aplicam-se ao assento industrial as mesmas considerações e os princípios gerais referidos na secção anterior sobre o assento ‘de escritório’, sendo válidas todas as “regras de oiro”

nela enunciadas.

Como se disse no capítulo 3, existe uma íntima dependência entre as alturas do assento e do plano de trabalho. Por se tratar de um aspecto fundamental para a qualidade ergonómica do posto de trabalho, referem-se alguns aspectos importantes:

• Em primeiro lugar, a altura correcta do plano de trabalho depende, essencialmente, de dois factores: a natureza do trabalho e as dimensões antropométricas do indivíduo.

• A natureza do trabalho, determinará, por exemplo, a força muscular que é preciso realizar com os membros superiores, as exigências de controlo e precisão de movimentos e o espaço livre necessário. A fim de poder utilizar o peso do próprio tronco como ajuda, uma tarefa que exija bastante força braçal deverá ser realizada num plano de trabalho mais baixo do que seria necessário para um trabalho mais leve como a montagem de um ferro de engomar, ou de um trabalho de relojoaria, que deverá ser efectuado num plano ainda mais elevado.

• À semelhança do que acontece com o trabalho em pé, a altura do plano de trabalho é definida em relação à posição do cotovelo do utilizador. Em tarefas de precisão – que exigem movimentos firmes e de pequena amplitude – o plano de trabalho deve permitir que o operador apoie os cotovelos, assim se evitando a fadiga muscular devida ao trabalho muscular estático dos músculos do ombro e do tronco, e assegurando a necessária precisão dos movimentos. A figura 6.3.4 a) e b) mostra dois exemplos em que o plano de trabalho foi concebido para permitir o trabalho com os antebraços apoiados. Porém, se a actividade tem menores exigências de precisão, habitualmente exige maior mobilidade das mãos e facilidade de movimentos para manipulação de objectos sobre a bancada que neste caso deve ficar situada a um nível um pouco inferior ao dos cotovelos (5 a 10 cm). Finalmente, tratando-se de actividades que exigem a aplicação de alguma força – embora não seja aconselhável o exercício de força na posição de sentado – o plano de trabalho deve estar situado ainda mais abaixo do nível dos cotovelos, embora não muito, para permitir espaço suficiente para as coxas sob a mesa. Em qualquer dos casos, a dimensão antropométrica de referência para a definição da altura do plano de trabalho é quase sempre a altura dos cotovelos do operador. O quadro 6.3.1 apresenta valores recomendados para a altura do plano de trabalho para vários tipos de trabalho.

(22)

Quadro 6.3.1 Valores recomendados para a altura do plano de trabalho para vários tipos de trabalho. Ver o texto para explicação das siglas (Adaptado de Grandjean 1981).

Tipo de trabalho Altura do plano de trabalho, Apt

Pesado, especialmente exercendo força para baixo 100 mm abaixo de (AA + DCA)(*) Tarefas manipulativas ligeiras 50 mm abaixo de (AA + DCA) Trabalho delicado de precisão 50 a 100 mm acima de (AA + DCA) (*) Em trabalho na posição de sentado a espessura das coxas é factor limitante, não permitindo que a

bancada fique tão baixa como seria desejável para a realização de força.

a b

Figura 6.3.4

Exemplos de postos de trabalho sentado concebidos para trabalhar com os antebraços apoiados (Adaptado de Grandjean, 1988)

Como foi dito, a definição da altura do plano de trabalho depende do tipo de trabalho e das dimensões antropométricas do operador. Vejamos um caso concreto: Qual a altura de uma bancada para a montagem de um equipamento, com exercício de força ligeira, usando pequenas ferramentas manuais, necessitando de espaço para mover livremente os braços e os produtos. Tratando-se de trabalho sentado, é preciso conhecer primeiramente a altura do assento, que deverá ser definida em função do comprimento das pernas do operador (altura do poplíteo, como se viu no capítulo 3). Seja então AA a altura do assento. A altura da bancada (AB) será obtida adicionando a altura do assento à distância cotovelo-assento (DCA), ou seja, a altura do cotovelo acima do assento, à qual se deve ainda adicionar a distância correctiva tendo em atenção as características da actividade. Neste caso, tratando-se de uma tarefa manipulativa ligeira, a recomendação será cerca de 50 mm abaixo do nível dos cotovelos, conforme indica o quadro 6.3.1. Assim, a altura da bancada será:

AB = AA + DCA – 50 mm

Outro aspecto importante que condiciona a altura do plano de trabalho é a existência de apoio para as mãos, antebraços ou cotovelos – e logicamente a possibilidade de o utilizar – durante a execução da tarefa. Se for possível utilizar esse apoio, mesmo que apenas durante parte do tempo, será aliviado o trabalho muscular estático resultante da sustentação do peso dos próprios braços.

POSTURA DE SEMI-SENTADO

Na realidade, a postura exclusivamente de pé só é verdadeiramente necessária se:

• o operador tiver que exercer forças significativas,

• manipular objectos ou ferramentas pesadas,

• estiver em constante movimento, ou

• for previsível a necessidade de intervir com rapidez ou com elevada frequência.

(23)

Nestes casos será quase inevitável trabalhar de pé, embora muitas vezes se possa utilizar uma postura intermédia, designada por semi-sentado, apoiando as nádegas num assento alto e inclinado, sendo o peso do corpo repartido entre o assento e as duas pernas. Este tipo de assento permite uma reacção rápida e é menos fatigante pois reduz muito a intensidade do esforço de levantar o peso do corpo cada vez que o indivíduo tem que se mover. Outra vantagem é que preserva a lordose lombar. Tem porém o inconveniente de ser mais fatigante em termos de trabalho muscular estático para a musculatura de suporte do tronco e dos membros inferiores do que uma cadeira normal. A figura 6.3.5 mostra vários exemplos de assentos assegurando a postura de semi-sentado.

a b c d

Figura 6.3.5 Exemplos de postos de trabalho industrial na postura de semi-sentado. (a) operando uma máquina, (b) numa tarefa de controlo/inspecção visual, (c) trabalho com estirador e (d) trabalho de embalagem em bancada (Adaptado de Eastman Kodak, 1983 e outro).

Outra utilidade deste tipo de assento é proporcionar aos operadores de postos de trabalho fatigantes um local onde possam descansar durante as pausas de recuperação necessárias, sem que se afastem do seu local de trabalho, mantendo assim controlo visual com a sua tarefa. Para esta finalidade podem também utilizar-se cadeiras auxiliares como as que se mostram na figura 6.3.6.

a b

Figura 6.3.6

Exemplos de cadeiras auxiliares para utlização esporádica ou nas pausas de recuperação após períodos de trabalho mais exigentes (Adaptado de Eastman Kodak 1983).

POSTURA SENTADO/DE PÉ

(24)

Apesar de, em algumas actividades industriais, ainda subsistirem actualmente situações em que a postura de pé é inevitável, para um grande número delas não há agora justificação para se manter exclusivamente essa postura. Essas situações devem ser reduzidas ao mínimo, pelas razões que serão discutidas a seguir.

Do que foi dito na secção 6.2, transparece alguma contradição. Por um lado, para reduzir a tensão muscular no tronco, recomenda-se o uso de cadeira com espaldar com a forma apropriada para favorecer a lordose lombar mas, por outro lado, diz-se que a lordose é optimizada na posição de pé que, todavia, não permite o uso do apoio de costas. Em que ficamos?

Na realidade, pode-se dizer que ambas as recomendações são boas e devem ser seguidas, mas como? Simplesmente optando por uma solução que permita o trabalho na posição “sentado - de pé”

como ilustra a figura 6.3.7. Como é evidente, trata-se de elevar o plano de trabalho para a altura adequada ao trabalho de pé, dotando o posto de trabalho de um assento mais alto, com espaldar que permita ao indivíduo trabalhar confortavelmente sentado como mostra a figura 6.3.7(a), se assim o desejar, ou de pé como na figura 6.3.7(b), quando lhe apetecer. Poderá ainda assumir duas posturas intermédias, apoiando uma nádega no assento da cadeira e apoiando o pé contrário no solo, como ilustram as figuras 6.3.7(c) e (d), o que na prática significa ter quatro posturas possíveis que alternará como e quando quiser. A possibilidade de alternância é uma virtude inestimável para os postos de trabalho muito sedentários em que o operador tenha poucas oportunidades de andar, pois dá-lhe alguma mobilidade, permitindo-lhe reduzir os efeitos negativos dos longos períodos de trabalho com pouquíssima actividade física, aspecto já discutido na secção 6.2.4.

a b c d

Figura 6.3.7 Exemplos de postos de trabalho industrial na postura de sentado/de pé. (a), (b) e (c) trabalho normal em bancada, (d) operando uma máquina (dimensões em centímetros), (Adaptado de diversas fontes).

Neste tipo de assento, a elevação da cadeira obriga à existência de um suporte para os pés que assegure o indispensável apoio quando na posição de sentado. Esse suporte poderá ser separado da cadeira, como mostra a figura 6.3.8(a), ou fazer parte integrante da mesa, como na figura 6.3.7, ou ainda fazer parte integrante da cadeira, como na figura 6.3.8(b). Em termos ergonómicos,

(25)

consideram-se preferíveis os dois primeiros tipos pois proporcionam um apoio confortável sem obrigar a flectir demais as pernas, como sucede no suporte integrado na própria cadeira.

Figura 6.3.8

Tipos de apoio de pés para trabalho com assentos mais altos: (a) apoio separado e (b) apoio integrado na própria cadeira (Segundo Eastman Kodak, 1983).

Neste contexto, as opiniões dividem-se bastante. Contrariando a solução da superfície horizontal, alguns especialistas advogam a inclinação da superfície, particularmente para tarefas de leitura, entre 30 e 35° (Bendix 1986). Esta inclinação também favorece a postura da coluna cervical. Contudo, para evitar que os objectos escorreguem, é aconselhável que a inclinação da superfície não exceda 10° (Grandjean 1987). Este dilema aparente poderá em muitos casos ser resolvido com a ajuda de uma estante de leitura, com inclinação regulável (fig.13), passível de ser colocada sobre o tampo da mesa para tarefas de leitura mais prolongadas.

(26)

6.4 Considerações finais

Uma coisa é certa: O mercado não tem possibilidade de fornecer a “receita” milagrosa para o assento mais indicado para situações que se afastem das condições de trabalho mais comuns. E, mesmo em situações mais comuns, é bom que haja um mínimo de capacidade crítica para distinguir entre as várias ofertas alternativas que provavelmente surgirão. Na verdade, mais do que ensinar o leitor a projectar e construir um assento ergonómico, os principais objectivos deste capítulo são:

• Dotar o leitor das informações que o ajudem a avaliar se um determinado assento é adequado para uma dada actividade e

• Ajudá-lo a especificar as características que uma cadeira deve possuir para ser utilizada num posto de trabalho de características conhecidas.

Espera-se que as considerações feitas nas secções anteriores contenham informações suficientemente claras para orientar o leitor na procura de soluções para a especificação de assentos para situações de trabalho especiais, algumas das quais poderão eventualmente ser inéditas. Para chegar até elas, o leitor terá que ter sempre presentes as principais recomendações gerais que um assento deve respeitar para ser ergonomicamente aceitável. Depois deverá considerar as restrições ou condições especiais do posto de trabalho, incluindo as exigências visuais, a força a exercer, a precisão de movimentos, a duração dos períodos ininterruptos de trabalho, etc.

(27)

6.5 Referências bibliográficas

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