• Nenhum resultado encontrado

Transtorno mental comum e qualidade de vida: estudo da prevalência nas mulheres residentes na cidade de Uberaba-MG, 2014

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Transtorno mental comum e qualidade de vida: estudo da prevalência nas mulheres residentes na cidade de Uberaba-MG, 2014"

Copied!
79
0
0

Texto

(1)

Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Fabiana Fernandes Silva de Paula

TRANSTORNO MENTAL COMUM E QUALIDADE DE VIDA:

ESTUDO DA PREVALÊNCIA NAS MULHERES RESIDENTES NA

CIDADE DE UBERABA-MG, 2014

Uberaba

2017

(2)

Fabiana Fernandes Silva de Paula

Transtorno mental comum e qualidade de vida: estudo da prevalência nas

mulheres residentes na cidade de Uberaba-MG, 2014

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Atenção à Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro como requisito parcial para obtenção do título de Mestre.

Linha de Pesquisa: Atenção à Saúde das Populações.

Eixo Temático: Saúde da Mulher. Orientador: Prof. Dr. Shamyr Sulyvan de Castro

Uberaba

2017

(3)
(4)
(5)

FABIANA FERNANDES SILVA DE PAULA

TRANSTORNO MENTAL COMUM E QUALIDADE DE VIDA: estudo da prevalência nas mulheres residentes na cidade de Uberaba-MG, 2014

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Atenção à Saúde da Universidade Federal do Triângulo Mineiro como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Atenção à Saúde.

Professor Orientador: Dr. Shamyr Sulyvan de Castro

Uberaba, _____ de _____________ 2017.

Banca Examinadora:

____________________________________________

Dr. Shamyr Sulyvan de Castro – orientador Universidade Federal do Ceara - UFC

________________________________________________ Prof. Drᵃ Rejane Maria Dias de Abreu Gonçalves

Universidade Federal de Uberlândia - UFU

___________________________________________ Prof. Drᵃ Maria Cristina Cortez Carneiro Meirelles Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM

(6)

AGRADECIMENTOS

A Deus pelas inúmeras bênçãos, força, sabedoria e perseverança a mim concedidas. A meus pais, que sempre me estimularam mesmo sem compreender ou concordar com minhas escolhas.

A meu esposo e aos meus filhos, pelo amor, compreensão e incentivo durante esta jornada.

À minha amiga e colega de mestrado Sheron Ellen, pelo apoio constante e sugestões de assuntos pertinentes à dissertação, bem como pela sólida amizade que passamos a compartilhar, e também à colega de mestrado Giovanna Nardelli, pela ajuda e orientação na análise de dados, pelo comprometimento, pela disponibilidade e atenção, por fazer as análises estatísticas serem um prazer.

Aos demais amigos que direta ou indiretamente fizeram parte deste processo, incentivando e estimulando todas as vezes em que fraquejei.

Ao Prof. Dr. Shamyr Sulyvan de Castro, orientador, obrigada por compartilhar seu conhecimento durante o percurso deste estudo, pela confiança, pelo estímulo e incentivo à pesquisa, de grande significado na concretização do trabalho e para o meu crescimento profissional.

À Profa. Dr.ᵃ Rejane Maria Dias de Abreu Gonçalves e à Profa. Dr.ᵃ Maria Cristina Cortez Carneiro Meirelles obrigada pela atenção, contribuição com suas valiosas sugestões e por aceitarem compor a banca avaliadora deste estudo.

À Profa. Dra. Leiner Resende Rodrigues pelas valiosas sugestões na fase de qualificação do projeto e por todo apoio durante está trajetória.

Ao professor Dr. Vanderlei José Haas, pela orientação na análise de dados, pelo comprometimento, pela disponibilidade e atenção.

Aos colegas de Pós-Graduação, principalmente Katia, Patrícia e Luan, pela amizade que passamos a compartilhar.

Aos colegas de trabalho da minha tão querida equipe ESF Bairro de Lourdes/ UMS Maria Tereza de Freitas, pelo incentivo, por manterem tudo nos eixos nas minhas ausências, amizade e carinho de sempre.

A Secretária Municipal de Saúde, a diretoria de Atenção Básica que forneceram liberação para que eu pudesse enfrentar este desafio, em especial Elaine, Judete e Leticia apostando e incentivando essa trajetória.

(7)

Às mulheres residentes na cidade de Uberaba que aceitaram e tornaram possível a concretização deste estudo.

(8)

RESUMO

DE PAULA, F. F. S. Transtorno mental comum e qualidade de vida: estudo da prevalência nas mulheres residentes na cidade de Uberaba-MG, 2014. 2017. 75 f. Dissertação (Mestrado em Atenção à Saúde) – Programa de Pós-graduação em Atenção à Saúde, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, 2017.

Transtornos Mentais Comuns (TMC) são problemas de saúde mental altamente frequentes na população. Classificados como transtornos psiquiátricos menores, trazem prejuízos funcionais e alto grau de sofrimento às pessoas acometidas. Incluem os transtornos depressivos ansiosos e as somatizações, além do sofrimento emocional inespecífico. Possuem maior associação com o sexo feminino e com características sociodemográficas destas mulheres dentre as quais, idade, escolaridade e renda. Este estudo objetivou estimar a prevalência dos Transtornos Mentais Comuns e sua influência na Qualidade de Vida das mulheres residentes na cidade de Uberaba. Trata-se de um estudo transversal de base populacional, parte de um projeto maior, o Inquérito de Saúde da Mulher em Uberaba MG (ISA – Mulher). O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, protocolo nº 1826/2010. Contou com participação de 1557 mulheres e a utilização de um questionário sociodemográfico, o Self-report Questionnaire (SRQ-20), com o ponto de corte ≥ oito pontos para a presença de TMC. A Qualidade de Vida (QV) foi avaliada por meio do WHOQOL-bref. Os dados foram duplamente digitados no programa EpiData®, e importados ao Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versão 20.0, para análise. A prevalência de TMC encontrada entre as mulheres foi 29,6%, e predominou o grupo de sintomas humor depressivo/ansioso (M= 3,77; DP= 0,87). As variáveis que se associaram estatisticamente ao risco de TMC no modelo bivariado foram: mulheres chefes de família (p≤ 0,003), renda até três salários mínimos (p≤,0,000), ter até quatro anos de estudo (p≤,0,000), ter mais de cinco moradores na residência (p≤,0,028). Por meio de regressão logística verificou-se, como variáveis preditoras de TMC na amostra, ser chefes de família (OR=1,50; IC=1,14-1,98), mais de cinco moradores (OR=1,38; IC=1,02-1,88), ter baixa escolaridade (OR=1,77; IC=1,32-2,37), renda de até três salários mínimos (OR=1,47; IC=1,12-1,93). Na análise da relação do TMC com escores no domínio QV do WHOQOL-bref, as mulheres com TMC positivo apresentaram menores escores médios, com significância estatística para todos os domínios (p≤ 0,000). Os resultados da análise de regressão linear múltipla demonstraram que ter maior renda familiar aumenta positivamente todos os domínios de QV e apresenta

(9)

significância estatística nos domínios psicológico e das relações sociais (ß= 0,12 e 0,08; p≤ 0,000 e p ≤ 0,001). O preditor que mais impactou negativamente em todos os domínios de QV com significância estatística (p≤ 0,000) foi apresentar rastreio positivo para TMC, em comparação com demais variáveis confundidoras. Os resultados obtidos neste estudo condizem com os encontrados na literatura, evidenciando que a presença de TMC e variáveis sociodemográficas afetam positiva ou negativamente a QV das mulheres, tornando-se necessário propor medidas mais eficazes para detecção dos TMC na atenção primaria a saúde (APS), para reconhecimento e condução desses transtornos pelos profissionais da saúde. Palavras- chaves: Transtornos mentais. Qualidade de vida. Saúde da Mulher.

(10)

ABSTRACT

DE PAULA, F. F. S. Common mental disorders and quality of life: a study of the prevalence among women in the city of Uberaba-MG, 2014. 2017. 75 f. Dissertation (Master’s Degree in Health Care) – Post-Graduation program in Health Care, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, 2017.

Common Mental Disorders (CMD) are a highly frequent mental health problem in the population, and although they are classified as minor psychiatric disorders, they bring functional damages and a high degree of suffering to those affected. They include depressive anxious disorders and somatization, as well as nonspecific emotional suffering. They are mostly associated to the female gender and to the sociodemographic characteristics of these women. This study aimed at estimating the prevalence of Common Mental Disorders and their influence in the Quality of Life of women who live in the city of Uberaba. It is an observational, cross-sectional and quantitative study, with a populational base, and is part of a bigger project, the Inquiry of Health of Women in Uberaba MG (ISA – Women). The project was approved by the Committee of Ethics in Researches with Human Beings of the Federal University of Triângulo Mineiro, under the protocol nº 1826/2010. 1557 women participated, answering a sociodemographic questionnaire, the Self Report Questionnaire (SRQ-20), with a cutoff point ≥ eight points for the presence of CMD. The quality of life was evaluated through the WHOQOL-bref. Data was typed through double input in the EpiData® program, and then imported to the Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), 20.0, for its analysis. The prevalence of CMD found in women was 29.6%, and the group with anxious/depressive mood symptoms was predominant (A = 3.77; SD= 0.87). The variables that had a statistical association to the risk of CMD in the bivariate model were: women who were the head of the family (p≤0.003), who had an income of three minimum wages or less (p≤0.000), who studied for less than 4 years (p≤0.000), and who lived with more than five people in their houses (p≤0.028). Via logistic regression, the following were found as predicting variables of CMD in the sample: being the head of the family (OR=1.50; IC=1.14-1.98), living in a house with five or more people (OR=1.38; IC=1.02-1.88), having a low educational level (OR=1.77; IC=1.32-2.37), and having an income of up to three minimum wages (OR=1.47; IC=1.12-1.93). In the analysis of the relationship between CMD and the scores of the WHOQOL-bref domains, women with positive CMD presented lower average scores, with statistical significance in all domains (p≤0.000). The results of a multiple linear regression analysis have

(11)

shown that having a higher family income positively increases all the domains of QOL and is statistically significant in the psychological and social relationship domains (ß= 0.12 e 0.08; p≤ 0.000 e p ≤ 0.001). The predictor variable that had the most negative impact in al QOL domains with statistical significance (p≤ 0.000) was the presence of a positive CMD tracking, when compared to other confounding variables. The results obtained in this study corroborate those found in the literature, and evidence that the presence of CMD and sociodemographic variables affect positively or negatively the QOL of women, and that it is necessary to propose more effective measures for health professionals to recognize and deal with these disorders.

(12)

RESUMEN

DE PAULA, F. F. S. Trastorno mental común y calidad de vida: un estudio de la prevalencia em mujeres residentes em la ciudad de Uberaba-MG, 2014. 2017. 75 f. Dissertación (Maestría en Atención a la Salud) – Programa de Posgrado en Atención a la Saúde, Universidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba, 2017.

El trastorno mental común (TMC) es un problema de salud mental muy frecuente en la población, que a pesar de ser clasificados como trastornos psiquiátricos menores, traen perjuicios funcionales y alto grado de sufrimiento a las personas acometidas. Incluyen los trastornos depresivos ansiosos y las somatizaciones, además del sufrimiento emocional inespecífico. Tiene una mayor asociación con el género femenino y las características sociodemográficas de estas mujeres. Este estudio objetivó estimar la prevalencia de los Trastornos Mentales Comunes y su influencia en la Calidad de Vida de las mujeres residentes en la ciudad de Uberaba. Se trata de un estudio, observacional, transversal con abordaje cuantitativo, de base poblacional, parte de un proyecto mayor, la Encuesta de Salud de la Mujer en Uberaba MG (ISA - Mujer). El proyecto fue aprobado por el Comité de Ética en Investigación en Seres Humanos de la Universidad Federal del Triángulo Minero, protocolo nº 1826/2010. En el caso de las mujeres, se observó un aumento de la mortalidad por cáncer de próstata en el momento de la muerte. Los datos fueron digitados digitalmente en el programa EpiData®, e importados al Statistical Package for Social Sciences (SPSS), versión 20.0, para análisis. La prevalencia de TMC encontrada entre las mujeres fue del 29,6%, y predominó el grupo de síntomas humor depresivo / ansioso (M = 3,77; DP = 0,87). Las variables que se asociaron estadísticamente al riesgo de TMC en el modelo bivariado fueron, las mujeres que eran jefes de familia (p≤ 0,003), renta hasta tres salarios mínimos (p≤, 0,000), tener hasta cuatro años de estudio (p≤, 0,000), tener más de cinco residentes en la residencia (p≤, 0,028). Por medio de regresión logística se verificó, como variables predictoras TMC en la muestra, ser jefes de familia (OR = 1,50, IC = 1,14-1,98), más de cinco habitantes (OR = 1,38; IC) Y en el caso de que se produzca un cambio en la calidad del producto, 1,93). En el análisis de la relación TMC con escores dominio del WHOQOL-bref, las mujeres con TMC positivo, presentaron menores escores medios, con significancia estadística para todos los dominios (p≤ 0,000). Los resultados del análisis de regresión lineal múltiple demostraron que, tener mayor ingreso familiar aumenta positivamente todos los dominios de QV y presenta significancia estadística en los dominios psicológico y de las relaciones sociales (ß = 0,12 y

(13)

0,08, p≤ 0,000 e ≤ 0,00), el predictor que más impactó negativamente en todos los dominios de QV con significancia estadística (p≤ 0,000), fue presentar un seguimiento positivo para TMC, en comparación con otras variables confundidoras. Los resultados obtenidos en este estudio concordantes con los encontrados en la literatura, evidencian que la presencia de TMC y variables sociodemográficas afectan positiva o negativamente a la CV de las mujeres, siendo necesario proponer medidas más eficaces para el reconocimiento y conducción de estos trastornos por los profesionales de la salud.

(14)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 - Grupos de sintomas e perguntas do Self-Report Questionnaire (SRQ-20) ... 33 Quadro 2 - Domínios de QV, suas respectivas facetas e o número da pergunta no questionário WHOQOL- Bref ... 35

(15)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Caracterização sóciodemográfica/econômica e prevalência de TMC das mulheres residentes na cidade de Uberaba (Minas Gerais), 2017... 38 Tabela 2 - Prevalência de grupos de sintomas psíquicos, nas mulheres com 18 anos ou mais, residentes na área urbana de Uberaba, de acordo com itens do instrumento SRQ-20**. Uberaba, Minas Gerais, 2017.

Tabela 3 - Distribuição da prevalência de TMC entre as mulheres, residentes na área urbana de Uberaba, segundo variáveis sóciodemográficas e econômicas. Uberaba, Minas Gerais, 2017 ... 41 Tabela 4 - Análise por Regressão Logística da prevalência de TMC tendo como preditores as variáveis sociódemográficas, Uberaba, Minas Gerais, 2017 ... 43 Tabela 5 - Medidas de tendência central, de variabilidade para os domínios de QV nas mulheres residentes na área urbana de Uberaba (MG), 2017 ... 43 Tabela 6 - Relação entre existência ou não de TMC e QV nas mulheres residentes na cidade de Uberaba, segundo presença ou não TMC. Uberaba (MG), 2017 ... 44 Tabela 7 - Regressão linear múltipla para os domínios do WHOQOL-Bref, tendo como preditores a presença de TMC* e variáveis sociodemográficas, nas mulheres residentes na cidade de Uberaba. Uberaba, Minas gerais, 2017 ... 45

(16)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CID-10 - Classificação Internacional de Doenças

DSM-V - Diagnostic and Statistical Mental Disorders- Fifth Edition MS – Ministério da Saúde

OMS - Organização Mundial de Saúde

PAISM- Programa Assistência Integral à Saúde da Mulher

PNAISM - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Mulher QV - Qualidade de Vida

SM – Saúde Mental

SRQ-20 - Self-Report Questionnaire

SPSS - Statistic Package for Social Sciences SUS - Sistema Único de Saúde

TCLE - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido TM - Transtorno Mental

TMs - Transtornos Mentais

TMC - Transtorno Mental Comum TMCs - Transtornos Mentais Comuns

UFTM - Universidade Federal do Triângulo Mineiro

(17)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 15

2 A MULHER E A SAÚDE MENTAL ... 19

3 TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS ... 22

4 QUALIDADE DE VIDA ... 26 5 OBJETIVO GERAL ... 28 5.1 OBJETIVO ESPECÍFICO ... 28 6 HIPÓTESE ... 29 7 MATERIAL E MÉTODO ... 30 7.1 TIPO DE PESQUISA ... 30 7.2 LOCAL DA PESQUISA ... 30 7.3 AMOSTRA ... 30 7.3.1 Critérios de inclusão ... 30 7.3.2 Critérios de exclusão ... 31 7.4 CÁLCULO AMOSTRAL ... 31

7.5 MÉTODO PARA COLETA DE DADOS ... 31

7.6 INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 32

7.6.1 Formulário sociodemográfico e profissional ... 32

7.6.2 Self-report questionnaire (SRQ-20) ... 32

7.6.3 World health organization quality of life – versão breve (WHOQOL-Bref) ... 33

7.7 VARIÁVEIS DO ESTUDO ... 36

7.8 GERENCIAMENTO DE DADOS ... 36

7.9 ANÁLISE DOS DADOS ... 37

8 RESULTADOS ... 38

9 DISCUSSÃO ... 46

10 CONCLUSÃO ... 59

REFERÊNCIAS ... 61

APÊNDICE A - Identificação e caracterização sociodemográfica ... 69

APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ... 71

ANEXO A - WHOQOL-Bref ... 72

(18)

1 INTRODUÇÃO

A saúde da mulher tem sido tema constante de políticas, programas e campanhas de órgãos públicos no Brasil desde as primeiras décadas do século XX, trazendo uma visão restrita da mulher, limitando-a a suas funções biológicas, com foco no ciclo gravídico (BRASIL, 2011).

Fruto dos movimentos feministas da década de 80, que criticavam a visão limitada dos programas em relação à saúde da mulher, e dos movimentos sociais que lutavam pela redemocratização do país, culminando na Reforma Sanitária e criação do Sistema Único de Saúde (SUS), foi criada em 2004 a Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher (PNAISM), pautada nos princípios e diretrizes do SUS, com o objetivo de promover a melhoria das condições de vida das mulheres em todo seu ciclo vital (BRASIL, 2011; SANTOS, 2010).

O PNAISM apresenta como proposta o conhecimento do perfil epidemiológico regional, considerando que o quadro de saúde e os serviços de saúde podem variar de acordo com a localidade (BRASIL, 2011; SANTOS, 2010). Um dos seus objetivos específicos e estratégicos é trabalhar a saúde mental das mulheres no SUS, visando melhorar as informações sobre Transtornos Mentais (TM) nesta população (BRASIL, 2011).

As mulheres sofrem duplamente com as consequências dos TM, dadas às condições sociais, culturais e econômicas em que vivem, reforçadas pela desigualdade de gênero. Mulheres são a maioria da população brasileira, representam 50,77%, e são as principais usuárias do SUS (BRASIL, 2011; GONÇALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2012; IBGE, 2015; SANTOS, 2010).

São vários os motivos para utilização desse serviço: atendimento para si mesmas, acompanhamento das crianças e demais familiares, que envolvem as mais variadas condições de saúde, e a busca de atendimento em saúde mental (BRASIL, 2011; GONÇALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2012; SANTOS,2010).

Após décadas da definição do conceito de saúde e da crescente demanda para o atendimento em saúde mental, a Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu a saúde mental como “o estado de bem-estar, no qual o indivíduo percebe suas próprias habilidades, como pode lidar com stress normais da vida, ser capaz de trabalhar produtivamente e estar apto a contribuir com a comunidade”, é mais do que a ausência de doença (OMS, 1975).

No relatório Saúde no Mundo 2001, a OMS fez uma declaração que renovou o conceito de saúde mental, afirmandonão existir uma definição “oficial” para saúde mental.

(19)

Diferenças culturais e julgamentos subjetivos afetam o modo como a “saúde mental” é definida (OMS, 2001).

Saúde Mental (SM) é um termo usado para descrever o nível de qualidade de vida cognitiva ou emocional. Inclui a capacidade do indivíduo de contemplar a vida e encontrar um equilíbrio entre as atividades, para atingir a resistência psicológica (OMS, 2001).

Patologias de ordem mental apresentam diagnósticos precoces difíceis, em virtude de seu caráter subjetivo, capaz de gerar alterações psicoemocionais, sociais, orgânicas e culturais. A falta de tratamento e avaliação da SM das populações é uma preocupação crescente, e um dos grandes problemas na atualidade, levando em consideração a magnitude e ônus causado pelos transtornos mentais e comportamentais (OMS, 2001).

Transtornos mentais são alterações do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa, tais como: vida familiar, social, pessoal, trabalho, compreensão de si e dos outros, que traz prejuízos nas condições físicas de saúde podendo afetar o autocuidado e a qualidade de vida dos seus portadores (OMS, 2001).

Dentre os TM, encontram-se os Transtornos Mentais Comuns (TMC), descritos pela primeira vez em 1992, por Goldberg e Huxley, como sintomas não psicóticos, que se caracterizam por queixas somáticas inespecíficas, como: insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração, sensação de inutilidade, que afetam o desempenho nas atividades diárias, e podem levar a transtornos mais graves (CARVALHO et al., 2013; LUDERMIR; MELO FILHO, 2002; PEREIRA; MORITA; BARROS, 2008).

TMCs podem se manifestar como sintomas somáticos associados a sintomas psíquicos de natureza depressiva, ansiosa e dissociativa. Evidenciando a presença marcante de comorbidades, trazem alto grau de sofrimento e prejuízos funcionais para os indivíduos afetados, com apenas uma pequena parcela dos indivíduos acometidos identificados e tratados

(CARVALHO et al., 2013; GONÇALVES; FERREIRA; FERREIRA, 2012; JASEN et al., 2011; MOREIRA et al., 2011; VIDAL et al., 2014).

Os critérios clínicos de TM estabelecidos nos manuais formais de diagnósticos utilizados, como o Diagnostic and Statistical Mental Disorders (DSM-V) e a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), não incluem os TMCs, uma vez que estes manuais não analisam alguns quadros psiquiátricos, especialmente os menos severos, por estes apresentarem maior identificação com outros agravos clínicos e não possuírem elementos bem definidos, como ocorre nas formas mais graves de acometimento mental (DANTAS et al., 2011; MOREIRA et al., 2011).

(20)

De acordo com o Ministério da Saúde (MS), a prevalência mundial dos transtornos mentais severos e persistentes é de 3% da população, enquanto a prevalência de transtornos mentais comuns varia de 9 a 12% (BRASIL, 2010; BRASIL, 2013). De acordo com a OMS, ocorreu aumento de 18% entre 2005 e 2015. 322 milhões de pessoas em todo o mundo vivem com Depressão e outros distúrbios mentais comuns, a maioria mulheres, com minoria da população recebendo tratamento adequado (OMS, 2017).

O mais alarmante é a frequência com que essa morbidade é encontrada na comunidade, pois representa um alto custo social e econômico, constituindo causa importante de absenteísmo, além de ser responsável por elevar a demanda nos serviços de saúde e por um impacto negativo na Qualidade de Vida (QV) dos indivíduos, causando 12% do total de anos vividos com incapacidades (FLECK; ROCHA, 2010; OMS, 2001; SANTOS; SIQUEIRA, 2010).

Pesquisas realizadas no Brasil com a população geral evidenciaram uma maior associação dos TMC com o sexo feminino, como também importantes associações com as características sociodemográficas destas mulheres, tais como estado civil, número de filhos, rede de suporte social, estrutura ocupacional e autonomia pessoal. Isso pode refletir na QV, que está diretamente relacionada ao bem-estar físico, psíquico e social (COSTA; LUDERMIR, 2005; CARLOTTO et al., 2011; CARVALHO et al., 2013; MARAGNO et al., 2006; MOREIRA et al., 2011).

Estudos relacionados às questões referentes à saúde mental e qualidade de vida são amplamente reconhecidos, visto que é crucial para uma organização efetiva do sistema de saúde e para o planejamento de ações de promoção e prevenção à saúde (FONSECA; GUIMARÃES; VASCONCELOS, 2008; JANSEN et al., 2011). De acordo com a OMS a QV é afetada de forma complexa pelo estado de saúde mental, físico e de independência (OMS, 2002), e é definida como a compreensão do indivíduo da sua posição na vida, considerando seu contexto cultural e sistema de valores em relação a seus objetivos, expectativas, preocupações com sua saúde física e psicológica, relações sociais e ambientais, nível de independência e crenças (OMS, 2002; JANSEN et al., 2011).

Na expectativa de estimular e compartilhar o conhecimento no cuidado em saúde mental da população feminina, este estudo tem o intuito de propiciar o conhecimento do tema, a fim de propor questionamentos e elucidar aspectos fundamentais no exercício do trabalho em saúde mental.

Estudos demonstraram que os TMCs são uma questão de grande relevância para a saúde pública (COSTA; LUDERMIR, 2005; JASEN et al., 2011; MARAGNO, 2006;

(21)

MOREIRA et al., 2011), devido a sua grande prevalência na população geral e sua maior associação ao sexo feminino. No entanto, permanece pouco abordado pelos serviços de saúde.

Considerando a relevância epidemiológica do tema, e a baixa produção nacional a respeito, torna-se relevante conhecer a prevalência de tais transtornos e investigar a associação entre TMC e QV na população feminina — uma vez que resultados de estudos realizados demonstram prevalência duas a três vezes maior para sexo feminino —, levando em conta os fatores sociodemograficos associados, o que possibilitará uma abordagem mais integrada a está população e a obtenção de diagnósticos precoces, que poderão prevenir perdas na funcionalidade, no desempenho dos papéis sociais, e, principalmente, melhorar a QV dessas mulheres.

(22)

2 MULHER E A SAÚDE MENTAL

Até meados do século XX no Brasil, a mulher vivenciava condições excludentes. Cabia a ela o papel principal nas responsabilidades por seus filhos e pelo lar, e sua saúde era acompanhada de forma reducionista e fragmentada, com ações voltadas para seu ciclo gravídico-puerperal (BRASIL, 2011; FREITAS et al., 2009; SANTOS, 2010).

Na década de 60, os movimentos feministas, descontentes com a visão limitada da mulher, com as ações de saúde e as diferenças de gênero, reivindicavam a não especificidade de homens e mulheres e propunham igualdade social, sem contudo ignorar as diferenças biológicas, resultando em um novo conceito de saúde da mulher, que até então era centrada na função reprodutiva (BRASIL, 2011; FREITAS et al., 2009; SANTOS, 2010).

A luta das mulheres pelos seus direitos e por melhores condições de vida incentivou a adoção de medidas oficiais do Ministério da Saúde (MS), focadas na assistência integral à saúde da mulher. Os movimentos feministas, apesar das limitações impostas pelo governo militar da época, se reestruturaram, fomentando debates que evidenciavam a precariedade da saúde da mulher brasileira (BRASIL, 2011; FREITAS et al., 2009; SANTOS, 2010).

Somente em meados da década de 80, em meio aos movimentos sociais que lutavam pela redemocratização do país, culminando na Reforma Sanitária e na criação do Sistema Único de Saúde (SUS), é que foram incorporadas ações de caráter integral para a saúde da mulher, com a elaboração do Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher (PAISM), que se caracterizou pelas propostas de descentralização, hierarquização e regionalização dos serviços (BRASIL, 2011; FREITAS et al., 2009; SANTOS, 2010).

Ainda assim, em análise, as ações de atenção à saúde da mulher realizadas pelo PAISM demonstraram que apesar do enunciado integrador, as políticas públicas voltadas a essa população conservaram-se com ênfase na resolução de problemas de ordem reprodutiva (BRASIL, 2011; FREITAS et al., 2009; SANTOS, 2010).

Considerando-se a necessidade de mudanças no cenário nacional referentes às políticas voltadas à saúde da mulher, que englobassem os pressupostos da promoção da saúde, foi criada em 2004 a Política Nacional de Atenção à Saúde da Mulher (PNAISM), pautada nos princípios e diretrizes do SUS, com o objetivo de promover a melhoria das condições de vida das mulheres em todo seu ciclo vital (BRASIL, 2011). Seus princípios e diretrizes foram discutidos em parceria com diversos segmentos da sociedade, em especial com o movimento de mulheres, o movimento negro e o de trabalhadores rurais, sociedades científicas,

(23)

pesquisadores e estudiosos da área, organizações não-governamentais, gestores do SUS e agências de cooperação internacional (BRASIL, 2011; FREITAS et al., 2009; SANTOS, 2010).

A partir desta nova concepção, a mulher passou a ser vista em sua integralidade, como sujeito autônomo e participativo, redefinindo o significado do seu corpo no contexto social,

pois à medida em que é incluída no processo de decisão para a formulação de políticas públicas, há garantia do atendimento de suas reais necessidades, que contemplem seus direitos humanos e a cidadania como necessidades de atenção (BRASIL, 2011; FREITAS et al., 2009; SANTOS, 2010).

O PNAISM apresenta como proposta o conhecimento do perfil epidemiológico regionalmente, considerando que o quadro de saúde e os serviços de saúde podem variar de acordo com a localidade (BRASIL, 2011; SANTOS, 2010). Um de seus objetivos específicos e estratégicos é trabalhar a saúde mental das mulheres no SUS, visando melhorar as informações sobre Transtornos Mentais (TMs) nesta população (BRASIL,2011).

De acordo com o MS (2011), a saúde mental das mulheres deve ser trabalhada sob o enfoque de gênero, segundo o qual as mulheres sofrem duplamente as consequências dos transtornos mentais, dadas as condições sociais, culturais e econômicas em que vivem, que atribuem à mulher uma postura subalterna em relação aos homens (BRASIL, 2011).

Pensar em gênero e saúde mental, não é apenas pensar no sofrimento causado pelos transtornos mentais pelos quais as mulheres são acometidas, há a necessidade de considerar os aspectos de seu cotidiano, estrutura social, e reconhecer que a sobrecarga das responsabilidades assumidas pelas mulheres no desempenho concomitante de diferentes funções enquanto mães, esposas, profissionais, cidadãs, mulheres, tem um ônus muito grande (BRASIL, 2011; TAVARES; ANDRADE; SILVA, 2009).

A família contemporânea vem redefinindo os papeis de homens e mulheres nos cuidados domésticos e com os filhos, e no entanto, grande parte das responsabilidades ainda é atribuída às mulheres. Mesmo quando não são responsáveis diretas pela execução das tarefas, cabe a elas sua delegação e supervisão (CARLOTTO; BARCINSKI; FONSECA, 2015).

Dados do MS demonstram que as mulheres ganham menos, estão concentradas em profissões menos valorizadas, têm menor acesso aos espaços de decisão política e econômica, sofrem mais violência física, doméstica, sexual e emocional, vivem dupla e/ ou tripla jornada de trabalho, e são as mais prejudicadas com o sucateamento dos serviços e políticas sociais, entre outros problemas (BRASIL, 2011).

(24)

Estudos epidemiológicos demonstram que as mulheres apresentam índices mais elevados de depressão, desordens afetivas e distúrbios de ansiedade generalizada, além de fobias e desordens alimentares (ANDRADE; VIANA; SILVEIRA, 2006).

De acordo com OMS, a saúde mental feminina é afetada pela história de vida da mulher, por fatores externos, aspectos socioculturais, econômicos e ambientais, de modo que a identificação de tais fatores tornaria possíveis a prevenção primária de algumas desordens

(OMS, 2001).

A OMS reconhece que a saúde mental é tão importante quanto a saúde física para a satisfação geral do indivíduo, e um importante componente na definição de saúde. Para sua compreensão, é necessário considerar que seu conceito é amplo e vai além da mera ausência de transtornos mentais, englobando, entre outras coisas, a realização pessoal, a subjetividade dos sujeitos, a autonomia e a competência. Portanto, ter uma boa saúde mental implica enfrentar tensões diárias, trabalhar de forma produtiva e atingir potencialidades pessoais (OMS, 2001; OMS, 2013).

Estudos realizados nas populações ocidentais constataram que as prevalências de transtornos mentais não-psicóticos oscilaram de 7% a 26%, com uma média de 17% (12,5% em homens e 20% em mulheres), sendo que os quadros depressivos representam o terceiro problema de saúde mais comum em mulheres nos países desenvolvidos e o quinto em países subdesenvolvidos (OMS, 2001; OMS, 2013).

Diante disso, a manutenção da saúde mental e, especialmente, da qualidade de vida em meio aos diversos fatores internos e externos que favorecem o aparecimento de transtornos emocionais e mentais femininos, desponta como um grande desafio (ANDRADE; VIANA; SILVEIRA, 2006; VIDAL et al., 2014).

(25)

3 TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS

TMs são alterações do funcionamento da mente que prejudicam o desempenho da pessoa em situações como: vida familiar, social, pessoal, trabalho, compreensão de si e dos outros, que trazem prejuízos nas condições físicas de saúde capazes de afetar o autocuidado e a qualidade de vida dos seus portadores (OMS, 2001).

Os TM são responsáveis por cerca de 12% das incapacidades e doenças no mundo. Estimativas da OMS demonstram que um quarto da população será afetada por algum TM em alguma fase da vida, e em virtude da sua natureza crônica, produtora de incapacidades, são considerados um problema de saúde pública (COSTA; LUDERMIR, 2005; LUDERMIR; MELO FILHO, 2002; OMS, 2011).

Segundo dados da OMS, a frequência de TMs durante a vida varia de 12,2% a 48,6% no mundo, dependendo do país avaliado, e a prevalência de sintomas psiquiátricos varia dependendo da população estudada, do instrumento utilizado e das condições socioeconômicas (OMS, 2001).

De acordo com estimativas do Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020, os TMs acometem cerca de 700 milhões de pessoas no mundo, o que corresponde de 13 a 14% do total de doenças, e a um terço do total de doenças não transmissíveis (OMS, 2013).

Segundo a OMS, o diagnóstico de TM não é tarefa simples, uma vez que não há quadro clinico definido. Normalmente são grupos de sintomas com características similares e

de caráter subjetivo, capazes de gerar alterações psicoemocionais, sociais, orgânicas e culturais, sobretudo levando-se em conta as definições apresentadas nos manuais formais de diagnóstico e classificação, a Classificação Internacional de Transtornos Mentais (CID-10) e o DSM-V (CARVALHO et al., 2013; OMS, 2013; JASEN et al., 2011; VIDAL et al., 2014).

De acordo com a definição do CID-10, os TM são classificados como doença com manifestação psicológica, relacionada a algum comprometimento funcional resultante de disfunção biológica, social, psicológica, genética, física ou química, que pode acarretar prejuízos no desempenho global da pessoa no âmbito pessoal, social, ocupacional e familiar (OMS, 2008).

Os TM assumem valores baixos de mortalidade, mas possuem um grande peso de incapacidade de longa duração, provocando a redução da qualidade de vida dos indivíduos. Grande parte dos TMs são tratáveis e evitáveis, reforçando o argumento de que investir na

(26)

prevenção e promoção da saúde mental pode reduzir o número de incapacidades resultantes destes transtornos (OMS, 2001; SANTOS; SIQUEIRA, 2010).

Dentre os TMs encontram-se os transtornos Mentais Comuns (TMCs), um problema de saúde mental altamente frequente na população. Apesar de serem considerados transtornos psiquiátricos menores, os TMCs trazem prejuízos funcionais e alto grau de sofrimento às pessoas acometidas, sendo que uma pequena parcela das mesmas é identificada e tratada

(PEREIRA; MORITA; BARROS, 2008; LUDERMIR; MELO FILHO, 2002).

O conceito de TMC surgiu na década de 1970, mediante pesquisas realizadas em relação à saúde mental no âmbito da atenção primária em saúde. Foram descritos pela primeira vez em 1992, por Goldberg e Huxley, que os definiram como queixas somáticas, de natureza ansiosa e depressiva, comumente encontrados nos espaços comunitários, cuja presença caracteriza uma alteração em relação ao funcionamento normal. Consideram em sua definição não exclusivamente os sintomas, mas também o contexto em que os mesmos se apresentam (CARVALHO et al., 2013; LUDERMIR; MELO FILHO, 2002; PEREIRA;

MORITA; BARROS, 2008).

Este grupo de transtornos inclui não só os transtornos depressivos ansiosos e as somatizações, compreende também sofrimentos emocionais inespecíficos tais como insônia, fadiga, irritabilidade, tristeza, nervosismo, esquecimento, dificuldade de concentração, queixas somáticas, sensação de inutilidade e cefaleia, que prejudicam o desempenho das atividades diárias do indivíduo (FORTES; VILHANO; LOPES, 2008; LUDERMIR; MELO FILHO, 2002; PEREIRA; MORITA; BARROS, 2008;).

Os TMCs são comumente encontrados na comunidade, embora não preencham os critérios diagnósticos formais de TM, e na maioria das vezes passam despercebidos, devido à presença marcante de queixas somáticas, que podem ser confundidas com outras patologias. Os sintomas psíquicos somente passam a ser considerados quando desconsideradas evidências

orgânicas (ANDRADE; VIANA; SILVEIRA, 2006; CARVALHO et al., 2013; JASEN et al.,

2011; MOREIRA et al., 2011; VIDAL et al., 2014).

Por apresentarem prevalentemente queixas somáticas inespecíficas, há uma dificuldade no diagnóstico correto, levando ao subdiagnóstico, que acarreta prescrições abusivas de medicamentos, encaminhamentos e exames desnecessários. Sua detecção não requer inclusão na psiquiatria clássica, e sim a preocupação em detectar uma forma de sofrimento que produz prejuízos sociais, mentais e laborais na vida dos indivíduos (FORTES; VILLANO; LOPES, 2008; GONÇALVES et al., 2014).

(27)

O TMC, apresenta um impacto relevante nos mais variados agravos à saúde, tanto como fator de risco, como na adesão ao tratamento ou na piora do prognóstico (GONÇALVES et al., 2014). É considerado a demanda mais frequente na comunidade, e contribui ainda para um terço dos dias perdidos por doença no trabalho e um quinto de todas as consultas de atenção primária. Conta com taxas de mortalidade mais elevadas e prejuízos importantes nas funções social e física, seguido pelos transtornos relativos ao abuso de bebidas alcoólicas. Diante disso, considera-se importante a inclusão dos TMC como prioridade na atenção primária à saúde, assim como é o caso de outras morbidades crônicas. A OMS estima que 4,45 da população global sofre com transtornos depressivos e 3,6% com transtornos de ansiedade (BRASIL, 2013; GONÇALVES et al., 2014; OMS,2017).

Estudos sobre sintomas depressivos e ansiosos demonstram que estes estão relacionados às doenças cardiovasculares e cerebrovasculares e até mesmo ao diabetes (BRASIL, 2013).

Os estudos epidemiológicos acerca de saúde mental tiveram início em instituições hospitalares e serviços ambulatoriais de psiquiatria, mas a crescente demanda em saúde mental ocasionou a necessidade de expansão, e assim, passaram abranger a população geral, e seus resultados evidenciaram que cerca de 90% das manifestações psiquiátricas compõem-se de distúrbios não-psicóticos, incluindo depressão, ansiedade, e sintomas como insônia, fadiga, estresse, dificuldade de memória e queixas somáticas (COUTINHO; ALMEIDA; MARI, 1999; FORTES; VILLANO; LOPES, 2008; SANTOS; SIQUEIRA, 2010).

Uma pesquisa de base populacionais conduzida no Brasil investigando a ocorrência dos TMCs que compreendiam essencialmente quadros de ansiedade, depressão e somáticos, constatou a prevalência de tais transtornos em aproximadamente metade dos participantes atendidos nos serviços de atenção primaria à saúde em São Paulo (MARAGNO et al., 2006).

Na população geral, estudos realizados evidenciaram estimativas muito similares em relação aos transtornos mentais comuns com prevalência entre 28,7% a 50%, considerada alta pelos estudiosos. Destacando-se uma maior associação dos TMC com o sexo feminino, como também com às características sociodemográficas destas mulheres, tais como papel de gênero, estado civil, número de filhos, rede de suporte social, estrutura ocupacional e autonomia pessoal, baixas condições de vida, baixa renda, baixa escolaridade e sobrecarga de trabalhar dentro e fora de casa (BORIM; BARROS; BOTEGA, 2013; CARLOTTO et al., 2011; CARVALHO et al., 2013; COSTA; LUDERMIR, 2005; COUTINHO; ALMEIDA; MARI, 1999; GONÇALVES et al., 2008; LUCCHESE et al., 2014; MARAGNO et al., 2006;

(28)

MOREIRA et al., 2011; SANTOS; ARAUJO; OLIVEIRA, 2009; PORTUGUAL et al., 2016).

Características sociodemográficas estão associadas ao aparecimento ou à severidade dos distúrbios psiquiátricos, e fazem parte dos determinantes sociais de saúde, que segundo vários autores podem configurar eventos produtores de estresse. Vários fatores contribuem para a presença de tais eventos, dentre os quais acesso desigual aos serviços de saúde, moradia, distribuição de renda, desemprego, índices de violência e criminalidade — que aumentam as chance de apresentar TMCs e podem refletir na QV, que está diretamente relacionada ao bem-estar físico, psíquico e social, (BORGES et al., 2015; BORIM; BARROS; BOTEGA, 2013; CARLOTTO; BARCINSKI; FONSECA, 2015; CARVALHO et al., 2013; LUCCHESE et al., 2014; MOREIRA et al., 2011; PORTUGUAL et al., 2016).

A saúde mental (SM) é um dos componentes da QV, que se apresenta como medida na qual a saúde é avaliada segundo valores mais amplos, visto que seu sentido não se restringe à inexistência de uma patologia, mas inclui a percepção do indivíduo de sua posição na vida, de sua cultura, sistema de valores, suas expectativas e suas preocupações (FONSECA; GUIMARÃES; VASCONCELOS, 2008; JANSEN et al., 2011).

(29)

4 QUALIDADE DE VIDA

O tema QV tem atraído nos últimos anos o interesse de pesquisadores, considerando vários aspectos de saúde da população no mundo, sendo a maior parte das pesquisas voltadas às associações da QV em pessoas portadoras de enfermidades ou doenças crônicas, tais como, portadoras de HIV/Aids, idosos, alcoolistas, trabalhadores urbanos, entre outras (ALMEIDA; GUTIERREZ, 2010; ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012; MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000; PORTUGUAL et al., 2014; PORTUGUAL et al., 2016).

O conceito de QV difere entre as pessoas, e também nas diferentes fases da vida das mesmas, entretanto, há consenso entre os pesquisadores de que inúmeros fatores podem influenciar a QV das pessoas e das comunidades. A QV se refere à satisfação das necessidades sociais, psicológicas, espirituais e ambientais, enfocando a subjetividade, que varia entre indivíduos e entre sociedades (ALMEIDA; GUTIERREZ, 2010; FLECK et al. 2000; MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000; PORTUGUAL et al., 2014; PORTUGUAL et al., 2016).

A Qualidade de vida relaciona-se à compreensão do indivíduo quanto a aspectos de vida, saúde, relacionamento interpessoal, entre outros, a partir de seu contexto cultural, sistema de valores, objetivos, expectativas, padrões, preocupações. Advém da habilidade e da capacidade do indivíduo satisfazer suas necessidades (FLECK et al., 2000; WHO, 1997).

De acordo com a OMS, QV tem significados distintos para cada indivíduo, e admite interpretações diferentes conforme a área de aplicação (OMS, 1994). A QV relacionada à saúde compreende condições como o funcionamento físico, social, funcional, sexual e saúde mental, condições estas que podem ser afetadas por mudanças no estado de saúde (ALMEIDA; GUTIERREZ, 2010; ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012; MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000; OMS, 1994; PORTUGUAL et al., 2016).

Não há um conceito definitivo sobre qualidade de vida, mas elementos que estabelecem noções, tanto de bases objetivas, quanto bases subjetivas. As objetivas relacionam-se a elementos mensuráveis e concretos, como alimentação, habitação, trabalho, saúde e lazer. As bases subjetivas partem da percepção que os indivíduos têm de sua própria vida, relacionando itens não mensuráveis, como prazer, felicidade, angústia, tristeza, expectativas individuais e/ou coletivas (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012; MINAYO; HARTZ; BUSS, et al., 2000; OMS, 1995).

A OMS apresentou um conceito transcultural que definiu a QV “como a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais ele

(30)

vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações” (OMS, 1995). Este conceito holístico envolve sua complexidade e inter-relaciona a QV com aspectos físicos, psicológicos, nível de independência, relações sociais e crenças, refletindo sua subjetividade atrelada ao contexto sociocultural do indivíduo, tendo em vista a importância de considerar outros fatores determinantes, tais como experiências pessoais, meio ambiente e situação de

saúde (ALMEIDA; GUTIERREZ, 2010; ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012;

FLECK et al. 2000; MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000; OMS, 1995; PORTUGUAL et al., 2016).

Todavia, a QV pode ser descrita somente pela própria pessoa. A importância de cada aspecto da vida é extremamente pessoal, e portanto, passa inevitavelmente pela subjetividade envolvida nas características individuais e culturais que dão significados às experiências (JANSEN et al., 2011; MINAYO; HARTZ; BUSS, 2000; OMS, 2002).

Estudos tem demonstrado que a QV pode ser influenciada por diversos fatores, como: condições de trabalho, renda, relações pessoais, saúde, longevidade, lazer, estilo de vida, aspectos pessoais, espiritualidade, entre outros (FLECK; ROCHA, 2010; JANSEN et al., 2011; PORTUGUAL et al., 2016; MACIEL et al., 2013). Entretanto, ainda são escassos os estudos sobre ocorrência de TMCs, e a influência destes eventos na qualidade de vida (QV) da população, sendo tais eventos geralmente associados a condições clínicas e psiquiátricas (PORTUGUAL et al.,2016; JANSEN, et al.;2011).

(31)

5 OBJETIVO GERAL

Estimar a prevalência de Transtorno Mental Comum (TCM) e sua influência na qualidade de vida (QV) das mulheres residentes na cidade de Uberaba, Minas Gerais, no ano de 2014.

5.1 OBJETIVO ESPECÍFICO

a) Caracterizar o perfil sociodemográfico da população feminina residente na cidade de Uberaba, Minas Gerais;

b) Determinar a prevalência de TMC na população feminina residente na cidade de Uberaba, Minas Gerais;

c) Correlacionar a prevalência de TMC e as variáveis sociodemográficas;

d) Avaliar os escores de QV entre as mulheres segundo a presença ou não de TMC na população feminina residente na cidade de Uberaba, Minas Gerais.

(32)

6 HIPÓTESES

a) A prevalência de TMC é significativa na população feminina residente na cidade de Uberaba, MG;

b) A presença de TMC afeta negativamente a QV no domínio psicológico das mulheres residentes na cidade de Uberaba, MG.

(33)

7 MATERIAL E MÉTODO

Este trabalho foi formatado de acordo as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), Norma Brasileira (NBR) 14724, utilizando como referência o Manual para apresentação de trabalhos acadêmicos baseado nas normas de documentação da ABNT, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (2013).

7.1 TIPO PESQUISA

Trata-se de um estudo decaráter quantitativo, analítico, observacional e transversal de base populacional, recorte do projeto de Pesquisa intitulado: Inquérito de Saúde da Mulher na cidade de Uberaba-MG (ISA-Mulher, 2014), aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa sob o protocolo 1826/2010. O Estudo tem por objetivo geral conhecer o perfil de saúde das mulheres a partir de 18 anos na cidade de Uberaba-MG.

7.2 LOCAL DA PESQUISA

Pesquisa realizada por meio de entrevistas domiciliares na cidade de Uberaba – MG, localizada na microrregião sul do Triângulo Mineiro do estado de Minas Gerais, contando, atualmente, com quase 322.126 mil habitantes (IBGE, 2015).

7.3 AMOSTRA

A amostra do estudo foi composta por mulheres a partir de 18 anos residentes na cidade de Uberaba MG.

7.3.1 Critérios de inclusão

Mulheres residentes na cidade de Uberaba, com idade a partir de 18 anos, que compreenderam o teor da pesquisa e estavam aptas a responder à entrevista após assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) (APÊNDICE A).

(34)

7.3.2 Critérios de exclusão

Mulheres que não assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, não conseguiram entender o objetivo da pesquisa, nem entender e responder aos questionários autoaplicáveis.

7.4 CÁLCULO AMOSTRAL

Foi considerada uma amostra com 1530 mulheres mais 20% de perda. Esta quantidade (1.530) foi calculada considerando: a ausência de conhecimento a priori sobre as estimativas das prevalências dos eventos de interesse, fazendo com que tomássemos todas iguais a 50%; e a necessidade de inferir as estimativas de interesse encontradas na amostra sobre a população, considerando um nível de confiança de 95% e margem de erro de no máximo 2,5%. O tamanho amostral final foi de 1836.

Os dados do Censo do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) do ano de 2010 foram utilizados como base para este plano amostral. Para a seleção da amostra, foi considerada uma amostragem probabilística em múltiplos estágios. No primeiro estágio, dentro de cada distrito sanitário foram selecionados aleatoriamente 50% dos bairros, respeitando a proporcionalidade populacional de cada distrito em termos de quantidade de bairros. No segundo estágio dentro de cada bairro previamente sorteado, foi selecionado, de forma aleatória 25% dos setores censitários respeitando a proporcionalidade populacional de cada bairro em termos de quantidade de setores censitários. Dentro do setor censitário previamente sorteado, os domicílios foram selecionados de forma sistemática a partir da seleção aleatória do primeiro domicílio, e os demais foram aqueles na sequência entre 32 domicílios, até atingir a quantidade desejada para cada estrato de interesse quanto à faixa de idade. Foi realizado um total de 1560 entrevistas no ISA Mulher 2014.

7.5 MÉTODO PARA COLETA DE DADOS

A coleta dos dados foi realizada por meio de entrevistas domiciliares, realizadas por 22 entrevistadoras do sexo feminino, especialmente treinadas para este estudo e coordenadas pelo bolsista de apoio técnico. Considerando o caráter da pesquisa, não foram aceitos entrevistadores do sexo masculino, entendendo-se que poderiam inibir ou influenciar a resposta ou a participação das mulheres na pesquisa.

(35)

Cada uma das entrevistadoras passou por treinamento de aplicação do questionário, além de noções e técnicas para entrevista. Além disso, houve supervisão de campo com conferência das entrevistas no recebimento, e checagem aleatória via telefone de 10% das entrevistas realizadas. Apenas uma entrevista foi realizada para cada domicílio selecionado, em caso de mais de uma mulher no mesmo, a escolha sobre a realização da entrevista ficou a critério das moradoras. O período de coleta dos dados ocorreu entre os meses de março a outubro de 2014.

7.6 INTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

No presente estudo foram utilizados três instrumentos para a coleta de dados. O Formulário Sociodemográfico, o Self Reporting Questionnaire (SRQ-20) e o World Health Organizations Quality of Life (WHOQOL-Bref).

7.6.1 Formulário Sociodemográfico

Para identificação e caracterização socioeconômica e demográfica, foi utilizado um questionário, previamente testado em um estudo piloto, contendo perguntas acerca de: data de nascimento, situação conjugal atual (solteira, em união, separada, viúva), escolaridade em anos completos de estudo, cor da pele (branca, amarela, parda, preta, vermelha, outra), renda familiar total mensal, categorizada para salários mínimos, número de pessoas que residem na casa, número de pessoas que contribuem com a renda familiar, chefe de família ou não, exerce ou não trabalho remunerado (APÊNDICE B).

7.6.2 Self-Report Questionnaire (SRQ-20)

Para investigação do transtorno mental comum (TMC), utilizou-se a escala Self- Report Questionnaire (SRQ-20), validada para o Brasil por Mari e Williams (1986) e por Gonçalves, Stein e Kapczinski (2008), o resultado tem relação com a probabilidade de presença de TMC, sendo que, no ponto de corte 7/8 uma sensibilidade de 86,3% e especificidade de 89,3% são verificadas (GONÇALVES; STEIN; KAPCZINSKI, 2008; MARI; WILLIAMS, 1986).

Ela se destina à detecção de sintomas físicos e psíquicos, como queixa de insônia, cefaleias frequentes, perda de concentração, cansaço, nervosismo, alterações de apetite,

(36)

sentimento de tristeza, desinteresse por atividades rotineiras, dentre outros (GONÇALVES; STEIN; KAPCZINSKI, 2008; MARI; WILLIAMS, 1986).

O instrumento é composto por vinte perguntas, sendo quatro sobre sintomas físicos e 16 sobre sintomas emocionais, com duas possibilidades de resposta (sim/não); não inclui questões sobre sintomas psicóticos nem sobre o consumo de álcool e outras drogas. As questões são distribuídas em quatro facetas: Queixas somáticas; Humor depressivo e ansioso; Perda de energia vital; e Pensamentos depressivos, cada afirmativa somando um ponto em um escore de 0 a 20 que varia de nenhuma a grande probabilidade de Transtorno Mental não Psicótico (TMNP). O instrumento considera os últimos 30 dias como referência para as respostas (GONÇALVES; STEIN; KAPCZINSKI, 2008; MARI; WILLIAMS, 1986).

O quadro abaixo relaciona grupos de sintomas avaliados pelo SQR-20 para rastreamento de transtorno mental não-psicótico, agrupados segundo Iacoponi e Mari (1988), com suas respectivas questões.

Quadro 1 - Grupos de sintomas e perguntas do Self-Report Questionnaire (SRQ-20).

Grupo de Sintomas Questões

Q-4 Assusta-se com facilidade?

Humor depressivo/ansioso Q-6 Sente-se nervoso (a), tenso (a) ou preocupado (a)?

Q-9 Tem se sentido triste ultimamente? Q-10 Tem chorado mais do que de costume? Q-1 Você tem dores de cabeça frequentes? Q-2 Tem falta de apetite?

Sintomas Somáticos Q-3 Dorme mal?

Q-5 Tem tremores nas mãos? Q-7 Tem má digestão?

Q-19 Você se cansa com facilidade?

Q-8 Tem dificuldades em pensar com clareza? Q-11 Encontra dificuldades para realizar com satisfação suas atividades diárias?

Decréscimo de energia vital Q-12 Tem dificuldades para tomar decisões? Q-13 Tem dificuldades no serviço (seu trabalho é penoso, lhe causa sofrimento)?

(37)

Q-20 Tem sensações desagradáveis no estômago? Q-14 É incapaz de desempenhar um papel útil na sua vida?

Pensamentos depressivos Q-15 Tem perdido o interesse pelas coisas?

Q-16 Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo? Q-17 Tem tido a ideia de acabar com a vida?

Fonte:Adaptado de Iacoponi e Mari, 1986.

7.6.3 World Health Organization Quality of Life – versão breve

Para a avaliação da QV foi utilizado O WHOQOL-Bref. Instrumento sintético elaborado a partir do WHOQOL-100 visando uma maior facilidade de aplicação frente a grandes amostras e composto por 26 questões, sendo duas a respeito de temas gerais de qualidade de vida e outras 24 que avaliam as 24 facetas estudadas pelo instrumento. A base conceitual dos instrumentos é estabelecida a partir de domínio e facetas, como mostrado no anexo 3. O referido instrumento foi validado para o uso em estudos no Brasil, tem seu uso estimulado pela OMS e é frequentemente utilizado em pesquisas epidemiológicas no Brasil e no exterior (FLECK et al., 2000; FLECK et al., 2002; KLUTHCOVSKY; ARAGÃO, 2009).

A QV é mensurada pelo WHOQOL-Bref nos domínios físico, psicológico, relações sociais e ambiental.

O domínio físico apresenta questões quanto à presença de dores físicas, necessidade de tratamento, capacidade para o trabalho e para realizar as atividades cotidianas, funcionalidade, autonomia e sono. O domínio psicológico reflete sobre os aspectos relacionados ao sentido da vida, à dimensão emocional, capacidade de concentração, satisfação consigo próprio, presença de sentimentos positivos e negativos, e espiritualidade. O domínio relações sociais considera a satisfação das relações pessoais, vida sexual e apoio dos amigos. O domínio do meio-ambiente refere-se á segurança, saúde do ambiente físico, informações disponíveis, recursos financeiros, oportunidade de atividade de lazer, satisfação com as condições do local de moradia, com acesso a serviços de saúde e com o meio de transporte (FLECK et al., 2000; FLECK et al., 2008; FONSECA et al., 2008).

O instrumento objetiva aferir quantitativamente a qualidade de vida, uma variável dependente de natureza subjetiva, pois se baseia na percepção das pessoas quanto a diversos

(38)

aspectos de sua vida. Possui características satisfatórias de consistência interna, validade discriminante, de critério, concorrente, e fidedignidade teste-reteste (FLECK et al., 2000).

O quadro abaixo relaciona os domínios de QV às suas facetas, e ao número da questão no questionário WHOQOL-bref

Quadro 2 - Domínios de QV, suas respectivas facetas e o número da pergunta no questionário WHOQOL-Bref.

Domínio de QV Facetas abordadas pelo WHOQOL-bref Nº da

pergunta

Dor e desconforto 1

Energia-fadiga 2

Sono e repouso 3

Físico Mobilidade 9

Atividades da vida cotidiana 10

Dependência de medicação ou de tratamentos 11

Capacidade de trabalho 12

Sentimentos positivos 4

Pensar, aprender, memória, concentração 5

Psicológico Autoestima 6

Imagem corporal e aparência 7

Sentimentos negativos 8

Espiritualidade/religião e crenças pessoais 24

Relações pessoais 23

Relações sociais Suporte / apoio social 14

Atividade sexual 15

Segurança física e proteção 16

Ambiente no lar 17

Recursos financeiros 18

Meio-ambiente Cuidados de saúde e sociais: disponibilidade e qualidade 19 Oportunidades de adquirir novas informações e habilidades 20 Participação em e oportunidades de recreação/lazer 21 Ambiente físico: poluição, trânsito, ruído 22

Transporte 23

(39)

7.7VARIÁVEIS DO ESTUDO

Considerou-se como variável dependente o TMC e como variáveis independentes, aspectos sociodemograficos e QV como descritos adiante.

As variáveis para caracterizar o perfil sociodemográfico do estudo foram: faixa etária, escolaridade, estado civil, número de filhos, número de pessoas na casa, condições da moradia. As variáveis para traçar o perfil socioeconômico e demográfico do grupo foram: faixa etária (17 ┤24; 25 ┤44; 45 ┤59; ≥ 60), escolaridade (0 a 4 anos; 5 a <9 anos; ≥9 anos ou mais), estado conjugal (solteiro; em união; viúva; separada), número de filhos (nenhum, um, dois, três, quatro ou mais), renda familiar per capita (até 3 salários; 4 até 10 salários; acima de 10 salários), chefe de família (Sim; Não), trabalho remunerado (Sim; Não), número de moradores (1 a 2; 3 a 4; 5 ou mais), religião (católica, evangélica, espirita; outras), cor da pele (branca; parda; preta; outras).

Para determinar a prevalência de TMC, utilizou-se como escore 8 ou mais respostas positivas, do instrumento SRQ-20 para rastreio do risco de Transtorno Mental não Psicótico (TMNP) (GONÇALVES; STEIN; KAPCZINSKI, 2008; MARI; WILLIAMS, 1986).

As variáveis da QV são os quatro domínios do WHOQOL-Bref. A referida análise foi feita segundo sintaxe proposta pelo WHOQOL Group, onde as 26 questões devem ser preenchidas com valores de 1 a 5. Os escores dos domínios são calculados através da soma dos escores da média das questões que compõe cada domínio e varia de zero a 100 pontos (FLECK et al., 2000; FLECK et al., 2008; FONSECA et al., 2008).

7.8 GERENCIAMENTO DE DADOS

Previamente à tabulação dos dados, criou-se uma máscara no programa EpiData® para a entrada dos mesmos. Foi realizada dupla digitação, a fim de verificar a coerência do banco de dados.

O banco de dados foi construído de acordo com as informações obtidas e a análise estatística para realizar processamento e análise no programa estatístico Statistic Package for Social Sciences (SPSS) versão 20.0.

(40)

7.9 ANÁLISE DOS DADOS

A análise das variáveis sociodemográficas da população estudada foi realizada com base em estatística descritiva, utilizando frequências absolutas e relativas para variáveis categóricas e medida de tendência central (Média) e variabilidade (Desvio Padrão – DP, e Teste de Amplitude) foram empregadas para variáveis quantitativas.

Para determinar a prevalência de TMC utilizou distribuições de frequência absolutas e relativas.

Foi feita uma análise bivariada para verificar a associação das variáveis sociodemográficas com risco de TMC, utilizando tabelas de contingência. A Odds Ratio e a significância estatística foram calculadas usando o teste Qui-quadrado. Em seguida, realizou-se a Regressão Logística para controle das variáveis de confusão. A escolha dos preditores teve como pressuposto o referencial teórico (idade, cor da pele, escolaridade e renda). A significância estatística foi verificada, considerando como estatisticamente significativos valores de p≤ 0,05 com Intervalo de Confiança de 95% (IC).

Na relação entre TMC e QV foi utilizado o Teste-t para amostras independentes, as medidas complementares, média e DP, e considerou-se o valor de p≤ 0,05, para comparação dos escores médios de QV. Procedeu-se posteriormente a uma análise de regressão linear múltipla, para analisar a influência simultânea de TMC e demais variáveis potencialmente confundidoras sobre os escores de QV, considerando na apresentação dos resultados o coeficiente de regressão padronizado (Beta), e um valor de p≤ 0,05.

E preciso destacar que todos os pré-requisitos para utilização do método de regressão, tais como análise de resíduo, valores atípicos e multicolinearidade, foram levados em consideração.

(41)

8 RESULTADOS

A população deste estudo foi composta 1557 mulheres da cidade de Uberaba, entrevistadas no projeto ISA-Mulher, 2014, não havendo perda amostral.

A idade máxima alcançada foi de 94 anos (Média= 49,54; DP= 17,19), com predomínio da faixa etária acima de 45 anos (60%). Quanto ao estado conjugal, 52% encontravam-se em união estável, e 47,3% possuíam entre 2 e três filhos (Média= 2,66; DP= 1,77). Em relação a cor da pele, predominaram mulheres brancas 54,9% e praticantes da religião católica (56%).

Em relação às características econômicas, do total da amostra estudada, 55,8% referiram ser chefes de família, 63,6% exerciam trabalho remunerado, a renda familiar era de até 3 salários mínimos (62,3%; Média= 2.298,22; DP= 2.018,95) e 47,3% possuíam mais de 9 anos de estudo (Média= 8,1; DP= 4,90).

Da amostra estudada, 29,6% apresentaram indicativo de TMC (Media= 11,58; DP= 2,98).

Na Tabela 1 estão descritas as informações acerca das características sociodemográficas e prevalência de transtorno mental comum (TMC) da amostra.

Tabela 1 – Caracterização sociodemográficas/econômica e prevalência de TMC nas mulheres residentes na cidade de Uberaba, MG - 2014.

Variável N = 1557 Total N (%) Faixa etária 18 – 24 anos 133 8,5 25 – 44 anos 448 28,8 45 – 59 anos 459 29,5 ≥ 60 anos 475 30,5 Total* 1515 97,3 Escolaridade 0 a 4 anos 383 24,6 5 a 8 anos 362 23,2 ≥ 9 anos 737 47,3

(42)

Continuação Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica/econômica e prevalência de TMC das

mulheres residentes na cidade de Uberaba, MG - 2014.

Total* 1482 95, 1 Estado civil Solteira 368 23,6 União estável** 809 52 Separada/ divorciada 148 9,5 Viúva 231 14,8 Total* 1556 99,9 Número de filhos Nenhum 34 2,2 Um 259 16,6 Dois 450 28,9 Três 287 18,4 Quatro ou mais 270 17,3 Total* 1300 93,4 Renda familiar (salários***) < 2 salários 488 31,3 ≥ 2 até 3 488 31,3 ≥ 4 até 10 462 29,7 Acima de 10 salários 39 2,5 Total* 1477 94,8 Chefe de família Sim 869 55,8 Não 646 41,5 Total* 1515 97,3 Trabalho remunerado Sim 991 63,7 Não 566 36,4 Total 1557 100,0 Número de moradores 1 a 2 523 33,6 3 a 4 749 48,1

(43)

Conclusão Tabela 1 – Caracterização sociodemográfica/econômica e prevalência de TMC das

mulheres residentes na cidade de Uberaba, MG - 2014.

5 ou mais 283 18,2 Total* 1555 99,9 Religião Católico 872 56 Evangélico 284 18,2 Espirita 299 19,2 Ateu 19 1,2 Outros 65 4,2 Total* 1539 98,8 Cor da pele Branco 855 54,9 Pardo 451 29,0 Preto 197 12,7 Amarela 19 1,2 Outros 24 1,5 Total* 1546 99,3 TMC Presentes 461 29,6 Ausentes 1096 70,4 Total* 1557 100,0

Fonte: Dados da Pesquisa, 2014. *número máximo de dados faltantes 257; **união estável considerado casados legalmente e ou amasiados; *** salário mínimo vigente no Brasil a época da coleta de dados no ano de 2014, era 724,00 reais; TMC: transtorno mental comum.

Dentre os sintomas avaliados pelos SQR-20 agrupados por Iacoponi e Mari (1999), observou-se que o grupo de sintomas predominantes foi, “Humor Depressivo/Ansioso” (76,4%, Média= 3,06; DP=0,87).

Referências

Documentos relacionados

O objetivo do presente trabalho foi entender quais os benefícios alcançados por meio da parceria entre a COPASUL, uma empresa com esforços direcionados à comercialização

Parece assim, ter-se contribuído para os estudos sobre a implementação de novas estratégias de ensino e aprendizagem através da literacia visual, enquadradas com a

Dada a potencialidade que o estudo com esse gênero tem para estimular a reflexão crítica do alunado, pautada pelos multiletramentos, analisamos a presença de aspectos culturais

A realização desta dissertação tem como principal objectivo o melhoramento de um sistema protótipo já existente utilizando para isso tecnologia de reconhecimento

A partir da leitura dos resumos dos trabalhos, selecionou- se um total de 21 artigos, que mostraram maior relevância para o tema diagnóstico de enfermagem no paciente acometido a

Os resultados são apresentados de acordo com as categorias que compõem cada um dos questionários utilizados para o estudo. Constatou-se que dos oito estudantes, seis

Assim sendo, o espaço da estrada é determinante como facilitador de um exercício de uma sexualidade mais plena, aberta e satisfatória, pelo menos para Thelma, e ao

Os resultados obtidos permitiram concluir que a situação financeira de uma empresa é um determinante do tipo de gestão de resultados adotado pelas empresas, uma vez que as