• Nenhum resultado encontrado

Relatório de Estágio realizado na Farmácia Martins

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Relatório de Estágio realizado na Farmácia Martins"

Copied!
85
0
0

Texto

(1)

Farmácia Martins

(2)

II

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto

Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

Relatório de Estágio Profissionalizante

Farmácia Martins

maio de 2018 a outubro de 2018

Maria João da Silva Gomes

Orientador: Dra. Dulce Fernandes

Tutor FFUP: Prof. Doutora Helena Vasconcelos

(3)

III

Declaração de Integridade

Declaro que o presente relatório é de minha autoria e não foi utilizado previamente noutro curso ou unidade curricular, desta ou de outra instituição. As referências a outros autores (afirmações, ideias, pensamentos) respeitam escrupulosamente as regras da atribuição, e encontram-se devidamente indicadas no texto e nas referências bibliográficas, de acordo com as normas de referenciação. Tenho consciência de que a prática de plágio e auto-plágio constitui um ilícito académico.

Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto, 29 de outubro de 2018

(4)

IV

Agradecimentos

Tendo terminado mais uma etapa do meu percurso académico, deixo aqui algumas palavras de gratidão a todos aqueles que para ele contribuíram, sem os quais a sua concretização não teria sido possível.

Um agradecimento especial à Dra. Fernanda Santos e à Dra. Mariana Santos, por me terem proporcionado a oportunidade de realizar este estágio. Agradeço também a todos os membros da equipa da Farmácia Martins, por me terem recebido e ajudado a ultrapassar as dificuldades que foram surgindo ao longo do estágio.

Agradeço também à Prof. Doutora Helena Vasconcelos pelo apoio e disponibilidade prestados na realização do relatório.

Por fim, agradeço aos meus familiares e amigos por todo apoio, carinho e incentivo que sempre me deram, e por acreditarem em mim, ajudando-me a superar todas as dificuldades.

(5)

V

Resumo

A Farmácia Comunitária constitui a face mais visível da profissão farmacêutica e uma das portas de entrada no Sistema Nacional de Saúde, com foco na promoção da saúde e prevenção da doença. A Unidade Curricular Estágio proporciona aos estudantes do Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas um contacto direto com a realidade profissional, para que possam assimilar e colocar em prática os conhecimentos adquiridos durante os 5 anos de curso. O estágio curricular em Farmácia Comunitária, de caráter obrigatório, tem como objetivos essenciais dotar os futuros farmacêuticos de competências técnicas e científicas que possam ser aplicadas nas diversas vertentes da intervenção farmacêutica, desde o aconselhamento ao utente, aos aspetos deontológicos e regulamentares.

As páginas deste relatório, constituído por duas partes, ilustram as atividades desenvolvidas durante os 6 meses do meu estágio na Farmácia Martins. A primeira parte descreve o funcionamento, gestão e serviços prestados pela farmácia, com destaque em algumas tarefas que efetuei durante o estágio. A segunda parte consiste no desenvolvimento de dois temas que considerei relevantes e adaptados ao local de estágio em que estive inserida, com vista à melhoria do funcionamento da farmácia e da prestação de cuidados de saúde aos utentes: um acerca da vacinação em Portugal e outro na área da gestão e logística da farmácia. Inclui ainda a apresentação de outros trabalhos que desenvolvi, nomeadamente a realização de rastreios cardiovasculares e o acompanhamento de doentes com psoríase. Considero que este estágio me forneceu uma noção mais concreta do funcionamento de uma Farmácia Comunitária e do circuito do medicamento, e estimulou a minha capacidade de aprendizagem e de resolução de problemas.

(6)

VI

Lista de Abreviaturas

AIM - Autorização de introdução no mercado ANF - Associação Nacional de Farmácias

BCG – Vacina contra a tuberculose (Bacilo de Calmette-Guérin) BPF – Boas Práticas Farmacêuticas para a Farmácia Comunitária CDC - Centers for Disease Control and Prevention

CNP – Código Nacional de Produto

DCI - Denominação Comum Internacional

DGAV - Direção-Geral de Alimentação e Veterinária DGS - Direção-Geral da Saúde

DM - Dispositivo medico

DTPa – Vacina contra a difteria, tétano e tosse convulsa FEFO – First expired, first out

FIFO – First in, first out FM – Farmácia Martins HA - Hemaglutinina

Hib – Vacina contra doença invasiva por Haemophilus influenzae serotipo b HPV – Vírus do papiloma humano

HPV9 - Vacina contra infeções do vírus do Papiloma humano de 9 genótipos IMC – Índice de massa corporal

INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P. MenC - Vacina contra a doença invasiva por Neisseria meningitidis do grupo C MICF – Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas

MNSRM – Medicamento não sujeito a receita médica

MNSRM-EF - Medicamento não sujeito a receita médica de dispensa exclusiva em farmácia

MSRM – Medicamento sujeito a receita médica NE - Neuraminidase

OMS - Organização Mundial de Saúde

PCHC – Produto cosmético e de higiene corporal PIC – Preço inscrito na cartonagem

PNV – Programa Nacional de Vacinação

(7)

VII

Pn23 - Vacina polissacárida contra infeções por Streptococcus pneumoniae de 23 serotipos

PVF – Preço de venda à farmácia PVP – Preço de venda ao público

RCM - Resumo das características do medicamento

SIP-SPP - Sociedade de Infeciologia Pediátrica e Sociedade Portuguesa de Pediatria Td - Vacina contra o tétano e difteria em doses reduzidas

Tdpa - Vacina contra o tétano, difteria e tosse convulsa em doses reduzidas VASPR - Vacina contra o sarampo, parotidite epidémica e rubéola (VASPR) VHA - Vírus da Hepatite A

VHB – Vacina contra a hepatite B

VIH - Vírus da imunodeficiência humana VIP – Vacina inativada contra a poliomielite VVZ – Vírus varicela-zoster

(8)

VIII

Índice

Parte 1 – Descrição das atividades desenvolvidas no estágio ... 1

1. Introdução ... 1

2. Farmácia Martins e Grupo Gomes dos Santos ... 2

2.1. Organização do espaço físico e funcional da Farmácia Martins ... 2

2.1.1. Localização e horário de funcionamento ... 2

2.1.2. Espaço físico ... 2

2.1.2.1. Espaço físico exterior ... 2

2.1.2.2. Espaço físico interior ... 3

2.2. Recursos humanos ... 3

2.3. Perfil dos utentes ... 3

3. Fontes bibliográficas e de informação ... 4

4. Gestão da Farmácia Martins ... 4

4.1. Recursos informáticos ... 4

4.2. Gestão de stocks ... 5

4.3. Encomendas e aprovisionamento ... 6

4.3.1. Seleção de fornecedores e aquisição de produtos ... 6

4.3.2. Realização de encomendas ... 6

4.3.3. Receção e verificação de encomendas ... 7

4.3.4. Armazenamento ... 8

4.3.5. Controlo de prazos de validade e devoluções ... 9

5. Dispensa de medicamentos e outros produtos farmacêuticos ... 9

5.1. Medicamentos sujeitos a receita médica ... 10

5.1.1. Prescrição médica ... 10

5.1.2. Validação da prescrição médica ... 11

5.1.3. Verificação de receituário e faturação ... 12

(9)

IX

5.1.5. Medicamentos sujeitos a receita médica especial ... 13

5.2. Medicamentos não sujeitos a receita médica ... 13

5.2.1. Medicamentos não sujeitos a receita médica de dispensa exclusiva em farmácia ... 14

5.3. Medicamentos e produtos de uso veterinário ... 14

5.4. Produtos cosméticos e de higiene corporal ... 15

5.5. Produtos de puericultura e obstetrícia ... 15

5.6. Suplementos alimentares ... 15

5.7. Dispositivos médicos ... 16

6. Cuidados de saúde prestados pela farmácia ... 17

6.1. Medição de parâmetros fisiológicos e bioquímicos ... 17

6.2. Consultas de nutrição ... 17

6.3. Consultas de acompanhamento a doentes com psoríase ... 18

6.4. Preparação individualizada da medicação ... 18

6.5. Administração de vacinas e medicamentos injetáveis ... 18

6.6. VALORMED ... 19

7. Formações complementares ... 19

Parte 2 - Apresentação dos temas desenvolvidos ... 20

Tema 1 – Vacinação em Portugal ... 20

1. Enquadramento... 20

1.1. Vacinas: O que são e como funcionam? ... 22

1.2. Segurança das vacinas ... 24

1.3. Vacinas incluídas no Programa Nacional de Vacinação 2017 ... 26

1.4. Vacinas extra-Programa Nacional de Vacinação ... 27

1.4.1. Vacinação contra a gripe ... 30

2. Intervenção na Farmácia Martins ... 33

(10)

X

2.2. Panfleto sobre a vacinação contra a gripe ... 34

3. Conclusão ... 35

Tema 2 - Reorganização da logística interna da Farmácia Martins ... 35

1. Enquadramento ... 35

2. Intervenção na Farmácia Martins ... 36

2.1. Reorganização dos locais de armazenamento ... 36

2.2. Mapeamento dos produtos ... 37

3. Conclusão... 38

Outros trabalhos desenvolvidos ... 38

1. Maio, mês do coração ... 38

2. Ensinar a viver com psoríase ... 39

Considerações finais ... 40

Referências bibliográficas ... 41

(11)

XI

Índice de tabelas

Tabela 1 - Cronograma das atividades desenvolvidas durante o estágio...1 Tabela 2 - Posologia recomendada da vacina Bexsero® (Adaptado de 41)...28 Tabela 3 - Patologias crónicas e condições para as quais se recomenda a vacinação contra a gripe (Adaptado de 52)...33

(12)

1

Parte 1 - Descrição das atividades desenvolvidas no estágio

1. Introdução

Nas últimas décadas, tem-se verificado uma evolução do conceito de Farmácia Comunitária, onde esta deixa de ser um mero espaço de produção e venda de medicamentos, e se transforma num importante espaço de saúde, prestando uma vasta gama de serviços de saúde à comunidade.1 O meu estágio curricular em Farmácia Comunitária realizou-se na Farmácia Martins (FM), entre maio e outubro de 2018. Durante os 6 meses de estágio, tive a oportunidade de integrar uma equipa de profissionais de saúde que me deram a conhecer o funcionamento e a dinâmica duma farmácia de oficina nas suas múltiplas vertentes, desde a organização e gestão, ao aconselhamento ao utente, passando pela ética profissional, marketing e comunicação clínica. Na Tabela 1 encontram-se sumarizadas as atividades que realizei durante o estágio, bem como o período durante o qual decorreram.

Tabela 1 - Cronograma das atividades desenvolvidas durante o estágio. Mês

Tarefas/atividades maio junho julho agosto setembro outubro

Receção e conferência de encomendas

Armazenamento de produtos Verificação e reposição de stocks Determinação de parâmetros bioquímicos

Atendimento ao público Rastreio cardiovascular

Verificação de prazos de validade Verificação de receituário

Acompanhamento a doentes com psoríase

Gestão de psicotrópicos e estupefacientes

Desenvolvimento do tema 1 Desenvolvimento do tema 2

(13)

2

2. Farmácia Martins e Grupo Gomes dos Santos

A FM, situada em pleno centro histórico da cidade de Braga, abriu as suas portas ao público há mais de um século. A sua inauguração nas atuais instalações, na Avenida Central nº 20-22, data de janeiro de 1949 (Anexo 1).Atualmente, a FM é parte integrante do Grupo Gomes dos Santos, juntamente com a Farmácia Alvim (Braga), a Farmácia Gomes (Esposende) e a Ortopedia Apoio Total (Braga).

2.1 Organização do espaço físico e funcional da Farmácia Martins 2.1.1 Localização e horário de funcionamento

A FM encontra-se localizada numa das principais avenidas da cidade de Braga, adjacente ao posto de turismo, numa zona pedonal com elevado fluxo de pessoas, e com proximidade de paragens de autocarro e dum parque de estacionamento subterrâneo. Está aberta ao público de segunda a sexta-feira das 9h às 20h, e sábados e feriados das 9h às 19h, estando nestes últimos encerrada das 13h às 14h. Efetua também turnos em serviço permanente, de acordo com a escala emitida pela Associação Nacional de Farmácias (ANF), sendo que a partir das 00h até à hora de abertura, o atendimento é feito através do postigo inserido na porta principal.

2.1.2 Espaço físico

2.1.2.1 Espaço físico exterior

Segundo o manual de Boas Práticas Farmacêuticas para a Farmácia Comunitária (BPF), a acessibilidade à farmácia deve ser garantida para todos os utentes, incluindo crianças, idosos e cidadãos portadores de deficiência.2 A FM encontra-se localizada no rés-do-chão de um prédio habitacional, com boas acessibilidades, sendo facilmente identificada pela inscrição “Farmácia Martins” na fachada do edifício e pelo símbolo “cruz verde”, que está iluminado durante o horário de funcionamento da farmácia, inclusive durante a noite quando a farmácia está de serviço. O exterior da farmácia possui uma porta principal de acesso ao interior da farmácia, uma porta lateral exclusiva aos profissionais da farmácia e fornecedores, e dois ecrãs utilizados para publicitar produtos ou eventos a decorrer na farmácia. A porta principal possui ainda um postigo de atendimento, uma rampa amovível para pessoas com mobilidade reduzida, e tem afixadas informações variadas, como o horário de funcionamento da farmácia e a lista das farmácias de serviço (Anexo 2).

(14)

3

2.1.2.2 Espaço físico interior

Em conformidade com o artigo 29.º do Decreto-Lei n.º 307/2007, de 31 de agosto, que estabelece o regime jurídico das farmácias de oficina3, e o manual de BPF2, a FM encontra-se subdividida nas seguintes áreas: i) zona de atendimento ao público, com 6 balcões de atendimento e rodeada por expositores e lineares (Anexo 3); ii) zona de determinação de parâmetros bioquímicos e fisiológicos; iii) instalações sanitárias para utentes; iv) gabinete de atendimento personalizado; v) área de receção e conferência de encomendas; vi) gabinete da direção técnica; vii) laboratório para preparações galénicas; viii) vestiário/quarto de descanso; ix) instalações sanitárias dos funcionários; x) e várias zonas de armazenamento de medicamentos e produtos farmacêuticos (Anexo 4). No interior da farmácia existe ainda uma placa com o nome do diretor técnico, um sistema de videovigilância com gravação de imagem, um sistema de alarme contra incêndios e extintores de incêndio em local acessível, bem como sinalizadores de saída. Deste modo, é garantida a acessibilidade, comodidade e privacidade dos utentes e dos profissionais.

2.2 Recursos humanos

A equipa da FM é liderada pela Dra. Fernanda Santos, proprietária e diretora técnica, sendo composta por 10 profissionais: 5 farmacêuticos, 3 técnicos de farmácia, 1 profissional de serviços administrativos e 1 auxiliar de limpeza. A colaboração entre os membros desta equipa de profissionais assegura o bom funcionamento da farmácia e a qualidade dos serviços prestados. Por conseguinte, no que diz respeito aos recursos humanos, verifica-se que a FM satisfaz os requisitos descritos no Decreto-Lei n.º 307/2007, de 31 de agosto, segundo o qual as farmácias devem dispor de, pelo menos, um diretor técnico e de outro farmacêutico, auxiliados por técnicos de farmácia ou por outro pessoal devidamente habilitado, sendo que os farmacêuticos devem, tendencialmente, constituir a maioria dos trabalhadores da farmácia.3

2.3 Perfil dos utentes

A FM é frequentada, maioritariamente, por idosos polimedicados, muitos deles residentes na zona e clientes habituais há vários anos. Muitos desses utentes possuem uma ficha de cliente no sistema informático da farmácia, onde está registado o seu histórico de produtos adquiridos, para que seja possível seguir a terapêutica instituída e identificar possíveis erros relativos à medicação. Graças à parceria que a farmácia tem com a

(15)

4

associação Casa do Professor, muitos dos seus utentes são professores, em exercício da profissão ou aposentados. No entanto, é também frequentada, regularmente, por utentes das mais variadas faixas etárias e classes socioeconómicas. Devido à sua localização privilegiada, a FM constitui um ponto de passagem para todo o tipo de utentes, o que me permitiu lidar com casos muito variados e, para além disso, a elevada afluência de turistas durante os meses de verão levou-me a contactar com utentes de diversas nacionalidades.

3. Fontes bibliográficas e de informação

Com base no manual de BPF2, é fundamental que a farmácia tenha à disposição uma

biblioteca organizada e em constante atualização. Na FM podemos encontrar em suporte físico o Prontuário Terapêutico, o Formulário Galénico Português e a Farmacopeia Portuguesa, bem como manuais sobre diversos temas relevantes para a profissão farmacêutica, como direito farmacêutico, produtos veterinários, cosmetologia, história da farmácia, entre outros. Existem ainda distribuídos pela farmácia catálogos e panfletos informativos sobre diversos produtos farmacêuticos, e também tabelas com informações variadas como, por exemplo, medicamentos com comparticipações especiais e vacinas não incluídas no Programa Nacional de Vacinação (PNV), que podem ser consultados a qualquer momento pelos profissionais da farmácia. Estas informações podem ainda ser complementadas com fontes de informação digitais disponíveis na Internet, que podem ser acedidas facilmente através dos vários computadores existentes na farmácia, como as plataformas da ANF, da Ordem dos Farmacêuticos e do INFARMED – Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde, I.P., através do qual se pode aceder à base de dados Infomed. Estas fontes digitais foram as que mais utilizei durante o meu estágio, por estarem mais acessíveis no momento do atendimento.

4. Gestão da Farmácia Martins

4.1 Recursos informáticos

Nos dias de hoje, a informatização é imprescindível ao bom funcionamento e gestão dos serviços de saúde, pois permite não só uma melhor organização e planeamento dos mesmos, como também uma redução de tempo e recursos. O sistema informático implementado na FM é o 4DigitalCare®. Embora não seja o sistema operativo mais utilizado nas farmácias comunitárias portuguesas, este software é uma ferramenta

(16)

5

extremamente útil para o desempenho de diversas funções associadas à gestão da farmácia e ao circuito do medicamento, nomeadamente, gestão de stocks, criação de fichas de cliente, criação e receção de encomendas, gestão de reservas, gestão de prazos de validade, controlo de medicamentos psicotrópicos e estupefacientes, processamento de devoluções e dispensa de medicamentos e outros produtos de saúde. Durante o atendimento, permite ainda detetar a presença de interações medicamentosas entre os medicamentos dispensados ao utente. Cada profissional possui um número de utilizador e uma palavra-passe de acesso ao programa, o que permite mapear a atividade de cada utilizador. No primeiro dia do estágio, foi-me atribuída uma senha que me permitiu explorar uma grande parte das funcionalidades do software. Não obstante as inúmeras vantagens deste software, constatei a existência de algumas lacunas, como a dificuldade na pesquisa de fichas de cliente o que, por vezes, torna o atendimento ao utente mais demorado. Outro ponto fraco do programa é o facto da informação científica contida nas fichas de cada produto ser, em alguns casos, muito limitada no que diz respeito às indicações terapêuticas, posologia e efeitos secundários o que, a meu ver, constitui muitas das vezes uma barreira no momento do atendimento.

A FM dispõe ainda do software Pharmacard, uma plataforma de fidelização que está associada a cartões de cliente, válidos para todos os utentes das farmácias do grupo Gomes dos Santos. Este cartão permite a acumulação de valor monetário aquando da aquisição de medicamentos e produtos farmacêuticos em qualquer farmácia do grupo, que pode ser descontado numa compra futura. Permite ainda manter os utentes informados acerca de campanhas ou ofertas existentes na farmácia através de e-mail ou SMS. Existe uma interligação permanente entre o Pharmacard e o 4DigitalCare®, sendo possível registar todas as vendas efetuadas e aplicar os respetivos descontos duma forma simples e rápida.

4.2 Gestão de stocks

O stock dum produto corresponde à quantidade física do mesmo existente na farmácia. Uma gestão eficiente e rigorosa de stocks é essencial ao bom funcionamento da farmácia, pois evita tanto a rutura de stocks como a acumulação de produtos na farmácia, e garante assim um equilíbrio entre as necessidades dos utentes e a viabilidade económica dos investimentos efetuados. Os produtos existentes na FM são definidos com base na sua rotatividade e sazonalidade, sendo que os que existem em maior quantidade são

(17)

6

aqueles que, normalmente, apresentam maior consumo por parte dos utentes. Esta gestão é feita diariamente e é realizada com auxílio do sistema informático, que permite definir os stocks mínimo e máximo na ficha do produto. Periodicamente, são realizados inventários com o intuito de registar a totalidade dos produtos que se encontram armazenados na farmácia e identificar possíveis erros de stock.

4.3 Encomendas e aprovisionamento

4.3.1 Seleção de fornecedores e aquisição de produtos

Grande parte dos produtos farmacêuticos existentes na FM são adquiridos através de distribuidores por grosso. A FM trabalha essencialmente com 4 distribuidores grossistas: OCP Portugal, Cooprofar, Alliance Healthcare e A. Sousa. A seleção do fornecedor é feita consoante a disponibilidade de produtos, a rapidez de entrega, e as condições de aquisição por eles oferecidas como, por exemplo, a existência de descontos ou bonificações acordadas com a farmácia. No entanto, certos produtos são comprados diretamente aos laboratórios da indústria farmacêutica, nomeadamente, medicamentos não sujeitos a receita médica (MNSRM) e produtos cosméticos e de higiene corporal (PCHC), dado que, por esta via, é possível adquirir produtos em grande quantidade e com preços promocionais, o que se torna vantajoso para a farmácia em termos económicos.

4.3.2 Realização de encomendas

De um modo geral, na FM são realizadas duas encomendas diárias, que são da responsabilidade de dois profissionais da farmácia. Estas são efetuadas aos dois fornecedores principais da farmácia: OCP Portugal e Cooprofar, e são feitas tendo como orientação o ponto de encomenda sugerido pelo sistema informático, ou seja, uma proposta das quantidades a pedir para repor o stock, levando em consideração os stocks mínimos e máximos pré-definidos, o que facilita a execução das encomendas e permite a manutenção dos stocks da FM. Sempre que necessário, são efetuadas encomendas instantâneas por telefone ou via gadget, realizadas normalmente no momento do atendimento. A estes fornecedores, pode-se ainda efetuar uma encomenda por Via Verde para adquirir determinados medicamentos que apresentam disponibilidade reduzida no mercado, quando a farmácia se encontra sem stock dos mesmos, mediante apresentação duma receita médica válida.As encomendas diretas podem ser efetuadas aos laboratórios da indústria farmacêutica ou por intermédio de delegados de informação médica. Para a

(18)

7

sua realização, elabora-se manualmente uma nota de encomenda onde são registados os produtos encomendados, bem como as respetivas quantidades e bonificações. Como foi referido anteriormente, o número de encomendas a realizar e a quantidade de produtos a pedir em cada encomenda irá depender do poder económico da farmácia, dos stocks máximos e mínimos definidos, do espaço disponível para armazenamento, das necessidades dos seus utentes, dos hábitos de prescrição médica e da sazonalidade de alguns produtos.

Ao longo do meu estágio na FM, realizei de forma autónoma encomendas por via telefónica e via gadget. Pude também assistir à realização de encomendas diárias e encomendas diretas aos laboratórios, onde pude perceber a dinâmica do seu processamento.

4.3.3 Receção e verificação de encomendas

As encomendas que chegam à FM são entregues pela porta lateral em contentores de plástico ou em caixas de cartão, conforme o tipo de produtos a receber e o fornecedor. Quando se trata de produtos que necessitam de refrigeração, estes vêm acondicionados em contentores devidamente identificados, com um revestimento especial e contendo acumuladores de gelo no interior. As encomendas fazem-se acompanhar da respetiva fatura ou, no caso das encomendas feitas diretamente aos laboratórios, pela respetiva guia de remessa sendo, nestes casos, a fatura enviada posteriormente.

Quando uma encomenda chega à farmácia, é necessário fazer a sua receção para garantir que o fornecedor entregou o produto certo, em boas condições e na quantidade correta. Para rececionar uma encomenda, seleciona-se o separador “Receção de encomenda” no sistema informático e escolhe-se a encomenda pretendida através do número de identificação da mesma ou, noutros casos, efetua-se uma receção direta. De seguida, é feita a leitura ótica de todos os produtos ou a entrada manual dos mesmos pelo código nacional de produto (CNP), verifica-se se estes estão em boas condições de integridade e confere-se as respetivas quantidades, prazos de validades, preços de venda à farmácia (PVF) e bonificações, caso existam. Posteriormente, analisa-se a margem dos produtos que não possuem preço inscrito na cartonagem (PIC) e calcula-se o respetivo preço de venda ao público (PVP). Quanto aos produtos com PIC, a margem não pode ser alterada, uma vez que o seu PVP já encontra previamente definido e marcado na embalagem. São colocados de parte os produtos sem PIC para posterior etiquetagem, e

(19)

8

os produtos com reservas. Por fim, confirma-se se o valor total faturado corresponde ao valor final calculado pelo sistema informático e, caso estejam concordantes, a receção da encomenda pode ser finalizada.

Durante o meu estágio, participei ativamente nas etapas acima descritas e, dado que o primeiro mês do estágio foi dedicado exclusivamente a estas tarefas, adquiri os conhecimentos necessários para as poder realizar com total autonomia. Foi através da receção e verificação de encomendas que tive o primeiro contacto com os produtos disponíveis na FM e com o sistema informático. Isto deu-me também uma noção concreta acerca dos produtos com mais rotatividade na farmácia e, muitas das vezes, pude saber em primeira mão quais os produtos que se encontravam esgotados e transmitir esta informação à equipa.

4.3.4. Armazenamento

Após a receção das encomendas, os medicamentos e produtos de saúde são armazenados na farmácia. Esta etapa é crucial para garantir uma boa conservação dos mesmos, sendo importante que as condições de iluminação, temperatura, humidade e ventilação das zonas de armazenamento respeitem as exigências específicas dos produtos, e que estas condições sejam verificadas e registadas periodicamente.

O armazenamento dos produtos na FM segue o princípio “first in, first out” (FIFO), segundo o qual o primeiro produto a entrar na farmácia é o primeiro a sair, exceto para produtos que possuam prazo de validade inferior, os quais são arrumados de forma a sair primeiro, de acordo com a regra “first expired, first out” (FEFO). Os medicamentos sujeitos a receita médica (MSRM) estão armazenados por ordem alfabética no interior da farmácia, fora do alcance dos utentes, enquanto que os MNSRM, suplementos alimentares e PCHC estão dispostos na área de atendimento ao público, separados por marcas. Os medicamentos que possuem requisitos especiais de conservação são armazenados no frigorífico a uma temperatura entre 2ºC e 8ºC, de modo a e evitar a sua destabilização e deterioração.

Quando iniciei o estágio na FM, esta foi uma das tarefas que realizei com mais frequência, o que me deu a conhecer os diferentes produtos existentes na farmácia. À medida que ia arrumando os produtos, apercebi-me que alguns deles não estavambem armazenados e os critérios de armazenamento, em certos casos, apresentavam alguma

(20)

9

incoerência, o que incentivou a reorganizar o armazenamento da farmácia, em conjunto com outros membros da equipa, processo que está descrito na Parte 2 deste relatório.

4.3.5 Controlo de prazos de validade e devoluções

Na FM, o controlo dos prazos de validade é efetuado no momento da inserção das encomendas no sistema, produto a produto, e mensalmente, a partir da impressão de listagens dos produtos cujo fim de validade se aproxima, com antecedência de 3 meses. O farmacêutico responsável analisa as listagens e, caso se trate de um produto com rotatividade na farmácia, este é armazenado novamente com a indicação de proximidade do fim da validade, caso contrário, é emitida uma nota de devolução ao respetivo fornecedor, com a justificação de proximidade do fim do prazo de validade.

Para além da expiração do prazo de validade, existem outros motivos para fazer a devolução de um produto, entre os quais o engano no pedido ou envio do produto e a existência de danos na embalagem. Nestes casos, emite-se igualmente uma nota de devolução para o respetivo fornecedor e coloca-se este documento junto do produto até que seja recolhido pelo distribuidor em questão.

Ao longo do estágio, tive a oportunidade de fazer a verificação dos produtos com validade reduzida analisando, em conjunto com a farmacêutica responsável, a decisão da devolução ou não dos mesmos, e participei também no processo de regularização de devoluções.

5. Dispensa de medicamentos e outros produtos farmacêuticos

A dispensa de medicamentos e outros produtos de saúde é a função mais visível que o farmacêutico desempenha numa Farmácia Comunitária, sendo também a que implica uma relação mais direta com o utente. Sendo o farmacêutico o último interveniente a contactar com o utente antes da toma de medicamentos, este deve assegurar que o utente recebe a informação mais adequada acerca da sua utilização. Quanto à sua dispensa ao público, os medicamentos podem ser classificados em MSRM ou MNSRM.

No final do segundo mês de estágio, comecei a observar e acompanhar o atendimento dos farmacêuticos ao balcão e percebi o quão importante e desafiante é todo o processo de dispensa de medicamentos e aconselhamento ao utente. Após alguns dias de observação, senti-me confiante para iniciar o atendimento ao público de forma independente.

(21)

10

5.1 Medicamentos sujeitos a receita médica

Segundo o Decreto-Lei n.º 176/2006 de 30 de agosto, estão sujeitos a receita médica os medicamentos que se enquadrem numa das seguintes condições: “a) possam constituir um risco para a saúde do doente, direta ou indiretamente, mesmo quando usados para o fim a que se destinam, caso sejam utilizados sem vigilância médica; b) possam constituir um risco, direto ou indireto, para a saúde, quando sejam utilizados com frequência em quantidades consideráveis para fins diferentes daquele a que se destinam; c) contenham substâncias, ou preparações à base dessas substâncias, cuja atividade ou reações adversas seja indispensável aprofundar; d) destinem-se a ser administrados por via parentérica”. Os MSRM podem ainda ser classificados como: i) medicamentos de receita médica renovável; ii) medicamentos de receita médica especial; c) e medicamentos de receita médica restrita.4

5.1.1 Prescrição médica

A prescrição de medicamentos é efetuada com recurso a receitas médicas, que são prescritas segundo a indicação da Denominação Comum Internacional (DCI) do produto, seguida da dosagem, forma farmacêutica, apresentação e tamanho de embalagem, e posologia, sendo esta informação codificada através do respetivo CNP.5 A prescrição de medicamentos deve ser, preferencialmente, feita por via eletrónica, no entanto, excecionalmente, pode ser feita por via manual nos seguintes casos: i) falência do sistema informático; ii) inadaptação fundamentada do prescritor, previamente confirmada e validada anualmente pela respetiva Ordem profissional; iii) prescrição ao domicílio; iv) ou outras situações, até um máximo de 40 receitas médicas por mês.6 A prescrição eletrónica pode ser materializada, caso se efetue a impressão da receita em papel, ou desmaterializada, quando a receita é acessível e interpretável por meio de um equipamento eletrónico sem recurso ao papel.4

Durante o meu estágio, contactei com os diferentes tipos de receita médica existentes, o que me permitiu conhecer em pormenor as suas características e os procedimentos para a sua validação. No entanto, a maioria dos episódios de atendimento que efetuei implicaram a dispensa de MSRM mediante a apresentação da prescrição médica eletrónica materializada. A meu ver, este tipo de receitas tem a vantagem de diminuir a probabilidade de erro na dispensa de medicamentos, uma vez que já inclui os códigos de

(22)

11

guia de tratamento da prescrição, códigos de acesso e dispensa, e os CNP dos produtos, permitindo ao farmacêutico realizar o atendimento duma forma mais cómoda e segura.

5.1.2 Validação da prescrição médica

Aquando da dispensa de medicação prescrita através duma receita manual, confere-se confere-se a receita foi preenchida corretamente, ou confere-seja, confere-se nela constam o nome e número de beneficiário do utente, regime de comparticipação, vinheta do médico, justificação para uso da prescrição manual, assinatura do médico e data de prescrição, se se encontra dentro do prazo de validade (30 dias) e se não apresenta rasuras. Quando o tamanho da embalagem ou a dosagem não estão definidos na receita, o farmacêutico deve dispensar a embalagem mais pequena e a dosagem mais baixa comercializadas. As receitas eletrónicas não necessitam de verificação pois só permitem a dispensa dos medicamentos que constam da prescrição, durante a validade da mesma.6 Independentemente do tipo de

prescrição, o farmacêutico deve analisar a receita com espírito crítico, sendo da sua responsabilidade confirmar se as dosagens e esquemas posológicos indicados pelo médico estão corretos, e verificar a possível existência de interações medicamentosas tendo em conta o historial farmacoterapêutico do utente.

Ao longo do estágio, sempre que efetuei a dispensa de MSRM, perguntei ao utente se era a primeira vez que ia tomar os medicamentos prescritos ou se já os tomava habitualmente e, neste segundo caso, sempre que possível, comparava a prescrição médica com o histórico do utente presente na sua ficha de cliente, para confirmar se a prescrição estava correta. Apercebi-me várias vezes da existência de erros nas receitas médicas, relativamente às dosagens e quantidades prescritas e, nestas situações, aconselhei os utentes a contactar o médico, de modo a alterar a prescrição ou, caso isto não fosse possível, procurei encontrar alternativas compatíveis com a terapêutica do utente. Como exemplo, retrato o caso de um utente que me apresentou uma prescrição médica de pantoprazol 20 mg e, ao verificar a sua ficha de cliente no sistema informático, apercebi-me que este costumava comprar, periodicamente, pantoprazol 40mg. Posto isto, coloquei-lhe algumas questões para perceber se esta alteração de dosagem era ou não intencional, e concluí que tinha sido um erro de prescrição. Como o utente não tinha possibilidade de voltar ao médico para que este lhe fornecesse uma nova receita, avaliei a situação em conjunto com um dos farmacêuticos e aconselhei o utente a levar a

(23)

12

embalagem de 20mg e tomar o dobro dos comprimidos que tomava habitualmente, ou seja, 2 comprimidos de 20mg por dia, de modo a perfazer a dose recomendada de 40mg.

5.1.3 Verificação de receituário e faturação

Para efetuar a verificação das receitas, é feita a sua separação nas respetivas entidades, ordenadas sequencialmente em lotes de 30. De seguida, verifica-se se os medicamentos dispensados correspondem aos que constam na prescrição, se foi feita uma cópia do cartão de beneficiário, caso o utente usufrua de uma entidade de comparticipação adicional, e se o verso da receita foi carimbado, assinado e datado. Após a conferência das receitas, cada lote completo é acompanhado pelo respetivo Verbete de Identificação de Lote e, no final de cada mês, é emitida a Relação de Resumo de Lotes, com os dados de todos os lotes de cada organismo e a fatura mensal da FM. As receitas comparticipadas pelo Serviço Nacional de Saúde são enviadas para a Administração Regional de Saúde, e as receitas dos restantes regimes de comparticipação são enviadas para a ANF, para serem tratadas pela entidade competente, e para que a farmácia receba o respetivo valor de comparticipação. Caso existam erros nas receitas enviadas, estas são devolvidas à farmácia para serem analisadas e corrigidas.

Durante o estágio, pude acompanhar e contribuir para todo o processo de verificação do receituário, onde pude constatar que a principal causa para a não validação das receitas é a expiração do prazo de validade das mesmas.

5.1.4 Medicamentos genéricos

Medicamentos genéricos são medicamentos com a mesma composição qualitativa e quantitativa em substâncias ativas, a mesma forma farmacêutica e cuja bioequivalência com o medicamento de referência tenha sido demonstrada por estudos de biodisponibilidade apropriados.4 A FM trabalha essencialmente com 3 empresas

comercializadoras de medicamentos genéricos: Sandoz, KRKA e grupo Teva (Mepha, Ratiopharm e Teva). Durante o estágio, apercebi-me que muitos utentes tomavam medicamentos genéricos com regularidade, enquanto que outros apresentavam algum ceticismo e insegurança quanto à sua toma. Sempre que possível, no ato de dispensa, informei os utentes acerca da existência ou não de medicamentos genéricos e qual o medicamento comercializado com o preço mais baixo, apresentando-lhes as vantagens e desvantagens destes medicamentos, por forma a respeitar o seu direito de escolha.5

(24)

13

5.1.5 Medicamentos sujeitos a receita médica especial

Estão sujeitos a receita médica especial os medicamentos que i) contenham, em dose sujeita a receita médica, uma substância classificada como estupefaciente ou psicotrópico; ii) possam, em caso de utilização anormal, dar origem a riscos importantes de abuso medicamentoso, criar toxicodependência ou ser utilizados para fins ilegais; iii) ou contenham uma substância que, pela sua novidade ou propriedades, por precaução, se inclua nas situações previstas em ii).4

Os medicamentos estupefacientes e psicotrópicos são medicamentos que atuam no sistema nervoso central e, embora possuam propriedades benéficas para a saúde humana, estão associados a efeitos adversos marcados, podendo causar dependência física e psicológica, pelo que exigem um controlo muito rigoroso desde a sua prescrição até à dispensa ao utente. Para além das regras aplicadas à dispensa de MSRM, quando se procede à dispensa deste tipo de produtos é ainda necessária a apresentação do cartão de cidadão ou bilhete de identidade do adquirente, o preenchimento dos dados do adquirente (nome completo, número do cartão de cidadão ou bilhete de identidade e respetivas data de emissão ou data de validade, idade e registo do número da receita), dos dados do médico prescritor e dos dados do utente. Finalizada a venda, são emitidos dois documentos comprovativos da dispensa dos medicamentos, sendo o original arquivado na farmácia por um período de 3 anos e o duplicado devolvido ao fornecedor, juntamente com o respetivo guia de requerimento.

Inicialmente, na FM, os medicamentos psicotrópicos estavam armazenados juntamente com os restantes medicamentos. No âmbito do Tema 2 desenvolvido no meu estágio, procedeu-se à criação duma gaveta reservada exclusivamente para o armazenamento de psicotrópicos, permitindo assim um maior rigor no controlo e dispensa destes produtos na farmácia.

5.2 Medicamentos não sujeitos a receita médica

Os MNSRM são medicamentos que podem ser adquiridos sem a apresentação de uma receita médica. Alguns dos MNSRM são de venda exclusiva em farmácia, enquanto outros podem ser comercializados noutros locais devidamente autorizados. A dispensa destes produtos requer um cuidado acrescido devido à possibilidade de automedicação e consequente risco de sobredosagem. Como tal, quando dispensamos MNSRM, é importante garantir que os utentes compreendem o seu modo de utilização e salientar qual

(25)

14

a dose diária máxima recomendada. Os MNSRM que mais dispensei durante o estágio foram analgésicos, anti-histamínicos e cicatrizantes.

5.2.1 Medicamentos não sujeitos a receita médica de dispensa exclusiva em farmácia

A categoria de medicamento não sujeito a receita médica de dispensa exclusiva em farmácia (MNSRM-EF) foi introduzida no quadro legal português em 2013 e, como o próprio nome indica, engloba medicamentos que, pelas suas características e dado o enquadramento da patologia a que se destinam, são considerados seguros para a disponibilização ao utente sem a obrigatoriedade de uma receita médica mas, no entanto, possuem algum atributo que requer a sua dispensa sob a supervisão de um profissional de saúde, neste caso o farmacêutico, de modo a garantir uma utilização segura e eficiente do medicamento. 7 Os MNSRM-EF podem então ser dispensados na farmácia sem prescrição

médica caso a sua DCI conste na lista estabelecida pelo INFARMED para a regulamentação destes produtos.

5.3 Medicamentos e produtos de uso veterinário

Os medicamentos veterinários sempre foram muito procurados na FM pois o seu ex-proprietário dedicava-se ao estudo e preparação destes produtos. Por este motivo, muitos utentes ainda se deslocam à FM quando necessitam de produtos destinados a animais ou têm dúvidas quanto à sua utilização.

No decurso do meu estágio, contactei com diferentes produtos veterinários, principalmente, antiparasitários internos e externos e anticoncecionais, na sua grande maioria direcionados a gatos e cães, sendo que também me apercebi que alguns utentes procuravam com alguma frequência antialérgicos e antimicrobianos para os seus animais de companhia. Tive também a oportunidade de assistir a uma formação sobre a gama de produtos Frontline®, na qual foi feita uma abordagem acerca dos parasitas externos mais comuns dos animais de companhia e das principais doenças que estes transmitem, bem como quais as medidas para os combater, nomeadamente, através do uso de antiparasitários e/ou repelentes. Ao contactar com os produtos veterinários percebi que, aquando da sua dispensa, é fundamental ter em conta a idade e o peso do animal, bem como o ambiente em que normalmente está inserido. Dado que este tema não é incluído

(26)

15

no plano curricular do MICF, considero que na FM adquiri os conhecimentos base necessários à dispensa e aconselhamento corretos deste tipo de produtos.

5.4 Produtos cosméticos e de higiene corporal

Designa-se por produto cosmético “qualquer substância ou mistura destinada a ser posta em contacto com as diversas partes superficiais do corpo humano, designadamente epiderme, sistemas piloso e capilar, unhas, lábios e órgãos genitais externos, ou com os dentes e as mucosas bucais, com a finalidade de, exclusiva ou principalmente, os limpar, perfumar, modificar o seu aspeto, proteger, manter em bom estado ou de corrigir os odores corporais”.8

Na FM existe uma grande variedade de PCHC dispostos de forma apelativa na zona de atendimento ao público, destacando-se as marcas Bioderma®, Caudalie®, Uriage®, Martiderm®, Lierac®, La Roche Posay®, Vichy®, Apivita® e SkinCeuticals®. Cada profissional da farmácia gere uma ou mais marcas, ficando responsável por conhecer aprofundadamente as características dos respetivos produtos, de modo a esclarecer a equipa quando surgem dúvidas, e também pela organização de campanhas e eventos. Durante o período do meu estágio, pude assistir a formações de algumas destas marcas de dermocosmética, nomeadamente, ISDIN®, Martiderm® e Apivita®, o que me deu uma maior segurança no aconselhamento dos seus produtos aos utentes.

5.5 Produtos de puericultura e obstetrícia

Na FM, existem vários tipos de artigos de puericultura, tais como biberons, chupetas, fraldas, tetinas e ainda produtos alimentares, como leites e papas. Para além disso, há também muita procura de PCHC para bebés, principalmente, para peles atópicas e crosta láctea. Na área da obstetrícia, os produtos que mais me solicitaram incluem cremes anti-estrias e sacos de conservação de leite materno.

5.6 Suplementos alimentares

Suplementos alimentares são “géneros alimentícios que se destinam a complementar e/ou suplementar o regime alimentar normal e que constituem fontes concentradas de determinadas substâncias nutrientes ou outras com efeito nutricional ou fisiológico”. 9 A

(27)

16

Veterinária (DGAV). É importante salientar que a rotulagem, apresentação e publicidade dos suplementos alimentares não pode incluir menções que atribuam aos mesmos propriedades profiláticas, de tratamento ou curativas de doenças humanas.9

Na FM existe uma enorme variedade de suplementos alimentares, consequência da grande procura destes produtos pela população, destacando-se os complexos multivitamínicos, suplementos de cálcio e magnésio, tónicos cerebrais e reguladores do sono. No atendimento ao público, os suplementos alimentares mais solicitados incluem produtos para reforçar o sistema imunitário, reduzir a fadiga física e mental, e regular o sono. Aquando da dispensa de suplementos alimentares, pude alertar os utentes para o facto de algumas substâncias neles presentes poderem interferir com determinados medicamentos, nomeadamente, a interação da vitamina C em doses elevadas com os contracetivos orais, e informá-los que estes não devem ser utilizados como substitutos de um regime alimentar variado.

5.7 Dispositivos médicos

De acordo com a legislação em vigor10, os dispositivos médicos (DM) incluem instrumentos, aparelhos, equipamentos, materiais ou artigos cujo principal efeito não seja alcançado por meios farmacológicos, imunológicos ou metabólicos e seja destinado a seres humanos para fins preventivos, terapêuticos ou de diagnóstico. Os DM são integrados em classes (I, IIa, IIb e III) consoante a vulnerabilidade do corpo humano e atendendo aos potenciais riscos decorrentes da conceção técnica e do fabrico.

Ao longo do meu estágio na FM, contactei diariamente com diversos DM, destacando-se o material de penso, dispositivos para ostomizados, dispositivos para incontinência urinária e dispositivos para ortopedia. Presenciei também a introdução na farmácia de um novo DM de classe IIa (médio risco), o Golamir 2Act® Spray sem álcool, um spray nebulizador à base de complexos moleculares vegetais, indicado para o alívio de dores de garganta. Em relação a este produto, foi-me proposto fazer uma pesquisa acerca das suas propriedades e conselhos de utilização, e apresentá-los, sumariamente, aos membros da equipa da farmácia. Dado que não frequentei a Unidade Curricular Complementar Dispositivos Médicos no MICF, o contacto com estes produtos durante o estágio foi muito vantajoso para a minha aprendizagem e aconselhamento.

(28)

17

6. Cuidados de saúde prestados pela farmácia

6.1. Medição de parâmetros fisiológicos e bioquímicos

Na FM são realizadas determinações de parâmetros fisiológicos e bioquímicos, nomeadamente, a pressão arterial sistólica e diastólica, frequência cardíaca, glicemia e colesterol total. Estas medições são efetuadas num local reservado para o efeito, que está equipado com todo o material necessário à sua execução. A FM dispõe também duma balança antropométrica digital que permite determinar o peso, a altura e o índice de massa corporal (IMC). A medição regular destes parâmetros é extremamente importante no controlo de doenças crónicas, como a hipertensão arterial, diabetes e dislipidemias, podendo também auxiliar no diagnóstico de novos casos destas doenças.

Durante o meu estágio, realizei regularmente a determinação dos parâmetros supracitados, destacando-se a medição da pressão arterial, que foi o parâmetro mais requisitado pelos utentes. Nestas situações, pude sensibilizar os utentes para os benefícios da adoção de hábitos saudáveis no controlo destes parâmetros, como uma alimentação adequada e a prática de exercício físico, bem como estimular a adesão à terapêutica e o uso correto do medicamento. Muitas das vezes, solicitei aos utentes o registo dos valores num cartão fornecido pela farmácia para que pudesse haver um seguimento dos parâmetros fisiológicos e bioquímicos dos mesmos e efetuar assim um melhor aconselhamento consoante a sua evolução. Em certos casos, esta medida funciona como um incentivo aos utentes para efetuar a medição destes parâmetros com maior frequência, pelo que muitos se deslocam regularmente à farmácia apenas para esse efeito. Tive também a oportunidade de dispensar os aparelhos de medição de pressão arterial e de medição da glicemia a alguns utentes que mos solicitaram, onde lhes pude explicar em pormenor o funcionamento dos mesmos, e pedindo ao próprio utente que exemplificasse o manuseio do aparelho, para que pudesse efetuar a monitorização em casa de forma correta. Tive ainda a possibilidade de participar em rastreios cardiovasculares gratuitos, realizados no âmbito do projeto “Maio, mês do coração”, que se encontram descritos na Parte 2 do presente relatório.

6.2. Consultas de nutrição

A cada duas semanas, na FM, são realizados por uma nutricionista rastreios e consultas de nutrição. Em primeiro lugar, é feita uma primeira consulta com uma duração de 30 minutos onde são avaliados os hábitos alimentares do utente e lhe é proposto um

(29)

18

plano alimentar personalizado. Posteriormente, são realizadas consultas de acompanhamento para avaliar a evolução do utente, com duração de cerca de 15 minutos.

6.3. Consultas de acompanhamento a indivíduos com psoríase

Uma das grandes mais-valias da FM é a existência de um programa de acompanhamento a doentes com psoríase denominado “Ensinar a viver com psoríase”, fomentado pela Dra. Fernanda Santos. No âmbito desta iniciativa, são realizadas na farmácia consultas periódicas de acompanhamento a utentes com esta patologia, onde se avalia seu o historial clínico, bem como o estilo de vida, tendo por base uma abordagem holística da doença. Com base nisto, é proposta ao utente uma intervenção terapêutica personalizada, com recurso a medidas farmacológicas e não farmacológicas, que varia consoante a situação presente. A abordagem consiste, normalmente, na recomendação de um produto manipulado produzido na Farmácia Alvim, patente das farmácias do Grupo Gomes dos Santos, e de produtos de higiene corporal e capilar, associados a alterações no estilo de vida. É também realizado um forte incentivo para a adesão à terapêutica, que se tem revelado crucial para o sucesso das intervenções. Durante o meu estágio, tive a oportunidade de acompanhar um utente com psoríase, cujo caso clínico está descrito na Parte 2 deste relatório.

6.4. Preparação individualizada da medicação

Os profissionais da FM preparam a medicação semanal para dois utentes da farmácia que, devido à sua idade avançada e problemas de saúde, não têm capacidade de o fazer sozinhos. Os medicamentos são separados por dia da semana e por refeição, e são devidamente acondicionados. Tal como descrito no manual de BPF2, a medicação deve ser preparada para um curto período de tempo, de forma a manter a conservação dos medicamentos e garantir a integridade, qualidade, eficácia e segurança dos mesmos. Deve-se ainda manter um contacto frequente com o utente de modo a promover a adesão à terapêutica.

6.5. Administração de vacinas e medicamentos injetáveis

Na FM, há farmacêuticos com formação complementar específica para a administração de vacinas não incluídas no PNV e medicamentos injetáveis aos utentes.

(30)

19

Este serviço é cada vez mais requisitado pelos utentes, uma vez que lhes possibilita uma maior comodidade. A procura destes serviços é mais marcada no outono e inverno, que corresponde à época de administração da vacina da gripe.

6.6. VALORMED

A VALORMED é uma sociedade sem fins lucrativos que visa a gestão de resíduos de embalagens vazias e de medicamentos fora de uso através dum sistema autónomo e seguro de recolha e tratamento deste tipo de resíduos.11 Nos contentores da VALORMED disponíveis nas farmácias comunitárias podem ser depositados medicamentos fora de prazo ou que já não são utilizados, bem como os materiais usados no acondicionamento e embalagem dos produtos adquiridos (cartonagens vazias, folhetos informativos, frascos, blisters, ampolas, bisnagas, etc.), e também os acessórios usados para facilitar a sua administração (colheres, copos, seringas doseadoras, conta gotas, cânulas, etc.).12 Não

devem ser entregues agulhas ou seringas, termómetros, aparelhos elétricos ou eletrónicos, gaze e material cirúrgico, produtos químicos, fraldas e radiografias. Esta iniciativa é de extrema relevância nos dias de hoje, tendo em conta o impacte ambiental que o medicamento pode causar enquanto resíduo, tanto a nível da sustentabilidade dos ecossistemas como da nossa própria saúde, pelo que compete ao farmacêutico contribuir ativamente na sensibilização dos utentes para as boas práticas ambientais.

A FM é aderente ao sistema VALORMED, constituindo um ponto de recolha de medicamentos ou resíduos que os utentes pretendam descartar, sendo que os resíduos que chegam à farmácia são suficientes para encher, em média, 3 contentores por semana. Os contentores cheios são recolhidos pelo distribuidor grossista OCP Portugal, que garante a entrega dos mesmos à VALORMED. Durante o período em que estive ao balcão, fui várias vezes abordada por utentes que pretendiam descartar os seus medicamentos fora do prazo ou as embalagens que já não utilizavam. Sempre que possível, expliquei-lhes o funcionamento da iniciativa VALORMED e sensibilizei-os para a importância de se dirigirem à farmácia para deixar os seus resíduos de medicamentos, para que estes sejam colocados nos contentores apropriados e não no lixo doméstico.

7. Formações complementares

Face ao permanente avanço do conhecimento científico em diversas áreas da saúde, é fundamental que o farmacêutico esteja bem informado e sempre a par destas

(31)

20

atualizações, para que possa prestar cuidados de saúde da melhor forma possível. Por estes motivos, a formação contínua do farmacêutico é uma obrigação profissional.2 Durante o meu estágio, tive a oportunidade de frequentar várias formações internas e externas, onde fiquei a conhecer com maior detalhe muitos dos produtos disponíveis na FM, e que me forneceram ferramentas para efetuar um melhor aconselhamento farmacêutico, bem como algumas noções de marketing. As formações que frequentei foram as seguintes:

- Formações internas (na FM)

• Formação sobre a gamas de solares e pediátrica ISDIN® • Formação sobre os produtos Lenodiar® da Aboca® • Formação sobre os produtos da Medinfar®

• Formação sobre os produtos da Moreno® • Formação sobre a gama Apivita®

• Formação sobre os produtos da Farmodiética® • Formação sobre os produtos da gama Frontline® • Formação sobre os produtos da Silfarma® • Formação sobre os produtos da Martiderm® - Formações externas

• Formação sobre a gama ISDIN®, no Hotel Meliã, Braga

• Formação sobre Saúde Oral, da GSK®, no Museu D. Diogo de Sousa, Braga

Parte 2 – Apresentação dos temas desenvolvidos

Tema 1 – Vacinação em Portugal

1. Enquadramento

A vacinação é considerada uma das maiores conquistas médicas da civilização moderna, salvando cerca de 2 a 3 milhões de vidas por ano.13 A par da introdução de água potável e dos progressos a nível do saneamento, habitação e nutrição, as vacinas contribuíram para uma redução significativa da mortalidade infantil devido a doenças infeciosas, desde o início do século XIX até à atualidade, especialmente nos países desenvolvidos.14

(32)

21

A primeira contribuição para o desenvolvimento das vacinas surgiu das experiências realizadas pelo médico e naturalista britânico Edward Jenner, em 1796, que se baseavam na inoculação do vírus da varíola em indivíduos previamente infetados com varíola bovina, uma doença benigna. Jenner verificou que os indivíduos infetados com a varíola bovina não eram contagiados pelo vírus da varíola, e desenvolveu assim uma vacina contra esta doença.14, 15 Mais tarde, em 1885, Louis Pasteur desenvolveu a vacina contra a raiva a partir de cérebro de coelho infetado com o vírus.14 Daí em diante, com o avanço do conhecimento nas áreas da microbiologia e imunologia, e o aparecimento de novas tecnologias, foram desenvolvidas vacinas contra inúmeras doenças virais e bacterianas que afetam crianças em todo o mundo, como o sarampo, rubéola, papeira, rotavírus, tétano, difteria, infeções por Haemophilus influenzae, Streptococcus pneomoniae e Neisseria meningitidis do grupo C.13 Desde então, têm sido desenvolvidos programas de

imunização em todo o mundo, e várias metas têm sido alcançadas no campo da saúde pública, entre as quais se destaca a erradicação de duas doenças: a varíola e a peste bovina, ou seja, a permanente redução a zero da incidência destas doenças a nível mundial.14, 16 Outras conquistas relevantes passam pela eliminação da poliomielite em várias parte do mundo e uma forte redução do número de casos de sarampo, rubéola e tétano.17 Em Portugal, a criação do PNV em 1965 foi determinante para a diminuição da taxa da mortalidade infantil no país e, nos dias de hoje, verificam-se taxas de cobertura vacinal em indivíduos até 12 meses de idade acima dos 97% para as vacinas contra a hepatite B, difteria, tétano e tosse convulsa, doença invasiva por H. influenzae serotipo b, poliomielite e infeções por S. pneumoniae de 13 serotipos.18

Atualmente, a vacinação profilática é considerada uma das formas de intervenção médica mais baratas e mais eficazes.19 O avanço no conhecimento científico nesta área, nas últimas décadas, tem permitido o desenvolvimento de novos tipos de vacinas contra diversos agentes infeciosos. Para além das aplicações das vacinas na prevenção de doenças infeciosas, estas também podem potencialmente ser usadas para a prevenção e tratamento de outras patologias, como o cancro e as alergias.20, 21

Apesar destes sucessos, doenças para as quais existe vacinação ainda são endémicas em várias partes do globo19, e as metas estabelecidas no âmbito do Global Vaccine Action

Plan 2011-2020, que passam por garantir o acesso universal à imunização, estão longe de ser atingidas.17 Estima-se que 6,3 milhões de crianças com menos de 15 anos morreram

no ano de 2017, sendo que no conjunto das principais causas de morte infantil, encontram-se doenças infeciosas como a pneumonia e a diarreia, cuja prevenção é possível através

(33)

22

da vacinação.14, 22 A reemergência e persistência destas doenças deve-se a um vasto conjunto de fatores, como o aparecimento de estirpes mais virulentas, a falta de cobertura de imunização em países em desenvolvimento e em zonas de guerra, as correntes de anti-vacinação e o aumento do turismo internacional.19 Os profissionais de saúde desempenham um papel preponderante no combate a este flagelo, que passa pela sensibilização dos cidadãos para a importância da vacinação na redução da incidência de doenças infeciosas, transmitindo-lhes, com clareza, informações acerca das vantagens e desvantagens desta prática, sempre fundamentadas em conhecimentos científicos atualizados.

1.1. Vacinas: o que são e como funcionam?

Quando um agente patogénico, como um vírus ou uma bactéria, invade o corpo humano, este multiplica-se e desencadeia uma infeção, que vai ser combatida por mecanismos de defesa acionados pelo sistema imunitário. Neste processo, estão envolvidos, essencialmente, 3 tipos de células: i) os macrófagos, responsáveis pela fagocitose de microorganismos e outros agentes externos, e pela apresentação de antigénios, moléculas normalmente presentes na superfície dos agentes patogénicos, que são cruciais para desencadear a resposta imune; ii) os linfócitos T, que destroem as células infetadas pelo agente patogénico (citotóxicos) ou libertam mediadores que estimulam a atividade de outras células do sistema imunitário (auxiliares); iii) e os linfócitos B, que produzem anticorpos contra os antigénios dos agentes patogénicos. Num primeiro contacto do nosso organismo com um determinado agente patogénico, pode levar vários dias para que sejam acionados todos os mecanismos de defesa necessários ao controlo da infeção. Na maioria das vezes, após o primeiro contacto com o agente infecioso, alguns dos linfócitos B e T produzidos durante a infeção permanecem no organismo, designados por células de memória, que vão permitir uma resposta mais rápida e eficaz aquando dum segundo contacto com o mesmo agente. Este processo denomina-se memória imunológica e está na base do funcionamento das vacinas. As vacinas consistem na administração de agentes infeciosos atenuados, ou partes deles, que vão estimular o sistema imunitário a desenvolver uma resposta de defesa, conferindo proteção ao indivíduo vacinado contra a doença provocada pelo determinado agente infecioso. As vacinas mimetizam uma infeção, levando o sistema imunitário a produzir linfócitos T e anticorpos contra o agente patogénico, e a criar memória imunológica, onde praticamente

(34)

23

não se manifestam sintomas da doença. No futuro, se o individuo vacinado contactar com o agente infecioso, o sistema imune irá desencadear uma resposta rápida, prevenindo o desenvolvimento da doença.23 A proteção conferida pelas vacinas demora, em geral, algumas semanas a ser adquirida, e pode ser necessária mais do que uma dose da vacina para garantir uma imunização adequada.24 Nestes casos, em que é o próprio sistema imunitário que confere proteção ao indivíduo, estamos perante uma imunização ativa. No entanto, quando a pessoa não tem a capacidade de produzir anticorpos ou quando é necessária uma resposta mais imediata, é possível obter-se proteção através da transferência de anticorpos de um indivíduo para outro, processo a que se dá o nome de imunização passiva, como é o caso da transferência de anticorpos da mãe para o feto.

As vacinas podem ser categorizadas consoante o tipo de antigénio utilizado na sua preparação. A maior parte das vacinas recomendadas mundialmente dividem-se, essencialmente, em 5 tipos:

• Vacinas vivas atenuadas, que consistem na administração do agente patogénico vivo e enfraquecido em laboratório, processo designado por atenuação, de modo a provocar uma resposta imune sem causar doença. Existem várias abordagens para a atenuação de agentes infeciosos, que podem envolver o seu crescimento em fibroblastos de embrião de galinha, como acontece com o vírus do sarampo, ou em meios artificiais de crescimento que estejam a uma temperatura inferior à do corpo humano, como é feito para algumas vacinas contra o vírus Influenza, de modo a desenvolver estirpes mutantes menos virulentas para o ser o humano. Este tipo de vacinas tem a vantagem de desencadear fortes respostas imunes celulares e humorais que, na maior parte das vezes, conferem imunidade para toda a vida. Por outro lado, há a possibilidade destas vacinas provocarem a doença para a qual deveriam conferir proteção, ou porque o vírus reverteu à sua forma patogénica, ou por não ser suficientemente atenuada para alguns indivíduos, principalmente, imunossuprimidos.25

• Vacinas inativadas, que consistem na administração do agente patogénico previamente morto através de químicos, calor ou radiação, preservando-se os seus antigénios, membranas e material genético. Estas vacinas são usadas tanto para doenças de origem bacteriana, como a tosse convulsa e a cólera, como para doenças virais, como a poliomielite, e têm a vantagem de serem mais estáveis e seguras do que as vacinas vivas. No entanto, induzem uma resposta mais fraca do sistema imunitário, pelo que é, normalmente, necessária a administração de mais do que uma dose da vacina.23, 25

(35)

24

• Vacinas toxoides, que se baseiam em toxinas produzidas por bactérias, posteriormente inativadas ou enfraquecidas (toxoides). Estas vacinas são úteis para prevenir doenças cujo principal problema é a produção de toxinas pelo agente infecioso, como é o caso do tétano e da difteria.23, 25

• Vacinas de subunidades, que contêm apenas algumas partes de vírus ou bactérias, ou seja, os antigénios que melhor estimulam o sistema imune, e não o microorganismo inteiro. Os antigénios podem ser extraídos diretamente do agente patogénico ou produzidos através da tecnologia de DNA recombinante. Estas vacinas apresentam, geralmente, menos efeitos adversos, como é o caso de algumas vacinas da gripe.23, 25

• Vacinas conjugadas, que resultam duma conjugação de antigénios ou toxoides com polissacarídeos presentes à superfície dos agentes patogénicos, que facilitam o seu reconhecimento pelas células produtoras de anticorpos, aumentando assim a eficácia da vacina, principalmente em crianças, que apresentam um sistema imunitário imaturo.23

Quanto maior o número de pessoas vacinadas contra uma determinada doença dentro duma comunidade, menor a probabilidade de se desenvolver a doença nesse grupo de indivíduos, ou seja, existe imunidade de grupo.23 Desta forma, para além de prevenirem aparecimento de doenças, as vacinas tornam possível o seu controlo, eliminação ou erradicação, e reduzem o sofrimento e a morte.26

1.2. Segurança das vacinas

A vacinação é um tema que tem gerado controvérsia e ceticismo desde a sua introdução no século XVIII. Apesar das conquistas bem documentadas que as vacinas alcançaram ao longo da história, e do que esforço incessante que os profissionais de saúde e investigadores têm feito no sentido de demonstrar a sua segurança e eficácia, continuam a surgir correntes de opinião que se opõe a estes factos, e teorias que alegam que as vacinas causam mais danos do que benefícios.27 Encontram-se vários exemplos ao longo da história desta resistência da comunidade em relação à vacinação, inclusive ao notável e pioneiro trabalho de Jenner neste campo, que foi extremamente criticado pelo população da época, por razões sanitárias, religiosas e políticas. Durante o século XIX, a implementação dos Vaccination Acts no Reino Unido, políticas governamentais que tornaram obrigatória a vacinação das crianças e que aplicavam punições a quem se recusasse a fazê-lo, geraram correntes de anti-vacinação que defendiam que estas leis

Referências

Documentos relacionados

Gráfico 54: Relação entre o desempenho académico (score) dos estudantes que realizaram 135 ou mais ECTS nos primeiros três anos e a classificação de entrada

O Nordeste é uma região com um grande potencial a ser desenvolvido especialmente em relação ao turismo que pode se expandir para outros seguimentos além do sol e praia, mas a

Durante a frequência no Mestrado Integrado em Engenharia Civil, nas unidades curriculares de Planeamento Urbano, Conservação e Reabilitação de Construções,

Da análise da Figura 36 constata-se que é nos Cenários Pacto e cenário 2 que as contribuições para o aquecimento global terão uma redução mais efectiva,

Nesse contexto, o projeto FUTURAR - Qualidade do Ar em Portugal em 2030 - apoio à decisão política, pre- tende investigar os impactos, custos e benefícios das projeções de re-

A organização da metodologia deste trabalho iniciou com a consulta de toda a legislação inerente aos planos de pormenor, passando pela análise de documentos produzidos pelo