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O MIQCB: aspectos organizativos e o processo de onguização do movimento

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIENCIAS SOCIAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICAS PÚBLICAS. O MIQCB: ASPECTOS ORGANIZATIVOS E O PROCESSO DE ONGUIZAÇÃO DO MOVIMENTO. Eliane Sá Amorim Berrêdo. São Luís - MA 2017.

(2) ELIANE SÁ AMORIM BERRÊDO. O MIQCB: Aspectos Organizativos e o Processo de Onguização do Movimento. Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Políticas Públicas Universidade Federal do maranhão, como requisito parcial a obtenção do grau de mestra. Orientadora: Profa. Dra. Joana A. Coutinho.. São Luís – MA 2017.

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(4) Ficha gerada por meio do SIGAA/Biblioteca com dados fornecidos pelo(a) autor(a). Núcleo Integrado de Bibliotecas/UFMA. BERREDO, Eliane Sá Amorim. O MIQCB: Aspectos Organizativos E O Processo De Onguização Do Movimento / Eliane Sá Amorim Bêrredo. - 2017. 108 p. Orientador (a): Joana Aparecida Coutinho. Dissertação (Mestrado) Programa de Pós- Graduação em Políticas Públicas/CCSO, Universidade Federal do Maranhão, São Luis, 2017. 1. Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu-MIQCB. 2. Movimento social. 3. ONGs. I. Aparecida Coutinho, Profa. Dra. Joana. II. Título..

(5) ELIANE SÁ AMORIM BERRÊDO. O MIQCB: Aspectos Organizativos e o Processo de Onguização do Movimento .. Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de PósGraduação em Políticas Públicas da Universidade Federal do Maranhão, para qualificação, sob a orientação da Profa. Dra. Joana A. Coutinho.. Aprovada em:. /. /. BANCA EXAMINADORA. _______________________________________________ Profa. Dra. Joana Aparecida Coutinho (orientadora) Universidade Federal do Maranhão. ____________________________________________________ Profa. Dra. Ilse Gomes Silva Universidade Federal do Maranhão. __________________________________________________ Profa. Dra. Maria Mary Ferreira Universidade Federal do Maranhão.

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(7) À minha mãe, Maria José: mulher, negraque tem em sua história e em suas digitais as marcas de uma quebradeira de coco babaçu. E, ao meu filho, João Emanuel à quem eu anseio deixar um legado da importância da educação..

(8) AGRADECIMENTOS À Deus, a quem devoto toda minha fé na vida! À Professora Joana Coutinho. Minha orientadora com quem partilhei o que era o broto daquilo que veio a ser esse trabalho e que me fez acreditar que posso romper com minhas limitações. Nossas conversas durante e para além dos grupos de estudos foram fundamentais para a materialização desta pesquisa. Às professoras Ilse Gomes e Mary Ferreira pelas contribuições assertivas e valiosas durante a qualificação do projeto e do texto preliminar. Suas contribuições foram fundamentais para o aprofundamento das reflexões ao longo da pesquisa. Ao Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e às pessoas com quem convivi nesse espaço ao longo desses anos. À Instituição financiadora da pesquisa, pois este projeto não teria sido possível sem o apoio da bolsa de Mestrado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Maranhão - FAPEMA. À minha família: meu marido, Jaderney, pessoa com quem escolhi partilhar a vida. Obrigada por sua capacidade de acreditar e investir em mim. Pelo carinho, paciência e habilidade de me trazer paz na correria de cada semestre. E ao meu filho, João Emanuel, por todo amor que me dedicas e que me habilita superar as adversidades. À. minha. Mãe,. minha. referência. de. resistência. nessa. sociedade. preconceituosa, racista e excludente. Ela sempre colocou a educação em primeiro lugar na minha vida. Meu Pai, Teodoro Amorim (in memória) sua presença significou segurança e certeza de que nunca estive sozinha nessa caminhada. Às minhas irmãs: Poliana e Nayjara, e aos meus irmãos Edivaldo, Edmilson e Luís por todo cuidado que dedicaram a mim os tornou boa referência em minha vida. Vocês são a tela da minha história. Aos meus amigos do mestrado, especialmente: Mara, Grace Kelly, Mariana e Inaldo pelas alegrias e descobertas vividas e compartilhadas durante o curso. Às minhas amigas do CRAS Sol e Mar: Laureany, Carol, Socorro, Deury, Mayanna e Karla, com as quais partilhei diariamente os anseios desta produção. As experiências compartilhadas na comunhão com amigos nesse espaço de trabalho contribuíram muito no meu processo de formação. A todos aqueles que de alguma forma estiveram próximos de mim, fazendo esta vida valer cada vez mais a pena..

(9) Envoltas em largas saias, ou colchas cruzadas, rebramando em som, o efeito do machado. Sentadas! Abrem o coco à força, e a pauladas, transformando sonhos, sonhando com achados.Interpretam cantos, causos e resenhas em mentes. Essas bravas mulheres sonham permanentemente. Elas lutam tanto, exterminando o sofrimento. E em lamentos versados, eternizam os sentimentos (José Maria Souza Costa)..

(10) RESUMO O presente estudo tem por objetivo analisar o Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB—, focando a atuação no Estado do Maranhão; investigando sobre seus aspectos organizativos e o processo de institucionalização do movimento. Perpassa a análise da prática do MIQCB no projeto de autonomia e participação política das mulheres; buscando identificar o momento de institucionalização do movimento, passando a confundir-se em alguns momentos, como uma Organização Não Governamental (ONG). As considerações feitas ao longo do estudo estão baseadas na análise dos dados da pesquisa, e não um exercício de mera abstração. Ao longo da pesquisa, averiguamos a relação do Estado com o Movimento e no que isto reflete no processo de autonomia das quebradeiras de coco. Disserta-se também sobre o papel da assessoria dentro do movimento e no que isto reflete na luta pela autonomia das mulheres-militantes. Palavras- chave: Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco BabaçuMIQCB. Movimento social. ONGs..

(11) ABSTRAT The present study has the objective of analyzing the Interstate Movement of Coco Babaçu - MIQCB -, focusing on the performance in the State of Maranhão; Investigating its organizational aspects and the process of institutionalization of the movement. Performs the analysis of the practice of MIQCB in the project of autonomy and political participation of women; Seeking to identify the moment of institutionalization of the movement, becoming confused at times, such as a NonGovernmental Organization (NGO). The considerations made throughout the study are based on the analysis of the research data, not an exercise of mere abstraction. Throughout the research, we investigated the relationship between the State and the Movement and what this reflects in the process of autonomy of coconut breakers. It also discusses the role of counseling within the movement and what this reflects in the struggle for autonomy of women-militants. Keywords: Interstate Movement of Babaçu-MIQCB Coco Breakers. Social movement. NGOs..

(12) SÍMBOLOS, ABREVIATURAS E SIGLAS.. ABONG - Associação Brasileira das Organizações Não Governamentais. ATER-Programa de Assessoria Técnica, Social e Ambiental à Reforma Agrária. CEBs- Comunidades Eclesiais de Base. CEPAL - Comissão Econômica para a América Latina e Caribe. CEPIS- Centro de Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiæ. CIMIQCB- Cooperativa Interestadual do Movimento Interestadual das Quebradeiras e Coco Babaçu. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IPEA- Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. MIQCB- Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu. OMS- Organização Mundial da Saúde. ONG- Organização Não Governamental. ONGD- Organização Não Governamental de Desenvolvimento. ONU- Organização das Nações Unidas. PNAD- Pesquisa por Amostra de Domicilio. PNUD-Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. SENAES- Secretaria Nacional. UFMA- Universidade Federal do Maranhão. UNIFEM- Fundo de Desenvolvimento das Nações Unidas para Mulheres..

(13) LISTA DE QUADROS. Quadro 01:Organizações Cadastradas na ABONG por Região...............................42 Quadro 02: ONGs Maranhenses Cadastradas na ABONG.......................................42 QUADRO 03: Rede de grupos produtores do coco babaçu.......................................76 QUADRO 04: cadeia produtiva do babaçu.................................................................80 Quadro 05: Estrutura Organizativa do MIQCB...........................................................83.

(14) ANEXOS Anexo01: Questionário de Entrevistas (coordenadoras).......................................105 Anexo02: Questionário de Entrevistas (assessora)................................................106 Anexo03: Termo de Consentimento livre sobre entrevista ....................................107.

(15) SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 16 1. CAPÍTULO I: MOVIMENTOS SOCIAIS, ONGS E SUAS TRANSFORMAÇÕES NO CONTEXTO NEOLIBERAL. ...................................................................................... 25 1.2. Contexto histórico e abordagens contemporâneas dos Movimentos sociais. .... 26 1.2. De movimentos sociais às Organizações não Governamentais: Desdobramentos da ação coletiva. ....................................................................................................... 34 1.3. Neoliberalismo e ONGs na América Latina e no Brasil ...................................... 38 2. CAPITULO II O MOVIMENTO FEMINISTA E A (IN) GERÊNCIA DAS ONGs ...... 50 2.1. Feminismo, emancipação e lutas sociais ........................................................... 51 2.2. As lutas feministas: um debate no interior do movimento. ................................. 59 2.3. A intervenção das ONGs nos movimentos feministas. ....................................... 63 3. CAPÍTULO III: O MIQCB E SEUS ASPECTOS ORGANIZATIVOS E O PROCESSO DE ONGZAÇÃO DO MOVIMENTO. .................................................... 70 3.1. Terra de babaçu e campo de conflito: a luta das mulheres quebradeiras de coco pelo babaçu livre ....................................................................................................... 70 3.2. A transfiguração do MIQCB: da inserção na cadeia produtiva à institucionalização. .................................................................................................... 76 3.3. Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu e o processo de organização movimento. ........................................................................................... 83 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 96 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................... 99.

(16) 16. INTRODUÇÃO Este trabalho é fruto de inquietudes que tem seu lugar de origem no povoado Pericumã, na região da baixada maranhense, situado no município de Bequimão – MA. Neste lugar acompanhei minhas avós, minha mãe e as mulheres da minha família na busca pelo coco babaçu, mata à dentro, e o empenho pela venda da amêndoa para garantir a subsistência da família. A partir dessa experiência, que marcou a minha trajetória de vida, demarco que minhas inquietudes foram tomando forma quando iniciei a caminhada acadêmica, no curso de Serviço social na Universidade Federal do Maranhão e tive a oportunidade de encontrar a Professora Joana Coutinho que me apresentou o caminho epistemológico da pesquisa e com quem partilhei o que era o broto daquilo que veio a se re-significar e se tornar este trabalho. Na pesquisa iniciada na Iniciação científica, nos empenhamos em estudar e desvendar as relações sociais das quebradeiras de coco babaçu no âmbito do MIQCB – lugar o qual elas se inserem como militantes – e analisar a relação desse movimento com as diversas instâncias de parceria e financiamento nacional e internacional. A primeira pesquisa debruçou-se no estudo sobre o significado dos projetos das ONGDs (Organizações Não Governamentais de Desenvolvimento) na vida das mulheres negras no Maranhão e a possibilidade dessas mulheres superarem as precárias condições de vida em que se encontravam: mudando a forma de ver o mundo, de viver em comunidade e até mesmo aspectos fundamentais para sua sobrevivência. Debruçamo-nos em desvendar quais as atividades que geravam renda e trabalho e como as ONGs conseguiam inserir essas mulheres no mercado de trabalho – tendo em vista que dependem da abertura de postos e vagas no mercado. Investigamos o papel que as ONGDs desempenhavam na perspectiva de orientação na busca pela emancipação de mulheres vítimas de discriminação racial, identificando as relações dessas organizações com as políticas estatais, a visão de mundo e projetos que defendem. Este estudo é, em parte, continuação dessa pesquisa que resultou no objeto de estudo do trabalho de conclusão de curso. Na primeira etapa da pesquisa adentramos no universo dos movimentos sociais e das Organizações Não Governamentais de mulheres Negras no Maranhão, destacando o papel que as.

(17) 17. ONGs desempenham na implementação de projetos de desenvolvimento para mulheres negras no Maranhão. Analisamos algumas instituições tais como: MIQCBMovimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, Grupo de mulheres Negras Mãe Andresa,Grupo de Mulheres Negras Maria Firmina, ACONERUQ-MA e Centro de Formação para a Cidadania – Akoni. E, podemos observar que esses projetos estão em geral focados no “desenvolvimento local” e na “autosustentação” da comunidade. Porém, essas organizações, na sua maioria, investem um grande esforço para implementar seus projetos usando a informação e a participação como seus recursos máximos, mas, com investimento mínimo de capital. Isto resulta, na maioria das vezes, na disputa entre as "comunidades" pelos parcos recursos, gerando rivalidades intra-comunidades, corroendo a solidariedade de classes e transformando — quando a experiência é exitosa — o lugar numa “ilha de fantasia” (Petras, 1996; Mauro, 1998; Coutinho, 2004). No entanto, a maioria desses projetos tem um período de financiamento estipulado pelas agências financiadoras, geralmente ONGs internacionais, e não conseguem transformar a realidade de pobreza real dos envolvidos. Essa pesquisa é uma continuação, já que entendemos que a discussão não foi esgotada ali. Aqui, apresentamos outro recorte: a atuação do MIQCB e suas particularidades no estado do Maranhão, lugar onde tem maior presença da palmeira de coco babaçu e consequentemente mais atuação e visibilidade das ações do MIQCB e, a nossa tese central que é o processo de institucionalização do movimento. O Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu é o responsável pela articulação das mulheres quebradeiras desde o inicio dos anos 1990. Historicamente, essas mulheres adotam formas específicas de organização coletiva e articulação local e interestadual onde tem presença expressiva de palmeiras de coco babaçu e, respectivamente, quebradeiras de coco babaçu. O Maranhão, de acordo com o Censo (IBGE, 2010), é o Estado mais rural do Brasil: dos 6,5 milhões de maranhenses, aproximadamente 2,4 milhões vivem na zona rural, o que equivale a 36,9% da população do Estado. Embora as mudanças nas duas últimas décadas apontem uma acentuada migração para as cidades. Normalmente, os moradores das zonas rurais vivem da agricultura de subsistência e do extrativismo vegetal, do babaçu..

(18) 18. Dados da PNAD (2014) apontam que no Nordeste do país 14,2 milhões de pessoas vivem na zona rural, destes, 48,61 % são mulheres, representando a maior percentagem de mulheres entre sua população rural por região no país.Nessa diversidade, encontram-se trabalhadoras rurais, agricultoras familiares, camponesas, extrativistas, quebradoras de coco babaçu, pescadoras, seringueiras, quilombolas, indígenas e ribeirinhas. É importante ressaltar que o trabalho das mulheres nas zonas rurais permanece em grande medida invisibilizado: elas se ocupam da produção na agricultura familiar, no extrativismo e, muitas vezes sem nenhuma remuneração. Outro dado relevante, para a nossa pesquisa, está no fato de que também a região Nordeste destaca-se por apresentar o maior número de domicílios chefiados por mulheres: 42,6% nos domicílios urbanos e 26,3% nos domicílios rurais. Percebese que a ocorrência de domicílios chefiados por mulheres na zona rural é quase a metade em relação à zona urbana, fato que nos leva a refletir sobre as relações sociais que se diferenciam em larga escala nas duas zonas. Pois de acordo com Sabóia e Soares (2004, p. 32): O crescimento da chefia feminina está relacionado a diversos fenômenos: o aumento da escolaridade das mulheres, que ultrapassa a dos homens em quase todas as faixas etárias, exceto entre as idosas; sua crescente participação no mercado de trabalho e, consequentemente, a contribuição para o rendimento familiar; a maior esperança de vida ao nascer das crianças do sexo feminino; o aumento no número de separações conjugais; e até mesmo mudanças culturais com relação ao papel das mulheres na família.. Outro indicador importante na análise do mercado de trabalho é a taxa de desocupação, que mede a proporção de pessoas economicamente ativas que estão desocupadas. No Brasil, em 2011 a taxa de desocupação foi de 6,9% (IBGE, PNAD, 2011). As mulheres apresentam a taxa de desocupação mais elevada quando comparadas aos homens, ou seja, 9,4% das mulheres em contraponto a uma taxa de 5% dos homens. Em termos regionais, o Nordeste novamente dispara apresentando as maiores taxas de desocupação: 8,3%; e esses valores chegam a 11,4% quando se observa o desemprego aberto apenas entre as mulheres que moram nesta região. Outra desproporção é quando se trata da trabalhadora da zona rural da Região Nordeste que apresenta maior desigualdade quando se compara o rendimento-hora de mulheres e homens com mais escolaridade (R$ 10,9), enquanto a Região Norte tem a menor diferença (R$ 5,4) (IBGE, 2011)..

(19) 19. Esse percentual pode tomar uma dimensão ainda maior quando consideradas como zonas urbanas territórios localizados à beira de estradas, povoados próximo a cidade cujas características são profundamente rurais (Barbosa, 2013). Essa característica deve ser levada em conta quando se trata de análises das transformações que marcam o universo das quebradeiras de coco babaçu. As palmeiras de babaçu ocupam aproximadamente 18,5 milhões de hectares, tendo maior concentração no Estado do Maranhão (10,3 milhões de hectares), aproximadamente 60% dos babaçuais do país. A atividade das quebradeiras de coco babaçu é fonte de renda para aproximadamente 300mil famílias no Estado, chegando ao percentual de 60% das mulheres economicamente ativas na área rural maranhense (IBGE, 2010).Porém, para algumas pessoas, a quebra do coco denota uma atividade não assalariada e se configura como uma extensão das atividades domésticas. O reconhecimento da atividade diária das mulheres que praticam o extrativismo do coco babaçu, a luta pelo acesso e a preservação das palmeiras, e o processo de enfrentamento, de tensões e conflitos específicos pelo acesso e uso comum das áreas de ocorrência de babaçu (que haviam sido cercadas e apropriadas injustamente por fazendeiros, pecuaristas e empresas agropecuárias) impulsionou a organização de coletivo de mulheres nos povoados no início da década de 1990, momento que se consolida a identidade das quebradeiras de coco babaçu1. Em 1995 nasce o MIQCB como um movimento social contemporâneo, de caráter de Organização Não Governamental, muito embora as militantes do grupo não associem este título a organização. Sobre essa questão Mesquita (2008, p. 58) afirma: No início dos anos 1990, com a constituição de uma ONG (Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu – MIQCB), elas têm lutado para dar outro rumo à atuação do Estado e do agronegócio, no que se refere ao meio ambiente. Esse segmento social assume assim um papel que constitucionalmente caberia ao Estado executar, mas do qual se omite [...] essas mulheres, representantes legítimas do quadro de pobreza do Estado, têm assegurado espaço e respeito político e obtido algumas respostas a suas demandas universais que outras ONGs não obtiveram, nesse curto espaço de tempo em que estão formalizadas. As mulheres agroextrativistas se fortalecem, institucionalmente, com apoio importante de ONGs (nacionais e internacionais) e até de governos estrangeiros, via cooperação internacional.. 1. Inicialmente denominado como Articulação de mulheres Quebradeiras de Coco Babaçu (AMQCB), onde mulheres organizam o primeiro Encontro Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu, em São Luís..

(20) 20. O MIQCB (Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu) é um movimento organizado por quebradeiras de coco babaçu, extrativistas, trabalhadoras rurais. Integra o movimento quatro estados brasileiros onde há ocorrência de palmeiras de babaçu: Maranhão, Tocantins, Pará e Piauí e cujo objetivo está em conquistar melhores condições de vida e de trabalho e garantir seus direitos enquanto cidadãs. A proibição da queima do babaçu inteiro e o livre acesso aos babaçuais foram duas das principais conquistas das mulheres organizadas nesse movimento. Atualmente, o movimento tem buscado mobilizar representantes de governos federal, estaduais e municipais para debater alternativas de desenvolvimento para as regiões de babaçuais, buscando garantir o controle das áreas e da produção, agregando valor aos produtos e visando a competição no mercado (Pindova2, 2009). A sede localiza-se no município de São Luís, e, conta ainda, no Estado do Maranhão com mais três regionais: Baixada Maranhense (no município de Viana);Médio Mearim (em Pedreiras) e Imperatriz. Conta com representações nos estados do Tocantins (Bico do Papagaio); Pará, (São Domingos do Araguaia) e no Piauí (Esperantina).A sede do escritório central possui a maior estrutura de recursos materiais e humanos que proporcionam a execução dos projetos do movimento. Os demais escritórios possuem em seu quadro de funcionários apenas uma coordenação executiva e uma assessora técnica que trabalham na execução e manutenção dos projetos. A partir dos anos 1970, tem início a segunda frente de expansão da pecuária (a. primeira. foi. no. período. de. 1920-1950),. bem. como. a. adoção. do. desenvolvimentismo, com o propósito de construir parques industriais no Maranhão. Essa década também é identificada com a queda da produção de amêndoas e perda do espaço do babaçu na economia local e nacional. Reforçando essa análise tem-se a edição de Decretos Estaduais que permitiram que as empresas e as indústrias derrubassem milhares de hectares de babaçu (RÊGO e ANDRADE, 2006, p. 49). As exigências e ameaças dos “donos” das terras se configuram outra ameaça as quebradeiras de coco. Conforme estudos de ALMEIDA (2000) a economia de uma família dedicada à extração das amêndoas de babaçu, sem a figura do fazendeiro, alcançaria uma renda de até duas vezes o valor do trabalho assalariado Pindova é um informativo bimestral que é publicado pelo MIQCB com informações sobre as atividades; encontros e projetos desenvolvidos pelo movimento. Os informativos foram publicados entre o ano de 2005 e 2009, com um total de 11 edições..

(21) 21. vigente no estado do Maranhão, no campo. Mas lhe restava apenas a parte que não era entregue ao fazendeiro, como parte do pagamento pelo uso do fruto colhido em terras “privadas”. Ainda hoje, segundo relato das extrativistas, as ameaças são muitas, desde a interdição do acesso às palmeiras, a queima, o envenenamento das palmeiras e seus frutos, até a concorrência com a indústria. Cada região sofre com um tipo de devastação diferente. O avanço da pecuária bovina e bubalina tem como efeitos imediatos a derrubada das palmeiras para dar lugar ao pasto, como consequência as quebradeiras de coco sofrem diversas formas de exploração e constrangimentos, entre eles: a interdição do acesso aos babaçuais; a cobrança por metade dos cocos coletados; e a compra das amêndoas por atravessadores que revendem para as indústrias de sabão e óleo, além de ameaças de morte e castigos físicos. Essa situação gera uma constante preocupação e por isso, uma das principais metas do Movimento é a aprovação da Lei do Babaçu Livre (no âmbito federal). Em 2008, a Lei estadual foi aprovada e hoje é implementada em nove municípios do Maranhão. A luta é pela ampliação desse debate para que mais municípios sejam contemplados com a Lei do Babaçu Livre e que a Lei Federal que está tramitando no Congresso desde 1995 seja aprovada. A lei visa garantir o livre acesso e o uso comum das palmeiras de coco babaçu às quebradeiras de coco e suas famílias mesmo em áreas privadas e estabelece multas e punições para quem derrubar ou cortar, ou envenenar os babaçuais e determina, ainda, que a fiscalização possa ser feita por entidades representativas da classe dos trabalhadores e trabalhadoras rurais e das quebradeiras de coco, como o MIQCB (Projeto de Lei 231/2007)3 . As quebradeiras de coco passaram a compreender que seria possível lutar e construir uma identidade coletiva, de trabalhadoras e construírem uma estratégia de enfrentamento aos seus antagonistas dentro de um movimento social que as integra, tornando-se trabalhadoras politicamente organizadas, o que leva a um grau de institucionalização do Movimento. (BARBOSA, 2013). Portanto, neste trabalho, buscamos analisar o impacto econômico-social e o significado dos projetos do MIQCB na vida dessas mulheres. Isso implica pensar 3. As publicações “Guerra Ecológica nos Babaçuais e Nova Cartografia Social da Amazônia”, elaboradas pelo antropólogo Alfredo Wagner de Almeida, contém informações históricas e análises atuais do conflito entre quebradeiras de coco babaçu e os fazendeiros, donos das terras onde estão plantadas as palmeiras de babaçu..

(22) 22. diretamente nas peculiaridades do MIQCB, cabendo as seguintes questões: até que ponto o MIQCB é caracterizado um movimento social?Quais os processos de institucionalização pelos quais o movimento passou? E no que essas peculiaridades implicam no processo de luta, resistências e emancipação das quebradeiras de coco babaçu. Movimento social e Organização não Governamental possuem características distintas. Mas, o que se percebe nas últimas décadas que muitos movimentos são levados a um processo de institucionalização que lhes são impostos por uma lógica cada vez mais dura na relação dos movimentos com o Estado e/ou com as organizações que lhes financiam as atividades. Gohn (2010) destaca no seu estudo sobre movimentos sociais que em cada sociedade existe um movimento social que encarna não uma simples mobilização, mas um projeto de mudança social. Desta forma, compreendemos que nenhum movimento social se define somente pelo conflito, mas pelo seu anseio de controlar o movimento da história. Touraine (1977, p.76) classifica o movimento social em três princípios: o da identidade, do conflito e da totalidade. O primeiro é o princípio de identidade: corresponde à autodefinição do ator social e à sua consciência de pertencer a um grupo ou classe social. Um movimento social só pode se organizar se essa definição for consciente. Entretanto a formação do movimento precede essa consciência. É o conflito que constitui e organiza o ator; o segundo princípio de oposição: quando o movimento só se organiza se puder nomear seu adversário, mas a sua ação não pressupõe essa identificação. O conflito faz surgir o adversário, forma a consciência dos atores; e o terceiro é princípio de totalidade: os atores em conflito, mesmo quando este seja circunscrito ou localizado, questionam a orientação geral do sistema. Um movimento social não é inteligível senão na luta tendo em vista o "controle da historicidade", isto é, dos modelos de conduta a partir dos quais uma sociedade produz suas práticas.. O termo ONG apareceu, pela primeira vez em 1945, em documento das Nações Unidas, compreendendo um grupo de entidades com perfis muito diversos, mas cuja característica principal era o fato de não serem organizações estatais (MONTENEGRO, 1994, LANDIM, 1988 e COUTINHO, 2004). LANDIM (1988) conceitua ONGs como entidades que se apresentam a serviço de determinados movimentos sociais, de camadas da população oprimidas ou exploradas, ou excluídas, dentro de perspectivas de transformação social. Essa definição tem origem a partir do próprio discurso das entidades, tendo em vista que o núcleo central de análise do trabalho de pesquisa da autora são as organizações a serviço do movimento popular. E, nisto constitui o foco da nossa pesquisa: demarcamos o processo de “onguização” do MIQCB e sua relação com.

(23) 23. suas congêneres. Não se trata de uma análise unilateral, de juízo de valor, mas explicar o processo pelo qual o Movimento tem passado e que consideramos um fenômeno, que atinge a maioria dos movimentos, não o MIQCB em particular. Portanto, este estudo não trata de uma análise descritiva e aprofundada do movimento feminista, tendo em vista que o MIQCB tem como principal bandeira de luta o acesso ao babaçu livre e o reconhecimento do trabalho das quebradeiras enquanto categoria, refletindo nas transformações que o movimento tem passado ao longo dos anos desde a sua fundação. Nesta perspectiva, analisaremos os projetos de desenvolvimento do MIQCB para as quebradeiras de coco babaçu, identificando a relação do movimento com as políticas estatais e com as instituições de financiamento nacionais e internacionais, examinando qual o momento que este movimento passa a atuar, também como uma Organização Não Governamental. A metodologia deste estudo compõe: pesquisa teórica e empírica. A primeira obriga-nos a uma revisão da bibliografia sobre o tema e a segunda, baseou-se, em entrevistas com as quebradeiras de coco, coordenadoras e assessoras do MIQCB. Concentra-se, portanto, na abordagem da realidade na qual as mulheres quebradeiras de coco babaçu encontram-se, nas perspectivas política e econômica. Neste sentido, interrogamo-nos como se dá a inserção das mulheres no MIQCB e como isso reflete na participação política e no mercado de trabalho. Interrogamos ainda, o papel do Estado, pois entendemos que a ausência de políticas públicas deve ser entendida como um dos fatores determinantes da exclusão em que, se encontram grupos que compõem o tecido social brasileiro, a exemplo das mulheres quebradeiras. A análise do objeto aqui pesquisado busca mostrar as contradições, nas quais está inserido. Concordamos com Gurgel (2010) quando afirma que no movimento de mulheres a luta deve responder a elementos de mudanças internas, com a construção de espaços amplos de articulação e lutas políticas que consigam mobilizar cada uma das mulheres mediante o reconhecimento de sua particularidade de ser e ao mesmo tempo, a partir do reconhecimento das múltiplas determinações que compõem suas experiências de mulher. Essas determinações devem ser situadas como nexos internos da condição de opressão/dominação das mulheres, constituindo-se como forças mobilizadoras de transformação da realidade..

(24) 24. De acordo com o objetivo do trabalho, este se constitui de natureza qualitativa, onde uma pesquisa pode ser observada uma vez que não busque coletar resultados quantitativos e que não utilize métodos estatísticos na fase da coleta de dados.Na pesquisa qualitativa a relação pesquisador e pesquisado é construída por aproximações sucessivas, onde o outro sabe sobre o problema e, assim, parte para construir a pesquisa sempre trabalhando com a veracidade, MINAYO (1999, p. 25). No que se referem às pesquisas qualitativas, é indispensável ter presente que, muito mais do que descrever um objeto, buscam conhecer trajetórias de vida, experiências sociais dos sujeitos, o que exige uma grande disponibilidade do pesquisador e um real interesse em vivenciar a experiência da pesquisa [...] não podemos pensar que chegamos a uma pesquisa como um “saco vazio”. Não! Temos vida,temos Historia, temos emoção.. A estrutura do trabalho está apresentada em três partes as quais merecem destaque quando se tratando da metodologia: levantamento bibliográfico e exame preliminar da produção textual sobre movimento social e gênero; apreensão de forma geral das políticas de governo em relação à temática aqui apresentada e; realização de entrevista com grupo de mulheres em espaços integrados de discussões do MIQCB, bem como a análise dos dados. No primeiro capítulo sobre movimentos sociais, ONGs e suas transformações no contexto neoliberal; trabalhamos as abordagens históricas dos movimentos sociais, com base nas análises de Gohn, Doimo, entre outros autores precursores dessa temática. Traçamos um resgate histórico dos movimentos sociais, o nascimento das ONGs e no que isso provocou na atuação dos movimentos sociais, suas. principais. manifestações. sociais,. influências. e. suas. contradições.. Posteriormente, são pautadas as discussões que permeiam as reivindicações dos movimentos sociais e suas conquistas na agenda das políticas públicas. O segundo Capitulo sobre o movimento feminista e a ingerência das ONGs tem como centralidade discutir como o MIQCB situa-se como parte das lutas de classe. Dialogamos com os conceitos de ideologia com base nas teorias marxistas colocando em discussão o tão decantado termo “empoderamento” em contraposição ao conceito de “emancipação” para as mulheres do MIQCB e sua forma de conceber a realidade social. No terceiro Capítulo tratamos mais diretamente, o MIQCB e seus aspectos organizativos e o processo de onguização do movimento; analisamos o discurso e a prática do MIQCB no projeto de autonomia e participação política das mulheres buscando identificar o momento de passagem caracterizando-se como ONG..

(25) 25. Analisamos, ainda, o papel do assessor e no que isto reflete na autonomia das militantes.. 1. CAPÍTULO I: MOVIMENTOS SOCIAIS, ONGS E SUAS TRANSFORMAÇÕES NO CONTEXTO NEOLIBERAL. Neste capítulo pretendemos trabalhar as abordagens históricas dos.

(26) 26. movimentos sociais, com base nas análises de Touraine (1973; 1977), Gohn (2003; 2007; 2010), Doimo (1995), entre outros autores precursores dessa temática. Buscamos traçar um resgate histórico dos movimentos sociais, o nascimento das ONGs e no que isso provocou na atuação dos movimentos sociais a organização do movimento feminista, suas principais manifestações sociais, influências e suas contradições.. 1.2. Contexto histórico e abordagens contemporâneas dos Movimentos sociais. A resistência histórica de povos contra modelos econômicos é um fato que vem ocorrendo desde a oposição dos povos autóctones (chamados hoje de primeira nação) contra a sua destruição cultural e física sob o choque da expansão mercantil. François Houtart (2003) aponta que é a partir da mundialização do capitalismo que os movimentos sociais têm sua atuação marcante como sujeitos ativos, provocando uma série de agitações na luta contra o monopólio das camadas dominantes que tentam isolar a classe operária. Com a expansão do modelo econômico de acumulação capitalista e sua dimensão destrutiva, as relações sociais entre os homens, em diversas partes do mundo, entram em conflito. Como bem protagonizou Marx e Engels (1988, p. 205), a “história das sociedades é a história da luta de classes”. A burguesia pariu junto ao seu nascimento, a classe que se opõe a ela: o proletariado. Claro, que precisaríamos fazer uma análise mais profunda da constituição do proletariado hoje, o que não faremos neste momento. Mas ao que nos interessa se, por um lado, os capitalistas buscam a opressão e exploração dos trabalhadores, por outro lado, há resistência e lutas contra essa exploração. Marx e Engels, no Manifesto Comunista, já apontavam para a expansão do capitalismo quebrando todas as fronteiras geográficas, levando este modo de produção a ser dominante nos lugares mais longínquos. Chesnais definiu este momento, como a mundialização do capitalismo, que começa a ser disseminado, nos anos 80 do século passado. Segundo o autor, (...) A extensão indiscriminada e ideológica do termo, tem como resultado ocultar o fato de que uma das características essenciais da mundialização é justamente integrar, como componente central, um duplo movimento de polarização, pondo fim a uma tendência secular, que ia no sentido da integração e da convergência (Chesnais, 1966,p.37).

(27) 27. Essa mundialização levou a perdas significativas das conquistas que os trabalhadores haviam obtido no período de lutas que garantiu, por um curto tempo, o chamado Estado de Bem Estar Social. Para o autor, o (...) O trabalho humano, é mais do que nunca, uma mercadoria, a qual ainda por cima teve seu valor venal desvalorizado pelo “progresso técnico” e assistiu à capacidade de negociação de seus detentores diminuir cada vez mais diante das empresas ou dos indivíduos abastados, suscetíveis de comprar o seu uso. As legislações em torno do emprego do trabalho assalariado, que haviam sido estabelecidas graças às grandes lutas sociais e às ameaças de revolução social, voaram pelos ares, e as ideologias neoliberais se impacientam e que ainda restem alguns cacos delas (Chesnais, 1966, p. 42). Nas análises de Samir Amin (2003, p.209) O capitalismo mundializado e a privatização de setores cada vez mais amplos das atividades coletivas têm como resultado uma polarização crescente, que se manifesta no interior de todas as sociedades, assim como na relação centro-periferia. Este quadro forma o contexto contemporâneo dos movimentos sociais e de sua convergência.. Paul Singer (1983) identifica a origem dos movimentos sociais urbanos, no Brasil, nas contradições sociais que afetam a população trabalhadora e as contradições que decorrem do modo de como a vida social da cidade está organizada. Elas se manifestam no mundo do trabalho por meio das divergências de interesses entre assalariados – que lutam constantemente por reajustes de seus salários a fim de corresponder a suas necessidades de consumo – e entre empregadores – interessados em aumentar sua margem de lucro em detrimento do salário. Para o autor a súmula dessa relação capital/trabalho está na necessidade de consumo do trabalhador e a equação do lucro do empregador. Segundo Touraine (1977, p.38), uma luta reivindicatória não é por si mesma um movimento social. Pode ser apenas uma defesa corporativa ou uma pressão política que, para se tornar um movimento social, deve falar em nome e se tornar defensora dos valores da sociedade industrial. A análise teórica sobre movimentos sociais, para esse autor é que são ao mesmo tempo, um conflito social e um projeto cultural, pois visa sempre a “realização de valores culturais, ao mesmo tempo em que a vitória sobre um adversário social”. De acordo com Melucci (1994,p.190) “movimentos transitam, fluem, acontecem em espaços não consolidados das estruturas e organizações sociais”. Na leitura de Gohn (2003) a dedução de Melucci sobre movimentos sociais refere-se à ação dos homens na história, e esta ação envolve um saber — por meio de um.

(28) 28. conjunto de procedimentos, e um pensar — por meio de um conjunto de idéias que motiva ou dá fundamento à ação, para ela nem tudo que muda na sociedade é fruto da ação de um movimento social, porém, é neles que se pode encontrar uma das formas possíveis de mudança e transformação social. Gohn (2003) em Teorias dos Movimentos Sociais aborda as teorias clássicas dos movimentos sociais conceituando-os segundo os paradigmas norte-americano, europeu e latino-americano. A autora sistematiza e ao mesmo tempo, faz um estudo comparativo entre essas teorias apresentando suas diferenças, semelhanças e o debate que elas têm desenvolvido entre si. Na Europa e nos EUA, as posturas metodológicas geraram teorias próprias. O paradigma norte americano tinha como categorias básicas: o sistema, a organização, ação coletiva, comportamentos organizacionais, integração social, etc. Seus conceitos e noções perpassam por escolhas racionais, mobilização de recursos, institucionalização de conflitos, ciclos de protestos, oportunidades políticas, etc. No que diz respeito à produção teórica européia o foco era mais conjuntural, nos micro processos da vida cotidiana. Ao falarmos das teorias dos movimentos sociais latino-americanos, com base nas proposições de Gohn (2003), os seguintes níveis devem ser considerados: 1) a concepção de movimento social; 2) quais categorias e elementos devem ser considerados na análise; 3) quais as fases de desenvolvimento e etapas necessárias para a análise; 4) quais as formas de manifestações coletivas e como elas se expressam. Nesta análise podemos ter movimentos de diferentes classes e camadas sociais, o tipo de ação social envolvida é que será o indicador do caráter do movimento. Touraine (1977) apresenta um leque de registros históricos de movimentos sociais (na América Latina), subdividindo-os em messiânicos, camponeses, de defesa comunitária, de defesa da identidade, lutas urbanas, novos movimentos sociais, movimentos histórico etc., o autor agrupa os movimentos em cinco categorias: a primeira é dos movimentos sociais a partir da origem social da instituição que apóia ou abriga seus demandatários; a segunda são movimentos sociais construídos a partir das características da natureza humana: sexo, idade, raça e cor; a terceira diz respeito aos movimentos sociais construídos a partir de determinados. problemas. sociais;. outra. categoria. são. movimentos. sociais. construídos em função de questões da conjuntura das políticas de uma nação.

(29) 29. (socioeconômica, cultural, etc.) e, por último; Movimentos sociais construídos a partir de ideologias. O paradigma latino americano concentrou-se, em sua quase totalidade, nos estudos sobre os movimentos sociais libertários ou emancipatório, nas lutas populares urbanas por bens e equipamentos coletivos e espaço para moradia urbana e pela terra na área rural. Segundo Gohn as teorias latino americanas que orientaram a produção foram as dos paradigmas europeus, dando destaque nos anos 70 para a vertente marxista e nos anos 80 a abordagem dos novos movimentos sociais (Gohn, 1997). Como observou Claus Offe (1988), a arena onde ocorre a ação coletiva, tratase de um espaço não-institucionalizado, nem na esfera pública nem na esfera privada, criando um campo político. Esses espaços coletivos não-institucionalizados, os quais, o autor se refere, situam-se na esfera pública não governamental, ou nãoestatal, possibilitando aos movimentos dar visibilidade às suas ações. O estudo dos movimentos sociais deve considerar dois ângulos básicos: o interno e o externo. Ainda seguindo as proposições de Gohn (2003), no ângulo interno deve-se pesquisar sua ideologia, seu projeto, sua organização, suas práticas. Já externamente, deve-se considerar o contexto do cenário sociopolítico e cultural em que se inserem; considerar os opositores (quando existirem), as articulações e redes externas construídas pelas lideranças e militantes em geral – enquanto interlocutores do movimento – e as relações do movimento como um todo no conjunto de outros movimentos e lutas sociais; suas relações com órgãos estatais e demais agências da sociedade política; articulações com a Igrejas e outras formas de religião e com outras instituições e atores da sociedade civil, como o pequeno e médio empresários e suas organizações; suas relações com a mídia em geral. O conjunto das articulações nos dá o princípio articulatório que estrutura o movimento como um todo. Devem ser pesquisadas ainda as representações que eles têm de si próprios e dos outros; suas conquistas e derrotas; e a cultura política que constroem ao longo de suas trajetórias. Nesse aspecto, é importante também analisar o cenário sociopolítico em que o movimento se desenvolve por ser ele quem fornece os elementos conjunturais que explicam o processo interativo e a correlação de forças existentes. Concordamos com Gohn (2003) que não há linearidade, nem um esquema racional entre os autores sobre os movimentos sociais. Mesmo os movimentos.

(30) 30. criados a partir de idéias utópicas não são totalmente isolados da sociedade. O princípio articulatório de seus conceitos sempre tem conexões externas com outro movimento, um líder, um partido, uma religião. No cenário brasileiro, em meados da década de 1970, a participação dos movimentos sociais é fortemente interpretada por sua inserção nas comunidades, usando como método de transformação ideológica a participação coletiva do povo e as experiências de Educação Popular baseada nas teorias de Paulo Freire (Coutinho, 2004). Doimo (1995) destaca a importância dos movimentos reivindicativos que eram caracterizados por manifestações populares em prol de melhoria na habitação, saúde, transporte e desemprego. Segundo a autora, esses movimentos, surgidos na década de 1970 vão dar sustentabilidade para o povo participar de forma mais ativa na construção das estruturas da sociedade. A experiência compartilhada era o acesso, pelo qual, diversos movimentos sociais se estruturavam e constituíam seu alicerce e geravam suas forças. As assembléias viabilizavam a reflexão em conjunto e o fortalecimento da luta, unificando cada vez mais a linguagem dos direitos do povo. A Educação Popular, baseada no método de Paulo Freire, foi o fio condutor dessa politização (Doimo, 1995). Foi por meio da alfabetização de jovens e adultos e organizações de bairro que os movimentos sociais nas comunidades periféricas foram fortemente amparados pelas instituições de assessoria popular. Neste contexto, a Igreja Católica reformulou a sua linguagem, amparando a classe popular e incorporou em suas lutas. De igual modo, as entidades de assessoria popular ― muitas destas se tornam ONGs nos anos 90 ― ganham espaço dentro dessa luta, foram geradoras de materiais de Educação Popular – materiais que “ensinavam” o povo a pôr em prática suas reivindicações. Eram ensinamentos práticos de como fazer uma reunião; técnicas eficazes de como proporcionar a participação de todos; informações ágeis de como fazer uma ata ou criar uma associação de moradores etc. Todos esses acontecimentos marcantes tiveram a participação direta dos movimentos sociais e indireta das organizações de cooperação. Para Brant (1980) a emergência dos movimentos populares na década de 1970 aconteceu de forma fragmentada por conta da extrema repressão política que devastava com a classe trabalhadora dificultando a intercomunicação entre os diversos tipos de movimentos. Ainda segundo o autor, foi essa extrema repressão da.

(31) 31. ditadura que estimulou o uso de laços primários de solidariedade de vizinhança e compadrio, onde se estabelecia a confiança mútua, dando origem aos chamados movimentos de base como: clube de mães, associações comunitárias, movimentos culturais etc. Sobre essa importância das relações pessoais para o crescimento dos movimentos populares, o autor destaca que: Os principais movimentos representativos das populações da periferia, contra a carestia, contra os loteamentos clandestinos, pela abertura de creches etc., congregam comunidades de base, clube de mães e associações locais que se criaram e desenvolveram a partir da reunião de vizinhos (...) as comissões de fábricas e os comandos de greve formados nas empresas fundaram-se na confiança direta entre colegas de trabalho (...) o movimento negro é uma reunião de grupos baseados na convivência social e na fraternidade (...) e o movimento feminista se agrupa em pequenos núcleos militantes em que as relações pessoais jogam importante papel (BRANT, 1980, p.14).. É de extrema relevância destacar aqui que importantes instituições e outros movimentos também contribuíram de forma expressiva para o crescimento e desenvolvimento dos movimentos populares na década de 1970, tais como a Igreja, as instituições civis de defesas dos direitos humanos, e o movimento estudantil – que se envolveu fortemente nas lutas em prol dos trabalhadores. A partir dos anos 1980, com a mudança na conjuntura política no país —um cenário em que a rearticulação da sociedade civil e a união das forças de oposição política levaram a sociedade um clima de esperança, de necessidade da retomada da democracia e da participação de todos nas decisões sociais e políticas, onde o povo tornou-se um sujeito histórico fundamental na transição democrática — os movimentos sociais começaram a sofrer transformações quanto à sua estruturação e organização. Agora os movimentos populares que ressurgem com força no final da década de 70 e início dos anos 80 são os chamados “novos movimentos sociais” que demandavam não apenas bens e serviços necessários para a sobrevivência, mas também outra ordem de demanda que se refere aos direitos sociais que recorrem para igualdade e liberdade de gênero e etnia (Gohn, 1997; Touraine, 1978) Doimo (1995) destaca que quando se falava em movimentos sociais no Brasil no início dos anos 80, tinha-se bem claro de que fenômeno se tratava. Era sobre os movimentos sociais urbanos que, vinculados as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs) procuravam contrapor os novos movimentos sociais aos velhos movimentos expressos no modelo de Sociedade de Amigos de Bairro e Associação de Moradores..

(32) 32. De acordo com a autora, nunca como neste período, as idéias de “povo” e de “participação popular” ganharam tanto significado no país. Para ela, o período de “liberalização” do regime militar correspondeu a um dos mais ricos da história do Brasil no que diz respeito às lutas, movimentos e, sobretudo, a projetos de mudança social. A seu ver, a partir deste período, os movimentos sociais passam de uma concepção passiva de participação para uma concepção ativa de povo. Nesse período cresceu em muitos brasileiros a crença na força do povo “o povo como sujeito de sua própria história”, para realizarem mudanças históricas que outros grupos não tinham conseguido realizar no passado (Doimo, 1995, p. 78). No mesmo sentido, as análises de Gohn (2003, p.56), apontam vários fatores que contribuíram para as mudanças na representatividade dos movimentos sociais, O surgimento de grandes centrais sindicais, o surgimento de entidades aglutinadoras dos movimentos sociais populares, especialmente no setor da moradia, e fundamentalmente, o nascimento e o crescimento, ou a expansão da forma que viria a ser quase uma substituta dos movimentos sociais nos anos 90: as ONGs.. Portanto, o “novo” deste último período, meados dos anos 80 para década de 90, tem destaque para as ONGs. Dirigentes e militantes de movimentos sociais foram cada vez mais se distanciando das bases dos movimentos, perdendo a paixão, a ideologia e a voluntariedade nas mobilizações e articulação em prol das demandas populares, e aproximando-se das ONGs ocupando-se em elaborar pautas e agendas de encontros e seminários – nacionais e internacionais – promovidos por essas entidades. Para (GONH, 2003, p.32). Nos locais em que havia movimentos organizados, o novo paradigma da ação social tem gerado redes de poder social que são formadas pelas lideranças dos antigos movimentos sociais, por uma base militante pequena, que assume o papel de responsável por etapas ou processos dos projetos em andamento e por técnicos das ONGs (...) nos locais em que não havia movimentos organizados nem população minimamente aglutinada em torno de interesses coletivos, os novos programas sociais de parceria têm se implantado como serviços sociais, ou seja, não como direitos, mas como prestação de serviço, despolitizando totalmente o conteúdo político da questão.. Embora a existência de movimentos sociais, no Brasil, seja bem anterior à década de 1980, de acordo com as análises de Gohn (1997), a produção teórica sobre os movimentos sociais urbanos no Brasil datou-se a partir dessa década. Se nos anos 80 a prática teórica era sobre os movimentos sociais que expressavam suas lutas nas ocupações de terra; direito a saúde, moradia, educação, etc. nos.

(33) 33. anos 90 a maioria dos pesquisadores muda o enfoque das suas pesquisas para: violência, exclusão social, meio ambiente, gênero, etnia. Porém, já no início da década de 90 uma grande parcela dos movimentos sociais urbanos entra em declínio eclodindo crises internas de militância, de participação, de credibilidade nas políticas públicas, de confiabilidade e legitimidade a própria população; e crises externas tanto em termos nacionais como em termos dos referenciais internacionais (queda do muro de Berlim, fim da União soviética etc.). A designação público-não-estatal surge fortemente nos anos 90 e reconfigura um novo olhar dos movimentos sociais sobre o Estado. Se antes os movimentos sociais tinham o Estado como um entrave para a efetivação de políticas sociais, agora estes buscam olhar para o Estado como um possível parceiro na luta pela conquista de direitos a preservar, e não mais como nos anos 70 e 80, em que o estado era visto como um inimigo dos movimentos populares, quando há uma reconfiguração das Organizações Não Governamentais, onde o vínculo com os movimentos sociais é substituído pelas relações empresariais. Coutinho (2011, p.2728) reitera que As ONGs são consideradas, com as empresas multinacionais, uma importante força internacional. Mas a questão é identificar as internacionais e o papel que exercem nas decisões políticas dos governos do Primeiro Mundo. (...), portanto, elas são sempre nacionais e podem, na medida do seu alcance e enfoque, ser consideradas (como empresas) “multinacionais”. As ONGs/Multinacionais mantêm com suas “parceiras locais” uma relação ambígua: a existência das multinacionais depende do cumprimento de suas determinações pelas organizações locais.. Isso se explica, em parte, pela crise do capitalismo e a sua reestruturação, na forma neoliberal. As agências de cooperação, por meio das ONGs, buscaram cooptar os movimentos sociais criando formas alternativas para a ação social. Saem de cena os movimentos para entrarem as ONGs: deixam de ser coadjuvantes dos movimentos sociais para serem atores principais (Coutinho, 2004; Doimo, 1995). Concordamos com Gohn (2003), que considera as coerências entre as noções e categorias utilizadas, e a produção considerável a respeito dos movimentos sociais e que nunca haverá uma teoria completamente pronta e acabada sobre eles – os movimentos sociais. É uma característica do próprio objeto de estudo. Os movimentos são fluidos, fragmentados, perpassados por outros processos sociais. Como uma teia de aranha eles tecem redes que se quebram facilmente, dada sua fragilidade, mas sempre presentes..

(34) 34. 1.2. De movimentos sociais às Desdobramentos da ação coletiva.. Organizações. não. Governamentais:. A história dos movimentos sociais se revela a partir da iniciativa de pequenos grupos que ao tomarem consciência das contradições existentes em suas relações sociais, toma consistência formulando diversas reivindicações de acordo com a necessidade de cada grupo. O estudo sobre o declínio dos movimentos populares tem sido muito frequente no meio acadêmico. Embora não seja uma análise fácil, sua apreciação é necessária para maior clareza deste texto. De acordo com Ricci (2007), os anos 90 iniciam sob o signo da emergência do mercado como centro das relações políticas. A mudança da orientação política do Vaticano — com a escolha do Papa João Paulo II e a mudança na orientação do Estado — e a consolidação de organizações nacionais de representação de trabalhadores e classes populares geraram o afastamento da Igreja Católica dos movimentos sociais. Ainda segundo o autor, o fator fundamental, contudo, que atingirá profundamente os movimentos sociais nos anos 90 será a redução gradativa do Estado enquanto elemento regulador. No final da década de 80 anunciava-se o esgotamento do modelo de financiamento das políticas sociais e uma profunda crise fiscal. Para Gohn (1992) a crise dos movimentos sociais se deu a partir da década de 1980 com a abertura política, onde a noção de direitos e participação popular tomou uma grande proporção culminando na criação da Constituição de 1988. Nesse ínterim novos hábitos e novos valores vão surgindo em meio ao movimento popular provocando um processo de institucionalização dos movimentos sociais com a orientação das normas vigentes na sociedade em suas ações. Neste contexto de crise dos movimentos sociais, abertura da nova conjuntura política no país e reestruturação do capitalismo, o terceiro setor ganha espaço e visibilidade projetando ações individualizadas e focalizadas, cumprindo um papel ideológico importante para implementação das políticas neoliberais. Segundo Coutinho (Coutinho, 2003, p.16) as ONGs definem-se como um “espaço de participação. da. sociedade,. contribuindo. decisivamente. para. desorganizar. movimentos sociais na década de 1990”. O financiamento das organizações internacionais era justificado como uma forma de “pagamento” desses países pela exploração a qual submetiam os países.

(35) 35. latino-americanos. E pode-se afirmar que a concepção de “novos movimentos sociais” abriu caminho para o crescimento das ONGs junto ao Estado, geralmente como suas interlocutoras. “Quanto mais dependente do financiamento internacional, mais limitada à atuação das ONGs, que se depara com um duplo dilema: se aceitam o financiamento, muito dificilmente não sucumbem à lógica do seu patrocinador; se permanecem autônomas, mais dificuldades terão para manter suas atividades” (COUTINHO, 2011, p. 23). As Organizações Não Governamentais, ao longo do tempo vêm sendo destinadas a suprir as carências do Estado. Com discurso de “responder as demandas das classes populares” que não são atendidas pelos canais burocráticos estatais ou privados, as ONGs vêm, ao longo dos anos tomando espaço significativo nas sociedades de classes. O termo ONG foi cunhado pela primeira vez na década de 1940, pela ONU, para designar. (...) as entidades, executoras de projetos humanitários, mas que não faziam parte da “ossatura estatal”. Contudo, a sua expansão será nas décadas de 60/70. Neste período cumpre, na América Latina, um papel importante, na luta contra os Estados ditatoriais― principalmente aquelas que se dedicam à questão dos direitos humanos. Elas contam com o apoio de diferentes agências de "Cooperação Internacional". Ou seja, as suas congêneres européias (COUTINHO, 2003, p.2).. Para a autora este termo popularizou-se no Brasil na década de 1990, mais precisamente com a ECO-92 — Conferência da ONU Sobre o Meio Ambiente, realizada na cidade do Rio de Janeiro. Atualmente esse termo refere-se a amplitude de organizações, nacionais e internacionais comumente consideradas não governamentais. Landim (1993, p.10) analisa o campo formado pelas atuais ONGs brasileiras partindo de dois aspectos que as constituem, os quais são: as relações com agências internacionais que as financiam e a relação com os grupos entre os quais desenvolvem suas atividades. De acordo com esta análise a autora argumenta que O universo dos “centros de assessoria e apoio”, ou de “educação popular”, atuais ONGs, nasceu e existe num movimento incessante de estabelecimento e renovação desses dois tipos de clientela. Por aí se constroem alianças e lealdades e transitam especialistas, moedas fortes, idéias e modelos de atuação, dentro da moldura enquadradora dos projetos que desenvolvem.. O campo formado pelas ONGs é composto por uma diversidade de organizações. tais. como:. organizações. doadoras. internacionais;. agências. multilaterais de desenvolvimento; ONGs de desenvolvimento e “público alvo”..

(36) 36. Um fator importante que nos importa salientar nesse trabalho é sobre a política de cooperação internacional que influencia diretamente a atuação das ONGs nos locais em que elas se estabelecem. Essa política de cooperação é fomentada por países do chamado primeiro mundo: Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Canadá, França etc. que no seu discurso visam a “independência financeira” de países mais pobres criando fundos para a assistência e desenvolvimento aplicados por meio de projetos de ONGs implementados, geralmente nas periferias destes países, voltados para criação de unidades produtivas que tenham como meta a auto sustentação e independência financeira dessas comunidades, com o intuito de extrair do Estado a responsabilidade de financiar políticas de amparo à pobreza. As organizações doadoras internacionais surgem em geral após a segunda guerra atuando em diversas partes do mundo, tendo como uma de suas características básicas, “a adaptabilidade a diferentes conjunturas internacionais e também aos mais diferentes contextos nacionais, criando uma linguagem comum entre agentes e entidades que se reconhecem como ONGs” (Landim, 1993,p.11). As agências de cooperação justificavam o financiamento como uma forma de pagamento pela exploração à qual submetiam os países latino-americanos (CEPIS, 2001, apud Coutinho, 2003 p.105). De acordo com a análise de Coutinho (2004, p.25) a cooperação internacional era basicamente formada por Igrejas (católica e protestante), organizações de solidariedade, ou governos de vários países, priorizando a ajuda a organizações e movimentos sociais nos países do Sul, com o intuito de “consolidarem a democracia”. Outra instância constitutiva das ONGs e não menos importante são as agências multilaterais de desenvolvimento, que em geral são formadas por governos associados, que estabelecem acordos para criá-las através de tratados ou convenções internacionais. Entre as agências multilaterais que oferecem assistência oficial ao desenvolvimento estão muitas unidades das Nações Unidas como, por exemplo, o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Organização Mundial de Saúde (OMS) e outras. As agências multilaterais são organismos com representantes de vários países que financiam projetos de desenvolvimento ou fornecem ajuda a nações em dificuldade financeira. Por outro lado, como poucas têm estruturas claras para se relacionar com as organizações da sociedade civil local, elas podem impor muitas.

Referências

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