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A evolução nos meios de comunicação influencia o mercado da moda?: uma análise sobre a plataforma Steal The Look

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

A EVOLUÇÃO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO INFLUENCIA O MERCADO DA MODA? UMA ANÁLISE SOBRE A PLATAFORMA STEAL THE LOOK

MARIA LUÍSA MEDEIROS SANTOS DE ARAÚJO

NATAL/RN 2019

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MARIA LUÍSA MEDEIROS SANTOS DE ARAÚJO

A EVOLUÇÃO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO INFLUENCIA O MERCADO DA MODA? UMA ANÁLISE SOBRE A PLATAFORMA STEAL THE LOOK

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN, RN), como requisito parcial para obtenção do título de bacharel Comunicação Social: Habilitação em Publicidade e Propaganda.

Orientador: Dra. Lilian Carla Muneiro

NATAL/RN 2019

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MARIA LUÍSA MEDEIROS SANTOS DE ARAÚJO

A EVOLUÇÃO NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO INFLUENCIA O MERCADO DA MODA? UMA ANÁLISE SOBRE A PLATAFORMA STEAL THE LOOK

Monografia apresentada ao Curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN, RN), como requisito parcial para obtenção do título de bacharel Comunicação Social: Habilitação em Publicidade e Propaganda.

Monografia apresentada e aprovada em ___ de ___________de______. BANCA EXAMINADORA: ________________________________________________ Prof. Dra. Lilian Carla Muneiro

Orientadora

________________________________________________ Prof. Marcela Costa da Cunha Chacel

Membro interno

_______________________________________ Prof. Raquel Assunção Oliveira

Membro interno

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA

Araújo, Maria Luísa Medeiros Santos de.

A evolução nos meios de comunicação influencia o mercado da moda? Uma análise sobre a plataforma Steal The Look / Maria Luísa Medeiros Santos de Araújo. - 2019.

53f.: il.

Monografia (graduação) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Comunicação Social - Publicidade e Propaganda,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2019. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Lilian Carla Muneiro.

1. Comunicação - Monografia. 2. Moda - Monografia. 3. Digital - Monografia. 4. Mídia - Monografia. 5. Steal The Look -

Monografia. I. Muneiro, Lilian Carla. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 659.13/.16:391

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Dedico a meus pais, por todo apoio, suporte e incentivo que sempre me deram. Eles foram essenciais para chegar onde estou.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à professora Lilian Muneiro, minha orientadora, pela paciência, contribuições, disponibilidade e compreensão ao longo da construção deste trabalho.

Aos meus pais, Socorro e Eugênio, e ao meu irmão, Eugênio Júnior, que sempre acreditaram no meu potencial e me incentivaram a enfrentar as minhas batalhas, me dando o amor, apoio e suporte necessários para que eu chegasse onde estou.

Obrigada também à minha tia, Iara Medeiros, que me ajudou com este trabalho, como fez ao longo de toda a minha vida, revisando o meu texto e me dando apoio, principalmente na fase final deste processo.

Aos meus amigos Alyne Oliveira, Natália Medeiros, Hanna Macêdo, Emerson Macedo, Eloísa Souza, Lucas Bartolomeu, Emiliana Oliveira, Doralice da Silva, Águida Cunha, Nathalia Nunes e Matheus Wagner, que me apoiaram e ajudaram na construção deste trabalho; e acompanharam a jornada cansativa e as noites em claro que passei para finalizar esta etapa na minha vida acadêmica.

Por fim, agradeço aos amigos e colegas de turma que contribuíram para que a minha experiência acadêmica tenha sido memorável e agradável. As experiências compartilhadas durante estes anos de graduação ficarão para sempre guardadas.

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“Todas as vitórias ocultam uma abdicação” ― Simone de Beauvoir

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RESUMO

Com o início da era digital, o campo da comunicação passou por diversas transformações. Novos suportes tecnológicos foram criados, novas mídias surgiram e, consequentemente, outras formas de comunicar. Esta mudança influenciou diversas áreas da sociedade, incluindo a moda. Mesmo sendo um campo marcado pela efemeridade em sua essência, a chegada do ciberespaço fez com que este caráter fosse mais evidenciado, visto que proporcionou à moda novas possibilidades, que desencadearam um ritmo ainda mais acelerado de transformações. Mesmo assim, os novos meios de comunicação abriram espaço para uma moda mais democrática, com a popularização de informações e conhecimentos da área, antes restritos às grandes mídias tradicionais. Para entender melhor esse cenário de mudanças na forma com a qual a moda se apresenta nos dias atuais, será realizada uma análise da plataforma digital Steal The Look. O site ilustra essa inovação na comunicação de moda, à medida em que torna mais democráticas as tendências que surgem cada vez mais rápido. Para chegar às conclusões esperadas, serão trabalhados temas como a história da moda, a efemeridade que carrega, a sua relação com a comunicação e a evolução dos meios com o advento do digital. Os conceitos de Lipovetsky (1989) e Pollini (2007), principalmente, foram utilizados para os estudos referentes às questões sobre a moda e seus significados, e a análise da plataforma foi feita seguindo a metodologia do estudo de caso, com apoio da netnografia, de acordo com Ponte (2006) e Amaral et al. (2008), respectivamente.

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ABSTRACT

With the dawn of the digital age, the field of communication has undergone several transformations. New technological supports were created, new media emerged and, consequently, other ways of communicating. This change has influenced many areas of society, including fashion. Even though it is a field marked by ephemerality in its essence, the arrival of cyberspace has made this quality more evident, since it has provided fashion with new possibilities, which triggered an even faster pace of transformation. Even so, the new media made room for a more democratic fashion, with the popularization of information and knowledge of the area, previously restricted to the mainstream media. To better understand this scenario of changes in the way fashion presents itself today, an analysis of the digital platform Steal The Look will be made. The site illustrates this breakthrough in fashion communication as it makes ever-faster-becoming trends more democratic. To reach the expected conclusions, themes such as the history of fashion, the ephemerality it carries, its relationship with communication and the evolution of the media with the advent of digital will be discussed. The concepts of Lipovetsky (1989) and Pollini (2007) were mainly used for studies regarding fashion issues and their meanings, and the platform analysis was done following the case study methodology, with the support of netnography, according to Ponte (2006) and Amaral et al. (2008), respectively.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Retrato de Luís XIV - Hyacinthe Rigaud, 1702 e Maria Antonieta em

Vestido da Corte - Élisabeth Vigée-Lebrun, 1778... 16

Figura 2. Registro imagético da moda nos anos 1920..…... 18

Figura 3. Mulheres usando minissaia na década de 60 do século XX... 20

Figura 4. Comparativo de valores entre os produtos usados de inspiração e as opções mais acessíveis…... 31

Figura 5. Simulação de compra ao clicar no link disponibilizado na matéria... 32

Figura 6. Página inicial do Steal The Look... 33

Figuras 7 e 8. Página inicial e menu na versão mobile do site... 34

Figura 9. Matéria com dicas de vestidos que podem ser usados tanto no trabalho como no happy hour... 35

Figura 10. Uma das dicas da matéria, com a foto de inspiração, um curto texto informativo e os links com as opções para as leitoras “roubarem” o look ... 35

Figura 11. Comentários de leitoras em uma matéria do site... 36

Figura 12. Página inicial do marketplace do Steal The Look... 37

Figura 13. Página inicial da plataforma online do PUSH... 38

Figura 14. Feed da conta do STL no Instagram... 39

Figura 15. Página do Steal The Look no Facebook... 39

Figura 16. Perfil da plataforma no Pinterest... 40

Figura 17. Página inicial da conta do Steal The Look no YouTube... 40

Figuras 18 e 19. Capturas de tela de newsletter do STL... 41

Figura 20. Captura de tela de duas das publicações feitas no período analisado e categorizadas em styling tips e looks... 46

Figura 21. Printscreen da matéria “7 peças essenciais para o armário da primavera”... 47

Figura 22. Captura de tela de publicação patrocinada no Instagram... 48

Figuras 23, 24 e 25. Capturas de tela de stories patrocinados no Instagram... 48

Figura 26. Printscreen da pasta “Dicas & Truques de Styling | Styling Tips” do perfil do STL no Pinterest... 50

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Quantidade de publicações realizadas no Steal The Look no período entre 23 de setembro e 23 de outubro de 2019... 45

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 12

1. MODA: UM DISPOSITIVO SOCIAL CARACTERIZADO PELA EFEMERIDADE... 15

1.1 A história da moda - do princípio aos dias atuais... 15

1.2 Mas afinal, o que é moda?... 21

1.3 Moda e comunicação... 24

2. SOBRE O STEAL THE LOOK... 30

3. METODOLOGIA... 42

4. ANÁLISE... 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 51

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INTRODUÇÃO

Com a evolução do digital, diversas foram as alterações que surgiram na sociedade, e dentre elas a comunicação, que passou a ter novos recursos e novas formas de transmitir valores. Estas mudanças afetaram o modo das empresas se posicionarem frente ao mercado, de modo que pudessem conquistar mais espaço e público, e isso inclui transformações, também, na forma das empresas fazerem publicidade.

O uso de blogs e redes sociais como o Instagram é uma exemplificação dessa evolução nos meios de comunicação. Através deles é possível que uma empresa aumente o seu engajamento com o público e aproxime a sua marca do consumidor, possibilitando uma experiência simples, fácil, rápida, instigante e, até mesmo, prazerosa com aqueles que estão em contato com essas mídias.

Essa evolução não seria diferente para a indústria da moda. Com tais avanços, o cenário fashion passou por diversas transformações, e hoje se apresenta em outras configurações, com mais dinamismo e celeridade, de modo a informar e influenciar cada vez mais pessoas. As mudanças são percebidas da forma como os desfiles são pensados, de como as roupas são expostas, até o modo que será a sua divulgação.

Esta questão acerca dos novos meios de comunicação de moda surge, justamente, a partir das evoluções que este setor vem sofrendo. Até meados dos anos 2000, para uma pessoa consumir informação de moda, era preciso comprar revistas, esperar as semanas de moda acontecerem, serem estudadas e virarem pauta desses veículos de comunicação para, então, poder conhecer as últimas tendências. Contudo, esses avanços permitem que este conhecimento seja consumido de forma quase instantânea, por meio dos blogs, de pessoas influentes em redes sociais, como os experts de moda, produtores de conteúdo e estilistas, ou até mesmo das próprias marcas, ao postarem em tempo real os desfiles, as roupas e os acessórios usados. Isto faz com que a sociedade esteja mais próxima desta realidade, que por tanto tempo esteve num patamar quase inalcançável, aumentando a interação com a marca.

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Nesta pesquisa a comunicação em moda é apresentada dada sua evolução, desde os editoriais e matérias de revistas até o conteúdo desenvolvido nas mídias digitais, através de blogs e de aplicativos como o Instagram. Esta análise busca compreender como essas novas possibilidades afetam o setor, tendo em vista a relação entre as áreas de comunicação e moda.

Para delimitar a pesquisa, foi escolhida a plataforma de moda Steal The Look, que ilustra este cenário ao apresentar um site dinâmico, com a proposta de produzir conteúdo útil e relevante sobre o mundo fashion. As matérias sobre o universo de moda e beleza são publicadas diariamente, de modo a manter os seus leitores atualizados com as últimas tendências do mercado.

O estudo sobre o Steal The Look visa mostrar como o site faz uso das redes sociais, a exemplo do Instagram, para divulgar esse conteúdo em primeira mão, além de trazer um novo formato às plataformas digitais de moda, comunicando-se de forma mais próxima ao público, assim como nos blogs, à medida que posta conteúdo pautado e programado, assemelhando-se à postura de uma revista.

Com base nisso, busca-se entender sobre a forma com que as informações sobre mundo da moda, com suas tendências e marcas, são divulgadas, e de que maneira o surgimento e avanço das plataformas digitais, que cada vez mais apresentam ao público meios rápidos e dinâmicos de conhecimento, interferem nesse mercado. Em outras palavras, o objetivo é identificar as potencialidades dos novos meios de comunicação no mercado de moda.

O desenvolvimento do presente trabalho se dará em quatro partes, de modo a construir uma linha de raciocínio para entender o universo estudado. No início, será construído um embasamento teórico sobre o tema, para, então, analisar o objeto deste estudo, a fim de identificar as conclusões almejadas.

A divisão das quatros partes se dará da seguinte maneira:

1 - Moda: um dispositivo social caracterizado pela efemeridade: O primeiro capítulo visa explanar a moda, com o intuito de construir uma base para as análises futuras. De início, será feita uma retomada na história da moda, para depois

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discorrer sobre o que ela é, seus significados, e, então, falar sobre a comunicação nesta área.

2 - Sobre o Steal The Look: Nesta parte o intuito é apresentar o objeto deste estudo, a plataforma digital de moda Steal The Look. Portanto, contará a sua história, será discorrido sobre o site e as suas redes sociais, além de iniciar os comentários acerca da forma na qual se comunica com o leitor para o fidelizar.

3 - Metodologia e objeto de estudo: Este capítulo explicará os métodos que serão utilizados para analisar a comunicação do site e as suas estratégias. As metodologias escolhidas foram o estudo de caso e a netnografia, visto que se busca entender, através de uma situação micro, como a plataforma Steal The Look, sobre um ambiente macro, que neste caso é o da comunicação sobre moda. Ressaltando que tudo isso está inserido em um cenário digital, no qual as interações são mediadas por suportes tecnológicos e digitais.

4 - Análise do Steal The Look e suas estratégias: O quarto capítulo trará uma análise da plataforma, através de publicações feitas em um determinado período, a fim de compreender quais as estratégias de comunicação utilizadas para atingir efetivamente o seu público. Além disso, as redes sociais do STL também foram estudadas, a fim de entender o tipo de conteúdo e linguagem utilizados para atrair a audiência.

Por fim, as considerações finais encerram o trabalho apresentando as reflexões e conclusões alcançadas com o presente estudo.

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1. MODA: UM DISPOSITIVO SOCIAL CARACTERIZADO PELA EFEMERIDADE

Quando se fala em moda, é comum que um dos primeiros pensamentos esteja relacionado às roupas e à maneira de se vestir. No entanto, esta é apenas uma parte do que ela realmente representa, pois a moda está relacionada a costumes, comportamentos e cultura, com os aspectos socioculturais de um período e de um lugar.

Moda é uma questão de postura social e política. Ela serve de ferramenta para comunicar princípios e valores, para identificar grupos e tribos, e, através dela, também é possível expressar opiniões de cunho político. Além disso, a moda está intrinsecamente ligada à cultura, portanto, mesmo tendo um conceito de universalidade, as bagagens culturais de cada indivíduo vão afetar na forma com que usam e expressam a moda - mesmo com roupas iguais, as pessoas estarão diferentes, pois a cultura em que estão inseridas afeta o modo com que se portam e no qual veem o mundo.

1.1 A história da moda - do princípio aos dias atuais

Antes de mais nada, para entender o que é a moda, precisa-se conhecer a sua história e o seu processo até chegar à definição e ao momento que se tem na atualidade. Hoje, ela está relacionada a estilos, vestuário e individualidade, enquanto, no passado, era associada, principalmente, à distinção social e aos desejos da monarquia.

A palavra moda, segundo Denise Pollini (2007), tem origem da palavra em latim Modus, que tem relação com a forma de se conduzir. Então, no que diz respeito ao vestuário, esse sentido de “ao modo” refere-se à maneira com que as pessoas escolhem suas roupas, baseado em seus gostos, suas preferências, os aspectos da sociedade em que estão inseridas.

Historicamente, a moda começou a se desenvolver no final da Idade Média, como forma de diferenciação entre gêneros e classes sociais, mas o seu formato como se conhece hoje só ganha forma a partir do século XIX. No período compreendido entre os séculos XIV e XVIII, a moda era regida por uma monarquia,

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que ditava o que as “pessoas comuns” - os não-nobres - poderiam usar. Enquanto eles eram, de certo modo, privados da liberdade sobre o que vestir, a monarquia e os seus nobres ostentavam luxos. A França se tornou sinônimo de moda - título que carrega até os dias atuais - justamente neste período, tendo em vista que foi a principal influenciadora dos costumes e do vestuário, perante as demais nações europeias. Inclusive, uma estratégia utilizada durante o reinado de Luís XIV, como forma de influenciar os países pelo continente, era a do rei francês enviar bonecas vestidas à moda francesa para as demais cortes europeias, para que ficassem cientes do que estava em alta naquele momento.

Figura 1. Retrato de Luís XIV - Hyacinthe Rigaud, 1702 e Maria Antonieta em Vestido da Corte - Élisabeth Vigée-Lebrun, 1778.

Fonte: Disponível em: <https://www.stylourbano.com.br/o-rei-da-alta-costura-como-luis-xiv-inventou-a-moda-como-a-conhecemos/>. Acesso em nov. 2019.

O desenvolvimento da moda para o seu atual conceito começa a surgir, principalmente, devido à Revolução Francesa. Com a prosperidade da burguesia, o final da divisão entre clero, nobres e plebeus, a realização pessoal movida pela prosperidade econômica e o individualismo, as pessoas começaram a adquirir uma noção de liberdade, visto que não se submetiam mais a um coletivo e aos padrões impostos por um seleto grupo. Esta mudança as levava a querer expressar suas vontades e suas preferências, aquilo que lhes era subjetivo, vestindo-se com o que queriam, dentre as opções da época, e não apenas ao que lhes era permitido.

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Desse modo, a Revolução alterou não somente a forma de se vestir, como também a relação das pessoas com a moda.

No entanto, este setor só começou a se transformar de fato para a sua forma atual com a Revolução Industrial, tendo em vista a modernização quanto aos processos de produção. Mas os benefícios da industrialização não impactaram somente a produção, pois, com essas mudanças, as pessoas passaram a ter mais poder aquisitivo - inclusive, neste período compreendido entre os séculos XVIII e XIX, a classe média se expandiu consideravelmente.

De fato, o século XIX é um marco para a moda, é “o século da moda por excelência” (RAINHO, 2002, p. 19 apud GUIMARÃES, 2008, p.3). Com a agilidade nos processos, proporcionada pela industrialização, o custo se tornou mais acessível: a fabricação dos tecidos era mais fácil e rápida, o que barateava o seu valor, e a produção das roupas começou a aumentar. Essa rapidez na produção resultou em uma moda que, frequentemente, se alterava, pois à medida em que era mais fácil adquirir peças de vestuário, a necessidade por novidades aumentou, gerando um processo de constante mudança.

Sobre o século XIX, Maria do Carmo Rainho (2002) ainda afirma que

Nele, o progresso da industrial têxtil, o desenvolvimento considerável do mercado de roupas prontas, o impacto do surgimento dos grandes magazines e o declínio do mercado de roupas usadas, além de uma certa melhoria no nível de vida da população, proporcionaram o acesso à moda a um maior número de pessoas, como os membros da pequena e média burguesia da França e da Inglaterra (RAINHO, 2002, p. 19 apud GUIMARÃES, 2008, p.3).

Mas não somente isso mudou os costumes das pessoas. Esse conceito de rapidez se propagou para a forma com que consumiam, se divertiam, e até com que pensavam, estando interligada à noção de novidade. Para reforçar esta ideia, tem-se uma burguesia ávida por mostrar o tem-seu poder, através da ostentação, que usava da moda como artifício para tal.

Um outro marco na moda foi o surgimento do profissional tido hoje como estilista - na época em que surgiram, no final do século XIX, eram chamados de costureiros, e só passaram a utilizar a denominação atual no século XX. Antes, as roupas eram feitas pelos artesãos de acordo com as vontades dos seus clientes,

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mas isso depois passou a dar espaço aos costureiros, que criavam suas peças de acordo com as suas noções de estilo e de elegância. Apesar desta nova forma de trabalhar, a premissa do costureiro era a mesma dos artesãos: não era qualquer pessoa que poderia usar as suas peças. Foi neste sentido que surgiu a Alta Costura.

O período compreendido entre estes dois séculos (XIX e XX), foi de bastante relevância para a moda no sentido do vestuário. Sobre isto, o filósofo francês Gilles Lipovetsky (1989, p.24) afirma que “ele foi o teatro das inovações formais mais aceleradas, mais caprichosas, mais espetaculares”, no que se refere ao conceito de moda, enquanto um dispositivo social marcado pela efemeridade, pela brevidade do seu desempenho e da sua função, por assim dizer.

No século XX, a moda vivenciou diversas formas de expressão. Por exemplo, durante a Primeira Guerra Mundial, as roupas precisavam ser práticas e favoráveis ao trabalho, mas, após o seu término, nos anos 20, foi permitida a experimentação no vestuário, marcado pela leveza. As mudanças seguiram esta linha durante todo o período, acompanhando os eventos históricos de cada época.

Figura 2. Registro imagético da moda nos anos 1920.

Fonte: Disponível em: <https://www.cutedrop.com.br/2011/02/a-beleza-dos-anos-20/>. Acesso em nov. 2019.

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Na década de 30, um fenômeno marcante é o começo da relação da moda com a arte. Um dos maiores exemplos disso é Elsa Schiaparelli, estilista italiana, que colhia nas artes, como o cubismo e o surrealismo, inspirações para as suas coleções de roupas, dando início à moda-espetáculo e à moda-conceito.

Contudo, na década seguinte, a moda sofreu outra mudança. Durante o período da Segunda Guerra, a recessão era regra, visto que os insumos como lã, algodão e couro eram utilizados para as necessidades das forças armadas, restando à população o uso da criatividade como forma de contornar esta falta.

Embora tenha sempre sido vista como assunto frívolo e elitista, as iniciativas feitas durante a Segunda Guerra demonstram como a moda pode ser elemento de resistência e de afirmação de identidade. Especificamente no exemplo da França, o centro da moda mundial que se vê, de repente, sob dominação estrangeira, o esforço e a criatividade dos franceses significou uma mensagem aos invasores: a de que ninguém podia tirar do país o bom gosto e a elegância, e que a vida continuava, apesar da ocupação (POLLINI, 2009, p. 59).

Já nos anos seguintes à Guerra, um fenômeno marca as tendências de moda e cultura: a juventude. Com influência na música, no cinema e nas artes, o comportamento da juventude serviu para trazer ares de liberdade e informalidade para o período. Um exemplo disso é a moda do jeans e da camiseta branca, na década de 1950, inspirada pelos ícones do cinema Marlon Brando e James Dean, que tinham a dupla fashion como uniforme, nos filmes em que atuavam. Aqui, inclusive, começa-se a perceber a influência das mídias na moda - a população se inspirava nos filmes, na música e demais veículos de comunicação para se vestir.

O século XX ainda foi marcado pelo surgimento do Prêt-à-Porter (pronto para vestir), que revolucionou o mercado da moda ao apresentar roupas prontas, em tamanhos padronizados, colocando a Alta Costura em segundo plano, visto que “a cultura de massa e as transformações urbanas pavimentaram o caminho das roupas informais” (POLLINI, 2009, p. 64).

E assim, seguiu-se a moda nas décadas seguintes, sempre em sintonia com o que acontecia no mundo, mostrando que ela vai além do vestir-se, mas que é usada como representação para o que a sociedade vive - foi na década de 60, com os movimentos feministas e a pílula anticoncepcional, por exemplo, que a minissaia

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foi criada, revolucionando não somente a moda em si, mas representando também uma revolução na estética e na liberdade das jovens.

Figura 3. Mulheres usando minissaia na década de 60 do século XX.

Fonte: Disponível em: <https://blogcaprichoatoa.com/2016/03/08/1-mini-saia-skirt-twiggy-anos-60-retro-vintage-moda-historia-feminismo-dia-da-mulher-brecho/>. Acesso em nov. 2019.

Os anos 70 foram marcados pelo hippie e o punk, movimentos de contracultura, que rompiam as barreiras apresentando estilos controversos à moda ditada pelas marcas e pela mídia. Já nos anos 80, a moda sofreu bastante influência da cultural oriental, com ascensão de estilistas como Kenzo e Issey Miyake, por exemplo, apresentando silhuetas mais geométricas, folgadas e que apostavam na assimetria, para o mercado.

O final desse século já mostra uma moda mais versátil e diversificada, sem que se seguisse um único padrão. Aqui, é vista uma mistura de estilos, do novo e do antigo, do glamuroso e do popular, ou seja, uma moda multifacetada, que abriu caminho para o que se vê nos dias de hoje - uma pluralidade de estilos e tendências.

Com a virada do século, a moda continua seguindo este viés plural e diverso, mas pautado na grande difusão de informações, advindas da Revolução Tecnológica. Denise Pollini (2009, p.84) afirma que, enquanto “a Revolução Industrial foi responsável pelo moderno conceito de moda, a Revolução Tecnológica

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traz consigo uma busca de nova reflexão sobre seu papel nas sociedades contemporâneas”.

A internet e os diversos meios de comunicação que surgiram desde então, proporcionam aos indivíduos estarem cada vez mais cientes e informados acerca do mercado, mas não somente a tendências e roupas em si, como também às cadeias de produção, a questões acerca de sustentabilidade, ética e consumo consciente, por exemplo.

Esse amplo leque também fez com que grandes marcas, já consolidadas, dessem espaços a novos e pequenos produtores, que viram, principalmente nas redes sociais digitais, uma nova possibilidade de empreender e trazer para o mercado mais diversidade.

Um conceito que define bem a moda dos últimos tempos é a subjetividade, onde os sujeitos se valem do vestuário para comunicar quem são. Apesar de novas tendências surgirem a cada dia (ou serem resgatadas do passado), a premissa é de usá-las e acrescentá-las ao estilo pessoal de cada indivíduo, apresentando uma moda mais personalizada e personalizável.

1.2 Mas afinal, o que é moda?

Apesar da sua importância para o entendimento das sociedades, no tangente ao viés histórico e cultural, a moda tende a ser posta como algo fútil ou sem relevância - fato que se deve, muito provavelmente, ao seu caráter efêmero. Em suas reflexões, Veblen (1983) afirma que as mudanças constantes pela qual a moda passa são nada mais do que uma afirmação do consumo notável da sociedade, o que acaba por reforçar a conotação negativa relacionada à área.

Recorrentemente, a questão a respeito da efemeridade da moda é posta em discussão, por levantar pontos como a sazonalidade de estilos; o desejo do indivíduo em destacar-se da maioria (o que reafirma a sua individualidade perante o conjunto); e a necessidade do mercado de se atualizar num ritmo deveras acelerado, para que tenha sempre novidades a oferecer ao seu público e possa, então, suprir tais desejos do indivíduo.

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O questionamento sobre esse estereótipo da moda não é recente e, tampouco, irrelevante, se levado em consideração o seu impacto quanto ao entendimento das sociedades. “A moda é celebrada no museu, é relegada à antecâmara das preocupações intelectuais reais; está por toda parte na rua, na indústria e na mídia, e quase não aparece no questionamento teórico das cabeças pensantes” (LIPOVETSKY, 1989, p. 9).

É importante frisar que ela representa épocas, culturas e representações. Através da sua história, pode-se compreender sobre costumes, regras, modo de viver de sociedades do passado e perceber o seu caráter de adaptação frente às imposições de cada época, vide exemplo dos tempos de monarquia, onde a população tinha de vestir de acordo com o que lhes era imposto, ou ainda nos períodos das grandes Guerras Mundiais, nos quais as pessoas precisaram se adaptar em meio ao cenário de escassez de recursos que viviam.

Contudo, a relevância da moda ainda vai além disso, se pensar na sua associação ao corpo. Nos estudos de mídia, o corpo é considerado como mídia primária, conforme a afirmação de Harry Pross (1971, p.128) de que “toda comunicação humana começa na mídia primária, na qual os participantes individuais se encontrem cara a cara e imediatamente presentes com seu corpo; toda comunicação humana retornará a este ponto”. Portanto, é certo afirmar que o corpo comunica. Conforme disse Ramos, “um corpo sem pintura é um corpo mudo” (2005, p. 98, apud GUIMARÃES, 2008, p.9).

Assumindo esta afirmação de que o corpo, suas características e tudo o que nele estiver comunicam, pode-se interpretar a moda também como uma forma de comunicar sobre o sujeito. Um simples exemplo disso é o modo como se ilustram as figuras de um CEO (diretor geral) e um estagiário de uma empresa: o primeiro é comumente associado a roupas mais formais, que demonstrem poder, enquanto o segundo apresenta características mais informais, mostrando uma imagem de inexperiência perante os seus colegas. Claro que isto não é um padrão, tampouco regra, mas é o estereótipo que associado à esta situação.

É certo que a moda é importante historicamente, posto que é um artifício de entendimento acerca do passado, mas deve-se lembrar que a sua relevância se

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aplica, também, para o entendimento sobre os tempos presentes. Nos dias atuais, cada vez mais tribos urbanas surgem, com diferentes códigos próprios, o que dificulta o entendimento acerca destes grupos sociais. Porém, o vestuário é uma ferramenta que aparece como uma forma de identificação e reconhecimento. Desse modo, pode-se afirmar que a moda “é também reflexão da e sobre a sociedade contemporânea” (GUIMARÃES, 2008, p. 12).

Falar sobre moda é pensar em questões que vão além do vestuário. Segundo Barnard (2003), moda e indumentária são fenômenos culturais, enquanto comunicação, e, desse modo, podem ser compreendidas como um sistema de significados, portanto não devem ser tidas como algo fútil ou sem importância, mesmo com esse aspecto de efemeridade que carregam.

Este campo é construído com base em um conceito amplo, que abrange não só o ato de vestir, como também está imbuído de significado político, social e econômico. Através da moda, é possível defender uma causa, representar uma tribo, comunicar sobre algo. Um exemplo da atualidade é a moda sustentável, que preza por roupas feitas com materiais ecológicos, produzidas por uma mão de obra legalizada e valorizada, e que alerta para o consumo consciente (tanto das peças em si, quanto dos recursos necessários para fazê-la).

Como visto anteriormente, este caráter ideológico da moda serviu como forma de protesto durante a história - a exemplo da criação da minissaia, na década de 1960, que representou um movimento de liberdade para as mulheres -, e ainda hoje possui tal finalidade. Pautas sociais como gordofobia, questões de gênero, racismo, dentre tantas outras, levam a criação de novos nichos no mercado como forma de incluir esses consumidores, que, por muito tempo, sentiram com a falta de representatividade na moda.

Contudo, apesar deste cunho ideológico, que mescla preocupações sociais e políticas, e leva a reflexões mais profundas sobre o tema, a moda possui uma característica muito particular, que, muito provavelmente, seja a responsável pela imagem não tão positiva a seu respeito: ela é efêmera. A moda, principalmente nos moldes em que se apresenta na atualidade, é marcada pela obsolescência programada, pela efemeridade. Lipovetsky e Serroy (2015, p.57) apontam que essa

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imposição pelo novo, característica de “longa data” da moda, está, hoje, atrelada “a um capitalismo que se tornou (...) artista”.

Este caráter efêmero e de anseio pelo novo, foi, por muito tempo, atrelado apenas à moda, porém, com o passar dos anos e os avanços proporcionados pela tecnologia, que tornaram os processos mais rápidos, em vários sentidos, as formas de consumo e os meios de comunicação enfrentaram mudanças e transformações, influenciando nos desejos dos consumidores por novidade, independente da área. Não é difícil observar a velocidade com a qual as tendências de decoração ou novos modelos de smartphones, por exemplo, aparecem no mercado. Isto atenta para a reflexão a respeito da sua importância e da sua influência perante a sociedade - é certo que a moda passou a abranger sentidos e áreas mais amplos.

Os jogos e os esportes, os acessórios, a imprensa e a televisão, a publicidade e o design, a higiene e a alimentação, o lazer e o turismo, os museus, os bares e os hotéis: mais nada disso, inclusive o próprio mundo da arte, é exterior aos mecanismos da moda (LIPOVETSKY e SERROY, 2015, p.56).

Portanto, é correto dizer que a moda é um dispositivo que abrange não somente às camadas do vestuário e as suas derivações, mas também se relaciona com os mais diversos campos, enquanto empresta suas significações - efemeridade e apelo estético - para estes. Como Lipovetsky (1989, p.24) afirma, é certo que a moda

(...) não tem conteúdo próprio; forma específica da mudança social, ela não está ligada a um objeto determinado, mas é, em primeiro lugar, um dispositivo social caracterizado por uma temporalidade particularmente breve, por reviravoltas mais ou menos fantasiosas, podendo, por isso, afetar esferas muito diversas da vida coletiva.

1.3 Comunicação e moda

Uma importante variável quando se trata de moda é a comunicação, visto que, para manter a sua obsolescência programada característica, é necessário que existam meios eficazes de transmitir as informações sobre este setor. A relação entre estas áreas é tão intrínseca, que é possível observá-la desde os primórdios do que se entende sobre moda, a exemplo da estratégia utilizada pelo rei francês Luís XIV, que mandava produzir bonecas vestidas à moda francesa para que fossem enviadas para as demais nações do continente europeu, a fim de divulgar o que estava sendo usado - em alta - naquele período.

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Ao longo da história, é possível ver a comunicação sobre a moda e suas tendências por meio da arte, do cinema, das revistas e dos jornais, através dos anos e dos períodos históricos da humanidade, e, então, entender o tanto que os avanços nas mídias foram importantes, também, para o avanço na moda.

Para situar esta relação, é preciso explanar um pouco sobre as evoluções que passaram, desde os primórdios. No princípio, essa comunicação não dispunha de muitos suportes, por isso se dava, essencialmente, pela mídia primária, o corpo, e portanto era preciso que as pessoas estivessem em um mesmo tempo e espaço, ou depender da comunicação boca a boca, para que pudessem adquirir conhecimento sobre os costumes do vestuário. O problema é que esse sistema era mais demorado, por isso acabava fazendo com que as mudanças nos estilos levassem mais tempo para acontecer.

À medida que os anos passaram e as tecnologias foram surgindo, os meios de comunicação foram, também, se desenvolvendo, o que acarretava em impactos na velocidade com que as tendências de moda passavam por transformações. Dessa forma, o caráter efêmero desta área foi sendo construído e cada vez mais confirmado, chegando à fama que possui nos dias atuais.

É correto afirmar que os meios de comunicação são catalisadores do anseio pelo novo e, com o surgimento da internet e avanço nas tecnologias, isto ficou cada vez mais em evidência. O fenômeno em questão é associado à cibercultura, a cultura contemporânea que tem como marco as tecnologias digitais, visto que ela “expressa o surgimento de um novo universal, diferente das formas que vieram antes dele no sentido de que ele se constrói sobre a indeterminação de um sentido global qualquer” (LÉVY, 1999, p.15). Ela trata do comportamento dos indivíduos neste ambiente digital chamado ciberespaço. Sobre estes termos, Lévy (1999, p.17) ainda explica:

O termo [ciberespaço] especifica não apenas a infraestrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informação que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam esse universo. Quanto ao neologismo ‘cibercultura’, especifica aqui o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de práticas, de atitudes, de modos de pensamento e de valores que se desenvolvem juntamente com o crescimento do ciberespaço.

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Hoje, se vê tendências surgindo e indo embora na mesma velocidade, e muito disso se deve ao constante desenvolvimento que as mídias sofrem. Canclini (2008) já afirmava esta influência dos meios de comunicação e suas atualizações, ao construir uma relação dessas com o corpo enquanto suporte:

O corpo sempre foi portador de cultura: posições e atitudes, vestuário e formas de pintá-los identificavam a etnia e o grupo a que se pertencia, mesmo que viajássemos a outras paragens. Mas as tecnologias da comunicação aumentaram a portabilidade cultural. (CANCLINI, 2008, p. 43-44)

A questão da evolução nos meios comunicacionais leva, também, à reflexão de como isso afeta e altera o modo do consumidor se comportar, inclusive no que diz respeito à moda. É de senso comum que toda nova tecnologia é responsável por alterar as relações entre consumidores e empresas, e isso não seria diferente com o digital (MEDEIROS, LADEIRA, et al. 2014). Sendo assim, é possível construir a relação entre os avanços comunicacionais provenientes da internet e a sua influência no mercado da moda, tendo em vista o modo como as atualizações nesses meios influenciaram a forma na qual a moda é transmitida para o público nos dias atuais.

Explorando a questão dos meios comunicacionais no setor da indumentária, em meados dos anos 2000, por exemplo, para que um indivíduo consumisse informação sobre moda, era preciso comprar revistas e materiais impressos de moda, nas bancas de jornais, para que ele pudesse ter acesso às principais novidades e tendências observadas nas fashion weeks, as semanas de moda - que, provavelmente, já tinham ocorrido há alguns dias. No entanto, com a evolução no meio digital, essa realidade é mudada completamente devido ao surgimento e constante desenvolvimento de suportes tecnológicos e ferramentas como as redes sociais.

Nos dias de hoje, é possível que o consumidor acompanhe os desfiles das grandes marcas ao vivo, por meio de transmissões online, permitidas graças às diversas ferramentas disponíveis aos agentes responsáveis pela comunicação com o público - as próprias marcas, a imprensa e o novo expoente desta equação, os influenciadores digitais. Aliás, deve-se destacar estes últimos como um fator importante e imprescindível para essa realidade ao vivo, já que permitem aos seus

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milhares, ou até mesmo milhões, de seguidores acompanharem tudo que está ocorrendo no mundo fashion em tempo real.

Essa influência dos meios comunicacionais existe não só no modo como as informações serão transmitidas, mas também no que será transmitido. Ainda comparando as práticas de alguns anos atrás com a atualidade, um exemplo válido é que antes as marcas proibiam a divulgação de detalhes dos desfiles antes do prazo da imprensa oficial (que era composta por um seleto grupo formado basicamente pelas principais revistas da área); enquanto nos dias atuais, essas mesmas marcas já incentivam cada vez mais a participação de pessoas influentes na divulgação de tudo o que está acontecendo, para que possam tanto conquistar um público ainda não alcançado, quanto se destacar como pioneiras no lançamento de novas tendências.

Este processo de mudanças no mundo da moda, influenciado pelo desenvolvimento dos meios de comunicação, se deve, em grande parte, à Revolução Tecnológica. Isto porque ela, que é conhecida por ser a terceira revolução industrial, ressalta a importância que as atualizações dos processos na indústria e nas tecnologias têm na forma de se fazer moda.

Com o desenvolvimento das tecnologias analógicas e mecânicas para o meio digital, novos aparatos e suportes tecnológicos foram criados, como, por exemplo, o smartphone. Estes novos suportes proporcionaram mais agilidade e praticidade aos seus usuários, o que acabou demandando novas formas de comunicar que acompanhassem este caráter de instantaneidade, a exemplo das redes sociais digitais como Facebook, YouTube e Instagram. Assim, o mundo da moda se viu obrigado a acompanhar estas mudanças para que pudessem manter o interesse do público em seus produtos e serviços.

Neste cenário de surgimento do digital e de novas ferramentas de comunicação, um novo personagem importante para o processo de produção de estilos e tendências é o consumidor. Isto pois, com as novas mídias, este indivíduo passou a ter mais voz, deixando de ser passivo (apenas aceitando as tendências impostas, sem poder de decisão) para se tornar ativo (tendo relevância na criação de novos estilos, com poder de escolha), fazendo, então, com que o mercado

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precise acelerar o seu ritmo, ao ponto que consiga acompanhar e se adequar às vontades e necessidades desses consumidores, à medida em que elas surgem, num ritmo cada vez mais rápido.

Um dos fatores que levaram a estas transformações foi o blog pessoal, que teve início com a internet e a evolução do digital. Este meio de comunicação aproximou o consumidor do mercado, facilitando o acesso não somente às informações acerca das tendências, como também aos produtos esteticamente similares àqueles considerados premium.

Desde que surgiram e começaram a se popularizar, os blogs de moda alcançaram um patamar de relevância no mercado, se destacando como ferramenta de comunicação digital importante para o mundo fashion. Campos (2016) afirma que, devido ao fato deles terem mudado os conceitos de compartilhamento, colaboração e recomendação, os blogs passaram a integrar interesses não só de mercado, como também de consumo, ao realizarem postagens patrocinadas por publicidades.

Contudo, é correto dizer que os blogs formam apenas uma parte deste sistema, visto que as redes sociais digitais também são agentes importantes neste processo. À medida em que Instagram, YouTube e tantas outras mídias foram se popularizando, a comunicação de moda também foi seguindo novos rumos. Da mesma forma que os blogs passaram a estar imbuídos de interesse de mercado, as redes sociais também o fizeram.

Com a possibilidade de realizar diversas, se não todas, as atividades ao alcance da palma da mão, em um único aparelho, as pessoas acostumaram-se com praticidade e agilidade, e vivem realidades cada vez mais imersivas em seus smartphones. Sobre isso, Canclini (2008, p.67) afirma que “as novas gerações acostumaram-se a que, na navegação digital, interajam a arte grega com a chinesa, a renascentista com a barroca e as vanguardas do século passado”; portanto, é preciso que as marcas saibam como trabalhar de forma a conquistar este espaço.

Com a relevância das redes sociais no processo de mudança na comunicação e no consumo, diversas ferramentas comerciais, voltadas para perfis de empresas, foram surgindo e corroborando para o avanço desse cenário. No

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Instagram, publicações patrocinadas começaram a aparecer, disponibilizando ao usuário a opção de direcionamento da plataforma para o site da empresa; o Facebook e seus espaços para propaganda aparecem como nova variável na equação da publicidade; e por aí vai.

Este leque de novas possibilidades obriga as empresas a inovarem e pensarem novas formas de atingir o seu público, que mudou os seus hábitos de consumo em decorrência de toda a facilidade ao acesso de informações, proporcionada por esses avanços tecnológicos. Dessa forma, é possível observar que as marcas mudaram não somente as suas estratégias para atingir o seu público-alvo, mas elas também transformaram a sua linguagem perante ele, não mais se apresentando como detentoras de uma verdade, mas aproximando-se dos seus consumidores, passando uma imagem de intimidade.

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2. SOBRE O STEAL THE LOOK

O Steal The Look (STL) é uma plataforma digital de moda e beleza, baseada em conteúdo comprável, que se destaca como líder do segmento, no Brasil, com mais de 2,5 milhões de visitas ao mês. Em 2012, Manuela Bordasch, fundadora do site, decidiu criá-lo com a proposta de comunicar informações e estilos de moda de forma diferente do que era praticado na época pelos veículos de comunicação, sob o domínio www.stealthelook.com.br. O intuito era aproximar o público que acompanhava moda através de revistas e blogs ao mercado da moda - uma realidade distante, quase inalcançável, se pensarmos na moda premium. Ela fez com que esse conteúdo fosse mais acessível ao público na medida que exponibilizava a estetização dos produtos considerados de luxo.

Em entrevistas, a criadora diz ter identificado a oportunidade enquanto pesquisava para o seu trabalho de conclusão de curso de Relações Internacionais, a temática investigada era a inserção do modelo fast-fashion na cultura brasileira, o que a fez procurar por cursos e atividades relacionadas ao mundo da moda. Em seus estudos, passou a conhecer os blogs que estavam em seu auge no Brasil, e percebeu que seguiam um mesmo padrão: traziam informação de moda, mas não disponibilizavam opções para que o leitor pudesse comprar tal peça de roupa ou acessório, apenas clicando em um link que o levasse a uma loja.

Com essa lacuna que os blogs deixavam, ela decidiu investir na ideia de criar um site que trouxesse conteúdo de moda de uma forma que os leitores pudessem facilmente ter acesso não somente às tendências, mas que não precisassem sair de casa ou procurar pela internet para adquirir os produtos. Ao invés de focar em informações de moda baseadas na vida e no estilo de uma pessoa só, uma celebridade, por exemplo, pensou que seria mais interessante se os conteúdos fossem feitos de acordo com o mundo fashion no geral. Assim, a tática foi apresentar várias tendências consideradas fashion, através de marcas famosas, usadas por várias pessoas, e, ao mesmo tempo trazer outros objetos similares esteticamente com preços mais acessíveis, e disponíveis para compra.

Em 2013, dois amigos de Manuela, Catharina Dieterich, formada em moda, e Arthur Chini, formado em Relações Internacionais, se juntaram a ela no STL,

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fazendo com que o site se profissionalizasse. Depois de sete anos do seu início, o STL é uma das plataformas digitais sobre moda de maior destaque do setor no Brasil.

A ideia principal de unir informações do mundo fashion com a possibilidade de adquirir o look de forma rápida, através de links diretos (daí o nome do blog, Steal The Look, que traduzido significa roube o look), de modo que o leitor pudesse consumir aquela tendência de forma fácil e independente de onde estivesse, cativou o público.

Figura 4. Comparativo de valores entre os produtos usados de inspiração e as opções mais acessíveis.

Em um vídeo no perfil oficial do STL no YouTube1, Manuela conta que, além

de divulgar informação sobre moda, o site também funciona como um mediador entre o consumidor e as marcas parceiras. Esse modelo que aborda o blog como uma ferramenta de informação sobre moda, no qual o leitor tem a possibilidade de ser redirecionado a um site de compras, fez do Steal The Look um dos pioneiros da área.

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Figura 5. Simulação de compra ao clicar no link disponibilizado na matéria.

Atualmente, a plataforma conta com 15 colaboradores, incluindo Manuela e Catharina, que respondem sobre produção de conteúdo, marketing e tecnologia da informação. Em uma análise no site, durante o período compreendido entre os dias 23 de setembro e 23 de outubro, percebeu-se que foram feitas 90 matérias ao todo, sendo que a frequência de postagens ficou em torno de duas a três por dia. Também foi observado que a publicação de matérias foi feita diariamente e, enquanto uns dias apresentavam um bom número de matérias, com quatro ou cinco publicações, outros contavam com apenas uma matéria diária. Com os dados coletados, foi percebido que os dias com menos publicações são os finais de semana, variando de uma a duas por dia, ao passo que, nos dias úteis, essa frequência aumentava para três, quatro e até cinco.

O site do Steal The Look possui uma página inicial, onde são apresentadas as matérias, em ordem cronológica (das mais recentes para as mais antigas), além de possuir outras nove abas, sendo divididas em oito editoriais de conteúdos (looks, tendências, beleza, styling, viagem, carreiras, comportamento e notícias) e em uma outra no qual o leitor é direcionado para o shop da plataforma. O site ainda possui um menu, no qual o visitante pode clicar nas seções “quem somos”, “anuncie” e “contato”.

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Figura 6. Página inicial do Steal The Look.

O avanço nos celulares e smartphones desencadeou em uma revolução na forma com que os usuários se comportam, principalmente no tocante ao consumo de informação. Onde antes existiam sites pensados apenas para a usabilidade em computador, hoje perderam o seu espaço para as versões otimizadas para o uso na palma da mão. Isso faz com que seja imprescindível que as marcas possuam sites pensados para o mobile, para que os usuários possam ter uma experiência agradável e, assim, os visitem mais vezes.

Desse modo, o STL não teria como ir na contramão e deixar de utilizar essa tática. Em sua versão mobile, o site apresenta uma estrutura diferente, sem as abas, apenas com as matérias exibidas na mesma ordem cronológica, com a opção de consulta ao menu, no canto superior esquerdo da tela.

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Figuras 7 e 8. Página inicial e menu na versão mobile do site.

O site apresenta um modelo diferenciado, fazendo um meio termo entre o estilo das revistas e dos blogs de moda, se enquadrando em um novo perfil, atualizado e dinâmico, que aposta no marketing de conteúdo para destacar-se no mercado. Ele é construído de forma a proporcionar uma experiência simples e intuitiva ao leitor, e aposta em estratégias nas informações de moda, postas de modo mais verticalizado para prender a atenção dos visitantes e convertê-los em possíveis compradores.

De acordo com a descrição que consta na página “Quem somos” do site2, o

intuito da plataforma é de inspirar e informar mulheres que anseiam expressar a sua personalidade de uma forma acessível e democrática. Isto é fácil de perceber pela forma como os textos são produzidos, utilizando-se da linguagem informal e imagética para se aproximar do leitor, além de se valer de situações vividas por ele,

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como o seu cotidiano, a sua rotina de trabalho, para facilitar a compreensão de uma tendência ou, por exemplo, de como incluir uma determinada peça às situações corriqueiras experienciadas por ele. A utilização de muitas imagens ilustrando as matérias facilita o entendimento do conteúdo e cativa o público.

Figura 9. Matéria com dicas de vestidos que podem ser usados tanto no trabalho como no happy

hour.

Figura 10. Uma das dicas da matéria, com a foto de inspiração, um curto texto informativo e os

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De acordo com a plataforma, o trabalho da equipe é baseado em cinco pilares principais, sendo eles humanização, leveza, conteúdo, funcionalidade e lifestyle. O STL afirma que este quinteto se transforma em confiança, credibilidade e amor, que criam uma sensação de comunidade com o público e que, por fim, geram resultados. Segundo afirma, a plataforma é construída na base de não apenas uma persona, mas, sim, de várias. “Cada integrante do time compõe a voz do STL de forma autêntica e verdadeira, criando uma conexão empática e duradoura com as leitoras”3, explica.

Figura 11. Comentários de leitoras em uma matéria do site.

A proposta de conteúdo comprável foi tão bem aceita pelo público do STL, que levou a plataforma a um novo segmento: o lançamento do Steal The Look Shop. O Marketplace, espécie de shopping center virtual, do STL reúne várias marcas, geralmente parceiras do site, possibilitando ao usuário encontrar diversas peças de modo fácil, em um único lugar. O empreendimento surgiu da visão das fundadoras de proporcionar a marcas menores, que não tinham a possibilidade de lançar um e-commerce próprio, um espaço de divulgação do seu material e de venda de produtos de forma simples. A escolha das lojas e peças é feita pelo time do portal de moda, e portanto só entra à disposição aquele produto que passar na curadoria do Steal The Look.

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Figura 12. Página inicial do marketplace do Steal The Look.

Uma outra jogada estratégica da empresa foi criar o evento PUSH, no qual abordam o empreendedorismo no mundo da moda, voltado para o público feminino. O evento conta com a presença de diversos nomes importantes no setor, e busca “dar um empurrão na carreira” das participantes, segundo explicam nas matérias4

sobre o PUSH. A iniciativa teve tanto sucesso, que foi criado um site com um portal de mentorias para o público, com profissionais de renome do mercado.

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Figura 13. Página inicial da plataforma online do PUSH.

Os números do portal impressionam e comprovam o seu sucesso perante o público: além dos 2,5 milhões de acessos mensais, o portal ainda conta com uma média de 3,7 milhões de pageviews ao mês e um percentual de 80% de taxa de acesso proveniente de um mesmo visitante. Segundo divulgado pela plataforma, o seu público é caracterizado, em sua maioria, por mulheres entre 18 e 24 anos (equivalente a 49%), e entre 25 e 34 anos (33%).

Além da plataforma, o Steal The Look também apresenta relevância através da sua presença nas principais redes sociais, como o Instagram (quase 400 mil seguidores), o Facebook (mais de 1 milhão de curtidas), o Pinterest (mais de 470 mil seguidores) e o YouTube (quase 50 mil inscritos).

Na conta do Instagram, a @stealthelook, são postados não somente os conteúdos de divulgação das matérias, como também conteúdos de inspiração para o público, sejam eles frases motivacionais, dicas de estilo rápidas, looks dos integrantes da equipe, por exemplo. Os stories são organizados em destaques temáticos (por exemplo: verão, revéillon e playlists).

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Figura 14. Feed da conta do STL no Instagram.

A conta da empresa no Facebook, facebook.com/StealTheLook, serve mais como um canal de divulgação das matérias do site, com chamadas atrativas, de modo a alcançar o público que utiliza a rede social em questão.

Figura 15. Página do Steal The Look no Facebook.

A conta do STL no Pinterest funciona como uma espécie de painel de inspirações, onde a equipe salva conteúdos que serviram de base para as suas matérias, e que os seguidores podem acompanhar, de modo a consumir conteúdos imagéticos alternativos. Os pins são separados em pastas temáticas, como, por exemplo, “viagens” e “daily looks”.

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Figura 16. Perfil da plataforma no Pinterest.

Para o YouTube, a equipe do STL produz conteúdos voltados para dicas de estilo e beleza, no qual a própria equipe protagoniza os vídeos, quando não chamam um convidado para fazê-lo.

Figura 17. Página inicial da conta do Steal The Look no YouTube.

Uma outra estratégia de manter contato com o seu público é a newsletter do Steal The Look através do e-mail. Por meio desta ferramenta, a plataforma busca informar aos seus leitores acerca das novas publicações no site. O e-mail de

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divulgação de determinado material contém um título chamativo sobre o assunto e, ao ser aberto, exibe a chamada da publicação em questão, além de outras, referentes às últimas matérias disponibilizadas no site. No corpo do e-mail, também encontra-se links para acessar as principais redes sociais da empresa - Facebook, Pinterest e Instagram - de modo que o público possa continuar conectado com a plataforma. Vale ressaltar que a opção de assinatura do newsletter está disponível em todas as matérias do site, juntamente com links de direcionamento para as demais redes sociais do Steal The Look.

Figuras 18 e 19. Capturas de tela de newsletter do STL.

Perante tal relevância no setor, a plataforma digital se caracteriza como um bom objeto para estudo sobre as novas formas de comunicar moda e de como isso afetou o público, que antes possuía mais dificuldade no acesso ao mercado, e, agora, consegue ter uma experiência mais completa e rápida, no consumo fashion.

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3. METODOLOGIA E OBJETO DE ESTUDO

Para realizar a análise sobre a influência da comunicação na moda, através da plataforma digital de moda Steal The Look, objeto deste projeto, será realizado um estudo de caso com suporte da netnografia, visto que serão analisados os meios digitais.

O estudo de caso foi escolhido por ser um método que consiste em aprofundar-se em uma situação micro, específica, como forma de compreender, por meio desta, sobre uma situação macro. É um estudo empírico que visa testar ou comprovar uma teoria, além de atestar fenômenos individuais e processos organizacionais. Sobre ele, Ponte (2006) afirma que é um método que se aplica em “uma situação específica que se supõe ser única ou especial (...) procurando descobrir o que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenômeno de interesse”.

Sendo assim, este método será utilizado como meio de entender a forma com a qual a moda se comunica atualmente, tendo em vista o desenvolvimento constante das tecnologias, que acarretam na necessidade de uma reformulação quanto à divulgação de informações. Esta compreensão sobre as dinâmicas do mundo da moda, seja no tocante à produção de conteúdo, ou à sua divulgação, será possível devido ao estudo de caso, já que este possibilita analisar uma questão individual a fim de entender a situação como um todo.

Portanto, o site Steal The Look foi escolhido porque, nos últimos anos, tem se afirmado como uma plataforma digital de moda relevante, que traz uma nova forma de enxergar os meios de comunicação neste setor. O site propõe nova modelagem ao mercado da moda e se vale de uma comunicação mais leve, visando a aproximação com o público e o seu reconhecimento como um importante veículo de informação.

A netnografia é uma ferramenta metodológica voltada aos estudos no meio digital e é amplamente utilizada pela área do marketing para estudar a comunicação e a cibercultura. De modo resumido, é a aplicação da etnografia, outro método de estudo, no ambiente onde a comunicação é mediada por computadores, smartphones ou qualquer outro aparelho digital que permita essa interação

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(AMARAL et al., 2008). Através dessa ferramenta, o pesquisador estudará, basicamente, as relações entre os sujeitos nas plataformas digitais, independente se ela for rede social, site ou blog, e busca entender como essas relações são construídas. O pesquisador netnógrafo, durante seu intervalo de pesquisa, está imerso no universo selecionado, para estudar as práticas culturais e comunicacionais.

A escolha pela utilização da netnografia, além de se tratar de um estudo de caso no ambiente digital, se deu pelo anseio de entender como a plataforma de moda Steal The Look conversa com a sua audiência, de modo que passem de consumidores de conteúdo para consumidores de produto, devido às práticas de marketing digital utilizadas pelo site.

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4. ANÁLISE DO STEAL THE LOOK E SUAS ESTRATÉGIAS

A escolha do site Steal The Look como objeto deste estudo se deu, justamente, pela ânsia em compreender sobre o mundo dos blogs e plataformas de moda, enquanto novas mídias, visto que ele foi um dos pioneiros do Brasil a abordar o blog como uma ferramenta de informação comprável sobre moda. Para isso, em suas postagens era possível que o leitor adquirisse a roupa ou acessório da tendência em questão, ao ser redirecionado a um site de compras, funcionando, quase como um e-commerce. De tal forma, a intenção era a de aproximar este usuário da realidade da moda de uma forma mais acessível - ao conteúdo e aos bens de consumo. A relevância do site está em sua linguagem clara e simples, com um bom uso de imagens, o que “corrobora o propósito de tornar o conteúdo acessível” (GOULARTE, 2015).

Além do site, o Steal The Look preza, também, pela boa estratégia nas mídias sociais, em especial, o Instagram, pois busca trabalhar conteúdos relevantes também nessas ferramentas. O uso das redes sociais é uma estratégia de marketing que as empresas vêm adotando, visto que possibilita novas formas de se comunicar com um público que está cada vez mais participante e engajado (MEDEIROS, LADEIRA, et al. 2014). Essa participação ativa dos consumidores, faz com que as empresas tenham mais atenção ao que produzem, pois ao conseguirem a satisfação do seu público, elas conseguem se tornar referência no assunto. E é justamente isto que explica parte do sucesso do STL, pois, em suas estratégias comunicacionais, está a produção de conteúdo voltada para a linguagem e os anseios do seu público-alvo.

Portanto, serão explicadas, a seguir, algumas das estratégias do STL, por meio de postagens feitas não apenas no site, como também nas redes sociais oficiais da plataforma.

Como já apontado anteriormente, em uma análise feita no site durante o período de um mês, compreendido entre os dias 23 de setembro e 23 de outubro de 2019, observou-se uma média de postagens de matérias no site do Steal The Look que varia entre duas ou três por dia. Com um total de 90 matérias publicadas no período descrito, foi percebido que a plataforma foi alimentada com publicações

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todos os dias, inclusive nos finais de semana, e que a quantidade diária não seguiu um padrão perceptível. De segunda a sexta-feira, o número de matérias variava, em sua maioria, de duas a cinco por dia, enquanto que no sábado e no domingo, essa quantidade girava em torno de uma a duas por dia.

Gráfico 1. Quantidade de publicações realizadas no Steal The Look no período entre 23 de setembro e 23 de outubro de 2019.

Fonte: Própria (2019).

O site possui oito editorias de conteúdo, sendo elas looks, tendências, beleza, styling tips, viagem, carreiras, comportamento e notícias. Durante o período analisado, foi identificado que as editorias com mais conteúdo publicado foram a de looks, com 31 matérias, e styling tips, com 22, ao passo que a menos atualizado foi a de notícias, com apenas uma publicação, seguida por viagem e carreiras, que registraram duas matérias cada.

Durante o período de análise, também foi percebido que os colaboradores do Steal The Look são atualizados quanto ao universo com que trabalham, pois mostraram estar a par das novidades do mundo da moda, produzindo conteúdos relevantes e atuais para a plataforma e informando ao seu público o que estava em alta durante aqueles dias, por meio de inspirações e dicas de estilo e beleza, além da disponibilização de links para compra das tendências apresentadas.

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Por meio desta análise, foi possível compreender sobre as preferências do público da plataforma, que buscam mais conteúdos voltados para inspirações e dicas de como usar certas roupas ou acessórios que estão “na moda”, principalmente em como incorporá-las na rotina do dia a dia.

Figura 20. Captura de tela de duas das publicações feitas no período analisado e categorizadas em styling tips e looks.

Para alcançar este público, além de criar conteúdos que o interessem, os colaboradores do STL também o produziram fazendo uso das gírias do momento, se valendo de uma linguagem informal, a fim de construir uma relação de maior intimidade com o leitor, de modo que fizesse parecer que eles estavam em uma conversa entre amigos. Assim, é possível fidelizar este leitor, que passará a identificar o Steal The Look como referência em produtor de conteúdo de moda. Um exemplo disso é a matéria “7 peças essenciais para o armário da primavera”, publicada em 03/10/20195, na editoria de looks. Nela, é possível perceber o uso

dessa linguagem mais informal por meio de expressões como “nossa deusa fashionista interior” e “Miranda Priestly que me perdoe” - aqui fazendo uma alusão à personagem do filme O Diabo Veste Prada, que é editora-chefe da revista de moda do mundo, que fala “Florais? Para a primavera? Inovador”, enquanto discute com a equipe sobre a edição de primavera da revista.

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Figura 21. Printscreen da matéria “7 peças essenciais para o armário da primavera”.

As estratégias de comunicação do Steal The Look não são limitadas apenas à sua plataforma. Como mencionado no capítulo 2, sobre o site, a sua presença se faz nas principais redes sociais - Instagram, Facebook, YouTube e Pinterest - e também através da assinatura de uma newsletter por e-mail. Portanto, é correto afirmar que os colaboradores também fazem uso das estratégias nestas mídias, uma vez que lá é possível manter um contato mais frequente e rápido com o seu público.

A conta oficial no Instagram (@stealthelook) é uma das mais movimentadas e conta com postagens diárias, variando de três a quatro por dia. Os conteúdos são variados e vão desde a divulgação de matérias do site, até posts divertidos, com frases motivacionais, apostando em um toque de humor. Conta também com publicações com teor publicitário, através de conteúdos pagos por marcas parceiras. Além disso, também são publicados conteúdos curtos sobre alguma novidade no mundo da moda.

Referências

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