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Agricultura e meio ambiente: tendências. - Portal Embrapa

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Academic year: 2021

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6 . AGRICULTURA E MEIO AMBIENTE:

TENDÊNCIAS

Tarcízio Rego Quirino

6 .1 . IN T R O D U Ç Ã O

Uma quase u nanim idade de nosso te m p o é o reco nh e cim e nto de que o planeta Terra tem d e m on stra do sinais de exaustào causada pelo uso acelerado que a h um anidade vem fazendo dos recursos naturais. Esse reconhecim ento foi, pela prim eira vez, enfática e c o n ­ v in c e n te m e n te d efendido pelo Clube de Roma a partir de 1968. A seguir, ganhou notoriedade m u n dia l pelo d o c u m e n to "Os Lim ites do C re s c im e n to " (M eadow s et al., 1974), que se torno u o marco iniciaT de nova fase dos estudos prospectivos (M arinh o & Quirino, 1995).

Em vez do ufanism o progressista típico do pós-guerra, tais e studos levam em conta a possibilidade de exaustão futura dos recursos naturais. O im pacto inicial de descrédito e a sensaçào de que este seria apenas um ponto de vista alarmista foram , aos poucos, c edendo espaço a reflexões e evidências que, se não chegaram a c o n fir m a r as piores previsões, certam ente desencorajaram as espe­ ranças q uim érica s de um m u n do in fin ita m e n te rico, de uma sociedade p ro gre s s iv a m e n te consum ista e de uma natureza para sempre d a d iv o ­ sa. Incentivaram , ao contrário, as atitudes e as ações preventivas. O crescente patrocínio internacional desse reconhecim ento, expresso p o litic a m e n te por eventos como a Cúpula do Rio (Eco 92), vem r e fo r­ çando seu papel e, aos poucos, to rn a n d o -o in fluente nas decisões políticas e econômicas.

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Hoje em dia, o Z e itg e is té de que a natureza é fin ita c o m o fon te de m a téria -prim a para o nível de co nsu m o da população atual, a despeito da eno rm e desigualdade entre países e entre estratos sociais. No que tange ao acesso às riquezas e às co m o d id a d e s da civilização in d ustria l, tal co m o esta foi praticada pelo c a pita lis m o euro-am e rican o e pelo so cia lism o sino-soviético, claraméVite não são realizáveis os ideais de igualdade dos povos e dos in d ivídu o s. A m b o s os sistemas políticos co nte nd o re s da guerra fria, apesar de terem sido d o m ina n tes durante quase to d o o século XX, oferecem um m o d elo de civilização in d ustria l in viável, m esm o se usufruída apenas pelos p riv ileg ia do s b eneficiários atuais dos países mais ricos. Espalhada para toda a hum anidade, chega a ser im pensável.

As relações entre o h om em e a natureza devem ser revistas para se adaptarem a o s te rm o s desta, visto que, até a q u i,fo r a m regidas pela d inâm ica im posta pelos hom ens. As diversas organizações eco­ lógicas, reconhecidas co m o Novos M o v im e n to s Sociais (Buttel, 1992), são a expressão dessa consciência e a força política que a insere na história. Apesar disso, não está disponível, no mercado das idéias político-sociais de nossa época, uma utopia que seja, ao m esm o te m p o , ecolog ica m e nte viá vel, socialm ente e quaiitária e p o litic a m e n ­ te m o tiv a d o r a ^ 0 decorrente se n tim e n to de im p o tên cia , de perigo e de fru straçã o tem se to rn a d o parte im p o rta n te das características da

hum a n id a d e pós-m oderna. ’ E x i s t e m i n ú m e r a s p r o p o s t a s d e r e o r g a n i z a ç ã o s o c ia l q u e a t e n d e m a o s p a r â m e t r o s e c o l ó g i c o s . O p r o b l e m a é q u e s u p õ e m u m a v o l t a a n í v e i s p r i m i t i v o s d e p r o d u ç ã o e c o n s u m o ou a m a n u t e n ç ã o d a s d e s i g u a l d a d e s e n t r e p a í s e s e p e s s o a s , d e ta l m o d o q u e d i f i c i l m e n t e c h e g a r i a m a t o r n a r - s e u m a f o r ç a p o l í t i c a i n s p i r a d o r a p a r a as m u l t i d õ e s , u m c o m p r o m i s s o o r g a n i z a d o r p a r a p a í s e s r ic os e p o b r e s e u m p a r â m e t r o d e t e r m i n a n t e d a s m u d a n ç a s s o c i o e c o n ô m i c a s g l o b a i s . O R e l a t ó r i o B r u n d t l a n d ( U N C E D , 1 9 8 7 ) é u m a p r o v o c a ç ã o p o s i t i v a na d i r e ç ã o d e u m a " m o d e r n i z a ç ã o e c o l ó g i c a " c o m d e s e n v o l v i ­ m e n t o e c o n ô m i c o s u s t e n t á v e l ( H a n n i g a n , 1 9 9 5 ) , m a s a i n d a n ã o m o s t r o u f o r ç a p a r a c u m p r i r o n e c e s s á r i o p a p e l d e u t o p i a p o l i t i c a m e n t e m o t i v a d o r a p a r a o n o v o m i l ê n i o .

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A capitalização da agricultura, que vem ocorrendo na Europa e nos Estados U n id os desde a metade do século XIX dom inada pelo im p u ls o p ro d u tiv is ta , p ro c u ra m axim izar os lucros do capital indepen­ dente do im p a cto n eg a tiv o sobre o meio am biente (Goodm an & Redclift, 1991). A a g r ic u ltu ra " in d u s tr ia l" , que corresponde aos pa­ drões d o m in a n te s de p ro du ç ã o, d istribuição e co nsu m o da civilização in d us tria l e caracteriza a recente evolução dos arranjos institucionais da a g ric ultu ra brasileira (Silva, 1996), atenderia aos correspondentes valores c u ltu ra is de acesso abundante e hedonístico ao consum o. Mas a resultante d re na g em de poluentes para cursos d'âgua, a d eteriora­ ção de terras frágeis, a erosão do solo por nutrientes quím icos e pesticidas, a conversão extensiva de paisagens naturais, de florestas e de h a b ita t de b io d iv e rs id a d e , em terras agricultáveis, têm sido ig u alm en te d enunciadas c o m o parte im p o rta nte do desbalanço nas relações entre o h o m e m e a natureza (Adams et al., 1990), embora in fe rio r aos im p a ctos decorrentes, por exem plo, dos dejetos in dus­ triais, da expansão urbana e do problem a atôm ico e energético. Para ate nder à reivindicação de que a hum anidade necessita adotar uma a gricultu ra sustentável, no sentido ecológico de ser tecnicamente a propriada para c o n tin u a r p roduzindo in d efin id am en te no mesmo nicho, é necessário id e n tific a r ou gerar tecnologias que atendam tais condições e que sejam econ ô m ica e socialm ente viáveis. Com efeito, m u ito d in h e iro e esforços tê m sido destinados a essa meta nos últim os anos, mas m u ito pro gresso está ainda por ser realizado.

No Brasil, a Em brapa passou a procurar explicitam ente o c a m in ho da s u s te n ta b ilid a d e da agricultura desde, pelo menos, o início dos anos noventas (Flores et aI., 1991 ). Para isso, re form u lou sua própria missão in s titu c io n a l d e m o d o a t o r n a r a pesquisa agropecuária das suas trinta e o ito U nidades de pesquisa, in stru m e nta l para a sustentabilidade da a g ric u ltu ra em sentido amplo, adotou a adm inis­

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tração estratégica c o m o p rincípio o rganizador e redefiniu a missão de u m a d e la s para que cuidasse do m o n ito r a m e n to e avaliação do im p a c ­ to am biental da agricultura (Jaguariúna, SP). Conhecido com o Embrapa Meio A m b ie n te , tem c o m o missão c o n trib u ir para to r n a r possível a a gricultu ra sustentável, pela ação direta e ta m b é m pelo in ce ntivo à pesquisa ecolog ica m e nte correta dos dem ais Centros e, p r in c ip a lm e n ­ te , pela lid e r a n ç a q u a n t o ã i d e n t i f i c a ç ã o de p r o b l e m a s , ao m o n ito r a m e n to de situações e à proposição de perspectivas. A refle­ xão sobre a situação e tendências das relações entre o h om e m e a natureza, assim co m o se e x p rim e m no im pacto da a g ric ultu ra sobre o m eio a m biente no Brasil, torna-se in s u m o fu n d a m e n ta i para in fo r m a r os ru m o s e as decisões de p rio rid a de da pesquisa agropecuária e da agricultura em geral.

O estudo que se segue é uma c o n trib u iç ã o ã reflexão sobre o tem a. É uma construção coletiva, no sentido de que o m é tod o e m p re ­ gado se caracteriza pela co m b ina çã o de co n trib u iç õ e s de um núm ero de especialistas in te n c io n a lm e n te selecionados, para assim a tin g ir uma visão prospectiva. O m é tod o propõe que tal visão, co m p a rtilh a d a e in fo rm a d a pelo co nh e c im e n to de especialistas heterogêneos, tem m a io r p ro b a b ilid a d e de se a p r o x im a r de um fu tu ro o b v ia m e n te desco­ nhecido. Este, a rigor, é im possível de ser percebido, senão qua n do já in e x o ra v e lm e n te presente (M arinh o & Q uirino, 1995). A ju s tific a tiv a para te n ta r e m p re e n d im e n to tão d ub ia m e n te exitoso é a m esm a que filó s o fo s , políticos, negociantes e sim ples m o rta is nos d am os para e x p lo ra r o fu tu r o sob q u a lq u e r o utro ângulo. Se não sistem atizam os nem d is c ip lin a m o s nossa reflexão fu n d a m e n ta d a no que sabem os do passado, o fu tu ro será uma incógnita perfeita sobre que, apesar disso, estarem os c o n tin u a m e n te in flu in d o através das decisões defin id o ras de nossas presentes ações e de suas conseqüências, sejam elas in tencionais ou fo rtuita s. Ou então, o fu tu ro será visto c o m o a projeção

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de desejos in d iv id u a is ou coletivos que, ao final, possivelm ente nada terá a ver com a form a com o as coisas de fato acontecerão.

A p ró x im a sessão identificará os aspectos centrais do estu d o e d e lim ita rá o enfoque. Em seguida, serão dadas inform ações sobre os aspectos m e tod o ló gic o s . O corpo central do estudo exam inará aspec­ tos s e le cion a do s dos resultados: os p rin c ip ais fatores com alta p ro b a b ilid a d e de influenciar o fu tu ro da qualidade am biental na a g r i­ c ultura e as tecnologias críticas e linhas de pesquisa básica e aplicada que, à análise dos especialistas, se revelaram mais apropriadas para a te n de r aos problem as da agricultura sustentada no Brasil. Fin alizan­ do, serão sum ariadas as conclusões e apresentadas alg um as reflexões sobre as condições emergentes exam inadas, com referência p rin cip al até o ano de 2005, porém com horizonte dilatado para mais além.

6 .2 . A S P E C T O S FO C A IS

A abordagem que vai ser dada para considerar as relações entre o m eio am biente e a agricultura é confessadam ente lim itad a e c ircunscrita. É o resultado de uma recente pesquisa da Embrapa M eio A m b ie nte '^’ e decorre da preocupação de id e ntifica r cam inhos que possam s e rtrilh a d o s pela pesquisa agropecuária brasileira e in c o rp o ­ rados à sua agenda de prioridades, de alargar a proporção dessa pesquisa que percebe tais relações com o problem áticas e de in teres­ sar m ais pessoas em procurar e adotar soluções práticas para os p ro ble m a s decorrentes do estado insatisfatório dessas relações. A lé m

^ P r o g r a m a d e P r o t e ç ã o e A v a l i a ç ã o d e Q u a l i d a d e A m b i e n t a l , p r o j e t o 1 1 . 0 . 9 4 . 2 2 6 " A n á l i s e P r o s p e c t i v a d o s P r i n c i p a i s F a t o r e s d e D e g r a d a ç ã o A m b i e n t a l na A g r i c u l t u r a " . A p e s q u i s a se b e n e f i c i o u , e m p a r t e , do a p o i o do C N P q a o a u t o r ( p r o j e t o 5 2 1 9 8 8 / 9 5 - 0 )

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disso, está referenciada ao horizonte tem po ra l do p rim e iro q ü in q ü ê n io do p ró x im o século, ao espaço brasileiro e ao alcance do m é to d o que se considerou a propriado para a exploração do futuro.

0 foco prin cip al da abordagem foi construído em to rn o de aspectos selecionados da organização social e da tecn o lo gia, reconhe­ cidos por um grupo de pesquisadores agropecuários e especialistas em pla nejam ento estratégico e futurição, como capazes de exercer in flu ência hegem ônica sobre o fu tu ro da agricultura, as ten d ên cia s da dem anda tecnoló gica e as pressões sociopolíticas exercidas sobre a pesquisa agropecuária. Os aspectos substantivos que serão d is c u ti­ dos nos pró x im o s itens co nstitu em uma seleção da análise prospectiva resultante do estudo. Discussão de outros aspectos está d isp on ível em W r ig h t et al.(1994), W r ig h t & Irias (1996 a,b) e Q uirino et al.(1997).

6 .3 . O M E TO D O DELPHI

O m étodo Delphi consiste na consulta repetida de especialis­ tas e o utros interessados, com o objetivo de discutir e a pro fu n d a r d ete rm ina d o assunto, usualm ente para fins de p la ne ja m e nto ou de prospecção. Seu em prego é indicado nos casos em que não há suficiente conhecim ento científico ou factual estabelecido sobre o tema, quando os m étodos prospectivos de extrapolação de tendências não se aplicam ou quando se busca a convergência de opiniõ e s em instâncias de interesses inicia lm e n te conflitantes (HilI & Fowles, 1975; Twiss, 1992; M arinho & Q uirino, 1995; Ziglio, 1996). É fo r m a d o um painel de especialistas a nô n im o s entre si que objetivam o refinam ento p rogressivo das previsões m ediante seguidas etapas de interação escrita e cum ulativa.

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Por se tra tar de uma amostra intencional, em que é im p o r t a n ­ te a qualidade dos conhecim entos dos participantes, a e xploração de idéias e a com binação interativa de inform ações, não se põe o p r o b le ­ ma da representatividade nem da replicabilidade, os quais são a te n d i­ dos pelo a tributo da credibilidade (HilI & Fowles, 1975; D ow nes, 1991)'^’. Embora a alta credibilidade não garanta a boa q u a lid a d e científica dos resultados, sem ela é im possível obter bons resultados científicos (Kerlinger, 1973).

Na presente instância, realizou-se a aplicação do m é to d o Delphi em duas rodadas, em que participaram , respectivam ente, 135 e 64 especialistas. Na prim eira, identificaram -se o sfa to re s que, s e g u n ­ do o ju lg a m e n to co m p a rtilh a d o pelos painelistas, irão in flu e n c ia r os aspectos da qualidade am biental na agricultura brasileira, aqueles que m e lh o r descrevem tal am biente fu tu ro e a s p r io r id a d e s d e atuação e de pesquisa a a d o ta re m tais circunstâncias. Na segunda, c o n firm a ra m -s e e a profundaram -se os resultados da prim eira rodada, discu tind o -se tem as p olêm icos e novos assuntos sugeridos por esta.

O m étodo Delphi não reivindica pressupostos quanto à c o n ­ cepção de m undo e aos fun d am en to s teóricos de interpretação da realidade eventualm ente adotados por cada painelista. Como em um heterogêneo grupo de consultores, cada participante fica livre para c o n trib u ir com suas conclusões e sugestões, sem ter de ju s tific a r as bases de suas evidências. Tal posição, que pode ser objetada a p a r tir de qua lq u er um dos pontos de vista que caracterizam a div e rsid ad e paradigm ática das ciências sociais (Coilins, 1994) tem , por o u tro lado, diversas vantagens práticas, a saber: focaliza no problem a em discu s­ são, evitando m onopolização por apenas um ponto de vista; abre

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espaço para que sejam levadas em consideração as interações entre os fatores, os quais são percebidos pelos especialistas, ta n to sincrônica, co m o diacronicam ente; é uma form a de praticar a c o m p le m e n ta rid a d e de e n te nd im en to que cada um dos paradigm as não se tem m o stra do capaz de alcançar sozinho (Quirino, 1970; M a rin h o & Quirino, 1995); trata de a p ro x im a r a dinâmica, embora não a fo r m a nem o rigor, de uma abordagem sistêmica com plexa; fin alm en te , canaliza as energias da participação e da criatividade para os aspectos práticos e as conseqüências relevantes do assunto em discussão, m antendo, ainda assim, uma abordagem pluralista.

6 .4 . A S G R A N D E S M U D A N Ç A S ^

Quatro grandes mudanças influenciarão o estado da agricultura brasileira no início do século: a globalização, a form ação de blocos, o ambientalismo® e as condições cambiantes do mercado interno.

6 .4 .1 . G lo b a liza ç ã o

O im pacto da globalização sobre a a g ric u ltu ra brasileira é reconhecido com o e x trem am ente im portante, seja m e d iad o pela f o r ­ mação de blocos, seja diretam ente pela abertura de mercado para o m u n do . Os painelistas prevêem que a participação do com ércio exte­ rior no Produto Interno Bruto (PIB) vai evoluir dos atuais 15% para 20 a 25% em 2005. Em conseqüência, o d e s e n v o lv im e n to econ ô m ico será acelerado, a agricultura e a indústria tenderão a m odernizar-se e os

‘ P a r te d o s a r g u m e n t o s e i n f o r m a ç õ e s a q u i s i n t e t i z a d o s e s t ã o d e s e n v o l v i d o s e m Q u i r i n o ( 1 9 9 7 ) , Q u i r i n o et al. ( 1 9 9 7 ) e Q u i r i n o & Ir ias ( e m p r e p a r a ç ã o ) . A s c i t a ç õ e s s e m o u t r a i n d i c a ç ã o no t e x t o s ã o p r o v e n i e n t e s d a s e g u n d a r o d a d a d o s q u e s t i o n á r i o s D e l p h i .

^ " A m b i e n t a l i s m o r e f e r e - s e ã i n t e r v e n ç ã o p l a n e j a d a p a r a c o n s e g u i r m e l h o r a m e n t o na q u a l i d a d e a m b i e n t a l , as m a i s d a s v e z e s r e a l i z a d a p e l o E s t a d o , n o s p a í s e s d e s e n v o l v i ­ d o s " ( G o o d m a n & R e d c li f t , 19 9 1 ).

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p r o d u to s e s e rviço s brasileiros ficarào mais c o m p e titiv o s no mercado in tern a c io n a l. A agropecuária terá mais co m petição externa para o a ba ste c im e n to do m ercado interno e, ao mesmo tem po, mais o p o rtu ­ nidade para e x p o rta r, em conseqüência do aum ento da dem anda e do cre s c im e n to do c o m é rc io global.

A pesar das opo rtu nida d es renovadas, mudanças nas c o n d i­ ções do mercado in terna cio na l d ificultarão a capacidade da produção agropecuária de tir a r partido daquelas. Em p rim e iro lugar, novas tec n o lo g ia s de p ro d u ç ã o nos países mais desenvolvidos manterão a atual tendência de queda do preço médio internacional de com m odities. Ela será c o m p en sa da , porém , pelo decréscim o do custo dos tra n s p o r­ tes e da a d m in is tra ç ã o dos negócios, de m odo que os preços ao a g r ic u lto r não serão forte m e n te afetados para baixo. Como resultado, haverá in c re m e n to da produção e da p ro du tiv id ad e da agricultura.

Em se g u n d o lugar, o mercado internacional se tornará mais exigente com relação aos im pactos am bientais negativos causados pelas a tiv id a d e s a grop e c uá ria s , e crescerão as pressões contra d e s flo re s ta m e n to e violação dos direitos hum anos, c o m o uso de tra b a lh o in fan til e semi-escravo. Assim , aum entará a in flu ência da opiniã o pública in terna cio na l sobre as o po rtu nida d es de exportação da a gricultu ra brasileira; em compensação, crescerá o nicho de p ro d u ­ tos de exportação de melhor qualidade, social e ambientalmente corretos. Essa é uma oportunidade que deve ser aprofundada e explorada.

Segundo alguns painelistas, o produtor para exportação tem facilidade de adaptar-se às novas tecnologias e demandas de mercado, além de ter acesso ao crédito, o que contribuirá para que a competitividade das exportações brasileiras não seja afetada negativamente. A assistência do Governo ainda poderá dim inuir o traum atism o das mudanças, espe­ cialmente se dirigida aos pequenos produtores, o que aumentará as repercussões positivas também no mercado interno.

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Este cenário conta com o recrudescim ento da politização da o pinião pública internacional que, embora positiva em essência, p o d e ­ rá tornar-se um campo de m anobra para exclusão de p rodutos b ra s i­ leiros do mercado, mediante barreiras não alfandegárias, por m o tiv o s inconfessados de com petição de preços ou proteção de m ercado. Im põem -se ações preventivas como: o re conhecim ento precoce de tendências do aparecim ento de tais barreiras; a m obilização do e s fo r­ ço tecnológico, organizacional e político para superar as condições que possam justificá-las e a identificação e sustentação, no c o nte xto político nacional e internacional, de arg um en tos e pontos de vista favoráveis aos interesses do Brasil como e x p o rta d o r de p ro d u to s agropecuários.

Talvez ainda mais im p o rta nte que as pressões, os pro du tores percebem cada vez mais claramente, segundo a argum entação de um dos painelistas, que é do seu interesse a rejeição {push effect) aos m étodos tradicionais da agricultura p ro d u tiv is ta em troca de um relacionam ento menos pre da tório com a terra, que, fin alm en te , repre­ senta o elem ento mais perm anente - ou não, caso não seja preservada - do capital de produção.

Em suma, a m elhoria da qualidade dos p ro du tos e a adapta­ ção dos padrões de produção a razões sociais que, em princípio, não visam d im in u ir custos, serão elementos m u ito im p o rta nte s para a ada ptação da a g r ic u ltu r a ã nova c o m p e t i t i v i d a d e do m e rc a d o globalizado.

6 .4 .2 . F o rm ação de blocos

C ontrariam ente à d ou trin a neoliberal, aos desígnios dos Esta­ dos Unidos e à política de o rg an ism o s in terna cio na is, com o o Banco M undial, que preferem uma globalização irre s trita , esta vem sendo mediada pela form ação de blocos regionais de co m é rc io , às vezes com

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pretensão a a ti n g ir f o r m a s mais abrangentes de integração, a exem plo da U nião Européia. Os blocos, uns mais, outros menos, deverão influenciar a agricultura brasileira e suas relações com o meio ambiente.

6 .4 .2 .1 . M E R C O S U L

O M ercado C om um do Sul (MERCOSUL), que se coloca mais perto dos interesses brasileiros, terá um im pacto forte e variado sobre nossa a gricultura. A crescente integração já está in fluenciando aspec­ tos c o m o m a io r c o m p e titiv id a d e e produtividade, m a io r especializa­ ção, m e lh o r preço e qualidade. Trigo, carne e leite são os produtos mais expostos ã co m petição. Produtores que atualm ente trabalham em áreas onde a c o m p etiçã o é mais forte deverão m u d ar de produto. Em com pensação, haverá m a io r exportação de p rodutos in dustrializa­ dos e fru to s tro p ic a is e in crem ento do v o lu m e e das condições de negociação. A A rg e n tin a é o país de mais impacto, e a qualidade dos solos a favorece. A diferença de tecnologia na pecuária leiteira exige que o Brasil adote in centivos à modernização, co m o transferência de e m b riõ e s e in sem inação artificial, e ofereça form as creditícias v in c u ­ ladas á m elhoria do manejo. Finalmente, segundo um dos painelistas, o in c re m e n to das o po rtu nida d es de exportação de pro du tos poderia retardar a equação do problem a da fom e no País.

6 .4 .2 .2 . A U n iã o E u ro p éia

A União Européia (UE) é vista com o um mercado de alto potencial para os pro du tos brasileiros, p rincipalm ente se a a pro x im a ­ ção fo r oficializada p or p rotocolo político. A redução de subsídios aos p ro du tos agropecuários e u r o p e u s é u m a d a s dem andas para m elhorar a c o m p e titiv id a d e dos nossos produtos. Provavelmente, terem os o po r­ tu n id a d e s de fazer bons negócios fornecendo p rodutos tropicais e im p o rta n d o tecnologia, j á q u e a U E t e n d e a d e p e n d e r d e u m a g a m a d e p ro du tos agrícolas que exportam os. Pode-se e xpandir o mercado de

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fru tas tropicais e de contra-estação, mas este exige alta q ua lid a de , excelente apresentação e inexistência de resíduos a g roq u ím ic o s .

Por outro lado, pode haver in flu ê n c ia s negativas se, por exem plo, aum entarem as restrições às im p o rta ç õ e s de d e riv a d o s da soja. Como efeito dos subsídios concedidos, os países europeus im p õ e m uma com petição irreal com a a g ric u ltu ra brasileira, d ific u lta n ­ do a exportação. Além disso, pode re m o s te r o acesso re s trin g id o , no que concerne a algumas tecnologias de nosso interesse.

0 mercado da UE tende a se t o r n a r cada vez m ais exigente, in centivando a agricultura orgânica sem a grotó x ic o s e penalizando pro du tos com resíduos quím icos. As preocupações a m b ien ta is estão sendo rapidamente traduzidas em norm as políticas e a dm in is tra tiv a s , co m o certificação da Internacional S tandardization fo r O rganization (ISO) tipo ISO 14000, cobradas das im p o rta çõe s. Tais exigências já estão afetando a co m p etitiv id a de dos p ro d u to s brasileiros. Problemas sanitários, com o a aftosa e outras doenças, podem cria r grande obstrução.

6 .4 .2 .3 . O N A F T A

A in fluência do N orth A m e ric a n Free Trade A s s o c ia tio n (NAFTA) sobre a agricultura brasileira é vista pelos painelistas de m odo m uito menos otim ista de que a da Europa. Em bora diversos deles reconheçam sua forte influência d e v id o à posição dos Estados Unidos na econom ia globalizada, o que to rn a o NAFTA d in âm ic o e "c o m imenso potencial na área de tec n o lo gia, insum os, b io tecnologia, dentre o u tro s ", os interesses do Brasil se ressentem pelo estilo im p o sitivo que foi usado para arrancar a aprovação de uma Lei de Patentes que, segundo um respondente, "traz e no rm es prejuízos a nossa a g ricultu ra ". 0 mercado se torna cada vez mais sofisticado, c o m o o d a E u r o p a . A p r o x i m i d a d e d o M é x i c o d o s centros d inâm icos de

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c o n s u m o e OS in c e n tiv o s q u e te m recebid o d ificu lta m a c o m p e t itiv id a d e b ra s ile ira , c o m o é o c a s o do suco de la ranja.

Crescerá nas im p o rta ç õ e s a influência de nichos especiais de m ercado, de p re oc u p aç ã o com p meio am biente e de qualidade. Haverá pressão p o r preços mais baixos, m a io r c o m p etitivid a de , espe­ cialização e m a io r c o n tro le de qualidade. Surgi rã o maiores exigências am b ien ta is para p ro d u to s florestais.

Parece não h aver expectativa de que o Brasil te rm in e por aderir ao NAFTA. Esse c a m in h o teria sido m u ito dificu ltad o pela presença do M éxico, que produz a baixos custos, e do Canadá, que dispõe de alta te c n o lo g ia , o que reduz e estreita o mercado de que o Brasil p oderia beneficiar-se. Em geral, a situação está o b riga n do a uma relação m ais fo r te com a UE e à luta pela extensão do MERCOSUL a outros países do co ntin e n te .

6 .4 . 2 .4 . B acia do P a c ífic o

A in flu ê n c ia da Bacia do Pacífico é mais longínqua, mas a região é um c a m p o aberto à expansão comercial, com suas econom ias em c re scim e n to. É um m e rc a d o em expansão para pro du tos protéicos e uma o p o rtu n id a d e para soja e grãos. Há m u ito espaço para parcerias de in v e s tim e n to , in te r c â m b io técnico, fin an cia m e nto e projetos de cooperação (assim co m o co m o Japão). Apresenta-se co m o a lte rn a ti­ va para a a g ric u ltu ra do Centro-Oeste. Depende tam b é m da pre ocu p a ­ ção com aspectos a m b ie n ta is , mas não em tão alto grau com o o m e rc a d o e u r o p e u e o n o r te -a m e ric a n o . A entrada do Chile no MERCOSUL pode a u m e n ta r a penetração de p rodutos brasileiros, fac ilita nd o o escoa m e n to para o Pacífico.

Em c o n tra p a rtid a , a tradição cultivada pelos países da bacia do Pacífico, de serem g ra nd e s exportadores e pequenos im p o rta d o ­ res, e de darem p rio rid a d e ao com ércio regional, lim ita o tam an h o do

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mercado que pode ser co nquistado pelo Brasil. Apesar de tal situação, a curto prazo, um dos painelistas sugere que a projeção de c re s c im e n ­ to do com ércio de produtos agrícolas brasileiros está d ire tam en te relacionada ao c o m p o rta m e n to político e econôm ico dos países asiá­ ticos (bacia do Pacífico e China), podendo alcançar patamares entre 7 e 8 % de taxa de crescim ento.

6 .4 .2 .5 . O Leste e u ro p eu

Apresenta situação problem ática, pois a consolidação e c o n ô ­ mica da região ainda não está firm e, porqu a nto depende da e s ta b ilid a ­ de política da Rússia. Os mais otim istas acham que deve apresentar mercados prom issores, pois estes são frágeis, abertos e seus p ro d u to s agrícolas não c om petem com os tropicais. Será possível c o n s o lid a r e a um entar mercado de suínos e aves, mas a influência m aior c o n tin u ­ ará com café e soja, com o hoje, e com grãos em geral, cuja im p o rta ção tende a aumentar. Uma possibilidade a explora r será a venda de co m m o d ities, com o açúcar demerara, óleo de soja bruto, soja em grão, madeira bruta, em um sistema p ró x im o ao de " tr o c a " , ou seja, rece­ bendo de volta in sum os e m atéria-prim a de orig em m in eral, tais c om o fósforo, cim ento, tratores, tecnologia em gasodutos, m áquinas e equipam entos, geradores e turbinas. 0 Leste europeu representa m a io r potencial, todavia, a m édio e a longo prazo.

Uma visão mais pessimista, porém m in o ritá ria , vê o mercado Centro-europeu com o pequeno e inseguro. Podem m esm o se rc o m p e - tid ores com a agricultura brasileira na Europa. A influência e as o po rtu nida d es seriam pequenas e, a região, de difícil penetração.

6 .4 .2 .6 . A C h in a

A China talvez seja uma ameaça, devido á mão-de-obra bara­ ta. Mas, com o d ificilm en te se tornará auto-suficiente na produção de a lim entos num fu tu ro previsível, é um potencial cliente, com quem podem os in crem entar o co m ércio por troca de produtos. País com

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e c o n o m ia em fra n c o dese n volvim e nto e alto potencial de consum o, será um am p lo e im p o rta n tís s im o mercado a longo prazo, com exce­ lentes o p o rtu n id a d e s para os produtos brasileiros.

O crescimento acelerado do contingente populacional já a trans­ fo rm o u em im portadora de grãos. Pode tornar-se grande importadora de soja e óleo de soja em curto prazo e fornecer tecnologias alternativas. O comércio portroca pode ser incrementado, incluindo produtos e tecnologias agrícolas. Não apresenta muitas restrições quanto ao modo de produção, pois não insiste em requisitos ecológicos, e é mercado potencial também para tecnologias agropecuárias brasileiras.

Por ser co nc o rren te no mercado internacional de couros, tem tid o in fluência c o n tu n d e n te na pecuária brasileira, d im in u in d o a m ar­ gem de uso do c o u ro para a confecção de calçados. Pratica níveis crescentes de p oluiçã o am biental e faz d u m p in g c o m seus produtos de preços in c riv e lm e n te baixos. Políticas a nti-tru s t e a n ti-d u m p in g de­ vem ser sustentadas pelo Brasil para se defender.

Apesar disso, o país ainda conserva a aura de incógnita que sem pre teve. C om o sintetizou um dos painelistas, " n in g u é m sabe ao certo o que será da China".

6 .4 .2 .7 . Á fr ic a

A in fluência africana sobre a agricultura brasileira não está m u ito visível para a m aioria dos painelistas. Um q uinto deles está co n v e n c id o de que terá pouca ou nenhum a influência e 45% não o pina ra m . Entre os demais, a opinião d om inante é que a influência dos países da África será p rincipalm ente com o com pradores de nossos p ro d u to s agropecuários e usuários de nossos serviços e tecnologias. Têm sérios pro ble m a s de pobreza e fom e e poucas saídas comerciais viáveis. Assim , ainda não se caracteriza com o um mercado para o Brasil, p or causa do lim itado poder de compra.

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Podemos, porém , fazer da África parceiros a quem a ju d a r e que, em contrapartida, podem tornar-se um m ercado im p o rta n te , m a is fácil de ser conquistado de que outras partes do g lo b o , náo só para a agricultura, com o para a indústria e os serviços. S endo d ep e nd e nte do mercado de grãos europeu, pode ter nas e xpo rta ç õe s brasileiras alternativa para oportu nida d es desfavoráveis futu ra s . O d e s e q u ilíb rio ecológico será o fato r determ inante do que vai o c o r re r com a Á frica. Caberia incentivar cooperação técnica, e p ro jeto s de in te rc â m b io forne cid o pelo Brasil.

Por outro lado, a África pode representar p ro b le m a para a a gricultura brasileira em alguns aspectos. Deverá c o n tin u a r c o n c o r ­ rendo com o Brasil em produtos tropicais, c o m o café e cacau. Pode ainda c o n trib u ir com pragas novas, mas ta m b é m com cu ltu ra s a lte rn a ­ tivas. No que se refere a uma com petição m ais am p la no m ercado internacional, "p o de dem orar m uito até re presentar p r o b le m a " .

6 .4 .3 . A m b ie n ta lis m o

A análise das perspectivas da a gropecuária brasileira com relação à globalização e, especialmente, perante os b locos em que tende a consolidar-se o mercado internacional, já deixa claro que as preocupações com im pactos am bientais negativos são um dos aspec­ tos característicos das relações com os mais im p o rta n te s deles. As e xpo rta çõe s d em an d arão p r o d u to s de alta q u a lid a d e , livres de agrotóxicos e obtidos sob condições consideradas, pela o p in iã o p ú b li­ ca internacional, com o socialm ente aceitáveis.

Por outro lado, é crescente a preocupação com o meio a m b i­ ente no Brasil e com a preservação dos meios de produção agropecuária. Quais serão as perspectivas de atender a essas d em andas? Quais as

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tendências? Os painelistas se m ostraram fu n d a m e n ta lm e n te o tim is ­ tas, mas ta m b é m a p o n ta ra m problem as que não serão resolvidos e soluções que só fu n c io n a rã o pela metade.

Já se torna evidente que o Brasil está cristalizando práticas fav o rá v e is no que se refere à relação entre agricultura e meio am biente e deve c o n tin u a r a fazê-lo. Contudo, elas náo chegarão a abranger a tota lid a d e da pro du çã o agrícola. Os im pactos a groam bientais negati­ vos até 2005 c o n tin u a r ã o a ser o uso inadequado do solo, o em prego de agentes q uím ic os , tais com o agrotóxicos, fertilizantes e corretivos, e o d e s m a ta m e n to para fin s agrícolas. Para que se consiga a s u s te n tab ilida d e da a gricultura nacional, é necessário um esforço in tegrado de conservação dos recursos naturais, de produção econô­ mica e ficie nte e de m e lh oria da qualidade de vida da população rural. As te c n o lo g ia s de produção que despontam com o favoritas para a redução da degradação am biental, baseiam-se em integração e m anejo de sistemas. Sua pesquisa perm ite o aprove ita m e nto de co n h e c im e n to s a n te rio rm e n te elaborados, mas requer com binação e coordenação dos mesmos, assim com o identificação ecom plem entação dos aspectos in sa tisfa tório s ou desconhecidos. A indispensável a bor­ dagem sistêm ica exige mais disciplina lógico-científica do que parece ã p rim e ira vista, co m p le m e n ta d a por c onhecim entos estatísticos e processa m e n to de d ados in ventivos e pioneiros.

Três são os aspectos mais im p o rta nte s da agricultura brasilei­ ra que se c o n tra p õ e m à preservação da biodiversidade; a tendência ã m o n o c u ltu ra , o uso in ten sivo de a groquím icos e o desaparecim ento* dos sistem as tra d ic io n a is de produção agropecuária. Mas é esperado um forte a u m en to do uso de agentes de controle bio lóg ico na agricul­ tura b rasileira ou, pelo menos, alg um a substituição dos agentes quím icos.

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A busca da agricultura sustentável exige um esforço in te g ra ­ do de conservação de recursos naturais, produção e m e lh o ria da qualidade de vida da população rural. É desejável, segundo u m dos painelistas, que se crie certa especialização dos diferentes tip o s de produtores para to rn a r viável a consecução do objetivo.

"O lado ecológico e econ ô m ico poderá ser trabalhado nos sistemas especializados, de exportação, em grande e x te n ­ são geográfica. 0 lado social teria mais aplicabilidade nos sistemas fam iliares de difícil d ese n v o lv im e n to geral. 0 sistema fa m ilia r exige uma m u lh er atuante, cuja im p o r tâ n ­ cia é fun d am en ta l no trato das hortas, plantas m edicinais, preservação do germ oplasm a, educação etc."®

A açáo do Estado é vista prin cip alm e nte co m o n orm a tiv a e incentivadora.

Um ponto básico ao d es e n v olv im e nto sustentável é a atuação da Embrapa ju n to às regiões m enos desenvolvidas e com mais d ific u l­ dade de acesso às técnicas, para levar os meios m ais adequados de aprove ita m e nto barato e de adaptação das tec n o lo g ia s tradicionais, p ro m o v e n d o o incentivo ao abandono dos m é to d o s considerados predatórios e de degradação am biental. Foram considerados fu n d a ­ m entais o apoio à agricultura "c a ip ira " e à pequena propriedade, visando à adequação das tecnologias à cultura de cada região com o cam inhos para a busca das bases sustentáveis no que concerne à conservação ambiental.

Em suma, será necessário forte s uporte técnico na área am biental para via bilizar o crescim ento das exportações agrícolas brasileiras até 2005. A sustentabilidade da agricultura, a biodiversidade e as novas tecnologias vão requerer mais alto nível educacional da

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p opulação, m a io r especialização dos técnicos e m a io r abrangência e p ro fu n d id a d e dos cientistas.

A p rio rid a d e da educação para a agricultura e a pesquisa a gropecuária é reforçada pelo seu rela cionam ento com os novos a rra n jos sociais que se estão desenvolvendo (como a reform a agrária e a expansão da a groin d ústria) e pela perspectiva de am plos p ro g re s ­ sos em áreas co m p lexa s, e quase esotéricas, do c o nhecim ento puro e aplicado. A agenda educacional abrange, pois, desde a educação b ásica e de a d u lt o s , até a e s p e c ia liz a ç ã o dos p e s q u is a d o r e s a gropecuários. Em síntese, a crescente interdependência entre a agropecuária, a escola e a pesquisa aparece com o uma das tendências mais cla ra m e nte previsíveis para o início do m ilênio.

6 .4 .4 . C o n d içõ es c a m b ia n te s

do m ercad o in te rn o

O crescim ento populacional interno e externo, o increm ento do p o d e r de co m p ra e a dem anda por qualidade criarão mercados diferenciados. O mercado externo, especialm ente o dos países do P rim e iro M u n do , será sofisticado, div ersificado e exigente quanto à q u a lid a d e dos p ro du tos , inclusive quanto á form a e à ausência de resíduos tóxicos. A crescente exigência de "selo ve rd e " é apenas um dos arranjos organizacionais possíveis para sim b o liza r e garantir o a te n d im e n to desses requisitos. 0 mercado in terno fará menos e xigên­ cias, mas dem andará padrões superiores aos atuais, quanto ao uso de a g roq u ím ic o s , q ualidade dos p rodutos e acessibilidade de preços.

O a te n d im e n to à demanda interna de a lim entos requer que a pesquisa agropecuária enfatize a redução de custos ju n ta m e n te com a diversificação, a ampliação do vo lu m e produzido e a adequação a m b ien ta l na qualidade do produto. Parte do mercado interno estará

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d e m an d an d o p rodutos sofisticados, com as exigências s im ila re s às do m ercado do Prim eiro Mundo. Pesquisas na área de c o n tro le b io ló g ic o e de pragas foram indicadas c om o essenciais para atender a am bas as dem andas, visto que, seu em prego na produção, d im in u i a agressão sobre o am biente e permite, c o n c o m ita n te m e n te , o a u m e n to do v o lu ­ m e de produção e o combate à fom e. A lé m disso, com o m a n ife s to u um dos respondentes, "os estudos em diversificação e m a io r q ualidade a m b ien ta l dos produtos são fu n d a m e n ta is para que a pesquisa se le g itim e e encontre form as de parceria que aum entem seu percentual de fin an cia m e nto fora da esfera p ú b lic a ".

6 .5 . A V A N Ç O S DO C O N H E C IM E N T O E

P R IO R ID A D E S P A R A A P E S Q U IS A

A G R O P E C U Á R IA

Foi oferecida aos painelistas (segunda rodada) uma lista de t e c n o l o g i a s c r ític a s que p o d e r i a m g e r a r lin h a s de p e s q u is a agropecuária^ em temas considerados de pesquisa básica, e outra em pesquisa aplicada. Indicações sobre o grau de p rio rid a d e fo ra m depois ponderadas (alta = 3, média = 2, baixa = 1, excluídas as respostas em branco). A tabela 1 é uma proposta de p rio rid a de s de pesquisa resul­ ta n te do c o n ju n to de decisões expresso pelos ju lg a m e n to s dos painelistas que se consideraram s u fic ie n te m e n te in fo rm a d o s para se pronunciarem .

' P a r a i n f o r m a ç ã o m e t o d o l ó g i c a , v e r Q u i r i n o , T. R.; D ia s , E.; Lu ís, A. J. B. ( e m p r e p a r a ­ ç ã o ) . Lista s i m i l a r , u s a n d o u m c r i t é r i o a l t e r n a t i v o d e t r a t a m e n t o d o s d a d o s , a p a r e c e e m Q u i r i n o , 19 97.

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Tabela 1. T e c n o lo g ia s críticas e p rio rid a de s de pesquisa a gropecuária e nfatizando o m e io a m b ie n te P R IO R ID A D E T IP O DE C O N H E C IM E N T O ÁR EA DE M É D IA C O N H E C IM E N T O P O N D E R A D A 1 B ás ic o In s t r u m e n t a l pa ra qu an ti fi c a ç ã o d e p a r â m e t r o s a m b ie n t a is 2, 6 5 2 A p l i c a d o M o n i t o r a m e n t o da b i o d iv e r s id a d e d o s a g r o e c o s s is te m a s e ef ei to s de a t iv id a d e s a g r o p e c u á r ia s na b i o d i v e r s i d a d e e m geral 2, 6 3 3 A p l i c a d o P r o te ç ã o da q u a l i d a d e d e r ec ur so s n a tu r ai s (solo , á g u a su per fic ial e s u b t e r r â n e a , a t m o s f e r a ) 2, 6 3 4 A p l i c a d o D e s e n v o l v i m e n t o d e in d ic a d o r es d e s u s t e n t a b il id a d e v is a n d o ao e s t a b e l e c i m e n t o d e m e t a s e s u p o r t e d e políticas públ ic as 2 ,5 0 5 B ási co M o d e l a g e m d e a g ro s s is te m a s 2 ,4 8 6 B ási co T r a t a m e n t o e p r o c e s s a m e n t o d i g it a l d e i m a g e n s 2, 4 5 7 Bási co A d a p t a ç ã o e d e s e n v o l v i m e n t o m e t o d o l ó g i c o 2 ,4 4 8 A p l i c a d o A n á l i s e s o c io e c o n ô m ic a do s i m p a c t o s po sit ivo s e ne g a t iv o s r e s u lt a n te s da a d o ç ã o de n o v a s t e c n o lo g ia s d e p r o d u ç ã o a g r o p e c u á r i a 2 ,4 4 9 A p l i c a d o M o d e l o s pr e d it iv o s d e an ál is e d e risco de i m p a c t o s ne g a t iv o s d e t e c n o l o g i a s ut ilizadas pa ra a p r o d u ç ã o a g r o p e c u á r ia so br e os re cu rs o s solo, á g u a , a t m o s fe r a 2,3 9 10 A p l i c a d o U t il i z a ç ã o de s u b p r o d u t o s i n d u s tr ia is e ag ro -i n d u s tr ia is e m a t iv id a d e d e p r o d u ç ã o a g r o p e c u á r i a 2,3 8 11 Básico F l u x o s e n e r g é t ic o s 2, 2 2 12 Básico D i n â m i c a d e c o m u n i d a d e s (biota) 2, 2 0 F o n t e : P r o g r a m a d e P r o t e ç ã o e A v a l i a ç ã o d e Q u a l i d a d e A m b i e n t a l , p r o j e t o 1 1 . 0 . 9 4 . 2 2 6 " A n á l i s e P r o s p e c t i v a d o s P r i n c i p a i s F a t o r e s d e D e g r a d a ç ã o A m b i e n t a l na A g r i c u l t u r a " .

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Os resultados devem ser interpretados no contexto da pes­ quisa que os gerou, isto é, dizem respeito a prioridades referentes às relações da agricultura com o meio ambiente. As médias estão todas entre 2 (prioridade média) e 3 (prioridade alta), o que revela preocupação relativamente alta dos painelistas com todos os temas considerados.

Os maiores avanços na área de conhecim entos básicos deve­ rão ocorrer no dese n volvim e nto de instrum ental para quantificação de parâm etros ambientais, de m odelagem de agroecossistem as e de tra ta m e n to e processamento digital de imagens. Na área de c o n h e c i­ m entos aplicados, esperam-se grandes avanços na proteção da q u a li­ dade dos recursos naturais, tais co m o solo, água superficial e subter­ rânea e atm osfera; na produção de m odelos preditivos para análise de risco e de im pactos negativos de tecnologias agropecuárias sobre os recursos s o lo /á g u a /a tm o s fe ra , e na geração de in d ic a d o re s de sustentabiiidade para decisão de políticas públicas. A ssim , ficam servidas as três áreas de m o n ito ra m e n to , prevenção e recuperação de im pactos am bientais deletérios.

Para cada área de avanço, foi conseguida uma longa lista de sugestões de pesquisa: esta revela preocupação com a precisão de técnicas e indicadores para m e d ir e mapear o im pacto am biental, com a instalação de efetivo m o n ito ra m e n to de impacto, tan to em nível local co m o nacional, e com a capacidade dos recursos h um an o s para desem penhar tais funções. São sugeridos indicadores a serem estuda­ dos, tais com o bi o indica dores e análise de resíduos, e técnicas a serem d o m in a d a s e d e s e n v o lv id a s , tais c o m o s iste m a s espe c ia lis ta s , m odelagem autom ática e sistemas de in form ações geográficas. Um dos objetivos é p ossibilitar as decisões políticas e o fo rta le c im e n to da legislação ambiental.

Outra grande área de sugestões contem pla o d e s e n v o lv im e n ­ to e o repasse de tecnologias de sistemas. Estes dizem respeito ã

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gestão a m b ie n ta l, à criação anim al com reaproveitam ento de resídu­ os, à p ro d u ç ã o agrofiorestal com re n dim en to ó tim o, ao d es e n v olv i­ m e n to de siste m a s diversificados e in tegrados e de m e tod o lo gia s para o e n te n d im e n to das interfaces do meio físico e deste com as relações socia is em geral e as econôm icas em particular.

U m a terceira grande área de sugestões se preocupa com p rin c ípio s , m e to d o lo g ia s e tecnologias que conduzam à redução do uso de in s u m o s e ao aum ento ou m anutenção dos níveis de p ro d u ti­ vidade, tais c o m o variedades mais resistentes, técnicas de cultivação m ais s im p le s e econômicas, mais econom ia no uso da água, m e lh or a p r o v e ita m e n to de resíduos, engenharia genética para resistência a pragas e doenças. A reciclagem, suas técnicas em diferentes contextos sociais e e c o n ô m ic o s e, mesmo, o fortale c im en to da "in d ú s tria da r e c ic la g e m " c o m p le m e n ta m o quadro.

0 d e s e n v o lv im e n to de conhecim entos especiais oferece mais uma g ra n d e área de sugestões: dinâmica de agroq u ím ico s no solo e no lençol fre átic o , pesquisa dos ciclos alim entares e de reprodução, estudos de resíduos de agrotóxicos, tecnologias de plantio direto e m u ita s outras.

Fin alm ente, diversos aspectos políticos, organizacionais e a d m in is tr a tiv o s , desde o âm b ito local ao internacional, fo ra m aponta­ dos c o m o m erecedores de m odificações e providências.

6.6. O DEBATE SOBRE AS TECNOLOGIAS TRADICIONAIS»

A idéia de que o a proveitam ento de tecnologias tradicionais no â m b ito da agricultura brasileira é fun d am en ta i ao desenvolvim ento rural su stentável teve grande aceitação dos painelistas, mas, ao m es­ m o te m p o , suscitou arg um en tos contrários. 0 ponto de vista

majori-® V e r e m Q u i r i n o , T. R.; D ia s , E.; Luís, A. J. B. ( e m p r e p a r a ç ã o ) u m a e x p o s i ç ã o m a i s d e t a l h a d a r e f e r e n t e a o a s s u n t o .

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tário é que a adequação dessas tecnologias é fundam ental, um a vez que são experiências acumuladas e testadas por várias gerações e c u jo aperfeiçoam ento é capaz de p ro m o v e r m aior produtividade sem c a u ­ sar danos ao meio ambiente. Contrariam ente a essa visão, p oré m , as tecnologias tra dicion a is são por outros consideradas c o m p le ta m e n te regressivas, predatórias e incapazes de conferir aos seus p r o d u to r e s uma efetiva co m p e titiv id a d e no mercado. Não há evidência de que os dois grupos tenham em mente as mesmas tecnologias ao e m it ir os veredictos díspares. Com efeito, será necessário a profundar m ais o assunto, levando em consideração tanto os aspectos técnicos de produção com o os aspectos sociorganizacionais e e conôm icos de v iabilidade e de sustentabilidade.

Apesar da discordância, a grande maioria de painelistas c o n ­ corda que há p rioridade de pesquisar as tecnologias tra dicion a is pela necessidade de resgate, registro histórico e avaliação da eficácia, praticidade, conhecim entos e avanço, assim como para a análise do custo-benefício de seu emprego. A lista de tecnologias tra d ic io n a is que merecem ser resgatadas inclui roçados em áreas cabrucadas para m in im iz a r o uso de biocidas em solos distróficos; uso de espécies nativas e técnicas de "c o iv a ra -p o us io ", de adubação orgânica, de animais para tração, e tecnologias extrativistas em geral, que podem evid enciar utilidade para d im in u içã o do uso de agrotóxicos, da depen­ dência dos preços, para m elhoria da conservação do solo e c o m o alternativas de agricultura sustentável.

6 .7 . C O N C LU SÕ E S

As relações da agropecuária com o meio am biente no Brasil ainda t ê m d e ser caracterizadas com o problem áticas, mas apresentam melhoras nos últim o s anos e tendência para co ntin u ar m elhorando. Para isso, há forças de atração e forças de repulsão. A pressão

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in terna cio na l, tan to a que se revela co m o o p o rtu nida d e de nnercado, c o m o a que tom a a fo r m a de execração por parte da o pinião pública a práticas predatórias, oferece m o tiv o s de peso para que os produtores se afastem de ações, eventos e atitudes negativas ao meio ambiente. A Europa e a A m é rica do Norte são as áreas em que as pressões c o s tu m e ira m e n te se o rig in a m . Seria injusto dizer que na sociedade brasileira tais preocupações não se apresentam, mas certam ente não têm a força e o im p a cto do fen ô m e no no Prim eiro M undo. Todavia, a pressão urbana contra práticas ecologicam ente predatórias pode che­ gar lo go e forte. Basta que os interesses já existentes se organizem contra os detritos da produção rural, contra os visíveis im pactos neg a tivos na água, no solo e na paisagem, contra ocorrências e ameaças referentes à saúde e ao bem-estar. A sociologia am biental tem m o s tra d o que, às vezes, isso depende apenas de um evento catalisador.

A força m a io r de atração para adotar um a m b ien ta lis m o c oerente na produção agropecuária parece vir dos pró prios interesses dos d on o s de terra e dos que dela dependem com suas fam ílias e seus descendentes para viver. Despontam, assim, algumas indicações de que a posse útil da terra é um arranjo social positivo para preservar a natureza. Nesse contexto, a transferência, pela reform a agrária, de terras devolutas, a donos que delas vão depender para produzir e viver, p ro v a v e lm e n te será um in centivo eficaz para ações e atitudes am bientalistas. Mas necessita ser uma posse esclarecida, seja por experiência de uso, seja pela educação agroam biental.

O quadro que neste estudo se delineou sobre as relações da a gric u ltu ra e o meio am biente é in co m pleto , pro visório , p ro v a v e lm e n ­ te falho. Um aspecto identifica claram ente as razões das deficiências: faltam dados sobre esse tipo especial de realidade, não a conhecem os devidam ente. Os painelistas insistiram nesse ponto de variadas f o r ­ mas e reclam aram as soluções.

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A própria escollia do m é tod o foi decorrência disso. Faltam teorias, necessitam-se conceitos para captar a realidade sob um â n g u ­ lo apenas em ergente na história da hum anidade e daciência, não nos pusem os de acordo sobre indicadores. É necessário gerar técnicas de observação, instalar sistemas de coleta de dados, construir m o d e lo s e xplanatórios e interpretativos. É um m u n do de ciência a co ns tru ir, talvez um paradigm a a gerar/adotar. A p luralidade de "p r io r id a d e s " , todas quase indiferenciadas quanto ao grau de urgência, revela a situação em que quase tudo está por ser feito e há pressa.

Crescentemente, as exigências dos mercados mais s o fis tic a ­ dos incidem sobre aspectos do processo de produção, tais co m o abstinência de agrotóxicos, garantia do uso ecologicam ente correto do meio ambiente, especialm ente do solo, da água e das florestas, e até uso "e tica m e nte c o rre to " dos recursos hum anos. Tais dem andas transcendem a tecnologia e a racionalidade puram ente econôm ica, não podem ser satisfeitas apenas com p ro du tivid ad e , e as caracterís­ ticas dem andadas não estarão evidentes da presença e da fo rm a dos produtos. Assim , as exportações terão que, aos grãos e frutas, aos tecidos, sapatos e óleos, ju n ta r in form ação e, a esta, poder de c o n v e n ­ cim ento e garantia de confiabilidade.

0 mercado em ergente para a agropecuária brasileira, no in íc io do m il ê n io , a d q u ir e um a d im e n s ã o de r e la c io n a m e n to psicossocial e contratual de fid elida d e entre p r o d u to r e c o n s u m id o r que, no passado, ja m ais existiu em tal intensidade®. Os aspectos que a produção chamada a atender transcendem , assim, a tradicional racionalidade econôm ica do custo e enfatizam o ca m p o da a d m in is tra ­ ção de produção, da criação, adm inistração e m a n utenção de im agem .

^ C o n t u d o , a e x p o r t a ç ã o b r a s i l e i r a d e f r a n g o s p a r a os p a ís e s is Ia m i t a s do O r i e n t e m é d i o p a r e c e ser u m a i n s t â n c i a d e s a t i s f a ç ã o a u m m e r c a d o e m q u e há d e m a n d a s b e m e s p e c í f i c a s (n o c a s o , r i t u a i s ) q u a n t o a o m o d o a p r o p r i a d o d e d e s e n v o l v e r o p r o c e s s o d e p r o d u ç ã o . I n f e l i z m e n t e , n ã o c o n s t a q u e h a ja e s t u d o s s o c i o a n t r o p o l ó g i c o s s o b r e o c a so .

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apresentando riscos e dificuldades, mas tam bé m vantagens e retor­ nos, ainda não reconhecidos pela agropecuária brasileira. Esse é, certam ente, um in trig an te e in o vad o r cam po de pesquisa e uma p ro m issora vereda para em preendedores.

O h orizonte da globalização é m uito mais incerto e c om plexo do que se reconhece, mesm o com o auxílio da construção coletiva do c o nh e c im e nto decorrente do m étodo Delphi. Por e xem plo, a abertura do mercado, que é a face interna da globalização, perm ite e suscita que influências externas antes insuspeitadas m udem repentinam ente o panoram a c o s tu m e iro, produzindo, assim, o tip o de efeito que carac­ teriza nossa época c o m o "a era da incerteza". A China pode, em pouco tem po , tornar-se sensível aos danos ambientais, m u dando, com isso, o quadro de exigências das suas im portações agropecuárias. A entra­ da na Am azônia de madeireiras da bacia do Pacífico é uma instância a refletir. Ao que consta, não foram convidadas, não fazem parte de uma estratégia de d es e n v olv im e nto nacional, mas estão aí, atraídas que fo ra m pela oportu nida d e. Da mesma form a que o setor m adeireiro, setores da agropecuária brasileira podem tornar-se atração para o grande capital internacional. Afinal, é apenas a extensão da lógica da indústria globalizada se, além do carro transnacional, em breve apare­ cerem na mídia os h am búrgueres e as pizzas gen u in am e n te interna­ cionais: trig o canadense, carne australiana, queijo din am arquês, t o ­ mate holandês, c o nd im e n tos franco-caribenhos e vinagre brasileiro.

Que virá para além de 2005? Quanto mais longínqua a pers­ pectiva, mais aberto é o feixe de alternativas. Mas, com o 2005 está ali no horizonte, a premissa mais segura é de que, em geral, as mudanças aconteçam lentamente, salvo se houver forças latentes já em trabalho para provocá-las. M esm o assim, algumas grandes tendências perm a­ necem e co nd ic io n a m o núcleo das características do período futuro, enquanto a maioria das mudanças acontece nas franjas. Entre elas,

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podem os contar com ligeira e p ersistente desaceleração do c re sci­ m ento populacional, p redom ínio do sistem a capitalista c o m o p rin c í­ pio organizador da vida econômica e recru desci m ento da glo balização. Nesse cenário, a variável m ais vo lá til se torna, então, o fa to r tecnológico. Se assim for, partirá dele o estím ulo principal das m u d a n ­ ças nas décadas iniciais do século, ta n to p a r a a v id a h u m a n a em geral, como, em particular, para as relações da agricultura com o meio ambiente. Em conseqüência, a incerteza continuará como tônica. Não só o tem po é bastante longo para surgirem descobertas e inovações inesperadas, como, também, existe um vasto arsenal de descobertas recentes em campos como a biotecnologia, a informática e a comunicação, que ainda estão para produzir a maioria dos efeitos práticos e dos impactos que delas se esperam para a produção e organização da sociedade.

Esta situação de incerteza é potencializada pelo fato de que o p oder e conôm ico e a possibilidade de usar da ciência para fins lu cra­ tiv o s estão agora m u ito mais dispersos de que estiveram nos ú ltim o s séculos. A civilização industrial já não é apenas ocidental e atlântica, e os países que detêm m aior capacidade de pesquisa criaram , nos ú ltim o s cinqüenta anos, um potencial d e a p r e n d e r c o m a natureza e de in ve nta r a partir daí, que, para o bem ou para o mal, co ns titu i um padrão desconhecido, poderoso e e x tre m a m e n te veloz de inovação e m udança. Na agropecuária, com o em tu d o o mais, não sabem os o que nos traz o futu ro mais lo ngínquo, mas parece prudente apostar que será diferente, avassalador, te c n o ló g ic o e rápido. Em um m u n do assim volátil, o co nhecim ento, a educação e a inform ação crescem de valor, e o exercício da prospecção, e m b o ra cada vez mais difícil, frágil e incerto, se torna uma defesa para e v itar que, de repente, tu d o tenha ficado in c o m pree n dido e o fu tu ro se torne in com preensível.

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