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Ventos que transformam? Um estudo sobre o impacto econômico e social da instalação dos parques eólicos no Rio Grande do Norte/Brasil

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS. RAFAEL FONSECA DA COSTA. VENTOS QUE TRANSFORMAM? Um estudo sobre o impacto econômico e social da instalação dos Parques Eólicos no Rio Grande do Norte/Brasil. NATAL-RN 2015.

(2) RAFAEL FONSECA DA COSTA. VENTOS QUE TRANSFORMAM? Um estudo sobre o impacto econômico e social da instalação dos Parques Eólicos no Rio Grande do Norte/Brasil. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Estudos Urbanos e Regionais como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Estudos Urbanos e Regionais. Área de concentração: Dinâmicas Urbanas e Regionais e Políticas Públicas Orientador: Prof. Dr. Robério Paulino Rodrigues. NATAL-RN 2015.

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(4) UFRN. Biblioteca Central Zila Mamede. Catalogação da Publicação na Fonte Costa, Rafael Fonsêca da. Ventos que transformam? Um estudo sobre o impacto econômico e social da instalação dos parques eólicos no Rio Grande do Norte/Brasil / Rafael Fonsêca da Costa. – Natal, RN, 2015. 212 f. : il. Orientador: Dr. Robério Paulino Rodrigues. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de PósGraduação em Estudos Urbanos e Regionais. 1. Energia eólica – Condições econômicas - Dissertação. 2. Energia eólica - Impacto social – Dissertação. 3. Rio Grande do Norte – Polo eólico - Dissertação. 4. Rio Grande do Norte Desenvolvimento sustentável. I. Rodrigues, Robério Paulino. II. Título. RN/UF/BCZM. CDU 332.1(813.2).

(5) Dedico este trabalho aos meus pais pelo incentivo e amor devotado até aqui..

(6) AGRADECIMENTOS A um amigo especial que nos momentos de descrédito disse: “É meu, somente meu, todo trabalho e o teu trabalho é descansar em mim”. A Deus, pelas bênçãos que tem derramado sobre minha vida e pela permissão da realização de um sonho. Aos meus pais (Antônio Manoel da Costa e Núbia Fonseca da Costa) e às minhas irmãs (Débora Larissa Fonseca da Costa e Mirna Lorena Fonseca da Costa), pelo apoio e incentivo nos momentos difíceis. Obrigado pelas orações. Às famílias Fonseca da Costa e Veras e Silva Barros, por ser à base da minha vida e sempre estarem ao meu lado. Estão guardados em meu coração. Pelos incentivos e apoio dos amigos Daniel Roney, Diego Campelo, Fábio Andrade, GP Lima, Irmã Ivana, Josiel Souza, Leandro Temístocles, Leir Gilmar, Luiz Felipe e Tatiana Souza e dos meus pastores Fabiano Dantas e Kátia Dantas, meu muito obrigado. Ao orientador deste trabalho, Prof. Dr. Robério Paulino Rodrigues, mais que um professor, um amigo humilde, incentivador, e que nos momentos necessários chamou-me à atenção para o que era importante, deixando-me a par das situações e se colocando, muitas vezes, em meu lugar. Obrigado professor. Ao Prof. Dr. Fábio Fonseca Figueiredo, que, antes de iniciar-se o curso, orientou-me a mudar o tema da pesquisa, além de me incentivar, apoiar, aconselhar e me ouvir nos momentos de descrédito, meu muito obrigado. Ao Prof. Dr. Ângelo Magalhães Silva, pelas colocações, orientação, sinceridade e colaboração nesta pesquisa. É um prazer tê-los conhecido. Aos professores que compõem o corpo docente do PPEUR, pelos enriquecedores aportes. À minha turma, onde pude encontrar amigos nas dificuldades e nos objetivos alcançados. Aos amigos Jenair Alves, Wagner Alves, Avelino Hora e Valéria Chaves. Muito obrigado pela amizade e companheirismo ao longo desses anos. Enfim, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a realização deste trabalho..

(7) Os que semeiam em lágrimas segarão com alegria. (Livro de Salmos 126:5).

(8) RESUMO O estudo apresenta os resultados de uma investigação sobre o impacto econômico e social da produção de energia eólica no estado do Rio Grande do Norte, e, especialmente, nos municípios produtores. A pesquisa parte da hipótese de que a implantação de parques eólicos no estado não tem apresentado, até aqui, resultados satisfatórios na esfera socioeconômica para os municípios produtores. Embora contribua para o crescimento da arrecadação tributária estadual e para o avanço na geração de energia elétrica. Observou-se que uma atividade de alta tecnologia pode frustrar a expectativa em relação à transferência tecnológica e ao real progresso socioeconômico. Constatou-se isso através de uma analogia da implantação dos parques eólicos com as teorias sobre enclaves econômicos em um determinado território, assim como, das tipologias das economias latino-americanas, apresentadas por Celso Furtado. Foram realizadas entrevistas com moradores de assentamentos e gestores públicos dos municípios de Rio do Fogo, João Câmara, Parazinho e Pedra Grande (as quatro principais cidades produtoras de energia eólica do Rio Grande do Norte) e o levantamento dos impostos pagos na instalação e operação dos parques. A partir da análise desses dados, notou-se que o desenvolvimento socioeconômico esperado para os municípios não tem se manifestado da forma condizente com o discurso do estado e das empresas geradoras de energia. Palavras-chave: Energia Eólica. Impacto Econômico e Social. Desenvolvimento Sustentável. Rio Grande do Norte..

(9) ABSTRACT. The study presents the results of an investigation into the economic and social impact of wind energy production in the state of Rio Grande do Norte and especially for producing counties. The research starts from the assumption that implementation of wind farms in the state has not so far presented satisfactory results in the socioeconomic sphere for producing counties, despite contributing to the growth of state tax revenues and to advance in the generation of electricity. Through an analogy of the deployment of wind farms with theories of economic enclaves in a given territory and the typology of Latin American economies presented by Celso Furtado, we found that a high-tech activity can frustrate the expectations related to technology transfer and real socioeconomic progress. Through interviews with residents of settlements and municipal administrators of Rio do Fogo municipalities, João Câmara, Parazinho and Pedra Grande (the four leading wind energy producers municipalities of Rio Grande do Norte) and raising of taxes paid in installation and operation of the parks, it was observed that the socio-economic progress expected for municipalities has manifested itself of conformity with the speech manifested by the state and the power generating companies. Keywords: Wind Energy. Social and Economic Impact. Sustainable development. Rio Grande do Norte..

(10) LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Modelo de aerogerador utilizado atualmente em parques eólicos ....................... 27 Figura 2 ‒ Velocidade média anual do vento a 50 m de altura ............................................. 32 Figura 3 ‒ Potencial eólico estimado para vento médio anual igual ou superior a 7,0 m/s ... 33 Figura 4 ‒ Mapa apresentando o período de baixa pluviosidade e maior potencial eólico ... 34 Figura 5 – Potencial eólico do Nordeste brasileiro ............................................................... 36 Figura 6 – Mapa do potencial eólico em altura de 50, 75 e 100 metros ............................... 42 Figura 7 – Parque Eólico Arizona I, localizado dentro do Assentamento Zumbi, em Rio do Fogo/RN .............................................................................................................................. 45 Figura 8 – Parque Eólico Rio do Fogo, localizado no município de Rio do Fogo/RN ........... 46 Figura 9 ‒ Mapa com municípios produtores de energia eólica no Rio Grande do Norte ..... 48.

(11) LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Capacidade instalada de energia eólica dos quinze maiores produtores mundiais ............................................................................................................................................ 29 Tabela 2 – Total de empreendimentos em operação, construção e planejamento, e o potencial outorgado até janeiro de 2016 .............................................................................. 39 Tabela 3 – Quantidade de empreendimentos eólicos por município produtor em operação, construção e construção não iniciada. ................................................................................. 47 Tabela 4 – Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN), recebido pelos municípios com maior número de parques em implantação................................................. 60 Tabela 5 – Distribuição da População de Rio do Fogo......................................................... 66 Tabela 6 – Composição da agropecuária de Rio do Fogo ................................................... 66 Tabela 7 – Distribuição da População de João Câmara....................................................... 68 Tabela 8 – Distribuição da População de Parazinho ............................................................ 71 Tabela 9 – Distribuição da População de Pedra Grande...................................................... 74.

(12) LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Principais impactos ambientais identificados na fase de implantação de uma hidroelétrica, uma termoelétrica ou uma eólica .................................................................... 53 Quadro 2 ‒ Principais impactos ambientais identificados na fase de operação de uma hidrelétrica, termelétrica e eólica ......................................................................................... 55.

(13) LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Participação das distintas fontes na produção de energia elétrica no Brasil ...... 35 Gráfico 2 – Capacidade instalada de energia eólica no Brasil por ano, 2005-2019, em megawatts (MW).................................................................................................................. 39.

(14) LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANEEL. Agência Nacional de Energia Elétrica. ACL. Ambientes de Contratação Livre. ACR. Ambiente de Contratação Regulada. AIDS. Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Sigla em inglês). AIA. Avaliação dos Impactos Ambientais. APA. Áreas de Proteção Ambiental. APP. Áreas de Preservação Permanente. BNDES. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social. CERNE. Centro de Estratégias em Recursos Naturais e Energia. CONAMA. Conselho Nacional de Meio Ambiente. CONEMA. Conselho Estadual do Meio Ambiente do Rio Grande do Norte. COSERN. Companhia Energética do Rio Grande do Norte. CCEE. Câmara de Comércio de Energia Elétrica. CHESF. Companhia Hidroelétrica do São Francisco. CMMAD. Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento. CRAS. Centros de Referência de Assistência Social. CREAS. Centros de Referência Especializados de Assistência Social. CTGás-ER. Centro de Tecnologias do Gás e Energias Renováveis. EIA. Estudo de Impacto Ambiental. FEMURN. Federação dos Municípios do Rio Grande do Norte. FINBRA. Finanças do Brasil. FPM. Fundo de Participação dos Municípios. GEE. Gases de Efeito Estufa. GW. Gigawatts. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IDEMA. Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente. IDHM. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal. IFRN. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio. Grande do Norte INCRA. Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária. INEP. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio. Teixeira.

(15) IPCC. Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (Sigla em. inglês) ISSQN. Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza. MW. Megawatts. ONU. Organização das Nações unidas. OS. Organizações Sociais. OSC. Organização da Sociedade Civil Organizada. PAR. Projeto de Assentamento Rural. PETROBRAS. Petróleo Brasileiro S/A. PCH’s. Pequenas Centrais Hidrelétricas. PROINFA. Programa de Incentivo a Fontes Alternativas de Energia Elétrica. PSF. Programa Saúde da Família. RAS. Relatório Ambiental Simplificado. RIMA. Relatório de Impacto do Meio Ambiente. SEDEC. Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio Grande do. Norte SIN. Sistema Interligado Nacional. SUS. Sistema Único de Saúde. UERN. Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. UFRN. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. UNIFACEX. Centro Universitário Facex. UNP. Universidade Potiguar. WWEA. Associação Mundial de Energia Eólica (Sigla em inglês).

(16) SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 18. 2. A QUESTÃO ENERGÉTICA GLOBAL E O INCENTIVO À PRODUÇÃO DE. ENERGIAS RENOVÁVEIS .................................................................................................. 23 2.1. CONSUMO ENERGÉTICO E A MUDANÇA CLIMÁTICA .......................................... 23. 2.2. A ENERGIA EÓLICA NO MUNDO ............................................................................ 25. 2.3. O POTENCIAL BRASILEIRO .................................................................................... 30. 2.4. A PRODUÇÃO BRASILEIRA .................................................................................... 37. 3. A INSTALAÇÃO DE PARQUES EÓLICOS NO RIO GRANDE DO NORTE E SEUS. ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS ............................................................................. 41 3.1. POTENCIAL ENERGÉTICO NORTE-RIOGRANDENSE DE GERAÇÃO .................. 41. 3.2. A GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA NO RIO GRANDE DO NORTE ....................... 45. 3.3. IMPACTOS PARA OS MUNICÍPIOS PRODUTORES DE ENERGIA EÓLICA .......... 50. 3.3.1. Impactos ambientais na implantação e operação de uma usina hidrelétrica,. térmica e eólica .................................................................................................................. 51 3.3.2. Geração de emprego e renda.............................................................................. 57. 3.3.3. Arrecadação tributária......................................................................................... 59. 3.3.4. Arrendamento das Terras ................................................................................... 62. 3.3.5. Consequências sociais ....................................................................................... 63. 3.4. CARACTERIZAÇÃO DOS MUNICÍPIOS ANALISADOS ........................................... 64. 3.4.1. Rio do Fogo.......................................................................................................... 65. 3.4.2. João Câmara ........................................................................................................ 67. 3.4.3. Parazinho ............................................................................................................. 70. 3.4.4. Pedra Grande ....................................................................................................... 73. 3.5. ANÁLISE DOS MUNICÍPIOS .................................................................................... 75. 4. A GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA NO RIO GRANDE DO NORTE E ALGUMAS. TEORIAS ECONÔMICAS E DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ............................ 76 4.1. ENCLAVE ECONÔMICO .......................................................................................... 76. 4.2. EFEITOS DE ENCADEAMENTO DOS INVESTIMENTOS........................................ 77. 4.2.1. Efeitos de Encadeamento para Trás .................................................................. 78. 4.2.2. Efeitos de Encadeamento para Frente ............................................................... 80. 4.2.3. Efeitos de Encadeamento de Consumo ............................................................. 81. 4.2.4. Efeitos de Encadeamento Tributário .................................................................. 82. 4.3. A TEORIA DA BASE DE EXPORTAÇÃO.................................................................. 84. 4.4. TEORIA DOS POLOS DE DESENVOLVIMENTO ..................................................... 87.

(17) 4.5. ANALOGIA DA IMPLANTAÇÃO DOS PARQUES EÓLICOS COM AS TIPOLOGIAS. DAS ECONOMIAS LATINO-AMERICANAS APRESENTADAS POR CELSO FURTADO ... 88 4.6. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E A INSTALÇÃO DE PARQUES EÓLICOS. NO RIO GRANDE DO NORTE ............................................................................................ 91 5. ANÁLISE IN LOCO DOS IMPACTOS DA INSTALAÇÃO E OPERAÇÃO DOS. PARQUES EÓLICOS NOS MUNICÍPIOS PRODUTORES .................................................. 96 5.1. IMPACTOS ECONÔMICOS DA GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA PARA OS. MUNICÍPIOS PRODUTORES ............................................................................................. 96 5.2. IMPACTOS SOCIAIS DA GERAÇÃO. DE. ENERGIA EÓLICA SOBRE OS. MUNICÍPIOS RECEPTORES ............................................................................................ 106 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 116. REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 118 APÊNDICES ...................................................................................................................... 124 ANEXOS............................................................................................................................ 190.

(18) 18. 1. INTRODUÇÃO Devido ao grande investimento estrangeiro e nacional na produção de. energias renováveis, este estudo se propõe a analisar o impacto econômico e social da produção de energia eólica no estado do Rio Grande do Norte. Busca-se verificar, como interrogante de pesquisa, se há ou não um impacto que favoreça um desenvolvimento econômico e social aos municípios produtores. Tendo em vista o grande número de parques implantados ou em implantação no Rio Grande do Norte, que elevou o estado ao patamar de maior gerador e exportador de energia eólica do país, faz-se necessária essa investigação. O aumento na produção dessa fonte de energia surge como resposta à problemática energética mundial, agravada pela demanda por petróleo. A Primeira Revolução. Industrial. acelerou. o. crescimento. econômico. e. pressionou. invariavelmente os estoques de recursos naturais renováveis ou não. Uma das soluções para essa questão, discutida tanto nos centros acadêmicos, quanto nas pautas dos governos, tem sido desenvolver formas ambientalmente sustentáveis e economicamente viáveis de produção energética. Surge assim a busca por fontes energéticas limpas de Gases de Efeito Estufa (GEE) e inesgotáveis, já que o uso em grande escala de energias não renováveis tem provocado alterações climáticas na atmosfera, decorrentes da geração daqueles gases. Além de seu uso contribuir para o aquecimento global, a probabilidade de escassez das formas de energia tradicional tem resultado em conflitos entre as nações produtoras ou compradoras de petróleo. Tem se observado atualmente o desenvolvimento da produção das energias renováveis (solar, biomassa, eólica, mare motriz etc.) que, através de incentivos governamentais, vêm ganhando destaque nas duas últimas décadas. Uma das alternativas em evidência e crescimento na atualidade é a produção de energia eólica. Países como China, EUA, Alemanha, Espanha e Índia têm estabelecido fortes incentivos para investimentos nesse tipo de energia, em virtude de sua ampla disponibilidade e por ser uma fonte livre da produção de gases de efeito estufa. Frente aos incentivos apresentados e sua ampla disponibilidade, essa fonte energética está ganhando espaço no Brasil e no Rio Grande do Norte. O estado se caracteriza, atualmente, como o maior produtor eólico do país. Tornou-se autossuficiente na produção de energia elétrica em 2014, quando produziu mais do.

(19) 19. que a demanda total de energia do estado (ANEEL, 2014). Tal crescimento contribui para alcançar os objetivos do setor elétrico brasileiro, que é a diversificação na matriz energética e a universalização do atendimento energético. Em tese, as energias renováveis tornam-se uma ferramenta essencial e acessível para levar energia a comunidades remotas e carentes, além de desenvolvimento. No entanto, há questões que precisam ser pensadas com a chegada da produção eólica a larga escala. Entre elas, há a possibilidade de aumento do consumo de energia com a maior disponibilidade, assim como os reais impactos socioeconômicos nos municípios produtores, como da transferência tecnológica e da expectativa de desenvolvimento por parte desses municípios. A pergunta da qual partiu esta investigação foi: a implantação dos parques eólicos no Rio Grande do Norte tem trazido impacto econômico e social para o estado e para os municípios produtores com relação ao desenvolvimento? Em busca da resposta ao questionamento apresentado, foi realizada uma revisão da literatura sobre a problemática energética global e a importância da produção de energia eólica no mundo e no Brasil. Investigou-se o potencial eólico brasileiro e norte-rio-grandense. Foi verificado o quantitativo dos parques eólicos em instalação, em operação e a serem instalados no Rio Grande do Norte e seus respectivos municípios. Realizou-se também uma pesquisa documental sobre o aumento do Imposto de Serviço Sobre Qualquer Natureza (ISSQN) arrecadado pelos municípios e um levantamento dos impactos econômicos e sociais neles. Com o objetivo de averiguar os impactos da produção de energia eólica no estado, analisando se houve até aqui progresso econômico e social, foram escolhidos quatro municípios produtores. Um deles foi Rio do Fogo, o primeiro a possuir parques para produção comercial. Os outros três possuem o maior número de parques instalados em operação: João Câmara, Parazinho e Pedra Grande. Também foram coletadas informações de São Miguel do Gostoso e Jandaíra. A escolha dos citados se deu por serem os maiores produtores de energia eólia e receberem o maior número de projetos eólicos. Além disso, não possuem outras atividades, como a produção de sal, petróleo, gás natural, indústrias e turismo, como apresentadas em outros municípios produtores. Foram realizadas visitas de uma semana às localidades citadas, em parceria com o pesquisador Renato Scalia Zanferdini, mestrando do Programa de PósGraduação em Economia, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. As dez.

(20) 20. entrevistas contemplaram especialistas em energia eólica, gestores municipais, secretários de finanças, de saúde, de administração, sociólogos dos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), dos Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS) e moradores do assentamento Zumbi/Rio do Fogo. A eleição desses atores ocorreu pelo envolvimento direto ou indireto no processo de implantação de parques eólicos nos municípios observados. Além das entrevistas, foram realizadas visitas de campo em dois complexos eólicos1: um em operação na comunidade de Enxu Queimado, em Pedra Grande, e outro em implantação no município de São Miguel do Gostoso. As visitas de campo em diferentes cidades e complexos possibilitaram a observação in loco dos impactos presentes, tanto durante sua implantação quanto já na operação. Para o estudo, levantou-se o quantitativo dos parques eólicos em instalação, operação e com construção não iniciada e seus respectivos municípios, o que serviu para observar o grande investimento nessa nova atividade no estado. Também foram. problematizados. empreendimento. eólico,. os. impactos. quando. da. instalação. comparados. aos. e dos. operação. de. um. empreendimentos. hidroelétricos e termoelétricos. Para aferir os impactos econômicos, foi feita uma pesquisa documental sobre o aumento do Imposto de Serviço Sobre Qualquer Natureza (ISSQN) pago às prefeituras dos municípios produtores pelas empresas que prestam serviços aos parques eólicos. O levantamento quantitativo desse imposto contribuiu para a análise econômica, visto que esses tributos são a forma mais direta pela qual as regiões produtoras recebem algum recurso provindo da atividade de instalação dos parques. Após essas etapas, as informações foram analisadas, sendo fundamentais para os resultados apresentados. Nos quatro municípios estudados, foram investigados fatores econômicos, o aumento de empregos diretos e indiretos, o crescimento do ISSQN, dentre outros. Ao mesmo tempo, ocorreu também o crescimento de problemas sociais, como a elevação da prostituição de crianças e adolescentes, do crime, do número de mulheres solteiras grávidas, da especulação imobiliária, do surgimento de indivíduos com doenças sexualmente transmissíveis, 1. Um parque eólico ou usina eólica é um espaço (terrestre ou marítimo) onde estão concentrados vários aerogeradores (a partir de 5) destinados a transformar energia eólica em energia elétrica. Um complexo eólico é um espaço onde se concentram vários parques ou usinas eólicas. Fonte: http://www.pucrs.br/ce-eolica/faq.php?q=27. Acessado em 12 de abr. de 2015..

(21) 21. como a AIDS, etc. Esses fatores intensificaram-se, mas não são inerentes à instalação dos parques eólicos. Este trabalho consiste em uma pesquisa de natureza básica, caracterizada pela produção de novos conhecimentos, com aplicação prática e útil para o avanço do conhecimento sobre o assunto. Trata-se de um estudo qualiquantitativo, utilizando também as dimensões teórico-empíricas (GIL, 1999) e de uma pesquisa exploratória, que buscou aproximação com o assunto, visando à formulação de uma hipótese para a pergunta inicial. As entrevistas foram estruturadas com base nos dados anteriormente pesquisados, objetivando uma conversação formal e com o foco no assunto. Essa estruturação possibilitou conferir as informações teóricas com a realidade observada, além de obter mais dados de uma realidade anterior, pouco conhecida pelo pesquisador. Por concentrar-se em um único tema, essa estrutura permite ao entrevistado falar livremente, com a possibilidade de o entrevistador retomar a temática, caso ele venha a desviar-se. Assim, possibilitou-se a coleta de informações e dados através da simples conversação com informantes-chave, gestores públicos, especialistas no tema em estudo, líderes formais ou informais dos municípios e das comunidades visitadas. A literatura sobre enclaves econômicos, dos efeitos de encadeamento dos investimentos, a teoria da base de exportação, proposta por Douglas North (1977), e a teoria dos polos de desenvolvimento, conforme Perroux (1955) fizeram parte do embasamento teórico utilizado para chegar à hipótese e às considerações finais. Fez-se também uma analogia da implantação dos parques eólicos com as tipologias das economias latino-americanas apresentadas por Celso Furtado (1986). Visou-se dar suporte teórico à hipótese apresentada, tanto para os municípios que produzem a energia eólica quanto para o estado. Através do levantamento bibliográfico e documental sobre a produção eólica no Brasil e no Rio Grande do Norte e da metodologia desenvolvida na pesquisa, chegou-se. a. uma. hipótese.. Esta. coloca. em. questão. se. os. impactos. socioeconômicos decorrentes da implantação dos parques têm ficado aquém das expectativas. Principalmente a oferta de emprego e maior contribuição das empresas. Sem dúvidas, a implantação tem sido importante para a geração de energia elétrica no país e no estado. No entanto, elas garantirão mais ganhos às empresas.

(22) 22. investidoras do que aos municípios produtores. Isso porque, depois da instalação, os parques eólicos funcionarão como verdadeiros enclaves econômicos. Isolados dentro de economias frágeis e pouco transformadas, sua instalação não implica em um progresso econômico e social substancial para aqueles municípios, além de lhes trazer ônus..

(23) 23. 2. A QUESTÃO ENERGÉTICA GLOBAL E O INCENTIVO À PRODUÇÃO DE. ENERGIAS RENOVÁVEIS Nesta seção, é desenvolvida a questão relacionada à produção/consumo de energia e a sua contribuição para o aumento do aquecimento global. Também são destacadas as causas desse aquecimento, seu impacto sobre a população e a geração de energia eólica como alternativa. Por fim, é apresentada a produção de energia eólica no mundo, o potencial e a geração eólica brasileira. 2.1. CONSUMO ENERGÉTICO E A MUDANÇA CLIMÁTICA O uso de combustíveis fósseis é o fator que mais tem contribuído para a. promoção das mudanças climáticas através da produção de Gases de Efeito Estufa (GEE). Isso ocorre porque 40% da população mundial dependem da energia gerada pela queima da biomassa tradicional (madeira, carvão vegetal e esterco). Além disso, 7% da população mundial, os países mais ricos, são responsáveis pela metade dessas emissões. Nesse panorama, a principal estratégia global para a mitigação desses efeitos tem sido a utilização das energias renováveis ou alternativas (VEIGA et al., 2012). Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) — uma coalizão de cientistas sob a bandeira das Nações Unidas —, a relação do aquecimento global com a energia ocorre quando se queima carvão, petróleo e gás natural, derrubam-se e queimam-se florestas. Isso gera, como produto final, o gás carbônico (CO2). Podemos encontrar gás carbônico abundantemente no planeta. É ele que, conjuntamente com outros gases (dióxido de carbono, metano, óxido nítrico, vapores de água e ozônio), ajuda a manter um cobertor que impede os raios solares que chegam ao planeta de retornarem completamente ao espaço, mantendo, assim, a terra aquecida e própria à vida. Mas, o excesso dessa substância, promovido pelas atividades de obtenção de energia por fontes fósseis, é a causa do aquecimento global, impróprio à vida (FARIS, 2009; NOBRE, 2012). O excesso de gás carbônico e daqueles outros gases provoca o efeito contrário à promoção da vida. Desde a primeira Revolução Industrial, são emitidas continuamente toneladas desses gases na atmosfera, provenientes de nossos.

(24) 24. automóveis, fábricas, usinas de energia, desmatamento de nossas florestas e queimadas. Formou-se, assim, uma segunda camada de gás, que já elevou a temperatura da terra em torno de 0,5ºC, desde o início do século passado. A temperatura média global à superfície subiu quase 0,8°C nos últimos 120 anos e pode aumentar de 1,8ºC a 5,8ºC até o final deste século. Uma aceleração de quase 0,2ºC por década (FARIS, 2009; NOBRE, 2012; IPCC, 2013). A elevação da temperatura tem causado mais do que dias quentes, desequilíbrio geral nos sistemas naturais e destruição dos ecossistemas, os quais não conseguem se adaptar às mudanças. Em algumas regiões do globo, as secas tomam proporções gigantescas e geram perdas astronômicas de safras (EUA, Norte e Nordeste do Brasil). Em outras, as inundações são a causa dos danos nas cidades costeiras e ribeirinhas (Ásia, Sul e Sudeste do Brasil). Desastres naturais, furacões, ciclones, secas e incêndios são cada vez mais frequentes. O derretimento das geleiras elevou o nível do mar em 20 centímetros na média global durante o século XX e tem contribuído para o aquecimento geral, pois contém quantidades elevadas de CO2. As secas provocam disputas por água, aumento do nível do mar, migração de povos, etc. (FARIS, 2009; NOBRE, 2012). Tais cenários já se encaminham para situações irreversíveis e necessitam de ações urgentes para amenizar seus efeitos. Uma das ações é a busca cada vez mais intensa por fontes renováveis de produção energética viável, de excelente produção, abundância e baixos impactos sobre o meio ambiente. Esses fatores tornam a dependência dos combustíveis não renováveis não só necessária, como prioritária. Além do seu impacto ambiental, através da emissão de GEE e, consequentemente do aquecimento global, o uso de fontes não renováveis também cria dependência, em particular o petróleo e o carvão. Seus maiores produtores encontram-se em regiões conflituosas, como o Oriente Médio, estando o fornecimento sujeito, portanto, às oscilações de mercado. Não é a probabilidade de uma escassez dessa fonte que assusta os governos, tendo em vista o descobrimento de novas áreas abundantes, como o pré-sal brasileiro. Também não é o discurso pautado na sustentabilidade de uma produção livre de GEE que possibilite a resolução das mudanças climáticas, mas sim a conflituosa relação de tensão política por território entre os países orientais..

(25) 25. Nesse contexto, uma das saídas para a crise energética, ambiental e socioeconômica mundial tem sido os investimentos em políticas públicas de incentivo a fontes de energia alternativa, incrementando a diversificação da matriz energética mundial com a inclusão das energias renováveis. Desse modo, começaram os esforços em desenvolvimento e produção de outras fontes de energia não poluentes, sustentáveis a curto, médio e longo prazo, e que preservem minimamente o meio ambiente. Inicialmente de alto valor econômico na sua produção, as energias renováveis hoje já se mostram viáveis e competitivas, devido aos incentivos dos governos através das políticas públicas. Uma das alternativas em destaque e rápido crescimento nos últimos anos é a produção da energia eólica, que capta a energia cinética contida em massas de ar em movimento, convertendo-a em energia cinética de rotação, através de turbinas eólicas, denominadas aerogeradores (VEIGA et al., 2012). 2.2. A ENERGIA EÓLICA NO MUNDO Diferente do que se poderia pensar, a utilização do vento como força motriz. não é recente na história da humanidade. Com a necessidade de substituir a força motriz desenvolvida por animais e homens, mesmo num passado remoto, passou-se a utilizar cursos de água e o próprio vento como força para moer grãos e bombear água. A utilização na energia eólica de cata-ventos para esse tipo de atividade tem registro ainda na Pérsia, na China e na Babilônia, há mais de 2.000 a.C. (CHESFBRSCEP, 1987; SHEFHERD apud REVISTA ECOENERGIA, 2012, p. 14-15). Do oriente, os moinhos foram trazidos pelas cruzadas (movimento militar ocidental que objetivava recuperar a liberdade de acesso dos cristãos à Jerusalém) para a Europa e rapidamente incorporados em diversas atividades (drenagem de água, fabricação de óleos vegetais, papel, serrarias etc.), permitindo sua otimização através do desenvolvimento tecnológico das pás, eixos, sistemas de controle, etc. Em virtude da grande escala de atividades, os moinhos de múltiplas pás foram bem empregados no meio rural e até os dias de hoje são utilizados em grande escala em diversos países (Ibid., p.15-16). Foi no final do século XIX que ocorreu a adaptação dos cata-ventos para a geração de energia elétrica. O primeiro cata-vento com essa finalidade foi erguido na cidade de Cleveland, Ohio, em 1888, por Charles F. Brunch, um industrial voltado à.

(26) 26. eletrificação do campo. “Tratava-se de um cata-vento que fornecia 12 kW em corrente contínua para carregamento de baterias, as quais eram destinadas, sobretudo, ao fornecimento de energia para 350 lâmpadas incandescentes” (SHEFHERD apud REVISTA ECOENERGIA, 2012, p. 16). O. invento. de. Brunch. apresentava. inovações. importantes. para. o. aperfeiçoamento e transformação dos cata-ventos em aerogeradores. A primeira tentativa bem-sucedida nesse sentido foi realizada em 1931, na Rússia, onde foi desenvolvido um aerogerador chamado Balaclava, conectado a uma linha de transmissão até uma usina termoelétrica. Após esse passo, foram desenvolvidos modelos de aerogeradores de grande porte. No entanto, por causa dos maiores investimentos em outras fontes energéticas, economicamente mais baratas e competitivas e com reservas em abundância, como o petróleo, eles não foram levados muito adiante (Ibid., p. 16). A. Segunda. Guerra. Mundial contribuiu. para. o. desenvolvimento. de. aerogeradores de médio e grande porte. O maior até então projetado foi batizado pelos norte-americanos Smith e Putnam. Com o fim da guerra e a abundância de combustíveis fósseis, assim como a baixa ou nenhuma competitividade do modelo, seu projeto foi abandonado. Os investimentos para a geração de energia elétrica eram concentrados nos combustíveis fósseis e nas hidrelétricas, altamente competitivas e economicamente viáveis. O que levava ao abandono dos projetos de geração de energia eólica, que passaram a servir apenas para fins de pesquisas (SHEFHERD; CHESF-BRASCEP; DIVONE apud REVISTA ECOENERGIA, 2012, p. 17). Após as crises do petróleo da década de 1970, Estados Unidos, Inglaterra, França, Holanda, Dinamarca e principalmente a Alemanha foram os pioneiros nas pesquisas e desenvolvimento de aerogeradores de grande porte, com eficiência energética suficiente para a geração de energia elétrica em grande escala. Esses países foram movidos pela necessidade de inovar e não depender mais do uso dos combustíveis fósseis. Já outros, o fizeram pela falta ou escassez desse recurso em seus territórios. Em quinze anos (1985-2000), o desenvolvimento e o comércio de aerogeradores mais potentes e eficientes consolidou-se (REVISTA ECOENERGIA, 2012)..

(27) 27. Figura 1 – Modelo de aerogerador utilizado atualmente em parques eólicos. Fonte: COSTA; ZANFERDINI, 2014.. Devido à busca cada vez maior por energia e ao seu alto custo — além das vantagens naturais da energia eólica, amplamente disponível e isenta da geração de gases de efeito estufa — diversos países têm investido e regulamentado políticas de incentivo, estímulo e produção dessa energia. Desde o início dos anos 1990, países como a China, EUA, Alemanha, Portugal, entre outros, vêm promovendo um crescimento acelerado em sua produção e a perspectiva da indústria eólica mundial é promissora. Observa-se que, diferentemente das tentativas anteriores de produção de energia eólica, essa nova retomada na produção apresenta-se como definitiva, devido aos avanços tecnológicos em eficiência dos modelos dos aerogeradores. Em seu mais recente estudo, a Associação Mundial de Energia Eólica (WWEA, sigla em inglês) informou que a capacidade mundial instalada de produção de energia eólica, até o primeiro semestre de 2014, era de 336 gigawatts (GW). A.

(28) 28. expectativa de chegar a 360 GW até o fim daquele ano, o suficiente para atender um país de 75 milhões de habitantes. O relatório também destacou a Ásia como líder mundial na produção, ultrapassando a Europa, tendo a China como produtora de algo próximo a 100 GW, quase um terço da produção mundial, e o Brasil como o terceiro maior mercado para novas turbinas eólicas (WWEA, 2014). Atualmente, os cinco maiores produtores de energia eólica (China, EUA, Alemanha, Espanha e Índia), em conjunto, são responsáveis por 72% da capacidade eólica global instalada. Em 2014, o Brasil ficou em terceiro lugar como maior mercado de novas turbinas eólicas, atrás da China e da Alemanha e na frente de Índia e EUA. Com isso, o Brasil entra pela primeira vez no grupo de topo, estendendo sua liderança incontestável na América Latina. O mercado chinês foi o que obteve o maior crescimento, adicionando 7,1 GW entre janeiro e junho de 2014, tendo alcançado 98 GW já naquele mês e vindo a ultrapassar a marca de 100 GW ao fim do ano. Os líderes mais dinâmicos e expressivos do segmento eólico em todos os continentes são China, Índia, Alemanha, Brasil, EUA, Canadá, Austrália, Reino Unido, Portugal, Espanha, Suécia e Polônia. Na tabela 1, abaixo, pode-se ter uma visão dos quinze maiores produtores mundiais de energia eólica e a capacidade produzida de 2011 a 2014 (WWEA, 2014)..

(29) 29. Tabela 1 – Capacidade instalada de energia eólica dos quinze maiores produtores mundiais. Posiçã o. País. 1º 2º. China EUA Alema 3º nha Espan 4º ha 5º Índia Reino 6º Unido 7º França 8º Itália Canad 9º á Dinam 10º arca Portug 11º al 12º Suécia 13º Brasil Austrál 14º ia Polôni 15º a Resto do Mundo Total Fonte: WWEA, 2014.. Capaci Capaci Capac Capac dade Capaci Capaci Capac dade idade idade Total dade dade idade Total Total Total em Adicio Adicio Adicio final final final junho nada nada nada de de de de em em em 2013 2012 2011 2014 2014 2013 2012 (MW) (MW) (MW) (MW) (MW) (MW) (MW) 98.588 61.946. 7.175 91.413 835 61.108. 5.503 75.324 1,6 59.882. 5.410 62.364 2.883 46.919. 36.488. 1.830 34.658. 1.143 31.315. 941 29.075. 22.970. 0,1 22.959. 122 22.796. 414 21.673. 21.262. 1.112 20.150. 1.243 18.321. 1.471 15.880. 11.180. 649 10.531. 1.331. 8.445. 822. 6.018. 8.592 8.586. 338 30. 8.254 8.551. 198 273. 7.499 8.144. 320 650. 6.877 6.640. 8.526. 123. 7.698. 377. 6.201. 246. 5.265. 4.855. 83. 4.772. 416. 4.162. 56. 3.927. 4.829. 105. 4.724. 22. 4.525. 19. 4.379. 4.824 4.700. 354 1.301. 4.470 3.399. 526 281. 3.745 2.507. 118. 2.798 1.429. 3.748. 699. 3.049. 475. 2.584. -. 2.226. 3.727. 337. 3.390. 310. 2.497. -. 1.616. 31.506. 2.042 29.451. 1.761 24.660. 3.026 16.493. 336.32 318.48 282.60 233.57 17.613 13.978 16.376 7 8 7 9.

(30) 30. Continuada essa dinâmica, os investimentos em energia eólica tendem a crescer de forma promissora ao nível mundial. Países como Espanha, Portugal, China e Brasil, dentre outros, têm investido para diversificar sua matriz energética e, a longo prazo, torná-la majoritariamente provinda de fontes renováveis. Diferente do que ocorreu até 1980, os projetos em energia eólica têm obtido atenção mundial. Assim como também os investimentos em pesquisa e desenvolvimento têm logrado rápido avanço tecnológico e permitido a produção de potentes aerogeradores, proporcionando uma melhor competitividade dessa fonte com outras anteriores e exaustivamente utilizadas, como a hidroelétrica. Mesmo com o advento das novas reservas de petróleo, o interesse pela energia eólica torna-se cada vez maior e novos países passam a utilizá-la como fonte energética. 2.3. O POTENCIAL BRASILEIRO Diante do grande investimento mundial em energias renováveis, o Brasil. também tem implantado políticas públicas de incentivo a outras fontes. A finalidade é de diversificar a sua matriz energética, centrada desde os anos 1970 na produção hidroelétrica, petróleo e biocombustíveis. Isso é possível porque o território brasileiro caracteriza-se como um dos melhores espaços em termos de potencial energético. Principalmente em fonte solar, mare motriz e eólica, visto que há uma incidência regular dos ventos alísios em sua faixa costeira e também pelos mecanismos atmosféricos denominados serras-planícies (ALDABÓ, 2002; COSERN-ANEEL, 2003). Segundo o Atlas do Potencial Eólico Brasileiro: A distribuição geral dos ventos sobre o Brasil é controlada pelos aspectos da circulação geral planetária da atmosfera próxima, [...] Dentre esses aspectos, sobressaem os sistemas de alta pressão Anticiclone Subtropical do Atlântico Sul e do Atlântico Norte e a faixa de baixas pressões da Depressão Equatorial. Uma síntese dessas características em menores escalas sobre a distribuição dos regimes de vento é apresentada a seguir, organizada em sete regiões geográficas: (1) Bacia Amazônica Ocidental e Central; (2) Bacia Amazônica Oriental; (3) Zona Litorânea Norte-Nordeste; (4) Zona Litorânea Nordeste-Sudeste; (5) Elevações Nordeste-Sudeste; (6) Planalto Central; (7) Planaltos do Sul (CRESESB-CEPEL, 2001, p. 23)..

(31) 31. As condições climáticas e geográficas propiciam ao território brasileiro um grande potencial de utilização diversificada da força dos ventos para diversas atividades, principalmente para a geração de energia limpa. O potencial eólico nacional estimado era de 143,5 GW/ano já em 2009, mas outro estudo elevou essa estimativa para 149 GW/ano2. Esse potencial foi avaliado para captação de energia a uma altura entre 50 e 90 metros. Todavia, alguns estudos apontam para um potencial eólico superior aos 300GW/ano numa altura maior que 100 metros do solo (CERNE, 2013, p. 10; CEPEL, 2005; EPE, 2009). Mesmo com todo esse potencial disponível no país, essa energia ainda é explorada em níveis baixos, quando se compara a capacidade instalada do Brasil com a de países como China (>100 GW) e EUA (>61 GW). O Brasil passou de 22 megawatts (MW), em 2004, para 8,12 gigawatts (GW) de capacidade instalada até janeiro de 2016, como fruto dos 353 projetos instalados e com uma capacidade de construção de 10,01 GW, o que ainda é pouco, se comparado ao potencial estimado de 300 GW (ANEEL, 2016; ABEEÓLICA, 2016). O crescimento nacional do potencial e da geração, ainda que pouco, deve-se a diversos fatores: O crescimento da capacidade instalada no país se deve em grande parte aos incentivos que o governo federal tem dado para o assunto. O Programa de Incentivo a Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA), administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), trata-se de uma linha de crédito que prevê financiamento de até 70% do investimento, excluindo apenas bens e serviços importados e a aquisição de terrenos. As condições do financiamento são de Taxa de Juros em Longo Prazo (TJLP), mais 2% e até 1,5% de spread (refere-se à diferença entre o preço de compra, procura e venda oferta), de risco ao ano. A carência de seis meses, após a entrada em operação comercial, amortização por dez anos e não pagamento de juros durante a construção do empreendimento (FIEC, 2011).. Assim como na fonte hidráulica, as áreas propícias à geração de energia eólica para fins de exploração comercial distribuem-se de forma desigual pelo território, como pode ser visto a seguir no mapa de ventos do Brasil, produzido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e pelo Ministério de Ciência e Tecnologia em 2003. 2. Esse potencial é estimado sem somar com o potencial off-shore, geração de energia eólica em alto mar (CERNE, 2014)..

(32) 32. Figura 2 ‒ Velocidade média anual do vento a 50 m de altura. Fonte: ANEEL, 2005.. O mapa indica as regiões Nordeste, Sudeste e Sul como as áreas do território onde os ventos atuam com maior força e com velocidade média acima de 7 m/s a uma altitude de 50 metros e relativa regularidade. É exatamente nessas regiões brasileiras onde convergem os principais investimentos no setor, como mostrado no mapa de representação do potencial eólico por região produzida pela ANEEL (2001) (CRESESB-CEPEL, 2001; CERNE, 2014)..

(33) 33. Figura 3 ‒ Potencial eólico estimado para vento médio anual igual ou superior a 7,0 m/s. Fonte: CRESESB/CEPEL, 2001.. O potencial eólico é oscilante durante o ano, sendo sazonal e mais intenso nos meses de junho a dezembro. Esses meses de maior elevação do potencial. eólico. coincidem. com. os. meses. de. menor. pluviosidade,. e,. consequentemente, baixa produção de energia hidroelétrica (ANEEL, 2001). Isso pode ser observado no mapa trimestral de variação do potencial eólico a seguir..

(34) 34. Figura 4 ‒ Mapa apresentando o período de baixa pluviosidade e maior potencial eólico. Fonte: CRESESB/CEPEL, 2001.. Tal observação das condições naturais de produção eólica leva a uma análise que indica a utilização da energia eólica não apenas para fins mercadológicos. Também é aproveitada como uma complementariedade elétrica nos períodos de diminuição na geração de eletricidade provinda das centrais hidroelétricas. A dependência das hidroelétricas ainda é grande e isso pode mudar, ou não, com as novas centrais eólicas. De um total de 147,437 GW de potência instalada até março de 2016, a hidroeletricidade correspondia a 92,31 GW, 61,29 % da capacidade instalada, como pode ser visto a seguir (ANEEL, 2016)..

(35) 35. Gráfico 1 – Participação das distintas fontes na produção de energia elétrica no Brasil CAPACIDADE POR FONTE %. Fonte: ANEEL/Banco de Informação da Geração (BIG), 2016.. Dessa forma, o aumento da produção de energia eólica fortalece e diversifica a nossa matriz energética. Ela corresponde a aproximadamente 5,42 % do total gerado, colocando o Brasil entre os 10 maiores países produtores do mundo. Como dito, isso também diminui a vulnerabilidade brasileira nos períodos de estiagens (GWEC, 2014; ANEEL, 2016; CERNE, 2014). O Nordeste está entre as regiões brasileiras com os melhores índices de ventos, com um potencial estimado em 75 GW/ano. A principal região responsável por isso está entre o Rio Grande do Norte e o Ceará, em especial no litoral e no interior da região Sul do Piauí e centro da Bahia (CEPEL, 2001). Na figura a seguir, verifica-se o mapa do potencial de energia eólica do Nordeste..

(36) 36. Figura 5 – Potencial eólico do Nordeste brasileiro. Fonte: CRESESB/CEPEL, 2001.. Em razão desse quadro, a implantação de parques eólicos se concentra nas regiões com maior índice, representadas pelas cores mais fortes do mapa. São apresentados índices medidos em uma altura de 50 metros, sendo que o potencial eólico do Nordeste pode atingir índices bem maiores em alturas de 75 e 100 m. Esse fator aumenta a área de abrangência para implantação de parques e o potencial de geração nordestino..

(37) 37. 2.4. A PRODUÇÃO BRASILEIRA Apesar do grande interesse mundial pela energia eólica, do imenso potencial. proveniente das boas condições naturais e da disposição de promover sua inserção na matriz energética do país, infelizmente, o Brasil ainda segue direcionando os maiores investimentos para a produção de petróleo e gás. Segundo o Plano de Negócios e Gestão 2015-2019, há a previsão de 130,3 bilhões de dólares, e para a hidroelétrica está antevisto até 2018 um investimento superior a sete bilhões de reais, contra dois bilhões de reais revertidos para produção eólica até o mesmo ano. Apesar de seu tamanho e de seu potencial eólico, que já está totalmente mapeado, o país é retardatário nessa área por não possuir nenhuma contribuição significativa em matéria de pesquisa e inovação tecnológica no setor (GREENPEACE, 2013, p. 6; PETROBRAS, 2015; ABEÓLICA, 2015). A diversificação na matriz energética nacional, através da produção de energias renováveis, torna-se contraditória com a decisão do governo de investir vultosos recursos na exploração de petróleo no pré-sal. Além disso, há a presença das usinas termoelétricas e a insistência na predominância das hidroelétricas. Um exemplo é o que ocorre na equivocada aposta na Bacia Amazônica, onde grandes projetos hidroelétricos abrem questões socioambientais graves, como a degradação ambiental e a ameaça ao modo de vida tradicional dos povos da floresta, além de questões técnicas de difícil solução (Ibid., 2013). Segundo o Greenpeace (2013, p. 8), as fontes de energias limpas e sustentáveis têm um papel importante, além da função de complementar a matriz energética brasileira: As fontes renováveis são uma alternativa de longo prazo para substituir os combustíveis fósseis e reduzir a dependência de usinas de grande porte, geralmente muito distantes do centro consumidor. Essas novas tecnologias tornam o sistema elétrico flexível, abastecido por diferentes fontes, tanto constante quanto intermitentes. Para tornar esse cenário realidade são necessários investimentos em infraestrutura, redes inteligentes, tecnologias de armazenamento e eficiência energética. Mas, acima de tudo, é preciso que exista planejamento público com visão de futuro e comprometimento ambiental, que considere e viabilize essas novas e promissoras fontes de energia (GREENPEACE, 2013, p. 8)..

(38) 38. Com o país participante do seleto grupo dos países produtores e investidores de energias limpas e sustentáveis, o governo brasileiro criou o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROINFA). Estabelecido pela Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002, o programa estimula a utilização de outras fontes renováveis além da hídrica, como eólica, solar, biomassa e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCH’s). O PROINFA foi substituído pelos leilões de energia realizados pela Câmara de Comércio de Energia Elétrica (CCEE) devido a alguns fatores. A começar pelos atrasos nos prazos de entrega dos primeiros parques eólicos e das constantes prorrogações causadas pelo índice de nacionalização proposto, só havia apenas um fabricante do setor instalado no Brasil. Realizados em Ambiente de Contratação Regulada (ACR), em leilões, concessionárias, permissionárias e autorizadas de serviço público de distribuição de energia elétrica do Sistema Interligado Nacional, (SIN) é garantido o atendimento à totalidade de seu mercado. O leilão que define as empresas vencedoras é realizado com base num sistema denominado “cap price”. O preço-teto é fornecido pelo governo e os interessados dão lances abaixo dele. Vence o menor lance. Os leilões podem ser de diferentes formatos (Ver anexo I) (CCEE, 2014). Desde a criação do PROINFA e sua substituição por leilões, a produção de energia eólica no Brasil cresceu de forma significativa, como resultado dos 353 projetos instalados de parques eólicos e com uma capacidade de construção de 10,01 gigawatts (GW) a mais do que é produzido atualmente (ABEEÓLICA, 2015)..

(39) 39. Gráfico 2 – Capacidade instalada de energia eólica no Brasil por ano, 20052019, em megawatts (MW). Fonte: ANEEL/ABEEÓLICA, 2015.. Esses valores podem alterar-se rapidamente em função dos novos parques em construção. Há uma previsão de que até o final de 2019 a capacidade de instalação seja de 18,16 GW. Esse número é referente aos novos empreendimentos em construção e planejamento, podendo atingir 5,6 % do potencial total que o Brasil possui, como mostra a tabela abaixo. Tabela 2 – Total de empreendimentos em operação, construção e planejamento, e o potencial outorgado até janeiro de 2016 Empreendimento em Operação, Construção e Planejamento. Tipo. Quantidade. Potência Outorgada (MW). EOL Operação. 353. 8.570. EOL Construção. 129. 3.038. EOL Construção não iniciada. 248. 5.935. Total. 730. 17.543. Fonte: Aneel/Banco de Informação da Geração (BIG), 2015..

(40) 40. Como já adiantado, a energia eólica pode contribuir a diversificar a matriz energética do Brasil, assim como a aumentar sua segurança, a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a criar empregos. Em função disso, o governo criou o PROINFA, em um momento crítico da produção e principalmente da distribuição de energia no país. Este passou, em 2011, pela primeira crise do “apagão” motivado pela desestatização parcial do setor elétrico. A desestatização ocorreu em cerca de 70% da capacidade de distribuição, mas em apenas 30% na geração. O serviço de distribuição da energia passou a ser realizada por empresas privadas, enquanto que a geração em sua maior parte ainda era feita pelo governo. Os investidores privados, preocupados com incertezas regulatórias,. mantiveram-se. arredios. a. novos. investimentos. (LUCON;. GOLDEMBERG, 2007). Uma crise energética em um país com cerca de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, mais de sete mil quilômetros de litoral, condições favoráveis de vento e um dos maiores e melhores potenciais energéticos do mundo, parece injustificável. Se, por um lado, as reservas de combustíveis fósseis são relativamente reduzidas, por outro, os potenciais hidráulicos, da irradiação solar, da biomassa e da força dos ventos são suficientemente abundantes para garantir a autossuficiência energética do país (ATLAS DE ENERGIA ELÉTRICA DO BRASIL, 2008). Para Goldemberg e Moreira (2005, p. 217), a geração de energia no Brasil necessita ser aumentada a fim de disponibilizar energia para garantir maior desenvolvimento econômico e, assim, ter meios de melhorar as condições de vida da população. Com um potencial tão promissor na produção de energia, não só a eólica, o Brasil deu um passo para a diversificação da sua matriz energética. O incentivo governamental para a produção de novas energias tem dinamizado a oferta e possibilitado novas plantas de geração, principalmente no Nordeste brasileiro. Nessa região, estados como o Ceará, a Bahia e o Rio Grande do Norte têm apresentado uma excelente produção de energia pela fonte eólica. Além de ser líder na produção e autossuficiente, produzindo energia superior à demanda pela fonte eólica, o Rio Grande do Norte torna-se também produtor de energia solar. Seu potencial é apresentado no capítulo a seguir..

(41) 41. 3. A INSTALAÇÃO DE PARQUES EÓLICOS NO RIO GRANDE DO NORTE E. SEUS ASPECTOS ECONÔMICOS E SOCIAIS O presente capítulo e subcapítulos apresentam o potencial para a geração eólica no Rio Grande do Norte, seus municípios produtores, assim como o quantitativo dos parques em operação, construção e planejamento. Traz também os impactos ocasionados pela implantação desses parques nos municípios produtores. 3.1. POTENCIAL ENERGÉTICO NORTE-RIOGRANDENSE DE GERAÇÃO O Rio Grande do Norte é um dos destaques em termos de produção de. energia eólica entre os nove estados nordestinos (COSERN, 2003), com um futuro muito promissor na geração a partir das forças dos ventos, sendo ainda caracterizado pelo CERNE (2014, p. 21), como: [...] detentor de significativas reservas de petróleo e de enorme potencial eólico e solar, apesar de um consumo energético quase insignificante em termos de participação nacional, o Rio Grande do Norte desenvolveu ações concretas, empreendidas nos últimos sete anos, envolvendo a racionalização dos procedimentos de interação com o setor; a organização da informação setorial; as conquistas regulatórias; a mobilização de agentes econômicos e a integração dos órgãos governamentais envolvidos com tais empreendimentos.. É evidente a potencialidade norte-riograndense em energia eólica. Nos mapas apresentados a seguir, pode-se observar o potencial eólico potiguar em alturas de 50, 75 e, 100 metros. Esse potencial pode ser maior em alturas de 120, 150 metros..

(42) 42. Figura 6 – Mapa do potencial eólico em altura de 50, 75 e 100 metros. Fonte: COSERN, (2003).. Observando os mapas acima, pode-se concluir que quanto mais elevada for a altura, maior o potencial eólico nas áreas de maior incidência de ventos. Percebe-se também que as áreas de maior potencial eólico, representadas convencionalmente pela cor vermelha e lilás, concentram-se em sua faixa costeira, nordeste e norte, e em sua faixa central, serras centrais, o que as torna um espaço geográfico competitivo para os empreendedores voltados à implantação de aerogeradores (CENTRO DE ESTRATÉGIAS EM RECURSOS NATURAIS E ENERGIA, 2014). Atualmente, o estado conta com 97 parques em operação (Ver ANEXO B), produzindo um total de 2.671 MW, 20 em construção, com um potencial a ser produzido de 518 MW, e 55 novos empreendimentos a serem instalados, com potencial de 1.404 MW, possibilitados pelos investimentos nacionais e internacionais na produção eólica..

(43) 43. Tais investimentos têm possibilitado alterações na realidade econômica, social e ambiental dos municípios produtores, como também tem suscitado conflitos e tensões entre os principais atores sociais (populações tradicionais, instituições estatais e corporações), envolvidos nessa nova dinâmica. Os parques instalados, em sua maior parcela, nos espaços rurais, geram uma mobilização da população local e uma dinâmica dividida em três etapas: a) empregos diretos, no período de implantação do empreendimento com maior contratação de mão de obra local (pedreiros, serventes, engenheiros civis, elétricos, mecânicos, ambientais, locais e de outras localidades, soldadores, vigilantes, técnicos e outros); b) empregos indiretos, resultantes da dinamização econômica como prestação e ampliação de serviços na localidade urbana em ofícios como hospedaria, restaurantes, mercearias, bares, lavanderias, barbearias, postos de gasolina, autopeças, oficinas etc.; c) além dessa dinâmica temporária, têm-se os benefícios permanentes para os donos das propriedades arrendadas, que usufruíram por 20 a 30 anos do arrendamento da terra. A implantação de parques eólicos em propriedades de agricultores familiares pode lhes garantir renda durante um período bastante prolongado. Suas terras passam a servir de base de sustentação física para captação de ventos, ou seja, para a geração de renda não agrícola. As atividades de produção energética como a hidroelétrica e termoelétrica degradam uma área bastante significativa e implicam em deslocamentos de contingentes populacionais. A energia eólica, por outro lado, tem sua presença no território marcada especialmente em razão do menor impacto sobre as estruturas locais. É também uma variante tecnológica que implica em menores prejuízos aos ecossistemas locais. A implantação dos parques eólicos no estado criou certo modus operandi que difere de outras estruturas empreendedoras. A estrutura física local mantém-se (agrária) e os poderes municipais institucionalizados pouco mudam, não sendo preciso deslocar espacialmente nenhum ator social. A desterritorialização ocorre no âmbito simbólico do poder, no qual haverá o mínimo compartilhamento deste sobre um mesmo território. Os empreendedores, em sua grande maioria, não se tornam donos efetivos das terras dos parques, mas apenas arrendatários das propriedades onde instalam seus empreendimentos eólicos. Em alguns contratos, acertados entre.

(44) 44. os donos das terras e os arrendatários, há condicionante que impede o dono da terra de utilizá-la para outra atividade. O arrendamento da terra, não garante que a estrutura agrária continue sendo desenvolvida no espaço onde são instalados os parques eólicos. O usufruto da terra é determinado dentro do contrato acertado entre as partes interessadas, arrendatário e proprietário de terra. Diferentemente do sul do país, especificamente no estado do Rio Grande do Sul, onde a atividade de produção de energia eólica divide espaço com a agropecuária, não se observa nos municípios produtores de energia eólica do Rio Grande do Norte, com vocação agrária, essa associação. Pois, as terras onde estão instalados os parques eólicos são arrendadas pelas empresas proprietárias dos empreendimentos a pequenos produtores, a utilização dela por parte dos agricultores depende dos termos acordados entre os arrendatários. Outro fator importante é a falta de infraestrutura de abastecimento de água que impossibilita a irrigação e a criação de gado de forma expressiva. Pode-se observar a associação da atividade de geração de energia eólica com atividades antigas como a produção de petróleo e gás, investigado nos municípios de Areia Branca, Macau e Guamaré..

(45) 45. Figura 7 – Parque Eólico Arizona I, localizado dentro do Assentamento Zumbi, em Rio do Fogo/RN. Fonte: COSTA; ZANFERDINI, (2014).. Já quando instalados no interior de um Projeto de Assentamento Rural (PAR), os interesses e os conflitos em torno do poder tornam-se mais complexos. A teia de envolvidos amplia-se para outros atores, tais como o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), os assentados, os poderes legislativos (municipal, estadual e federal), os empreendedores, fiscais ambientais e outros, como é o caso dos dois parques eólicos de Rio do Fogo, instalados em um PAR. No caso do assentamento Zumbi, um PAR, localizado no município de Rio do Fogo, o contrato entre o INCRA, assentados e a empresa proprietária dos parques, não impossibilitou a atividade agropecuária. Esta é desenvolvida no limite dos parques, por estarem instalados em área de dunas, incompatíveis com a agricultura. 3.2. A GERAÇÃO DE ENERGIA EÓLICA NO RIO GRANDE DO NORTE Devido a sua localização geográfica, o estado dispõe de um potencial. energético de alto nível. O primeiro parque eólico do estado do Rio Grande do Norte, feito como teste, foi o do município de Macau, de propriedade de Petróleo Brasileiro S/A (PETROBRAS), inaugurado em 2004 e com geração de 1,8 (MW). O segundo,.

Referências

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