CURSO DE
IVIESTRADO
EM
ENFERMAGEM
I I
1BUSCANDO
CAMINHOS
PARA
VIVER
SAUDAVEL:
UMA
PROPOSTA
EDUCATIVA
DE
ENFERMAGEM
VOLTADA
Às
MULHERES
"
MÃEs
DE
PR|ME|RA
v|AGEM
"
,
EM
sEus
ENFRENTAMENTQS
coT|D|ANos
~IL_CA
LUCI
KELLER
ALONSO
FLORIANÓPOLIS,
1994,-1
UNIVERSIDADE
FEDERAL
DE
SANTA CATARINA
CURSO
DE
1\/IESTRADO
EM
ENFERNIAGEM
ÁREA
DE
ASSISTÊNCIA
DE
ENFERMAGEM
A
DISSERTAÇÃO
BUSCANDO
CAMINHOS PARA
VIVER SAUDÁVEL;
UMA
PROPOSTA
EDUCATIVA DE
ENFERMAGEM
VOLTADA ÀS MULHERES
"MÃES
DE PRIMEIRA
VIAGEM
",EM
SEUS
ENFRENTAMENTOS
COTIDIANOS
SUBMETIDA
A
BANCA
EXAMINADORA
PARA
A
OBTENÇÃO
DO GRAU
DE
MESTRE
EM
ENFERMAGEM
POR
ILCA LUCI
KELLER ALONSO
APROVADAEMOÊ
/OÊ3
/CÊH
CI/íz<«tzâ,=./--¬
DRA
A
LUCIA
MAGELA
DE
REZENDE
PRES
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š
DRA L
GIA
PAI
LER
DIAS
EXAMINADORA
z
M-~“
`D
.MIRIAM
P
LAR
GROSSI
EikINADoRA
DRA.ROSITA
SAUPE
EXAMINADORA
SUPLENTE
DR.
WILSON
KRAEMER
DE
PAULA
EXAMINADOR
SUPLENTE
_
ORIENT ADORA:
AGRADECIMENTO
ESPECIAL
A
DRA.
LYGIA
PAIM
MÚLLER
DIAS
ORIENTADORA
DO
PROJETO
DESTA
DISSERT
AÇÃO
DESAFIO.
'
AO
MEU
QUERIDO
MÁRCIO
,MARIDO
,COMDANHEIRO
E
EVCENTJVADOR,
POR TANTA COMPREENSÃO,
DEDICAÇÃO,
AGRADECIMENTOS
À
Ana,minha
orientadora,por
caminharcomigo
nesta trajetória,com
tanta dedicação,competência, sensibilidade e carinho. Obrigada pelo apoio, pelo incentivo, pela crítica, por
compreender as minhas dificuldades e iluminar as
minhas
dúvidas.À
Lygia ,minha
orientadora na.e`laboraçãodo
projeto deste trabalho, pelas valiosascontribuições , pelo grande estímulo . Obridada pelo carinho e pela força
com
quevocê
acreditou neste trabalho.
À
todas as mulheres quecomigo
desenvolveram este trabalhoem
Ratones , porcompartilharmos tantos
momentos
de nossas vidas, tantos conhecimentos, tantas alegrias e portomarem
possível a realização desta dissertação.Aos
-professores
do
Curso deMestrado
em
Enfermagem
, por contribuiremsignificativamente
com
omeu
crescimento pessoal e profissional e porme
oportunizarem odesvelamento de novos horizontes .
À
Kenya
e à Albertina ,na chefiado
Departamento deEnfermagem,
pelo incentivo,compreensão
e cooperação para que eu pudesse investir osmeus
esforços nestaprincipalmente pelo carinho de cada
um
.À
Valéria, companheira incansávelno
dia a dia desta experiência, queme
ouviu,me
apoiou,me
incentivou, conviveucomigo na
trajetória desta prática e muito contribuiu, principalmente durante as nossas reflexões acaminho
de Ratones.À
Marisa, pelacompreensão
e apoioem
tantosmomentos,
pela grande disponibilidade e contribuiçãoem
ajudar-me, por compartilharmos reflexões tão valiosas, por confraternizarcomigo
as minhas alegrias e principalmente por tanto carinho.À
Vera, pela grande força e contribuição, pelo apoio e incentivo, peloenonne
carinho eem
poder contar sempre
com
você.À
Denise, pela sua grande disponibilidade , competência e valiosas contribuições,que
me
ajudaram a"enfrentar" e compreender
o
processo de enfrentamento.À
Margareth, por compartilharmos “experiências e saberes", pelo apoio e caiinho.Aos
meus
pais, irmãos, cunhados, sogra e sobrinhos, porcompreenderem
omeu
"recolhimento" e o
meu
distanciamento e torcerem tanto para que eu alcançasse mais esta etapa _Em
especial à Ana, pela disponibilidade e auxilioem
digitar omeu
projeto de dissertação.Aos
meus
amigos, porcompreenderem
as minhas frequentes ausências e vibraremcomigo na
realização deste trabalho.À
Coleta, pelo incentivo, apoio e pela' colaboraçãoem
examinar este trabalho,como
Às
colegas da quarta fasedo
Curso deEnfermagem,
pela disponibilidade e colaboração frente às minhas limitaçõesem
participar das atividades docentesna
fase, durante este períododo
curso.À
Luzia, pela disponbilidade carinhosaem
ajudar -me.Ao
Professor Fernando, pela colaboração tão valiosa.À
Ione, por estarsempre
pronta ame
atenderna
Secretaria daPós Graduação
_À
todos aqueles,que
de qualquer forma,me
auxiliaram eme
facilitaram estaEM
SEUS
ENFRENTAMENTOS
COTIDIANOS
RESUMO
Este trabalho relata
uma
experiênciaem
educaçãoem
saúde, realizadacom
um
grupo demulheres primogenitoras,
em uma
comunidade
periférica de Florianópolis,na
Ilha de SantaCatarina.
Nesta prática educativa
em
saúde, procurou-se conhecercomo
estas mulheresprimogenitoras enfrentam os eventos estressores
com
os quais sedeparam na
vivência das situações novas,com
o
advento da maternidade, principalmentecom
relação aos cuidados deseus filhos
em
seu primeiro ano de vida.Com
o propósito de que estas mulheres compartilhassemsaberes e experiências entre si e
com
a enfermeira, para auxiliar, renovarou
modificar as formas de enfrentar estes eventos, adotou-se a modalidade de trabalhoem
grupo.No
planejamento deste trabalho foi esboçadoum
marco-conceitual, cujo alicerce educativofoi
fundamentado na
linha pedagógica de Paulo Freire.O
embasamento
teóricodo
processo deenfrentamento seguiu os postulados de Adeline
Niamathy
eDebra
Hymovich
/ GloriaHagopian
.A
construção teórica partiu das minhas crenças pessoais e profissionais e se constituiu deum
conjunto de conceitos, que posteriormente foi ampliado, durante 0 desenrolar da prática ,
com
asproposta
foram
previstas as linhas gerais e básicas da sistematização das ações educativasem
saúde, cujo principal instrumento foi o diálogo;porém
, foina
vivência do processoque
opróprio
gmpo
delineou o seu universo temático e configurou as etapas de seu desenvolvimentogrupal,
rumo
ao alcance dos objetivos almejados.Esta prática educativa
em
saúde foi realizadano
peiíodo dejunho
adezembro
de 1993,na
comunidade
de Ratones,com
um
grupo constituido por mulheres primogenitoras e a enfermeira,cujos encontros
foram
realizados nos domicílios das próprias mulheres constituintes deste grupoEste trabalho mostrou a importânciado relacionamento dialógico entre a enfermeira e o(s)
cliente(s),
num
processo educativoem
saúde. Reveloutambém,
que as ações educativas desenvolvidasem
grupo, favorecem o compartilhar de saberes e experiências, oportunizando aos seusmembros
a aprendizagem de novas formas de enfrentar os desafios.ABSTRACT
A
health education experience, such as conducted with a group of primigenial-childwomen
in a
community
of the large Florianópolis, Island of Santa Catarina, is hereby presented.Throughout this educative health practice, an effort
Was
made
to understandhow
theseprimigenial mothers cope with stressing
new
situationswhere
they find themselves in the position ofnew
mothers , having to care for their children, during the first yearof
motherhood.
To
motivate thesewomen
in sharing their knowledge bothamong
themselvesand with the nurse, seeking to help, revew, or
modify
theirways of
coping withnew
situations, the group modalitywas
adopted. In planning the work, a conceptualframework
was
designed, foundedon
Paulo Freire 's pedagogical line of thought.The
theoreticalfoudation for this coping process followed the ideas postulated
by
AdelineNyamathy
and
Debra
Hymovich
/ GloriaHagopian
.The
theoretical build-up reflects the author 'sown
personal and professional beliefs,
formed by
an ensenble of concepts, lateron
amplified pan' passu with practice,by
reflections and conte>rtualisms bornfrom
within the groupitself. In planning this proposition, consideration
Was
given to the general , as well as tothe basic lines of sistematization health education actions.
To
such an end, dialoguewas
the preferred tool, but the group 's thematic universewas
createdfrom
processs-livinghealth education practice
was
carried outbetween
Juneand
December
of 1993, at thecommunity
of Ratones, with a groupformed by
primigenial mothers andby
the nurse.Meetings
were
held athomes
of the group participantes. t .This experience
showed
us the significance of a dialogical interpersonal relationshipbetweeen nurse and clients, in a health education process. In another way, the group
modality process , adopted in this practice, helped people to
leam
about differentways
1 -
INTRODUÇAO
... ._ 01 2 -REVISÃO
DA
LITERATURA
... ._ 15, _
3 -
CONSTRUÇÃO
DAS NOÇÕES
TEORICAS
3.1 - a construção das vigas mestras de
uma
conceitualização ... _.36
3.2 - procurando desvelar o processo de enfrentamento
do
grupo de mulheresprimogenitoras ,
em
buscado
viver saudável ... ._46
3.3 -
como
foi trabalhadoem
grupo, o processo de enfrentamento das mulheres
primogenitoras , inserido nesta proposta de assistência educativa
em
saúde50
:**^:*`^P:'>:'>:*>-P* r-* r- 1-*ref-'T' U1-¡šUJl\J|-' I I
-
A
OPERACIONALIZAÇÃO
DESTA PROPOSTA
sobre a sistematização
do
'trabalho ... ._65
- sobre a aproximação da
comunidade
... _.66
sobre o desenvolvimento
do
gmpo
... ._70
- sobre a organização dos temas ... ._
78
- sobre a dinâmica das reuniões ... _. 81
sobre os registros dos acontecimentos ... _.
87
5 -
UMA
REFLEXÃO SOBRE
As
QUESTÕES
ÉT1cAS.., ... _.S9
6 -
OS
ENFRENTAMENTOS
DESTAS
MULHERES
PRIMOGENITORAS,
TRABALHADOS
EM
GRUPO,
NESTA
PRÁTICA
EDUCATIVA
EM
SAÚDE
-
Na
trajetória de formação e desenvolvimentodo
grupo ... _.93
-
Na
dimensão pessoal ~9\.°\9'\?\ www”
[Qt-›
I
- enfrentando os detenninismos sociais ao vivenciar o seu papel enquanto
enfrentando as modificações e os novos significados
do
próprio corpo._._.104
mulher; ... _.. ... ._ 1176. 2. 3 - enfrentando as responsabilidades ,as dúvidas e as consequências da
anticoncepção ... ._
126
6. 3 -
Na
dimensão familiar6. 3. 2 - enfrentando a convivência
com
a conselheira de cuidados ... .. 1426. 3. 3 - enfrentando as modificações
no
relacionamento conjugal ea participação
'
do
pai nos cuidadosdo
filho ... .. 151-
Na
dimensão comunitáriaenfrentando a convivência
com
este "novo e diferente " papel- da enfermeira
... .. 158
6. 4. 2 - enfrentando a convivência
com
um
outro grupo de mulheres/mães que 'também
desenvolviam atividades de educaçãoem
saúde ,na
mesma
'
comunidade
... . . ... . _ 1686. 4. 3 - enfrentando a mobilização para reivindicar melhorias
no
atendimento desaúde
na
comunidade
... .. 173°`*.°\ :¡¡_-J>- I'-¡ 1
7 -
UMA
REFLEXÃO SOBRE
O
PAPEL
DA
ENFERNIEIRA
NESTA
PRÁTICA
EDUCATIVA
EM
SAÚDE
... ... ..182
s -
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
... _.190
9 -
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
... 197O
conhecimento
sefaz a
custo demuitas
tentativas eda
incidência demuitos
feixes deluz, multiplicando os seu
pontos
de vista diferentes.A
incidênciade
um
único feixede
luznão
é suficientepimi
iluminarum
objeto.O
resultado dessa experiênciapode
ser incompletoe imperfeito
dependendo da
perspectivaem
que a
luz é irradiada eda sua
intensidade.A
incidênciaa
partir de outrospontos
de vista e de outras intensidadesluminosas
vaidando
formas
mais
definidasao
objeto inteiramente diverso ,ou
indicardimensão
inteiramentenova
ao
objeto (Limoeiro Cardosoapud
Minayo
, 1993 , p. 89 ).Na
sociedade contemporânea, através dos programas sanitários, as pessoastêm
a sua saúdeatribuída a
um
certobem
estar físico, psíquico e social, quena
maioria das vezesnão
condizcom
a qualidade de vida contemplada
em
suas aspirações, seus sonhos, sua imaginação.Os
atributos incluídosno
conceito de saúde destas pessoas sãotambém
qualitativos e subjetivos,dimensionados na organização de suas vivências cotidianas e
na
história pessoal de cadaum,
numa
abrangência sócio-cultural, psicobiológica, individual e coletiva.`
Na
compreensão deMinayo
, (1993 , p.15)" a saúde
enquanto questão
humana
eexistencial é
uma
problemática compartilhada indistintamente por todos os segmentos sociais. (...)pois saúde e doença
exprimem
agora esempre
uma
relação que perpassa o corpo individual e social, confrontando as turbulênciasdo
serhumano
enquanto ser total ".2
Buscando
um
aprofundamento nesta linha de pensamento, optei pelotema
deste trabalho.As
idéias
foram
sendo concebidas ao longodo
meu
viver profissionalem
postos de saúde periférisos, junto a mulheres e crianças quena
maioria das vezes, ao seaproximarem
de nós,'.profissionais de`\-,
saúde, passaram a ser
chamados
pormães
e seus filhos, orientados e uniformizadostecnicamente sob 0
manto
protetor de nosso saber acadêmico.ii V
As
idéiasgerminaram
dia-a-dia, brotaramcom
muito esforço efloreceram
iluminadas teoricamente ,na
perspectiva de que seus frutos contribuamcom
a construção deum
saberque
não
é superiornem
inferior a outros saberes,como
diz Rezende(l988)não
é "messiânico"mas
écomprometido
com
a dignidade deum
viver saudável das pessoasem
seu contexto._f
Nestesentido planejei e desenvolvi
uma
prática assistencial deenfermagem
com
um
grupo
de mulheres , dimensionada
na
educação para a saúde,em uma
comunidade
periféricada
cidadede Florianópolis _
As
mulheres,`
co-partícipes deste processo, são
mães
de seus primeiros flhos, vivenciando desafios nos cuidados de saúde destas crianças, dentrodo
seu processo decrescimento e desenvolvimento,
bem como
outros desafioscom
que se fizeram presentescom
oadvento da
matemidade
.`
A
proposta educativa sefundamentou na
aprendizagem de novas habilidades deenfrentamento destes desafios, através da troca de saberes e experiências,
em
grupo.Por
quêum
trabalhocom
mulheres? e mulheres que cuidam?As
mulheresforam
revestidas por diferentes personagens ao longoda
história; entre eles:fadas, bruxas, rainhas, religiosas, escravas, virgens, heroínas, prostitutas e mães.
Os
esteriótipostem
lhesacompanhado
por muitotempo
e hojeem
dia ainda se refletemno
jogo depoder
e influências nas suas relações sócio-culturais e familiares .Coradini e Barbiane( 1983) refletem que
o
sistema familiar é predominantemente patriarcal,há
sete mil anos e relatam que algumas correntes progressistasdefendem
que antes deste períodohouve
uma
" sociedadehumana
mais `alitária " 5 ue seriam as sociedades mat.riarcais..Em sua
retrospectiva histórica as autoras
entendem
que a mulher foi situadanum
papel de inferioridade através dos sistemas familiares. Engels,apud
Coradini e Barbia.ne (1983) se refere a ascençãodo
patriarcadocomo:
"(...) 0
desmoronamento
do
direito materno, a grande derrota históricado
sexo feminino
em
todo omundo.
O
homem
apoderou-setambém
da direçãoda
casa, amulher
foi degradada, convertida
em
servidora,em
escrava da luxúria dos homens,em
simples instrumento de reprodução. Essa baixa condição da mulher manifestada sobretudo entre os gregos dostempos
históricos e, ainda mais, entre os templos clássicostem
sido gradualmenteretocada, dissimulada e,
em
certos lugares até revestidas de formas de maior suavidade,mas
demaneira
alguma
suprimida " (Coradini e Barbiane, 1983, p. 246) .Muraro,( 1992) fez
uma
análise histórica da submissão das mulheres ao domínio patriarcal. f .
'
_
e situa a instalação
do
patriarca›do nas culturas pastorais e agrárias,em
que as relações entre os sexos são envolvidas pelomedo,
e ohomem,
em
nome
do
poder, fogedo
afeto e dirige suaenergia para o trabalho, o conhecimento e o poder,
em
que a racionalidade passa a prevalecer sobre. a emoção. Sobre esta racionalidade passa a ser construida a história.Afirma
:"` (...)
cindem-se
no
inconscientedo
homem
a racionalidadeem
detrimento da emoção, o corpo éreprimido
em
favor da alma, a intuição cede lugar à inteligência racional e linear.A
partir desta cisão interna, ohomem
se separa da mulher, separação essa concretizadana
divisãodo domínio
público e privado etambém
na
divisãodo
trabalho.Os
grupos entramem
conflito pelas guerrasem
busca de terrasou
de mais poder e divide-setambém
ahumanidade
da natureza ,em
virtudedas relações de exploração e violência que se instalam, então " (Muraro, 1992, p. 187-188) .
Mais
especificamente nos países Subdesenvolvidos, nos dias atuais,há
uma
diferenciação ,nos papéis de gênero , vivenciados por
homens
e mulheres, que varia de acordocom
as classessociais e segundo o interesse
do
sistema. Isto implicaem
diferentes condições de vida das mulheres, os tipos de desafios que enfrentam, etambém
os recursos de quedispõem
para o4
enfrentamento.
A
inclusão da força de trabalho femininono mercado
industrial,bem
como
a necessidade imperiosa de contribuircom
a» renda familiar; dentrodo
sistema competitivo patriarcal capitalista, delega à mulher duplaou
até tripla jornada de trabalho.Atualmente,
como
nos diz Massi (1992) , o trabalho feminino forado
lar é valorizado pelasmulheres e
também
por parteda
sociedade; é vistocomo
uma
forma
de crescimento e atualizaçãopessoais. Esta autora pensa que a mulher
moderna
"(...) quer transitar para forado
privado e negociarum
novo
jeito de gerenciar o doméstico .Quer
a carga pesada do cotidiano"(Massi, 1992, p. óo).
)_< Neste contexto, situa-se a mulher vivenciando, pela primeira vez, 0 papel de mãe,
com
inúmeras novas incumbências, responsabilidades, perdas, alegrias, ameaças, surpresas,
inseguranças, prazeres e ansiedades, ao vivenciar o processo de crescimento e desenvolvimento
de seu filho, junto aos seus familiares .
7<
Além
de toda esta conotação social, esta mulher vivetambém
um
momento
cultural importante, que faz parte dos ciclos cerimoniais da vida, que é o rito depassagem da
primeira vez.Gennep
( l978 ) aborda 0 assunto, caracterizando a experiência da primeira vezcomo
apassagem
deuma
categoria socialou
deuma
situação à outra, e especialmente o nascimentodo
primeiro filho,
como
acontecimento de grande importância por caracterizar-se juridicamente pelo direito de primogenitura.Com
frequência 0 nascimentodo
primeiro filho delimita o término dosritos
do
casamento, e classifica ajovem
esposana
classe das mulheres propriamente ditas : "aotomar-se
mãe
sua situação moral e social aumenta. Passa de mulher simplesmente a matrona, deescrava
ou
concubina a mulher igual às mulheres livresou
legítimas " (Gennep, 1978, p. 57).Da
mesma
forma, os ritos de iniciação asseguram a participação da mulher nas cerirnoniasfrente aos
novos
limiaresna
vida ." Para
os os 7 assim
como
ara os indivíduos 3 viver écontinuamente desagregar-se e reconstituir-se,
mudar
de estado e de forma, morrer e renascer.É
agir e depois parar, esperar e repousar, para recomeçar
em
seguida e agir,porém
demodo
diferente.
E
sempre há
novos limites a atravessar, limiaresdo
verãoou do
invemo,da
estaçãoou
do
ano,do
mes
ou
da noite, limiardo
nascimento,da
adolescênciaou da
idade madura, limiarda
velhice, limiar da morte e limiar da outra vida - para os que acreditam nela "` (Gennep, 1978, p.
157-158).
Nesta fase da vida as mulheres têin a incubência de proporcionar os cuidados necessários
para que seus filhos cresçam e se desenvolvam de
forma
saudável, confiantes ecom
alegria.Rosaldo e
Lamphere
( 1979) consideram que a absorção da mulher nas atividades domésticas édiretamente relacionada ao seu papel de
mãe
.A
responsabilidade de cuidar dos filhos, o seudirecionamento emocional/ afetivo e
o
focoda
sua atenção são dirigidosno
sentidodo
bem
estar,do
crescimento e desenvolvimento dos seus filhos . Destaforma
elafica
impedida de transcenderas relações
do
grupo familiar que são fixadas pelo casamento .De
acordocom
este autores otreinamento deste papel social,
na
menina, se inicia durante a infância, para quena
idade adultaesteja apta a atender as necessidades daqueles
com quem
conviveno
lar ; diferentemente dosmeninos que desde cedo são encaminhados a exercitar a sua
imagem
pública.Ao
vivenciarem a chegadado
primeiro filho as mulheres e oshomens
necessitam exercitarestes novos papéis de
mãe
e pai ,em
consonânciacom
todas as outras nuançasque entremeiam
os seus papéis de gênero
na
sociedade. Boehs, (1990 , p.5)em
seu trabalhocom
famílias derecém- nascidos, visualiza a família nesta situação e afirma: " (...) as familias
com
seu primeirofilho, estão iniciando
uma
situação nova,com
mudanças
de posições dos seusmembros
ecomo
consequência,mudanças
de tarefasou
funções destes e da famíliacomo
um
todo ".6
Muraro, (1992)
em
sua análise histórica, ao abordar o matricentiismo,afirma
que
nasculturas ancestrais a maternidade era vista
como
uma
força sagrada ieeram
fortes os laços entre
mães
e filhos; as mulheres se responsabilizavam pelos filhos e por extensão pelo grupo todo.O
ato de cuidar sempre
acompanhou
a mulher, tanto nos cuidados da prolecomo
também
deoutras pessoas que os necessitavam. Relata
também,
que a partirdo
século XIII, "(...) a grandemaioria dos que prestavam cuidados de saúde
eram
mulheres (...) , (...) queconheciam
asfamilias, que
dominavam
milenarmente a química das plantas, o parto, o aborto, e osconhecimentos
iam
passando demãe
para filha, de géração para geração ". Foi a época dacaça
às
bruxas
em
que o saber feminino foi sufocado pelo saber científico masculino, e aí se fixam ospapéis de gênero
çomo
osconhecemos
hoje'em
dia(Muraro, 1992
, p.l07-115).Colliere,apud
Boehs
(1990), situa a relaçãodo
cuidado da.mãe
aorecém
nascido desde ostempos mais remotos, e refere que esta tarefa foi delegada às mulheres, porque o ato de dar a luz,
simbolizava a fertilidade e por isso, elas
tomavam-se
responsáveis por todos os aspectos da vida.Belotti, (1975) faz
uma
reflexão à respeitodo comportamento
da mulher , enquanto parteda
espécie
mamífero
fêmeá
humana
com
relação ao sentido de proteção e cuidados paracom
asua cria, e observa que a mulher se comporta exatamente
como
ohomem,
com
amesma
independência, .a
mesma
agressividade, exceto durante o período estritamente limitadoda
maternidade.
Com
relação ao papel da mulher, neste particular, relaciona-o aum
condicionamento sócio-cultural, utilizado pelo
homem
como
instrumento de controle; "amulher
é condicionada desde a infância para o seu futuro papel de mãe, e cada aspecto
da
sua vida émarcado
por esse condicionamento,mesmo
que elanunca
chegue a ser mãe.A
matemidade
tomou-se assim
um
instrumento de sujeição social e cultural da mulher atravésdo
controleque o
homem
exerce sobre suas funções sexuais e reprodutivas "Analisando ainda, o
comportamento
da mulher, nas suas relações cotidianas ao cuidar de seufilho, ressalta mais
uma
vez a influênciado meio
sócio-cultural e a autoridadedo
homem
nasmuito tempo, ela
não
tem
liberdade de ação.Age
demodo
esperado pelomeio
cultural e social,e é extremamente influenciada
na
criaçãodo
filho, pela autoridadedo
pai ; e isto,segundo
aautora vai influenciar as suas maneiras de desenvolver os cuidados de seu filho : (...) as
relações diárias entre
mãe
e filho são marcadas poruma
série de rituais repetidos: alimentação, limpeza, banho, higiene, sono, necessidades fisiológicas, tudo o que ajuda a 'estruturar '
psicologicamente a criança e que
pode
ser feito de diferentes maneiras" (Belotti, 1975, p. 44-46).Rosaldo (
1979
)abordaa
implicação da natureza e da -culturana
determinação destespapéis de gênero; mais especificamente
com
relação à mulher,pensam
que
"(...) seu status é derivado de seu estágiono
ciclo vital, de suas funções biológicas e,em
particular, de seus laçossexuais e biológicos à
homens
específicos _ (...) as mulheres são mais envolvidasdo que
oshomens
nos materiais "sujos " e perigosos da existência social,dando
a luz e pranteando a morte,alimentando, cozinhando, desfazendo-se das fezes e equivalentes "(Rosa1do, 1979, p. 47) _
Os
estudiosos destas questõespercebem
quevem
ocorrendo algumasmodificações
nestas relações familiares , quefluem
em
conjuntocom
asmudanças
que se instalamna
sociedade deuma
forma
mais geral _A
inserção da mulherno mercado
de trabalho , levando-a a exerceratividades fora
do
lar, pela necessidade de contribuircom
a renda familiar atravésdo
seu traballioremunerado
e pela sua valorização social, são alguns destes pontos discutidos por estesestudiosos , ao focalizarem esta
nova forma
de maternar os filhos e cuidar dos afazeresdomésticos.
Salem
(1985) estudou a trajetóriado
casal grávido e concluiu que anova
paternidade,na
qual existe
um
envolvimento direto maiordo
homem
nos atos de cuidardo
filho, está associada àuma
nova maternidade
que oferece à criançauma
dedicação integral por parteda
mãe
edo
pai .8
. . . - ~ -
/
modelos
matemos
epatemos
tradicionais e sobremaneira.na
concepçaoda cnança
ena
/
valorização
do
afeto, da atenção, da subjetividade e da liberdadeno
relacionamento pais e flhos(
szúzm, 1985
, p. 40-42).*
Badinter (1985) , esclarece que existe
uma
tendência atual para 0 cuidado dos filhosem
que
não
existem mais "especificidades dos papéis paternos e maternos "; isto significaque
oshomens
estão aceitando "dividir asitarefas domésticas ", o que
não
quer dizer,no
entanto, que estáocorrendo
uma
inversão dos papéis tradicionais .Com
relação à este forte vínculo entre afigura
feminina e a
maternagem
dos filhos, esta autora questiona a concepçãoque
relaciona0
devotamento materno absoluto e a dedicação exclusiva da
mãe
aos cuidadosdo
filho ,com
oinstinto
materno ou
àmaternidade
natural . Ela focaliza este assunto sobum
outro ângulo :"Em
vez de instinto,não
seria melhor falar deuma
fabulosa pressão social paraque
amulher
sópossa se realizar
na
maternidade ?ou
então (...)como
saber se o desejo legítimo da maternidadenão
éum
desejoem
parte alienado,uma
resposta às coerções sociais '? - (...)como
ter certeza deque esse desejo da maternidade não é
uma
compensação
de frustrações diversas ? ou, (...) amaternidade é
um
dom
enão
um
instintocomo
nos tentam fazer crer "( Badinter, 1985, p.363-364, 355-364). t
Alrneida( 1987) estudou a
nova maternidade
e asambiguidades
do
processo dei 'modernização da
família e constatou que atualmente "(...) os papéis antes segregados pelogênero, adquirem ampla
margem
de negociação, agora baseadaem
diferenças pessoais enão
mais posicionais e de status "( Almeida, 1987, p. 59).
Para
Chodorow
(1990), ."(...) as mulheres encontram a sua principal posição social dentro daesfera
do
cuidado materno; e (...) ser mãe, portanto,não
é só dar à luzum
filho - é seruma
pessoa que socializa e cuida.
É
ser o principal responsávelou
cuidador ". Esta autorapondera que
na
esfera da reprodução social "_ Assim,Chodorow
compreende
que a omissãodo
paina
maternagem do
filho está extremamente ligada a este fato,ou
seja, à divisão do trabalho porsexos , aprendidos e seguidos segundo os modelos sociais vigentes e reproduzidos pela família
(Chodorow,
1990, p. 27-30 ). _z
\
Massi, ( 1992) estudou a corifig|n'açãb
do
imaginário cotidiano de mulheres de estratomédio
da cidade de
São
Paulo e concluiu que "(...) a conjuntura socialmudou
, e a antiga vidadoméstica
não
mais corresponde às necessidades atuais da mulher que trabalha fora.Daí
a crisede representações
do
que é coisade
mulher ou de
homem
ou de
casal "( Massi, 1992, p. 57).Para viver toda esta
gama
complexa
e entrelaçada de ações, significados, papéis,responsabilidades, aspirações, exigências, alegrias e vicissitudes, a mulher utiliza
um
saber,que
na
maioria das vezesadvém
do
sensocomum,
herdadoou
adquiridona
práticada
vida.No
bojo de suas relações sociais, as mulheres trocam experiências e informações, esclarecemdúvidas, sugerem, questionam e assim
ampliam
o seu saber.Os
cuidados paracom
a saúdeda
criança,têm
sidouma
temática muito focalizada nosprogramas de saúde materno-infantil, e sempre relacionados ao papel da mulher, enquanto mãe,
como
a provedora destes cuidados. Esta questão é reafirmadana
Conferência de Alma-Ata,Organização
Mundial
da Saúde, (1979) sobre os cuidados primários de saúde,em
que
édeclarada, a importância dos
membros
da família enquanto recursoshumanos
importantes aserem integrados à equipe de saúde; "(...) muitas vezes os
membros
da família são os principaisprovedores de cuidados de saúde.
Na
maioria das sociedades, as mulheresdesempenham
importante papel
na promoção
da saúde, particularmenteem
razão da sua posição centralna
familia, isto significa que
podem
contribuir substancialmente para os cuidados primários desaúde, especialmente ao assegurarem a aplicação de medidas preventivas.
É
possível estimular organizações femininas comunitárias a discutir questões taiscomo
nutrição, cuidado infantil,10
saneamento e planejamento familiar, além de importantes para a
promoção da
saúde, essasorganizações
podem
estimular o interesse femininoem
outras atividades capazes de melhorar aqualidade de vida comunitária " ( Organização
Mundial
da Saúde, 1979, p. 52).›<
A
maioria dos profissionais da saúdetem
pautado as práticas educativasem
saúde, dentrodo
modelo
biologicista e funcionalista,com
a supremaciado
saber técnico,com
verdadescristalizadas e fundamentadas exculsivamente
no
saber científico. Particularmente, muitos- .
,., / . \ .
enfermeiros
configuram
estas caracteristicas nas suas açoes educativas as mulheres, embutidas1
nas consultas de
enfermagem
à criança,bem como
em
outrosmomentos
em
quedesenvolvem
os seus programas educativosem
saúde.7(
Mais
uma
vez, os profissionais da saúdereproduzem
0 papel historicamente patriarcal,dominador
e .submetem
as mulheres àuma
condição subjugada, nos seus conhecimentoscotidianos
na
arte de cuidar.Tenho
refletido eme
inquietadocom
este tipo de prática, e perceboque as mulheres submetidas a este tipo de orientação continuam se defrontando
com
seusproblemas cotidianos, enfrentando-os à sua maneira,
com
seu saber popular e,na
maioria dasvezes,
sem
que as informações técnicas recebidas' sejam o suporte de suas ações,como
pretendem os profissionais da saúde.
A
este respeito, Rezende, (1988, p.l9) refere que: "(...) ohomem
é o único ser capaz de estabelecer relações, pois possuium
saber-fazer desenvolvidona
cotidianidade de sua existência,
uma
inteligência operatória enão
apenas reflexa.Só
ele é capaz de discernir, de percebercom
criticidade a realidade que lhe é exterior ".Castillo, (1984 ) aborda esta atitude dos profissionais da saúde para
com
os clientes,num
contexto mais amplo-, dentrodo
sistema integral de saúde, focalizando a perspectivada
saúde e asmudanças
sociais. Analisa as atitudes que os gruposhumanos
têm
frente' às situações de saúde ell
Nesta linha de
pensamento
o autor resgata a idéia de que alguns grupos que se acreditamdepositáiios
do
saber empírico, funcionamcomo
obstáculosno
desenvolvimento dos programasintegrais de saúde."
Um
dos maiores problemas destes programas de saúde é a substituição das idéias e padrões de ação tradicionais pelos científicos. Para ele é necessário então, conhecer e familiarizar-secom
as crenças locais e buscar sua possível relaçãocom
a observação econhecimento científico para facilitar a troca social e cultural " (Castillo, 1984, p. 29) _
Desde
o ano de 1978,venho
convivendo profissionalmentecom
mulheresque cuidam
deseus filhos, e
com
crianças que são cuidadas pelas suas mães.Em
treze_anos de docênciavenho
atuando
na
área da atenção primáriaem
saúde, mais especificamente, voltada às mulheres e seusfilhos, juntamente
com
os alunosdo
curso de graduaçãoem
enfermagem. Nesta trajetória tenho supervisionado os estágios curriculares dos alunosem
postos de saúde periféricos etambém
D
participado de trabalhos comunitários. Nestas experiências tão vahosas para mini enquanto
pessoa e enfermeira, as mulheres, as crianças e as famílias
tem
me
ensinado muitas coisas, entre elas, que a linha informativa tradicional utilizadaem
educaçãoem
saúde preenche as pessoas deinformações,
mas
pouco
atende- as suas necessidadesno
viver cotidiano.Cada
-dia nestaminha
trajetória profissional
tem
significadoum
passo a maisna
reflexão desta prática eum
exercício constante de modificá-la, procurandoromper
com
a visão mecanicista e funcionalista,em
buscade
um
encontro mais significativo e contextualiudocom
cada cliente .As
pessoastem
sinalizado,também,
que a informação é importante,mas
é necessário rever a maneira de sercomunicada
- eelas próprias
tem
nos mostrado os caminhos para a sua aprendizagem de novas habilidades e conhecimentos, cabendo a nós desvelá-los.As
mulherestem
demonstrado, queno
seu dia a dia,utilizando o seu saber popular, enfrentam,.a seu
modo,
os desafios que encontram nos seuscaminhos da vida,
com
seus recursos sociais e pessoais.Tenho
a clareza de perceber quenem
sempre os meios por elas utilizados são altamente eficazes,
mas
são os meios que elas encontram,12
Com
relação aos cuidados de seu primeiro flho, esta. questão setoma
mais sensível ecomplexa, porque além dos aspectos que
foram
abordados anteriormente, esta situação específicade vida
vem
acompanhada
de papéis com' significados importantes eum
conjunto deresponsabilidades, atribuições, ansiedades e alegrias, envolvida
em uma
forte conotaçãosimbólica,
com
seus ceriinoniais, ritos, crenças e tabus.Sampaio
(1984 ) pensaque
a ansiedadefrente a situações novas faz parte
do
crescimento e desenvolvimentodo
serhumano
emove
oindivíduo
em
buscada
aprendizagem para a solução destas situações. "Cada
criança é única, e partedo
prazer edo
privilégio de ser pai estáem
procurar conhecer, pensar, e preocupar-secom
o filho.
Os momentos
de preocupação são inevitáveis, porém,sem
uma
certa. ansiedade,não
haveria ímpeto para a aprendizagem e o crescimento através de
um
esfôrço para resolver osproblemas mais imediatos. Isto se aplica
no
desenvolvimento da criança,mas
igualmente ao papelda
mãe
edo
pai " (Sampaio, 1984, p. 24).Alguns enfermeiros
tem
demostrado,em
suas experiênciascom
famílias de criançascom
problemas crônicos de saúde, que eles
têm
um
papel educativo significativono
desenvolvimentodas habilidade de enfrentamento aos eventos estressores
com
que estas pessoas convivem.X
Ellisapud Nyamathi
.(1989) pensa que os enfermeiros são essenciaisem
auxiliar os indivíduos a enfrentarem seus problemas de saúde,quando
suas próprias forças, vontadesou
conhecimentos são insuficientes.
Também,
Faginapud Nyamathi
( 1989) considera que osenfermeiros estão
em
posição ideal para conduzir estudos sobre enfrentamentos, por estaremenvolvidos
na
assistência aos indivíduos que enfrentam os estresses da vida, por doençasou
outros infoitúnios. '
><
Atravésdo
processo educativo, os enfermeiros oportunizam aos indivíduos 0reconhecimento e a utilização
do
seu potencial e das forças que necessitam para alcançarou
-trocarem saberes e experiências
em
grupo, e avaliando as suas maneiras de enfrentar os desafios,podem
alterar, reforçar, manterou
criar novos meios que sejam mais eficazes. Estepensamento
pode
ser enriquecido pela compreensão de Rezende, (1988 , p. 19) ao dizer que;" a educação é
um
saber - fazer que só aconteceno
convívio social. Culturanão
éuma
aderência deconhecimento alegórico,
mas
sim,uma
permanente e sistematizada atividadeda
sociedadehumana.
Essa atividade é crítica e criadora e se desenvolve amedida
que o serhumano
sepropõe
responder a desafios ".
Para a realização deste trabalho desenvolvi
um
marco
teórico, que norteou aminha
práticaprofissional,
no
sentido detomar
a educaçãoem
saúde mais contextualizada, mais participativa emais libertadora, procurando integrar o saber popular
com
o saber técnico,em
uma
comunhão
debuscas, para desenvolver as habilidades de enfrentamento das mulheres nos eventos estressores
que encontram ao cuidarem da saúde de seu primeiro filho,
em
seu primeiro ano de vida.Penso que esta experiência teórico-prática, possa significar mais
um
feixe de luz a incidirsobre a prática educativa
em
saúde, iluminando, sob determinada perspectivaum
dos seus pontosimportantes, que é a busca de ser saudável das mulheres,
com
suas famílias,em
seu contexto.Com
base nesta experiência acredito que os enfermeirostêm
condições de desenvolver ações educativas mais próximas dos desafios e enfrentamentosdo
viver diário e contextualizado dosindivíduos, oportunizando o encaminhamento- de altemativas de soluções mais concretas e
possíveis. Considero que o exercício de
uma
metodologia para a enfermagem,com
esta tonalidade conceitualvenha
a contribuir para a compreensão sobre a prática educativa nesta área,em
consonânciacom
Nascimento e Rezende, ( 1988) ao alertaremque
as práticaseducativas
em
saúde carecem deuma
base conceitual que possibilite conhecê-las, explicá-las eaté compreendê-las mais claramente. `
14
Desenvolver
uma
prática assistencial deenfermagem
voltada para a educaçãoem
saúde efundamentada
num
marco
teórico construído à partir de alguns conceitosdo
método
pedagógicode Paulo Freire,
(1983e
1991) eda
teoriado
Enfrentamento de Nyamathi, (1989) eHymovich
e Hagopian, (1992)
com
um
grupo de mulheres primogenitoras deuma
comunidade
periféricana
cidade de Florianópolis.Os
objetivos específicos deste trabalhoforam
:-Iniciar a elaboração de
um
marco
teórico e delinearuma
proposta de operacionalizaçãoda
prática assistencial educativa de enfermagem,
fundamentada
neste marco.-Aprofundar a teorização inicial durante e após o desenvolvimento da prática assistencial,
procurando conhecer
como
as mulheres primogenitoras enfrentam os eventos estressoresoriundos da vivência das situações novas, perdas
ou
ameaças, ao cuidarem de seus filhosem
seu processo de crescimento e desenvolvimento, durante o seu primeiro ano de vida.- Oportunizar o compartilhar de saberes e experiências, entre as próprias mulheres e
com
aenfermeira,
numa
dinâmica grupal, para avaliar, ampliar e renovarou modificar
as formas de enfrentar os desafioscom
que sedeparam
nesta fase da vida.Neste capítulo se encontra
uma
revisão teórica à respeito de ceitos aspectos básicos,que
me
auxiliaram a compreendermelhor
determinados pontos que considero essenciais neste trabalho,ou
seja: a educaçãoem
saúde, o processo grupal, as práticas de saúde das mulheres nos cuidados de seus filhos e o processo de enfrentamento.Ao
longodo
desenvolvimento doscapítulos subsequentes, oportunamente outros autores serão evocados para
fomecerem
o suporte bibliográfico necessário.A
educaçãoem
saúdetem
sido compreendida e desenvolvida, poruma
grande maioria dos\
profissionais desta área,
como
um
trabalho planejado e formal que oferece informações, especialmente técnicas,em
um
momento
preciso e oportuno,na
perspectiva dos profissionais, para transmitir conhecimento e levar os indivíduos e/ou grupos a desenvolveremcomportamentos mais adequados
em
relação à sua saúde.Termos como:
intervenção dos profissionais, exercer influências,provocar
mudanças
de
comportamento,
determinar ações de saúde,tem
sido enfaticamente contempladas nosconceitos educacionais
em
saúde,com
uma
conotação claramente impositiva. Esta linha tradicional foi questionadaem
vários trabalhos realizados por enfermeirosna
área educativaem
saúde,como:
Silva Pinto (1983),Rezende
( 1988), Ghiorzi (1991),Kleba da
Silva (1992),
Gonzaga
(1992) eWendhausen
(1992 ) .16
de Florianópolis, enfocando a educação
em
saúdena
assistência deenfermagem
. Illich,apud
Kleba da Silva (1992) considera que a imposição dos serviços dos profissionais e principalmente
a crença de que os indivíduos são incapazes de
enfientm'
a doençasem
os recursosda
medicina
moderna,
são causadores de "(...) desgastena
saúde da população ,com
reflexosnegativos
no meio
social e Íisicocom
relação à saúde, pois (...)diminuem
as. possibilidadesorgânicas e psicológicas de luta e adaptação que as pessoas
comuns possuem
" (Kleba da
Silva, 1992, p. 40) . Este
também
foi o entendimento de Pinto, (1979)no
trabalhoem
que
aborda os problemas filosóficos da pesquisa científica, ao situar ,a prática assistencial aos
indivíduos, neste
mundo
dito científico, que manipula os seus conhecimentos, " (...) aoconsiderar o
homem
não
um
ser (no sentido aristotélico),um
animal dotado de atributosinvariáveis,
mas um'
existenteem
processo de fazer-se a simesmo
o que consegue peloenfrentamento das obstruções que o
meio
natural lheopõe
e pela vitória sobre elas, graças aodescobrimento das forças que o hostilizam e dos
modos
de empregarumas
para anular o efeitode outras, que o molestam, o destroem
ou
impedem
de realizar os seus propósitos " (Pinto, 1979, p. 427).Neste sentido, Vaitsman, (1992 ) sugere
que
as instituições se voltem àuma
assistênciamais plena ao individuo,
com
atenção às suas necessidadeshumanas
singulares, recriando a visãoda vida sobre novas bases."
Uma
concepção de saúde reducionista deveria recuperar osignificado
do
indivíduoem
sua singularidade e subjetividade,na
relaçãocom
os outros ecom
omundo.
Pensar a saúde hoje, passa então, por pensar o indivíduoem
sua organizaçãoda
vidacotidiana, tal
como
se expressanão
só atravésdo
trabalho,mas também
do
lazer -ou da
ausência, por exemplo, -
do
afeto, da sexualidade, das relaçõescom
omeio
ambiente"(Vaitsman, 1992, p. 171).
`
Compreendo
que as atitudesdos
gruposhumanos
relacionadoscom
a saúde,bem
como
suas visões de
mundo, na
tonalidade fortalecida pelos determinantes sócio-culturais. Rezende,(1988, p. 13)
também
elucida esta questão ao afirmar que: "(...) a opção poruma
forma
críticade educação para a saúde respalda-se
não
só na. inoperância dosmétodos
tradicionais.Mais que
isso, compromete-se
com uma
visão diferentedo
mundo
".Mazzafero, (1976) ao abordar a saúde
na
dimensão epidemiológica, levantaum
outro aspecto,que aponta para as questões da tecnificação da sociedade atual relacionadas as difusões de idéias,
através dos sistema de comunicação
em
massa.,como
um
processo determinado politicamente; fazum
paralelo entre este desenvolvimento tecnológico e a educação da população, e alertaque
a participação social poderá serencaminhada
segundo o arbítrio dos donos dos sistemas decomunicação. Pensa que a grande suscetibilidade da população e sua exposição ao risco, só
poderão ser encaminhadas a
uma
solução através da educação dos indivíduos, paraque
possam
viver e se proteger dentro de
uma
sociedade tecnológicacom
um
elevado nível decomunicação
em
massa, estruturadosem
'atitudes lúcidas e conscientes enão
com
mera
adesão aos valores estabelecidos.Ghiorzi, (1991)
em
seu trabalho centradoem uma
prática transformadorana
enfermagem
familiar, reflete que:"(...) pessoas e instituições que constituem
um
campo
específico e estruturado da prática de saúde,devem
saber o que fazer, paraquem
fazer ecomo
fazer.Não
basta portanto se estabelecer estratégias de intervenção
do
processo de saúde-doençado
homem
com
o objetivo de intervirno
seu processo de viver, induzindo-o a modificações comportamentaissem
que ele se percebacomo
sujeito e objeto da própria ação,sem
lhe facultar a reflexão de sipróprio e de suas necessidades reais
em
seu espaço real " (Ghiorzi, 1991, p. 138).Por
outro lado,Rezende,(1988, p. 12 ) refere que a concepção nesta linha educativa " tradicional, paternalista,
messiânica,
na
saúde, oculta a realidade e mistifica as causas e efeitos dos agravos ao organismo.Essa ocultação dificulta a
tomada
de consciência e de sua potencialidade, por parteda
18
Alguns estudos, nestes últimos anos,
tem
apresentado nova.s estratégias, abordagens e visõespara o desenvolvimento das práticas educativas
em
saúde,em
confrontocom
a educaçãoem
saúde nos moldes tradicionais.
Uma
grande parte dos autores destes trabalhos, aponta parauma
prática educativa
como
um
processo libertador, critico, criativo de transformação da realidade,participativo, de conscientização, de
aumento
e utilização das potencialidades individuais ecoletivas para reforçar as suas capacidades de enfrentamento. (Silva Pinto, 1983, Rezende, 1988, Ghiorzi, 1991,
Wendhausen,
1992, ¶Kleba da Silva,1992
e Gonzaga, 1992)Nesta perspectiva inovadora, o viver cotidiano dos indivíduos
tem
sido pautado,com
evidência,
como
ponto de partida nas ações educativas .Estepensamento
é elucidadona
visão deFreire, (1991, p.30) ao considerar que a reflexão
do
homem
face a realidade é fundamentalno
processo educativo: "(...)
quando
ohomem
compreende
sua realidadepode
levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar soluções. Assim,pode
transforma-la ecom
seutrabalho
pode
criarum
mundo
próprio: seu eu e suas circunstâncias ".Mais
especificamenteno
processo de saúde,Kleba
da Silva, (1992, p.38) acredita que "(...) aaprendizagem ocorre inserida
no
cotidianodo
indivíduo, atravésdo
exercícioem
que estepercebe aspectos da realidade, reflete sobre estes aspectos, a partir das concepções formuladas, e
utiliza tais reflexões para reforçar os seus conhecimentos
ou
reformular a suacompreensão da
realidade".
Nesta
abordagem
inovadora, Ghiorzi, (1991, p.139) pensa que educar significa"(...)instrumentalizar o
homem
a partir de sua vida cotidiana (sua linguagem seus hábitos,0
uso de seus objetos e valores) para o enfrentamento desse cotidianonuma
dimensão de unidade,onde
o todo e parte se dialetizam, significa lhe pemritir o desenvolvimento de suas consciência de nós
(ser social)
em
primazia da sua consciênciado
eu (egocentria) fortalecendo tanto o seu corpoTambém
dentro destanova
linha educativaem
saúde, Gonzaga, (1992)em
seu trabalho sobre reflexões' acercado
processo de trabalho de educaçãoem
saúde,numa
visãoalém do
cotidiano, propõe a " redescoberta
do
sujeito "no
processo educativo, caracterizadocomo
um
" encontro de sujeitos "em
um
relacionamento interpessoal entre profissionais e população,em
que:" se percebem, trocam e crescemcomo
sujeitos. Sepercebem
em
suas marcas pessoais, suas diversidades, suas histórias de vida, seu cotidiano". Esta autorachama
atenção paraum
aspecto importante, neste processo, que é a diversidade contextual edo
saber destes sujeitos aoafirmar
que: "(...) outro equívoco, contundente principalmente nas práticas educativas diz respeito à
forma
de se encarar a relação entre saber popular e saber científico.Uma
visão já bastantecriticada, é a que considera que os grupos
ou
acomunidade
sempre estãocom
a razão,porque
manifestam o saber popular e, sendo assim o profissional
pode
fazer partedo
grupocomo
"igual"sem
conflitos, pela simples assimilação de objetivos " (Gonzaga, 1992, p. 106).Nesta reflexão sobre a integração dos saberes científico e popular,
também
temos
acontribuição de Brandão, (1984) que se refere ao conhecimento popular,
como
a "ciênciado
homem comum
" e reflete:"(...) ela é o conhecimento prático, empírico, que ao longo dos
séculos
tem
possibilitado, enquanto meios naturais diretos, que as pessoas sobrevivam, criem, interpretem,produzam
e trabalhem ".Ao
pensarna
presença dos profissionais, nesta relação,este autor considera que*(...) de fato, nas lutas populares
há
sempreum
espaço para os intelectuais, técnicos e cientistascomo
tais,sem
que seja preciso que se disfarcemcomo
camponeses
ou
operários de origem.Tem
apenas que demonstrar, honestamente seucompromisso
com
a causa popular perseguida pormeio
da constituição específica de sua própriadisciplina,
sem
negar completamente essa disciplina " (Brandão, 1984, p. 47-49). 'Em
sua análise, Rezende, (1988) enfatiza o carácterdominador
dos profissionaisda
saúde,na
sua postura paternalista "(...) querno
angelicanismo messiânico de 'ajudar os pobres '
20
popular
como
'inferior ', quer sentindo e agindo
como
detentor deum
saber técnico inacessívelàs classes exploradas,
o
profissional de saúdemantém
uma
relação dedominação
com
sua clientela "; por entender quenão há
relação de superioridade e inferioridadeem
qualquer tipode conhecimento, " a diferença está
em
que o educador de saúde ,e população trilhamcaminhos
diversos
na
produçãodo
saber.O
caráter patemalista e autoritáriodo
tradicional educadorem
saúde,
na
maioria das vezes,não
éuma
atitude conscientedo
educador,ou
seja, elenão
atingiu apassagem da
consciência ingenua à consciência crítica " (Rezende, 1988, p. 12) . Freire, (1991)aborda esta questão, refletindo sobre a intencionalidade dos profissionais nesta relação e o
envolvimento
do compromisso na
correlação destes saberes, aoafirmar
que: "(...) quase sempre,técnicos de
boa
vontade,embora
ingênuos, deixam-se levar pela tentação tecnicista (mistificaçãoI!
da técnica) e,
em
nome
do
quechamam
denão
perder tempo", tentam verticalmente substituiros procedimentos empíricos
do
povo
(camponeses por exemplo) por sua técnica. (___) aodesconhecer que tanto sua técnica
como
os procedimentos empíricos doscamponeses
sãomanifestações culturais e, deste ponto de vista,
ambos
válidos, cada qualem
sua medida, e que,por isso,
não
podem
ser mecanicamente substituídos, enganam-se e jánão
podem
comprometer-
se " (Freire, 1991, p.23) .
Ao
refletir à respeitodo pensamento
destes autoresem
suas diferentes abordagens, sinto reforçada aminha
compreensão de que o processo educativo é, por exelência, criativo e artesanaldentro da dimensão global da realidade
do
serhumano,
que ora interpreta oque
desvela, oracompreende
as relações, ora toma-se capaz de ultrapassar as barreiras da percepção natural, orafortalece suas potencialidades e descobre recursos, utilizando a si próprio e buscando
também
nosoutros, e
no
mundo
os alicerces que constroem a sua arte de viver.O
processo educativo desenvolvidonuma
modalidade grupal , parece favorecero
fortalecimento das potencialidades individuais e
também
grupais,bem
como
a descoberta deA
dinâmica dos trabalhos desenvolvidosem
grupos, por enfermeiros,têm
sido alvo deestudos, principalmente
na
área deEnfermagem
Psiquiátrica, focalizada,na
maioria das vezes,como
um
processo terapêutico. Trabalhosde
educaçãoem
saúdecom
grupos de clientes portadores de doenças crônicasvêm
se multiplicando dia a dia nas comunidades e instituições,porém,
poucos
destes trabalhos relatam a sua experiênciaemtermos
de dinâmica grupal,ou
seja,a gênese, o desenvolvimento
ou
evolução destes gruposno
seu processo dinâmico. ParaBrammer
(1982
) os encontrosem
grupo inserem os indivíduosem
meio
â verdadeiras relaçõesinterpessoais. Burgess ( 1985 )pensa que os grupos
assumem
um
importante papelna
organização estrutural da sociedade e
tem
como
objetivo principal capacitar o individuo e desenvolver o seu poder de controle sobre a sua própria vida,promover
0 seu crescimento emudanças
sociais significativas. Lancaster (1982
) acredita que todas as pessoas são seres sociaisque
procuram
seus lugaresno
grupo; que 0 desenvolvimentohumano
é influenciado pelainteração
com
indivíduos e grupos ,diferentes eque
nestas interações pessoais elesmodificam
os seus comportamentos. Acreditatambém
queum
grupo deva ter alguns conceitoscomuns
como:
a interação social ,normasou
regras de funcionamento e algumas noções sobre significadosda
comunicação.Alguns grupos formais são originados a partir de grupos espontâneos já existentes, cujos
membros
têm
certas caracteristicascomuns
( laço de amizade, idade, origem étnica, políticaou
religiosa ); outros grupos se
formam
espontaneamente pelo interessecomum
de seusparticipantes.
Taylor ( 1992, p.