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«Na dor ou na alegria»: Bernardino José de Sousa e a convergência luso-brasileira em tempo de Estados Novos de Salazar e Vargas

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A Geografia no

alvorecer da República

contribuições à história da ciência geográfica no Brasil

(2)

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

Reitor

João Carlos Salles Pires da Silva Vice-reitor

Paulo Cesar Miguez de Oliveira Assessor do Reitor

Paulo Costa Lima

EDITORA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA Diretora

Flávia Goulart Mota Garcia Rosa Conselho Editorial

Alberto Brum Novaes Angelo Szaniecki Perret Serpa

Caiuby Alves da Costa Charbel Niño El Hani Cleise Furtado Mendes Evelina de Carvalho Sá Hoisel José Teixeira Cavalcante Filho Maria do Carmo Soares de Freitas Maria Vidal de Negreiros Camargo

(3)

André Nunes de Sousa

Caroline Bulhões Nunes Vaz

organizadores Salvador EDUFBA 2019

A Geografia no

alvorecer da República

contribuições à história da ciência geográfica no Brasil

(4)

2019, autores.

Direitos dessa edição cedidos à Edufba. Feito o Depósito Legal.

Grafia atualizada conforme o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, em vigor no Brasil desde 2009.

Capa e Projeto Gráfico

Rodrigo Oyarzábal Schlabitz

Revisão

Mariana Rios Amaral de Oliveira

Normalização

Sandra Batista

Sistema de Bibliotecas – UFBA

Editora filiada a

EDUFBA

Rua Barão de Jeremoabo, s/n, Campus de Ondina, 40170-115, Salvador-BA, Brasil

Tel: (71) 3283-6164 www.edufba.ufba.br | edufba@ufba.br Elaborada por Geovana Soares Lira CRB-5: BA-001975/O

G313

A Geografia no alvorecer da República: contribuições à história da ciência geográfica no Brasil / André Nunes de Sousa, Caroline Bulhões Nunes Vaz, organizadores. Salvador: EDUFBA, 2019.

346 p.

ISBN 978-85-232-1928-4

1. Geografia histórica - Brasil. 2. Geografia urbana - Bahia. 3. Geografia – estudo e ensino 4. Geógrafos – Brasil I. Sousa, André Nunes de (org.) II. Vaz, Caroline Bulhões Nunes. (org.)

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A Geografia, vós sabeis, é uma ciência essencialmente cosmopolita.

(Francisco Homem de Mello, Discurso de encerramento 5º Congresso Brasileiro de Geografia, 1916).

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SUMÁRIO

11 PREFÁCIO

Pedro de Almeida Vasconcelos

17 APRESENTAÇÃO

André Nunes de Sousa e Caroline Bulhões Nunes Vaz

PARTE 1

A GEOGRAFIA QUE SE FEZ NOS CONGRESSOS E

SOCIEDADES CIENTÍFICAS

23 MEIO SÉCULO DE CONGRESSOS BRASILEIROS DE GEOGRAFIA:

IMPRESSÕES DE UMA RELEITURA

Luciene Pereira Carris Cardoso

53 BERNARDINO DE SOUZA E O DESENVOLVIMENTO DA GEOGRAFIA NO BRASIL:

PASSAGENS DO 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA

André Nunes de Sousa

75 ENTRE O SERTÃO E A NAÇÃO: MEMÓRIAS DE THEODORO SAMPAIO NO

5º CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA

Caroline Bulhões Nunes Vaz

93 A GEOGRAFIA DAS CIDADES EM BERNARDINO JOSÉ DE SOUZA:

INFLUÊNCIA ALEMÃ E CONHECIMENTO LOCAL NAS MONOGRAFIAS DESCRITIVAS DO ESTADO DA BAHIA

Wendel Henrique Baumgartner

113 THEODORO SAMPAIO E A PRIMEIRA BASE GEODÉSICA DO BRASIL

Ademir dos Santos e Rosa Carlos

127 MODERNIDADE E REPRODUTIBILIDADE TÉCNICA NAS FOTOGRAFIAS

DO 5º CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA

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PARTE II

LEITURAS DE CONTRIBUIÇÕES À FORMAÇÃO DA

GEOGRAFIA NO BRASIL

143 PARA ENTENDER AS CRÍTICAS DE UMA GERAÇÃO: O ENSINO DA

GEOGRAFIA ENTRE A EUROPA E O BRASIL NO SÉCULO XIX

André Nunes de Sousa, Marcus Henrique Oliveira de Jesus e Mariana Loyola Santos

169 OS ESTUDOS DE CLIMATOLOGIA NA BAHIA NA TRANSIÇÃO ENTRE

OS SÉCULOS XIX E XX (1862-1934)

Mirna Brito da Costa

197 CONTRIBUIÇÕES DO BARÃO HOMEM DE MELLO AO MAPEAMENTO

GEOMORFOLÓGICO DO BRASIL

André Nunes de Sousa, Caroline Bulhões Nunes Vaz e Kauana Hervan de Oliveira

219 “NA DOR OU NA ALEGRIA”: BERNARDINO JOSÉ DE SOUSA E A CONVERGÊNCIA

LUSO-BRASILEIRA EM TEMPO DE ESTADOS NOVOS DE SALAZAR E VARGAS

Francisco Roque de Oliveira e Daniel Paiva

253 CICLO DO CARRO DE BOIS NO BRASIL: UM CLÁSSICO FEITO DE PESQUISA E

REMINISCÊNCIAS EM MEIO À CRISE DA NARRATIVA NA MODERNIDADE

André Nunes de Sousa, Caroline Bulhões Nunes Vaz e Lívia Rita Castro dos Santos

PARTE III

PARA PENSAR A HISTÓRIA DA GEOGRAFIA NO BRASIL:

CONTRIBUIÇÕES DE BERNARDINO DE SOUZA E THEODORO

SAMPAIO

273 BERNARDINO JOSÉ DE SOUZA E O ENSINO DA GEOGRAFIA CIENTÍFICA

NO BRASIL: NOTAS SOBRE UM PIONEIRO

Sergio Nunes Pereira

283 A REMODELAÇÃO DO ENSINO DE GEOGRAPHIA É UMA NECESSIDADE

INADIAVEL, TENDO COMO BASE A CREAÇÃO DE UMA CADEIRA DE GEOGRAPHIA PHYSICA

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301 A SCIENCIA GEOGRAPHICA. SEU CONCEITO E SUAS DIVISÕES.

SERIAÇÃO LOGICA DOS ESTUDOS GEOGRAPHICOS

Bernardino José de Souza

313 THEODORO SAMPAIO E A INTEGRAÇÃO DA BAHIA NA CONJUNTURA

POLÍTICO-ECONÔMICA DO BRASIL DA PRIMEIRA REPÚBLICA

André Nunes de Sousa e Caroline Bulhões Nunes Vaz

319 A PLANTA GERAL DA CIDADE DO SALVADOR DA BAHIA DE TODOS OS SANTOS

Theodoro Fernandes Sampaio

325 A CARTA HYDROGRAPHICA DA BAHIA DE TODOS OS SANTOS E

DE SEUS ARREDORES

Theodoro Fernandes Sampaio

339 INDICAÇÕES PARA UM PROJECTO DE ORGANISAÇÃO DA

CARTA GEOGRAPHICA DO ESTADO DA BAHIA

Theodoro Fernandes Sampaio

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219

“NA DOR OU NA ALEGRIA”: BERNARDINO JOSÉ DE SOUSA

E A CONVERGÊNCIA LUSO-BRASILEIRA EM TEMPO DE

ESTADOS NOVOS DE SALAZAR E VARGAS

1

Francisco Roque de Oliveira Daniel Paiva

Bernardino José de Sousa2 (1884-1949) viu publicado fora do Brasil um único

título da sua diversificada obra de geógrafo, historiador e etnólogo de temas bra-sileiros. Referimo-nos à biografia de Luís Barbalho Bezerra (Olinda, c. 1600-Rio de Janeiro, 1644), que redigiu por encomenda da Agência Geral das Colónias na cir-cunstância da aparatosa celebração do designado “duplo Centenário da Fundação e Restauração de Portugal”, em 1940. Trata-se de um pequeno opúsculo de cerca de 60 páginas, cuja publicação foi aprovada a 13 de maio de 1939 pelo ministro das Colónias do Governo de Lisboa, Francisco Vieira Machado (Figura 1). (SOUSA, 1940) A obra surgiu integrada numa extensa lista de publicações de cariz histó-rico promovidas nessa ocasião pela Agência Geral das Colónias e para as quais contribuíram diversos intelectuais e académicos brasileiros alinhados por uma historiografia que lograva combinar um forte pendor nacionalista com a reivin-dicação do legado colonial português. (LEHMKUHL, 2010)

Tal como sucede com esta obra que Bernardino de Sousa dedicou a Luís Barbalho, destacado militar luso-brasileiro das campanhas contra o domínio holandês do Brasil na primeira metade do século XVII, é sabido que um conjunto relevante

1 Investigação realizada no âmbito do projecto “Saberes geográficos e Geografia institucional: influência e relações recíprocas entre Portugal e o Brasil no século XX”. (FCT/CAPES 8513/14-7 – 2016-2019) 2 Na edição publicada em Portugal, pela Agência Geral das Colónias, em 1940, o nome do autor so-freu uma alteração no seu último nome, que foi grafado, em vez de “Souza”, como “Sousa”. Devido à nacionalidade portuguesa dos autores deste texto em especial, optou-se pelo uso deste último.

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de trabalhos coevos assinados por alguns dos seus pares do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) ou da Academia Brasileira de Letras, como Hélio Viana, Gustavo Barroso e Afrânio Peixoto, deu corpo a um discurso apostado em criar uma “matriz nacional unívoca para o Brasil e Portugal” (SERRANO, 2012, p. 215), simultaneamente subscrito pelo Estado Novo de Getúlio Vargas e pelo regime homónimo de António de Oliveira Salazar.

Figura 1 – Luiz Barbalho por Bernardino José de Sousa

Exemplar da Biblioteca Nacional de Portugal (Lisboa). Fonte: Sousa (1940).

O deflagrar da Segunda Guerra Mundial reforçou uma convergência pragmá-tica entre as respectivas diplomacias que vinha fazendo o seu caminho desde que Getúlio Vargas assumira a presidência do Brasil em 1930 e à qual estes intelectuais emprestariam um poderoso conteúdo simbólico. (CERVO; MAGALHÃES, 2000; LEHMKUHL, 2010) O Luís Barbalho Bezerra que Bernardino José de Sousa descre-ve como personagem de primeira plana “na campanha pela integridade do impé-rio luso dêste lado do Atlântico” traz, assim, consigo a marca dessa circunstância

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muito particular e que logo se depreende pelo tom das palavras que escreveu a fechar o seu escrito: “Desvaneço-me de contribuír como brasileiro, com êste mo-desto opúsculo, para a ressurreição de um vulto que viveu brilhantemente na gloriosa época dos acontecimentos que, três séculos depois, comemoram duas Pátrias irmãs”. (SOUSA, 1940, p. 49) Trataremos aqui de sumariar o contexto sub-jacente à preparação e publicação deste livro, de modo a situá-lo no âmbito de um projecto cultural e político-diplomático mais vasto articulado entre Portugal e o Brasil, o qual, em última análise, permite perceber Luiz Barbalho (1601-1644), de Bernardino de Sousa, como uma peça até certo ponto heteróclita no conjunto da obra do seu autor.

O CICLO DA RESTAURAÇÃO

Ao tempo em que se abalançou à escrita de Luiz Barbalho, Bernardino José de Sousa acabara de ser nomeado ministro do Tribunal de Contas da União, insti-tuição à qual irá presidir entre 1946 e 1947, coroando uma longa carreira política e de serviço público, iniciada em 1905 como deputado estadual da Bahia e con-tinuada como docente da Faculdade de Direito da Bahia, secretário do Governo do Estado da Bahia e membro da Câmara de Reajustamento Económico, no Rio de Janeiro, para citarmos apenas algumas das suas etapas mais relevantes. Mas será do seu magistério como professor de Geografia e História em diversos esta-belecimentos de ensino da Bahia, com destaque para o Colégio Carneiro Ribeiro e o Ginásio da Bahia, tal como da acção que empreendeu no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) e em instituições congéneres, como a Academia de Letras da Bahia e o Instituto Histórico de Ouro Preto, que assomará o seu princi-pal legado de geógrafo e historiador centrado no tratamento de temáticas nacio-nais e regionacio-nais. Dão disso conta estudos como Limites do Brasil (1911), Barão do Rio Branco (1912), Corografia do estado do Piauí (1913), “A sciencia geographica. Seu conceito e suas divisões. Seriação logica dos estudos geographicos” (1913), Por mares e terras (leituras geográficas) (1913) e, sobretudo, Nomenclatura geo-gráfica pelicular ao Brasil (1910), tese apresentada ao I Congresso Brasileiro de Geografia (Rio de Janeiro, 1909) e obra sucessivamente ampliada e rebaptizada como Onomástica geral da Geografia brasileira (1927) e Dicionário da terra e da gente do Brasil (1939), título definitivo encontrado para a quarta edição deste “sabio dicionario de brasileirismos geograficos” por sugestão de Afrânio Peixoto. (PEIXOTO, 1939, p. XI; PINHO, 1958; SOUSA, 2017)

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Neste último ano, Bernardino José de Sousa vira também publicado “O pau--brasil na história nacional”, trabalho que fora preparado para o III Congresso de História Nacional (Rio de Janeiro, 1938) por encargo do IHGB. O momento da publicação de Luiz Barbalho coincide ainda com a realização, em Florianópolis, do IX Congresso Brasileiro de Geografia, que Bernardino de Sousa superintendeu na qualidade de presidente da Comissão Organizadora Central. (CARDOSO, 2017, p. 8-9) Uma vez concluída a empreitada de edição das actas deste congresso, será a vez de se empenhar por inteiro na redacção do Ciclo do carro de bois no Brasil, que a Companhia Editora Nacional publicará postumamente, em São Paulo, em 1958. Obra relevante para a história das técnicas, na qual Bernardino de Sousa ambicionou fixar o carro de bois “no cenário do trabalho brasileiro desde os pri-meiros dias” (SOUSA, 1958, p. 31) e que se tem pretendido ler como uma sorte de equivalente brasileiro de L’homme et la charrue à travers le monde, de André--Georges Haudricourt e Marie Jean-Brunhes Delamarre (1955), surgiu prefaciada por Péricles Madureira de Pinho, antigo ministro da Educação de Getúlio Vargas. (OLIVEIRA, 2013; PINHO, 1958; SOUSA, 2017)

Em data próxima à encomenda recebida da Agência Geral das Colónias para a redacção de um texto dedicado a Luís Barbalho, Bernardino José de Sousa fizera dar à estampa, pela Livraria José Olímpio Editora do Rio de Janeiro, um título de carácter biográfico de ressonância próxima daquela que constituiria a matéria central do seu livro de Lisboa: Heroínas baianas: Joana Angélica, Maria Quitéria e Anna Nery (1936). Em todo o caso, Luiz Barbalho explica-se, em primeiro lugar, pela ideia que preside à colecção em que se insere – ou seja, pelo conceito que a Agência Geral das Colónias tem a respeito do seu próprio plano editorial, o qual decorre das orientações do governo a que obedece. (PORTUGAL, 1942) Como se disse, este livro forma parte do programa concebido por ocasião das Comemorações Centenárias – 1140, fundação da nacionalidade, e 1640, a restauração da indepen-dência perdida sob domínio castelhano –, momento que correspondeu à afirmação do Estado Novo instituído com a entrada em vigor da Constituição Corporativa de 1933, tradução prática da estabilização da liderança salazarista da ditadura portuguesa instaurada em 1926.

O marco principal dessas comemorações foi a Exposição do Mundo Português, inaugurada em junho de 1940 nos amplos espaços envolventes do Mosteiro dos Jerónimos, em Lisboa. Tratou-se de um evento propagandístico destinado a legi-timar interna e externamente o regime em torno de uma lógica de vincado pen-dor nacionalista e colonialista. Tal como o discurso arrebatado dos organizapen-dores lia o próprio ano de 1940, na Grande Exposição Histórica do Mundo Português,

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sobressaía-se uma razão épica apostada em alinhar “o ano do nascimento, o ano do renascimento e o ano apoteótico do ressurgimento”, acertando-se assim o tem-po do Estado Novo tem-por aqueles duas datas simbólicas da História de Portugal. (ACCIAIUOLI, 1998, p. 107; Ó, 1999; VARELA, 2008) Chamada a emprestar o seu contributo a estas festividades, a Agência Geral das Colónias – instituição à qual cabia um papel central na edificação de um ideário colonial e na divulgação de um conceito de “império” alinhado pela retórica política do momento – gizou um programa de publicações que veio a representar o seu período áureo nesse campo. (CASTELO, 1998; GARCIA, 2011, 2016)

O livro de Bernardino de Sousa incluído no catálogo bibliográfico preparado pela Agência Geral das Colónias no âmbito das Comemorações Centenárias inte-gra-se no chamado Ciclo da Restauração, correspondente à segunda das principais quatro linhas temáticas de uma colecção dita, precisamente, Ciclo dos Centenários. Trata-se de uma colecção de textos acessíveis, publicada em pequeno formato (15 x 20 cm) e, por isso, concebida para o grande público. Na ideia de Júlio Cayolla (1941, p. [3]), agente-geral das Colónias e principal rosto desta iniciativa editorial, pretendia-se “agrupar valores e trazer a fácil consulta dos interessados por cou-sas da nossa história marítima, das descobertas, da restauração, da ocupação, da propagação da Fé e de outros aspectos da nossa acção civilizadora, os livros raros e mais próprios, bastantes deles inéditos”.

Este intróito de Júlio Cayolla (1941) transcreve de forma quase literal as desig-nações de cada uma das mencionadas linhas temáticas da colecção:

1) Ciclo das Navegações e Descobrimentos: preenchido com roteiros, mate-riais cartográficos e diversos títulos associados a matérias náuticas, em cuja preparação se destacou o comandante Abel Fontoura da Costa, antigo di-rector da Escola Náutica e da Escola Naval (BIEDERMANN, 2012);

2) Ciclo da Restauração: integrando um conjunto de títulos representativos da segunda das datas evocadas nas celebrações de 1940, com destaque para os que se reportavam a episódios e figuras associadas ao Brasil e a Angola; 3) Ciclo da Ocupação: reuniu livros como A engenharia portuguesa na

mo-derna obra da colonização, do engenheiro militar João Alexandre Lopes Galvão, e Angola: apontamentos sobre a colonização dos planaltos e litoral sul de Angola, obra póstuma de Alfredo de Albuquerque Felner, antigo go-vernador das províncias angolanas de Moçâmedes (Namibe) e da Huíla e decano dos estudos históricos sobre Angola;

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4) Ciclo da Propagação da Fé: com duas obras sobre a história das missões por-tuguesas na Ásia – O beato João de Brito, de Frederico Gavazzo Perry Vidal, e O padroado português do Oriente, de António da Silva Rego –, lado a lado com dois títulos sobre temática brasileira: D. Marcos Teixeira, quinto bispo do Brasil, por Wanderley Pinho, historiador e político baiano que foi figura destacada do IGHB e do IHGB, e Luiz Figueira, a sua vida heróica e a sua obra literária, por Serafim Leite.

Jesuíta português longos anos residente no Brasil, Serafim Leite era membro da Academia Brasileira de Letras e da Academia Portuguesa da História, institui-ção que recuperava a designainstitui-ção da efémera Academia Real da História criada por D. João V em 1720 e que fora “refundada” pelo Estado Novo salazarista em 1936 com o propósito explicitado estatutariamente de “estimular e coordenar os esforços tendentes à investigação, revisão e rectificação da história nacional, no sentido superior da contribüição portuguesa para o progresso da civilização, bem como enriquecer a documentação dos inauferíveis direitos de Portugal”. (GARCIA, 2011; Ó, 1999; PORTUGAL, 1937, 1936; TORGAL, 1996a, 1996b) Sob a designação genérica “Vária”, a colecção Ciclo dos Centenários da Agência Geral das Colónias incluía ainda diversos livros alusivos a figuras de antigos combaten-tes no Golfo Pérsico, Benguela e na Índia, como Rui Freire de Andrade, Manuel Cerveira Pereira e Nuno Álvares Botelho. Incluíram-se também aqui dois livros alheios à estrita resenha histórica. O primeiro era A senhora de Pangim, romance histórico composto por Gustavo Barroso sobre a figura da mulher-soldado Maria Úrsula de Abreu e Lencastre. Conforme a apresentação do catálogo anotado da própria Agência Geral das Colónias, estava-se perante a “homenagem de um bra-sileiro ao génio da nossa raça, que tanto se manifestou nos filhos do Reino como nos portugueses nascidos além-mar, nas terras do Império”. (PORTUGAL, 1941, p. [49]) Além de ideólogo destacado da Ação Integralista Brasileira e membro da Academia Brasileira de Letras, Gustavo Barroso foi um dos representantes oficiais do Brasil na Exposição dos Centenários.

Quanto ao segundo livro, aparentemente deslocado do conjunto, mas ainda assim integrado na colecção, tratava-se da Mensagem, de Fernando Pessoa, colec-tânea poética premiada em 1934 pelo Secretariado de Propaganda Nacional de Portugal (SPN) – organismo estabelecido por Salazar no ano anterior e ao qual cabia conceber e difundir dento e fora de portas a propaganda do regime (ACCIAIUOLI, 2013; Ó, 1999; PAULO, 1994) – e que a Agência recuperava em atenção a um tom profético que constituiria aviso “duma grande realização colectiva, dum grande

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acto de criação nacional, que esperam a Hora da sua eclosão, nos domínios obs-curos do Tempo”. (PORTUGAL, 1941, p. [51])

Vendo em pormenor os conteúdos que compõem o Ciclo da Restauração, per-cebe-se que Luiz Barbalho, de Bernardino José de Sousa, também fazia parte de um tríptico coerente no contexto mais geral que evocava as lutas da restauração da independência portuguesa e da recuperação do controlo de praças e territórios coloniais no Atlântico e no Índico, com destaque para aqueles que haviam sido perdidos para os holandeses no Brasil e em Angola. De facto, além da biografia assinada por Bernardino de Sousa, encontramos aí Henrique Dias, herói da restau-ração de Pernambuco, de Frazão de Vasconcelos, e Francisco Barreto, restaurador de Pernambuco, de Pedro Calmon.

Enquanto o historiador português Frazão de Vasconcelos – que mais tarde haveria de ingressar na Academia Portuguesa da História – se apresentava nesta altura como membro do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnologia e do Collegio Araldico de Roma, Pedro Calmon havia sido nomeado por portaria do governo português, de 30 de dezembro de 1937, membro titular da Academia Portuguesa da História, ocupando, desse modo, uma das dez cadeiras expressamente reservadas a académicos brasileiros nessa instituição. Junto com Pedro Calmon, a mesma portaria assinada pelo ministro da Educação Nacional de Salazar, António Carneiro Pacheco, indicava os nomes do conde Afonso Celso, Afonso d’Escragnolle Taunay, Artur de Guimarães de Araújo Jorge – embaixador do Brasil em Lisboa entre 1936 e 1943 –, Oliveira Viana, Gustavo Barroso, Afrânio Peixoto, Peregrino da Silva, Max Fleiuss e Rodolfo Garcia. (MENDONÇA, 2011; TORGAL, 1996b)

As restantes contribuições dos académicos brasileiros para o Ciclo da Restauração confirmam boa parte deste estreito círculo de afinidades simultaneamente inte-lectuais e ideológicas com o “velho Portugal” que vimos vendo desenhadas na transição da década de 1930 para a de 1940. O mote é dado pelos capítulos consa-grados ao Brasil político-militar e ao Brasil social que Pedro Calmon e Hélio Viana, respectivamente, assinam em A restauração e o Império colonial português, livro com cerca de 550 páginas que a Agência Geral das Colónias publica e justifica em função da mesma circunstância de pertencer à Secção de Propaganda e Recepção da Comissão Executiva dos Centenários. (GARCIA, 2011; PORTUGAL, 1941) A introdução desta obra esteve a cargo do publicista Manuel Maria Múrias Júnior, director da revista Nação Portuguesa, órgão do Integralismo Lusitano, e director do Diário da Manhã, órgão oficial e de doutrinação da União Nacional, único partido político legalizado do Estado Novo. Manuel Múrias era ainda director do Arquivo Histórico Colonial, além de censor do Conselho da Academia Portuguesa

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da História e secretário-geral da Comissão Organizadora do Congresso do Mundo Português, programado no âmbito das comemorações de 1940.

Duas outras biografias da mesma colecção remetidas do Brasil aproximavam-se pelo quadro geográfico tratado: Pero Coelho de Sousa, de Gustavo Barroso, e Martim Soares Moreno, fundador do Seará, iniciador do Maranhão e do Pará, herói da res-tauração do Brasil contra franceses e holandeses, de Afrânio Peixoto. Este médico e historiador brasileiro não apenas coincidia com Gustavo Barroso na Academia Brasileira de Letras, como fora doutorado honoris causa pela Universidade de Coimbra em 1937 (TORGAL, 1996c, 1999, 2013), precisamente o ano em que ambos ingressaram na Academia Portuguesa da História.

Regista-se ainda a inclusão neste mesmo catálogo de Salvador Correia de Sá e Benavides: vida e feitos, principalmente no Brasil, do médico e bibliófilo Clado Ribeiro de Lessa, que pertenceu ao IHGB e se distinguiu como estudioso da vida e obra de Francisco Adolfo de Varnhagen. Ao mesmo tempo, o contra-al-mirante português Alfredo Botelho de Sousa, antigo professor da Escola Naval e da Escola Militar e que era então chefe do Estado-maior Naval (GONÇALVES, 2012), resumia, em O período da restauração nos mares da metrópole, no Brasil e em Angola, alguns dos conteúdos dos seus Subsídios para a história das guerras da restauração, no mar e no além-mar, publicados em simultâneo pela Agência Geral das Colónias, em dois volumes. O Brasil está ainda representado no Ciclo da Restauração da Agência Geral das Colónias pelos quatro volumes de Padre António Vieira, correspondentes à selecção dos sermões do celebérrimo jesuíta preparada e anotada por Hernâni Cidade, professor da Universidade de Lisboa que dirigiu, em conjunto com Manuel Múrias e António Baião, director do Arquivo da Torre do Tombo, a História da expansão portuguesa no mundo, publicada em três volumes entre 1937 e 1940. Afrânio Peixoto e Pedro Calmon contaram-se entre os historiadores brasileiros que também contribuíram para esta obra, que representou um dos mais significativos empreendimentos colectivos dedicados à historiografia dos descobrimentos e do império português publicados durante o Estado Novo. (TORGAL, 1996c)

O ENREDO DA “POLÍTICA DO ATLÂNTICO”

A cumplicidade entre o Brasil de Getúlio Vargas e o Portugal de Salazar explica, em boa medida, o aparente paradoxo de o Brasil ter ocupado um lugar de relativo destaque no quadro das comemorações de 1940 em que o Estado Novo português orquestrou a exibição do seu poder através de uma exposição histórica alinhada

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com uma ideia muito singular – e, no essencial, já anacrónica – “da fundação e da existência nacionais, da função universal, cristã e evangelizadora, da Raça, da glória marítima e colonial, do Império”, como declarou Augusto de Castro, comissário--geral da exposição, no seu discurso inaugural do acontecimento. (CASTRO, 1940, p. 12; VARELA, 2008) O Brasil foi o único país estrangeiro convidado a participar na Exposição do Mundo Português, na qual ergueu um pavilhão que resultou de um estreito trabalho de equipa, tendo o exterior sido desenhado pelo arqui-tecto português Raul Lino, enquanto os interiores foram concebidos no Rio de Janeiro pelo arquitecto paulista Roberto Lacombe (Figura 2). (ACCIAIUOLI, 1998; COSTA, 2012; COMISSÃO BRASILEIRA DOS CENTENÁRIOS DE PORTUGAL, 1940; LEHMKUHL, 2010)

Figura 2 – Entrada do Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português (Lisboa, 1940)

Fonte: fotografia de Casimiro dos Santos Vinagre (Biblioteca de Arte, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa). Arquitecto responsável: Raul Lino.

Por detrás da cenografia de estuque, madeira e gesso desse efémero pavilhão marcado pelas linhas monumentais de uma vistosa colunata que sugeria troncos de palmeiras e pelo globo estrelado que rematava o seu cimo, fixava-se um acerto de propósitos mais ou menos explícitos e, em todo o caso, indissociáveis da situa-ção internacional do momento. Enquanto o Brasil tratava de projectar na Europa, através de Lisboa, uma ideia de progresso caucionada pela figura omnipresente

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do seu ditador e alinhada pelos princípios gerais de política externa gizados em 1935 no “Programa moderno e prático de propaganda do Brasil no estrangeiro” do ministro da Educação e Saúde Pública Gustavo Capanema (GUIMARÃES, 2009; BLOTTA; GUIMARÃES, 2010), Lisboa experimentava mais um passo de uma es-tratégia diplomática que, a curto prazo, a levaria a formular o conceito de uma “zona de paz latina e cristã”, envolvendo as duas ditaduras ibéricas, a França de Pétain e os países da América Latina, começando pelo Brasil.

Neste caso, tratava-se de antecipar a afirmação de uma voz própria no contexto do pós-guerra, capaz de compensar a projecção das “fronteiras estratégicas” dos Estados Unidos da América na Bacia do Atlântico e na Europa, que decorriam do abandono em curso do seu tradicional isolacionismo. Em simultâneo, a política externa portuguesa resguardava-se do incentivo norte-americano aos princípios do anticolonialismo, que eram genéticos à Doutrina Monroe e que acabarão por aparecer implícitados no famoso ponto 3 da Carta do Atlântico (1941) – na qual Roosevelt e Churchill afirmaram a faculdade dos povos escolherem a sua forma de governo e verem restaurados “os direitos soberanos e o autogoverno. Por último, Portugal antecipava também a articulação entre as grandes potências democráticas e a Rússia de Estaline, que previa estar na forja. (ALEXANDRE, 2017; AMARAL, 2010; GUIMARÃES, 2007; OLIVEIRA, 2010, 2015; ROSAS, 1994)

Em detrimento do facto da entrada do Brasil e de outras repúblicas latino-ame-ricanas na guerra ao lado dos Aliados, por um lado, e do domínio alemão sobre o território da França de Vichy, em 1942, por outro, terem ditado o fim deste projecto de “bloco latino” arquitectado por Salazar (CERVO; BUENO, 2002; PEREIRA, 2012; ROSAS, 1994), os anos que se seguiram comprovaram que o regime português en-controu um amparo fundamental no Brasil, em particular no respeitante à manu-tenção dos seus interesses coloniais. Por via disso, Portugal ganhou espaço para aprofundar uma marginalização deliberada face às grandes questões europeias, o que constituía uma das premissas da política externa do Estado Novo desde a Guerra Civil de Espanha. (ROSAS, 1994) Ainda que difícil de avaliar com rigor, em qualquer caso parece indiscutível que não foi de somenos importância o con-tributo que os influentes sectores lusófilos do Brasil emprestaram a esta estratégia atlantista, actuado como mediadores dos seus interesses junto do Itamaraty, estra-tégia essa que veio a culminar na celebração do Tratado de Amizade e Consulta (1953), que consagrou a criação da Comunidade Luso-Brasileira numa altura em que Getúlio Vargas havia regressado à presidência. (CARVALHO, 2009; CERVO; MAGALHÃES, 2000; GOMES, 1953; GONÇALVES, 2003; MAGALHÃES, 1997; MARTÍNEZ, 2015; PAULO, 2000; PEREIRA, 2017)

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Vargas nomeou uma Embaixada Especial às festividades de Lisboa de 1940 conduzida pelo general Francisco José Pinto, chefe do gabinete militar da pre-sidência, e composta pelos diplomatas Caio de Melo Franco, Edmundo da Luz Pinto e Olegário Mariano, entre outros nomes, como Gustavo Barroso, como vi-mos. (GUIMARÃES, 2007; VARGAS, 2015) Na sessão solene que abriu o programa das celebrações, realizada na Assembleia Nacional, o ministro plenipotenciário Edmundo da Luz Pinto discursou em nome da delegação brasileira, tendo então justificado a respectiva participação no acontecimento evocando “a nossa ascen-dência lusitana como um farol de heroismo, valor, lealdade e fé, compromisso im-perativo que temos com a Humanidade de continuar a grandeza dos vossos feitos!”. Coerente com essa mesma interpretação e integralmente transcrito pelo ves-pertino carioca A Noite sob o título “O Brasil é grato a Portugal”, o seu discurso terminava assim:

Agasalhados na matriz historica da raça, participando, em familia, das suas gloriosissimas bodas centenarias, desejariamos, os brasileiros, em dias de tantas apreensões para a Humanidade, que cada português visse no retorno simbolico da frota triunfal do descobrimento, protegida pela cruz de Cristo, o signo mistico da nossa gratidão e de uma imensa e comum esperança! (O BRASIL..., 1940, p. 6)

A sintonia de termos entre anfitrião e convidado era tal que dir-se-iam escri-tos pela mesma mão.

Integrada na orgânica dos festejos dos Centenários “não a título de convidado, mas com o direito de irmão a quem queremos como queremos a nós próprios”, como preferia dizer Júlio Cayolla (1942a, p. 241) em nome da Agência Geral das Colónias, a Embaixada Especial do Brasil marcou presença assídua, ao longo dos meses seguintes, em várias iniciativas realizadas em Portugal. Entre estas, destaca-se a inauguração do monumento a Pedro Álvares Cabral, oferecido pelo governo brasileiro à cidade de Lisboa e que constituiu uma réplica da obra de Rodolfo Bernardelli erigida no largo da Glória do Rio de Janeiro por ocasião dos festejos do quarto centenário do descobrimento do Brasil, cerca de 40 anos antes. Cabral marcaria também o último acto público da delegação brasileira, quando o embaixador Araújo Jorge e Júlio Dantas, presidente da Comissão Executiva dos Centenários e também presidente da Academia das Ciências, presidissem à ceri-mónia evocativa que decorreu na Igreja da Graça, em Santarém, diante do túmulo do navegador. (FERRO, 1949; PORTUGAL, 2017)

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Júlio Dantas ficaria ainda associado àquela que deverá ter sido a menos bem-su-cedida iniciativa de aproximação luso-brasileira desencadeada nessa oportunidade. Tratou-se da organização do Congresso Luso-Brasileiro de História, realizado no âmbito do Congresso do Mundo Português de 1940 e cujo conceito inicial – de-finido por Dantas – motivou um demorado braço-de-ferro com a chancelaria do Rio de Janeiro a pretexto dos nomes dos historiadores brasileiros que a Comissão dos Centenários de Lisboa se propusera convidar. Júlio Dantas começou por lograr o envolvimento das direcções do IHGB e da Academia Brasileira de Letras, bem assim como da Universidade do Distrito Federal, na pessoa do seu reitor, Afrânio Peixoto. Estas instituições, por seu turno, articularam com os historiadores por-tugueses Carlos Malheiro Dias, da Academia Portuguesa da História e presidente da Federação das Associações Portuguesas do Brasil até 1935 (ALVES, 2010), e Queirós Veloso, que respondia pela Academia das Ciências de Lisboa. No entanto, a rede de sociabilidades da organização portuguesa não conseguiu evitar que o gabinete de Getúlio Vargas revertesse os termos desse relacionamento e delegas-se na Comissão Brasileira dos Centenários Portuguedelegas-ses, instalada no Palácio do Catete sob o comando do general Francisco José Pinto, a capacidade de interferir directamente na escolha dos delegados ao Congresso.

O presidente Vargas assinou apenas em finais de outubro de 1940 os decre-tos da pasta do Exterior, nos quais surgem nomeados os delegados do Brasil ao Congresso Luso-Brasileiro de Lisboa. (O BRASIL..., 1940) Pelos militares, foram in-dicados o comandante Eugênio de Castro – editor do Diário da navegação de Pero Lopes de Sousa: 1530-1532, publicado pela Comissão Brasileira dos Centenários Portugueses nesse mesmo ano de 1940 –, o capitão-de-fragata Dídio Iratim Afonso da Costa – que também lança por essa altura O Brasil e o ciclo das grandes nave-gações – e o coronel Emílio Fernandes de Sousa Docca – fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, director da Biblioteca Militar do Rio de Janeiro e autor de “Gente sul-riograndense”, que vem a lume nos Anais do III Congresso Sul-Rio-Grandense de História e Geografia – Porto Alegre, 1940. (SILVA, 2009; TORRES, 2000)

Pelos civis, Getúlio Vargas aprovou o escritor Osvaldo Orico, Gustavo Barroso, Pedro Calmon, Celso Vieira – presidente da Academia Brasileira de Letras – e o em-baixador José Carlos de Macedo Soares, antigo ministro das Relações Exteriores e da Justiça de Vargas e então presidente do IHGB e do recém-instituído Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas, a pretexto das dificuldades de trânsito impostas pela guerra, os delegados a Lisboa acabariam por cingir-se àqueles que já se encontravam na capital portuguesa por força dos preparativos

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da Exposição – Eugênio de Castro, Osvaldo Orico e Gustavo Barroso, além do embaixador Artur de Araújo Jorge –, para maior frustração de Dantas e de alguns dos seus pares brasileiros sacrificados nessa circunstância, como foi o caso do pró-prio Afrânio Peixoto. (GUARDIÃO; COELHO, 2010; GUIMARÃES, 2007; VIEIRA, 2010; SILVA, 2010, 2011)

Malgrado o travo trazido pelo flagrante episódio de subalternização das elites académicas pelo Estado Novo varguista manifestado aquando dos preparativos do Congresso Luso-Brasileiro de História de 1940, as aparências foram mantidas. Sintomaticamente, um dos primeiros gestos realizados pela Embaixada Especial do Brasil durante a sua permanência em Lisboa consistiu numa “demorada visita” a Carlos Malheiro Dias, “que profundamente emocionado agradeceu a honra que lhe foi concedida pelo embaixador extraordinário do Brasil”, como se leu na im-prensa do Rio de Janeiro a 30 de maio desse ano. (EM VISITA..., 1940, p. 3) Já na sessão solene de abertura do Congresso Luso-Brasileiro, que decorreu na Academia das Ciências de Lisboa na noite de 18 de novembro, o embaixador Araújo Jorge confia que as reuniões que aí vão ocorrer se consigam abstrair do “estrondo da fúria, desencadeada pelas devastadoras tropelias dos deuses do mal” da guerra em curso na Europa e realizem “o pacífico inventário dos factos da nossa história comum[,] a interpretação do seu processo evolutivo durante os fecundos tresen-tos [sic] anos de cujas entranhas nasceu o Brasil de hoje”. (JORGE, 1940, p. 30) Do lado português, o SNP desdobrou-se em cortesias e cobriu de forma generosa a participação do Brasil nas Comemorações Centenárias, dedicando-lhe várias no-tícias incorporadas no Jornal Português, revista mensal de actualidades destina-da à projecção nos cinemas e que consistiu na primeira revista cinematográfica produzida continuamente em Portugal. (PIÇARRA, 2015) E foi mercê da eficácia dos meios técnicos e do instinto publicitário do mesmo SNP que tiveram razoá-vel eco os passos da “Embaixada de Agradecimento” que o governo de Salazar enviou ao Brasil em 1941, na sequência da participação brasileira nos festejos de 1940. Em estreita sintonia com o Secretariado da Propaganda, a Agência Geral das Colónias voltou a ser parceiro relevante em algumas das acções de âmbito cultural e propagandístico que decorreram paralelamente a essa iniciativa da diplomacia portuguesa, sendo nesse contexto que recolhemos duas outras notícias da parti-cipação de Bernardino José de Sousa nas actividades organizadas por Portugal a propósito dos Centenários.

Encabeçada por Júlio Dantas, nomeado embaixador plenipotenciário, a “Embaixada de Agradecimento” integrava também Augusto de Castro, que refe-rimos ter comissariado a Exposição de Lisboa e era director do Diário de Notícias;

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Reinaldo dos Santos, pela Academia Nacional de Belas-Artes; e Marcelo Caetano, comissário nacional da Mocidade Portuguesa e professor de Direito que, em 1968, haveria de suceder a Salazar na chefia do governo. (ANTUNES, 1993; CAETANO, 1977) Recebidos no Palácio do Catete a 9 de agosto de 1941, entre discursos pro-tocolares e a imposição da Banda das Três Ordens a Getúlio Vargas por decreto do presidente português Óscar Carmona, o rasto cifrado da documentação di-plomática dá a entender que os delegados terão abordado algumas das matérias mais prementes do relacionamento bilateral, à cabeça das quais poderá ter estado esclarecer junto de Vargas os contornos da “neutralidade equidistante” assumida por Salazar diante do conflito mundial em curso e a anuência portuguesa em re-presentar os interesses brasileiros junto dos países do Eixo a partir do momento em que o Brasil entrasse na guerra. (BLOTTA; GUIMARÃES, 2010; BRAGA, 2017; CAETANO, 1977; LÉONARD, 2016; MARTINHO, 2016; PAULO, 2000; ROSAS, 1994; SERRÃO, 2008)

Em simultâneo, o SPN fez-se representar no Brasil por uma delegação chefiada pelo seu director, António Ferro, que assim respondia ao convite endereçado pela Associação Brasileira de Imprensa e pelo Departamento de Informação e Propaganda (DIP), entidade criada em 1939 com propósitos equivalentes aos do Secretariado português. (PAULO, 1994; RAIMUNDO, 2015) “Intelectual orgânico” do regime de Salazar (TORGAL, 2009b, p. 78-83), Ferro foi um dos mais destaca-dos artífices da construção da imagem pública do chefe do governo português, que ajudara a promover mercê de uma série de entrevistas panegíricas realizadas para os jornais O Século e Diário de Notícias, decalcando o modelo que empregara anos antes com Gabriele D’Annunzio, Benito Mussolini, Miguel Primo de Rivera e Kemal Atatürk, entrevistas essas entretanto compiladas em dois dos seus livros, qualquer deles de título irrepetível: Gabrielle D’Annunzio e Eu (1922) e Viagem à volta das ditaduras (1927). (HENRIQUES, 1990; Ó, 1999; TORGAL, 2009a)

Literato e jornalista inventivo que estanciara no Brasil na altura das Comemorações do Centenário da Independência, em 1922, em que participara na Semana de Arte Moderna de São Paulo, integrara várias representações teatrais de uma compa-nhia portuguesa que levava à cena uma peça da sua autoria, proferira conferên-cias modernistas e publicara alguns dos seus primeiros escritos (ACCIAIUOLI, 2013; NEVES, 1992; TORGAL, 2009a), António Ferro era um veemente paladino do estreitamento dos vínculos entre Portugal e o Brasil, que lia como duas partes de um mesmo todo anímico e sobreposto no Atlântico: uma “pátria flutuante da raça”, como dizia, feita de “duas Pátrias inconfundíveis, Pátrias irmãs, sem dúvida, com aquele ar de família que não engana, com profundas afinidades, o mesmo

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subsolo espiritual, mas cada uma com o seu feitio, com as suas particularidades”. (FERRO, 1949; BETTENCOURT, 1960; FERRO, 1942)

A delegação do SPN, que sem modéstias cedo se fez baptizar como “Embaixada do Espírito” – em contraponto à “Embaixada da Cultura” liderada por Júlio Dantas e, sobretudo, em sintonia com a “Política do Espírito”, expressão-síntese inventa-da por Ferro para resumir os fins do “seu” SPN –, teceu um vasto programa de ac-tividades assente numa equipa composta pelos jornalistas Guilherme Pereira de Carvalho, Armando Boaventura, Armando de Aguiar e ainda pelo agente-geral das Colónias, Júlio Cayolla. (ACCIAIUOLI, 2013; ROSAS, 1994) O principal resultado prático desta iniciativa traduzir-se-á no Acordo Cultural Luso-Brasileiro, assinado a 4 de setembro de 1941 por António Ferro e pelo director e mentor ideológico do DIP, Lourival Fontes, na presença de Getúlio Vargas. Visava a difusão recíproca da cultura de ambos os países, de que foi expressão especial a revista Atlântico, publicada entre 1942 e 1950 em três séries sucessivas, com Ferro como co-direc-tor até ao penúltimo número, sempre ao lado de um nome indicado pelo DIP, mas cuja presença no cabeçalho foi muito menos estável do que o seu par portu-guês: sucessivamente, Lourival Fontes (1942), o general Antônio Coelho dos Reis (1943), o capitão Amílcar Dutra de Meneses (1943), Oscar Pena Fontenelle (1947), Waldemar da Silveira (1947) e Antônio Vieira de Mello (1947).

A criação da revista Brasília, publicada com uma cadência irregular entre 1942 e 1968 pelo Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de Coimbra, constituiu outro dos resultados tangíveis desta parceira luso-brasileira no plano da edição, desta feita destinada a um público académico. (ASSUNÇÃO, 2014; PAULO, 1992; SERPA, 2010; TORGAL, 1999) Pela letra do Acordo Cultural, ficava também determinada a abertura de uma delegação do SPN junto do DIP e o seu inverso. Aos respectivos agentes, caberia o efectivo exercício do controlo noticioso e a decorrente vigilância da imprensa, numa prática que envolveu cumplicidades múltiplas com os aparelhos policiais dos dois países e que subsistiu para lá do fim do Estado Novo brasileiro, em 1945. (ACCIAIUOLI, 2013; COSTA, 2014; MOURA, 2012; Ó, 1999; PAULO, 1994; RAIMUNDO, 2015; RIBEIRO, 2014; SILVA, 2011; TORQUATO, 2013)

Enviado ao Brasil em missão incumbida pelo ministro das Colónias, “integra-do no alto pensamento da ‘política atlântica’ renovada, ressuscitada, em moldes actualíssimos, por Salazar” (CAYOLLA, 1942a, p. 11), o agente-geral das colónias Júlio Cayolla afiançaria que o director do SPN e ele próprio haviam sabido cola-borar “com a maior lealdade, e com ânimo claro, porque ambos estavam possuí-dos da mesma preocupação: servir Portugal”. (CAYOLLA, 1942a, p. 15) No que

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respeitava ao seu encargo específico, para além de fazer a propaganda do império colonial português e recolher informações económicas julgadas úteis para “trans-mitir e transplantar para os nossos domínios ultramarinos”, Cayolla (1942a) tivera como terceira atribuição principal expor a obra de difusão cultural da Agência. Explicou-o assim:

Para revigorar a consciência da intimidade luso-brasileira, para manter palpitante a mútua compreensão do portuguesismo e do brasileirismo, do bloco moral formado pelos dois povos que, ao separarem-se, não criaram barreiras de irredutível inimizade, a melhor forma de atingir tal fim é [...] mostrar pelos livros, conferências, jornais, a verdade que há na formação da fraternidade luso-brasílica. (CAYOLLA, 1942a, p. 25)

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Em tom sobremaneira autocongratulatório, Júlio Cayolla encarregar-se-á de detalhar no número de março de 1942 do Boletim Geral das Colónias a forma como se revestiu a concretização dessa incumbência específica relacionada com a publicidade das actividades de “expansão cultural” da agência que dirigia. (CAYOLLA, 1942b) A versão quase integral desse seu relatório da viagem ao Brasil é transcrita no mesmo ano no livro Brasil, terra lusíada (1942), feito publicar pela Editora Ática de Lisboa, o qual, por sua vez, retomava também os artigos sobre o mesmo assunto que o agente-geral das Colónias espraiara, entretanto, pelo sema-nário Acção, em que pontificavam alguns dos paladinos mais conservadores do Estado Novo português. (SANTOS, 2006) Cayolla assinou também uma descrição abreviada da sua missão ao Brasil no segundo número da revista Brasília (1943) sob um título programático quase idêntico ao do seu livro: “Unidade cultural lu-síada”. (CAYOLLA, 1943)

Compulsando estas fontes, sabemos que Júlio Cayolla começou por oferecer à Academia Brasileira de Letras a colecção das obras comemorativas dos cente-nários publicadas pela Agência Geral das Colónias, tendo sido apresentado por Afrânio Peixoto, Gustavo Barroso e Serafim Leite à sessão semanal aí reunida sob a presidência de Levi Carneiro. Descrevendo um a um a generalidade desses li-vros, Afrânio Peixoto não se esquecerá de referir aquele em que “Bernardino José de Sousa estuda Luiz Barbalho, herói de nossa terra, da Baía, onde o seu nome se conserva na terra e que o seu biógrafo magistralmente justifica”. (CAYOLLA,

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1942a, p. 67) Mas desse dia Cayolla (1942a, p. 72) reteve sobretudo as palavras que ouviu do presidente da Academia: “O sábio dr. Levy Carneiro afirmou que a actividade colonizadora de Portugal – que continua colonizando ‘com inteligên-cia e com coração’ – não interessa apenas aos nossos domínios de Além-Mar: ‘in-teressa também ao Brasil’”.

Afrânio Peixoto e Levi Carneiro tomarão também assento na mesa que presi-diu à sessão do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro durante a qual Júlio Cayolla leu uma conferência intitulada “A obra cultural do Estado Novo, especialmente no campo colonial”. Valerá notar que completavam a mesma mesa o embaixador de Portugal no Rio de Janeiro, Martinho Nobre de Melo; o almirante Gago Coutinho; João de Sá Camelo Lampreia, último ministro de Portugal no Brasil durante a monarquia; Albino de Sousa Cruz, presidente da Federação das Associações Portuguesas; e ainda Ruben Machado da Rosa, presidente da Câmara do Reajustamento Econômico e nome que precedeu Bernardino José de Sousa no cargo de presidente do Tribunal de Contas da União. Na sua prédica, Cayolla (1942a, p. 194) tornou a articular a ideia de uma “comunidade de civilização e até de interesse” existente entre o Brasil autónomo e independente e o “velho e glorioso D. Portugal” – uma “terna e felicíssima” expressão importada de Afrânio Peixoto – com a descrição dos títulos dados à estampa pela Agência Geral das Colónias em 1940, mormente aqueles devidos à “finíssima colaboração dos maio-res escritomaio-res e historiadomaio-res brasileiros”. (CAYOLLA, 1942a, p. 200) Entre estes, contou também Bernardino de Sousa, “que aplicou a sua pena castiça a narrar-nos a vida heróica de ‘Luís Barbalho’ e os seus feitos de guerra contra o holandês e nas ‘bandeiras’ sertanistas”. (CAYOLLA, 1942a, p. 199-200)

Outro tanto ocorrerá no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, onde Júlio Cayolla (1942a, p. 237) dissertou sobre “O Brasil nas comemorações cente-nárias”, desta feita apresentado pelo cônsul de Portugal, Borges dos Santos, e por Álvaro Soares Brandão, presidente da Casa de Portugal de São Paulo, a quem coube destacar a “pena aurifulgente” de seis dos autores brasileiros que tinham colabo-rado nas colecções da Agência: Pedro Calmon, Afrânio Peixoto, Gustavo Barroso, Wanderley Pinho, Clado Ribeiro Lessa e Bernardino José de Sousa, ou seja, o sex-teto que contribuíra para o Ciclo da Restauração. Todavia, a vertente que mais nos importa do périplo de Cayolla no Brasil ficará sobretudo assinalada pela realiza-ção de duas exposições bibliográficas, reunindo os livros publicados por ocasião das celebrações do “duplo Centenário”. Enquanto a primeira dessas exposições foi inaugurada nos primeiros dias de agosto de 1941 no átrio da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, “pôsto fidalgamente à disposição do Agente Geral das Colónias

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pelo seu eminente director Dr. Rodolfo Garcia, com o consentimento imediato do ilustre Ministro da Educação, Dr. Gustavo Capanema” (CAYOLLA, 1942a, p.28), a segunda realizou-se na Galeria Prestes Maia de São Paulo (Figura 3).

Figura 3 – Acto inaugural da exposição bibliográfica da Agência Geral das Colónias realizada no átrio da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (agosto de 1941)

Rodolfo Garcia, director da Biblioteca Nacional, procede ao corte das fitas, ladeado pelo embaixador de Portugal, Martinho Nobre de Melo, e pelo agente-geral das Colónias, Júlio Cayolla. Surgem também destacados Afrânio Peixoto e Bernardino José de Sousa. Fonte: Cayolla (1942a, p. 40-41).

Fiel ao seu estilo, Júlio Cayolla avaliará a mostra da Biblioteca Nacional como um “êxito triunfal”, não se esquecendo de tocar a corda sempre sensível daquelas rivalidades que a semântica própria da geopolítica contemporânea diz típicas do soft power e às quais quer o contexto regional do Brasil, quer o quadro interna-cional da época conferem sentido específico:

Mas a exposição bibliográfica das obras da Agência Geral das Colónias, no Rio de Janeiro, teve ainda o condão de mostrar, segundo a opinião de altos espíritos brasileiro, precisamente no mesmo local onde se efec-tuaram idênticos certames das nações norte-americana e argentina, que um só departamento do Estado português, em qualidade, quantidade e apresentação, não tinha que se envergonhar em confrontos com os dois países acima citados. (CAYOLLA, 1942a, p. 30)

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Para que o resultado tivesse sido esse, Cayolla (1942a, p. 30-31) observa o contributo decisivo dado pela realização no recinto da exposição de uma série de palestras vespertinas feitas por quatro “insignes individualidades da historio-grafia do País irmão”: Afrânio Peixoto, Gustavo Barroso, Hélio Viana e o próprio Bernardino José de Sousa. Se dúvidas ainda houvesse, o estreito círculo de afini-dades que vimos acompanhando confirmava-se uma vez mais, tanto assim que Cayolla (1942a, p. 31) não se esquece de dar eco pormenorizado às palavras profe-ridas em cada uma dessas “magistrais palestras” em que “sábios homens de letras brasileiras fazem alarde inteligente do seu lusitanismo: ensinando que Portugal está no seu coração, porque está também na sua inteligência”.

A inauguração da “imponentíssima exibição imperial” projectada pelo mi-nistro das Colónias Francisco Vieira Machado e executada pelo seu “eficiente, laborioso, escrupuloso e discreto” colaborador Júlio Cayolla ficara a cargo do embaixador Nobre de Melo, que era suposto ter discursado ao lado do ministro Gustavo Capanema, mas que à última hora diferira para o dia seguinte a sua ida à exposição. Em qualquer caso, coube ao embaixador anunciar a presença no átrio da Biblioteca Nacional dos quatro autores brasileiros “que espontâneamen-te se propuseram explicar e exaltar a magnífica participação da Agência Geral das Colónias Portuguesas”. (CAYOLLA, 1942a, p. 32-33) Chegada a vez de ouvir “a voz amicíssima” de Afrânio Peixoto, este lembrou como a Agência tivera uma “noção divinatória”: “Enquanto a festa lá fora embevecia o Mundo, a Agência Geral das Colónias fazia livros... As festas passaram... Aqui estão os livros”. (CAYOLLA, 1942a, p. 34-35) E depois de assinalar a lista genérica desses livros e dos seus au-tores – incluindo Luiz Barbalho “evocado, nobremente, por Bernardino de Sousa” –, Peixoto justificava a razão pela qual era tão benquisto entre os seus anfitriões portugueses: “Bem haja, pois, a Júlio Cayolla, que os fêz, a Francisco Machado que os ordenou, a Oliveira Salazar, que os permitiu... Portugal sobraça os seus livros, atestados da sua glória e é com êles, pela eternidade afora, que se apresenta diante de Deus...”. (CAYOLLA, 1942a, p. 36-38)

Cayolla respigaria das palavras de Gustavo Barroso a “portuguesíssima saüdade” e os mesmos elogios à situação política portuguesa – e, já agora, à sua pessoa – que seleccionara da palestra de Afrânio Peixoto:

[...] queremos continuar portugueses, portugueses na essência, portugueses nos sentimentos, na religião, na língua que falamos, espírito imortal da raça, espírito imortal que nos une através do Atlântico, espírito imortal que nos unirá através dos séculos, êste espírito que vive, que palpita

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dentro dos livros editados pela fôrça criadora do sr. Júlio Cayolla. (CAYOLLA, 1942a, p. 39)

Já Hélio Viana faria uma descrição exaustiva dos tópicos e dos autores brasi-leiros presentes no catálogo preparado pela Agência Geral das Colónias para as festas de 1940 e exposto nos escaparates da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro. A referência devida a Bernardino de Sousa enquadra-a na amostra de três obras dedicadas a outros tantos “heróis militares nas lutas com os holandeses” que atrás notámos: além de Luiz Barbalho, o Henrique Dias, de Frazão de Vasconcelos, e o Francisco Barreto, de Pedro Calmon, qualquer deles “rápida e lucidamente bio-grafados” pelos seus autores. (CAYOLLA, 1942a, p. 45-46) Para a apreciação geral da acção que a Agência Geral das Colónias realizara “em proveito da História de Portugal e do Brasil”, os termos escolhidos por Hélio Viana são ainda assim mais sóbrios do que os dos dois oradores brasileiros que o haviam precedido: “Conhecê-la e aproveitá-la, compreendendo devidamente a sua transcendente significação, é dever que como professor gostosamente eu cumpro, que como brasileiro admiro, que como amigo de Portugal exalto”. (CAYOLLA, 1942a, p. 48)

Como se disse, coube a Bernardino José de Sousa encerrar esse breve ciclo de alocuções convocadas para a Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro por ocasião da mostra bibliográfica em que, entre outros, figurou o opúsculo que o próprio Bernardino de Sousa preparara para a Agência Geral das Colónias. As palavras iniciais do “biógrafo eruditíssimo de Luiz Barbalho”, como é apresentado por Júlio Cayolla (1942a, p. 49), recuperam o sentido e o som dos discursos de Afrânio Peixoto e Gustavo Barroso:

Estamos ainda a comemorar, de boa sombra, na contemplação de um expressivo monumento, as gloriosas efemérides que nos irmanam, por-tugueses e brasileiros, nos recordos memorandos dos que fundaram, engrandeceram, dilataram e restauraram a Pátria lusa. E o fazemos na véspera do dia da Pátria brasileira, que Portugal criou aos peitos de seus exemplos de heroísmo e embalou nos braços de suas virtudes cristãs, como se fôra um símbolo da fidelidade do afecto que devemos aos que nos deram o primeiro leite da civilização e nos ensinaram as trilhas da honra e da glória.

Nesse dia 6 de setembro de 1941, Bernardino de Sousa resumia assim aos seus ouvintes a mostra de livros que tinham diante de si:

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Num passeio mental de quatro séculos, que se pode fazer nos textos aqui presentes, desfilam ante os nossos olhos maravilhados, senão até comovidos, marinheiros audazes e intrépidos soldados, estadistas de pôlpa e missionários predestinados, nobres e peões, colonos e lavradores, todo um séquito de antepassados, que nos exaltam as origens comuns. (CAYOLLA, 1942a, p. 51)

E interpelando directamente o embaixador português e o agente-geral das Colónias, lançou “como se fôra a voz de todo o coração do Brasil”: “Pois não sois vós, bravos lusitanos, ‘carne da nossa carne, osso dos nossos ossos’?”. (CAYOLLA, 1942a, p. 52)

“Chegamos, meus Senhores, felizmente e a bom tempo, à fase de mais perfeita e mútua compreensão”, teve ainda Bernardino José de Sousa ensejo de dizer nesse acto público, evocando expressamente os termos do Acordo Cultural assinado dois dias antes por António Ferro e Lourival Fontes em nome dos organismos de propaganda que chefiavam. (CAYOLLA, 1942a, p. 52) E repetiu-o logo a seguir por outras palavras: “Praza a Deus que seja êste momento, em que rendemos à velha Mãe Pátria as oblatas do nosso devotamento e do nosso amor, símbolo da união indissolúvel do mundo luso-brasileiro!”. (CAYOLLA, 1942a, p. 53) Como é bom de ver, dificilmente a Agência Geral das Colónias poderia ter encontrado melhor intérprete dos desígnios que a traziam ao Rio de Janeiro em parceria com o SPN: usando os termos repetidos até à exaustão pela sua própria propaganda, instruir e manter o processo da “política do espírito” ao serviço da “política atlântica”. (CAYOLLA, 1942a, p. 27)

O corolário protocolar destas actividades aconteceu quando Júlio Cayolla, acompanhado pelo embaixador Martinho Nobre de Melo, foi recebido no Palácio do Catete por Getúlio Vargas, a quem entregou a colecção de livros editados pela Agência Geral das Colónias para comemoração do “duplo Centenário” (Figura 4). Diz a crónica oficial portuguesa – transcrevendo os telegramas com recortes de imprensa chegados do Brasil – que:

[na] longa e cordial conversa que teve com o Sr. Júlio Cayolla, o Presidente Vargas referiu-se, em têrmos entusiásticos, à acção lusitana em todo o Mundo na gigantesca obra civilizadora que através dos séculos Portugal tem realizado e salientou, com júbilo, a valia das óptimas relações luso--brasileiras, fortalecidos pela identidade dos regimes estabelecidos nas duas grandes potências atlânticas. (PORTUGAL, 1941, p. 96)

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Sobre a remessa de livros propriamente dita, a notícia registada diz também o previsível, tanto na substância como na forma: “O Chefe de Estado brasileiro encarregou o Agente Geral das Colónias de agradecer ao sábio titular da pasta dos Negócios Ultramarinos a oferta, que classificou de preciosa”. (PORTUGAL, 1941, p. 96)

Figura 4 – O agente-geral das Colónias, Júlio Cayolla, acompanhado pelo embaixador de Portugal no Brasil, Martinho Nobre de Melo

Procede à entrega das publicações da Agência Geral das Colónias comemorativas dos Centenários ao presidente Getúlio Vargas (Palácio do Catete, Rio de Janeiro, 1941). Fonte: Cayolla (1942a, p. 24-25).

Agindo sempre em nome do ministro das Colónias, Júlio Cayolla não dei-xará o Rio de Janeiro sem antes oferecer, no Jockey Club, um almoço de agra-decimento aos escritores e historiadores brasileiros que tinham colaborado nas edições da Agência Geral das Colónias. Sentado à mesa desse almoço, Bernardino José de Sousa recebe “uma carta intimativa de Afranio Peixoto, ordenando que discursasse”. Dessas palavras aparentemente improvisadas a partir de um sinal recebido de Afrânio Peixoto deu conta o jornal Imparcial do Rio de Janeiro, que, nessa altura, constituía um alinhado indefectível do Estado Novo brasileiro e do seu chefe “providencial”, como Vargas fora, en-tretanto, apelidado nas suas páginas:

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Gastaria poucas palavras –[as] primeiras de elogio à notável iniciativa da Agência Geral das Colônias que Julio Caiola dirige[,] e as outras para afirmar, interpretando o sentir de todos os que ali estavam – que fossem quais fossem as vicissitudes da marcha, o Brasil acompanharia Portugal, na dor ou na alegria[,] como sabiam que Portugal não desligaria o seu coração dos destinos do Brasil. (NA MAIS..., 1941, p. 5)

Como seria de esperar, Júlio Cayolla não se esqueceu de registar estas palavras nas suas notas de viagem, depressa fazendo-as suas e colocando-as no fecho do seu livro-relatório de 1942. Como se pode ler, vão retocadas com uma percepção do destino da nação de sentido messiânico que foi tão típica da “mística imperial” portuguesa anterior à Segunda Guerra Mundial (CASTELO, 1998, p. 47):

Os votos fraternais formulados pelo ministro Bernardino José de Sousa são aqueles com que encerro esta página final, crente que Deus não que-rerá desamparar a Lusitanidade – que só para a Sua maior glória (que é a sua própria glória) deve continuar pensando, lutando, vivendo em suma. (CAYOLLA, 1942a, p. 281)

Era, ainda e sempre, a retórica da “política do Atlântico”, que o seu duplo António Ferro haveria de glosar num dos seus livros de título ribombante, em que coligiu os discursos que ele próprio pronunciara no Brasil em 1941: Estados Unidos da Saudade (1949). Naquele estilo prolixo e vago que vimos que conta-minava quase todo o resto, o criativo Ferro tratou de esclarecê-lo assim: “O Brasil é a saudade de Portugal na América. Mas Portugal, por sua vez, é a saudade do Brasil na Europa”. (FERRO, 1949, p. 145) Uma ideia mitificada da história e da cultura, friamente calculada para influir no real, que sobreviveria por longos anos a todos estes artífices do discurso. Salvaguardadas as devidas distâncias, o céle-bre luso-tropicalismo de Gilberto Freyre “e suas burlescas invenções de erotismo serôdio” – como escreveria contracorrente cerca de 20 anos mais tarde Eduardo Lourenço no termo da sua experiência de professor convidado (1958-1959) na Universidade Federal da Bahia (UFBA) (LOURENÇO, 2015, p. 123) – constituirá um avatar mais sofisticado desta retórica transposta e explorada ao limite no cam-po das relações internacionais, procurado amarrar até ao fim dos temcam-pos a antiga colónia brasileira e as sobrantes colónias de Portugal a um país que, entretanto, perdera o seu próprio tempo.

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Imagem

Figura 1 – Luiz Barbalho por Bernardino José de Sousa
Figura 2 – Entrada do Pavilhão do Brasil na Exposição do Mundo Português (Lisboa,  1940)
Figura 3 – Acto inaugural da exposição bibliográfica da Agência Geral das Colónias  realizada no átrio da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro (agosto de 1941)
Figura 4 – O agente-geral das Colónias, Júlio Cayolla, acompanhado pelo  embaixador de Portugal no Brasil, Martinho Nobre de Melo

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