Inventariação dos Lepidópteros e Hymenópteros (Insecta) da ilha de Santa Maria (Açores)

Santa Maria e Formigas/1990: Relatorio (69-75)

INVENTARIA(:AO DOS LEPID6PTEROS E HIMEN6PTEROS (INSECTA) DA ILHA DE SANTA MARIA (A(:ORES)

JOAo TAVARES(1), LUISA OLiVEIRA(l), VIRGILIO VIEIRA (1), LORETE ANUNCIADA(2), RITA TEIXEIRA (3), BERNARD PINTuREAU(4}, JEREMY McNEIL<5), JOHANNE DESLILE(5) FRANCISCO PINTO(l).

(1) Departamento de Biologia, Universidade dos At;ores, Rua da Mae de Deus, 58. P-9502 PONTA DELGADA codex.

(2) Universidade do Algarve, Unidade de Ciencias e Tecnologias Agrarias. P-8000 Faro. (3) Centro Nacional de Protect;ao da Produt;ao Agricola. Tapada da Ajuda, P-1300 Lisooa.

(4) I.N.S.A .. Biologie 406, 20, avenue A. Einstein, F-69621 VILLEURBANNE cedex. (5) Universite Laval, Departement de Biologie, Quebec - CANADA.

ABSTRACT

In the present paper is given an account of the species of insects collected in the course of a "Santa Maria e Formigas 1990 Cientific Expedition", in june 1990, in Santa Maria island - archipelago of the Azores. A preliminary list of the Lepidoptera (21 species) and Hymenoptera (6 species) of Santa Maria is elaborated.

Some remarks are also given about Mylhimna unipuncla (Haw.) (Lep., Noctuidae) and

the relationship between armyworm and its natural enemies, especially Apanleies miliraris

Walsh (Hym., Braconidae).

INTRODU<;Ao

o estudo e inventariat;ao da enLOmofauna do Arquipelago dos At;ores encontram-se ainda pouco aprofundados, resumindo-se a algumas publicat;6es na sua maioria de auLOres estrangeiros. Tal e 0 caso dos Lepidopteros e Himenopteros, que despertam bastante interesse no campo das Ciencias Naturais por englobar. do ponto de vista agron6mico, muitas especies consideradas pragas, caso dos primeiros, e parasitoides oOfagos e larvfcolas dos Lepidopteros, caso dos segundos.

o presente trabalho, realizado no ambito da "Expedit;ao Cientffica Santa Maria e Formigas 1990", teve por objectivo principal dar uma breve contribuit;ao ao conhecimento geral dos Insectos da Ilha de Santa Maria. Incidindo-se particularmente sobre 0 estudo dos nfveis de infestat;ao e dispersao da praga "lagarta das pastagens", MYlhimna unipuncra

Amostragens larvares de M. unipuncta foram realizadas em varias localidades da

ilha, com diferentcs altitudes: Miradouro das Lagoinhas (250 m), Espigao (275 m), Santo Ant6nio (300 m) e Almas (250 m). Foi seguido 0 metodo usado na Sec'1ao de Eniomoparasitologia, que consiste basicamente no recenseamento do numero de indivfduos no estado larvar por unidade de superffcie (subdividida em 4 amostras de 0.25 m2 ), sendo esta seleccionada ao acaso e em niimero de 10 por hectare (TAVARES, 1989; TAVARES et ai,

1990).

Aquando das amostragens dos diferentes estados larvares de M. unipuncta

procedeu-se tam bern ao recenseamento das popula'1oes pupa is do seu principal inimigo natural A. mililaris, segundo 0 metoda descrito por GARCIA & TAVARES (1977), bern como dos hiperparasitas Lisibia nana Grav. (Hym., Ichneumonidae) e Trichomalopsis sp (Hym.,

Pteromalidae).

Paralelamente, entre 12 e 17 de Junho, durante a noite. foram comparados no campo (Paul de cima) do is tipos de armadilhas sexuais em uso p()Ja captura de M. unipuncta:

"piege

a

entonnoir du Canada" (= seca) e "piege

a

eau" (= agua). Na primeira as borboletas sao retidas no copo seco, enquanto na segunda elas morrem afogadas em agua com 5% de tee po!. Foram utilizadas 2 armadilhas de cada tipo, alternadas entre si. A concentra'1ao da feromona era de 300 ~g de Zll-16:Ac.

Observou·se ainda 0 comportamento e 0 estado de matura'1ao sexual de varias femeas virgens de M. unipuncta da ilha das Flores (cultura em laborat6rio), que foram expostas, no

primeiro dia de emergencia, ao alcance dos machos de Santa Maria, presentes na Natureza.

RESULTADOS EDISCUSSAO

Lista dos Lepid6pteros·

Das 118 especies de Lepid6pteros confirmadas para 0 arquipelago dos A'1ores apenas 5 haviam side referidas para a ilha de Santa Maria: 2 Pyralidae e 3 Geometridae (CAR V ALHO, 1982). Com os nossos trabalhos sao mencionadas mais 16 especies (12 delas pertencem

a

famnia Noctuidae), elevando-se assim para 2J 0 niimero de especies conhecidas para esta ilha, as quais estiio distribufdas por 6 famflias (Quadro I).

Das especies diurnas, apenas foram observados al guns exemplares de Pie ris brassicae azorensis Rebel, de Colias crocea (Geoff.), de Lampides boeticus (L.) e de

Vanessa atalanta (L.).

Na ordena'1ao das especies (Quadro 1) seguimos 0 criterio adoptado por CAR V ALHO (1982), bern como a lista por ele apresentada por ser aquela que se julga como mais completa e mais actualizada sobre os Lepid6pteros dos A'1ores.

Entre os lepid6pteros com actividade nocturna, economicamente importantes, surgiram em primeiro lugar M. unipuncta eN. pronuba. Estas especies, sobretudo a

primeira, causam preJulzos elevados nas culturas de cereais e nas gramfneas das pastagens permanentes, culturas essas que ocupam quase metade dos 97 Km 2 do solo da ilha de Santa Maria (Figura 2).

*

Enquanto 0 presente trabalho aguardava publica'1ao, vieram a publico 4 outros artigos sobre os Lepid6pteros dos A'1ores, incluindo referencias para a ilha de Santa Maria (SOUSA, 1991; VIEIRA & PINTUREAU, 1991; MEYER, 1991ab). Apesar disso, nao se introduziram quaisquer altera'1oes no texto original, por este ter sido aceite para publica'1ao em 1990.

FAMILIA I ESPECIE

PYRALIDAE

Eudonia mercurella (L., 1758)

Udea jerruga/is (HUbner, 1796)

PfERIDAE

CoHas crocea (Geoffrey, 1785)®

Pieris brassicae azorensis Rebel (l917)®

NYMPHALIDAE

Vanessa atalanta (L., 175S)®

LYCAENIDAE

Lampides boeticus (L., 1767)®

GEOMEfRIDAE

Orthomana obstipala (Fabricius, 1794)

Euphia cenlrostrigaria (Wollaston, IS5S)

Ascotis jortunata azorica Pinker (1969)

NOCTUIDAE

Agrotis segetum (Den. & Schif., 1775)®

Agrotis ipsilon (Hufnagel, 1766)®

Noctua pronuba (L., 175S)®

Peridroma saucia (HUbner, 118081)®

Xestia c-nigum (L., 1758)®

Mylhimna unipuncla (Haworth, 1809)®

Phlogophora meliculosa (L., 175S)®

Spodoplera lilloralis (Boisduval, 1833)®*

Eublemma ostrina (HUbner, 180S)®

GaJgula partila Guenee (IS52)®

Autographa gamma (L., 1758)®

Trichoplusia orichalcea (Fab.. 1775)®

LOCAL: NUMERO DE EXEMPLARES

Paul de Baixo: 4 ex.

S. Pedro; Lagoinhas; Aerop0rlo: 5 ex.

Azenhas; Vila do Porto: 3 ex. Toda a ilha: 28 ex.

S. Louren~o: 1 ex.

Miradouro de Lagoinhas: 2 ex.

Almagreira; S. Pedro: 2 ex. Almagreira; S. Pedro. Paul de Baixo: 5 ex.

Paul de Baixo: I ex. Paul de Cima: I ex.

Paul de Baixo; Paul de Cima: abundante PauJ de Baixo; Paul de Cima: 2 ex. Paul de Baixo; Paul de Cima: 6 ex. Toda a ilha: muito abundante. Paul de Baixo: I ex.

Aeroporto: 12 ex.

Paul de Baixo; Paul de Cima: 3 ex. Toda a ilha: abundante.

Paul de Baixo; Paul de Cima: 10 ex. Paul de Cima: 1 ex.

Quadro 1- Lista prOVlsona dos Lepid6pteros da ilha de Santa Maria. ® Especie nova para esta ilha, tendo em considerar;ao a lista apresentada por CARVALHO (1982). *Especie enviada para identificar;ao. em Agosto de 1989. pelo Sr. Adalberto Pombo - Santa Maria.

Lista dos Himen6pteros parasit6ides

Para a captura de Himen6pteros, parasitas o6fagos. procedeu-se

a amostragem directa

de ovos de outros insectos, em especial de Lepid6pteros. Estes foram recolhidos em 12

esta~6es (Figura 1), sobre diferentes especies de plantas hospedeiras (Quadro 2).

Dos mais de urn milhar de ovos recolhidos, apenas 2 se encontravam parasitados pelo paras ita o6fago Telenomus sp. (Hym., Scelionidae) tendo side enviada ao especialista A. Polaszek para determinar;ao.

11, 11 ~

• Cult. anllais, frutkolas ...

D

Pastagem permanente

II

InclIltos

e

baldios

l1li

Supt'rt1cit' fiort'stal

D

SUPt'rflclt' social Figura 2- Qcupa~ao do solo da ilha de Santa Maria. adaptado de PEREIRA (1982).

Esta~oes

Plantas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 1 1 1 2

Brassica oleraceae L. +

Dacus carota azoricus Franco + +

Erigeron canadensis L. + +

Lycopersicum esculentum Mill. +

Lupinus sp. +

Mentha pulegium L. + +

Phormium tenax Forst. +

Rosa sp. + +

Rubus sp. + +

Solanum tuberosum L. +

Zea mays L. + + +

Wei~e/a iaponica Thurb. + +

Quadro 2- Plantas hospedeiras dos ovos de Insectos recolhidos nas 12 eSlatyoes estudadas na ilha de Santa Maria.

Qutros Hymen6pteros foram capturados com 0 auxilio da rede entomol6gica tendo side identificados como pertencentes

as

seguintes Super-Familias:

Ichneumonoidea

Ichneumonidae - foram capturados alguns individuos da especle Lisibia nana

Grav .• hiperparasita de M. unipuncta atraves de A. militaris.

Braconidae - foram capturados varios indivfduos da especie Apante/es militaris (Walsh). parasita larvar de M. unlpuncta.

Proctotrupoidea

Diapriidae - foi capturado urn individuo desta Familia. identico a urn capturado. em 1989. nas Furnas - S. Miguel.

Chalcidoidea

Eulophidae - foram capturados individuos pertencentes

a

especie

Tetrastichus brevicornis Panzer. Trata-se dum parasita nao

o6fago.

Pteromalidae - foram capturados alguns indivfduos de Trichoma/opsis sp .• hiperparasita de M. unipuncta. atraves de A. mi/ltaris.

Complexo parasit:irio de M. unipuncla: A. mililaris e seus parasitas Durante este estudo de campo, foram capturadas 40 larvas de M. unipuflcta nas pastagens e 29 na cultura do Milho, encontrando·se 35 e 13,8%, respectivamente, parasitadas por A. militarjs.

Nas pastagens, recolheram·se ainda 701 casulos de A. mj/itaris. A percentagem de emergencia foi de 81 %. Por outro lado, a percentagem de parasitismo, obtida para os seus parasitas, foi de 47.1 % para L. nana, 3% para Trichoma/apsis sp. e de 5.1 % para urna especie ainda nao identificada.

Teste de diferentes armadilhas sexuais

o

numero de machos de M. unjpuflcta capturado nas armadilbas "secas" foi visivelmente superior ao observado nas armadilhas de "agua" (Quadro 3). Estc facto deixa em aberto a questao seguinte: serao as armadilhas

"a

entonnoir du Canada" mais eficazes na difusao da feromona que as utilizadas em Franca, devido

a ausencia do molhante?

Armadilhas Sesuais

Dias Agua (1) Seca (1) Agua

(2)

Seca

(2)

12/ I 3 1 15 2 32

13/14 0 I 7 0 24

14/15 0 15 0 I 7

15/16 0 40 0 33

16/17 0 54 0 11*

*

A capsula de feromona estava cafda dentro do copo

Quadro 3· Numero de machos de M. unipuncta capturados, entre 12 e 17 de Junho, com 2 tipos de armadilhas sexuais (2 de "agua" e 2 "secas") na ilha de Sanla Maria. (Enlre parenteses eSla referido 0 nQ da respectiva armadilha).

Maturidade sexual das femeas de M. unipuncla

Os dados obtidos, alem de revelarem que 0 acasalamenlo das femeas de M. unipuncta

da ilha das Flores por machos da ilha de Sanla Maria e viavel, deram lambem algumas

indica~oes sobre 0 eSlado de maluridade sexual das femeas ao fim do primeiro dia de emergencia.

Os resultados registados, durante as 3 noiles de ensaio, foram os seguintes: Dia 13 . lodas as femeas foram destruidas por animais insecllvoros;

Dia 14 . duas femeas possufam os ovarios imaluros, 8 nao linham sido acasaladas (ausencia de espermaLOforo) e 3 linham sido acasaladas, pondo uma delas ovos ferteis:

Dia 16 - quatro apresenlavam ovarios imaluros, 5 mais ou menos imaluros e I mariuros e com a presen~a rie espermaloforo.

CONCLUSOES

As observa~oes feitas e 0 estudo do malerial colhido na ilha de Santa Maria permilem-nos assinalar 16 especies de Lepid6pleros nao cilados para esta ilha, isto lendo em considera~ao a lisla apresentada por Carvalho (1982). Por OutrO [ado, sao ciladas, pela primeira vez, 6 especies de Himen6pleros parasil6ides.

Na ilha de Santa Maria, M. unipuncta ~ a esp~cie Noctuidae que mais aparece associada as gramfneas das pastagens permanentes.

Existe urn controlo biol6gico natural das pragas agrfcolas, provocado por parasitas e predadores. 0 mais importante e especffico da lagana das pastagens,

a

semelhanc;a do que se passa noutras ilhas, ~ 0 A. militaris. Por~m, outros estudos complementares sao necessarlOs para a compreensao da dinamica das popula~i)es de M. unipuncta e seus inimigos naturais.

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