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O IMPACTO DAS RESTRIÇÕES FINANCEIRAS NA PRÁTICA DO CONSERVADORISMO CONTÁBIL: UM ESTUDO DE 2012 A 2016

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www.congressousp.fipecafi.org 1 O IMPACTO DAS RESTRIÇÕES FINANCEIRAS NA PRÁTICA DO

CONSERVADORISMO CONTÁBIL: UM ESTUDO DE 2012 A 2016

WEVERTON EUGENIO COELHO

Universidade Federal de Minas Gerais

EDUARDO MENDES NASCIMENTO

Universidade Federal de Minas Gerais

RESUMO

O conservadorismo condicional é definido como o reconhecimento das más notícias mais rapidamente do que o reconhecimento das boas notícias, ele age no combate a possíveis atitudes oportunistas por parte do gestor, reduz o custo de monitoramento das partes interessadas, e leva a empresa a reconhecer de forma antecipada possíveis perdas. Por outro lado, quando uma empresa pratica o conservadorismo ela pode gerar diferença de retorno futuro e consequentemente ganhos de menor qualidade ou menos sustentáveis, que fazem com que o conservadorismo seja prejudicial na obtenção de recursos de fontes externas no longo prazo. O objetivo desse estudo foi investigar a prática do conservadorismo contábil nas empresas que apresentam restrição financeira e adicional mente nas empresas não restritas financeiramente. Para tanto, utilizou-se da análise de uma amostra composta por empresas com restrições financeiras listadas na Brasil, Bolsa, Balcão (B³), no período de 2012 a 2016. O modelo empírico utilizado foi o de Ball e Shivakumar (2005) que usa a variação do lucro como proxy o que permite identificar o grau de conservadorismo por meio de ganhos e perdas nos resultados contábeis sendo que a estimação foi feita através de Mínimos Quadrados Generalizáveis Factíveis (FGLS). Os critérios para classificação de restrição financeira adotados foram: redução da distribuição de dividendos, alto volume de saldo de caixa e equivalentes de caixa e investimentos (redução de ativos imobilizados). Como resultado encontrou-se indícios que apoiam à conclusão de que o conservadorismo condicional pode ser encontrado em empresas com restrição financeira.

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www.congressousp.fipecafi.org 2 1. INTRODUÇÃO

As informações contábeis tem como objetivo fornecer aos stakeholders subsídios para tomada de decisões, para tanto, devem ser relevantes e fidedignas (Comitê de Pronunciamentos Contábeis, 2011a). Para atender esse objetivo informacional, elas são dotadas de diversas características, sendo uma dessas características, o conservadorismo condicional (Watts, 2003). O conservadorismo condicional é o reconhecimento, nas informações contábeis, das más notícias mais rapidamente do que o reconhecimento das boas notícias (Ball & Shivakumar, 2005; Basu, 1997), ele atua no combate a possíveis atitudes oportunistas do gestor, o que reduz o custo de monitoramento das partes interessadas mas leva a empresa a reconhecer de forma antecipada possíveis perdas, ou seja, induz o reconhecimento assimétrico de notícias boas e más (Watts, 2003).

Além disso, outra característica da informação contábil é fornecer subsídios para análise de uma organização. Através dela é possível verificar: liquidez, solvência, capacidade de investimento, capacidade de pagamento, incluindo possíveis restrições financeiras, dentre outras.

Com relação a restrição financeira, dentre as características que podem uma restrição financeira: pagar menos dividendos por preferir se financiar com retenção de lucros; não pagar dividendos por não possuir fluxo de caixa para paga-los; ter alto volume de caixa retido decorrente da dificuldade de obter financiamento para possíveis imprevistos; adiar ou extinguir os investimento em ativos não circulantes como imobilizado e investimentos, por não possuírem folga financeira ou crédito para fazê-lo, dentre outros (Fazzari, Hubbard, & Petersen, 1987; Almeida, Campello, & Weisbach, 2004; Campello, Graham, & Harvey, 2010). Portanto, quanto as restrições financeiras a literatura não apresenta consenso referente aos elementos que fazem uma empresa ser restrita financeiramente.

A abordagem dessa pesquisa relaciona as restrições financeiras com o conservadorismo contábil. Nesse sentido, as pesquisas anteriores sobre conservadorismo e restrições financeiras assumiram diversos aspectos. Biddle, Ma, e Song (2011) pesquisaram o conservadorismo e sua relação com a falência, já Lee (2012) investigou a relação do conservadorismo com a flexibilidade financeira e o acesso ao capital. Em âmbito nacional Gonzaga e Costa (2009) relacionaram o conservadorismo a política de distribuição de dividendos e Alves e Martinez (2014) analisaram os efeitos do conservadorismo no Brasil após a adesão à International Financial Reporting Standards (IFRS).

No entanto, essas pesquisas trouxeram resultados divergentes quando aos efeitos do conservadorismo e quanto ao benefício do seu uso por empresas com restrição financeiras, fato que motiva o presente estudo na investigação dos efeitos das restrições financeiras na prática do conservadorismo contábil, afim de contribuir com a literatura dessa área de estudo.

Além disso, devido a aprovação da primeira revisão da estrutura conceitual para elaboração e apresentação de relatório contábil financeiro, o conservadorismo (prudência) foi retirada da condição de aspecto de representação fidedigna por ser inconsistente com a neutralidade, pois subavaliações de ativos e superavaliações de passivos geram registros de desempenho posteriores inflados e tornam-se incompatíveis com a informação que deseja ser neutra (Comitê de Pronunciamentos Contábeis, 2011b).

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Portanto, essa pesquisa contribuiu para verificar se as demonstrações foram elaboradas sem esse atributo e de acordo com a norma vigente, indo, portanto, na contramão ao afirmado por Watts (2003) que sugeriu que as pesquisas empíricas mostravam que a contabilidade é conservadora e estava se tornando mais conservadora ao longo dos anos.

Baseado nesse autor, ainda que não constante na estrutura conceitual básica, o conservadorismo deveria estar presente nas demonstrações contábeis, porque ainda que tenha sito retirado das normas contábeis, isso não significa que os teóricos e profissionais de contabilidade passaram a considera-lo desnecessário. Assim, a presente pesquisa avaliou, além dos efeitos da restrição financeira no conservadorismo, se as demonstrações financeiras estão sendo elaboradas de forma conservadora ou não, mesmo após a retirada dessa característica das normas contábeis.

A partir do cenário apresentado, formulou-se a seguinte questão: Que efeitos as restrições financeiras exercem sobre o conservadorismo condicional após a retirada do conservadorismo das características normativas da contabilidade? Estabelece-se assim que o objetivo principal dessa pesquisa avaliar os efeitos da situação de restrição financeira na prática do conservadorismo condicional. Adicionalmente ao objetivo principal o modelo empírico adotado permite a constatação do conservadorismo nas empresas não restritas financeiramente.

Para investigar se a empresa apresenta, em seus números contábeis, indícios de práticas do conservadorismo condicional foi utilizado o modelo de Ball e Shivakumar (2005) e uma adaptação desse modelo feita por Demonier, Almeida, & Bortolon (2015). Para investigar se a empresa está restrita financeiramente ela deveria atender cumulativamente a três critérios traçados pela pesquisa de três autores, são eles: variação positiva do saldo de disponibilidade, variação negativa ou nula de investimento em imobilizados e variação negativa ou nula de distribuição de dividendos (Fazzari et al., 1987; Cleary, 1999; Alves & Martinez, 2014; Demonier et al., 2015).

A amostra foi composta por companhias listadas na Brasil, Bolsa, Balcão (B³) no intervalo dos anos de 2012 a 2016.

Chegou-se à conclusão de que o conservadorismo condicional pode ser encontrado em empresas com restrição financeira, mas dado o período limitado da amostra, a generalização dos resultados é limitada.

2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Restrição Financeira

Segundo Demonier et al. (2015), uma das principais dificuldades do estudo do tema de restrições financeiras é o consenso quanto a quais indicadores devem ser utilizados para a classificação da empresa quanto a restrita financeiramente ou não restrita financeiramente. Sendo assim, essa pesquisa utilizou três critérios para identificar as empresas que apresentam o atributo de restrição financeira. Portanto, para ser considerada restrita financeiramente, a empresa deve atender aos três critérios cumulativamente.

O primeiro critério utilizado refere-se a pesquisa de Fazzari et al. (1987), segundo os autores, que investigaram a relação de investimento, fluxo de caixa e restrição financeira através da política de pagamento de dividendos, empresas que pagam menos dividendos possuem maior grau de restrição financeira, uma vez que os

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administradores preferem se financiar com retenção de lucros, pois a captação externa não será vantajosa.

Além disso, os autores defendem que, muitas vezes, essas empresas não disporiam de fluxos de caixa suficientes para pagar dividendos.

O segundo critério abordado para análise de restrição financeira foi o de Almeida, Campello, e Weisbach (2004) que afirmam que a restrição financeira pode ser identificada por meio do volume de caixa armazenado pela empresa. Para eles, para salvaguardar imprevistos e não ter que recorrer a fontes externas empresas com restrição financeira tendem a manter maiores volumes de valores em caixa.

Essas duas suposições, de que há diminuição do pagamento de dividendos e da alteração no volume de caixa encontram suporte nos resultados do trabalho de Campello, Graham e Harvey (2010) que analisaram as restrições financeiras durante a crise econômica do ano de 2008 em uma amostra de 1.050 diretores financeiros em 39 países. Eles concluíram que empresas com restrições financeiras, comparativamente a empresas não restritas financeiramente, planejavam reduzir seus investimentos em tecnologia, marketing e emprego. Além disso, elas foram forçadas a reduzir as distribuições de dividendos que haviam sido planejados e utilizar uma parcela de suas reservas de caixa, em contraponto às empresas sem restrições, em que esses comportamentos não foram observados.

O terceiro e último critério usado para classificação de restrição financeira é o de Cleary (1999) que diz que empresas menos robustas financeiramente evitam a aplicação dos seus recursos próprios em investimento para manter uma folga financeira e diluir riscos futuros caso haja necessidade de utilização desses recurso que estariam nos investimentos.

Essa suposição foi igualmente confirmada por um dos resultados da pesquisa de Campello et al. (2010), onde encontrou-se que empresas restritas financeiramente, por receio a restrição dos bancos, aceleraram a retirada de fundos de suas linhas de crédito, e venderam ativos para gerar receitas. Além disso, 90% dos da amostra argumentou que a restrição financeira restringiu a busca de investimento e mais da metade alega ter cancelado projetos de investimento.

Corrobora esse resultado a pesquisa de Aldrighi e Bisinha (2010) que concluiu que empresas com situação financeira desfavorável, para assegurar uma folga financeira que lhes permita evitar recorrer a empréstimos (que lhes seriam negados ou teriam o custo muito alto), são obrigadas a adiar investimentos, por conseguinte, seus investimentos apresentam baixa sensibilidade a disponibilidade de caixa.

Conforme observado, a política de pagamento de dividendos e o volume de caixa são critérios mais utilizados como para definição de restrição financeira. Porém, adicionalmente essa pesquisa utilizará o critério de volume de investimentos para identificar e classificar as empresas como restritas financeiramente, (Demonier et al., 2015).

Portanto, diante dos estudos analisados, empresas restritas financeiramente tendem a adotar políticas que visam minimizar o impacto das restrições financeiras, por estarem cientes de que os números contábeis tem capacidade informacional (Ball & Brown, 1968).

No entanto, se analisados individualmente a empresa pode apresentar qualquer um desses critérios (como por exemplo, o não pagamento de dividendos) por outro motivo que não esteja relacionado a restrição financeira. Por essa razão, somente será considerada restrita financeiramente a empresa que incorra nos três critérios adotados simultaneamente (Demonier et al., 2015).

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www.congressousp.fipecafi.org 5 2.2. Conservadorismo contábil

O conservadorismo condicional é o reconhecimento das más notícias mais rapidamente do que o reconhecimento das boas notícias ( Basu, 1997; Ball & Shivakumar, 2005). Nesse sentido, pode-se dizer que quando utilizado, o comportamento de não se antecipar nenhum lucro mas se antecipar todas as perdas (Bliss, 1924). Por conseguinte, quanto maior a diferença entre grau de verificação para reconhecimento de ganhos para o grau de verificação para reconhecimento de perdas, maior é o conservadorismo, ou seja, conservadorismo pode ser definido como o requisito de verificação da assimetria para ganhos e perdas (Watts, 2003).

A subavaliação dos valores patrimoniais é uma das consequências de se tratar assimetricamente os ganhos e as perdas, por isso, recaem diversas críticas sobre o conservadorismo, já que essa subavaliação no período atual pode levar a variações nas demonstrações dos períodos seguintes com a consequente subavaliação das despesas futuras (Watts, 2003).

Watts e Zimmerman (1990) acrescentam que a firma é um conjunto de contratos entre os indivíduos e que nem sempre haverá uma harmonia entre os interesses das partes. Nessas relações contratuais a harmonia desses contratos é desbalanceada devido a assimetria informacional, em que o agente pode se beneficiar das informações privilegiadas ou de sua discricionariedade de gestão por ser o administrador, em detrimento aos interesses do principal (Lopes, 2004).

A medida que propriedade gerencial, ou seja, o controle do negócio pelos detentores do capital diminui aumenta-se o conflito de agencia e aumenta-se a assimetria informacional dela decorrente, consequentemente, a demanda pelo conservadorismo contábil também aumenta, pois o conservadorismo contábil é um mecanismo potencial para se resolver problemas de agência (Lafond & Roychowdhury, 2008). Portanto, a separação entre controle e propriedade dá origem a problemas de agência entre administradores e acionistas assim, para os autores, os acionistas da empresa demandariam pelo conservadorismo contábil, por ele beneficiá-los (Lafond & Roychowdhury, 2008).

Nesse sentido, a pesquisa de Ahmed e Duellman (2007) investigou a relação entre o conservadorismo contábil, diretoria, independência do conselho e força dos incentivos e do monitoramento dos diretos externos, e chegou à conclusão de que dado que os investidores necessitam de informação para o monitoramento dos gestores o conservadorismo contábil atua de forma a reduzir os custos de agencia das empresas. Porém, o autor salienta que existem outros mecanismos capazes de fazer esse controle e maximizar o valor da empresa.

Outros trabalhos estudaram o conservadorismo presente nos números contábeis, os trabalhos em âmbito nacional são apresentados a seguir no Quadro 1 formulado por Guimaraes dos Santos, Franco de Lima, Calheira de Freitas, e Lima (2011), atualizado por Alves e Martinez (2014) e adaptados nessa pesquisa:

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Quadro 1: Pesquisas sobre conservadorismo no Brasil

Autores  Trabalho  Resultados 

F.  M.  Da  Costa,  Lopes  e  Costa  (2006) 

Analisou  o  grau  de  assimetria  de  reconhecimento  de  boas  e  más  notícias  utilizando‐se  do  modelo  de  Basu  (1997)  em  empresas  argentinas,  brasileiras,  colombianas,  peruanas e venezuelanas, de dezembro de 1995  a dezembro de 2001 

Constatou‐se,  empiricamente,  que  um  dos  conceitos mais tradicionais da Contabilidade –  Conservadorismo  –  está  presente  no  processo  de  reconhecimento  do  retorno  econômico  pelo  lucro  contábil  nos  países  estudados,  membros de uma mesma região 

Antunes  (2007) 

Utilizando o modelo de Basu (1997) Investigou as  diferenças  na  qualidade  da  informação  contábil  existente  entre  as  empresas  brasileiras  que  efetivamente  aderiram  aos  Níveis  Diferenciados  de  Governança  da  Bovespa  e  as  demais  empresas listadas de 1996 a 2006.  

Rejeitou‐se  a  hipótese  que  após  a  adesão,  as  empresas  dos  NDGB  apresentaram  maiores  métricas de conservadorismo contábil. 

Coelho  (2007) 

Investigou  o  conservadorismo  condicional  nos  números  contábeis  de  amostra  de  110  Companhias  de  Capital  Aberto  e  de  2.700  Companhias  de Capital  Fechado,  n  o  período  de  1995 a 2004. Utilizou o modelo de Basu (1997) e  Ball e Shivakumar (2005) 

A  principal  conclusão  do  estudo  foi  que  o  atributo  de  conservadorismo  condicional  na  apuração  dos  lucros  divulgados  –  definido  como  a  antecipação  tempestiva  do  registro  contábil de perdas econômicas estimadas pela  presença  de  sinalização  atual  de  mau  desempenho da firma – não é praticado pelas  sociedades por ações brasileiras.  

Coelho  e  Lima  (2008) 

Estuda  prática  do  conservadorismo  na  apuração  do lucro em companhias de capital fechado e de  capital  aberto  brasileiras.  O  modelo  utilizado  foi  o  Basu  (1997)  e  Ball  e  Shivakumar  (2005)  e  as  informações  foram  referentes  a  2.833  firmas  no  período de 1995 a 2004. 

Os  resultados  concluíram  que  os  estímulos  referentes  à  listagem  no  mercado  americano  não  são  suficientes  para  induzir  gestores  à  adoção  de  práticas  conservadoras  de  divulgação de resultados.   Paulo,  Antunes,  e  Formigoni  (2008) 

Analisou  conservadorismo  contábil  nas  companhias  abertas  e  fechadas  brasileiras.  A  amostra  foi  composta  por  770  observações  referentes  a  companhias  fechadas  e  614  a  companhias abertas no período de 2000 a 2004 e  utilizou‐se o modelo de Ball e Shivakumar (2005) 

Os  resultados  evidenciaram  que  as  companhias  fechadas  evidenciam  menor  probabilidade  de  reconhecimento  oportuno  das perdas e, por isso, possuem menor grau de  conservadorismo que as companhias abertas.   R.  A.  Costa,  Nossa,  Baptista  e  Teixeira,  (2008) 

Investigou  o  grau  de  conservadorismo  nas  empresas  brasileiras  com  ações  negociadas  na  Bolsa  de  Valores  de  São  Paulo  no  período  de  1996 a 2006. Utilizou o modelo de Basu (1997) e  Ball e Shivakumar (2005).  Os resultados obtidos não apresentam indícios  de que as empresas de setores mais regulados  apresentaram maior nível de conservadorismo.  Gonzaga e  Costa  (2009) 

Relação  do  conservadorismo  contábil  com  os  conflitos  sobre  as  políticas  de  dividendos  nas  companhias  abertas  listadas  na  Bovespa  no  período  de  1995  a  2006.  Utilizou  como  proxies  para  conservadorismo  contábil  a  medida  baseada em accruals utilizada por Givoly e Hayn  (2000)  e  a  baseada  no  book‐to‐market  proposta  por Beaver e Ryan (2000) 

Apresentaram  resultados  que  indicam  a  existência da relação entre o conservadorismo  contábil  e  os  conflitos  sobre  as  políticas  de  dividendos  entre  acionistas  nas  empresas  pesquisadas.  

Santos  e  Calixto  (2010) 

Analisou  o  conservadorismo  contábil  brasileiro  das  empresas  listadas  na  Bovespa.  Aplicou‐se  o  inverso  do  Índice  de  Conservadorismo  de  Gray  (1980, 1988) no ano de 2007‐2008. 

Foram verificados resultados pela nova norma,  em média superiores aos apurados pela norma  anterior,  confirmando  o  conservadorismo  contábil brasileiro previsto por Gray. 

Brito,  Lopes  e  Coelho  (2012) 

Investigou  a  presença  de  conservadorismo  condicional  nos  lucros  reportados  por  260  bancos  abrangendo  o  período  de  1997  a  2010.  Utilizando  o  modelo  de  Basu  (1997)  e  Ball  e  Shivakumar  (2005,  2006)  sendo  que  os  coeficientes  dos  modelos  foram  estimados  pelo  método GMM Sistêmico.  Os resultados apresentaram que os lucros  contábeis reproduzidos pelos bancos estatais  apresentam maior nível de conservadorismo  condicional do que os lucros contábeis  reportados pelos bancos privados.  

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Decerto, o conservadorismo é um conceito amplamente discutido e estudado na contabilidade, que desperta opiniões antagônicas quanto ao benefício do seu uso. Alguns autores defendem que ele minimiza a assimetria informacional e os conflitos de interesse entre os stakeholders por conseguinte é um importante atributo para a gestão da entidade (Iudícibus, 2009; Watts, 2003). Todavia, alguns autores defendem que ele conflita com o objetivo da informação relevante, consistente e interfere na comparabilidade, devendo portanto ser evitado (Hendriksen & Breda, 1999; Comitê de Pronunciamentos Contábeis, 2011a).

Enfim, espera-se testar se há indícios do uso do conservadorismo contábil na amostra analisada. A seguir apresentaremos a relação entre o conservadorismo e a restrição financeira.

2.3. Conservadorismo e restrições financeiras

O conservadorismo contábil está presente nas demonstrações contábeis e nas práticas contábeis (Ribeiro dos Santos & Moraes da Costa, 2008). Ele representa uma garantia mínima na percepção de risco por parte do credor, através da redução da probabilidade de que os recursos serão distribuídos de forma incorreta para os agentes (Paulo, 2007; Demonier et al., 2015;). Esse panorama é baseada na seguinte premissa: ao reconhecer as perdas de forma mais rápida os resultados são menos otimistas, consequentemente os credores estariam em um ambiente de menor incerteza, uma vez que no conservadorismo as práticas contábeis são mais exigentes com o nível de verificação das boas notícias (Paulo, 2007; Demonier et al., 2015).

Nesse cenário, e segundo Li (2015), o conservadorismo contribui para a redução do custo de captação de recursos de terceiros nos países em que os acordos contábeis são amplamente utilizados. Consequentemente contribui com a diminuição da restrição financeira, já que empresas com restrição financeira teriam maior dificuldade de acesso aos recursos de terceiros (Li, 2015) a custos baixos.

Assim, o conservadorismo contábil ao minimizar a assimetria informacional e o problema de agencia contribui e se relaciona com a redução das restrições financeiras pois facilitaria o acesso ao crédito por parte da entidade, de tal forma que empresas com restrição financeira tenderiam a adotar o conservadorismo.

A pesquisa de Biddle et al. (2011) ao analisar uma amostra de 4.621 empresas listadas nas bolsas de NYSE, AMEX e NASDAQ para os anos fiscais de 1989 a 2007 apresentou evidências de que: O conservadorismo condicional diminui o risco de falência subsequente através de suas propriedades de informação e aumento de caixa; e, o risco de falência está associado negativamente ao conservadorismo condicional subsequente. Ou seja, os resultados sugerem que o conservadorismo contábil é influenciado pelo risco de falência e vice-versa.

Entretanto o estudo de Lee (2012) investigou se o conservadorismo das demonstrações financeiras estava relacionado à flexibilidade financeira das empresas e ao seu acesso ao capital. Para tanto, o autor utilizou-se de duas premissas, a primeira enunciou que “Se o conservadorismo facilitar o monitoramento e a governança pelos fornecedores de capital, eles deveriam estar mais dispostos a ampliar o financiamento e aumentar o acesso das empresas ao capital” (Lee, 2011, p. 1). A segunda, em contraponto a primeira enunciava que: “porque o conservadorismo leva a uma subavaliação sistemática do patrimônio líquido e enfraquece a consistência do balanço das empresas, também poderia reduzir o acesso das empresas ao capital” (Lee, 2011, p.

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1) Dessa forma, o estudo testou essas duas visões antagônicas sobre a ligação entre o conservadorismo e a restrição financeira das empresas:

Os resultados indicam que as empresas com maior conservadorismo nos relatórios financeiros exibem menos flexibilidade na: gestão de liquidez corporativa; em suas decisões de emissão de dívida ou em ações; na sensibilidade de seus investimentos nas restrições de financiamento e em suas políticas de pagamento. No geral, os resultados sugerem que, embora as empresas tenham menor custo de contratação de dívidas, informando de forma conservadora, renunciam a alguma flexibilidade no acesso futuro ao capital e isso afeta suas decisões financeiras (Lee, 2011, p. 1).

A essas mesmas conclusões chegaram Penman & Zhang (2002) que concluíram que quando uma empresa pratica o conservadorismo ela gera diferença de retorno futuro e consequentemente ganhos de menores qualidades ou menos sustentáveis, o que faria com que o conservadorismo fosse prejudicial na obtenção de recursos de fontes externas no longo prazo. Em virtude do exposto, será testada a seguinte hipótese de pesquisa: H1: Empresas classificadas com restrições financeiras não adotam o conservadorismo condicional.

Em suma, embora diminua o risco de falência o conservadorismo condicional dificulta o acesso ao capital a longo prazo. Assim, com o intuído de analisar a relação do conservadorismo condicional com a restrição financeira, foram analisadas 266 empresas que geraram uma amostra de 1330 observações, conforme metodologicamente demonstrado a seguir.

3. METODOLOGIA

A pesquisa adotou abordagem quantitativa, ou seja, preocupou-se com o comportamento geral dos acontecimentos caracterizando-se pelo empregos de instrumentos estatísticos tanto no tratamento dos dados quanto na colega de informações (Raupp & Beuren, 2003). A amostra é composta de empresas listadas na Brasil, Bolsa, Balcão (B³), no período de 2012 a 2016. A seleção dessa amostra de carácter intencional se fará devido a obrigatoriedade de publicação das informações que serão necessárias para essa pesquisa, as quais as companhias citadas estão sujeitas a divulgar publicamente.

Ainda com relação a amostra serão eliminadas as empresas financeiras, pelas características específicas dessas instituições, que tem regulamentação própria, assim como serão eliminadas as empresas que não apresentarem dados completos para todo o período de análise. Os indicadores necessários, foram coletados do Economática®.

A pesquisa adotou abordagem positiva da contabilidade, apoiada em método indutivo procurou estabelecer hipóteses a serem testadas com base em métodos estatísticos para se chegar a conclusões e assim entender e prever comportamentos (Iudícibus, 2009). Complementando Watts e Zimmerman (1990) trazem que a abordagem positiva da contabilidade pode prover informações acerca das políticas contábeis de forma que os stakeholders possam utilizá-las para a tomada de decisões.

Por fim, se investigou a prática de conservadorismo através do modelo de Ball e Shivakumar (2005), e desse modelo adaptado por Demonier et al. (2015).

3.1. Critérios de restrição financeira

Para se classificar as empresas como restritas financeiramente os três critérios presentes na revisão de literatura foram utilizados. A fundamentação teórica do uso foi

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apresentada na revisão de literatura, restando a apresentação da equação correspondente a cada um deles, conforme é apresentado na Tabela 1:

Tabela 1: Critérios de identificação de empresas com restrições financeiras

Critérios  Fundamentações e Equações   Variação  positiva do  saldo de  disponibilida de     

Empresas  que  apresentam  um  alto  grau  de  restrições  financeiras  tendem  a  armazenar  maiores  valores em caixa no intuito de se resguardarem de possíveis imprevistos, uma vez que, caso haja a  necessidade de caixa, tomar recursos de fontes externas seria mais oneroso (Almeida et al., 2004).          Variação  negativa ou  nula de  investiment o em  imobilizados      A empresa com restrição financeira evita fazer investimentos com recursos próprios, para, em caso  de necessidade, não ser obrigada a arcar com altos custos de capital (Cleary, 1999).            Variação  negativa ou  nula de  distribuição  de  dividendos     

Empresas  com  restrições  tendem  a  reter  uma  fatia  maior  do  lucro,  com  o  intuito  de  cobrirem  possíveis  imprevistos,  uma  vez  que,  para  essas  empresas,  o  custo  do  capital  próprio  é  menor  do  que o custo do capital externo (Fazzari et al., 1987). 

 

 

  Fonte: Adaptado de Demonier et al., (2015)

Assim a empresa analisada se apresentará com restrição financeira se atender, simultaneamente aos três critérios propostos. A eficiência e a sensibilidade dos critérios de restrições financeiras foram testados por Demonier et al. (2015) em uma amostra de controle composta pelas empresas falimentares registradas da Comissão de Valores Mobiliários – CVM, assim, que ele é considerado robusto por apresentar um índice de 75% de acerto.

3.3. Modelo empírico de Conservadorismo

Para investigar se a empresa apresenta, em seus números contábeis, indícios de práticas do conservadorismo condicional foi utilizado o modelo de Ball e Shivakumar (2005), que pode ser utilizado ao contexto das companhias abertas.

Devido à presença do conservadorismo nos números contábeis, há uma tendência de maior persistência dos ganhos do que das perdas. O conservadorismo faz, portanto, com que as acumulações (accruals) sejam assimétricas, visto que as perdas tendem a ser totalmente reconhecidas, ao passo que o mesmo não ocorre com os ganhos. Dessa forma, o período de competência tende a apresentar menor lucro ou evidenciar menor ativo líquido em decorrência da diminuição dos accruals positivos cumulativos (Paulo et al., 2008, p.51).

Segundo Alves e Martinez (2014) o modelo de Ball e Shivakumar (2005), usa a variação do lucro como variável, o que permite identificar o grau de conservadorismo por meio de ganhos e perdas nos resultados contábeis, ele é representado da seguinte forma:

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Onde:

representa a variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t ponderada pelo valor do ativo total no início do ano t; representa a variação no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-2 para o ano t-1 ponderada pelo valor do ativo total no início do ano t-1; representa uma variável dummy para indicar se existe variação negativa no lucro líquido contábil da empresa i do ano t-1 para o ano t, assumindo valor 1 se < 0, e 0 nos demais casos; e, é o termo de erro da regressão (Paulo et al., 2008; Ball & Shivakumar, 2005).

Segundo Paulo et al. (2008), a utilização da variável Lucro Líquido como variável explicada fornece a adequada especificação para se identificar componentes transitórios do resultado. Espera-se assim, conforme Tabela 2:

Tabela 2: Predição dos betas do modelo e sinal esperado

Coeficientes  Predição 

  No  caso  de  reconhecimento  oportunístico  dos  ganhos,  tornando‐os  componentes transitórios dos resultados que serão revertidos posteriormente    No  caso  de  diferimento  do  reconhecimento  dos  ganhos,  até  o  momento  de 

realização  do  seu  fluxo  de  caixa,  tornando‐os  componentes  persistentes  do  lucro contábil 

  No caso de reconhecimentos mais oportuno das perdas do que dos ganhos    No  caso  de  reconhecimento  oportunístico  das  perdas  que  resulta  em 

decréscimos  transitórios  do  resultado  e,  consequentemente,  devem  ser  revertidas nos períodos seguintes 

  Não existe predição para os coeficientes

Fonte: Paulo et al., (2008) e Ball & Shivakumar, (2005).

Esse modelo foi posteriormente adaptado pelos próprios autores, que incluíram uma variável Dummy para captar o comportamento do conservadorismo entre companhia abertas e fechadas.

Demonier et al. (2015), substituiu a Dummy de companhias fechadas de abertas, por uma Dummy de restrição financeira, assim o modelo apresentou a seguinte forma:

(2)

Onde:

Tabela 3: Variáveis do Modelo adaptado de Ball e Shivakumar (2005)

Variável  Conceito

  Variação do lucro líquido contábil da empresa i do ano t‐1 para todo t escalonado pelo  ativo total da empresa i no início do ano t 

  Variação do lucro líquido contábil da empresa i do ano t‐2 para todo t‐1 deflacionado  pelo ativo total da empresa i no início do ano t‐1 

  Variável  Dummy  assumindo  valor  1  para  as  variações  negativas  do  lucro  líquido  contábil da empresa i no ano t‐1, e 0 para as demais variações do lucro líquido contábil  da empresa i no ano t‐1 

  Variável  Dummy  considerando  1  para  empresa  i do  ano  t em  condição  de  restrições  financeiras e 0 para as demais empresas 

(11)

www.congressousp.fipecafi.org 11 Fonte: Adaptado de Demonier et al., (2015)

Por fim, Demonier et al. (2015) além de incluir a Dummy de restrição financeira, adicionaram três variáveis de controle: Tamanho (TAM), Endividamento (ENDIV) e Oportunidade de crescimento (CRESC), sendo tamanho o logaritmo natural do ativo, endividamento a dívida total dividia pelo ativo total e a Oportunidade de Crescimento a razão da variação da receita líquida em t e t-1 pela receita líquida em t-1:

Onde além das variáveis já citadas incluem-se: que representa as variáveis de controle: Tamanho, Crescimento e Endividamento; e, que representa as variáveis Dummy para cada ano. Ainda segundo os autores, e considerado a hipótese de pesquisa, espera-se que o coeficiente , seja estatisticamente significativo, e apresente sinal positivo para que se confirme a hipótese de que quando há restrição financeira o atributo do conservadorismo não aparece nas demonstrações financeiras.

Esse trabalho utilizou para responder a hipótese de pesquisa as equações (1) e (2) sendo que as análises estatísticas foram feitas a um nível de significância de 5%.

4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Estatística Descritiva

Os dados foram coletados no bando de dados Economatrica® em junho de 2017

referente as empresas listadas na B³ no período de 2012 a 2016, conforme proposto na metodologia. Inicialmente foram excluídas dessa amostra as empresas financeiras, por apresentarem particularidades distintas e regulamentação específica diferente das demais. Portanto, foram coletadas 314 empresas, sendo que uma foi eliminada por ser considerada um outlier resultando em 313 empresas. As regressões propostas foram geradas utilizando-se o software Stata 12. A estatística descritiva das empresas analisadas é apresentada no Gráfico 1:

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Gráfico 1: Composição da Amostra

Fonte: Dados da Pesquisa

Observa-se no Gráfico 1, um aumento de empresas restritas financeiramente de 2012 a 2016 na ordem de 15%. Conforme já mencionado, o critério triplo de restrição financeira foi testado em uma amostra de controle, composta pelas empresas falimentares da B³ resultando em um grau de acerto de 75%, assim, considera-se que o critério de classificação das empresas que apresentam restrição financeira é eficiente de (Demonier et al., 2015).

A estatística descritiva das variáveis empregadas nesse estudo contendo número de observações, média, mínimo, máximo e desvio padrão é apresentada na Tabela 4:

Tabela 3: Estatística descritiva das variáveis

Variável Obs. Media Desvio P. Min Max

1481 0,0180232 0,77416 -11,74669 16,91393 1483 0,5124747 0,500013 0 1 1449 0,221201 8,269117 -11,74669 313,5807 1483 -0,0550974 0,3625203 -11,74669 0 1483 0,1436278 0,3508302 0 1 1483 0,0971005 0,2961944 0 1 1483 0,0057195 0,5157088 -4,452459 16,91393 1483 -0,0164023 0,1667446 -4,452459 0

Fonte: Dados da pesquisa

A estatística descritiva presente na Tabela 4 mostra que foram utilizadas quinze variáveis. Foram geradas regressões do tipo dados em painel para se estimar os modelos propostos, conforme apresentado a seguir.

4.2. Resultado do Modelo Ball e Shivakumar original

O procedimento metodológico requer que seja realizada regressão em painel para se chegar aos resultados. Portanto, inicialmente foi realizada a regressão do modelo de Ball e Shivakumar tradicional. O resultado do teste de Chow assim como do teste de

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Breush-Pagan ao nível de significância de 5% não rejeitaram a hipótese nula, o que demonstra que o modelo tradicional deve ser estimado por Pooled. Com relação as demais validações o modelo apresenta baixa multicolinearidade (VIF 1.02) e a média do erro é zero (5.01e-10).

Porém, o teste Doornik-Hansen (p-valor 0,00) rejeitou a hipótese nula de normalidade dos resíduos, porém segundo o teorema do limite central, os estimadores satisfazem a normalidade assintótica, ou seja, em amostras grandes eles aproximadamente tem distribuição normal, e essa amostra tem 1.447 observações (Wooldridge, 2002). Do mesmo modo, o teste Reset de Ransey apresentou a rejeição da hipótese nula (p-valor 0,00), porém, por não ser possível determinar todas as variáveis que influenciam o conservadorismo, esse pressuposto é relaxado e o modelo torna-se passível de ser analisado.

Com relação a presença de autocorrelação, no teste de Wooldridge, a hipótese nula não foi rejeitada (Prob>F = 0.0534), assim não há indícios de autocorrelação. Referente a heterocedasticidade Breush-Pagan / Cook-Weisberg mostrou que há o problema da heterocedasticidade (prob Chi2 0,00), ou seja, os resíduos não têm variância constante. Assim, para estimar o modelo corrigindo o problema da heterocedasticidade utilizou-se a estimação com os erros robustos de White. O resultado dessa estimação é apresentado na Tabela 5:

Tabela 5: Modelo Ball e Shivakumar

Variável Modelo (1)

Coeficiente Erro Padrão

-0,0477266** 0,0231801 0,0939331* 0,0383924

-0,0023877 0,00309 -0,3410841 0,2507666 R-Sq Overall 3,35%

Fonte: Dados da pesquisa.

***Significante a 1% ** Significante a 5%. *Significante a 10%

A análise da Tabela 5, para o coeficiente considerando o nível de significância adotado, demonstra que ele não é estatisticamente diferente de zero. Assim, conforme predito os resultados positivos se tornam componentes persistentes do lucro e não são revertidos nos períodos subsequentes. A pesquisa de Demonier et al., (2015) também não encontrou significância no coeficiente .

Do mesmo modo, o coeficiente não é estatisticamente diferente de zero, portanto, considerando modelo de Ball e Shivakumar original há evidências estatística para inferir que não existe o comportamento de se antecipar lucros, porém não há evidencias estatísticas para se afirmar que se antecipam as perdas. Assim, não podemos concluir, através desse modelo que há evidencias empíricas de que ocorre o reconhecimento mais oportuno das perdas do que dos ganhos (Bliss, 1924).

4.3. Resultado do Modelo Ball e Shivakumar adaptado

Para o modelo de Ball e Shivakumar adaptado foi realizado o teste de Chow, o teste Breush-Pagam e o teste de Hausman. O resultado do teste de Chow para escolher entre a estimação por Pooled e a estimação por Efeitos Fixos traz evidências estatísticas para se rejeitar a hipótese nula (F=1,49, p-valor 0,00), o que significa dizer que deve-se

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utilizar a estimação de Efeitos Fixos em detrimento a estimação por Pooled. O teste utilizado para verificar se a estimação de Efeitos Aleatórios é preferível a estimação por Pooled foi o teste de Breush-Pagan. Concluiu-se ao nível de significância de 5% que não há evidencias estatísticas para se rejeitar a hipótese nula, logo a estimação Pooled é preferível a estimação de Efeitos Aleatórios. Por fim, utilizou-se o teste de Hausman para se escolher entre a estimação de Efeitos Fixos e a estimação por Efeitos Aleatórios. O teste de Hausman indicou que deve rejeita-se a hipótese nula (prob>chi=0,00) de que o teste de efeitos aleatórios é preferível ao teste de efeitos fixos. Diante do exposto, a estimação mais adequada e que foi utilizado foi a estimação por Efeitos Fixos.

Após a estimação do modelo é necessário validá-lo, para o teste do fator de inflação da variância o modelo apresentou multicolinearidade baixa (VIF=1,81), além disso a média do erro é zero (-1,34e-9) (. Referente a normalidade dos resíduos e a forma funcional adota-se os pressuposto já mencionado para análise do modelo original. Para testar a correlação foi utilizado o teste Wooldridge, cuja hipótese nula é que há autocorrelação entre as variáveis do modelo. Ao nível de significância de 5% (p-valor prob F = 0,0983) há evidência para não se rejeitar H0, ou seja, o modelo não apresenta o

problema da autocorrelação. Para testar e heterocedasticidade foi utilizado o teste de Wald modificado e rejeitou-se a hipótese nula (prob>chi2 = 0.00), o que demonstra indícios da presença de heterocedasticidade.

Para corrigir o problema da heterocedasticidade foi utilizado o Método de Mínimos Quadrados Generalizados Factíveis (FGLS) e o resultado dessa regressão é apresentado na Tabela 6:

Tabela 6: Resultado do Modelo de Ball e Shivakumar Modificado

Variável Modelo (2)

Coeficiente Erro Padrão

0,0010609 0,0008679 -0,0058431*** 0,0012479 -0,1401681*** 0,029892 -0,1623928*** 0,0547559 -0,0110749*** 0,0029698 0,0019539 0,0039884 -0,385415*** 0,1123018 -0,269006* 0,1473796 Observações 1447

Fonte: Dados da pesquisa.

***Significante a 1% ** Significante a 5%. *Significante a 10%

Com o Modelo de Ball e Shivakumar modificado, pode-se ter o resultado do conservadorismo contábil tanto nas empresas restritas financeiramente quanto nas não restritas. Isso se deve ao fato de que esse modelo insere Dummies que analisam a presença do conservadorismo nas empresas restritas financeiramente.

Em relação as empresas em geral encontramos que o coeficiente não é estatisticamente igual a zero. Isso significa que ocorre o reconhecimento oportuno dos ganhos, tornando-os componentes transitórios dos resultado que serão revertidos posteriormente. Além disso a análise dos coeficientes demonstra que há o reconhecimento mais oportuno das perdas do que dos ganhos. Por fim, o somatório dos coeficientes e demonstram que o reconhecimento oportuno das perdas geram decréscimos nos resultados que são revertidos posteriormente. Assim no modelo de Ball

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e Shivakumar modificado indicou a presença do conservadorismo quando se analisa todas as empresas como um todo.

Com relação a análise das empresas classificadas com restrição financeira ela é feita através do coeficiente ( ) que evidencia a prática do

conservadorismo nessas empresas. Era esperado que o coeficiente fosse estatisticamente significativo e apresentasse sinal positivo. Porém, o coeficiente foi estatisticamente significativo e negativo. Assim, rejeita-se a hipótese nula adotada nessa pesquisa de que empresas restritas financeiramente não adotam o conservadorismo condicional. Esses resultados vão na contramão do que o encontrado por Demonier et al. (2015).

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Essa pesquisa buscou averiguar o conservadorismo condicional em especial nas empresas que apresentam restrição financeira. A amostra foi composta de 314 empresas listadas na Brasil, Bolsa, Balcão (B³), no período de 2012 a 2016. Foi adotado um critério triplo para se determinar a restrição financeira: variação positiva do saldo de disponibilidade, variação negativa ou nula de investimento em imobilizados e variação negativa ou nula de distribuição de dividendos (Alves & Martinez, 2014; Cleary, 1999; Fazzari et al., 1987). Para avaliar o conservadorismo condicional, utilizou-se do modelo de Ball e Shivakumar (2005), e esse modelo adaptado por Demonier et al. (2015).

Utilizando-se o de Ball e Shivakumar (2005) original não há, na nossa amostra, suporte estatístico para se afirmar ou negar o uso do conservadorismo condicional. Se utilizarmos o modelo de Ball e Shivakumar (2005) adaptado, quando se analisa as empresas como um todo constatamos a presença do conservadorismo condicional.

Do mesmo modo, no modelo adaptado, quando se analisa as empresas restritas financeiramente, há indícios para rejeitar a hipótese nula adotada nessa pesquisa de que empresas restritas financeiramente não adotam o conservadorismo condicional.

A utilização do conservadorismo condicional em empresas com restrições financeiras poderia ser explicado levando-se em consideração o proposto nas pesquisas de Li, (2015) e Biddle et al. (2011) que afirmam que o conservadorismo contábil contribui para essas empresas, pois além de diminuir a restrição financeira, reduz o risco de falência etc. No entanto, esses resultados vão de encontro aos resultados encontrados pelas pesquisas de Lee (2012) e Penman & Zhang (2002) que consideram, dentre outros motivos, que o conservadorismo prejudica a obtenção de recursos nas empresas com restrição financeira por gerarem ganhos de menor qualidade a longo prazo, sendo assim, empresas restritas financeiramente não deveriam adota-lo.

Porém, há indício que corroboram a afirmação de Watts (2003) de que a contabilidade continua conservadora, pois para empresas como um todo foi encontrado evidencias do conservadorismo contábil. Assim é possível inferir que mesmo depois da retirada do conservadorismo das características da informação contábil ele não deixou de estar presente nas demonstrações financeiras, possivelmente porque teóricos e contadores consideram-no como importante na elaboração das demonstrações financeiras.

Em síntese, esse estudo contribuiu para a literatura sobre o tema, e inovou a analisar um período temporal que incluída normativamente a retirada do conservadorismo da estrutural conceitual da contabilidade, porém seus resultados devem ser interpretados com limitações. Uma limitação importante trata-se da amostra, pois levando-se em conta o modelo econométrico adotado, a amostra utilizada de 2012 a 2016 é escassa e deve ser ampliada para se obter resultados mais robustos. Sugere-se

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assim, para pesquisas futuras a ampliação da base, a adoção de outro modelo de conservadorismo ou de outro critério de restrição financeira para comparação dos resultados obtidos.

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Referências

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