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Mecanismos e estratégias para a implementação de arquiteturas de interoperabilidade de governo eletrônico: o caso e-ping no Brasil

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Mecanismos e estratégias para a implementação de arquiteturas de

interoperabilidade de governo eletrônico: o caso e-PING no Brasil

Ernani Marques dos Santos

Introdução

O maior desafio para a implementação de governo eletrônico consiste em modernizar e integrar sistemas e tecnologias fragmentados para formar uma infra-estrutura capaz de dar suporte para a melhoria na prestação de serviços que seja notada pelos cidadãos, como por exemplo, a redução ou eliminação da necessidade de acessar múltiplos órgãos do governo a fim de obter um serviço (CIBORRA e NAVARRA, 2003). Para que esta integração seja alcançada de forma mais fácil, uma das alternativas possíveis é a adoção de padrões.

Para Santos (2010),

“... a padronização pode trazer inúmeros benefícios para a administração pública, tais como melhoria do gerenciamento dos dados, contribuição para a infra-estrutura de informação, expansão dos contextos de ação dos programas de políticas públicas, melhoria da prestação de contas e promoção da coordenação de programas e serviços, entre outros”.

A interoperabilidade - habilidade de dois ou mais sistemas de interagir e de intercambiar dados de acordo com um método definido, de forma a obter os resultados esperados - é um ponto considerado crítico nas questões de governo eletrônico, principalmente para os países em desenvolvimento que se comprometeram em atingir as Metas de Desenvolvimento do Milênio (Millennium Development Goals

- MDGs) em 2015. A melhoria da eficiência e da efetividade do governo juntamente com a prestação

dos serviços públicos básicos para todos os cidadãos são componentes essenciais para atingir tais metas. Vários países têm desenvolvido seus projetos e definido suas estratégias de governo eletrônico e estão trabalhando nas suas implementações. Entretanto, esses investimentos em tecnologias não levam automaticamente a serviços eletrônicos mais efetivos. Em alguns casos, terminam reforçando antigas barreiras que tem obstruído o acesso aos serviços públicos ao longo do tempo (SANTOS, 2010).

Disponibilizar um único ponto de acesso de serviços para cidadãos e empresários requer interoperabilidade uma vez que os serviços de governo são diversos e prestados por diferentes órgãos. Mas aumentar a facilidade com que as informações são compartilhadas entre órgãos individuais resulta em melhores e/ou novos serviços. Ao compartilhar processos administrativos, todos, tanto do setor público como privado, poderiam alcançar um significativo aumento de eficiência e reduzir os custos de operação. A interoperabilidade é essencial para esse agrupamento da administração pública, para compartilhar e reusar informações administrativas e disponibilizar serviços e informações através de múltiplos canais. Ela é um requisito fundamental tanto na perspectiva técnica como econômica para o desenvolvimento de serviços de governo eletrônico eficientes e efetivos (SANTOS, 2010).

Para Santos, Corte e Motta (2007), "... a interoperabilidade de tecnologia, processos, informação e dados é condição vital para o provimento de serviços de qualidade, tornando-se premissa para governos

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Estes autores ainda argumentam que a interoperabilidade possibilita a racionalização de investimentos em Tecnologias da Informação (TI), visto que esta funciona como elemento facilitador do compartilhamento, reuso e intercâmbio de recursos tecnológicos. Nesse sentido, a definição e adoção de padrões de interoperabilidade para governo eletrônico têm se estabelecido como instrumento estratégico para suportar e impulsionar a integração envolvendo estruturas e processos dentro da administração pública (KNIGHT e FERNANDES, 2006).

Entretanto, embora seja reconhecida a contribuição da interoperabilidade para o estabelecimento de serviços de governo eletrônico efetivos, e também seja percebida a necessidade de adoção de padrões para sua implementação, sua concretização não ocorre facilmente, pois vários fatores podem atuar como condicionantes desse processo, como por exemplo, tecnologias incompatíveis, interesses particulares de cada órgão, padrões profissionais dominantes, influências externas sobre os decisores e nível de poder de decisão do órgão. É necessário, deste modo, usar deliberadamente mecanismos e estratégias para direcionamento deste processo.

A partir deste contexto, o objetivo deste trabalho é identificar e discutir os mecanismos e estratégias adotadas para o desenvolvimento e implementação de padrões de interoperabilidade no ambiente de governo eletrônico, a partir de um estudo de caso sobre a arquitetura e-PING – Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico, um conjunto de especificações que vem sendo desenvolvido pelo Governo Federal Brasileiro desde 2003.

Interoperabilidade e arquiteturas de interoperabilidade

De uma forma simplificada, podemos definir interoperabilidade como a habilidade de dois ou mais sistemas de interagir e de intercambiar dados de acordo com um método definido, de forma a obter os resultados esperados (SANTOS, 2010). Em outras palavras, é a habilidade de dois ou mais sistemas ou componentes para trocar informações em uma rede heterogênea e usar estas informações (IEEE, 2000). A partir destes conceitos, pode-se entender de uma forma ampla a interoperabilidade para governo eletrônico como a habilidade do governo e sociedade trabalharem juntos. Do ponto de vista técnico, é a habilidade de dois ou mais sistemas ou componentes de tecnologias de informação e comunicação governamentais de trocar informações de forma transparente e de usar as informações trocadas.

No entanto, a interoperabilidade não significa somente a colaboração entre órgãos para simplificar transações com cidadãos ou melhorar o relacionamento com empresas. Objetiva-se também a oportunidade de criar processos mais eficientes e assim diminuir os custos administrativos, e também evitar redundância de dados entre os diversos sistemas usados (REALINI, 2004).

A interoperabilidade não se limita a uma simples conexão entre diferentes computadores em redes com ou sem fios para a transferência de dados. É também a capacidade de compartilhar esses dados transferidos, assim também como informação e conhecimento entre diferentes áreas, envolvendo interações máquina-máquina, homem-máquina e humanas. Além disto, abrange a reorganização de processos de trabalho, compatibilidade de significados e compartilhamentos de informação a fim de possibilitar a prestação dos serviços eletrônicos de forma transparente para os usuários (COMMISSION OF THE EUROPEAN COMMUNITIES, 2004).

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Desta forma,

“... para se alcançar a interoperabilidade, é necessário haver um desejo de transformação e de cooperação de vários órgãos do governo. A menos que o compromisso de conseguir a interoperabilidade seja demonstrado pelos níveis superiores, um excesso de políticas e interesses corporativos burocráticos e minuciosamente construídos sempre pode ser usado para desafiar os esforços de fazer a interoperabilidade acontecer” (SANTOS, 2010).

Para Landsbergen e Wolken (2001), a interoperabilidade pode trazer diversos benefícios, como por exemplo, maior efetividade (interconexão em vez de soluções isoladas), eficiência (redução dos custos de transação e aumento da participação dos agentes envolvidos), e responsividade (melhor acesso a mais informações, possibilitando a resolução mais rápida dos problemas). Goldkuhl (2008) argumenta que a interoperabilidade é talvez o mais importante fator do governo eletrônico, visto que o estabelecimento de soluções avançadas com serviços eletrônicos integrados e ponto único de acesso a estes serviços e informações, implica em altas demandas de interoperabilidade.

Uma das formas de se implementar a interoperabilidade em governo eletrônico é a definição de uma arquitetura de interoperabilidade - um conjunto de padrões e diretrizes que um governo usa para especificar diretrizes e padrões para que seus órgãos, cidadãos e parceiros interagem uns com os outros, compartilhando assim dados, informações e processos. Para Guijarrro (2007), uma arquitetura de interoperabilidade objetiva definir as especificações técnicas básicas as quais todos os órgãos que participam da implementação das estratégias de governo eletrônico devem adotar. Essa arquitetura deve possibilitar, no mínimo, a interoperabilidade entre os sistemas de informação de diferentes órgãos a fim de prover serviços e informações aos cidadãos e empresários numa forma integrada (GUIJARRO, 2007).

Barreiras da interoperabilidade em Governo Eletrônico

Devido à sua natureza de interação, o compartilhamento de informações no governo eletrônico baseado em interoperabilidade nem sempre alcança os resultados esperados. Existem várias variáveis internas e externas que atuam no processo, e que podem condicionar seu sucesso. Para Landsbergen e Wolken (2001), os principais condicionantes de sucesso para o compartilhamento de informações são os seguintes:

• compartilhar é mais provável quando já existe um histórico de trabalho em conjunto das agências envolvidas;

• projetos de interoperabilidade são mais facilmente implementados quando o foco é no compartilhamento das informações transacionais do que em relação às operacionais e/ou estratégicas;

• os projetos são mais facilmente implementados quando os agentes percebem os resultados em curto espaço de tempo em relação aos de longo prazo;

• em um estado de crise a colaboração e integração podem ser vistas como forma de conseguir capital político necessário para sustentação/progresso.

Dawes e Bloniarz (2001) acrescentam que embora o compartilhamento de informações nos órgãos governamentais seja um objetivo comum, a dimensão e o escopo desse compartilhamento ainda são limitados.

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Mesmo sendo senso comum a percepção da importância do compartilhamento e os benefícios significativos que ele traz para os definidores das políticas públicas, órgãos públicos, e para o público em geral, os órgãos enfrentam várias barreiras de ordem políticas, organizacionais, econômicas e tecnológicas (DAWES, 1996; LANDSBERGEN e WOLKEN, 2001; ROCHELEAU, 1997):

• políticas - definição das diretrizes das políticas adotadas; conflitos nas definições dos níveis de privacidade nos acessos às informações; cultura organizacional predominante; ambigüidade da autoridade na coleta e uso das informações; descontinuidade administrativa.

• organizacionais - falta de experiência e ausência da predisposição de compartilhar; nível de qualificação do pessoal envolvido nos processos; cultura organizacional;

• econômicas - falta de recursos para disponibilização das informações para outros órgãos; forma de aquisição dos recursos (normalmente adquiridos pelo menor preço e não pelo melhor valor)

• tecnológicas - incompatibilidade de hardware e software adotados; direitos de propriedade; desconhecimento dos dados gerados e armazenados pelos sistemas; múltiplas definições de dados. Para Scholl (2005) os aspectos tecnológicos podem ser considerados como as barreiras mais fáceis de serem contornadas, enquanto que os organizacionais e políticos são muito mais desafiadores.

Mecanismos e estratégias para implementação: o caso da arquitetura e-PING

Este artigo apresenta um estudo de caso baseado em análise de documentos e estudos anteriores sobre o desenvolvimento e adoção de padrões de interoperabilidade para governo eletrônico, sendo o objeto de pesquisa a arquitetura e-PING - Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico – que vem sendo desenvolvida e implementada pelo Governo Federal Brasileiro para uso pelos seus órgãos governamentais do Poder Executivo desde 2003. Além disso, foi utilizada a técnica de coleta por observação direta durante participações em seminários, congressos e workshops onde houve apresentações e discussão do projeto, e também pelo acompanhamento das divulgações e discussões sobre os padrões pela internet no site específico mantido pela SLTI – Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação.

A arquitetura e-PING define um conjunto mínimo de premissas, políticas e especificações técnicas que regulam a utilização das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) na interoperabilidade de serviços de governo eletrônico no Brasil, estabelecendo as condições de interação com outras instituições governamentais (inclusive estados e municípios) e com a sociedade (BRASIL, 2011). Embora seu foco de especificação inicial seja a sua aplicação no âmbito do Poder Executivo do Governo Federal brasileiro (BRASIL, 2005), a estrutura da arquitetura contempla o intercâmbio de dados e informações entre o Poder Executivo e cidadãos, Governos Estaduais e Municipais, os Poderes Legislativo e Judiciário do Governo Federal, o Ministério Público, organizações internacionais, governos de outros países, empresas nacionais e internacionais e também organizações do terceiro setor (figura 1). No entanto, até o momento deste estudo, a e-PING era definida como de uso obrigatório apenas para os órgãos do Poder Executivo (inclusive as empresas públicas e outras entidades federais), em todos os novos sistemas de informação, nos sistemas legados que incorporem a previsão de serviços de governo eletrônico ou integração entre sistemas, e também para outros sistemas que envolvam prestação de serviços eletrônicos (BRASIL, 2011).

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A e-PING é considerada como uma estrutura básica para a estratégia de governo eletrônico no Brasil e sua definição inicial teve como base a arquitetura e-GIF (Government Interoperability Framework), implementada pelo governo britânico a partir do ano de 2000 (e-GIF,2004). Em junho de 2003, objetivando obter uma referência para a concepção da e-PING, um comitê do Governo Brasileiro visitou o Reino Unido, com o propósito de conhecer o projeto da e-GIF. Após o retorno do comitê, foi criado o grupo de coordenação da e-PING em novembro de 2003 e um mês depois, foram criados cinco grupos de trabalho, um para cada segmento coberto pela arquitetura: (1) interconexão, (2) segurança, (3) meios de acesso, (4) organização e intercâmbio de informações e (5) áreas de integração para governo eletrônico, conforme apresentado no quadro 1 (BRASIL, 2011). Os grupos são formados por profissionais de vários órgãos governamentais e cada grupo é responsável por promover os encontros e discussões da sua área e apresentar os resultados para os outros grupos durante as reuniões com a coordenação. O grupo de coordenação é responsável pela supervisão das atividades realizadas dos grupos de trabalho assim como também apresentar e discutir o projeto com outras instituições dos setores público e privado.

Esse grupo também se reporta ao Comitê Executivo de Governo Eletrônico sobre a progressão do projeto, através da sua Secretaria Executiva. A formação dos grupos de trabalho apresenta como uma grande vantagem a participação de apenas pessoas que possuam cargo efetivo, objetivando um maior comprometimento nas participações. Por outro lado, como a grande maioria dos componentes não são voluntários, e sim indicados pelas suas chefias, terminam participando por estarem sendo obrigados, o que resulta algumas vezes em menor interesse nos trabalhos. Existe também uma grande evasão dos membros ao longo dos trabalhos, fazendo com sejam necessárias novas indicações e, com isto, ocorra uma inconstância no nível de produtividade em decorrência da rotatividade. E como os grupos são estruturados no início de cada ano, ao longo dos meses o número de componentes normalmente se reduz.

Para cada um dos segmentos definidos na arquitetura, existe um processo para análise dos padrões que irão compor a arquitetura. Esse processo compreende a seleção, aprovação e classificação das especificações selecionadas em cinco níveis (BRASIL, 2011):

• Adotado (A) – avaliado e formalmente aprovado (homologado);

• Recomendado (R) – deve ser usado pelo órgãos governamentais, mas ainda não foi submetido ao processo de homologação;

• Em transição (T) – não recomendado, por não atender a algum requisito técnico especificado. Deve ser usado apenas temporariamente;

• Em estudo (E) – ainda sob avaliação;

• Estudo Futuro (F) – item ainda não avaliado e que será objeto de estudo posteriormente.

Esse processo de análise faz parte de um esquema de versionamento anual onde o documento referência discutido e definido pelos grupos de trabalho e aprovado pelo grupo de coordenação é submetido a audiências e consultas públicas presenciais e via internet.

As audiências e consultas públicas servem para colocar em discussão dentro de um fórum comum as expectativas de todas as partes e agentes envolvidos e afetados pela padronização, trazendo-lhes a

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Ao divulgar as especificações do padrão e colocá-las em discussão, a coordenação do projeto busca também eliminar posteriores questionamentos sobre a efetividade da implementação da arquitetura ou questões relacionadas ao prevalecimento de interesses particulares de alguma parte na sua definição. Mas a participação é limitada e tem caído ao longo do tempo, sinalizando uma possível falta de interesse da sociedade para o assunto.

Por ter sua concepção originalmente baseada no padrão e-GIF estabelecido pelo governo do Reino Unido e também por ter tecnologias adotadas baseadas em padrões considerados como de facto (tais como XML e Webservices, por exemplo), os gestores governamentais podem vir a serem mais propensos a adotar a e-PING. Isto porque sendo a especificação de padrões um processo complexo e sujeito a riscos, a adoção de modelos e tecnologias já consolidados reduz a possibilidade de insucessos e aumenta o nível de confiança no projeto e, como consequência, a percepção da legitimidade das ações dos grupos de trabalho também cresce. A escolha por esses padrões também reduz pontos de conflitos, visto que as especificações não trazem mudanças drásticas no ambiente tecnológico de alguns órgãos obrigados a adotar a arquitetura, pois vários padrões já estavam sendo utilizados.

Dos padrões especificados na e-PING, existem poucos definidos como adotados (A) e uma grnade quantidade está classificada apenas como recomendada (R). Isso significa que embora o projeto esteja sendo conduzido desde 2003, a baixa quantidade de padrões definida como adotada pode ser considerada pelos gestores de TIC como um fator inibidor da adoção da arquitetura, uma vez que apenas uma parte dos padrões especificados está formalmente homologada, podendo isso ser visto como um sinal de baixa relevância das especificações (SANTOS, 2010). Esta situação, contudo, encontra uma condição de redirecionamento, tendo em vista a publicação de uma portaria pelo Governo Federal estabelecendo a obrigatoriedade da adoção da arquitetura pelos órgãos do Poder Executivo. Deve-se salientar, por outro lado, que a portaria não estabelece nenhuma forma de sanção para o fato de não ser respeitada, o que pode significar a perda de sua força de lei.

Em uma pesquisa realizada pela coordenação de e-PING objetivando investigar o nível de adoção dos padrões de interoperabilidade no âmbito do Governo Federal, assim como também identificar as dificuldades para sua adoção, foram obtidos alguns resultados bastante significativos. Foram enviados e-mails a 66 gestores de TI de órgãos de governo apresentando os objetivos da pesquisa e indicando uma página na internet para responder as perguntas.

A taxa de resposta foi de aproximadamente 68% (45 respostas). Mais de 82% dos gestores declararam que conheciam as especificações da arquitetura e cerca de 53% afirmaram já tê-la adotado ao menos parcialmente. Mas apenas pouco mais de 2% dos respondentes declararam não terem dificuldades para adotar os padrões, enquanto o restante teve algum tipo de restrição. Mais de 33% informaram ter limitações de recursos técnicos ou de pessoal habilitado para implementar os padrões, e aproximadamente 17% declararam ter restrições de tempo para implementação dos seus projetos. Estes resultados indicam fortes barreiras para a adoção dos padrões uma vez que os órgãos não têm recursos para implementá-los e administrar as mudanças impostas pelo processo. Quase 7% declararam que desconheciam completamente os padrões e mais de 12% afirmou que eles já tinham ouvido falar da arquitetura, mas não conheciam suas especificações.

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Este fato mostra que embora a coordenação do projeto tenha promovido uma intensa estratégia de publicação sobre a arquitetura, ainda havia um número significante de gestores nos órgãos pesquisados que ignoravam o assunto (SANTOS, 2010). A partir dos resultados desta pesquisa, começou a ser discutida a elaboração de um modelo de análise de nível de maturidade de interoperabilidade, o m-PING, ainda em desenvolvimento ‘a ~epoca deste estudo.

Em resposta, a coordenação da e-PING promoveu workshops, o curso “Interoperabilidade e Processos Públicos Interinstitucionais” com carga de 120 horas distribuídas em 3 meses, usando ambiente virtual e encontros presenciais, para 250 servidores. Também publicou o livro coletânea “Panorama da Interoperabilidade no Brasil” (MESQUITA e BRETAS, 2010) com conceitos e casos de uso de interoperabilidade, além do “Guia de Interoperabilidade - Manual do Gestor”, já em sua segunda edição. Essas ações objetivaram promover uma qualificação conceitual e prática para os gestores envolvidos com as questões de interoperabilidade e uma divulgação mais concreta aplicada da arquitetura. Os resultados dessas ações ainda precisam ser avaliados, para que se tenha ideia de suas efetividades e sejam identificados os próximos direcionamentos no processo.

Considerações finais

Como visto, a interoperabilidade é um fator indispensável para a prestação de serviços de governo eletrônico eficiente e efetiva, e é estabelecida muito mais facilmente através da adoção de padrões, notadamente na forma de uma arquitetura claramente definida e estruturada. No entanto, essa adoção não é um processo fácil, pois depende de vários fatores internos e externos às organizações adotantes. Por isto, o uso de estratégias e mecanismos como ações deliberadas de condução deste processo se faz extremamente necessário, tanto na fase de especificação como de implementação.

Considerando que o estabelecimento de uma arquitetura de interoperabilidade se materializa por meio de um processo de seleção entre alternativas cuja escolha pode implicar em consequências para os diversos agentes ao redor do padrão especificado e, além disso, coordenado por um grupo composto por membros de vários órgãos do governo, seria provável a ocorrência de conflitos de interesses e de poder. No entanto, as estratégias e os mecanismos para implementação, e o modelo de gestão adotados fazem com que esse nível de conflitos seja bastante atenuado, pelo menos no que se refere aos órgãos do governo obrigados a adotar a arquitetura. No entanto, os baixos níveis de adoção e a amplitude do desconhecimento por parte de gestores de TI dos órgãos de governo, alinhado ao alto grau de incidência de barreiras evidenciadas nos estudos realizados, apontam para um grau de efetividade ainda baixo das ações empreendidas pelo Governo Federal Brasileiro para a adoção da e-PING.

Espera-se que esse estudo possa contribuir para a identificação dos resultados obtidos com as estratégias e mecanismos adotados para a efetividade da implementação de uma arquitetura de interoperabilidade de governo eletrônico. A conformidade com os padrões especificados implica em mudanças não só tecnológicas, mas também de processos nos órgãos adotantes e, além disso, entre outras coisas, a conseqüente necessidade de qualificação profissional das pessoas envolvidas no processo. Embora a dimensão tecnológica continue em destaque como principal barreira, existem vários outros fatores que requerem atenção especial, pois podem afetar a adoção dos padrões, como por exemplo, a disponibilidade de recursos, custos de implantação, conhecimento do assunto, influências externas sobre os decisores, incentivos, força do mercado, nível de instabilidade do ambiente, entre

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Bibliografía

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RESENHA BIOGRÁFICA

Ernani Marques dos Santos, Professor

Email: emarques@ufba.br

Email alternativo: ernanims@gmail.com

Núcleo de Pós Graduação em Administração - NPGA

Escola de Administração - Universidade Federal da Bahia - UFBA

Av. Reitor Miguel Calmon, s/n - 3o. andar - Vale do Canela – Salvador de Bahia, Brasil CEP: 40110-903

Telefones: +55 71 3283-7328 / +55 71 9962-2295 www.adm.ufba.br

Graduado em Administração de Empresas (UCSAL, Brasil), Mestre em Administração (UFBA, Brasil) e Doutor em Administração (USP, Brasil).

Visiting Researcher do Innovation and Information System Group do Management Department da London School of Economics and Political Science (Londres, UK, 2006-2007) e Pesquisador Pós Doutorado da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da Universidade de São Paulo (São Paulo, Brasil, 2009-2010).

Especialista em Políticas Públicas e Gestão Governamental da Coordenação de Tecnologias Aplicadas à Gestão Pública da Secretaria de Administração do Estado da Bahia (Salvador de Bahia, Brasil)

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Anecos

Quadro 1 - Definição dos segmentos da e-PING Segmentos Tópicos contemplados

Interconexão Estabelece as condições para que os órgãos de governo se interconectem, além de fixar as condições de interoperação entre governo e a sociedade.

Segurança Trata dos aspectos de segurança para assegurar a validade e privacidade das operações.

Meios de acesso Define as questões relativas aos padrões dos dispositivos de acesso aos serviços de governo eletrônico.

Organização e intercâmbio

de informações Aborda os aspectos relativos ao gerenciamento e à transferência de informações nos serviços de governo eletrônico. Áreas de integração para

Governo Eletrônico.

Compreende as diretrizes para novas formas de integração e intercâmbio de informações baseados nas definições do e-PING.

Fonte: BRASIL (2011)

Figura 1 - Relacionamentos do e-PING

Fonte: BRASIL (2008) Governo Federal (Poder Executivo) Cidadão Empresas Poder Legislativo Outros Países Organizações Internacionais Terceiro Setor Estados Municípios Poder Judiciário Ministério Público

Referências

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