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Vínculo escola e universidade: intercâmbios e experiências 1

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Academic year: 2021

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Vínculo escola e universidade: intercâmbios e experiências1

Maria Carmen Pereira Pinto y Valesca Brasil Irala carmenpepi10@hotmail.com; valesca.irala@unipampa.edu.br

Introdução

Temos como objetivo deste trabalho relatar a experiência do intercâmbio que vem sendo realizado a partir de 2010 entre a Escola General Fructuoso Rivera - N° 74 – Aceguá – Uruguai e a Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA) – Bagé– Rio Grande do Sul – Brasil. A aproximação entre as duas instituições se deu a partir do interesse da universidade em conhecer a realidade do ensino bilíngue português-espanhol desenvolvido nessa escola.

Na medida em que o vínculo entre os atores sociais de ambas instituições foi se fortalecendo, começaram a ser pensadas ações em conjunto, tais como: uma fala das professoras de português da escola para os universitários e docentes em Bagé, explicando o ensino bilíngüe; uma atividade organizada pela universidade no recinto da escola com palestra sobre o Rio Grande do Sul, contação de histórias e apresentação musical como temática fronteiriça a partir de um projeto executado pela escola em função de um direcionamento conjunto entre ambas as instituições e também um trabalho de cunho investigativo, em fase inicial, demandado pela escola, de análise de textos produzidos pelos alunos nas duas línguas. Na seqüência, serão detalhadas essas atividades.

Contextualização e relato das atividades

A Universidade Federal do Pampa, com sede em 10 municípios localizados na metade sul do Rio Grande do Sul, dentre os quais dois com fronteira com o Uruguai em contexto urbano (Santana do Livramento com Rivera e Jaguarão com Rio Branco) e dois com fronteiras próximas, como é o

11 Trabajo presentado en el 3er. Foro de Lenguas de ANEP, 8 – 10 de octubre 2010,

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caso de Bagé (próxima à Aceguá e formando fronteira rural com localidade de Cerillada) e Uruguaiana (próximo à Bella Unión) tem como um dos seus princípios “contribuir com a integração e o desenvolvimento da região de fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina” (UNIPAMPA, 2009, p.3).

No intuito de iniciar o estabelecimento dessa integração, em 7 de maio de 2010, a Profa. Dra. Valesca Brasil Irala, juntamente com alunos de graduação e pós-graduação da área de Letras do campus Bagé, realizaram a primeira visita à Escola General Fructuoso Rivera em Aceguá-Uruguai, motivados por conhecer, in loco, o Programa de Imersão Dual: Espanhol-Português, efetuado como um tipo de educação bilíngüe nessa escola de tempo integral (em um turno as aulas são ministradas em espanhol e no outro, em português, com uma professora referente para cada língua).

Além disso, através da observação desse contexto, pelos alunos do curso de Letras, buscava-se possibilitar para os mesmos experiências de compreensão sobre aquisição e aprendizagem de línguas em uma situação diferenciada a que comumente conhecem no Brasil, visto que organizações didáticas dessa natureza são reduzidas à escolas privadas localizadas em grandes centros urbanos, as quais, em sua grande maioria, os alunos da UNIPAMPA desconhecem a existência ou não têm acesso a elas, dada a distância da cidade de Bagé desses grandes centros e a elitização desse tipo de ensino no país.

A escola, por sua vez, na figura da diretora e das professoras da área do português, manifestaram interesse nessa integração como forma de promover intercâmbios em diferentes aspectos: culturais, históricos, educacionais e lingüísticos, referentes ao Rio Grande do Sul.

Como objetivo mais geral, buscou-se promover a valorização do contexto e das identidades fronteiriças em atividades de ensino, tanto na escola primária uruguaia, quanto na formação de professores de português e espanhol oferecida no curso de Letras da UNIPAMPA-Bagé, que se localiza a 60 km de Aceguá. Nesse primeiro encontro, solidificou-se o interesse, por parte da escola, em conhecer e didatizar questões relativas ao Rio Grande do Sul, especialmente a sua história, os seus costumes, o seu folclore e suas semelhanças e relações com a realidade uruguaia, principalmente a das zonas

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Foi assim que, a partir do eixo temático “Revolução Farroupilha”, ocorrida nesse estado brasileiro entre os anos de 1835 e 1845 e hoje marco de celebração através da “Semana Farroupilha” em que ocorrem desfiles e festejos em todo estado do Rio Grande do Sul - culminando com um feriado em 20 de setembro - ambas as instituições organizaram-se para estender esse processo de integração já iniciado a uma atividade pedagógica pensada coletivamente.

Em um primeiro momento, foram trabalhados pelas professoras da área de português textos explicativos de abordagem histórica e fontes documentais (a partir do 3° ano) e também com a literatura e o folclore riograndense (a partir do 1° ano). Após essa etapa sensibilizadora, foi planejada uma Jornada Integradora, realizada em 29 de julho de 2010, no interior da escola, em que foi dada uma palestra pelo Professor de História da UNIPAMPA, Msc. Alessandro Bica, desenvolvida junto aos alunos do quinto e sexto ano, sobre a “Revolução Farroupilha”.

Durante a jornada, também foi realizada uma apresentação musical para todos os alunos da escola, a cargo do professor Alessandro Vaz Mattos, vocalista do grupo nativista Sonido del alma gaucha

(www.sonidodelalmagaucha.com.br), de Bagé. Foram selecionadas três canções com temática fronteiriça e integração regional, sendo a letra das mesmas distribuídas a todos os alunos, a saber: Confraria de Fronteira (de autoria de Eliezer Souza e Pedro Ortaça), Hermanos Pampeanos ( de autoria de Juarez Machado de Farias e Raul Carlos Quiroga) e Doble Chapa (de autoria de Fábio Vaz Mattos). Ainda nesse dia, foram feitas contação de lendas riograndenses e distribuição para a escola de livros didáticos e literários para dar sequência ao trabalho até então realizado.

A canção Doble Chapa tornou-se posteriormente texto motivador para uma proposta didática desenvolvida na escola junto aos alunos do sexto ano, tendo como objetivo promover o conhecimento dos direitos, deveres e garantias dos cidadãos naturais e legais dispostos na seção III da Constituição da República Oriental do Uruguai, que trata sobre a cidadania (especialmente os textos dos capítulos I, IV e V) e compreender, na referida canção, o significado semântico do seu título: “Doble Chapa”.

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O resultado dessa atividade foi a elaboração de conceitos elaborados pelas crianças a respeito do que elas próprias compreendem como “doble chapa”, como podemos constatar no quadro a seguir:

2 idiomas 2 países é uruguaio e é brasileiro fronteira 2 nacionalidades união bilíngue legítima

2 chapa identifica 2 identidades 2 documentos

naturalizado em outro país cidadão legal e natural

Quadro 1 – “Doble Chapa” segundo alunos da Escola N° 74 – Aceguá

A etapa final desse trabalho consistiu na participação dos alunos e professores da escola na Semana Farroupilha (13 de setembro até 20 de setembro de 2010) realizada e organizada pela Prefeitura da cidade de Aceguá – Brasil, com apresentações artísticas, concurso de poesias e fotografias e oficinas de literatura do grupo “Vozes ao pampa”, coordenado pela Profa. Dra. Vera Medeiros, da UNIPAMPA, campus Bagé, em que estiveram integrados alunos e professores das escolas brasileiras e da escola uruguaia.

Três alunos da Escola N° 74 participaram do concurso de poesias em português, com a temática central a “Mulher do pampa”, no qual concorriam alunos dos dois países. No quadro a seguir, a poesia de um desses alunos:

Prenda deste chão

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A mulher pampeana é guerreira e cultiva as raízes deste povo

em cada amanhecer tem muito trabalho a fazer

Toda a mulher do pampa sonha ter filhos para ensinar suas tradições gaúchas e cultivar as riquezas deste lugar

É bela amazona cavalgando pelas terras

deste lindo Rio Grande olhando a beleza da serra

Mulher simples, verdadeira guerreira e "prenda deste chão" orgulho de tradição que traz no coração

a fascinante beleza deste rincão

Linniker Rocha 5º série - Escola Nº 74

Quadro 2 – Texto de aluno para o Concurso binacional de Poesias

O conjunto dessas atividades puderam contemplar tanto a área do conhecimento social, a área de segundas línguas e línguas estrangeiras, quanto a área de conhecimento artístico, ampliando e consolidando para esse aluno, o sentido de sua condição de sujeito fronteiriço, de forma a valorizá-la e compreende-la em sua singularidade, pois as fronteiras, como nos apresenta Corsaro (2005, p. 79), são “lugares regidos por normas dictadas desde

diferentes y coexistentes centros de poder con propósitos contrapuestos algunas veces, convergentes otras”, ou seja, nesse contexto específico, esse

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brasileira, quanto por uma uruguaia, o que denota e explicita sua condição de hibridização lingüística e cultural.

Considerações finais

Por parte da UNIPAMPA, especialmente dos professores e alunos do curso de Letras Português-Espanhol do campus Bagé, a aproximação com a Escola N° 74 tem possibilitado reconsiderar o papel do ensino dessas línguas dentro da formação docente e de suas práticas na escola básica brasileira, especialmente em uma região fronteiriça. Em geral, o que até então havia (e ainda há) no ensino de Espanhol no Brasil, de uma maneira mais generalizada, é a ênfase numa formação lingüística e cultural dos alunos voltada quase exclusivamente à valorização de práticas e tradições européias, nesse caso, as espanholas (com espaço nulo ou reduzido para as latino-americanas de uma forma mais geral e as fronteiriças, de uma maneira mais específica).

Diante disso, o que hoje se tenta buscar é resgatar na formação do futuro professor de espanhol como língua estrangeira, formado na UNIPAMPA, a condições de reverter, em sua futura atuação docente, essa tradição já consolidada no ensino de espanhol no Brasil e que passe a incorporar propostas didáticas coerentes e condizentes com sua condição geográfica, não só de proximidade com a fronteira com o Uruguai, mas também sensível a presença de imigrantes uruguaios em sua região.

Assim, na universidade, têm sido desenvolvidas sequências e unidades didáticas em algumas disciplinas do curso de Letras, a partir da temática “Integração regional e fronteiriça” para posteriormente serem aplicadas na prática de ensino de estagiários de espanhol nas escolas de Bagé e região e disponibilizadas no site da universidade (http://porteiras.s.unipampa.edu.br/observatorio/nucleo-de-analise-e-producao-de-material-didatico/) a outros professores de espanhol brasileiros, com o intuito de ampliar e disseminar pela língua e pela cultura, a integração regional.

Por parte da escola, o vínculo com a UNIPAMPA não se esgotou, muito pelo contrário. Tanto que já está em andamento um próximo trabalho em conjunto, ainda em fase inicial, de cunho investigativo, o qual se propõe a

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explicativos produzidos pelos alunos do 5° e 6° anos sobre as temáticas da “Revolução Farroupilha” e do “Circuito produtivo do arroz” do Festival de Arroz de Isidoro Noblia, escritos em português e em espanhol, respectivamente.

Para finalizar, como se espera de toda relação de intercâmbio de experiências, vislumbramos e acreditamos que tais atividades podem proporcionar melhorias tanto no ensino quanto no aprendizado dos alunos envolvidos, seja das crianças da educação primária, seja dos estudantes universitários que têm visitado à escola, pois ambos estarão mais atentos e sensibilizados a compreender e valorizar o contexto fronteiriço e, a partir daí, atuar como agentes de suas próprias questões, derivadas de sua condição histórica e social e de seus próprios dilemas.

Referências

CORSARO, Susana Colombo de (2005). Saber la lengua y saber de la lengua de los maestros de frontera. En: BEHARES, Luis & CORSARO, Susana Colombo de (comp.). Enseñanza del saber – saber de la enseñanza. Universidad de la República/Facultad de Humanidades y Ciencias de la educación. pp.79-86.

GRUPO SONIDO DEL ALMA GAUCHA (2010). Disponível em: http://www.sonidodelalmagaucha.com.br. Acesso em: 12 nov. 2010.

UNIPAMPA (2009). Projeto Institucional. Disponível em:

http://www.unipampa.edu.br/portal/dmdocuments/PROJETO_INSTITUCIONAL _16_AG0_2009.pdf. Acesso em: 12 nov. 2010.

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