Ciranda de Sons e Tons: experiências culturais na infância
Gilvânia Maurício Dias de Pontes1UFRGS
Resumo. As crianças desde o seu nascimento estão imersas em uma cultura para qual,
inevitavelmente, terão que atribuir sentido. Os sentidos para as coisas do mundo, entre elas, as manifestações da arte, são produzidos no exercício de linguagens, em experiências de apreciação e criação e recriação de repertórios. Às instituições de atendimento à infância cabe favorecer o acesso a estes repertórios em situações que sejam significativas para as crianças. Este artigo traz uma reflexão sobre o acesso das crianças à arte do seu entorno durante as apresentações do “Projeto Ciranda de Sons e Tons”. Este é um projeto de extensão do Núcleo de Educação Infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN/NEI) que tem como um dos objetivos a formação de platéia para a arte local; nele crianças, pais, professores e funcionários, mensalmente, assistem a apresentações artísticas na escola ou em locais de produção de arte da cidade de Natal – RN.
Palavras – Chave: infância; cultura; arte.
Introdução
As crianças participam das práticas culturais artísticas em inter-relação com outras crianças e/ou adultos, vivenciando o conteúdo e expressão de que são constituídas as linguagens da arte. Às instituições de atendimento à infância cabe favorecer o acesso a estes repertórios em situações que sejam significativas para as crianças. Este artigo trata de uma iniciativa de formação cultural na infância desenvolvida no Núcleo de Educação Infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – NEI/UFRN.
Algumas indicações
Contemporaneamente, a arte passou a abrigar as mais diversas experimentações, imagens e objetos do cotidiano são acionados como conteúdos da produção artística. A arte, assim concebida, exige outras formas de interação na qual o olhar apreciador é participativo do estabelecimento de sentido para o que foi proposto pelo produtor de arte. As mudanças o campo da arte direcionam a olhar para três de suas dimensões que na prática pedagógica são
1 Graduada em Pedagogia pela UFRN; especialista em Administração Educacional pela UFRN; mestre em Educação pela UFRN (2001). Atualmente é doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da FACED/UFRGS sob orientação da Prof. Drª Analice Pillar. Professora do Núcleo de Educação Infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte em Natal. Integrante da equipe do Paidéia – Núcleo de Formação Continuada em ensino de arte e educação física da UFRN. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa em Educação e Arte – GEARTE. Email: gilvaniapontes@hotmail.com
complementares: arte como linguagem, como expressão da cultura e como um campo de conhecimento.
As perspectivas contemporâneas sobre arte e seu ensino, ampliaram o campo de relações com a produção artística para além das fronteiras disciplinares e oferecem aos adultos aportes necessários a proposição de novos repertórios de experiências para as crianças. Apontam, sobretudo, para novas possibilidades de organização curriculares da educação infantil que considerem a interação das crianças com representações culturais de seu entorno.
O entendimento de criança e de atendimento à infância também vem sendo ressignificado na contemporaneidade. A criança passou a ser percebida como sujeito de direito, entre eles o direito ao acesso aos repertórios culturais. Para que esse processo seja facilitado, é importante a mediação do adulto ouvindo os interesses e leituras das crianças, investindo na ampliação do olhar e atuação delas sob o seu entorno.
Ciranda de Sons e Tons: currículo e cultura em diálogo
Na escola, o contato com as representações culturais tem significados diferentes, daqueles vivenciados em outras instâncias sociais. Há a preocupação em promover o acesso da criança ao repertório já produzido em situação que a faça reconstruir para si os jeitos de ser das linguagens ali evidenciadas e imprimir nessa re-construção seus próprios jeitos e repertórios, isto é, ampliar seu repertório de linguagem em diálogo criador de sentidos.
As múltiplas linguagens em suas visualidades são dimensões constitutivas do currículo para o atendimento à infância. Currículo produzido na relação que se estabelece entre atores – crianças, famílias – escola. Tais atores trazem para essa relação seus valores culturais, suas escolhas estéticas. A escola pode ser o palco onde o diálogo entre essas escolhas se estabelece. Palco em que os atores do currículo deparam-se com a diversidade cultural, podem ir além daquilo que lhes é familiar em busca de novos olhares, ou novas formas de olhar.
O Núcleo de Educação Infantili (NEI), com a intenção de favorecer o acesso às manifestações culturais do entorno próximo das crianças, assim como as produções de outras culturas, tem em projeto político pedagógico a preocupação de proporcionar à comunidade escolar momentos de apreciação cultural nas diversas linguagens artísticas. Uma dessas iniciativas é o Projeto de “Ciranda de Sons e Tons” em que grupos de arte locais se apresentam na escola ou as crianças, professores, funcionários e pais vão aos espaços de
produção de arte da cidade. Tais momentos se constituem em experiências de formação cultural em que crianças e adultos interagem com os repertórios dos artistas locais. Há também situações em que as crianças ou adultos – pais, professores e funcionários- assumem o papel de “produtores de arte” para encantar seus pares. Este projeto tem como objetivo possibilitar interações das crianças com as representações socioculturais do entorno favorecendo a construção de valores éticos e estéticos. Eis algumas situações de leitura da arte do projeto “Ciranda de Sons e Tons”:
Figura 1. Mímico (2005), NEI/ UFRN. Fonte: própria.
Figura 3. Grupo Parafolclorico da UFRN (2008). NEI/UFRN. Fonte: própria.
Figura4. Exposição (2008). NEI/ UFRN. Fonte: própria.
Algumas considerações
Para Larrosa (2002), a experiência, como algo que nos toque, requer “um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, para olhar, para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, para sentir mais devagar...” (LARROSA, 2002: 24). O projeto “Ciranda de Sons e Tons” tem propiciado esses momentos de suspensão do rotineiro, do cotidiano, imprimindo no NEI uma dinâmica de circularidade das manifestações de arte em diferentes linguagens, experiências estéticas em que crianças e adultos são leitores ativos na atribuição de sentido às práticas culturais da arte.
Como percebem a formação cultural na infância?
Referências Bibliográficas
BARBOSA, A. M. (2009). A imagem no ensino da arte. São Paulo: Perspectiva.
LARROSA, J. (2002) Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 19, p. 20-28, jan./abril.
PILLAR, A. D. (1999). A educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Mediação.
i O NEI – Núcleo de Educação Infantil da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) é um Colégio de Aplicação que atende a filhos de professores, funcionários e alunos da UFRN na Educação Infantil e séries iniciais. Essa instituição foi fundada em 1979, localiza-se no Campus Central da UFRN em Natal – RN- BR. Atualmente, conta com uma equipe de professores composta por especialistas, mestres e doutores.