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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA INGLESA E O COMPROMISSO SOCIAL

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A FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE LÍNGUA INGLESA E O COMPROMISSO SOCIAL

Ferreira, Aparecida de Jesus Unioeste/Cascavel

A língua Inglesa sem dúvida é, hoje, a língua mais falada e utilizada no mundo como língua internacional. Mesmo tendo este caráter de língua internacional, ainda são entendidas como privilegiadas algumas variedades da mesma como a americana e britânica e dentro dessas variedades são encontrados diversos dialeto i[i]. Embora haja dentro da variedade britânica ou americana muitos dialetos ainda assim é considerado o inglês padrão, para os meios de comunicação, seja da escrita (jornais,etc.) ou da falada (televisão, rádio etc.), de acordo com Kachru (1996:73) " o conceito de inglês padrão é definido de várias

formas como na Inglaterra é o "(RP) Received Pronunciationii[ii]", a variedade

tradicionalmente usada e associada com as Universidades de Oxford e Cambridge". Embora

este seja o padrão britânico McArthur citado por Kachru (op. cit.:73) considera discriminatório e antidemocrático considerar o "RP" como padrão, porque mesmo as pessoas educadas não falam o padrão. As pessoas na Inglaterra falam com diferentes pronúncias. O mesmo inglês padrão pode ser falado com vários sotaques (pronúncia local), tanto nos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Nova Zelândia, Austrália, por pessoas, que obrigatoriamente, devem falar o padrão através dos meios de comunicação oral. Mas mesmo que estes países citados acima apresentem/tenham as variedades mais aceitas que sem dúvidas as duas primeiras são as mais consideradas e fora estes cinco países ainda há muitos outros países em que a língua inglesa é considerada como língua oficial. Essas variedades evidenciam-se fortemente na situação de ensino de língua inglesa, isso porque, os aprendizes reiteradamente fazem alusão ao tipo de inglês, se americano ou se britânico. Tal alusão traz em seu bojo a busca de uma identificação positiva com uma ou outra destas variedades. Percebe-se que essa "preocupação" não é prerrogativa única dos acadêmicos, parece estar em um imaginário coletivo haja vista que as editoras trazem este foco o que visivelmente, pode ser observado nos livros didáticos. Em tais materiais de ensino, a relação se estabelece em relação à pronúncia.

No caminho desta visão ideológica, encontram-se crenças dos alunos, em outras palavras, para muitos deles somente é bom professor de inglês aquele que tiver a pronúncia ou americana ou britânica. Há casos extremos em que ao buscarem por escolas de línguas,

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alguns destes alunos recusam-nas porque não oferecem o inglês americano. Finalmente há aqueles que buscam eliminar qualquer traço de português ao falar inglês. Neste caso, há uma busca à semelhança com o "falante nativo". Pode estar aí subjacente a questão da identidade cultural, discussão na qual este trabalho não estará centrado.

Estes conceitos/crenças que os acadêmicos possuem estão em consonância com conceitos sobre a cultura de aprender línguas, Almeida Filho (1993:13), afirma que:

"aprender é caracterizada pelas maneiras de estudar, de se preparar para o uso, e pelo uso real da língua-alvo que o aluno tem como "normais", tendo maneiras de aprender típicas de sua região, etnia, classe social, grupo familiar e evoluem no tempo, em forma de tradições de maneira naturalizada, subconsciente e implícita." Os acadêmicos tiveram uma vida escolar

anterior ao ingresso na universidade bem como vivem em uma sociedade que tem seus conceitos sobre aprendizagem de línguas adquiridos no decorrer de sua vida. Com o tempo, essas crenças se tornam verdades, que se não são discutidas e entendidas para desmitificar, permanecem como verdades e se tornam muito "perigosas" principalmente em se falando na formação de futuros professores de línguas.

Barcelos (1999:158) em pesquisa feita recentemente sobre "A Cultura de Aprender Línguas" (inglês) de alunos no Curso de Letras nos mostra sua definição "o termo

cultura de aprender línguas foi definido como o conhecimento intuitivo implícito (ou explícito) dos aprendizes constituído de crenças, mitos, pressupostos culturais e idéias sobre como aprender línguas. Este conhecimento, compatível com sua idade e nível sócio-econômico, é baseado na experiência educacional anterior, leituras prévias e contatos com pessoas influentes." Fazendo uma análise, percebemos que os aprendizes não conseguem

notar que na qualidade de aprendizes, terão que saber a língua para se comunicar com o mundo independentemente da variante que irão usar, pois mesmo dentro do seu próprio país encontrarão pessoas falando inglês na variedade americana, mas com sotaque do nordeste ou sotaque do sul, ou ainda falando na variedade britânica, mas com sotaque do sudeste ou do norte. E este sentimento manifestado pelo aprendiz brasileiro é visto de uma outra forma, afirma Costa (1997). Em seu estudo feito sobre o Caso Henfil no momento em que estava aprendendo inglês nos Estados Unidos, em luta para manter sua "identidade de brasileiro" e nessa perspectiva, assevera que o sotaque em inglês não é importante. A análise feita por Costa (op.cit.) explica que:

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A resistência de Henfil era um sinal dos tempos, na época (1973), o lema da esquerda brasileira era resistir. Resistir sempre. Henfil percebia na vergonha dos compatriotas, ao vê-lo falar imperfeitamente inglês, com forte sotaque brasileiro, um indicativo do processo de americanização, considerada, obviamente, uma traição. Henfil via na pronúncia "correta" das palavras, o processo de assimilação: "o candidato à assimilação esconde seu passado, suas tradições, todas suas raízes". Henfil se vê como um parente pobre que deve ser evitado, pelos candidatos à assimilação. Não se sente diminuído, pelo contrário percebe que o "sotaque" faz dele um "brasileiro legítimo", que apenas utiliza uma outra língua com objetivo definido, não nutrindo por ela nenhuma afetividade, ao contrário dos "traidores" que se esmeram na perfeita pronúncia do inglês com o intuito escuso, segundo o entendimento de Henfil, de esconder a origem brasileira.

(Costa op.cit.:86)

Desta análise surgem as questões para quê aprender inglês de fato? Somente para se comunicar com os Estados Unidos ou com o Reino Unido? Acredito que se deve ir, além disso, pois se se fala inglês em vários outros países, e por que essas outras variedades não são apresentadas ao aprendiz para que tenha contato com as outras formas de se comunicar com o mundo? Como percebemos na citação acima, é o sotaque que vai dar ao aprendiz a marca de cidadania, e pelo fato de não falar com um sotaque perfeito, isso não indica não saber falar a língua.

Percebe-se que os fatores econômicos de fato levam os aprendizes a escolherem determinada variedade como sendo a única isto porque é a variedade dos países economicamente fortes e estes "detêm" o padrão para o aprendizado de línguas. Tudo isso gera um sentimento de "inferioridade lingüística que acaba acarretando para o brasileiro

uma pretensa inferioridade intelectual, caso não fale inglês." Costa (op.cit. p. 60). Este

sentimento de inferioridade é também apontado por Ferreira (2000: 122), "no caso de língua

inglesa, a maioria dos países que falam este idioma são economicamente dominantes como os Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Austrália e Nova Zelândia e isso acaba gerando na maioria dos aprendizes um sentimento de inferioridade e assim passando a considerar a cultura do outro melhor do que a própria." Este sentimento de ver o outro como melhor,

como superior gera uma inibição ao aprendizado da língua inglesa dentro do seu próprio país, sendo somente possível este aprendizado acontecer no país onde a língua é falada como primeira língua. Pereira (2000) coloca que, "Um dos fatores externos responsável pela

aprendizagem está no ambiente social em que a aprendizagem toma lugar. As condições sociais influenciam nas oportunidades que os aprendizes têm para ouvir e falar a língua e as atitudes que desenvolvem em relação a essa 2ª língua." Essas questões são relevantes para

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que sejam levadas para o interior das salas de aulas e discutidas com os aprendizes de línguas, para assim terem uma visão crítica do ensino de línguas e para saberem para que serve uma língua estrangeira. No que diz respeito às atitudes positivas e negativas que o aprendiz tem/desenvolve em relação a tal língua, Kachru (1996:76) assevera que "é

importante que professores e alunos estejam cientes de qual é o tipo de presença que o inglês tem no mundo hoje, para assim manter as divergências entre as variedades existentes em um contexto moderado". Essas diferenças aqui colocadas também não indicam que alguém esteja

errado. É vital que essas variedades sejam do conhecimento de muitos para que assim possam perceber o pluralismo do inglês inclusive em contextos sócio-lingüisticamente diferentes.

Segundo Lortie, citado por André (1997:234), "os anos todos que o professor

passa em sala de aula como aluno (no Curso de Licenciatura) não são suficientes para mudar as crenças que ele traz de sua formação anterior".

Por essas razões alunos acabam tendo muitas crenças com relação ao ensino de língua inglesa na universidade, mas que poderiam ser sanados se algumas atitudes fossem tomadas com relação a isso como sugere Rokeach, citado por André (op.cit.) "tais anos de

estudo seriam suficientes para desenvolver, alterar todos os tipos de crenças, se houvesse real interesse para isso, mostrando que a investigação das crenças educacionais, durante o Curso de Licenciatura, que futuros professores de LE trazem como únicas e verdadeiras referentes ao processo de ensino/aprendizagem de LE ao ingressar no Curso de Letras." Ou

seja, estabelecer discussões constantes com os alunos do curso sobre suas próprias crenças, fazer debates no sentido de levar a reflexão sobre as mesmas.

No entanto, não se pode negar que a língua inglesa assumiu grande importância no mundo, seja no campo dos negócios, educação, literatura, etc. O poder do inglês é mostrado de muitas formas, incluindo o acesso a modernidade em termos de tecnologia e conhecimento. Saber inglês, hoje está muito relacionado a que classe social o falante pertence, bem como que tipo de profissional o indivíduo é ou pretende ser. Mas, por outro lado, o aprendiz deve ter um olhar crítico sobre o seu aprendizado de língua, perceber a língua enquanto instrumento de comunicação e não como instrumento de dominação (Freire, 1987:128). Pois é a partir do momento em que se domina o instrumento de comunicação do dominador é que se pode interagir com ele, enquanto conhecedor de sua língua, mas não como uma forma de aceitação da língua do dominador sendo melhor ou superior à sua própria língua.

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Bibliografia

ALMEIDA FILHO, José Carlos Paes. Dimensões Comunicativas no Ensino de Línguas. Campinas, SP: Pontes, 1993.

ANDRÉ, Maximira Carlota da Silva. Preocupado com o futuro do ensino de LE? Uma sugestão: Mergulhe no oceano de crenças educacionais de professores da língua alvo e as otimize. In. Anais do XIV Encontro Nacional de Professores universitários de

Língua Inglesa, 21 a 25 Julho 1997. p. 233-240.

BARCELOS, Ana Maria Ferreira. A Cultura de Aprender Línguas (Inglês) de Alunos no Curso de Letras. In ALMEIDA FILHO (org). O Professor de Língua Estrangeira em

Formação. Campinas, SP: Pontes, 1999.

COSTA, Rinaldo Vitor da .O Caso Henfil: Será que a Esquerda Brasileira Aprende

Inglês Sem Culpa? Dissertação de Mestrado. Universidade Estadual de Campinas,

Campinas. 1997.

FERREIRA, Aparecida de Jesus. Aspectos Culturais e o Ensino de Língua Inglesa. In

Revista Línguas & Letras. CECA/Cvel. Vol.1. Nº 1, p.117-127, jan/jun.2000.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro : Paz e Terra, 1987.

KACHRU, B. Braj e NELSON, Cecil L. World Englishes. In MCKAY, Lee Sandra e Hornberger, Nancy H. Sociolinguistics and Language Teaching. Cambridge University Press, 1996.

PEREIRA, Maria Ceres. Tematizando: Sobre a questão da aquisição de 2ª língua, língua estrangeira. São sempre equivalentes? In Revista Línguas & Letras vol. 2 Edunioeste. 2000.

i[i] Dialetos: tipos de inglês que são identificados com o residente de determinado lugar. Há também idade, sexo, e outros tipos de grupos relacionados a dialetos e o caso de que tipo de linguagem se fala. Qualquer falante pode falar vários dialetos, dependendo das circunstâncias da discussão, em termos geográficos pode-se dizer que uma pessoa cresceu falando inglês americano do sul, e em termos de profissão e educação, pode-se falar o inglês padrão (Kachru 1996:71).

Referências

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