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Garcia, José Luís Lima; Sousa, Julião Soares; Neto, Sérgio Imprensa da Universidade de Coimbra. URI:

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Academic year: 2021

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Introdução

Autor(es):

Garcia, José Luís Lima; Sousa, Julião Soares; Neto, Sérgio

Publicado por:

Imprensa da Universidade de Coimbra

URL

persistente:

URI:http://hdl.handle.net/10316.2/46794

Accessed :

15-Jun-2021 07:35:48

digitalis.uc.pt pombalina.uc.pt

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A GUERRA E

AS GUERRAS

COLONIAIS

NA ÁFRICA

SUBSAARIANA

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A ÁFR

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J U L I Ã O S O A R E S S O U S A

S É R G I O N E T O

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intRodUÇÃo

O despontar do século xx não começou da forma mais pacífica na

Europa, apesar dos esforços que alguns dos países da comunidade internacional haviam feito para que, segundo Aniceto Afonso, a «paz armada» não descambasse num conflito receado, mas ao mesmo tem‑ po ansiado1. O temor não afugentava os céticos, nem os cobardes, quanto mais os grandes sempre iludidos em teias de mesquinhas rivalidades. O imperialismo britânico coabitava com o militarismo alemão e o revanchismo francês, desanuviando a política negocial o grau de tensão que se apoderara entretanto das principais potências do «velho» continente.

A gestão destes interesses localizados numa pequena parte da Humanidade não impediu que um fait ‑divers sangrento em Sarajevo lançasse o rastro incendiário numa atribulada sequência de inciden‑ tes que culminaria na primeira guerra à escala planetária. Segundo Rui Cardoso, a ironia para que tal acontecesse resultaria dos «meca‑ nismos de dissuasão postos em prática pelas grandes potências para evitar a guerra, que acabaram por ser, eles próprios, a peça ‑chave de uma engrenagem que arrastou o mundo para uma guerra que nin‑ guém queria»2. Não era agora apenas a extensão territorial que

1 AFONSO, Aniceto – «O Quadro Europeu Antes da Guerra». In Grande Guerra.

Angola, Moçambique e Flandres. 1914 | 1918. Matosinhos: QuidNovi, 2006, p. 9 ‑10.

2 CARDOSO, Rui – «A Guerra dos Mundos». Courrier Internacional. Paris: Courrier International SA. N.º 223, set. de 2014, p. 3.

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A Guerra e as Guerras Coloniais na África subsaariana (1914-1974)

constituía o perigo deste confronto, mas a duração temporal do mes‑ mo. O que era para durar apenas umas semanas, prolongou ‑se por meses e anos.

Na sequência do final desse conflito desapareceriam três impérios, o austro ‑húngaro, o otomano e o prussiano. A criação de novos paí‑ ses foi feita com a redefinição de limites movediços, naquilo que Tim Butcher apelidava de «fronteiras de areia»3. E se em 1918 o Armistício foi assinado, esse facto não era mais do que uma trégua que duraria duas décadas, período no qual emergiria uma onda de nacionalismos e os contendores recarregariam as «baterias» para em 1939 recome‑ çarem um novo conflito que só terminaria a 2 de setembro de 19454. Assim, a guerra que começara na Polónia e acabaria com a rendição do Japão deixara de ser apenas preocupação da diplomacia europeia, para se tornar um problema com repercussões planetárias.

Com todas as suas complexidades, desafios e tragédias, coube também ao século xx ditar as regras da consolidação das indepen‑

dências no continente africano, algumas décadas de ocupação após os ditames aprovados pela Conferência de Berlim de 1884‑1885. Na verdade, a colonização e o colonialismo, conceitos paralelos e, para alguns, indistinguíveis, marcaram a Época Moderna e os tempos contemporâneos, tendo talvez a guerra – a par da escravatura até ao terceiro quartel de Oitocentos –, constituído um dos seus processos mais significativos. Tanto assim que o século xx se iniciou com «cam‑

panhas coloniais» de ocupação do hinterland (Alves Roçadas em Angola, em 1905‑1907), combates entre colonizadores (Segunda Guer‑ ra dos Bóeres, em 1898–1902), o genocídio dos Hereros, em 1904‑1907, e a Primeira Guerra Mundial, em 1914‑1918, combinando todos estes cenários.

3 BUTCHER, Tim cit. por Guillermo Altares – «O conflito que nunca acabou». Ibidem, p. 9.

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Introdução

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De resto, o centenário deste embate bélico, que tem vindo a ser assinalado em muitas manifestações nos últimos anos, não esqueceu o palco de combates africanos, procurando dar voz àqueles que ra‑ ramente tiveram possibilidade de a fazer escutar. Ainda neste âmbi‑ to, e sem perder de vista as desencantadas reflexões de António de Cértima (1894‑1983) acerca da (pouca) visibilidade do conflito em África, dir ‑se ‑ia que alguns estudos (mais ou menos) recentes, como os de Marco Fortunato Arrifes e de Manuel Carvalho, têm buscado ilustrar esse aspeto menos visível da contenda de 1914‑1918.

Com o emergir do pós ‑guerra no final da primeira metade do século xx, a ordem internacional torna ‑se mais justa com a fase da

descolonização em que se passa da dependência colonial para uma situação de independência e de eliminação de barreiras entre conti‑ nentes. Os confrontos bélicos desagregariam a política de dominação, de conquista e de exploração das metrópoles, sobretudo europeias. Surgiria com a carta da Organização das Nações Unidas um conjun‑ to de países que embora politicamente livres, continuaram a sobre‑ viver a antigas dinâmicas ocidentais que plastificaram uma África negra com limites pouco coincidentes com as etnias locais tradicionais, mas sim com os interesses e as rivalidades imperiais, agora só for‑ malmente desfeitas pelos armistícios e os novos tratados do direito internacional público.

Nos despojos destas comunidades imaginadas de longe, sob o periscópio do eurocentrismo, ficaram as particularidades identitárias que muitos autores atribuem apenas ao tribalismo autóctone, mas que a obra Colonisation: droit d’ inventaire imputa especialmente à estratégia divisionista do colonialismo5. Esta perspetiva sendo redu‑ cionista e unilateral apenas analisa a sociedade pós‑colonial com a formatação dos agentes colonizadores, não atribuindo protagonismo

5 LIAUZU, Claude – «Des Sociétés Postcoloniales». In LIAUZU, Claude (Dir.) –

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A Guerra e as Guerras Coloniais na África subsaariana (1914-1974)

às rivalidades tribais anteriores ao domínio europeu, nomeadamente a cumplicidade dos negreiros locais, com os estrangeiros que vieram depois. Logo, a elaboração dessa identidade de matriz ancestral não pode ser vista como uma entidade fechada que não está aberta a recomposições e a mestiçagens permanentes, mas que funciona como uma «política de raças» de uma considerada ascendência «pura».

Este tipo de dogmatismo quanto à considerada pureza da «raça» conduziu ao holocausto judeu, e a de outras minorias, por parte do sistema de repressão nazi banalizando, como afirmava Hannah Aren‑ dt, o mal por todas as latitudes e continentes.

Mas as sociedades pós‑coloniais de África não enfermam só dos seus problemas de identidade e de recomposição étnica. Há outras dificuldades neste antigo continente, onde novos países artificialmen‑ te construídos enfrentam outros obstáculos tão ou mais pertinentes que o primeiro que aflorámos. Deste modo, os ex ‑colonizados na edificação de Estados ‑Nação ou dizendo melhor, de países com mui‑ tas nações, caminham defrontando questões variadas como a cultu‑ ral, demográfica, económica e política.

O pressuposto do grau de desenvolvimento tecnológico, da menos‑ ‑valia das matérias ‑primas agrícolas e de uma mão de obra treinada conduzem os Estados independentes africanos para uma proto‑ ‑industrialização quase inexistente na maior parte da sua geografia económica, que os tornou e tornará quase sempre dependentes dos centros industriais do Ocidente e, agora, também, dos países emer‑ gentes do Oriente como a China, Coreia e Índia. A demografia será sempre pertinente para a implementação de uma economia compe‑ titiva e concorrencial, pelo que as guerras internas, a insalubridade e as epidemias endémicas concorrerão para um refluxo da natalida‑ de e para as migrações intercontinentais.

Ainda, os pressupostos políticos e culturais, que são fundamentais para a afirmação dos Estados africanos independentes, pois condi‑ cionam toda a formatação da polis negra e da intervenção cívica das

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Introdução

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suas elites dirigentes e da restante massa populacional. A pobreza e a ignorância continuam hoje a sustentar os maus exemplos de gover‑ nação, especialmente sobre a gestão adequada do bem público, da maior parte destes países. A promiscuidade entre o interesse de todos e os interesses privados e pessoais dos políticos e das elites gover‑ nantes tem levado a uma delapidação das riquezas desses territórios, tornando ‑os nalguns casos ainda mais pobres do que no tempo da dominação colonial. Daí que continue a ser muito importante a edu‑ cação e a alfabetização das sociedades tradicionais, mas também das elites dirigentes locais sem a perda do elã tribal e étnico, que refor‑ ça a pluralidade e a riqueza pós‑colonial. A dificuldade de conciliar essa cultura tradicional de um sítio, com o da cultura global de todos os outros lugares, é a questão que se continua a pôr a estas socieda‑ des, que foram fracionadas, divididas e vilipendiadas pela dominação estrangeira.

Mas esta doxa tem e deve ser relativizada, porque apesar de a colonização ter sido feita pelos colonizadores que aceitaram sempre a predominância dos interesses metropolitanos, aqueles que Albert Memmi considerava os verdadeiros colonialistas, muitos outros não perfilhavam desta idiossincrasia de dominação e exploração social6. Apelavam sim à união e à reconversão de sociedades dinâmicas onde a miscigenação e a diversidade étnica poderiam ser uma mais‑ ‑valia de modernidade e integração destes Estados africanos pós‑ ‑coloniais, no conjunto da nova ordem internacional emergida com as guerras fratricidas entre impérios europeus e asiáticos durante toda a primeira metade do século passado, sedentos de manterem

ad eternum o estatuto de arbitrariedade e de poder ilimitado sobre

territórios e populações nos antípodas geográficos da sua matriz inicial de mando.

6 MEMMI, Albert – Retrato do Colonizado Precedido de Retrato do Colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, 190 p.

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A Guerra e as Guerras Coloniais na África subsaariana (1914-1974)

Logo os textos desta obra, versando a «Guerra e as Guerras Colo‑ niais Subsaarianas no século xx», procurarão situar os conflitos mun‑

diais, especialmente o da Primeira Guerra Mundial no cenário mais vasto da África colonizada, não se furtando a captar experiências mais particulares, centradas em torno do conflito luso ‑germânico, na emigração, na condição feminina e na atuação do metropolitano Regimento de Infantaria 14, de Viseu, em Angola. Por seu lado, um outro contributo pretenderá estabelecer pontes entre os tratados de paz de 1919 e o «reavivar das pretensões territoriais sobre a África Austral portuguesa». Sobre os ócios desses tempos, de realçar os escritos sobre o futebol e a utilização do automóvel nos itinerários exóticos de um tão vasto e diversificado Império.

José Luís Lima Garcia

0000 ‑0002 ‑1905 ‑4776

Julião Soares Sousa

0000 ‑0002 ‑8122 ‑9741

Sérgio Neto

0000 ‑0002 ‑9737 ‑0029

Referências Bibliográficas

AFONSO, Aniceto – «O Quadro Europeu Antes da Guerra». In Grande Guerra. Angola,

Moçambique e Flandres. 1914 | 1918. Matosinhos: QuidNovi, 2006, 128 p. ISBN

978 ‑972 ‑8998 ‑99 ‑8.

BUTCHER, Tim cit. por Guillermo Altares – «O conflito que nunca acabou». Courrier

International. Paris: Courrier International SA. ISSN 1154 ‑516X. N.º 223, set. de

2014, 31 p.

CARDOSO, Rui – «A Guerra dos Mundos». Courrier Internacional. Paris: Courrier Inter‑ national SA. ISSN 1154 ‑516X. N.º 223, set. de 2014, 31 p.

LIAUZU, Claude – «Des Sociétés Postcoloniales». In LIAUZU, Claude (Dir.) – Colonisa‑

tion: droit d’inventaire. Paris: Armand Colin, 2004, 352 p. ISBN 2 ‑200 ‑26434 ‑8.

MEMMI, Albert – Retrato do Colonizado Precedido de Retrato do Colonizador. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007, 190 p. ISBN 84 ‑8487 ‑336 ‑5.

Referências

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