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BIODIVERSIDADE NA REGIÃO LAGUNAR SALREU, ESTARREJA

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Academic year: 2021

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SAÍDA DE CAMPO

BIODIVERSIDADE NA REGIÃO LAGUNAR

SALREU, ESTARREJA

“Quem nem sabe olhar nem escutar a natureza, nunca tomará o seu

encanto como verdadeiro, não aprenderá nunca a vivê-la.”

Biologia e Geologia

Abril 2011

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A ria de Aveiro é a mais importante laguna do litoral português, estendendo-se entre Ovar e Mira com um comprimento de 45 km e largura máxima de 11 km. A área húmida lagunar varia entre 43 km² em baixa-mar e 47 km² em praia-mar. A laguna acolhe como principais correntes fluviais as provenientes, a norte, dos rios Vouga, Antuã e Fontão e a sul, do rio Boco.

Para além destes fluxos principais, vários riachos e inúmeras correntes fluviais correm igualmente para a laguna.

A laguna de Aveiro, vulgarmente conhecida por “Ria de Aveiro”, ainda não existia no séc. X, sendo as localidades de Esmoriz, Ovar, Estarreja, Ílhavo e Mira, banhadas directamente pelo oceano, que formava nessa zona uma grande baía (fig.1).

Em consequência do transporte de sedimentos para o litoral, formaram-se duas restingas: uma a Norte que progrediu rapidamente para sul, onde se fixaram as povoações de Espinho, Ovar e Murtosa e outra a sul onde hoje se situam as Gafanhas e as terras vizinhas de Vagos e Mira.

Nessa altura (séc. XIII) a barra situava-se no ponto onde hoje é a Torreira. Mais tarde, no séc. XV, a barra fixou-se na região de S. Jacinto. Já no séc. XVI a barra localizava-se entre a Costa Nova e a Vagueira. Todas essas alterações terão sido devidas a um elevado transporte fluvial de sedimentos e ao abaixamento do nível do mar.

Desde o séc. XVI começou a ser necessário criar canais artificiais que ligassem o interior da laguna ao mar. A barra de Aveiro revelou desde sempre uma grande instabilidade, razão pela qual foi necessário fixá-la, artificialmente, no local conveniente para a navegação e acesso à cidade.

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Questões-problema

Quais as relações entre os ecossistemas e o bem-estar humano? Quais são os benefícios

que a população obtém destes ecossistemas?

Que tipos de habitat se distinguem neste ecossistema? Que relação existe entre eles?

Que riscos ameaçam as espécies aqui existentes? Quais as espécies mais afectadas? Qual

o seu estado de conservação?

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ROTEIRO

O percurso de Salreu, que iremos fazer, é em forma de U, tem o seu início à entrada do Lugar da Ladeira e término junto ao Centro de Interpretação Ambiental do Bioria. É um percurso de cerca de 10 km, que atravessa áreas de enorme beleza paisagística, como campos de arroz, sapais, juncais e caniçais.

A presença do Rio Antuã e do Esteiro de Salreu, ligados por uma rede de valas, permite a comunicação entre todos os habitats, justificando os elevados índices de biodiversidade existentes.

In “BioRia”

1. LOCAL DE PARTIDA 2. PALHEIRO DA PRAIA MOLE 3. LOCAL DE CHEGADA

Actividades Tradicionais

O comércio nos Esteiros

A história económica da região da Ria de Aveiro está ligada a 3 factos essenciais da sua evolução: o avanço de Norte para Sul do cordão litoral, o estado das comunicações com o mar e o regime de marés dentro da laguna.

O controlo da entrada das águas do mar (por acção das marés) para a zona lagunar era fundamental para permitir a agricultura nas zonas mais baixas. Este controlo foi conseguido através da construção de uma vasta rede de motas, de canais e comportas que se estende por toda a laguna. Esta rede de canais constituiu, também, um sistema de comunicação navegável, entre o mar e o interior da zona lagunar, para pequenas embarcações.

Alguns esteiros foram rasgados artificialmente (por exemplo, os de Estarreja e Salreu) para permitir a navegação até às principais localidades. Os cais destes esteiros constituíam importantes centros económicos onde chegavam e de onde partiam os possantes mercantéis carregados de materiais de construção, sal, produtos agrícolas e animais. Em torno destes cais construíram-se armazéns, na maioria em madeira, designados por “Palheiros”, onde se comercializavam estes produtos.

Ainda hoje são visíveis, junto aos esteiros, alguns desses armazéns.

A cultura do arroz

O arroz cultiva-se nos campos de Salreu desde tempos remotos. Contudo, tratava-se de uma produção reduzida, para consumo próprio, sendo a maior parte dos terrenos pastagens livres.

Nos anos 40 do séc. XX, devido à escassez de cereal que se sentiu durante a 2ª Guerra Mundial procedeu-se, por toda a Região do Baixo Vouga, mas especialmente nos campos de Salreu, a uma adaptação dos terrenos para a cultura do arroz, em larga escala.

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Para isso, foi necessário construir um complexo sistema de irrigação constituído por uma rede de

valas, que recebem a água do rio Antuã e cujo fluxo é controlado por comportas.

Destas valas a água é encaminhada para os campos através dos gírios (pequenos canais), abrindo outras comportas menores (as setouras).

A entrada da água dos campos só é possível rompendo provisoriamente as valachas (pequenos muros de terra que delimitam os campos e represam a água).

Para retirar a água dos campos, as valas são escoadas para o esteiro durante a maré baixa procedendo-se à saída da água do campo pelos gírios até às valas.

Para se lavrar e gradar a terra é necessário que esta esteja escoada. Estas tarefas, actualmente feitas com tractores, eram realizadas por juntas de bois de raça marinhoa que puxavam o charrueco e a grade. Alguns campos (praias moles ou praias rotas) não permitiam a entrada dos animais e estes eram substituídos pela força humana. Pode-se imaginar o esforço realizado por rapazes que lavravam estas praias enterrados no lodo até à cintura.

Só então, entre Abril e Maio, os campos eram alagados para se proceder à sementeira que era feita por ranchos de mulheres.

O nível da água é controlado à medida que o arroz vai crescendo por forma a evitar que a extremidade superior do caule (ápice) esteja mergulhada.

Quando se verificava a presença de infestantes (ervas daninhas) era necessário proceder à monda que era realizada, também, pelas mulheres. Hoje, a monda é feita por processos químicos que têm posto em causa o equilíbrio ecológico.

Estes produtos, ao destruírem as ervas daninhas, provocam a escassez de alimentos a numerosas espécies de pequenos herbívoros e de várias aves, nomeadamente a codorniz e a narceja.

O processo de maturação do arroz demora cerca de 3 a 4 meses. Nessa altura, é necessário secar os campos para se proceder à colheita.

O cereal era, então, ceifado pelas mulheres que o carregavam em carros de bois e o transportavam para as eiras onde ficava a secar. Aí era limpo e separado.

Hoje são utilizadas ceifeiras mecânicas que separam o grão da palha que já fica enfardada nos campos.

A faina do moliço

O moliço (conjunto de plantas aquáticas muito abundantes na ria) foi utilizado para transformar os terrenos arenosos em terras de cultivo. As plantas mais abundantes pertencem ao género Zostera( em especial, a Z. noltii, vulgarmente conhecida por cirgo) e outras plantas aquáticas tolerantes de água salgada, como são a Ruppia e o Potamogeton.

Recolhido directamente da ria designa-se por “moliço verde” e, normalmente, era transferido do barco para um carro de bois. Daqui, o moliço era transportando para as terras de cultura.

Por vezes, ficava na margem, depositado com pequena inclinação, de modo a facilitar o escoamento das águas e designava-se “moliço seco”.

Lado a lado com a salicultura, a apanha do moliço era a actividade mais característica de toda a ria de Aveiro até à década de 1950. Exercia-se desde Ovar a Mira, em toda a vasta zona lagunar, com centenas de embarcações.

No entanto, a poluição industrial, a elevada velocidade da corrente e o aumento da salinidade das águas decorrentes das obras de beneficiação da barra e do porto de Aveiro, têm contribuído para a diminuição das áreas onde estas plantas se desenvolviam.

A apanha e transporte do moliço fazia-se a bordo dos moliceiros, barcos tradicionais desta região, característicos pela sua proa recurva e ricamente decorada.

A prosperidade da indústria de construção destas embarcações, muito procuradas na região, é-nos indicada pela existência de diversos estaleiros cujos mestres tinham marcas próprias que pintavam no leme.

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Esta é, no entanto, uma actividade que tende a desaparecer sendo, neste momento, já muito esporádica.

O suporte económico que justificou durante séculos, a existência dos Barcos Moliceiros – a apanha de moliço – deixou de existir.

As embarcações que restam são olhadas mais como peça de museu, ficando-lhes reservadas tarefas ao serviço do turismo que nada têm a ver com a sua função original.

Biodiversidade

Actualmente a Ria é considerada uma das mais importantes áreas húmidas do País especialmente devido à riqueza da avifauna que aqui nidifica.

Estão identificadas cerca de trinta espécies de aves aquáticas, sendo a maioria migratórias. Destacamos a Garça vermelha (Ardea purpúrea) pela importância das suas colónias nesta área.

Também mamíferos como a Doninha ( Mustela nivalis), a Fuinha (Martes foina) e a Lontra (Lutra lutra) podem aqui ser encontrados.

Esta última é uma espécie ameaçada de extinção na Europa existindo hoje entre 20 e 30 lontras nesta região.

Conhecem-se cerca de 48 espécies piscícolas na Ria de Aveiro e uma grande variedade de invertebrados aquáticos.

A vegetação é, também, muito diversa. Na zona de sapal encontramos, sobretudo, o Junco-das-esteiras ( Juncus maritimus). Onde a salinidade é menor predominam plantas da família do Bunho (Scirpus lacustris), o camázio (Typha latifolia) e o caniço (Phragmites australis).

Também, o bocage é um importante mosaico agrícola que apresenta uma comunidade florística e animal extremamente diversificada que se reflecte no elevado número de espécies de Passeriformes e pequenos mamíferos que utilizam, sobretudo, as sebes.

Bibliografia

ALVES, Lopes, Aveiro e o seu distrito 23/25, (1977, 78), Aveiro. BRANDÃO, Francisco, Aveiro e o seu distrito 30, (1982), Aveiro. Editora Edideco, Portugal Natural, (1991), Lisboa.

Editora Oceano, Botânica Plantas com Flor, Enciclopédia Naturália, Lisboa. Editora Oceano, Zoologia invertebrados, Enciclopédia Naturália, Lisboa.

Editora Oceano, Zoologia Peixes, Anfíbios e Répteis, Enciclopédia Naturália, Lisboa. Editorial Enciclopédia, Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa.

FRANCO, João e AFONSO, Maria, Colecção Parques Naturais nº14, (1982), Lisboa. GAMA, Sebastião, Santuários Naturais de Portugal.

GASPAR, João, Aveiro e o seu Distrito 5, (1968), Aveiro.

LOPES, Ana, Moliceiros a Memória da Ria, (1997),Quetzal Editores, Lisboa. MASSADA, Jorge, Ao Encontro de Aveiro, (2002), Aveiro.

PINHO, Margarida, Aveiro e o seu Distrito 6, (1968), Aveiro REIS, Álvaro, Ria de Aveiro Memórias da Natureza, (1993), Ovar. VILAR, Jaime, Aveiro e o seu Distrito12, (1971), Aveiro

Referências

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