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1 XV Congresso Brasileiro de Sociologia

26 a 29 de julho de 2011, Curitiba (PR) GT17 - Ocupações e profissões

ENTRE A PROFISSÃO E A OCUPAÇÃO: Os peritos forenses como árbitros da vida social

Myriam Raquel Mitjavila (UFSC) Priscilla Gomes Mathes (UFSC)

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ENTRE A PROFISSÃO E A OCUPAÇÃO: Os peritos forenses como árbitros da vida social

Resumo

O trabalho tem o propósito de discutir alguns aspectos do estatuto que o exercício de práticas forenses adquire em algumas profissões e esferas institucionais do campo social. A partir de resultados de pesquisas que examinaram as funções forenses da psiquiatria no campo sócio-jurídico, são problematizadas questões relativas às tensões institucionais que afetam as atividades forenses, e são formuladas algumas hipóteses acerca das tendências que podem ser observadas nas relações entre o exercício das funções forenses e a própria constituição e desenvolvimento dos respectivos campos profissionais.

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O trabalho tem o propósito de discutir alguns aspectos do estatuto que o exercício de práticas forenses adquire em algumas profissões e esferas institucionais do campo social. A partir de resultados de pesquisas que examinaram as funções forenses da psiquiatria no campo sócio-jurídico, são problematizadas questões relativas às tensões institucionais que afetam as atividades forenses, e são formuladas algumas hipóteses acerca das tendências que podem ser observadas nas relações entre o exercício das funções forenses e a própria constituição e desenvolvimento dos respectivos campos profissionais.

No contexto do presente trabalho, a prática forense é considerada um desdobramento do exercício profissional – deve ser executada por representantes de uma profissão -, porém nem todas as profissões estariam em condições de exercê-la, seja porque a sociedade não requer do juízo profissional nessas áreas, seja porque a profissão carece dos

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3 meios intelectuais ou técnicos para assumir essa função (MITJAVILA, 2002). Este tipo de função é realizada por peritos enquanto agentes que executam perícias. Perícia é uma palavra derivada do latim, peritia, e significa “conhecimento adquirido pela experiência que resulta em saber, talento, perícia”. (MIOTO, 2001, p. 146).

Contudo, é necessário esclarecer que a perícia não é nem uma ocupação nem uma profissão, mas uma função exercida por diversos profissionais. Em tempos pré-modernos, a habilidade exigida de um perito advinha da prática, da experiência; nos dias atuais, este conhecimento deve vir não apenas da experiência, mas principalmente do conhecimento científico. (FREIDSON, 1978).

Atualmente, poder-se-ia dizer que praticamente não existem áreas da vida social nas quais os saberes científico-técnicos não sejam convocados para proporcionar subsídios para a tomada de decisões por parte dos agentes institucionais. Assim, por exemplo, existiria consenso nas ciências sociais quanto à confiança que o campo judiciário costuma depositar no saber científico-técnico para a produção de provas nas quais fundamentar as decisões dos juízes (BERCOVICH, 2000). Contudo, Freidson (1978, p. 332) adverte que nem a perícia, nem o perito foram examinados suficiente ou cuidadosamente,

como para permitir una formulación inteligente y autoconsciente del rol adecuado del experto en una sociedad libre. En verdad, creo que la pericia está cada vez más en peligro de ser utilizada como una máscara para el privilegio y el poder en vez de, como ella proclama, ser un modo de adelantarse al interés público. Se puede utilizar para encubrir más privilegio principalmente porque en forma habitual se la trata globalmente, más que analíticamente, oscurecida y mistificada por el aura de la ciencia moderna y la ideología de la moralidad.

Essa advertência de Freidson remete a um tipo de atributo frequentemente detectável, por exemplo, nas perícias psiquiátricas que têm o propósito de determinar a periculosidade criminal de indivíduos em conflito com a lei e, em particular, daqueles que receberam o diagnóstico

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4 de transtorno de personalidade antissocial. A seguinte descrição revela a onipresença de critérios morais na definição da “personalidade delinqüente”, considerada um sub-tipo de sociopatia, predominantemente juvenil, pelo psiquiatra português Antônio Fernandes da Fonseca:

Manifesta-se uma tal rebeldia pela indisciplina, pelo erotismo, pela degradação dos costumes, pela toxicodependência e por múltiplos outros <desmandos> de diversa natureza. Entre os delitos mais freqüentes praticados por jovens menores costuma apontar-se roubo (cometido sobretudo por rapazes), a prostituição (praticada pelas raparigas) e a vagabundagem (exercida por jovens dos dois sexos). (FONSECA, 1997, p. 511-512).

A natureza explícita da presença de critérios morais e ideológicos na psiquiatria contemporânea, conforme exprime o excerto acima, tende a desaparecer no exercício cotidiano das funções periciais. O caráter axiológico das avaliações forenses, ao mesmo tempo em que cumpre um papel decisivo para o julgamento das mais diversas situações, acaba invisibilizando-se por conta dos mecanismos de poder que organizam essas mesmas práticas.

Com efeito, a análise da estrutura dos laudos psiquiátricos permite observar como as avaliações forenses, embasadas nesses elementos de caráter moral, são exibidas sob uma aparente neutralidade valorativa. Um dos mecanismos que torna isso possível é o caráter binário dos juízos profissionais registrados nos laudos. Como afirma Foucault,

(...) no domínio da doença mental, a única questão verdadeira que se coloca é a questão em forma de sim/não; isto é, o campo diferencial no interior do qual se exerce o diagnóstico da loucura não é constituído pelo leque das espécies nosográficas, é simplesmente constituído pela escansão entre o que é loucura o que é não-loucura; é nesse domínio binário, é no campo propriamente dual que se exerce o diagnóstico da loucura (...). A psiquiatria funciona, portanto, segundo o modelo do diagnóstico absoluto e não do diagnóstico diferencial. (2006, p. 346)

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5 Tudo começa e recomeça sempre a partir de um ato, que se repete sempre da mesma maneira: o requerimento de pericia psiquiátrica realizada pelo juiz, ao solicitar ao perito psiquiatra que responda se a periculosidade de um determinado indivíduo está ou não cessada. A finalidade é obter deste profissional uma resposta contundente, sem traço algum de ambigüidade, isto é, “sim” ou “não”. O perito acaba, assim, se rendendo tanto às exigências que provém do campo jurídico quanto àquela tendência secular ao pensamento binário à qual Foucault se refere.

Esse caráter binário da avaliação psiquiátrica de periculosidade ilustra perfeitamente o que num trabalho anterior definimos como processo de arbitragem social (MITJAVILA, 2002) para nos referirmos a uma classe de processo sócio-institucional mais amplo, dirigido à tomada de decisões diante de alternativas geralmente dicotômicas como, por exemplo, outorgar ou não outorgar um crédito no sistema financeiro; encaminhar ou não encaminhar uma criança para adoção; determinar se uma pessoa pode ou não ser julgada por um crime ou delito; decidir se uma família deve ou não receber apoio de um programa de assistência social.

Em praticamente a totalidade dos processos de arbitragem social que podem ser observados nas sociedades contemporâneas, a presença do perito como árbitro social parece ter se multiplicado, até o ponto de se constituir em peça-chave do funcionamento das instituições. Diversas hipóteses têm sido levantadas a respeito dessa crescente presença dos peritos no espaço social. Uma delas, provavelmente a mais tradicional e aceita entre os pesquisadores da área, atribui esse crescimento do universo pericial à confiança que, como fruto da modernidade, as instituições sociais depositam na capacidade dos saberes científico-técnicos para arbitrar decisões das próprias instituições diante de situações-problema. (FREIDSON, 1993; GIDDENS, 1991).

Embora não será objeto de análise no presente trabalho, uma segunda hipótese a respeito da proliferação de práticas periciais as

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6 considera como resultado da emergência de novas tecnologias políticas nos processos de gestão do social em contextos de modernidade tardia. Nessa linha argumentativa, podemo-nos perguntar em que medida os instrumentos médicos de avaliação de periculosidade formariam parte das tecnologias políticas que sustentam as estratégias da governamentalidade como problema contemporâneo (ROSE, 1996).

A confiança institucional nos saberes peritos: os conflitos no estabelecimento das competências

A confiança depositada pelas instituições nos saberes e práticas forenses é geralmente o resultado de processos sociohistóricos complexos e que envolvem relações de poder e a presença de racionalidades e interesses de diversos agentes e esferas institucionais.

No caso do saber médico, constitui um lugar bastante comum considerar que sua expansão segue uma trajetória bastante linear, no sentido de avançar colonizando um número cada vez maior de áreas do espaço social, o que se traduziria numa também crescente participação nos processos de arbitragem social por meio das práticas forenses. (MITJAVILA, 1998).

No entanto, se observarmos a participação da psiquiatria forense nos processos de arbitragem da criminalidade, poderá facilmente concluir-se que essa crescente presença do saber médico nesta área é caracterizada por fortes tensões, conflitos e interesses que interpelam até a própria legitimidade da medicina para emitir avaliações científico-técnicas sobre atributos tais como a responsabilidade e (in)imputabilidade penal dos indivíduos em conflito com a lei e, ainda, a sua periculosidade criminal.

Essas características podem ser observadas nos debates que acompanharam as alterações introduzidas na Lei de Execuções Penais que vigorou no Brasil até 2003. Até então, a lei determinava uma série de requisitos para que os condenados pudessem obter o benefício do livramento condicional, quais sejam: (i) ter cumprido de um terço a dois

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7 terços da pena recebida; (ii) comportamento carcerário considerado satisfatório; (ii) aptidão para manter a auto- subsistência por meio do trabalho; (iv) reparação do dano causado pela infração. Neste tipo de exame, a avaliação de periculosidade criminal constituía um objetivo central quando aplicado a certas categorias de presos, conforme estabelecido no Código Penal:

para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a delinqüir.1

A Lei 10.792/03 deu nova redação aos artigos 6º e 112 Lei 7.210/84, dispensando o parecer da Comissão Técnica de Classificação e o exame criminológico, no caso das progressões e regressões de regime, as conversões de pena, livramento condicional, indulto e comutação. Com o sistema progressivo, adotado pelo Código Penal e explicitado pela Lei de Execução Penal, para progredir, o condenado deverá ter cumprido ao menos 1/6 da condenação, e os aspectos relacionados ao mérito são substituídos, apenas, pelo ostentar bom comportamento carcerário, comprovado pela administração do diretor ou gerente do estabelecimento carcerário. Dois aspectos merecem aqui destaque: a transferência de funções de classificação da profissão médica para agentes institucionais do quadro burocrático (nas suas funções policiais e custodiais), e o tipo de atributo a ser avaliado: o “bom comportamento” do presidiário no estabelecimento, o qual não é definido no texto da lei.

A imposição jurídica dessa restrição do campo de competências da medicina psiquiátrica, pode ter sido o resultado de diversos fatores, entre os quais podemos destacar a própria inviabilidade técnica da realização dos exames na população dos presídios, devido ao escasso número de técnicos para o tamanho da mesma, e, por outro lado, à erosão da confiança dos meios jurídicos na competência técnica e/ou operacional da

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8 medicina psiquiátrica para assumir essa função.

Nesse sentido, vale a pena acompanhar o raciocínio de um jurista sobre o assunto:

A meu modo de ver, as objeções, relativamente ao exame criminológico, são procedentes. As críticas em relação aos laudos são antigas e variadas, dizendo-se que eles são sempre iguais, mesmo porque os profissionais (psiquiatras, psicólogos e assistentes sociais) conseguem dizer das condições pessoais dos condenados com base em brevíssimas entrevistas; chegam, em muitos casos, a conclusões negativas, consistentes no "risco de reincidência", que não é aferível mediante exame e nem constitui tarefa desses profissionais; os laudos devem dizer das condições pessoais dos apenados, quando possível, para que os operadores do direito possam decidir, com base em suas conclusões. E, ademais, o risco de reincidência é requisito apenas para concessão do livramento condicional (art. 83, do Código Penal) e não da progressão do regime (art. 112, da Lei de Execução Penal).

Pode-se até concordar com quem pense que melhor seria corrigir os erros apontados, quanto à avaliação pericial, do que não realizá-la. Realmente, o acompanhamento efetivo e não apenas consistente em meras entrevistas de poucos minutos, seria o mais adequado, inclusive para as progressões e regressões de regimes. Mas, pelo menos, deve ser realizado exame sério e minucioso, no momento de ingresso do condenado no sistema, para fins de classificação e individualização.” (BARROS, 2005)

Por outro lado, existiriam indícios acerca do caráter ainda no plenamente institucionalizado do perito e das práticas periciais no campo da psiquiatria. Ademais de a confiança depositada na medicina psiquiátrica pelas instituições, para que a figura do perito se estabeleça de maneira sólida é preciso que a própria profissão médica a reconheça como parte da sua identidade, ou seja, como atributo ou dimensão do exercício profissional, o que ainda se apresenta de forma problemática e instável.

Por exemplo, no que diz respeito à avaliação de periculosidade criminal, observam-se frequentemente questionamentos e

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9 problematizações levantadas no próprio interior da medicina psiquiátrica, o que revela que a ocupação de perito não tem se convertido de maneira plena até hoje em um atributo legitimo da psiquiatria como especialidade médica. Recentemente, um psiquiatra brasileiro manifestava com veemência seu rechaço a considerar qualquer classe de ingerência da psiquiatria nas avaliações de periculosidade criminal:

O tema da periculosidade, jamais foi discutido seriamente pelos psiquiatras. Periculosidade é uma questão social e jurídica, porém absolutamente fora do campo psicopatológico. O que o psiquiatra pode dizer sobre o examinando restringe-se à sua saúde mental. Existem pessoas perigosíssimas sem nenhum problema psiquiátrico, e vice-versa.2

Autonomia e monopólio: bases do trabalho pericial

As objeções dos juristas diante da universalização das avaliações psiquiátricas da periculosidade criminal estariam ilustrando que a confiança institucional no saber médico não é permanente nem incondicional e ela estaria dependendo, em grande medida, do grau de autoridade cultural3 que o próprio saber médico é capaz de conquistar, em cada momento histórico, no interior do próprio âmbito sociojurídico. Nesse sentido, poder-se-ia afirmar que a autoridade cultural da medicina psiquiátrica é variável e não pode ser generalizada a todos os assuntos que se encontram, ou em algum momento encontravam-se, sobre a sua jurisdição.

Ao mesmo tempo, o processo de designação do perito apresenta-se, também, como um poderoso mecanismo de (re)institucionalização dos

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Cláudio Lyra Bastos. Opinião. Coluna da Lista Brasileira de Psiquiatria Psychiatry On-line Brazil12 (10), 2007.

Disponível em http://www.polbr.med.br/ano07/lbp1007.php

3 Utiliza-se aqui a definição de autoridade cultural elaborada por Starr (1991, p. 28): “Así pues, la

autoridade también se refiere a la probabilidad de que ciertas definiciones particulares de la realidade y juicios de significado y de valor prevalezcan como válidos y verdaderos. A esta forma de autoridad la llamaré autoridad cultural para distinguirla de la autoridad social que Weber tuvo en mente. Esto va de acuerdo con una distinción común, aunque casi siempre problemática, entre cultura – el reino del significado y de las ideas - y sociedad – el reino de las relaciones entre actores sociales.

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10 saberes e formas de expertise profissional que participam dos processos de arbitragem social nos mais diversos contextos institucionais. No caso do âmbito judicial, o juiz está investido de poder para decidir se um determinado campo de saber, ou uma determinada categoria profissional, detêm os conhecimentos e competências necessárias para proporcionar os elementos de prova que se fazem necessários para a tomada de decisões. De acordo com a literatura e as evidências empíricas disponíveis, existiriam dois atributos, entre outros examinados na sociologia das profissões, cuja presença está associada à institucionalização do papel pericial dos profissionais: monopólio e autonomia técnica. Nas sociedades contemporâneas, não há dúvida quanto ao caráter monopólico da profissão médica no desempenho das funções diagnósticas e terapêuticas. O monopólio indica, conforme aponta Freidson (1998), a capacidade de uma profissão para controlar uma área de conhecimento, como decorrência de ter obtido a exclusividade (social e legal) para administrar e aplicar esses conhecimentos. Em contrapartida, o monopólio implica em inabilitar a leigos e membros de outras categorias profissionais para o exercício dessas mesmas funções.

Diversas pesquisas indicam (DARMON, 1991; HARRIS, 1993) que, historicamente, a medicina tem conquistado o monopólio para determinar a responsabilidade e a periculosidade criminais, bem como os processos por meio dos quais a justiça criminal acabou institucionalizando condições de autonomia para o exercício dessa função por parte da psiquiatria forense que superam, provavelmente, os níveis de autonomia que a profissão médica detém como um todo (inclusive em outras áreas de atuação da medicina legal).

Se por autonomia da medicina entendemos, junto com Friedson (1993), a possibilidade de a profissão criar, de maneira independente, e auto-validar as regras do exercício profissional, podemos concluir que estes atributos se manifestam de maneira radicalizada nas perícias psiquiátricas. De fato, o exame pericial - base da emissão de laudos de sanidade mental e de cessação de periculosidade - consiste em uma

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11 entrevista ou interrogatório dirigido à obtenção de evidências sobre a responsabilidade e a periculosidade do periciado com relação a um evento passado, no primeiro caso, e a eventos incertos de natureza violenta ou criminosa, no segundo caso, num futuro também indeterminado.

Verifica-se aqui que, do ponto de vista dos direitos humanos dos sujeitos periciados, esta é uma tecnologia que não oferece garantias mínimas, no sentido de permitir realizar controles técnicos posteriores, devido a irreplicabilidade dos procedimentos e, portanto, à impossibilidade de introduzir a avaliação por pares. Em outras áreas da medicina legal as evidências forenses são ou podem ser registradas por meio de imagens e outros suportes tecnológicos ou materiais. Aqui assistimos a elaboração de juízos profissionais baseados em informação obtida a partir de evidências imateriais (simbólicas, objetivas ou subjetivas) e irrepetíveis, devido ao contexto interacional entre perito e periciado que caracteriza o ato forense. Finalmente, reconhecendo que toda profissão é uma construção social, isso em vista da sua inscrição num contexto histórico, político, econômico, social e cultural, as profissões têm desempenhado um papel cada vez mais relevante no processo de construção da vida social da sociedade moderna. É devido a essa conjugação de determinações que os cientistas sociais vêm concordando com o fato de que as profissões, e o saber cientifico e técnico, estão se convertendo em um elemento tanto instituído como instituinte da vida social. Assim, pode-se afirmar que pelo menos algumas profissões poderiam funcionar como “observatórios privilegiados” da vida social, como vem historicamente acontecendo no caso da medicina (STARR, 1991; FREIDSON, 1998), especialmente no que tange ao desempenho de suas funções forenses.

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Referências

BARROS, A. M. A reforma da Lei nº 7.210/84 (Lei de Execução Penal) Jus Navigandi, Teresina, ano 9, n. 590, 18 fev. 2005. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=6322>. Acesso em: 28 jun. 2009.

BERCOVICH, Ingrid. La medicalización de la sociedad: el caso de la práctica psiquiátrica forense en el Uruguay. Trabalho de conclusão de curso (Licenciatura en Sociología) - Universidad de la República Oriental del Uruguay, (Orientador) Myriam Raquel Mitjavila. Montevidéu, 2000. DARMON, P. Médicos e assassinos na Belle Époque: a medicalização do crime. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1991.

FONSECA, A. F. Psiquiatria e psicopatologia. 2ª. Ed. Lisboa: Fundação de Calculstre Gulbenkian, 1997.

FOUCAULT, M. O poder psiquiátrico. São Paulo, Martins Fontes, 2006. FREIDSON, E. How dominant are the professions? In: Hafferty, F.W e McKinlay, J.B. The changing medical profession: An international perspective, New York: Oxford University Press, 1993.

FREIDSON, E. La profesión médica: un estudio de sociología del conocimiento aplicado. Barcelona: Península, 1978.

FREIDSON, E. Renascimento do profissionalismo. São Paulo: editora da Universidade de São Paulo, 1998.

GIDDENS, Anthony. As conseqüências da modernidade. São Paulo: Unesp, 1991. HARRIS, R. Assassinato e loucura. Medicina, leis e sociedade no fin de siècle. Rio de Janeiro: Rocco, 1993.

MIOTO, R.C.T. Perícia social: proposta de um percurso operativo. Serviço Social &Sociedade, Ano XXII, n.67, p.145-158, 2001.

MITJAVILA, M. R. El saber médico y la medicalización del espacio social. Montevidéu: Facultad de Ciencias Sociales. Universidad de la República Oriental del Uruguay, 1998. 48 p.

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13 Social; Revista de Sociol. USP, S. Paulo, v.14, n.2, p.129-145, outubro de 2002. ISSN0103-2070

ROSE, N. The Dead of the Social? Refiguring the territory of Goverment. Economy and Society 25 (3), pp. 327-356, 1996.

STARR, P. La transformación social de la medicina en los Estados Unidos de América. México: Fondo de Cultura Económica, 1991.

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