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Volume 2 Número 1 Ano 2020 ISSN X

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Academic year: 2021

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Volume 2 | Número 1 | Ano 2020

ISSN 2596-268X

A INTEGRAÇÃO SOCIOCULTURAL DE IMIGRANTES: UM ESTUDO DE CASO DE SUBJETIVIDADES ENVOLVIDAS NO CORAL HAMACA (DF)

The sociocultural integration of immigrants: a case study of subjectivities engaged in Hamaca Choir (DF)

Isadora de Lima Branco1

RESUMO

O presente trabalho busca desenvolver uma compreensão crítica do complexo processo de integração sociocultural de imigrantes, bem como compreender o possível papel do canto coral em tal dinâmica. Para isso, utilizam-se a epistemologia e a metodologia qualitativa associadas à Teoria da Subjetividade, para analisar casos associados ao Coro Hamaca, que reúne imigrantes e brasileiros na prática musical, em Brasília, Distrito Federal. Por meio dessa abordagem, é possível perceber a impossibilidade de definição e hierarquização dos principais elementos de integração, além da dificuldade de mensuração estatística do processo, na medida em que esse se revela contínuo e conectado às subjetividades individuais, particulares de acordo com suas trajetórias pessoais, contextos e configurações subjetivas sobre esses indivíduos.

Palavras-Chave: Imigração; Integração sociocultural; Subjetividade;

Canto coral; Sociedade civil.

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Revista Brasileira da Pesquisa Sócio-Histórico-Cultural e da Atividade Brazilian Journal of Socio-Historical-Cultural Theory and Activity Research

ABSTRACT

This paper aims to develop a critical understanding of the complex process of immigrant socio-cultural integration, as well as to understand the possible role of choral singing in such dynamics. In order to achieve this understanding, we use the epistemology and qualitative methodology associated with Subjectivity Theory to analyze cases associated with the Hamaca Choir, which brings together immigrants and Brazilians in musical practice in Brasília, Federal District. Through this approach, it is possible to realize the impossibility of defining and hierarchizing the main elements of integration, as well as the difficulty of statistical process measurement, as this process is continuous and connected to individual subjectivities, particular according to migrants’ trajectories, personal contexts and subjective configurations about them.

Keywords: Immigration; Socio-cultural integration; Subjectivity; Choral

singing; Civil society.

1. Introdução

Tema relevante em diversas agendas nacionais e internacionais, a migração internacional tem sido amplamente debatida na atualidade. Embora estatísticas sobre migração internacional2 sejam dificilmente precisas, estima-se

que existam cerca de 244 milhões de migrantes internacionais, correspondendo a 3,3% da população mundial (OIM, 2018).

Percebe-se, assim, que esses fluxos têm transformado as sociedades de origem e de destino, tanto em uma dimensão macrossocial, referente sobretudo à evolução da economia mundial, às instituições sociais e à comunicação, quanto em uma dimensão microssocial, quando se trata das práticas diárias que modificam as dinâmicas familiares, sociais e políticas, especialmente concernente aos relacionamentos interpessoais (PIZARRO, 2008), os quais passam a inserir, cada vez mais, elementos interculturais.

Como consequência de tais mudanças complexas, ainda que tendam a privilegiar as demandas de grupos nacionais, os Estados têm se organizado em torno da elaboração, manutenção e implementação de políticas para atender concomitantemente às novas demandas da sociedade nativa e da sociedade imigrante, com o desafio de manter a legitimidade e eficacidade desse processo (MARMORA, 2010), como é o caso do conhecido sistema de pontos da política

2 Compreendidos simultaneamente como causa e efeito de diversos conflitos contemporâneos,

tais fluxos qualificam o termo migração internacional quando se referem ao movimento de pessoas entre fronteiras de Estados-nação (PATARRA, 2006).

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canadense e da política de interiorização de imigrantes venezuelanos no Brasil. Nesse contexto, as instituições estatais defrontam-se, porém, com a crescente diversidade cultural e étnica, a qual coloca em contato distintas tradições, religiosidades, línguas e práticas culturais e políticas da sociedade de acolhimento e do sujeito imigrante (CASTELS; MILLER, 1998). Nesses contatos, ocorre um profundo processo de construção coletiva dos significados, simbologias e emocionalidades relativas à migração e à própria diversidade cultural e étnica, tanto por parte da sociedade de acolhimento, quanto por parte do próprio sujeito imigrante, o qual acaba por influenciar a elaboração, execução e implementação das mais diversas políticas migratórias. Assim, para além do Estado, mesmo quando se refere somente às políticas de controle fronteiriço e regras de permanência, a formação e implementação de políticas envolvem construções de significado e práticas das comunidades imigrantes, da sociedade de acolhimento e de outros atores.

Essas questões derivadas do crescente contato intercultural também levantam demandas específicas referentes à integração e aos direitos socioculturais das populações migrantes. Apesar de haver suposto consenso sobre a concepção de integração como inclusão de partes em uma entidade, pela formação de tecidos sociais coesos, os significados atribuídos a essa inclusão têm diferido consideravelmente (AGER; STRANG, 2008), especialmente no que se refere a políticas, práticas e modelos de promoção do que se concebe majoritariamente por integração.

Contudo, apesar da importância e da atualidade do tema, os estudos que inter-relacionam políticas públicas e migrações internacionais, ainda que predominantemente centrados na integração sociocultural, têm se mostrado escassos, especialmente no Brasil, onde o estudo bibliométrico de Coutinho, Bijos e Ribeiro (2018) mostrou a significativa fragmentação presente nesse campo de estudo e o baixo volume de artigos publicados. Além disso, “muitos países não possuem políticas formalizadas sobre o assunto e relegam a integração sociocultural à sociedade civil e a instituições privadas” (COUTINHO; BIJOS; RIBEIRO, 2018, p. 120), o que dificulta ainda mais o estudo desse processo por pesquisadores, visto a extensão e diversidade de atores envolvidos nele.

No caso do Brasil, os estudos normativos mostraram que a simples análise dos instrumentos normativos da Política Migratória Brasileira não tem sido capaz de especificar um modelo de gestão migratória claro das diferenças culturais e étnicas no país, tendo em vista a superficialidade dos instrumentos normativos brasileiros quanto à temática da integração e a significativa atuação não-homogênea da sociedade civil no processo (BRANCO, 2018).

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Dessa forma, a elaboração de estudos de caso sobre as relações entre as sociedades de acolhimento e as comunidades imigrantes, bem como sobre práticas de integração sociocultural, pode oferecer maiores reflexões e informações sobre as subjetividades e processos envolvidos nesse processo e a respeito do conceito de integração sociocultural em si, facilitando a posterior elaboração de políticas públicas ou o aperfeiçoamento de projetos da sociedade civil. Este trabalho, portanto, realiza um estudo de subjetividades implicadas no processo de integração de imigrantes participantes do projeto de canto coral Hamaca, ativo no Distrito Federal desde setembro de 2018.

Para isso, elabora-se uma revisão bibliográfica sobre o conceito de integração e sobre o atual cenário da política migratória brasileira, a fim de promover uma compreensão do contexto deste trabalho. Posteriormente, apresenta-se uma introdução do marco teórico, na forma da pesquisa qualitativa, para, por fim, ilustrar a sua aplicação através da interpretação dos dados coletados na pesquisa de campo realizada no primeiro semestre de 2019. Dessa forma, este estudo promove uma interpretação abrangente do conceito de integração e suas práticas, por meio do estudo da subjetividade, o que pode contribuir para a área de Estudos Migratórios e para a promoção de atitudes, projetos e políticas que valorizem as subjetividades individuais envolvidas no processo de integração.

2. Conceitos e abordagens de integração

A integração é entendida como um processo dual de inclusão de grupos em uma entidade pela formação de tecido social. Por envolver diversos atores, governos, imigrantes, instituições e população local, o processo de integração caracteriza-se como dinâmico e resultante de diversas interações entre os níveis macro e microestruturais (FONSECA, 2003). No plano macroestrutural, podem-se destacar as estruturas econômicas, sociais e políticas dos paípodem-ses de destino, enquanto que, no plano microestrutural, encontram-se os contextos locais dos territórios. Por isso, estaria baseado em uma construção coletiva e cooperativa (FONSECA, 2003).

Essa construção coletiva é destacada no entendimento da dimensão dual da integração, visto que o imigrante não deve ser entendido somente como aquele que irá “adentrar” uma cultura específica, mas também como aquele que tem o potencial de transformá-la (PAPADEMETRIOU, 2003). Assim, a presença do imigrante e as experiências por ele vivenciadas são fatores capazes de produzir mudanças sociais, culturais, econômicas e políticas, observando que a cultura é dinâmica e depende das interações entre os sujeitos.

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Segundo o psicólogo John Berry (1997), referência no estudo desse processo de integração, ainda que este seja dual e que se reconheçam a agência e potencial do imigrante, existem dinâmicas de poder entre os grupos envolvidos que geram influências, como a simples diferença numérica e a influência política de um grupo em comparação a outro, o que o estimula a classificar dois grupos principais - o dominante e o não dominante. A partir dessa diferenciação, Berry (2001) estabelece, inicialmente, um quadro de estratégias referentes às inclinações de cada um desses grupos com relação ao processo de integração e encontro intercultural. Posteriormente, na tentativa de aperfeiçoar o modelo, substitui essa diferenciação de grupo dominante e não dominante pela classificação em “grupos etnoculturais e sociedade majoritária”, a fim de expandir a abrangência teórica para sociedades pluralistas, nas quais vários grupos se encontram e as instituições nacionais envolvem todos (BERRY, 2011). De acordo com esse modelo, ilustrado no gráfico abaixo, grupos e indivíduos escolhem suas estratégias de integração, que reúnem tanto atitudes quanto comportamentos, a partir do grau de desejo de manutenção de sua própria cultura e de engajamento em relações interculturais com grupos diferentes.

Gráfico 1: Estratégias de Integração

Fonte: Berry (2011, p.5)

Dessa forma, são identificados, na categoria de marginalização, aqueles indivíduos imigrantes que optam por não manter a herança cultural do país de origem e, ao mesmo tempo, não se engajar na relação com a cultura e sociedade

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de acolhimento. Caso mantenham, porém, boa parte da herança cultural originária, a estratégia do grupo imigrante é identificada como separação.

Quando a relação e o contato com a cultura e a sociedade de acolhimento são estabelecidas de maneira mais forte, se não mantida a herança cultural originária do imigrante, é possível identificar uma estratégia de assimilação; ou uma estratégia de integração, caso a manutenção dessa herança possibilite a coexistência de aspectos culturais da sociedade de origem e da sociedade de acolhimento.

Tais categorias ressaltam a capacidade de agência do sujeito imigrante na escolha da estratégia mais adequada. Contudo, ainda sim formam-se categorias paralelas determinadas pela preferência da sociedade de acolhimento quanto à integração de imigrantes, influenciando as oportunidades que essa sociedade de acolhimento oferece a esses indivíduos. Dessa forma, também estabelecidas pelo grau de manutenção da herança cultural originária do imigrante e pelo grau de estabelecimento de novas conexões e vínculos com a cultura e sociedade de acolhimento, têm-se exclusão, segregação, melting pot e multiculturalismo como possibilidades de cenários de estratégias da sociedade majoritária.

Estudos aplicados como o do sociólogo Jenny Phillimore (2011) apresentam, contudo, críticas relevantes a esse modelo teórico. Esse pesquisador o fez por meio do acompanhamento da integração de cerca de 138 refugiados no Reino Unido, com entrevistas abertas e semiestruturadas. Por meio desse estudo, o autor mostra a dificuldade desses refugiados em manter o modelo de integração de sua escolha, o que gerava problemas psicológicos e mudanças de estratégias. Assim, destaca a compreensão de que a integração consiste em um processo contínuo de negociação entre esses grupos e entre passado e presente (PHILLIMORE, 2011).

Ademais, o modelo de Berry foi criticado pela representação fixa e apolítica, que se distancia da compreensão da complexidade e dinamismo do processo de integração, ainda que tenha se destacado por explicitar os principais cenários e estratégias derivados da interação entre sociedade de acolhimento e imigrante (BATHIA; RAM, 2009). Ainda possível de ser aperfeiçoada, a teoria passou, portanto, para uma compreensão mais ampla do processo, inclusive para destacar o reconhecimento da necessidade de um mínimo de abertura pela sociedade majoritária para uma sociedade diversa, a fim de que o indivíduo ou grupo etnocultural escolha uma estratégia integrativa, de forma que o processo exige uma acomodação mútua harmonizada (BERRY, 2011).

Em resumo, observa-se que a integração é um processo dinâmico, de constante negociação entre grupos que possuem, em geral, diferentes graus de

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influência na formação de um tecido social. Esse processo permite, salvo as devidas proporções, que o imigrante mantenha sua cultura originária ao mesmo tempo em que interage diariamente com aspectos da cultura de acolhimento, ou também chamada de dominante. Para além de provocar debates quanto à conceituação, bem como distintas visões e teorias sobre o processo, como mostrado nesta seção, esse processo tem sido alvo de elaborações teóricas sobre os elementos que levam a uma integração efetiva.

2.1 Elementos de integração e uma visão crítica

Segundo Crisp (2014), o processo de integração local está diretamente ligado a três dimensões essenciais: legal, econômica e social. A primeira refere-se ao acesso legal aos documentos necessários para procurar trabalho, para obter propriedade e ter acesso a serviços públicos, como educação e saúde, segundo os termos da Convenção de 1951. A segunda entende-se como um processo econômico de aquisição de autossuficiência ou menor dependência do imigrante em relação ao Estado e aos organismos não governamentais (CRISP, 2014). Já a última dimensão, de uma análise e alcance mais subjetivo, estende o conceito de integração aos vínculos sociais e culturais existentes entre o imigrante e a população local, especialmente com a criação de uma rede social não discriminatória e livre de situações de exploração (CRISP, 2014).

Também atentos à formação de redes sociais, os estudos de Ager e Strang (2008), elaborados por meio de entrevistas com refugiados e de revisão bibliográfica, mostram que, dentre diversos fatores que contribuem para a integração, como o acesso à educação, à saúde, ao mercado de trabalho e à moradia, é destaque a importância da construção de conexões sociais como facilitadoras do processo de integração, removendo barreiras e promovendo a construção de tecidos sociais integrados. Para Ager e Strong (2008), assim, diversos fatores inter-relacionados são importantes pela possibilidade de promover o bem-estar e a sensação de segurança, como o acesso à moradia, assim como a preservação de links sociais, em especial familiares.

A partir de 1950, diversos métodos estatísticos foram desenvolvidos a fim de construir uma avaliação e monitoramento desse processo, com especial contribuição do sociólogo Werner S. Landecker. O sociólogo desenvolveu um método de avaliação que integra quatro tipos de integração - cultural, normativa, comunicativa e funcional - cada um deles com um contínuo distinto de medida (LANDECKER, 1951). A integração cultural é entendida com base no domínio dos padrões e costumes culturais da sociedade de acolhimento; já a integração normativa está ligada à compreensão e ao domínio dos padrões de

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comportamento; a integração comunicativa refere-se à troca efetiva de sentidos; e a funcional está ligada a certo grau de independência, alcançada, em geral, pela inserção no mercado de trabalho (OLIVEIRA; GOMES, 2018).

No contexto europeu, inclusive, as tratativas sobre integração de imigrantes são mais específicas, tendo sido lançada a Declaração de Zaragoza, em 2010, no âmbito da Conferência Ministerial Europeia em Integração (EUROSTAT, 2017). Ela foi precedida por diversos programas e encontros do Conselho da União Europeia sobre a temática, iniciados em 2004. A declaração, além de identificar elementos importantes para a integração, define indicadores comuns para a mensuração do processo (EUROSTAT, 2017). Os indicadores utilizaram, inclusive, dimensões inspiradas nos próprios tipos de integração desenvolvidos por Landecker (1951), a saber: emprego, educação, inclusão social e cidadania ativa (OLIVEIRA; GOMES, 2018).

O método de Landecker, contudo, foi muito criticado, em virtude de aplicar generalizações e abstrações em um processo social tão amplo e subjetivo (OLIVEIRA; GOMES, 2018). Ademais, é notável a dificuldade de se compreender como as características pessoais de cada imigrante interferem no resultado, além da imprecisão e incompletude dos dados coletados em formulários e entrevistas em decorrência do não domínio da língua e da comunicação no caso de recém-chegados (EUROSTAT, 2017).

Além dessas diversas concepções e estatísticas sobre os elementos necessários à integração, existem distintos significados e práticas atribuídos a esse processo (AGER; STRANG, 2008), especialmente no que se refere aos modelos de promoção do que se concebe, majoritariamente, como integração, considerando ainda seus respectivos exercícios. Em uma instância macrossocial, os próprios modelos de assimilação e multiculturalismo começam a ser compreendidos como estratégias bem-sucedidas de integração, a depender da interpretação e significado atribuídos pelas sociedades e indivíduos em questão, ainda que o multiculturalismo tenha sido recentemente mais valorizado em democracias liberais (CE, 1997), influenciado pelo multiculturalismo liberal conceitualizado em Kymlica (2003). Assim, não existe consenso sobre a eficiência dos modelos de integração estabelecidos nas políticas.

Ademais, a inclusão dos imigrantes na elaboração de tais estratégias e políticas tem sido limitada, estando eles, muitas vezes, retratados nas políticas e discursos jornalísticos como passivos do processo de integração, vítimas das circunstâncias ou mesmo como vilões (MOREIRA, 2014; NEEDHAM, 1994). Na política britânica, por exemplo, tem-se a prática da realização de cursos de cidadania que se baseiam sobretudo na elaboração de um contraste entre o

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“nós” em detrimento do “eles”, colocando os migrantes e refugiados na categoria do “outro”, localizado e identificado como problema (AGER; STRANG, 2010).

No mesmo sentido, Godoy (2016) destaca que é preciso considerar que, ainda que útil na proteção de direitos, o próprio vocabulário de Direito dos Refugiados ocasiona um processo de estranhamento e de descentramento do sujeito por meio de uma construção de uma norma de “refugiado”, que ignora as diferentes identidades de cada indivíduo e os deslocamentos semelhantes que não estão incluídos no conceito formal da Agência Nacional das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR). Isso porque houve uma naturalização da compreensão dessa diferença e dos modos de relacionamento com o imigrante, baseada nos sentidos subjetivos associados à categoria, em especial, de refugiado (NEEDHAM, 1994).

Por outro lado, mantendo essa diferenciação como estratégia de reivindicação de direitos, na prática de instituições da sociedade civil e na literatura de estudos migratórios, tem-se uma recente valorização da agência desses sujeitos migrantes no próprio processo de integração, na tentativa de afastar essas representações do imigrante como problema ou vítima (SQUIRE, 2017). Isso é possível de observar em reflexões publicadas na Revista Interdisciplinar de Mobilidade Humana:

Os critérios a serem utilizados para definir o ‘sucesso’ desse processo multidimensional também devem incorporar os olhares dos próprios refugiados. Vale dizer, eles merecem ser integrados às discussões sobre integração, tanto no desenho dos programas e das políticas, quanto em sua implementação e futura avaliação (MOREIRA, 2014, p. 91).

Assim, merecem destaque a recente valorização da agência desses indivíduos por parte de alguns setores da sociedade civil e uma preocupação com a inclusão desses por parte das organizações de acolhimento de imigrantes. Essa inclusão, porém, pode ser ainda mais ampliada, pois encontra-se, por vezes, somente no plano discursivo ou restrita ao atingimento de metas e à implementação da agenda dessas instituições, no lugar de práticas genuínas de participação, como consta no último relatório do Fórum Global de Refugiados (FMR, 2018).

3. Política migratória brasileira e a integração local

No Brasil, os dispositivos que regulam a recepção de imigrantes, como a Lei das Migrações, a Lei de refúgio nº 9.474 de 1997, as resoluções do Conselho

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Nacional para Imigração (CNIg), além das políticas isoladas, como a Política Nacional de Imigração e Proteção do Trabalhador Migrante, de 2010, apontam direcionamentos para a práxis política brasileira em relação à imigração.

Até novembro de 2017, os fluxos migratórios no Brasil estavam ordenados pelo então Estatuto do Estrangeiro, de 1980, que refletia uma visão securitária herdada da ditadura militar (RODRIGUES; SILVA, 2018). Nessa, o imigrante era visto como “ameaça” e prevaleciam os interesses brasileiros e a defesa do país contra esse “outro”, como pode ser observado no artigo 7º do referido estatuto: “Não se concederá visto ao estrangeiro: II – considerado nocivo à ordem pública ou aos interesses nacionais” (WERMUTH, 2015, p. 12). Assim, esse delega à discricionariedade dos agentes de estado a função de atribuir ao imigrante o rótulo de ameaça e nocividade e, assim, limitar o direito de migrar pelo ideal de segurança nacional (WERMUTH, 2015).

Substituindo o antigo paradigma de segurança nacional pelo paradigma do acolhimento e da cooperação internacional, a Lei 13.445 de 2017 é considerada como uma conquista da sociedade civil organizada, ainda que tenha recebido numerosos vetos presidenciais que prejudicaram os objetivos desse setor (OLIVEIRA, 2017; DELFIM, 2017). Essa coloca-se como contrária à discriminação e à xenofobia, desburocratiza o processo de regularização, reforça e amplia a concessão de direitos sociais, além de institucionalizar a política de vistos humanitários (SOARES, 2017; SPRANDEL, 2018).

Embora a legislação seja considerada uma vitória da sociedade civil organizada em prol dos direitos dos imigrantes, as narrativas eugenistas, securitárias e xenófobas ainda se mostraram fortes, tanto nos discursos durante o período de negociação da legislação, quanto naqueles que a seguiram, permeando o processo de regulamentação da lei e as medidas posteriores relacionadas, em especial, ao fluxo venezuelano (SPRANDEL, 2018; DELFIM, 2017; MILESI; COURY, 2018). O próprio processo de regulamentação da Nova Lei de Migrações, ademais, realizado por meio do Decreto 9.199, de 2017, revela-se desalinhado com essa lei e com as discussões realizadas para aprovação dessa legislação, na medida em que retoma aspectos securitários do Estatuto do Estrangeiro, como o termo “clandestino” e a possibilidade de encarceramento de imigrantes em situação irregular (DELFIM, 2017; RAMOS et al., 2017).

Ainda assim, no que diz respeito a essa legislação, ressalta-se que ela prevê a garantia dos direitos e liberdades civis, sociais, econômicas e culturais, assim dispostas no artigo 4º da Nova Lei de Migrações (nº 13.445/2017). Apesar dos 20 vetos presidenciais, vistos como prejudiciais aos direitos dos imigrantes, tal lei em vigor enfatiza a solidariedade e o não-preconceito, além da prevenção

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à xenofobia. Além disso, o artigo 77 prevê a construção de políticas públicas para essa população, a incluir relativas à promoção da cultura. Porém, a previsão legal trouxe poucos resultados concretos para a valorização cultural dos migrantes (PINTO; BERTOTTI; FERRAZ, 2017).

No que se refere especificamente aos refugiados, cujo fluxo se diferencia pelo acento no caráter forçado do deslocamento, conforme determinado na Convenção de 1951 sobre o Estatuto dos Refugiados, o Brasil conta atualmente com uma legislação considerada inovadora e avançada em termos do acolhimento: a Lei 9.474 de 1997 (MILESI; ANDRADE, 2017). Essa é responsável pela criação do Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) e pela implementação do Estatuto dos Refugiados no Brasil, estabelecendo as diretrizes da definição de refugiado, garantindo o direito à reunificação familiar e reiterando o princípio do non-refoulement (ANDRADE; MARCOLINI, 2002; BRASIL, 1997).

Resultante de um amplo processo de mobilização social, que contou com forte atuação da sociedade civil brasileira, especialmente liderada pelas organizações não governamentais ligadas à Igreja Católica, a Lei 9.474 também foi aprovada em um contexto em que o Brasil procurava construir uma imagem democrática e associada aos direitos humanos, diferenciando-se do período autoritário anterior (MILESI; ANDRADE, 2017; ANDRADE, 2015), de forma que tanto o contexto interno quanto externo contribuíram para o avanço legislativo. A legislação se destaca para além, por adotar uma definição ampla de refugiado, incluindo casos de grave e generalizada violação de direitos humanos, baseados na definição da Declaração de Cartagena (1984), considerada um dos mais avançados dispositivos de proteção internacional ao refugiado (MILESI; ANDRADE, 2017).

Em resumo, ainda que os instrumentos normativos, como a Lei nº 13.445/2017 e a Lei 9.474/1997, promovam uma visão positiva do acolhimento no país – prejudicada pelos recentes conservadorismos e pelo repúdio ao Pacto de Migração –, são escassas as ações e estratégias nacionais estruturadas para a integração efetiva de imigrantes (PUFF, 2015), cabendo a agentes públicos ou privados a condução da integração local daqueles, o que pode contar com o apoio do ACNUR e de organizações da sociedade civil (PINTO; BERTOTTI; FERRAZ, 2017). Assim, é destacável o importante papel da sociedade nesse processo de integração (MOREIRA, 2014). Como esclarece Arruda (2015, p. 9):

Há uma lacuna tanto de atuação do Estado brasileiro quanto de análises e estudos que procurem entender quais ideologias fundamentam o posicionamento deste ator diante da diversidade que vem sendo adotada no país e quais seriam as tendências

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de implementação de uma política imigratória (ARRUDA, 2015, p. 9).

Dessa forma, a simples análise dos instrumentos normativos da Política Migratória Brasileira não tem sido capaz de especificar um modelo de gestão migratória claro das diferenças culturais e étnicas no país, visto a superficialidade dos instrumentos normativos brasileiros quanto à temática da integração e à significativa atuação não homogênea da sociedade civil no processo (BRANCO, 2018).

Recentemente, contudo, o Brasil tem se esquivado de compromissos internacionais que previam sua colaboração com a sociedade civil, mostrando um redirecionamento nas temáticas ligadas ao acolhimento (SPRANDEL, 2018). Esse é o caso do anúncio de retirada do Ministro das Relações Exteriores do Pacto Global para Migração, sob alegação de que esse acordo fere a soberania nacional (VEJA, 2019). Assim sendo, o trabalho da sociedade civil revela-se ainda mais desafiador.

4. A teoria da subjetividade e a relação entre sujeito e espaço social

Tendo em vista essa percepção da necessidade de atenção e real reconhecimento da relevância da agência do sujeito, inserido nesses processos e questões sociais que o envolvem, utilizar-se-á, neste trabalho, a epistemologia qualitativa centrada na teoria da subjetividade, elaborada pelo teórico cubano Fernando González-Rey. Sua teoria se baseia no conceito de subjetividade, sistema complexo, aberto e em constante desenvolvimento, caracterizado pela produção simbólico-emocional de sentidos e significados da experiência vivida (GONZALEZ REY, 2005).

Dessa forma, reconhece-se a necessidade de compreender os fenômenos de maneira interdisciplinar, posto que o indivíduo não está separado dos contextos sociológicos, econômicos, históricos, demográficos, entre outros, da mesma forma que tais contextos não estão separados do indivíduo. Tal teoria, assim, tende a questionar a visão dicotômica do debate agente-estrutura, presente nas relações internacionais e nas ciências sociais, em que teóricos estruturalistas tendem a ressaltar o contexto e a ordem predominantes ao longo do tempo, enquanto os teóricos intencionalistas destacam a capacidade de mudança e agência dos indivíduos em realizar suas intenções (SQUIRE, 2017). Essas dimensões, porém, são vistas como integradas de maneira complexa.

Dialogando, portanto, concomitantemente com a trajetória individual e com a dimensão social do indivíduo e de seus espaços, sem estabelecer regras

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pragmáticas para tal inter-relação, o conceito permite a valorização da singularidade e o exercício do caráter de sujeito, inclusive na própria pesquisa. Esse indivíduo, assim, é compreendido como produtor de subjetividade individual em seus contextos, a qual influi em suas ações, discursos e emocionalidades em seus espaços sociais. Dessa forma, a teoria da subjetividade busca compreender a produção de sentido subjetivo do sujeito, considerando processos individuais e sociais complexos que se inter-relacionam envolvendo o discurso, o simbólico, o emocional no estudo do homem, da cultura e da sociedade (DE ALMEIDA, 2015).

Ademais, essa teoria da subjetividade entende o conhecimento como um processo de produção construtivo e interpretativo integrado a essa própria realidade (DE ALMEIDA, 2015), como destacado no trecho:

A realidade é um domínio infinito de campos inter-relacionados independente de nossas práticas; no entanto, quando nos aproximamos desse complexo sistema por meio de nossas práticas, as quais, neste caso, concernem à pesquisa científica, formamos um novo campo de realidade em que as práticas são inseparáveis dos aspectos sensíveis dessa realidade (GONZALEZ-REY, 2012, p. 5).

A pesquisa qualitativa, portanto, não se exclui do próprio processo de construção constante e dinâmica de subjetividades, de maneira que se coloca como uma expressão de zonas de sentido3, cuja inteligibilidade não se esgota

com a finalização formal da pesquisa (GALLERT; LOUREIRO; SILVA; SOUZA, 2011). Assim, a própria pesquisa faz-se como um processo de construção, baseando-se na comunicação como meio primordial de apreensão dessas zonas de sentido (GALLERT; LOUREIRO; SILVA; SOUZA, 2011). Para elaboração desta pesquisa, portanto, utilizou-se uma série de instrumentos que, em conjunto, permitiram um diálogo com as configurações subjetivas dos sujeitos participantes e a construção de uma proposta de inteligibilidade para o processo de integração sociocultural no contexto do coro Hamaca e do Distrito Federal.

Segundo González Rey (2011, p. 51), esses instrumentos “são recursos de informação que, mantendo uma estreita relação entre si, permitem o desenvolvimento de hipóteses apoiadas em indicadores que o pesquisador vai desenvolvendo”, de forma que, esses instrumentos permitem que o pesquisador desenvolva, em diálogo reflexivo, uma inteligibilidade sobre as subjetividades

3 Visto o caráter construtivo-interpretativo do conhecimento, na Epistemologia Qualitativa, as

zonas de sentido são aqueles espaços de inteligibilidade que vêm a se produzir na pesquisa científica ao longo da investigação, mas não se esgotam em seus significados (GONZALEZ REY, 2005, p. 6).

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produzidas e vivenciadas pelos sujeitos naquela situação específica. Assim, diferentemente da concepção positivista da ciência empírica, os instrumentos na pesquisa qualitativa servem como indutores da compreensão da subjetividade e marcam o momento singular de interação entre os envolvidos na pesquisa. Dentre esses instrumentos, além da conversa informal, destacam-se a dinâmica conversacional, o complemento de frases, os questionários abertos e o instrumento de conflito de diálogos.

Enquanto o primeiro consiste em diálogo que se centra na reflexividade do sujeito por meio da significação de sua própria experiência pessoal, o segundo consiste em atividade de identificação do próprio sujeito de complementos de frases selecionadas pelo pesquisador, elementos que podem ser complementares para o estudo, bem como podem trazer novas categorias e ideias anteriormente não identificadas pelo pesquisador.

Outros recursos, como o questionário aberto, ainda que centrados na apresentação de informações complementares mais específicas, permitem a manifestação da agência, reflexividade e criatividade do sujeito no momento da pesquisa e, por fim, o conflito de diálogos, por meio de debate sobre uma questão polêmica. Esse procedimento confere maior clareza à configuração subjetiva do indivíduo ou grupo de indivíduos, por meio do esclarecimento de um conjunto de valores ou prioridades na forma de conteúdo elaborado (GONZALEZ REY, 2005).

5. O coro Hamaca e o potencial de promoção de integração sociocultural

Capaz de, inclusive, aliviar as consequências psicológicas do deslocamento, a música pode ser considerada como um refúgio, devido à sua relação direta com a memória (WOOD, 2010). Isso porque cada migrante enfrenta desafios que não terminam quando atravessam uma fronteira; persistem obstáculos, especialmente aqueles relacionados à adaptação em um ambiente social e culturalmente diferente (WOOD, 2010).

Esse processo de adaptação e restruturação é dificultado pelo fato de a grande maioria desenvolver sintomas de estresse pós-traumático ou de depressão, fazendo com que o exercício de simples atividades cotidianas se torne penoso e desestimulante (APA, 2013). Assim, a relação com a música pode propiciar a construção de um ambiente familiar hábil a diminuir a ansiedade e o peso da perda, reconstruir um sentimento de si e promover uma reconciliação com o passado (WOOD, 2010), integrando a trajetória pessoal e a subjetividade desse imigrante.

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Dessa forma, compreendendo a arte como transnacional e pressupondo-a como ppressupondo-arte importpressupondo-ante dpressupondo-a experiêncipressupondo-a humpressupondo-anpressupondo-a, é possível promover um espaço seguro para a expressão de sentimentos e pensamentos (ORTH, 2005). Nesse sentido, o compartilhamento de experiências musicais diversas pode possibilitar a construção de uma ponte entre culturas, diminuindo fronteiras identitárias e possibilitando a integração (WOOD, 2010), se direcionada a devida atenção à educação musical livre da reprodução de julgamentos e estereótipos.

Insere-se, nesse debate, o Coro Hamaca, ou Coro da Diversidade da UnB, projeto de extensão criado em 10 de setembro de 2018, pelo Centro de Estudos Avançados e Multidisciplinares da Universidade de Brasília. O Coro é sediado no auditório da Casa de Cultura da América Latina4, sob coordenação

do professor Mário Lima Brasil, professor do Departamento de Música da Universidade e coordenador do PET Conexão de Saberes. O repertório do coro é composto por canções da Música Popular Brasileira, em especial do nordeste brasileiro, além de canções populares sugeridas pelos imigrantes, como “Tonada de luna llena”, interpretada pelo venezuelano Simón Díaz e “Tutu govi”, música de ninar togolesa cantada em Ewe, língua falada em Gana, Togo e Benim.

Foto do Coral Hamaca na apresentação no 45º Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Instituições Públicas de Educação Superior Brasileiras, no dia 27 de maio de 2019.

4 A Casa de Cultura da América Latina consiste em espaço de promoção da cultura e de

preservação do patrimônio cultural e artístico da UnB, fundada em 1987, sob influência do Festival Latino-Americano de Arte e Cultura do mesmo ano (ROCHA, 2013).

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Segundo a proposta de Ação de Extensão do projeto (PEAC, 2018), o Coro Hamaca atua no aprendizado da língua portuguesa, especialmente centrado na comunicação oral. Assim, facilita também a consciência fonética, integrando sons e representações fonéticas por meio de repertório cantado (HANNUCH, 2012). Além disso, segundo os elaboradores do projeto:

A prática do canto coral exige a diversidade constituída pela integração social. Cada voz desempenha um papel diferente que se soma à harmonia da ação coletiva. É um processo que concede o direito de identidade e ao mesmo tempo permite a coexistência entre os diferentes em uma comunidade heterogênea (PEAC, 2018, p.3).

Visto que esta pesquisa começou a ser desenvolvida logo após os primeiros meses de execução do projeto, ainda eram poucos imigrantes que apresentavam frequência no Coro. Além de indivíduos dispostos a participar de uma pesquisa, expondo questões tão pessoais, como sujeitos de pesquisa, buscou-se, portanto, selecionar imigrantes que haviam chegado ao Brasil recentemente e que haviam participado do projeto durante pelo menos um mês, de forma que suas trajetórias e processos de integração pudessem ser acompanhados tanto pelo coro, quanto pela pesquisa em si. A pesquisa empírica, portanto, foi desenvolvida entre os meses de fevereiro e maio do ano de 2019, por meio da utilização dos diversos instrumentos da epistemologia qualitativa aplicados durante os encontros formais e informais entre a pesquisadora e os sujeitos participantes. Neste artigo, destaca-se o caso da Sra. R, pois esse segue os critérios acima mencionados e também apresenta profundidade e riqueza de detalhes nas informações coletadas.

5.1. O Caso R - da Venezuela ao Brasil

Licenciada em história e geografia na Venezuela, Sra. R tem 37 anos e é mãe de Adriana, Carolina e Farias. Sra. R é uma pessoa dinâmica, dedicada e que impressiona pela sabedoria. Deixou a Venezuela em setembro de 2018, em um contexto de grave crise econômica e política em seu país, também motivada por conflitos familiares inseridos nesse cenário. Chegando à fronteira com o Brasil, em Pacaraima, Roraima, foi acolhida pela organização da sociedade civil Cáritas5 que, juntamente com o governo brasileiro, gerenciou seu processo de

5 Organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), fundada em 1956, a Cáritas

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Revista Brasileira da Pesquisa Sócio-Histórico-Cultural e da Atividade Brazilian Journal of Socio-Historical-Cultural Theory and Activity Research interiorização à Brasília.

Sra. R insere-se no elevado fluxo de imigrantes venezuelanos que, segundo a Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), tem sido responsável por grande parcela dos fluxos migratórios latino-americanos, com a emigração de mais de 3,3 milhões da Venezuela (FOLHAPRESS, 2019). Desses, desde 2015, cerca de 85 mil entraram no Brasil nos últimos anos e solicitaram refúgio, especialmente pela fronteira terrestre em Pacaraima, Roraima, ponto inicial da atual Operação Acolhida, criada pelo governo federal como estratégia para responder aos conflitos recentes em Roraima, desafogando os serviços públicos e facilitando o processo de integração dos imigrantes (ACNUR, 2019).

Assim como a Sra. R, atualmente cerca de 4.300 pessoas passaram pelo processo de interiorização em 50 cidades brasileiras, das quais 250 em Brasília, por meio da atuação da Casa de Direitos, da Cáritas Brasil (ACNUR, 2019a; ACNUR, 2019b). Com o apoio e suporte dessa instituição, portanto, Sra. R, veio à Brasília em dezembro de 2018, tendo sido recebida no abrigo da Cáritas em São Sebastião, junto com amigos que conheceu no abrigo Rondon, em Boa Vista.

A partir de então, começou a procurar trabalho e buscar aulas de português, tendo iniciado sua trajetória profissional no Brasil como professora particular de espanhol, atividade que apreciava pela relação com o que fazia na Venezuela. Porém, essa ocupação não a oferecia a estabilidade necessária. Conheci Sra. R nesse período, quando integrou o coro Hamaca, em meados de fevereiro desse ano, trazida por um amigo mexicano que também trabalhava como professor de espanhol. Sra. R aparentava timidez no Coral, mas logo demonstrou ser muito comunicativa e proativa, especialmente durante os momentos de desenvolvimento desta pesquisa.

Com a expectativa de aprender português através do projeto, Sra. R mostrou curiosidade para entender o porquê de haver brasileiros também engajados na atividade. Por meio do diálogo conversacional, portanto, informei que o coral tinha o objetivo sim de promover a ampliação das habilidades comunicativas na língua portuguesa por meio da música e da fonética, mas que também trazia o elemento musical. Apesar de afirmar nunca ter cantado nem no banho, mostrou-se aberta para a experiência, afirmando sorridente um “Que seja! Estou pra tudo”.

A experiência no coral Hamaca, assim, fez parte da sua trajetória durante

fome e à educação comunitária. A instituição tem atuado na integração de imigrantes venezuelanos no Brasil por meio do recém-lançado programa Pana, com o apoio da Cáritas Suíça e o do Departamento de Estado dos Estados Unidos (CÁRITAS, 2019).

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aproximadamente dois meses que antecederam sua contratação em tempo integral na Assessoria Internacional de um órgão público localizado em Brasília, compondo uma das poucas atividades e espaços sociais em que tinha contato direto com a língua portuguesa durante o período, visto que se encontrava em um abrigo com venezuelanos e trabalhava com a língua espanhola. Com sua contratação, afastou-se da atividade, pois a carga horária não a permitia continuar no canto e sua prioridade centrava-se no trabalho e na família, tanto por sua vontade de alcançar uma independência do suporte da Cáritas, quanto por sua necessidade de apoiar a família na Venezuela.

A importância dessa relação familiar, ao longo da pesquisa, foi ficando ainda mais evidente, como mostrado nos complementos de frase abaixo:

Mais importante: minha família.

Tempo mais feliz: estar com minha família é o mais importante na

vida, e meus objetivos são alcançados.

Minha família: é a razão pela qual estou aqui hoje, por eles, pela que

amo e adoro com minha alma.

Em todos esses trechos, é possível perceber a importância de suas relações familiares, que servem como elemento motivador para a busca por trabalho, além de ser associado à felicidade e ao amor. Através desse elemento familiar, Sra. R se identifica com a comunidade venezuelana imigrante, trazendo esse sentido de propósito para o processo migratório, como mostrado no diálogo conversacional:

Em todo esse tempo, já ouvi muitas histórias boas e ruins dos venezuelanos, em cada situação. Ter chegado até aqui já é muito importante, era o meu propósito em chegar ao Brasil e que o propósito de muitos venezuelanos era nesse sentido também, construir uma vida pela família. É muito importante ter um propósito e você, mesmo jovem, não deveria fazer as coisas só por fazer, você procura entender o seu propósito e o segue (Sra. R, 2019, conflito de diálogos).

Ao mesmo tempo, a relevância das relações familiares aparece como elemento que gera dificuldades, pelo constante sentimento de preocupação e perda, o que pode explicar sua visão do processo migratório como desafiador e difícil, de maneira que ninguém escolheria tal situação, o que fica notável em suas manifestações nas redes sociais como a disponibilizada abaixo, bem como no complemento de frases. Essa é constantemente retratada em estudos migratórios como o de Phillimore (2011), que destaca a preocupação com a terra

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Revista Brasileira da Pesquisa Sócio-Histórico-Cultural e da Atividade Brazilian Journal of Socio-Historical-Cultural Theory and Activity Research natal como elemento desafiador.

Ser migrante: é o mais difícil, ninguém escolhe ser isto… são

processos muito difíceis.

Segundo revelado por Sra. R no questionário aberto, ao chegar ao Brasil, não teve nenhuma dificuldade com acesso à documentação e aos serviços públicos. Ademais, foi muito bem recebida, de forma que não se sentiu desintegrada, mas sentiu apoio de todas as organizações. Assim, são a saudade e a preocupação com a família os elementos que trazem maior dificuldade no dia a dia.

Apesar de tais instrumentos acima ressaltarem que a sua relação familiar seja o principal motivador, tanto de seu movimento migratório, quanto por sua constante luta por trabalho e independência no Brasil, sua relação com esse trabalho transforma-se para além dessa relação familiar específica, abrangendo também uma visão de oportunidade de crescimento e uma identificação e dedicação com a comunidade venezuelana imigrante (Sra. R, 2019, conversa informal).

Meu trabalho: o mais esperado, em nome de Deus, começo no dia

1º de abril. Minha grande oportunidade de crescer e conhecer é o que sempre esperei conseguir.

Isso pois, sorridente, após o primeiro dia de trabalho, revelou que esse trabalho era muito significativo para ela, porque a permitia trazer a família para Brasília, abria portas e oportunidades, inclusive de conhecer mais pessoas. Além disso, depois de ter passado por tudo o que passou para chegar aqui, seria uma honra ser representante venezuelana e ajudar na cooperação. “Estou escrevendo a história e esperança para os venezuelanos”, revela.

Na verdade, quando vim, não queria ser interiorizada porque ia ficar ainda mais longe da família, da fronteira, mas confiei nos planos de Deus, entreguei a ele. Temos que entregar as coisas da vida a Deus, que as coisas acontecem, e não são no nosso tempo, mas é para o melhor. E que temos que sobretudo manter a humildade. Não digo isso para que seja cristã, mas que mantenha uma relação de espiritualidade (Sra. R, 2019, dinâmica conversacional).

Nota-se, além disso, o elemento da espiritualidade, presente tanto nos diálogos informais quanto no complemento de frases quando se trata de

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trabalho, que se expressa como sustentação de seu sentimento de esperança, especialmente em momentos entendidos como críticos – importantes – em sua trajetória pessoal, como o processo de interiorização, a conquista do trabalho e, mais recentemente, a vinda da família ao Brasil.

Assim, o elemento da espiritualidade compartilha com a família a carga de elementos que ganha maior destaque em momentos relevantes de sua trajetória pessoal, representando, assim, um ponto de apoio e esperança diante das dificuldades encontradas e identificadas, como o distanciamento da família. Da mesma forma, um elemento do sentimento de gratidão nos movimentos traz a sensação de aproximação da família, como a conquista do trabalho que a permitiu iniciar o processo de reunificação familiar.

Refugiado: é como ver uma luz na escuridão.

Brasil: me abriu a porta e me deu a oportunidade de estar aqui. Brasília: linda, gosto daqui, conheci pessoas muito solidárias, me

brindo a oportunidade de ter um emprego, que me serve muito e o principal é ajudar minha família já desde aqui.

Tal sentimento de esperança encontrado na espiritualidade também é reforçado pela experiência de acolhimento e solidariedade percebida por ela, o que influencia na sua interpretação e sentimento com relação ao refúgio:

Nesse caso, a categoria “refugiado”, assim como a de “migrante”, aparece pessoalizada, retratando uma experiência pessoal e relação subjetiva específica, capaz de oferecer elementos ligados tanto às emocionalidades quanto ao processo. Por meio da pessoalização, portanto, Sra. R expressa uma relação positiva com o termo, na medida em que vê o refúgio como uma oportunidade e se sente acolhida, sentimento que recebe contribuição da percepção da solidariedade dos brasileiros.

Essa percepção, destacada em referência à Cáritas e ao acolhimento em Boa Vista, também é reforçada em sua experiência no Coral Hamaca. O grupo, na percepção atual de Sra. R, caracteriza-se por “mucho companheirismo, son unidos, muy colaboradores entre todo”. Apesar do aguçado talento musical, porém, nunca tinha tido experiência com o canto anteriormente. “Nunca cantei nem no banho”, afirmou durante diálogo informal. Dessa forma, a relação com o coral estabeleceu-se inicialmente por meio do objetivo do aprendizado da língua portuguesa, como reforçado nas primeiras conversas informais, e expandiu-se para a relação com o grupo e com o canto, como mostrado no complemento de frases realizado no dia 21 de março:

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Coral: oportunidade para aprender a compartilhar com diferentes

pessoas em vários idiomas.

Gostaria que o coral: formar parte deste grupo e aprender a cantar.

Assim, a vivência no Coro Hamaca reforça a experiência positiva de Sra. R com relação aos brasileiros e sua solidariedade, a qual, juntamente com a espiritualidade, contribuiu para o sentimento de esperança que essa senhora alimentou na busca pelo trabalho e pela reunificação familiar, prioritárias no seu processo de integração.

6. Considerações finais

Em síntese, em um contexto local e internacional caracterizado pelo aumento dos fluxos migratórios e dos conflitos étnicos, reflexões relacionadas às diferenças culturais e ao processo de integração se revelam cada vez mais importantes (MÁRMORA, 2010). Ao longo do desenvolvimento desta pesquisa, construiu-se a compreensão de que a integração vai além de um processo formal e preestabelecido, mas facilitada também pela valorização das qualidades, experiências anteriores e subjetividades individuais do sujeito imigrante dentro dos grupos e espaços sociais em que esse se insere, de forma que não existe uma fórmula ou categorias específicas que determinam a eficiência do indivíduo enquanto agente do processo. Assim, esse processo depende da formação da interação entre os espaços sociais e a subjetividade do sujeito migrante e dos envolvidos, dificultando a mensuração estatística daquele.

No caso da Sra. R, por exemplo, cujo cotidiano na Venezuela estava intensamente ligado às relações familiares, o processo de integração mostra-se mais eficiente na medida em que valoriza esse aspecto de sua subjetividade, especialmente com a conquista do trabalho. Considerado como fator mais importante, a relação com a família está intrinsecamente ligada à sua configuração subjetiva, de maneira que a própria interpretação sobre a empregabilidade se configura em torno da possibilidade de enviar recursos para a Venezuela e, por fim, realizar o processo de reunificação familiar. Nesse caso, portanto, ainda que afirme gostar do coral e que esse a tenha permitido estabelecer vínculos sociais e desfocar da preocupação com a família, contribuindo para sua trajetória, é sua inserção laboral e a relação que Sra. R estabelece com essa atividade profissional que se constituem como basilares do seu processo de integração, por cultivarem sua relação com a família e

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valorizarem suas qualidades e aptidões, como a proficiência da língua espanhola.

Ao mesmo tempo, nota-se que o foco da compreensão da integração no programa do projeto Coral Hamaca está nas relações pessoais que são construídas no processo, o que se coaduna com a configuração de sua subjetividade individual na relação com os envolvidos na organização, que inclui como elemento mais importante as amizades. Assim, como mostrou o Maestro, tanto na justificativa para a formalização da inclusão de brasileiros no coro quanto em sua prática como sujeito, essa integração se estabelece por meio da construção de relações afetivas e o canto coral seria um meio para a consolidação dessas.

Dessa forma, para além de elementos formais de acesso à documentação e a serviços básicos, por exemplo, a integração sociocultural está relacionada com as subjetividades individuais e coletivas, de forma que os elementos que a proporcionam interligam-se com as trajetórias, prioridades e qualidades desses sujeitos imigrantes. Para compreensão dessas subjetividades individuais complexas, assim, é necessário um comprometimento contínuo com a prática do conhecer, conhecer a si e ao outro de maneira ética e responsável.

Portanto, na medida em que se percebe a necessidade de reconhecer a agência dos sujeitos imigrantes nas políticas e projetos de integração, segundo Gonzalez (2003), sugere-se a promoção de uma integração ativa em que elementos da subjetividade individual do imigrante ajudam a modificar elementos da subjetividade social presentes nos espaços sociais de acolhimento que passa a ocupar, influenciando a sua transformação e, também, a subjetividade individual dos demais indivíduos. Ao mesmo tempo, a subjetividade social desses novos espaços ganha e alimenta a configuração subjetiva do sujeito imigrante (Gonzalez, 2003)

Assim, em um contexto de ampliação dos fluxos migratórios, da xenofobia e de práticas securitárias, experiências da sociedade civil, como o Coro Hamaca, contribuem para a integração de imigrantes e para a expansão de concepções não discriminatórias da diversidade. Reconhecem-se, nesta pesquisa, porém, o caráter interpretativo e a influência da subjetividade individual da autora, integrante do coro, de forma que é possível aprofundar tais discussões, bem como trazer novas interpretações sobre os dados e sobre os conceitos aqui desenvolvidos, construindo e reconstruindo novos conhecimentos com base nos processos interpretativos.

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