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TERRITORIOS EM DISPUTA Terrorismo, separatismo, conflitos étnico-religiosos e contestação da autoridade estatal (PARTE 2) Tiago Nogueira Galinari 1

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COLÉGIO PEDRO II – CAMPUS REALENGO II 3ª SÉRIE DO ENSINO MÉDIO – PROEJA

ATIVIDADE DE GEOGRAFIA – 2020

Atividade 7. Leia o texto abaixo e, em seguida, faça os exercícios propostos.

TERRITORIOS EM DISPUTA

Terrorismo, separatismo, conflitos étnico-religiosos e contestação da autoridade estatal (PARTE 2)

Tiago Nogueira Galinari1 A INTEGRIDADE TERRITORIAL EM ESTADOS MULTIÉTNICOS: CONFLITOS E SEPARATISMOS

O Estado moderno – organização soberana que detém a autoridade para regular as relações sociais dentro dos limites de suas fronteiras – é, por excelência, territorial. Apesar da diversidade regional e étnica presente numa considerável parcela dos Estados, o mesmo é comumente chamado de Estado-nação ou Estado nacional. Sendo assim, se considerarmos uma nação como uma comunidade que partilha de uma identidade comum – seja por laços culturais (especialmente os linguísticos) ou históricos –, chamar o Estado de nação é dizer que todos que habitam o seu território fazem parte de uma mesma comunidade, partilhando de uma identidade comum, o que muitas vezes não condiz com a realidade.

A tentativa de “criar” uma nação costuma ter como resultado a supressão dos regionalismos e dos grupos étnicos minoritários (e/ou com pouca expressão política, militar, econômica etc.). Os territórios dos Estados, habitados por uma suposta nação, muitas vezes, abrigam diferentes comunidades étnicas. Na maioria das vezes, estes grupos já viviam nestes territórios antes da instalação do Estado moderno, ou seja, foi sobreposto ao território onde grupos étnicos viviam o território do Estado, visto como legítimo e soberano. Em decorrência disso, é comum que fronteiras estatais separe comunidades étnicas (em diferentes Estados) ou agrupe comunidades étnicas distintas (num mesmo Estado).

Em suma, supostos laços nacionais costumam esconder clivagens étnicas e territoriais existentes no interior dos Estados. Em detrimento disto, anseios de autodeterminação tendem a ganhar força quando a identidade territorial de uma comunidade étnica que vive numa dada região dentro dos limites do Estado é maior que o sentimento de pertencimento ao próprio Estado. São muitos os movimentos separatistas na atualidade e a maioria deles tem, também, como causa questões étnicas.

União Europeia, BREXIT e separatismos na Europa Ocidental

A Europa (sobretudo a ocidental) tem passado por um intenso processo de integração nas últimas décadas, especialmente depois do Tratado de Maastricht, assinado em 1992, oficializando a União Europeia. Concomitantemente a este processo de integração, desacordos entre alguns países membros e movimentos separatistas em alguns Estados têm colocado em xeque a manutenção desta integração.

Em alguns países membros já são frequentes as discussões acerca da viabilidade da continuidade destes países na União Europeia. Os políticos mais conservadores do Reino Unido2

vinham sinalizando que a melhor maneira de superar a recessão vivida pelo país desde a crise mundial de 2008 era, justamente, a sua retirada do bloco. Depois de muita polêmica, os desacordos referentes às cotas de refugiados propostas pela Comissão Europeia fizeram com que aumentasse a rejeição britânica à União Europeia. Com isso, o governo do Reino Unido convocou um referendo, permitindo à população decidir sobre o futuro do país no bloco. Com uma vitória apertada, o BREXIT3

triunfou no referendo ocorrido em junho de 2016. A saída, que havia sido prevista de acontecer até

1 Professor do Departamento de Geografia do Colégio Pedro II. E-mail: tiagogalinari@yahoo.com.br

2 Oficialmente chamado de Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, este Estado, cujo sistema político é bem peculiar, é composto

pela Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte. A Inglaterra ocupa praticamente metade do território britânico e sua população corresponde a quase 4/5 da população total do Reino Unido.

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2018, ainda não foi inteiramente concluída e, em decorrência dela, o Reino Unido pode sofrer com separatismos internos.

O crescimento do ultranacionalismo em alguns países europeus vem contribuindo para que mais movimentos de saída da União Europeia ganhem força. A visão de que os imigrantes são uma ameaça às tradições e à segurança nacional tem feito com que discursos e ideias extremamente conservadoras ganhem adeptos em toda a Europa. Por outro lado, parece que há um sentimento de pertencimento a algo maior que a própria nação, isto é, à comunidade europeia, em boa parte da população dos países europeus, sobretudo entre os mais jovens. Por este e por outros motivos que é improvável que haja uma saída em massa de países deste mega bloco. Muito pelo contrário, mais países devem entrar na União Europeia nos próximos anos. Existem países aguardando a aprovação do Conselho Europeu para iniciarem o processo de entrada no bloco, como é o caso da Albânia, Sérvia e Turquia. A entrada deste último, aliás, faria com que o bloco alcançasse a Ásia.

Além da possível saída de alguns países do megabloco, outro fenômeno que causa incômodo na região é o separatismo. Ainda utilizando o Reino Unido como exemplo, em 2014 o mundo inteiro ficou estarrecido com a quase independência da Escócia4. Se esta parte do Reino Unido tivesse se

emancipado, automaticamente ela se retiraria da União Europeia e, caso desejasse se (re)integrar ao bloco, precisaria fazer todos os ajustes políticos e econômicos exigidos pelo mesmo e amargar uma longa espera. E, certamente, o desejo de permanecer na União Europeia influenciou para que muitos escoceses votassem contra a separação (55,3% foram contrários e 44,7% foram favoráveis) no referendo. O próprio governo britânico usou isso como propaganda contrária à saída escocesa do Reino Unido.

Eis que surge um problema: muitos escoceses votaram pela não independência da Escócia em relação ao Reino Unido porque não queriam sair da União Europeia, contudo, dois anos depois do referendo escocês o Reino Unido anunciou que sairia do megabloco. Merece mencionar que a grande maioria dos escoceses voltou pela permanência do Reino Unido na União Europeia.

Assim, com a saída do Reino Unido da União Europeia, o movimento separatista escocês se “reoxigenou”, já que, contraditoriamente, a permanência no Reino Unido passou a significar a saída escocesa da União Europeia. Curiosamente, para permanecer e/ou retornar ao megabloco, a Escócia precisará se tornar independente do Reino Unido. Desde a vitória do BREXIT, lideranças escocesas vêm se organizando para viabilizar um novo plebiscito, o que tem incomodado o governo britânico, que é contrário à independência escocesa.

A existência da União Europeia vem contribuindo consideravelmente para a não fragmentação de muitos de seus países membros. A ideia de pertencer a uma suposta nação europeia tem se sobreposto às identidades regionais. Por se sentirem cada vez mais pertencentes a uma comunidade europeia, os anseios por separação, causados pela falta de sentimento de pertencimento a um determinado Estado, acaba arrefecendo. Além disso, como o território independente deixaria automaticamente o bloco, questões econômicas inerentes à sua retirada também provoca dúvidas quanto à viabilidade do processo.

É importante destacar que nem todo movimento separatista almeja a instalação de um novo Estado. Em alguns casos, a intenção dos separatistas é a separação do território em relação ao Estado de que faz parte para posteriormente se anexar a outro Estado. Este é o caso dos conflitos históricos na Irlanda do Norte.

Por séculos a ilha da Irlanda foi subjugada pela coroa inglesa. Mas somente em 1801 este território foi oficialmente anexado ao Reino Unido. Durante os séculos de subjugação inglesa, muitos colonos ingleses (majoritariamente protestantes) migraram para lá, sobretudo para a província de Ulster, no norte da ilha. Em razão disto, ao contrário do restante da ilha, que é majoritariamente católica, a maior parte da população de Ulster professa o protestantismo.

Em 1921, depois de muitos conflitos, os irlandeses conseguiram a independência, sendo criada a República da Irlanda (Eire). Entretanto, a província de Ulster (Irlanda do Norte) se manteve como parte integrante do Reino Unido. Enquanto os católicos que viviam em Ulster eram majoritariamente favoráveis à anexação deste território pela República da Irlanda, os protestantes, em sua maioria, preferiam que o território continuasse integrado ao Reino Unido. A hostilidade entre católicos e protestantes, que já existia antes da independência da República da Irlanda, foi reforçada a partir deste momento. Neste sentido, o conflito resultante da questão irlandesa possui, também, um caráter étnico-religioso.

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As tensões se acirraram com a criação de grupos armados de ambos os lados. O mais famoso deles foi o IRA5. De inclinação católica e anti-britânica, este grupo tinha como aspiração a anexação

da Irlanda do Norte à República da Irlanda. O conflito na Irlanda do Norte levou à morte milhares de pessoas e o IRA foi responsabilizado por alguns atentados terroristas em várias partes do Reino Unido, incluindo Londres.

Embora este grupo tenha oficialmente renunciado às armas nos últimos anos, ainda há preocupação de que a hostilidade volte a crescer na Irlanda do Norte. Desde o anúncio do BREXIT, alguns grupos passaram a se intitular de “novo IRA” e a promover ações violentas, o que resultou na morte de algumas pessoas.

Seja como for, uma parcela expressiva dos norte-irlandeses ainda deseja a anexação deste território pela República da Irlanda. Além desses, há também quem deseje a independência da Irlanda do Norte para se tornar um Estado soberano. Por fim, muitos norte-irlandeses defendem a manutenção da Irlanda do Norte como parte do Reino Unido. Aqui também merece menção o fato de que a maior parte dos norte-irlandeses votou pela permanência do Reino Unido na União Europeia. Assim, além do separatismo escocês, pode ser que o BREXIT também resulte numa volta ou intensificação do separatismo norte-irlandês. Afinal, assim como ocorre com a Escócia, para permanecer e/ou retornar ao megabloco, a Irlanda do Norte precisará se tornar independente do Reino Unido.

Além de questões étnicas e da forte identidade territorial, questões econômicas também influenciam nos movimentos separatistas em algumas destas regiões. É o caso da Catalunha, uma das regiões mais ricas da Espanha. A identidade étnica e territorial fortemente presente nos catalães explica o antigo desejo por autodeterminação. Aliado a isso, a grave crise econômica espanhola a partir de 2008 reforçou o sentimento dos catalães de não pertencimento à nação espanhola, por se sentirem prejudicados (sobretudo tributariamente6) em fazer parte da Espanha. No final de 2014,

houve uma consulta popular – não autorizada por Madri e, por este motivo, não oficial – e a maioria esmagadora dos catalães (mais de 80%) que compareceram às urnas se manifestaram favoráveis à separação. Alguns anos mais tarde e sem a autorização do governo de Madri, as autoridades catalãs convocaram um plebiscito para decidir sobre o futuro da região. Mais de dois milhões de pessoas votaram e, como esperado, a maioria (aproximadamente 90%) votou pela separação neste plebiscito ocorrido em 2007.

Apesar disso, a independência ainda parece distante, tendo em vista que o governo espanhol não reconheceu a legitimidade do processo. Além disso, os principais aliados da Espanha anunciaram que não reconheceriam a independência da Catalunha. Evidentemente, os demais países da União Europeia temem que situações semelhantes ocorram em seus territórios. Não são poucos os movimentos regionais que buscam a autodeterminação na União Europeia. Para citar alguns exemplos, lembremo-nos do Tirol do Sul, de Veneto e da Lombardia, regiões no norte da Itália; da Baviera, estado federado alemão; do Flandres, região político-administrativa da Bélgica; de Córsega, ilha francesa no mediterrâneo; da Escócia e da Irlanda do Norte, no Reino Unido; e do País Basco e da Catalunha, regiões autônomas espanholas.

O governo espanhol tem tratado esta questão de maneira enérgica: destituiu o presidente regional do cargo, prendeu alguns líderes separatistas, dissolveu o parlamento regional e convocou eleições regionais. O problema é que, mais uma vez, a maioria dos deputados regionais eleitos seguiram defendendo a independência catalã e, com isso, a região segue instável.

Dos regionalismos supracitados, o que apresenta o histórico mais violento é o do País Basco. Esta região, localizada no norte da Espanha e no extremo sudoeste francês, há décadas vem lutando pela independência, sobretudo no território espanhol. Durante a ditadura de Francisco Franco (1939-1975) o governo espanhol se esforçou para suprimir a diversidade étnica e os regionalismos da Espanha, proibindo, por exemplo, o uso oficial de outra língua que não fosse o castelhano. Isto, evidentemente, teve um forte impacto para a língua basca (euskara) e para o orgulho deste povo. Este ambiente de opressão só fez aumentar os sonhos de autodeterminação no país Basco.

A partir da década de 1960, com a forte atuação do ETA7, aumentaram as tensões nesta

região. Este grupo, considerado terrorista pelo governo da Espanha e de outros países, usou de ataques violentos e é considerado responsável pela morte de centenas de pessoas. Apesar de já ter

5 Sigla inglesa para Irish Republican Army. Significa Exército Republicano Irlandês, na tradução para o português. O IRA foi uma organização

paramilitar que se desdobrou de um grupo homônimo que atuou na independência da República da Irlanda. O grupo tem como objetivo a anexação da Irlanda do Norte pela República da Irlanda e foi considerado terrorista pelo Reino Unido e por outros países durante décadas.

6 Referente a tributos (impostos, taxas etc.).

7 Sigla euskara para Euskadi Ta Askatusana. Significa Pátria Basca e Liberdade, na tradução para o português. Este grupo foi oficialmente criado

em 1959 e tem como principal meta a criação de um Estado basco. É acusado de ser responsável por muitos ataques terroristas, sobretudo contra autoridades espanholas, causando a morte de centenas de pessoas.

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declarado o cessar-fogo em algumas oportunidades, ainda há alguma incerteza quanto às ações do grupo. Seja como for, depois de décadas de conflito o grupo perdeu apoio internacional, de partidos políticos e da própria população basca. Isto parece ter contribuído para a sua pacificação. Em 2017 este grupo terrorista anunciou unilateralmente o seu desarmamento e a abdicação da violência e, no ano seguinte, anunciou o seu desmantelamento.

De todo modo, mesmo sem apoiar o ETA e a luta armada, tudo indica que uma parcela muito expressiva da população basca ainda deseje a independência. Assim como ocorre com a Catalunha, o governo de Madri continua implacável quanto à possibilidade de um referendo independentista na região.

O futuro desta e de outras regiões europeias ainda não está definido. Pode ser que nos próximos anos tenhamos uma mudança profunda no mapa político europeu, com novos territórios nacionais e com uma redefinição no contorno das fronteiras.

EXERCÍCIOS

1) Faça uma lista contendo as palavras e expressões presentes no texto que você não conhecia. Busque no dicionário e na Internet o seu significado e, em seguida, elabore um glossário.

2) Consulte (num Atlas ou na Internet) um mapa político da Europa e veja a localização dos países e regiões mencionados no texto. Em seguida, aponte no mapa abaixo a localização das regiões com movimentos separatistas citadas no texto. Faça uma legenda.

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3) Faça uma pesquisa na Internet sobre os países que integram a União Europeia. Indique, abaixo, quais são os países membros, assim como qual o ano que eles entraram no bloco.

4) Assista ao vídeo “Brexit: o que muda no Reino Unido depois da saída da União Europeia?”, produzido pela BBC Brasil. Ele está disponível gratuitamente no Youtube através do link:

https://www.youtube.com/watch?v=B89CHy4Hj6o . Em seguida, responda às seguintes perguntas:

a) Quais argumentos são utilizados para dizer que o Reino Unido sempre tiveram uma postura distante da União Europeia?

b) Quais foram os argumentos utilizados pelos defensores do BREXIT?

Referências

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