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A PROCURA PELO ESPAÇO SAGRADO NAS CANTIGAS DE ROMARIA

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Academic year: 2021

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A PROCURA PELO ESPAÇO SAGRADO NAS CANTIGAS DE ROMARIA Célia Santos da Rosa (PIC-UEM), Cortez, Clarice Zamonaro (Orientador),

e-mail: zamonaro@terracom.com.br

Universidade Estadual de Maringá/Departamento de Letras/Maringá, PR. Linguística, Letras e Artes/Letras/Outras Literaturas Vernáculas

Palavras-chave: cantigas, espaço, peregrinação Resumo:

Este trabalho tem como objetivo estudar o espaço sagrado nas cantigas de romaria. O espaço é uma importante categoria tanto na narrativa como na poesia, uma vez que tem a função de situar a personagem e o sujeito-lirico, diferentemente. As romarias fazem referência às cidades e locais de intensa peregrinação na Idade Média. Considerados sagrados, esses espaços eram procurados, primeiramente, com a intenção de fazer e cumprir promessas, embora certos textos revelem a religiosidade apenas como um pretexto para os encontros amorosos. Os resultados do estudo demonstram que a procura pelo espaço sagrado nas cantigas de romaria revela-se como um pretexto para os encontros e conquistas amorosas.

Introdução

A lírica trovadoresca é composta pelas cantigas de amor e cantigas de amigo. Poesia lírica de extrema importância, fonte de inspiração artística de todo o lirismo dos séculos posteriores. De acordo com Ferreira (s/d), as cantigas de amigo testemunham a existência de um lirismo muito antigo no Noroeste da Península Ibérica, anterior a chegada das primeiras influências provençais. A jovem solteira é a protagonista destas cantigas. A moça, geralmente, anseia pelo amigo (namorado) ausente, tendo como confidentes as amigas, irmãs, mães e os elementos da natureza como as flores, os pássaros, as fontes e as ondas do mar.

A figura da mãe, segundo Maleval (1999), muitas vezes, surge como oponente à concretização do encontro amoroso, enquanto responsável pela familia na ausência do marido que, geralmente, estava combatendo os mouros ou a serviço em alto mar, assumindo, assim, a responsabilidade da família e a administração da casa. A mãe é considerada responsável e guardiã da dignidade da filha e da unidade da sua família. Correia (1978) afirma que o único juiz da ação das jovens é a mãe. Há composições, contudo, em que a mãe aparece como confidente da menina e até como

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A presença do espaço ocupa um lugar de destaque nas composições. A ambientação, de acordo com Maleval (1999) registra lugares diferentes como ermidas, fontes e o mar, locais de encontro dos namorados, considerados subgêneros. Um destes subgêneros é a cantiga de romaria, foco de nosso estudo.

As cantigas de romaria apresentam-se estritamente ligadas com a realidade peninsular medieval. Nestas composições a moça se propõe a comparecer no santuário para rezar e cumprir promessas ou relata a sua peregrinação: “os motivos dessas romarias nem sempre são de pura devoção (...) é apenas a ocasião de um encontro com o namorado, muitas vezes no dia da festa do patrono, outras vezes um disfarce do ato de devoção” (LEMOS, 1990, p. 48). Os encontros amorosos em festas e locais de culto cristão pertencem a uma longa tradição popular, de acordo com Maleval (1999).

Estas composições fazem referência às cidades e locais de intensa romaria e peregrinação na Idade Média. Os locais procurados são considerados espaços sagrados desde a Alta Idade Média pela existência de túmulos santos e da difusão das relíquias, de acordo com Baschet (2006). Esses espaços eram procurados com o intuito de fazer e cumprir promessas, entretanto, certas cantigas demonstram que o verdadeiro motivo não era apenas religioso, mas também sentimental, oportunidade de encontrar (ou conquistar) o amigo (ou namorado).

Revisão de literatura

Trata-se de uma pesquisa de cunho descritivo-analítico. Assim sendo, o pesquisador deverá informar, descrever, classificar e interpretar os fatos sem inferência e manipulação. Haverá além da descrição da teoria sobre o espaço literário, uma leitura interpretativa dos textos baseada nos pressupostos teóricos da Estética da Recepção.

A Estética da Recepção considera a literatura enquanto produção, recepção e comunicação, ou seja, a relação entre autor, obra e leitor é dinâmica. Wolfgang Iser (1996) apresenta uma concepção teórica denominada Teoria do Efeito. Em seu livro “O ato da leitura. Uma teoria do efeito estético” (1996), ele explica que a Estética da Recepção consiste na soma da recepção com o efeito provocado pela leitura do texto literário. Para o autor, a recepção depende de testemunhos, pois diz respeito à assimilação. Segundo Iser (1996) “o texto é o processo integral, que abrange desde a reação do autor ao mundo até sua experiência pelo leitor” (ISER, p.13, 1996).

Para a Estética da Recepção o discurso literário se constitui no processo receptivo, ou seja, da recepção e do efeito que o leitor apresenta no momento da leitura. Dessa forma essa teoria se volta para as condições sócio-históricas das inúmeras interpretações textuais.

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Resultados e Discussão

A busca por lugares em que se possa entrar em contato com o sagrado é um pratica comum nas culturas de todos os tempos, constata Sot (2002), "a peregrinação é um fenômeno quase universal na antropologia religiosa" (p.353). Há diversos motivos que levam a busca pelos espaços sagrados, como fazer e cumprir promessas e a esperança de cura são alguns dos motivos mais encontrados. No entanto, conforme já afirmamos, o motivo religioso não é o único nessa busca, havendo, também, o motivo sentimental, demonstrado nas cantigas de romaria. Nestas composições, o ato de devoção é apenas um ensejo para o encontro amoroso, como podemos observar no fragmento da cantiga de D. Afonso Lopez de Baian, quando o eu-lirico revela suas reais intenções – ir a Santa Maria das Leiras fazer romaria e oração (de coração), mas apresentar-se bela para ver o amigo que também estará lá (pois meu amigo i ven):

Ir quer'oj'eu fremosa, de coraçon, por fazer romaria e oraçon

a Santa Maria das Leiras, pois meu amigo i ven.

Como demostram os versos, a busca pelo espaço sagrado, Santa Maria das Leiras, revela-se como pretexto para o encontro amoroso, confirmando, segundo Lemos (1990), que as cantigas de romaria raramente exprimem o autêntico sentimento religioso. Este vem ao lado do desejo de encontrar o namorado, unindo a fé ao ao tema sentimental:

De fazer romaria pug'en meu coraçon a Sant' Iag' un dia, por fazer oraçon e por veer meu amigo logu'i.

Esta composição de Airas Corpancho revela que o eu-lirico não procura o espaço sagrado, Santiago de Compostela, apenas com intuito de fazer oração, mas também com a intenção de encontrar o amigo (namorado). A devoção poderia, assim, encobrir a verdadeira intenção, a realização do amor sob a benção dos santos e da Virgem Maria. Além disso, visitar o espaço sagrado era a única maneira da jovem aproveitar-se da rara oportunidade de sair de casa, sob a vigilância da mãe, para realizar conquistas ou encontros amorosos.

Conclusões

As cantigas de romaria documentam a religiosidade das populações nas romarias às inúmeras igrejas existentes nas pequenas localidades. Além disso, demonstram que não é apenas o motivo religioso que leva a busca

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A lírica profana registra quase sempre o amor como motivo da busca dos centros religiosos. As romarias se apresentam como resquícios do sincretismo religioso, como afirma Maleval (1990), ao se tornarem local privilegiado de encontros amorosos, sem o estigma da culpa ou do pecado. Referências

BASCHET, Jérônimo. A civilização Feudal: do ano mil à colonização da América.Trad. REDE, Marcelo. São Paulo: Globo, 2006.

CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores galego-portugueses. 2. ed. Lisboa: Editorial Estampa, 1978.

FERREIRA, Maria Ema Tarracha. Poesia e Prosa Medievais. Lisboa: Ulisseia, s/d.

LEMOS, Esther de. A literatura medieval. A poesia. In: História e antologia da literatura portuguesa séculos XIII e XIV. Lisboa: Gulbenkian, p. 39-50, 1990.

MALEVAL, Mária do Amparo. Peregrinação e Poesia. Rio de Janeiro: Editora Ágora da Ilha, 1999.

SOT, Michel. Peregrinação. Trad. MACEDO, José Rivair. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean-Claude. Dicionário temático do ocidente medieval - volume II. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado, 2002.

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Esta deve ser a quarta e última página de seu resumo. Não ultrapasse 4 páginas. Caso contrário, poderá ser solicitado que você o corrija. Fique atento!

Referências

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