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Levantamento preliminar da. Problemática das florestas de Cabo Delgado

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Academic year: 2021

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Problemática das florestas

de Cabo Delgado

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Ficha Técnica

Título: Levantamento Preliminar da

Problemática das Florestas de Cabo Delgado

Publicação: JA! Justiça Ambiental

Por: Daniel Ribeiro com Eduardo Nhabanga Foto da capa: Daniel Ribeiro

Revisão: Janice Lemos, Nilza Matavel e Silvia Dolores Layout e Produção Gráfica: Lourenço Dinis Pinto Tiragem: 300 exemplares

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Agradecimentos

Este trabalho foi possível graças ao apoio de diversas instituições e individualidades que de uma forma incansável contribuiram para o sucesso do presente relatório, nomeadamente:

Sua Excia Senhor o Governador da Província de Cabo Delgado, por nos ter acolhido na Provín-cia e facilitado o acesso à informação nas diferentes Instituições ProvinProvín-ciais, sendo evidente o seu trabalho nas melhorias da problemática da exploração florestal na Província de Cabo Delgado.

De igual modo os nossos agradecimentos vão também para as Direcções Provinciais de Agri-cultura, Saúde, Trabalho, Alfândegas, ao Sr. Procurador do Distrito de Mueda/Mocimboa da Praia, Sr. Chefe dos Serviços Provinciais de Floresta e Fauna Bravia, Sr. Inspector Chefe da Direcção Provincial de Trabalho, Direcção Provincial de Migração e Sr. Fiscal Muhamad Sumaila, por terem disponibilizado o seu tempo e informação de extrema importância para a realização deste trabalho, a todos operadores florestais que nos receberam e nos albergaram nas suas instalações, às comu-nidades da Província de Cabo Delgado, pela sua hospitalidade e participação, e aqueles que directa ou indirectamente contribuiram para a realização do presente trabalho, o nosso muito obrigado.

Por último, agradecemos aos nossos financiadores, ActionAid, AMA e Oxfam-Novib, sem os quais este trabalho não teria sido possível.

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Nota para os Leitores

Esta pesquisa foi encomendada à JA! Justiça ambiental pela AMA e foi financiada pela Action Aid e Oxfam-Novib.

A equipe de trabalho desta pesquisa foi liderada por Daniel Ribeiro (Biólogo – Mestrado em Ecologia), fazendo parte da equipe, Belmiro Tranquino (Estudante de Engenharia Florestal) Eduardo Nhabanga (jornalista) e Oscar Chinchongue (Licenciado em Engenharia Florestal), acompanhados por 2 olheiros/pisteiros da comunidade e 2 membros comunitários com bom conhecimento das florestas locais.

O trabalho de campo foi realizado por um período de 21 dias entre 20 de Agosto a 9 de Setem-bro, tendo parte das entrevistas em Pemba decorrido entre os dias 15 a 19 de Agosto.

Após a sua elaboração, este relatório foi submetido a alguns dos demais membros e colabo-radores, da JA! para apreciação, entre eles, Anabela Lemos (Directora da JA), Benilde Mourana (estudante de Direito), Carlos Serra (Jurista pós graduado em Direito do Ambiente) e Vanessa Cabanelas (Licenciada em Biologia).

Esta pesquisa consiste em um levantamento preliminar dos principais problemas que afectam o sector florestal na Província de Cabo Delgado. Ainda que se tenha registado melhorias neste sec-tor, o presente trabalho pretende focar os aspectos a ser melhorados, não querendo no entanto o relatório insinuar que todo o sector florestal na Província se encontra em más condições, mas sim trazer a realidade dos problemas que assolam a Província de Cabo Delgado e seus reais desafios.

O estudo teve lugar em 5 Distritos da Província, nomeadamente Mocimboa da Praia, Monte-puez, Mueda, Nangade e Pemba-Metuge.

O relatório encontra-se dividido em 5 partes.

A primeira parte faz referência à contextualização do estudo, nomeadamente a situação so-cioeconómica de Moçambique, a disponibilidade de recursos florestais nacionais e a situação da exploração florestal em Moçambique.

A segunda parte consiste na identificação e descrição da metodologia usada para a realização. A terceira, a apresentação dos resultados do trabalho de campo e pesquisas

A quarta e a quinta partes tratam das conclusões e das recomendações, respectivamente.

Nota para os Leitores

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Lista de acrónomos

ADB - African Development Bank.

DAP - Diâmetro a Altura do Peito.

DDFFB - Direcção Distrital de Florestas e Fauna Bravia. DNFFB - Direcção Nacional de Florestas e Fauna Bravia. DNFF - Direcção Nacional de Terras e Florestas DPA - Direcção Provincial de Agricultura.

DPSFFB - Direcção Provincial dos Serviços de Florestas e Fauna Bravia. DPT - Direcção Provincial de Trabalho.

EDM - Electricidade de Moçambique.

FAO - Organização do Fundo para Agricultura. INE - Instituto Nacional de Estatística. IUCN - União Mundial para a Natureza.

MICOA - Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental. MPD - Ministério de Planificação para o Desenvolvimento. NDPB - National Directorate of Planning and Budget.

OCDE - Organisacao Coopertiva de Desenvolviment Econimico.

ONG - Organizações Não Governamental.

PFNM - Produtos Florestais Não Madeireiros. PIB - Produto Interno Bruto.

RFFB - Regulamento de Florestas e Fauna Bravia. RFFB - Regulamento de Florestas e Fauna Bravia.

SETSAN - Secretariado Técnico de Segurança Alimentar e Nutricional. SPFFB - Serviços Provinciais de Florestas e Fauna Bravia.

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Índice

Índice

Agradecimentos...3

Nota para os leitores ...5

Lista de acrónomos ...6

índice geral ...7

índice de tabelas e gráficos ...8

índice de figuras e fotografias ...8

1. INTRODUÇÃO ...9

1.1. Objectivos...9

2. CONTEXTUALIZAÇÃO ...10

2.1. Enquadramento socioeconómico de Moçambique ...10

2.2. Recursos florestais nacionais ...10

2.3. Exploração florestais em Moçambique ...12

2.4. Localização e caracterização geral de Cabo Delgado ...14

3. METODOLOGIA ...15

3.1. Área de estudo ...15

3.2. Trabalho de Campo ...16

I.) Pesquisa de toros nas serrações ...16

II.) Análise de espécies comerciais ...16

III.) Comparação entre áreas exploradas e áreas não exploradas ...17

IV.) Análise de indicadores ecológicos ...18

3.3. Fontes secundárias - Entrevistas e questionários ...18

3.4. Princiapais infracções levantadas pela fiscalização ...19

4. RESULTADOS ...20

4.1. Dados gerais ...20

4.2. Trabalho de Campo ...21

I.) Pesquisa de toros nas serrações ...21

II.) Análise de espécies comerciais ...23

III.) Comparação entre áreas exploradas e áreas não exploradas ...24

IV.) Análise de indicadores ecológicos ...26

4.3. Sumário dos prínciapais aspectos das entrevistas ...29

I.) Perguntas de carácter geral das florestas ...29

II.) Exploração e exportação ilegal ...30

III.) Fiscalização – Integridade ...31

4.4. Sumário dos questionários ...32

I.) Perguntas de carácter geral sobre a problemática florestal ...32

II.) Perguntas de carácter específico – exploração ilegal ...32

III.) Perguntas de carácter específico – fiscalização ...33

IV.) Perguntas de carácter específico – direitos comunitários ...33

V.) Perguntas específicas – Regimes de exploração florestal ...34

VI.) Perguntas específicas – Integridade ...34

4.5. Princiapais infracções levantadas pela fiscalização ...34

I.) Sector Laboral ...35

II.) Sector florestal ...36

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6. RECOMENDAÇÕES ...38 6.1. Estudos...38 6.2. Fiscalização ...38 6.3. Reformas legais ...39 6.4. Advocacia e Medidas ...39 6.5. Acesso à informação ...39

6.6. Reformas Sócio-Culturais ou Comunitárias ...41

6.7. Integridade e Ética ...41

7. CONSTRANGIMENTOS ...42

8. BIBLIOGRAFIA ...43

ÍNDICE DE TABELAS E GRÁFICOS Tabela 1 - Número de licenças simples, concessões e volume e área de madeira a explorar para os quatro Distritos analisados (Anexo 1- dados detalhados) ...15

Tabela 2 - Diâmetro mínimo de corte e classificação das espécies ...22

Gráfico 1 - Formas de Exploração Preferidas pelos Operadores ...20

Gráfico 2 - Destino da Madeira no Periodo de Janeiro de 2006 a Julho de 2007 ...21

Gráfico 3 - Número de Toros e Volume por Espécie ...22

Gráfico 4 - Número de Toros por Espécie, de Acordo com o seu Diâmetro ...23

Gráfico 5 - Número de Toros por Espécie, de Acordo com o seu Diâmetro ...23

Gráfico 6 - Número de Árvores das Diferentes Espécies, de Acordo com o seu Diâmetro...24

Gráfico 7 - Comparação entre o número de árvores em áreas exploradas e áreas não explora-das ...25

ÍNDICE DE FIGURAS E FOTOGRAFIAS Figura 1 - Localização geográfica de Moçambique ...10

Figura 2 - Localização de Cabo Delgado ...14

Figura 3 - Fotos que ilustram a grande quantidade de biomassa das espécies rasas ...20

Fotografia 1 - Floresta queimada no Distrito de Mueda ...11

Fotografia 2 - Duas árvores de Pau-Preto (Dalbergia melanoxylon) ...13

Fotografia 3 - Toros na serração Tienhe em Pemba ...20

Fotografia 4 - Floresta queimada no Distrito de Nangade...27

Fotografia 5 - Fotografias que ilustram a grande quantidade de biomassa das espécies rasas ...27

Fotografia 6 - Pau-Preto no Distrito de Mueda ...29

Fotografia 7 - Madeira ao lado da estrada no Distrito de Nandage ...31

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1. Introdução

As florestas proporcionam uma variedade de bens e serviços, de acordo com o seu tipo e a região onde se encontram. Nos países em desenvolvimento, estes bens incluem madeira para combus-tível, produtos madeireiros e não madeireiros (tal como medicamentos) e habitat humano. Os serviços que as florestas proporcionam incluem os processos cíclicos dos nutrientes, micro-climas e protecção de bacias hidrográficas. As florestas são as áreas mais ricas do mundo em população animal selvagem e biodiversidade em geral.

Moçambique possui cerca de 40.1 milhões de hectares de florestas. Cabo Delgado é uma das províncias com maior área florestal com cerca de 4,8 milhões de hectares (DNTF, 2007). Porém, actualmente estas vem sendo ameaçadas pelos complexos padrões das actividades humanas.

A problema do sector florestal desta Província já foi reconhecido em vários estudos (Albano 2001, Bila & Salmi DNFFB, Cuco 1994, Cuco et al. 2002, Saket 1994, Sitoe 2003, Mackenzie 2006). Estes problemas variam de corrupção, corte em excesso e exportação ilegal de toros, exploração de trabalhadores, fraca fiscalização, falta de recuperação de madeira e muito outros problemas. Grande parte destes estudos foram feitos a nível nacional, com uma visão geral ou consistem de análises pro-fundas de uma outra província sendo a realidade desta projectada para a de Cabo Delgado. Devido à gravidade dos problemas mencionados e à falta de estudos detalhados em Cabo Delgado foi vista a necessidade de fazer um levantamento preliminar da situação das florestas em Cabo Delgado.

O presente estudo não pretende apenas documentar e consciencializar estes problemas, mas também propor futuros estudos e soluções. O relatório fornece detalhes das práticas no sector das florestas que podem apoiar iniciativas correntes e ajudar a desenvolver projectos que permi-tam definir reformas chave e medidas interinas a fim de tornar a exploração florestal numa gestão florestal sustentável.

1.1. Objectivos do Estudo

Com o presente estudo pretende-se ter uma base mais concreta da realidade referente ao sector florestal em Cabo Delgado através de um levantamento preliminar dos sectores ligados às florestas. Os objectivos específicos consistem em obter dados relativos:

• aos regimes de exploração (número de licenças simples e concessões nos distritos), • aos métodos de exploração florestal utilizados na Província,

• à nacionalidade dos operadores e indivíduos no sector florestal assim como à quantidade de trabalhadores neste sector;

• à capacidade de produção (abate) e processamento dos operadores, • ao relacionamento dos diversos grupos (operadores, Governo e ONGs) com as comunidades locais, • aos impactos e benefícios que as comunidades obtêm do sector das florestas, interacção entre as florestas e as comunidades; • aos volume de multas aplicadas e efectivamente pagas; • aos volumes de madeira exportadas pelo Porto de Pemba, à descrição do sector de fiscalização em Cabo Delgado (quantidade de fiscais, nível de formação académica, meios de circulação, nível salarial e outros),

• à capacidade técnica do sector de florestas e fauna bravia a nível do Governo Provincial, • à situação das espécies comerciais e à dinâmica biológica das florestas.

Este estudo foi finalizado com a apresentação dos resultados do trabalho num seminário público, em coordenação com o Fórum Nacional de Florestas e o Governo da Província de Cabo Delgado,

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2. Contextualização

Moçambique localiza-se na costa Orien-tal Africana, entre a foz do Rio Rovu-ma (10º30’S) e a fronteira sul-africana (26º49’S), fazendo fronteira com a Tan-zânia a Norte, o Malawi, a Zâmbia, o Zimbabué, a África do Sul e a Suazilândia a Oeste, África do Sul a Sul e o Oceano Índico a Leste e ocupa uma área de apro-ximadamente 784 755 km ².

O País possui 11 Províncias nomea-damente, Cabo Deldo, Niassa, Nampula, Tete, Zambézia, Manica, Sofala, Inhamba-ne, Gaza, Maputo e Maputo Cidade.

2.1. Enquadramento sócio-económico de Moçambique

Moçambique continua a ser um dos países mais pobres do mundo, situando-se em 168º lugar de 177 países, de acordo com o relatório do Desenvolvimento Humano de 2005. Possui uma popu-lação de cerca de 20.5 milhões de pessoas (INE, 2007) estando, segundo dados do INE em 2003, 54% da população moçambicana a viver abaixo da linha de pobreza nacional. O rendimento anual médio por pessoa é de US$ 250 (Indicadores de Desenvolvimento Mundiais 2005). A distribui-ção da riqueza tende a favorecer o sector urbano e geograficamente a zona Sul do país, tendo as províncias de Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Tete e Zambézia altos índices de pobreza humana (INE, 2003).

A economia de Moçambique baseia-se essencialmente na agricultura e na pesca, que contribuí-ram em cerca de 22 % para o PIB (GDP) em 2004 (OCDE, 2006). Estimativas sugerem que aproxi-madamente 85 % da população é dependente da agricultura e pesca e que essas actividades ocupam 94 % da população economicamente activa (ADB, 2006). No entanto, há alguma discrepância na literatura disponível sobre esta matéria, e alguns estudos sugerem que aproximadamente apenas 75% da população está empregada no sector agrícola (FAO, 2004).

Apesar de grande parte da população estar dependente e empregada no sector agrícola, prevê--se que somente 10% da terra arável seja cultivada. Segundo a FAO (2004), “o acesso a recursos naturais está ligado à sustentabilidade familiar contudo, a percentagem da terra cultivada em Mo-çambique não mostra um quadro real da importância da terra não cultivada para o rural pobre. (...) outros recursos naturais são recolhidos, processados e/ou vendidos por muitas famílias, como uma actividade predominante ou como parte de um processo diversificado de estratégias de sustento para estender e minimizar riscos específicos. Estes incluem recursos como carne de caça, mel, barro, raízes e tubérculos, plantas medicinais, matérias de construção, palha para cobertura, lenha e a produção de carvão vegetal e sal” (FAO, 2004).

2.2. Recursos Florestais Nacionais

Moçambique é um País rico em recursos florestais, com uma área florestal total de cerca de 40.1 milhões de hectares (DNTF, 2007). Estima-se que o sector de florestas dá emprego a cerca de 200 000 pessoas e contribui cerca de 1% no PIB (excluindo o uso de madeira e carvão para combustí-vel). Oficialmente, em 2004 a exportação do sector madeireiro somou lucros de $30 milhões de Figura 1: Localização

Geográfica de Moçambique

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USD e actualmente estima-se que o sector de florestas venha a contribuir com aproximadamente

$6 milhões de USD em receitas para o Governo Moçambicano.

Algumas Províncias possuem vastas áreas florestais não exploradas, de onde as comunidades rurais adquirem vários produtos para a sua subsistência, e que têm uma importância cultural e espiritual para essas comunidades.

A diversidade florestal em Moçambique é pobremente documentada devido a várias razões, como a vastidão do País, os conflitos armados de longa duração que assolaram o País e a falta geral de recursos humanos e financeiros para cobrir todo o território. Contudo, alguns estudos, como o de Wild & Barbosa (1967) baseado no mapeamento de tipos de vegetação africana, referem que cerca de dois terços das florestas do País sejam compostas por Floresta de Miombo, onde as espécies dominantes, como a Brachystegia spiciformis muitas vezes misturada com Jubernardia globiflora, ocorrem associadas com uma variedade de outras espécies de plantas.

Em Moçambique, este tipo da vegetação ocupa vastas áreas nas regiões Centrais e Norte, com maior predominância no Norte (MICOA, 1998) no entanto, não há nenhum dado exacto sobre a sua extensão. Estima-se que aproximadamente 334 espécies de árvores estejam incluídas nessas florestas de Miombo moçambicanas. A fisionomia do Miombo é

carac-terizada por uma cobertura de vegetação densa, com árvores caducas e semi-caducas, de altura entre 10 e 30 metros quando maduras e não degradadas.

O fogo é um componente ecológico importante nestas florestas uma vez que é necessário na germinação e nutrição dos solos. Num sistema natural sem influência humana, normalmente o fogo começa devido aos relâmpagos, muitas das vezes no princípio da estação das chuvas. Isto é importante porque após a germinação, as árvores jovens precisam de alguns anos de crescimento para ganhar o tamanho suficiente para so-breviver ao próximo fogo. Com base nas lentas taxas de crescimento da vegetação, um período de rotação de fogos de 10 anos ou mais seria o ideal. Mesmo assim, a existência de árvores grandes que sobrevivem aos fogos, torna possível a manutenção da cobertura florestal necessária para um ecossistema saudável e um forte fornecimento de sementes que permite uma certa resistência aos impactos negativos dos fogos.

A precipitação no ecossistema é altamente sazonal (variando entre 650 e 1400 mm por ano), deixando a vegetação seca durante vários meses do ano. Por isso, os temporais associados ao início da estação chuvosa podem incendiar facilmente a vegetação (WWF, 2007). Con-tudo, além de serem naturalmente propensas ao fogo, as florestas de Miombo também são frequentemente queimadas pela população para abertura de campos para o cultivo, pastagens para o gado, ou para faci-litar a caça de vários animais, incluindo ratos.

O endemismo e a diversidade de fauna são baixos, possivelmente devido ao longo período seco e aos fogos intensos que ocorrem nestas florestas. Alguns grandes herbívoros como o Pala-Pala (Hippotragus niger) e antílopes habitam estes ecossistemas. A avifauna é rica em al-gumas espécies distintas como o pássaro de algodão cinzento (Anthos-copus caroli), o Sentinela Tordo de Rocha (Montícola explorator) e o beija-flor de Shelley (Nectarina shelleyi), sendo a variedade de insectos e répteis bastante baixa (GFC and JA, 2007).

Alguns dos rios mais importantes de Moçambique situam-se em regiões cobertas pela vegetação de Miombo, especialmente o Rio

Zam-Fotografia 1. Floresta queimada no distrito de Mueda.

2. Contextualização

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beze, onde a quantidade e qualidade de água muitas vezes depende do estado geral destas florestas. Essas florestas são também importantes para a população local, cujos usos principais incluem a fonte de lenha e carvão vegetal, plantas medicinais, fonte de nutrientes e fertilizantes do solo - por fogos e reciclagem do material das folhas - e como uma fonte de alimentação de animais domésti-cos. Devido geralmente à fertilidade do seu solo, as florestas de Miombo também são usadas para a agricultura.

O segundo tipo de floresta mais extensa encontrada no País é a Floresta Mopane, que ocorre principalmente na área desde o Limpopo, passando pelo Save, até ao alto do Vale do Zambeze, do-minada por espécies como Colophospermum mopane, bem como Adansonia digitata (Embondeiro), Afzelia quanzensis (Chanfuta, uma espécie arbórea cuja madeira é considerada de primeira classe pelo Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia de 2002) e a Sterculia rogersii (GFC and JA, 2007).

Esta eco-região ocorre principalmente no clima chuvoso e quente tropical, onde a estação chuvosa é entre Novembro e Abril e cuja precipitação anual varia entre 450 e 710 mm, com áreas máximas de aproximadamente 1000 mm/ano. A vegetação Mopane é caracterizada predominante-mente pela ocorrência de árvores e arbustos, sendo que as florestas têm uma grande diversidade de plantas, embora duas unidades de vegetação possuam diversidades florísticas particularmente altas, as savanas secas com árvores caducas e as savanas secundárias de altitude baixa e média.

A riqueza raramente excede as 283 espécies por 625 km², sendo 614 espécies por 625 km ² a maior excepção registada. Algumas espécies importantes encontradas nas florestas Mopane são a Sclerocarya birrea, o Combretum sp., a Terminalia sericea e o Strychnos sp., entre outras. Algumas plantas medicinais também podem ser encontradas nestas florestas tais como o gengibre selvagem (Siphonochilus aethiopicus) e a Warburgia salutaris.

Esta eco-região é uma das mais importantes da África Austral, e serve de habitat para uma série de espécies de fauna como impalas, elefantes, rinocerontes, búfalos, leões, hienas, leopardos, entre outros. Há algumas espécies endémicas de pássaros e uma variedade de répteis endémicos.

A má produtividade dos solos e a ocorrência de uma vasta quantidade de fauna nas florestas de Mopane, resultaram em grandes Áreas de Conservação nesta região do País, como os Parques de Banhine, Zinave e Parque da Gorongosa.

O resto do país é caracterizado por vários outros tipos de vegetação como mosaicos costeiros, terrenos arborizados não diferenciados, elementos afromontane, vegetação alopática e pantanosa. De uma forma geral, o Norte do País possui florestas mais densas e menos exploradas do que o Sul de Moçambique.

2.3. Exploração Florestal em Moçambique

Como referido anteriormente, a maioria dos Moçambicanos vive em áreas rurais e depende dos recursos naturais para a sua subsistência diária. A agricultura de subsistência é praticada por gran-de parte da população pobre da zona rural, e a comercialização gran-de produtos realiza-se quando há excedentes.

Apenas cerca de 7 a 9% da população total de Moçambique tem acesso à electricidade cabendo à restante população fazer o uso da lenha, do carvão vegetal, do petróleo e do gás. A colecta de lenha e a produção de carvão vegetal para efeitos de cozinha e aquecimento representa 85% do consumo total de energia no país. Estima-se que aproximadamente 17 milhões de m³ de biomassa sejam usadas por ano em Moçambique. Só em 2005, 22.029.000m³ de madeira foram retirados para a produção de carvão vegetal, o que representa a principal razão de redução dos recursos naturais. ((MPD-Ministério da Planificação e Desenvolvimento e EDM- Electricidade de Moçambique)

Para além de usos com fins energéticos, as madeiras comuns e as madeiras preciosas também são usadas pelas comunidades na construção de casas e nas artes e ofícios, por exemplo para gravar e esculpir.

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A maior parte dos Produtos Florestais Não Madeireiros (PFNM) – que incluem plantas

me-dicinais, capim, bambu, cana e alimentos como verduras selvagens, frutos e tubérculos – não são comercializados pelas comunidades locais, em grande parte devido à falta de infra-estruturas e dificuldades de acesso aos mercados e cidades. No entanto, existem várias pessoas que vendem esteiras e cestos, cadeiras e camas feitas com capim e bambus ao longo das estradas principais.

Várias espécies de árvores (aproximadamente 118) são comercialmente exploradas em Mo-çambique, embora apenas 10 tenham maior procura e um valor mais elevado para efeitos de ex-ploração. Algumas destas espécies encontram-se incluídas na lista de espécies em via de extinção da IUCN:

• Umbila (Pterocarpus angolensis), Chanfuta (Afzelia quanzensis), Jam-birre (Milletia stuhlmannii), espécies de primeira classe, de acordo com o Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia n.12/2002 do dia 6 de Junho de 2002. Pau-Ferro (Swartzia madagascariensis), Mondzo (Combretum imberbe), Mecruse (Androstachys johnsonii) e Umbáua (Khaya nyasica) são também espécies de primeira classe, recentemente reclassificadas pelo Dimploma Ministerial no 8/2007 de 24 de Janeiro do Ministério da Agricultura que começam a estar em risco devido à sua sobre exploração.

• Pau-Preto (Dalbergia melanoxylon), Pau-Rosa (Berchemia zeyheri) e Tule (Milicia excelsa) – espécies de madeira preciosa de acordo com o mesmo regulamento.

Devido à baixa regeneração das florestas no País, o corte máximo admissível foi estipulado em cerca de 500.000 m³/ha/ano. O Inventá-rio Florestal Nacional de 2007 estipula que cerca de 70% de Moçam-bique é coberto por florestas e outros terrenos arborizados. Como o Inventário Nacional de 1994 apontou uma cobertura nacional de cerca de 80% por tipos florestais diferentes, pode-se notar que a percentagem de florestas nacionais tem vindo a diminuir nos últimos anos.

No entanto, o Inventário Nacional indica uma taxa anual de desflo-restação para o País de cerca de 0.58%, correspondente aproximada-mente a 219.000 ha de florestas. A mesma taxa, em 2004 foi de 0.81%. Esta estatística indica que há melhoramento do sector de florestas, com o Governo, as ONGs e a sociedade civil interessados na sustentabilida-de das florestas.

Apesar dos resultados referidos no Inventário, está extensivamente documentado que uma das causas principais do desflorestação em Mo-çambique é o corte ilegal de árvores. Por exemplo, o estudo feito pelo DNFFB e FAO em 2003 apontou como uma das principais causas do desflorestação em Moçambique é o corte ilegal de árvores e estimou que entre 50 e 70% da exploração florestal é ilegal (Gatto, 2003). O cor-te ilegal de madeira está ligado a vários actores e actividades da Provín-cia, como a adjudicação ilegal de concessões florestais e licenciamento em regime de licenças simples, corte de madeira em áreas proibidas ou protegidas e falhas no processo de auscultação das comunidades locais. A actividade madeireira ilegal envolve actores de diferentes sectores da sociedade, deste membros de comunidades locais, concessionários, operadores de serrações e exportadores, trabalhadores dos sectores das serrações, das concessões e dos transportes.

Fotografia 2. Duas ár-vores de Pau-Preto (Dal-bergia melanoxylon).

2. Contextualização

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Estudos específicos ao nível provincial, como o de Mackenzie (2006), também mostraram que ainda há graves problemas no sector das florestas, criando uma consciencialização e debate público à volta da realidade do sector das florestas na Província da Zambézia e uma base forte de recomen-dações para ajudar a tornar o sector de florestas sustentável. Infelizmente, não existem estudos multi-disciplinares detalhados independentes para muitas das outras províncias com potencial flo-restal (como Cabo Delgado, Nampula, Niassa, Tete e Manica) que também têm problemas graves no sector de florestas.

2.4. Localização geral de Cabo Delgado

Cabo Delgado é a província situada mais a Norte de Moçambique. Com uma população de cerca de 1.6 milhões de habitantes (INE,2007) em uma área de 82,625 km², a Província é dividida em 16 distritos (anexo 1) e 3 Concelhos Municipais (Mocímboa da Praia, Montepuez e a capital, Pemba).

Cabo Delgado é uma das Províncias mais pobres e sub-desenvolvidas de Moçambique. A estimativa de vida é quatro anos inferior à média nacional. Algumas pesquisas de consumo doméstico realizadas entre 2002-2005 (NDPB et al 2005) es-timaram que 63.2% dos lares de Cabo Delgado viviam abaixo da linha de pobreza. O nível de analfabetismo na Província en-contra-se nos 77%, sendo 92% mulheres (Fundação Aga Khan, 2005).

Outros indicadores sociais, como a mortalidade infantil, mostram que aproximadamente 56% dos óbitos no meio rural em crianças com menos de 5 anos são causados por mal-nu-trição (Setsan 2005). Estima-se que existam cerca de 141.923 pessoas vivendo com o HIV- SIDA (aproximadamente 8.6% da população de Cabo Delgado). Outras epidemias que mere-cem destaque incluem a Malária, a Cólera e a diarreia (MICOA 2004).

Este estudo decorreu em Cabo Delgado, tendo como ob-jectivo contribuir com informação sobre a situação actual das florestas na Província de Cabo delgado. O estudo pretende assim constituir uma base mais concreta da realidade à volta do sector de florestas em Cabo Delgado através de um levan-tamento preliminar dos sectores ligados às florestas.

Rio Limp opo Rio Save Rio Zambezi Rio C hir e Rio Lurio Rio Lugenda Rio Rovuma Lago Chirua Lago Niassa ÁFRICA DO SUL ZIMBABWÉ MALAWI ZÂMBIA MAPA DE MOÇAMBIQUE TANZÂNIA OCEANO ÍNDICO SUAZILÂNDIA N CABO DELGADO Albufeira de Cabora Bassa Rio Zambezi Figura 2: Localização de Cabo Delgado

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3. Metodologia

A metodologia consistiu em:

• Obtenção de dados oficiais do sector de florestas;

• Pesquisa bibliográfica, para descrição da área de estudo e definição de áreas de estudo prioritá-rias;

• Trabalho de campo, que consistiu na recolha de dados sobre o funcionamento do sector flo-restal da Província; e avaliação preliminar através de um mapeamento de amostras aleatórias de indicadores ecológicos simples - número de árvores, indicação da diversidade, densidade e composição das parcelas a serem exploradas; e

• Visitas, inquéritos e entrevistas semi-estruturadas a representantes do Governo Provincial, dos madeireiros, organizações não governamentais e membros comunitários.

3.1. Áreas de Estudo

Foram escolhidos 5 Distritos da Província de Cabo Delgado, sendo estes: Mocimboa da Praia, Mon-tepuez, Mueda, Nangade e Pemba-Metuge. O critério para a escolha dos distritos foi de acordo com as características de cada um deles.

A Vila de Mocimboa da Praia e o Município de Pemba-Metuge possuem os dois principais Portos da Província, por onde é feito o escoamento de grande parte da madeira. O Distrito de Mocimboa da Praia apresenta grande potencial para a indústria madeireira e actualmente existem operadores em regime de 5 licenças simples e 2 concessões florestais.

O Distrito de Montepuez apresenta o maior número de licenças simples da Província, no total de 17 licenças simples e três concessões florestais. Por outro lado, o Distrito de Mueda apresenta maior número de concessões florestais (5, o maior número na Província) do que de licenças sim-ples (3)(Tabela 1).

Pemba, sendo a capital da Província, comporta grande parte das estruturas governamentais pro-vinciais, associações e escritórios das companhias ligadas ao sector florestal, para além do elevado número de parques de toros e serrações.

O Distrito de Nangade foi analisado por ser o que faz fronteira com a Tanzânia, permitindo verificar as alegações de exploração ilegal de madeireiros deste País vizinho. Nangade possui 4 operadores de licenças simples e 3 concessões florestais (Tabela 1).

Tabela 1: Número de licenças simples, concessões e volume e área de madeira a explo-rar para os quatro Distritos analisados (Anexo 1- dados detalhados)

Montepuez Mueda Mocimbia da Praia Nangade Total Licenças Número 17 3 5 4 29 Simples (7 indiferido) (1 indiferido) (3 indiferido)

Quantidade 2775 725 1300 200 5000 (m3)

Concessões Número 4 5 2 3 14 (1 indiferido) (1 indiferido) (1 indiferido)

Quantidade 3300 7372.8 1312.1 2002 13986.9 (m3) Área (ha) 107147.35 367049 61715 78209 614120.35 Total Quantidade 6075 8097.8 2612.1 2202 18986.9 (m3) 3. Metodologia

(17)

A primeira parte do estudo consistiu na informação aos intervenientes ligados ao sector de flores-tas do projecto e fazer os pedidos oficiais de informação como número de operadores, forma de exploração, número de licenças simples e concessões, volumes e destino das madeiras exportadas. Os intervenientes incluíram Directores Provinciais e Distritais, Chefes dos Serviços Provinciais, Funcionários (técnicos qualificados e outros), Proprietários das Licenças (Operadores), Proprietá-rios de empresas de exportação (nacionais e estrangeiros) e das juntas principais. Estes dados ofi-ciais em conjunto com o levantamento bibliográfico serviram como base para uma descrição inicial da realidade e identificação das lacunas para posterior adaptação da metodologia de trabalho.

3.2. Trabalho de Campo

I) Pesquisa de toros nas serrações

Foram recolhidos dados em 6 serrações da cidade de Pemba, nomeadamente Senlian Lda, Wood Export Lda, Miti Lda, Alman Madeiras Lda, Tienhe Lda e ZMJ Lda. Estas serrações foram escolhidas por pertencerem às maiores empresas da Cidade de Pemba e da Província de Cabo Delgado em geral, em termos de infra-estruturas, capacidade real instalada e também pela disponibilidade destas em permitir a recolha de dados.

Foram identificadas as espécies presentes no pátio de toros em cada uma das serrações e foram seleccionadas 20 amostras. A selecção das amostras foi feita com base na disponibilidade destas. O processamento de toros nas serrações visitadas é feito consoante as requisições dos clientes e de acordo com o Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (2002).

Para a avaliação da qualidade dos toros geralmente exportados ou processados nas serrações, de acordo com as especificações do Regulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia (2002), para cada amostra foi feita a medição do diâmetro cruzado na base e no topo de modo a determinar o diâmetro médio e a medição do comprimento dos toros.

II) Análise de Espécies Comerciais

Os dados de campo foram obtidos em 4 (quatro) Distritos. A recolha de dados foi feita em uma área em exploração sob licença simples e uma área de concessão florestal em cada um dos Dis-tritos. Sendo que a recolha de dados foi feita em Mueda (Wood Export Lda e Jamal M. Jamal), Nangade (Comadel), Mocimboa da Praia (Miti Lda e Jambirre Company) e Montepuez (Panga Lda e Frederico Cossa)(Tabela 1, Anexo I).

Para a avaliação do estado da floresta e do impacto do abate de espécies comerciais, para cada área florestal em exploração (regime de concessão e licença simples), foram feitos trajectos de cin-co quilómetros. A cada 500 metros eram demarcadas parcelas circulares de 20 metros, resultando em 9 amostras para cada área florestal em exploração.

As parcelas foram determinadas através de cordas e foram registadas as coordenadas de cada local de amostragem através de GPS. Para cada parcela foram utilizadas fichas de registo de dados e fitas de cores para marcação de parcelas onde foi feita a identificação de todas as espécies. Para a análise das espécies comerciais foram usadas sutas para medir o diâmetro, tubos metálicos para auxiliar na estimativa da altura e fita métrica.

Em cada uma das parcelas foi feita a medição do diâmetro à altura do peito (DAP). Em inter-valos de 10 árvores de cada espécie foi estimada a altura das espécies mais comercializadas, de modo a analisar o estado da floresta em termos de árvores disponíveis e inferir sobre o estado da regeneração das mesmas.

Foram também contabilizadas e registadas todas espécies passíveis de substituir o recurso ac-tual em caso de sobre exploração de espécies.

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Delgado

17

Os dados recolhidos permitiram a:

• Determinação do volume de toros explorado por cada espécie (Gráfico I); • Determinação de valores médios dos diâmetros (Gráfico II);

• Determinação de intervalos de variação dos diâmetros dos toros (Gráfico II).

Os cálculos para a determinação do diâmetro médio e volume dos toros por espécie foram efec-tuados com base nas seguintes equações:

Equação 1: Diâmetro médio dos toros: Dm (b ou t) = (D1 + D2)/2

Onde:

Dm = Diâmetro médio que pode ser da base (b) ou do topo (t); D1 = Diâmetro;

D2 = Diâmetro;

O Volume explorado dos toros por cada espécie é feito através do cálculo da área seccional, volu-me e altura covolu-mercial. A área basal e a área seccional são ambas calculadas com base nas volu-medições de diâmetro e perímetro, assumindo uma secção circular do tronco.

Equação 2: Cálculo da área seccional. G= (π x d2) / 4 (m2) ou G = C2 / (4 x π) (m2) Onde: C = circunferência, π é cerca de 3.14159,, d = diâmetro.

O volume líquido comercializável corresponde ao volume do caule principal da árvore excluindo o cepo e o topo, bem como a madeira defeituosa e decadente.

Equação 3: Volume líquido (com base no método de Smalian). V = [(G0 + Gn)/2 * L] (m3)

Onde:

V = Volume (m3)

G0 = Área na base do toro (m2); Gn = Área do topo do toro (m2); L = comprimento do toro.

A altura comercial refere-se somente ao material comercializável e é definida como a distância da base da árvore ao ponto mais alto do fuste principal onde o diâmetro não é menor que um valor específico ou onde a utilização do fuste é limitada pelo aparecimento de ramos ou defeitos.

III) Comparação entre áreas exploradas e áreas não exploradas

No caso específico das áreas florestais em regime de concessão foi feita uma comparação entre áreas exploradas e áreas não exploradas dentro da própria concessão com o objectivo de obter uma melhor noção dos impactos quantitativos do abate. Foi usada a mesma metodologia da secção II de fazer trajectos de cinco quilómetros com demarcação e análise de parcelas circulares de 20 m em cada 500 m. Este trabalho foi levado a cabo numa zona não explorada e numa zona explorada.

Um segundo tipo de trajectos foi feito não usando uma distância fixa de 500 m, mas usando o método das equipas de corte trabalhando na concessão. Este método é subjectivo, pois os olheiros

(19)

do operador da concessão procuram manchas com alta densidade de espécies comerciais. Uma vez identificadas, a equipa de corte é notificada do local. Para poder seguir este método, pediu-se a aju-da de um olheiro para indicar o que normalmente é considerado uma mancha para a nossa equipa poder demarcar uma parcela circular de 20 metros para analisar. Isto foi feito numa área explorada e numa área não explorada, repetindo o processo até atingir 9 parcelas para cada área.

IV) Análise de indicadores ecológicos

Durante a análise das parcelas, também foi registado o número de árvores e a morfologia da espécie dominante para ter uma indicação da diversidade, densidade e composição das parcelas. As árvores foram divididas em três grupos: árvores adultas (acima do diâmetro legal), intermédias (abaixo do diâmetro legal) e pequenas (com menos de 5 cm de diâmetro). A percentagem de árvores não co-merciais de cada grupo foi estimada e no caso das espécies coco-merciais esta foi determinada através de medição. Foi feita a descrição da vegetação e de outros aspectos específicos de cada parcela. Os comentários dos membros da comunidade e dos guias foram incluídos nesta análise.

Foram obtidas informações da ocorrência dos fogos (período e causa do último fogo), diferen-ças entre a situação actual e a passada, mudandiferen-ças sazonais e outras informações ecológicas sobre as florestas, como e em que condições certas espécies são encontradas e razão da procura destas. As informações foram posteriormente comparadas com a bibliografia disponível sobre as florestas de Miombo e as espécies em questão.

3.3. Fontes secundárias – Entrevistas e questionários

O questionário utilizado foi elaborado por indivíduos de áreas diversas, para acautelar o maior número de aspectos possíveis dos vários segmentos do sector florestal.

Para garantir a fidelidade da informação obtida, efectuaram-se entrevistas ao maior número possível de partes interessadas e envolvidas que intervêm directa ou indirectamente no sector florestal. As consultas incluíram entrevistas e questionários individuais com líderes tradicionais; Directores Provinciais e Distritais; Chefes dos Serviços Provinciais; Funcionários (entre técnicos qualificados e outros); Titulares concessionários das Licenças (Operadores); Proprietários de em-presas de exportação (nacionais e estrangeiros); Jornalistas e a indivíduos nos pátios de armazena-mento; nas juntas principais; entrevistas em grupo durante a cubicagem dos toros nas serrações; e nas áreas de concessões e licença simples. Foi também realizado um segundo questionário de inventário/amostragem aos operadores florestais dentro das serrações, concessões e nas licenças simples.

O questionário, está dividido em 6 grandes secções e pode ser encontrado na integra no anexo V, onde:

I. Na primeira secção, as questões são de carácter geral sobre a problemática florestal; II. A segunda secção, aborda questões de carácter específico sobre a exploração ilegal das florestas; III. A terceira secção, questiona sobre os aspectos relativos à fiscalização;

IV. Na quarta secção, as questões reflectem os aspectos específicos de direitos comunitários; V. Na quinta secção, são colocadas questões específicas sobre os regimes de exploração florestal; VI. A sexta e última secção aborda os aspectos de Integridade.

Para acomodar questões específicas de determinado grupo (comunidades, sector público, sector privado, ONG’s, etc) relacionado com o sector florestal foram feitas entrevistas adicionais com questões que não eram abordadas pelo questionário. As entrevistas foram feitas a pessoas chave, em certos sectores, departamentos e zonas, sobre problemas específicos ligados ao sector de flo-restas. Estas entrevistadas foram extremamente diversificadas e variaram em função do indivíduo, suas responsabilidades, seus conhecimentos, sector de intervenção etc.

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Delgado

19

Tanto o preenchimento do questionário como as entrevistas foram realizadas de forma

indivi-dual e em certas situações como no caso das comunidades, foi colectiva. Terminada a entrevista, o entrevistado teve a oportunidade de ler em voz alta todas as respostas por si dadas e fazer correc-ções onde julgasse conveniente. Somente após a sua aprovação se solicitou aos entrevistados que assinassem os questionários/apontamentos.

3.4. Principais infracções levantadas pela fiscalização

A confirmação de alegações de casos de práticas ilegais no sector florestal foi difícil de obter, daí que foram realizadas operações de “fiscalização relâmpago” a alguns operadores sediados na Ci-dade da Pemba. Para estas visitas contamos com o apoio de alguns funcionários comprometidos com a boa vontade de resolver os problemas existentes no sector florestal. De referir que esses funcionários provinham das diferentes Direcções Provinciais, tais como a Direcção Provincial do Trabalho, Direcção Provincial de Agricultura, Direcção Provincial da Saúde e Direcção Provincial de Migração, para além da Polícia de Pemba e da Justiça Ambiental.

Esta equipa multi-sectorial, na sua missão visitou as seguintes empresas: a Mofid, Senlian Inter-national, Tienhe, Wood Export, Mite e King Wood. As visitas tinham como objectivo verificar o cumprimento da legislação sobre florestas, as condições de trabalho dos trabalhadores, níveis sala-riais, higiene e segurança no trabalho, legalidade contractual, infracções cometidas pelas empresas e finalmente confrontar as especulações com a realidade observada.

Para que fosse possível realizar estas operações, Sua Excia. o Governador de Cabo Delgado, emitiu cartas para que a equipa fosse atendida em todos os sectores que julgássemos relevantes para o trabalho.

3. Metodologia

(21)

4. Resultados

Os resultados estão divididos em 5 categorias:

I. Dados Gerais (descrição dos operadores e análise de dados alfandegários);

II. Dados de Campo (caracterização dos toros provenientes das serrações, comparação entre espécies comerciais de acordo com os dados obtidos no campo, comparação entre áreas cor-tadas e áreas não corcor-tadas e análise biológica das florestas);

III. Entrevistas (principais questões apresentadas)

IV. Questionários (resumo das respostas do questionário);

V. Fiscalização (levantamento das infracções dos operadores visitados).

4.1. Dados Gerais

Dos 17 operadores que ofereceram informações e que permitiram que a nossa equipa analisasse as suas operações, só um fornecia ao mercado na-cional e todos tinham o mercado internana-cional como destino a principal das suas madeiras. As empresas com registos mais recentes mostraram uma tendência para compra e exportação de madeiras, especialmente no caso de companhias controladas por estrangeiros. Operadores só ligados à compra e exportação de madeiras representam o segundo maior grupo (24%, Grá-fico 1) e o grupo com maior influência estrangeira.

As dificuldades burocráticas na obtenção de concessões e/ou licenças simples, e os problemas operacionais de trabalhar em áreas remotas e pou-co desenvolvidas, torna a pou-componente de pou-corte na exploração mais difícil. Mesmo com as dificuldades burocráticas e operacionais existentes, a princi-pal forma de exploração é de operadores envolvidos no corte e exportação (40%, Gráfico 1) e 52% dos operadores estão envolvidos directamente no corte através de licenças simples e/ou concessões.

No total, 36% dos operadores processam madeira e os restantes 64% estão interessados em toros (Gráfico 1). As razões dadas por não estarem in-teressados em processamento de toros em Moçambique foi a falta de eficiên-cia (alguns dados das nossas visitas e entrevistas encontraram perdas de 30 a 60%) das serrações em Moçambique e falta de técnicas adequadas para certos métodos de processamento de madeira. Um outro factor muito importante no maior interesse em toros e uma das principais razões dadas pelos ope-radores envolvidos directamente na exportação de madeira foram as taxas alfandegárias na China, que são muito altas para a madeira processada. Formas de Exploração Preferidas pelos Operadores

40% 12% 6% 24% 18% Corte e Exportação em toros Corte, Processamento e Exportação Compra, Processamento e Venda local Compra e Exportação em Toros Compra, Processamento e Exportação Fotografia 3. Toros na ser-ração Tienhe em Pemba. Daniel Ribeiro

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Delgado

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Em termos de exportação, o principal destino das madeiras de Cabo Delgado é a República

Popu-lar da China. Os dados fornecidos pelas Alfândegas de Pemba (e confirmados pelos operadores) mostram que em 2006 foram exportados para a China 20,472.55 m3 de madeira (62.2% da madeira exportada). Infelizmente, os dados só estavam disponíveis nos primeiros 7 meses de 2007 e, na segunda parte de 2007 ainda não tinham sido entregues até à data de finalização deste relatório. Mesmo assim, nos primeiros 7 meses de 2007 foram exportados para a China 7.042,72 m3 de madeira (66.8% da madeira exportada). No total, de Janeiro de 2006 até Julho de 2007 foram ex-portados 43.468,72 m3 de madeira (32.925,39 m3 em 2006 e 10.542,63 m3 no primeiro semestre de 2007) (Gráfico 2).

Destino da Madeira no Periodo de Janeiro de 2006 a Julho de 2007

No entanto, importa referir que em 2007, nos meses de Março e Abril, houve uma grande quan-tidade de madeira de certas empresas, muito acima da média, que não foi incluída na análise e no gráfico. Estes dados não foram incluídos para que se pudesse verificar se havia erros nos dados fornecidos pelas Alfândegas de Pemba, estando este processo de verificação ainda em curso. Se os dados das Alfândegas de Pemba estiverem correctos, o volume de madeira exportado durante os primeiros 7 meses de 2007 sobe de 10.542,63m3 para 37.981,43m3, que é 5.056,04 m3 acima do total de 2006. Em Março a quantidade em questão foi 16.211,21m3, sendo a Alemanha o destino principal e em Abril a quantidade em questão foi 11.227,50 m3, tendo como destino principal África do Sul, o que tornaria a Europa o primeiro e África o segundo maiores destinos das madeiras de Cabo Delgado.

4.2. Trabalho de Campo

I) Pesquisa de toros nas serrações

A recolha de dados nas serrações observou por cada espécie: • 40 Toros de Afzelia quazensis (Chanfuta),

• 70 Toros de Dalbergia melanoxylon (Pau Preto), • 40 Toros de Milletia stuhlmannii (Jambirre),

Gráfico 2: Diferentes destinos da madeira proveniente da Província de Cabo Delgado, tendo em conta o Volume exportado no periodo de Janeiro de 2006 a Julho de 2007 (Dados facultados pelas Alfândegas de Pemba)

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 Jan

06. Fev06. Mar06. Abr06. Mai06. Jun06. Jul06. Ago06. Set06. Out06. Nov06. Dez06 Jan07. Fev07. Mar07. Abr07. Mai07. Jun07. Jul07.

Periodo V o lu m e d a M ad ei ra E xp o rt ad a (m 3) Outros Asia Europa China 4. Resultados

(23)

• 20 Toros de Pterescopsis angolensis (Muanga), • 60 Toros de Pterocarpus angolensis (Umbila) e • 20 Toros de Swartzia madagascarienses (Pau Ferro)

Os seus diâmetros variam de 17 a 54 cm para Pau-Preto, de 33 a 72 cm para Jambirre, de 33 a 84.75 cm para a Umbila, de 86 a 112 cm para a Chanfuta e 25.5 a 49 cm para Pau-Ferro e no geral os comprimentos dos toros das espécies em estudo variam de 124 a 601 cm.

De acordo com o gráfico abaixo (Gráfico 3), o maior volume de espécies comercializadas corresponde à Chanfuta seguida da Umbila e Jambirre. A Chanfuta apresenta o maior volume de exploração mas não corresponde à espécie com maior número de toros comercializados. Os fac-tores que elevam a madeira de Chanfuta como espécie com maior volume relativo são os valores elevados dos seus diâmetros. A Umbila destaca-se como a segunda espécie mais comercializada tanto em termos de volume como em número de toros observados.

Número de Toros e Volume por Espécie

De salientar, que apesar do número de toros de Pau-Preto ser elevado (70) comparativamente às restantes espécies, esta apresenta um baixo volume relativo, estando este factor associado ao baixo diâmetro apresentado por esta espécie em fase adulta. O corte é feito de acordo com o Re-gulamento da Lei de Florestas e Fauna Bravia, de 20 cm (R.L.F.F.B., Decreto 12/2002,-Tabela 2). Tabela 2. Diâmetro mínimo de corte por espécie e sua classificação.

Espécie Chanfuta Jambirre Muanga Pau-Ferro Pau- Preto Umbila Diâmetro mín (cm) 50 40 40 30 20 40 Classe 1 1a 1a 1a Preciosa 1a

Fonte: Regulamento de Florestas e Fauna Bravia (2002) e Diploma Ministerial no de 24 de Janeiro de 2007.

Os dados obtidos nas serrações foram agrupados (Gráfico 4), de modo a permitir a comparação com os valores exigidos pelo R.L.F.F.B. (2002) no que se refere ao diâmetro mínimo de corte (Ta-bela 2). Segundo a observação em campo pode-se concluir que em geral os operadores florestais exploram a madeira dentro dos padrões estipulados na legislação (mais de 70% dos toros observa-dos revelaram este aspecto em cada espécie).

Gráfico 3: Número de toros de madeira e volume por espécie na Província de Cabo Delgado 0 10 20 30 40 50 60 70 80

Chanfuta Jambire Muanga Pau Ferro Pau Preto Umbila

Nº de toros Volume (m3) Espécie Número de Toros / m 3

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Delgado

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Número de Toros por Espécie, de Acordo com o seu Diâmetro

No entanto, importa referir que esta análise carece de estudos adicionais pois as amostras, em relação a algumas espécies, são reduzidas e foram obtidas através de pedidos oficiais. Houve vários operadores que recusaram a entrada da entrada da Justiça Ambiental nas suas serrações e alguns aceitaram o pedido só alguns dias depois da data planeada. Por isso, é de esperar que a amostra em questão seja favorável em relação aos operadores que estão a trabalhar dentro da lei e que não têm preocupações de serem analisados (ver secção sobre infracções levantadas pela fiscalização).

II) Análise de Espécies comerciais

No campo foi possível analisar 44 árvores Afzelia quazensis (Chanfuta), 159 árvores Dalbergia melanoxylon (Pau-Preto), 222 árvores Milletia stuhlmannii (Jambirre), 8 árvores Terminalia sp. (Messinge), 283 árvores Pterocarpus angolensis (Umbila) e 3 árvores Swartzia madagascarienses (Pau Ferro), cujos DAP variam de:

• 5 a 49 cm para Pau-Preto, • 4 a 62 cm para Jambirre, • 4 a 70 cm para a Umbila, • 4 a 98 cm para a Chanfuta, • 4 a 37 cm para Pau-Ferro e • 13 a 39 cm para Messinge.

Número de Toros por Espécie, de Acordo com o seu Diâmetro

Gráfico 4: Análise do número de toros por espécie obtidos nas serrações, de acordo com o seu diâmetro

0 10 20 30 40 50 60

Chanfuta Jambirre Muanga Pau Ferro Pau Preto Umbila

Espécies Número de Toros 0 – 20 Diâmetro (cm) 20 - 40 > 40 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90

Chanfuta Jambirre Messinge Pau Ferro Pau Preto Umbila

Número de Toros 0- 10 Diâmetro (cm) 10.-20 20-30 30-40 40-50 > 50 Espécie 4. Resultados

(25)

Com base nos dados dos Gráficos 5 e 6, verificou-se que, através da análise de diâmetros a que pertencem, o maior número de amostras pertence no geral à classe de árvores em regeneração. Assim sendo, as áreas em estudo ocupadas pelas concessões florestais assim como pelas licenças simples deveriam estar em repouso de modo a permitir o crescimento saudável desta classe pois esta é a mais vulnerável.

Número de Árvores das Diferentes Espécies, de Acordo com o seu Diâmetro

Nas amostras de toros de madeira observadas no campo, não foi possível observar a espécie Muan-ga e o baixo número de árvores da espécie Messinge observado demonstra a fraca disponibilidade desta espécie. O cenário observado para a espécie de Messinge poderá estar a acontecer também em relação ao Pau -Ferro, pois, de acordo com os dados recolhidos nas serrações assim como no campo, há pouca quantidade disponível para o mercado. Estes factores aliados à fraca reflorestação faz com que o caminho destas espécies, e das restantes que neste momento estão no auge de ex-ploração, seja a extinção, se medidas sérias de reflorestação não forem levadas em consideração.

O valor estimado da altura das árvores foi baixo, dado que é associado ao estado das áreas actualmente em exploração e ao facto de grande parte destas se encontram em estado de regene-ração e ainda não possuírem altura comercial. Apesar deste constrangimento, foi possível observar 2 árvores de Chanfuta com altura de 5 e 6 m, 13 árvores de Jambirre com alturas que variaram de 3 a 8 m, 10 árvores de Pau-Preto com alturas de 2.3 a 3 m e 27 árvores de Umbila com alturas de 1.8 a 7.5 m.

III) Comparação entre áreas exploradas e áreas não exploradas

Só foi possível fazer uma análise de comparação entre áreas exploradas (cortadas) e áreas não exploradas (não cortadas) para uma concessão no Distrito de Mueda. As razões foram a falta de dados das outras concessões devido à falta de tempo, extrema dificuldade em chegar a áreas não exploradas, número reduzido de áreas não exploradas, falta de colaboração dos operadores, acesso a olheiros, ter um carro a menos que planeado e problemas mecânicos no único carro que sobrou (exemplo três pneus rasgados).

O operador da concessão analisada começou a explorar o limite Norte da concessão, espalhan-do as suas operações de Norte a Sul. Durante o períoespalhan-do que a nossa equipe analisou a concessão o operador já tinha explorado quase 40% da área concessionada, formando uma divisão entre a zona explorada (cortada) no Norte da concessão e a zona não explorada (não cortada) no Sul da Gráfico 6: Análise do número de árvores das diferentes espécies encontradas durante o trabalho de campo,

de acordo com o seu diâmetro 0 10 20 30 40 50 60 0 - 5 5 - 10. 10. 15 15.-20 20.-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-55 55-60 60-65 65-70 95-100 Número de A rv or es Chanfuta Espécie Jambirre Messinge Pau Ferro Pau Preto Umbila Diâmetro (cm)

(26)

Delgado

25

da concessão não ter sido extensivamente explorada pelo presente operador da concessão, a área

em geral já havia sido explorada, no passado, por operadores de licença simples e por operadores ilegais e, por isso, não pode ser considerada uma floresta virgem. Os olheiros confirmaram a exis-tência de problemas de corte ilegal dentro da concessão por outros operadores e mostraram uma área com Umbila na zona Sul da concessão que foi explorada por operadores ilegais. Constatou-se a existência de troncos de árvores cortados e várias árvores marcadas, provavelmente por corta-dores ilegais.

Da análise visual verifica-se que nas zonas não exploradas (Sul) encontram-se árvores de grande porte e de espécies comercialmente valiosas como Umbila, Pau- Preto e Jambirre. As técnicas/ métodos utilizados confirmaram essa observação após os métodos de trajectos com análise em parcelas circulares de 20 metros baseados em manchas de alta densidade (Gráfico 7 – Não explo-rado- A) e de trajectos com análise em parcelas circulares de 20 metros a cada 500m fixos (Grá-fico 7- Não explorado-B). Em ambos se constatou a dominância de Umbila, Jambirre e Pau- Preto (Gráfico 7) entre as espécies comerciais. Também foram identificadas pequenas quantidades de Chanfuta e muito pouco Pau-Ferro. Como previsto, o método baseado em parcelas de manchas de alta densidade (Não explorado-A) resultou num maior número de árvores que o método de parcelas de 500 m fixo (Não explorado-A), no entanto a diferença foi mais pequena do que entre áreas exploradas e áreas não exploradas (Gráfico 7).

Em contraste, na zona explorada (Norte) as poucas árvores de valor comercial observadas são de pequeno porte, abaixo do diâmetro legal, sendo raro encontrar árvores com diâmetro acima de 40 cm. Esta observação foi confirmada pelo encarregado das operações na concessão. Perante a questão “Qual a diferença entre as áreas exploradas e as áreas não exploradas?” a resposta foi: “Nas áreas cortadas (exploradas) não se encontra nenhuma árvore com Diâmetro à Altura do Peito (DAP) acima de 50 cm”. Os trajectos com análise de parcelas mostram uma clara diferença entre áreas não exploradas e áreas exploradas, tendo as áreas exploradas um número muito redu-zido de árvores de valor comercial (Gráfico 7).

Número de árvores por espécie, em áreas exploradas e áreas não exploradas

Devido à falta de manchas de alta densidade de espécies comercias para as zonas exploradas só foi incluído o método de trajectos com análise em parcelas circulares de 20 m a cada 500 m fixos. Nas zonas não exploradas (Gráfico 7., barras verdes) foi possível usar os dois métodos de trajectos com análise em parcelas circulares de 20 m baseadas em manchas de alta densidade (não explorado A) e de trajectos com análise em parcelas circulares de 20 m a cada 500 m fixos (não explorado B).

Gráfico 7: Análise comparativa entre o número de árvores por espécie, em áreas exploradas e áreas não exploradas com diferentes métodos de amostragem

0 50 100 150 200 250

Chanfuta Jambire Pau ferro Pau preto Umbila

Espécies Número d e ar vo re s Exploradas

Área Não explorada (A) utilizando o método de trajectos com análise de parcelas circulares de 20 metros baseados em manchas de alta densidade Área Não explorada (B) utilizando o método de trajectos com análise em parcelas circulares de 20 metros a cada 500m fixos)

(27)

No entanto é importante notar que os resultados são de uma concessão e é necessário analisar mais concessões na Província antes de se poder chegar a uma conclusão de confiança e que reflic-ta a realidade. Um outro aspecto imporreflic-tante a mencionar é o período de cinco anos de roreflic-tação implementada pelo encarregado das operações na concessão. Em teoria, o período de rotação deveria ser o suficiente para permitir a regeneração das zonas exploradas e se o período de ro-tação estiver correcto, os resultados encontrados na concessão poderão ser menos graves que originalmente mencionados. No entanto, devido ao lento crescimento das espécies exploradas e ao elevado grau de exploração, é muito provável que o período de rotação seja abaixo do ideal e que a situação se agrave na segunda fase de exploração.

IV) Indicadores Ecológicos

Com base nas observações de campo, que incluíram cerca de 500 km em viagem de carro pelas florestas e concessões florestais e mais de 40 km de caminhadas, com mais de 70 parcelas analisa-das, verificou-se vastos danos na área florestal, o que levou a uma grande preocupação em relação à sustentabilidade das florestas na Província de Cabo Delgado. A interacção entre o corte ilegal e o corte insustentável, combinado com os fogos excessivos, põem em perigo a sustentabilidade e a existência de ecossistemas florestais da Província.

No caso específico de fogos, muitos ecossistemas florestais dependem destes para germi-nação, nutrição dos solos e sucessão natural, sendo ainda necessários para a manutenção da biodiversidade de forma equilibrada. Num sistema natural, os fogos costumam ocorrer em certas zonas criando um mosaico de diferentes composições de vegetação dentro do ecossistema flo-restal, em que as zonas mais frequentemente queimadas apresentam uma vegetação menos den-sa dominada por um crescimento rápido de espécies seleccionadas R, enquanto que as manchas menos queimadas apresentam vegetação mais densa e/ou dominada por espécies de crescimento lento, mais resistente de selecção K.

A ocorrência de fogos depende no tipo de vegetação/ecossistema em questão. Cada vegetação/ ecossistema tem um período rotativo específico e ideal para a ocorrência de fogos, e desta forma estes são muito importantes para assegurar a sustentabilidade do ecossistema em questão.

A Província de Cabo Delgado é dominada por florestas de Miombo e estas florestas não pos-suem uma elevada dependência da ocorrência de fogos. A existência de árvores grandes que so-brevivem aos fogos, mantém a cobertura florestal necessária para manutenção saudável do ecossis-tema e um forte fornecimento de sementes que permite uma certa resistência contra os impactos negativos dos fogos. Num sistema natural sem influência humana, os fogos normalmente começam devido aos relâmpagos, no início da estação chuvosa. A vegetação verde e a humidade das chuvas previnem maiores alastramentos do fogo e permitem, em certas zonas, um período de rotação mais longo. Com base nas lentas taxas de crescimento da vegetação na floresta de Miombo, um período de rotação de fogos de 10 anos ou mais seria o ideal. No entanto, observa-se que um período de rotação de fogos mais pequeno, com cerca de 5 anos e, com algumas zonas com perí-odos de rotação de fogos mais curtos, pode também ser sustentável, desde que existam árvores maiores e maduras.

A influência humana mudou o período de rotação e de ocorrência e a intensidade dos fogos. Em Cabo Delgado, o incêndio de grandes áreas de floresta tornou-se uma prática tradicional para a caça, agricultura, obtenção de carvão, limpeza de terra e outras razões menos comuns, como para diminuir os conflitos entre homem e animal. Isto ocorre anualmente e com uma frequência de rotação de fogos muito maior que as rotações naturais, provocando enormes impactos nas taxas de recrutamento e sobrevivência das sementes e plantas jovens. As plantas jovens necessitam de tempo para crescer, actualmente só têm um ano ou dois para crescer e passar à fase perigosa em

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Delgado

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que estão mais sujeitas aos fogos. O crescimento

lento da floresta de Miombo faz com que estas plan-tas sejam incapazes de chegar a um tamanho seguro e, geralmente, não sobrevivem à frequente rotação de fogos que ocorre em Cabo Delgado.

O período onde actualmente ocorrem os fogos também é desfavorável, dado que as comunidades, geralmente, utilizam a prática das queimadas no fim da estação seca (entre Agosto e Outubro, com o pico em Setembro). Durante esta época, a vegetação está seca e há um nível elevado de biomassa seca para combustão. Estas condições dificultam o controle dos fogos permitindo o seu alastramento, deixando vastas áreas de terra queimada.

O corte de madeira e as suas actividades associadas (como o uso de fogo para a limpeza das vias de acesso e para aumentar a visibilidade dos olheiros na procura das espécies comerciais) também têm contribuído para aumentar a problemática dos fogos. Por seu turno a remoção excessiva de árvores de grande porte têm vindo a diminuir a camada protectora (áreas de sombra) e a aumentar a área aberta e menos densa. Consequentemente, o aumento de luz tem levado a um aumento da biomassa das espécies rasas e provavelmente à diminuição das espécies florestais como as madei-ras preciosas, dado que o excesso de luz tem um efeito negativo no crescimento de sementes e crescimento de grande parte das espécies florestais, especialmente as árvores (Lindquist & Carroll 2000). O aumento da intensidade luminosa também provoca a redução da humidade nos solos assim como aumento da temperatura dos solos e provoca ainda o aumento de espécies rasas como espécies de capinzal (Figura 3/ fotografia), que por aumentarem os níveis de biomassa seca combustível, aumentam consequentemente a probabilidade, propagação e intensidade dos fogos, diminuindo assim as taxas de sobrevivência de sementes e plantas juvenis.

Fotografia 4. Floresta queimada no distrito de Nangade. Caixa 1

O uso de queimadas salvo nos casos expressamente referidos no presente regulamento não é permitido sob pena de responsabilidade civil, administrativa e criminal- artigo 106 n˚1 do decreto 12/2002. Também nos termos do artigo 40 da Lei 10/99 é condenado a pena de prisão até um ano e multa correspondente, aquele que, voluntariamente, puser fogo e por este meio destruir em todo ou em parte seara, floresta, mata ou arvoreado.

4. Resultados Figura 5: Fotografias que ilustram a grande quantidade de biomassa das espécies rasas. Na fotografia “A” estão presentes 4 pessoas mas, devido a altura das espécies capinzal só é possível observar o chapéu cor de laranja de um dos olheiros. A foto grafia“B” foi tirada de uma zona menos densa, mas mesmo assim é difí-cil ver a equipa toda.

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Apesar de o aumento de número de fogos anuais ter trazido um ligeiro aumento na taxa de nutrientes do solo, este não acarreta grandes vantagens para as madeiras preciosas de crescimento lento, que por necessitarem de níveis estáveis de nutrientes, não possuem capacidade de se beneficiar deste aumento repentino de nutrientes no solo. As espécies que se beneficiam deste aumento são as de crescimento rápido, como os capinzais. Ou seja, o aumento da quantidade de luz associado ao aumento temporário de fertilidade cria uma vantagem de crescimento para as espécies R de cresci-mento rápido em detricresci-mento das espécies K de crescicresci-mento lento, como as madeiras preciosas. O aumento da competição entre espécies arbóreas florestais com espécies arbustivas e rasteiras e árvo-res de menor valor comercial leva a grandes impactos no desenvolvimento das floárvo-restas (Brain 1979, Duddles & Cloughesy 2002, Gray & McDonald 1989), pois estas espécies oportunistas conseguem aproveitar o aumento repentino de nutrientes, sendo mais resistentes quando a humidade do solo é baixa, competindo com as espécies preciosas quando os níveis de nutrientes do solo são baixos.

Esta competição entre as diferentes espécies tem mostrado ser um grande retardatário no re-estabelecimento e crescimento das florestas, levando a que os operadores em certas plantações florestais em alguns locais do mundo, tenham tomado como medida de gestão um controle manual ou químico das espécies rasteiras, para manter o crescimento sustentável das árvores de corte (Duddles & Cloughesy 2002). Esta medida é chamada de “plantation release” e leva a um aumento notável na taxa de crescimento das árvores. O impacto desta competição mostrou-se grave no po-tencial madeireiro e tem vindo a promover diversos estudos sobre a possibilidade de implementar este mecanismo de gestão em florestas naturais que possam ter sido danificadas ou alteradas pelo fogo (Duddles & Cloughesy 2002).

O corte de madeiras de grande porte também possui grandes impactos no banco de sementes das florestas, dado que estas espécies possuem grande quantidade de sementes como estratégia de sobrevivência – quanto maior o número de sementes maior a probabilidade destas encontrarem locais com espaço e condições apropriadas para o seu crescimento. É também importante levar em consideração a influência dessas espécies em criar as condições abióticas e bióticas necessárias para promover o crescimento das suas próprias sementes. Vários estudos têm vindo a demonstrar que as árvores de grande porte que contribuem para a criação de sombra das zonas florestais são as principais contribuintes na composição abiótica dos solos e na relação mutualística entre sementes/ raizes e micorrizas, crucial na fixação de Nitrogénio (Dickie et al 2005). Nas florestas de Miom-bo, a remoção de árvores de grande porte pode alterar grandemente as condições do solo para as sementes, levando a uma redução na vantagem competitiva das espécies de madeira preciosa. Como acima referido, algumas espécies de árvores levam vantagens competitivas ao crescer com pouca luz sobre as sombras de árvores maiores (Gómez-Aparicio et al 2005); esta sombra permite também uma temperatura mais agradável e ajuda a manter os níveis de humidade no solo. Para além disso, as árvores de grande porte contribuem com grandes quantidades de matéria orgânica (folhas secas) no solo. Algumas espécies possuem grande influência nos níveis de carbono, nitratos, fósforo e potássio orgânico nos solos (Bargali et al 1993).

No geral, a presença de algumas árvores adultas de certas espécies em locais estratégicos leva a um aumento de zonas com abundância desta e de outras espécies. Este aumento de abundância pode não ser explicado somente pelo banco de sementes, mas também poderá ser atribuído as condições abióticas e bióticas criadas por estas árvores (temperatura, condições de solo). Estas manchas de vegetação têm vindo a ser usadas para a identificação de qualidade de solo ideais para o aumento da taxa de reflorestação de espécies semelhantes. Estudos confirmam que para certas espécies, uma das condições necessárias para o crescimento é a presença de árvores adultas (Ro-oney & Walter, 1989) o que implica que a perda de árvores adultas leva à mudança das condições ideais e a um decréscimo nas taxas de sucesso e de crescimento das sementes.

Assim sendo, acredita-se que independentemente da capacidade da espécie de alterar, enquan-to na sua fase adulta, as condições do solo por forma a favorecer o crescimenenquan-to das suas sementes,

Referências

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