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Divulgação Voluntária de Informações de Natureza Social: um estudo nas empresas brasileiras

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Divulgação Voluntária de Informações de Natureza Social: um estudo nas empresas brasileiras

Autoria: Jacqueline Veneroso Alves da Cunha, Maisa de Souza Ribeiro Resumo

A teoria diz que as decisões de divulgar, ou não, são endógenas e explicadas por determinadas características da própria companhia, tais como, porte, desempenho, práticas de governança corporativa, contribuindo para a redução do custo de capital. Por um outro lado, existem evidências teóricas de que as empresas se limitam às exigências de divulgação legais e regulamentares alegando proteção às informações estratégicas, custos de litígio e custos políticos. Esse artigo investiga os incentivos das companhias negociadas no mercado de capitais brasileiro para divulgar voluntariamente informações de natureza social. A pesquisa compreendeu o exame dos dados de 192 empresas listadas na Bovespa no ano de 2003 e 194 empresas no ano de 2004. Com base nos dados pesquisados a conclusão a que se chega é que a divulgação voluntária de informações de natureza social está associada positivamente ao nível de governança corporativa e à divulgação em período anterior e negativamente ao tamanho. As associações com as variáveis desempenho e grau de endividamento não foram conclusivas por demonstrarem associações distintas nos dois períodos analisados. As evidências encontradas apresentam-se alicerçadas na teoria, reforçando os resultados de outras pesquisas realizadas.

1. Introdução

A divulgação de informações pela contabilidade merece especial atenção na discussão corporativa, pois se constitui numa das formas mais importantes de que os gestores dispõem para comunicar-se com os investidores e o mercado em geral.

Nesse sentido, a informação contábil desempenha um papel fundamental na administração do conflito de interesses e na redução da assimetria informacional existente entre gestores e investidores. Bushman e Smith (2003, p. 72) enfatizam que a divulgação é de cunho essencial para avaliar as oportunidades de investimentos em uma economia em seu papel de auxiliar os investidores a alocarem os seus recursos da forma mais eficiente dentre as diversas opções que o mercado oferece. Sob essa premissa, a divulgação se constitui numa ferramenta importante para que uma empresa se diferencie das demais na forma de apresentar seu desempenho, suas estratégias e diferenciais competitivos.

Portanto, analisar os incentivos das empresas para divulgação voluntária de informações financeiras é um assunto de considerável interesse para a pesquisa contábil. Embora muitas divulgações financeiras sejam obrigatórias, é importante entender os incentivos para fornecer informação na ausência de regulamentação.

Em virtude do balanço social não ter sua divulgação obrigatória no Brasil, é escolha da administração divulgá-lo ou não, considerando-se os custos e benefícios advindos dessa publicação.

Sendo assim, esse trabalho é norteado pelo seguinte questionamento: que motivos

levariam as companhias negociadas no mercado de capitais brasileiro a divulgar voluntariamente informações de natureza social?

É objetivo desse estudo encontrar evidências que permitam explicar os motivos que levam as empresas do mercado de capitais brasileiro a divulgar voluntariamente informações de natureza social.

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Sob esta perspectiva, a presente pesquisa se justifica, dada a importância atribuída ao tema divulgação e sua pouca exploração como fundamentação teórica para explicação no mercado brasileiro.

Healy e Palepu (2001, p. 412) afirmam que o estudo relacionado ao nível de divulgação nas empresas é um campo relativamente bem desenvolvido no exterior. No Brasil a pesquisa é escassa, principalmente nos estudos utilizando a Teoria da Divulgação Voluntária como fundamentação teórica e que relacionam a divulgação voluntária a outras variáveis.

Por outro lado, a discussão a respeito de informações de natureza social, principalmente no contexto brasileiro onde não é obrigatório, tem tomado grandes proporções, com recomendações de divulgação inclusive pela CVM – Comissão de Valores Mobiliários.

2. Referencial teórico

2.1 Informações de natureza social

A contabilidade presta a seus principais usuários, aí incluídos sócios, acionistas, financiadores em geral, empregados, administradores e governo, informações econômico-financeiras, por meio das demonstrações tradicionais (como Balanço Patrimonial, Demonstração do Resultado do Exercício, etc.). O surgimento de movimentos sociais na França, Alemanha, Inglaterra, e ainda a aventura norte-americana na guerra do Vietnã, na década de 1960, durante a administração Nixon, provocaram o repúdio da população e deram início a um movimento de boicote à aquisição dos produtos e ações daquelas empresas que se encontravam envolvidas com o conflito armado. A partir daí começou a ser requerida das empresas, uma maior responsabilidade social, e a divulgação de informações sócio-econômicas juntamente com seus relatórios contábeis (DE LUCA, 1998, p.23-24). Entretanto, segundo Tinoco (1997, p.5) o surgimento da noção de responsabilidade social se deu nos EUA, já na década de 1930.

Ao prestar contas de suas ações, as empresas visavam principalmente melhorar sua imagem perante consumidores e investidores, fato que as levou a concluir que apenas produzirem a preço justo e qualidade adequada não seria mais a única justificativa de sua existência perante a opinião pública.

Ao conjunto de informações que tem como principal objetivo mostrar em que grau se encontra o envolvimento das empresas em relação à sociedade e comunidade que a acolheram, dá-se o nome de balanço social. Esse aspecto é ressaltado por Ribeiro e Lisboa (1999, p.1):

O Balanço Social é um instrumento de informação da empresa para a sociedade, por meio do qual a justificativa para sua existência deve ser explicitada. Em síntese, esta justificativa deve provar que o seu custo-benefício é positivo, porque agrega valor à economia e à sociedade, porque respeita os direitos humanos de seus colaboradores e, ainda, porque desenvolve todo o seu processo operacional sem agredir o meio ambiente.

O Balanço Social possui pelo menos quatro vertentes (MARTINS, 1999, p.12), que são: a de Recursos Humanos, a Ambiental, a das Relações com a sociedade e a do Valor Adicionado. Conforme Ribeiro e Lisboa (1999, p.14), “Estas vertentes podem ser tratadas isoladamente, como também em conjunto”.

O Balanço Social da França merece destaque, por se tratar do primeiro país no mundo a torná-lo obrigatório, conforme determinações da Lei 77.769 de 12 de junho de 1977.

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Na maioria dos países do mundo onde se encontra a figura do Balanço Social, sua elaboração e publicação são voluntárias, mas na França, Portugal e Bélgica, por exemplo, ele é obrigatório.

A Holanda foi o primeiro país do mundo a ter publicados seus “social jarverslag” – relatórios sociais. Na Alemanha, a identificação do social à ecologia e às condições de trabalho faz parte de relatórios sociais. Na Grã-Bretanha, várias empresas fornecem informações mais amplas aos seus usuários, dentre eles os empregados, não existindo um balanço para acionistas e outro para o pessoal. Estão reunidos, num mesmo documento, indicadores para julgamento tanto da situação econômica quanto dos dados sociais. Também na Espanha o balanço social é voluntário, sendo elaborado pelas empresas que julgam que devem ser transparentes. No entanto, especificamente, na área ambiental, importantes mudanças ocorreram na Espanha, em 2002, dado que foi introduzido a obrigatoriedade de fornecimento de informação ambiental. Foi por meio da Resolução nº 6.389 de 25 de março de 2002 que o Instituto de Contabilidade e Auditoria de Contas – ICAC aprovou as normas para o reconhecimento, avaliação e informação dos aspectos ambientais das contas anuais. No Chile, a difusão da idéia de gestão social e de balanço social se iniciou na década de 70, a partir da iniciativa de um grupo de empresários. (TINOCO, 1984, p.96 e 98, MENDES et al., 1978, p.77).

Enquanto nos EUA o enfoque dos “social audits” – relatórios econômico sociais – é o ambiente externo, como a satisfação dos consumidores/clientes, o controle da poluição, o acompanhamento da contribuição da empresa aos programas culturais, transportes coletivos e outros benefícios à coletividade, na Suécia a ênfase são as informações aos empregados (DE LUCA, 1998, p.25). Nos dois países a demonstração não é obrigatória.

Já na Bélgica e em Portugal o balanço social é obrigatório, conforme Freire e Rebouças (2001, p.79-80,95).

No Japão as empresas são obrigadas a fornecer informações ambientais no corpo de suas demonstrações contábeis.

No Brasil, as discussões sobre comportamento ético e responsabilidade social das empresas, tiveram início na década de 1960, com a criação da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas – ADCE, de acordo com Sucupira (2001, p.125).

Ressalvada a obrigatoriedade da RAIS, o primeiro relatório de cunho social de uma empresa brasileira, publicado de forma totalmente voluntária, foi o da Nitrofértil, em 1984, destaca Torres (2001, p.20). Também, em meados da década de 80, foi publicado o relatório de atividades sociais do sistema Telebrás. Já no ano de 1992, o Banco do Estado de São Paulo (Banespa), produziu um relatório completo, denominado Balanço Social do Banespa, que foi publicado no início de 1993.

A partir de 1993, empresas de diversos setores passaram a divulgar, de forma mais recorrente, relatórios com um perfil mais social e humano, tornando os balanços sociais uma realidade para um número cada vez maior de empresas. Diversas organizações começaram a trabalhar ostensivamente com o tema, realizando seminários, palestras e cursos sobre ética, responsabilidade social e ambiental, e, principalmente, balanço social. O Departamento de Contabilidade e Atuária, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, é um dos que têm estimulado estudos orientados para a área social, desde os anos 1980.

De 1997 a 1998, alguns projetos sobre balanço social e responsabilidade social e ambiental das empresas foram apresentados em vários municípios brasileiros: Santo André (SP), Porto Alegre (RS), Santos (SP), João Pessoa (PB), Uberlândia (MG) e São Paulo (SP).

Não existe, ainda, consenso quanto à forma da apresentação do balanço social: se livre ou padronizado, se obrigatório ou voluntário, ou sobre quais informações, especificamente,

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ele deveria evidenciar. Algumas empresas, que vêm apresentando seus balanços sociais, o fazem no modelo do Ibase ou similar, com pequenas variações.

A posição de Martins (1998, p.3), é de que “as empresas, o mercado e a comunidade devem definir a evolução e o amadurecimento desta forma de comunicação sem imposições legais e sem engessar este balanço com um padrão que, não necessariamente, é o mais adequado para todas as empresas”.

Posição contrária é defendida por Sucupira (2001, p.127):

...se a forma de apresentação de informações for inteiramente livre, como tem sido a prática, torna-se difícil uma avaliação adequada da função social da empresa, já que ela tende a informar apenas o que lhe parece conveniente, geralmente, sem dimensionar valores de gastos. Dessa forma, o balanço social confunde-se com uma mera peça de marketing.

Objetivando a facilidade de comparação obtida com a padronização, o Ibase, em parceria com técnicos, pesquisadores e diversos representantes de instituições públicas e privadas, concebeu e concluiu, no primeiro semestre de 1997, um modelo de balanço social.

O balanço social ainda é um instrumento pouco utilizado pelas empresas brasileiras, embora a quantidade de publicações cresça a cada ano, de acordo com dados do próprio Ibase. Todas, exceção do setor energético, o divulgam de forma voluntária. Os motivos são vários. De acordo com Torres (2001, p.22), pode-se dizer que se trata de uma conjunção de interesse, vontade e necessidade do meio empresarial.

2.2 Teoria da Divulgação

A Teoria da Divulgação é uma linha de pesquisa que tem por objetivo explicar o fenômeno da divulgação de informações financeiras. Desde os anos 80 surgem estudos sobre esse tema (VERRECCHIA, 1983; DYE, 1985).

Em 2001, atendendo a uma necessidade nascida do desenvolvimento das pesquisas sobre divulgação, Verrecchia publica um trabalho no Journal of Accounting and Economics – JAE, onde descreve analiticamente os modelos matemáticos desenvolvidos pela teoria dentro de três categorias em que ele divide as pesquisas sobre divulgação: (i) divulgação baseada em associação, que investiga as relações entre a divulgação e as alterações nas ações dos investidores; (ii) divulgação baseada em julgamento, que investiga como os administradores e/ou empresas exercem a escolha entre divulgar ou não uma informação da qual eles tenham conhecimento; e, divulgação baseada em eficiência, que investiga qual conjunto de divulgação é preferido na ausência de conhecimento anterior da informação.

O escopo deste trabalho se encaixa na segunda das categorias propostas por Verrecchia (2001), divulgação baseada em julgamento.

Nesse tipo de divulgação as pesquisas assumem como premissas que as empresas podem optar entre divulgar ou não uma informação que seja do seu conhecimento, divulgação voluntária, e que as decisões de divulgar, ou não, não seriam exógenas, mas sim explicadas por determinadas características da própria companhia, tais como, porte, desempenho, prática de governança corporativa, dentre outros. Então, qual seria o conjunto de circunstâncias que levariam um administrador a divulgar ou manter essa informação?

Para Dye (2001, p 184), existe uma teoria de divulgação voluntária que seria um caso especial da teoria dos jogos com a premissa de que a entidade irá divulgar informação que seja favorável a ela e não a divulgará se ela for desfavorável. A teoria dos jogos é uma análise matemática de situações que envolvam interesses em conflito a fim de indicar as melhores opções de atuação para que seja atingido o objetivo desejado.

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Considerando o aspecto da existência de uma teoria, Verrecchia (2001, p. 98) discorda de Dye, afirmando que não há uma teoria abrangente e unificada de divulgação (no sentido de conjunto de princípios que rege uma ciência), ou, pelo menos, uma que ele se sinta confortável em identificar como tal.

A pesquisa de divulgação baseada em julgamento fundamenta-se no conceito de seleção adversa, cuja condição é a existência de assimetria informacional. Empresas com perspectivas financeiras positivas tem um incentivo maior para divulgar essas perspectivas, e outras informações, detalhadamente, pois acreditam que os custos relacionados a essas informações são compensados pelos benefícios. A não divulgação levaria o mercado a interpretar as perspectivas como ruins. Se por outro lado as perspectivas forem ruins, não adianta incorrer em custos para divulgar tal informação. Sua ausência já induz o mercado a interpretar a dificuldade da empresa.

Quando surge a questão sobre o quanto divulgar, Dantas et al (2004, p. 3) esclarecem que deve haver um equilíbrio entre o custo e o benefício de divulgar a informação. Os custos nunca devem exceder aos benefícios decorrentes da divulgação. Como o mercado interpreta a ausência de divulgação como desfavorável, se não existem custos de divulgação a empresa é incentivada a divulgar todas as informações (full disclosure).

2.3 Estudos empíricos sobre teoria da divulgação voluntária

Uma das pesquisas pioneiras sobre o impacto das características da empresa no nível de divulgação foi o de Singhvi e Desai (1971), que desenvolveram uma análise nos relatórios de empresas norte-americanas nos anos de 1965 e 1966. Os autores criaram um índice de disclosure com informações financeiras e não-financeiras relativas ao passado, presente e futuro da companhia (variável dependente) e utilizaram como variáveis independentes o total dos ativos, número de acionistas, posição na listagem, empresa de auditoria, margem de lucro e taxa de retorno. O resultado da regressão indicou que apenas a posição na listagem e a margem líquida foram estatisticamente significantes.

Chow e Wong-Boren (1987) examinaram a extensão da divulgação voluntária de empresas mexicanas em relação ao porte da companhia, grau de endividamento e proporção de ativos fixos com base em uma regressão múltipla. O resultado obtido foi que a extensão do disclosure é positivamente relacionada com o porte da companhia, mas não com o endividamento e ativos fixos.

Em 1992, Lang e Lundholm utilizaram uma amostra de 30 empresas do mercado americano para examinar as determinantes do nível de divulgação voluntária de 1985 a 1989. Fixaram três escores de divulgação usados na avaliação da divulgação de informações sobre relações com investidores e aquelas advindas do relatório anual e outras publicações. As hipóteses utilizando a teoria da divulgação voluntária confirmaram que os níveis de divulgação voluntária são maiores em empresas com melhor desempenho e que atuam no mercado de emissão de títulos.

Raffournier (1995) também examinou a extensão da divulgação voluntária em relação ao porte, endividamento, lucratividade, estrutura de propriedade, porte da auditoria, grau de internacionalização, percentual de ativos fixos e setor em empresas suíças. O principal resultado foi que o porte e o grau de internacionalização foram variáveis relevantes para explicar a diferença entre o nível de transparência das empresas.

Leuz (2000) examinou os incentivos que as empresas alemãs obtiveram em divulgar a Demonstração de Fluxo de Caixa (DFC) voluntariamente até o ano de 1998 (após esse ano tornou-se obrigatória). A amostra constou de 103 empresas não financeiras. Os resultados obtidos foram consistentes com a hipótese estabelecida de que os benefícios (ou pressões) do mercado de capitais é que determinam a divulgação voluntária da DFC.

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Labelle (2002) utilizou uma amostra de 157 empresas canadenses no ano de 1996 e 126 no ano de 1997 para tratar da divulgação de informações relativas à práticas de governança corporativa. Não foram encontradas relações significativas entre a qualidade da divulgação de práticas de governança corporativa e o desempenho da firma e outras variáveis utilizadas, exceto algumas, como por exemplo, o tamanho da firma.

Também em 2002, Patel, Balic e Bwakira avaliaram a diferença entre o nível de disclosure entre 19 países emergentes ao longo de 3 anos em 354 empresas. A principal conclusão foi que países asiáticos e a África do Sul apresentaram maior transparência do que os países latino-americanos e que a diferença era crescente ao longo do período analisado.

No âmbito brasileiro merece destaque o trabalho de Salotti (2005). O objetivo do estudo foi estabelecer os motivos da divulgação voluntária da DFC pelas empresas do mercado de capitais brasileiro de 2000 a 2004. Foram encontradas evidências de correlações positivas entre a divulgação voluntária e a divulgação passada, com a importância dada à percepção dos usuários externos, com o desempenho da empresa e participação em programas de ADR; e, correlações negativas com os custos de divulgação e a assimetria informacional.

Cabe ressaltar que não foi encontrado um estudo fornecendo evidências empíricas sobre as razões que levariam as empresas a publicarem informações de natureza social. Yamamoto (2005) comprovou que o estímulo das empresas para divulgação de informações voluntárias no mercado de capitais brasileiro é decorrente da qualidade da divulgação. A divulgação do balanço social foi uma das proxies utilizadas pela autora para qualidade da informação. Seu estudo envolveu 88 empresas do mercado de capitais brasileiro em 2003 e 90 em 2004.

3. Desenvolvimento de hipóteses e modelo empregado

Baseado na teoria apresentada foram utilizadas as seguintes variáveis independentes para testar as características da empresa que afetam seus incentivos para divulgação voluntária de informações de natureza social (DIV): desempenho da empresa (DES), práticas de governança corporativa (GOV), nível passado de divulgação (NPDIV) e índice de endividamento (END). Além dessas, foi acrescida ao modelo uma variável de controle representada pelo tamanho da empresa (TAM).

Em função da variável dependente (DIV) ser dicotômica, um grupo de empresas publica informações de natureza social e outro não, a ferramenta estatística multivariada regressão logística foi empregada. Para testar as características da empresa que influenciam a publicação voluntária das informações de natureza social será adotado o modelo representado pela equação a seguir:

) ( 1 1 ) ( g x e DIV P + = em que, TAM y END NPDIV GOV DES x g( )=γ01234 + 5

As hipóteses a serem testadas são:

H0: Empresas com melhor desempenho tendem a divulgação voluntária de informações de natureza social.

H1: Empresas com bons níveis de governança corporativa tendem a divulgação voluntária de informações de natureza social.

H2: Empresas que divulgaram de informações de natureza social voluntariamente em período anterior tendem a fazê-lo novamente.

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H3: Empresas com baixo nível de endividamento tendem a divulgação voluntária de informações de natureza social.

3.1 Variáveis e proxies utilizadas

Divulgação de informações de natureza social

Para representar a presença ou ausência da divulgação voluntária de informações de natureza social foi utilizada uma variável dicotômica com valor = 0 (zero) caso a empresa não divulgue e valor = 1 (um) na presença de divulgação.

Desempenho da empresa

A literatura apresenta a hipótese de que o desempenho da empresa tende a influenciar seu grau de divulgação. De acordo com a teoria as ocorrências de divulgação voluntária e seu desempenho são positivamente associados. Entretanto, Lang e Lundholm (1993, p. 248) argumentam que a direção dessa associação não é muito clara. Por exemplo, uma empresa com desempenho pouco satisfatório pode oferecer informações adicionais para melhorar a qualidade de sua divulgação e impressionar melhor o mercado. O trabalho de Warsame et al. (1998) citado por Labelle (2002, p. 12), suporta esta relação invertida utilizando a literatura da legitimação. Para representar o desempenho das empresas foi utilizada o Return on Equity (ROE), calculado pela divisão do resultado do período pelo patrimônio líquido de início de período (

inicial PL

LL

ROE= ).

Práticas de governança corporativa

O código das melhores práticas de governança corporativa do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) em sua 3ª. versão destaca (2004, p. 9) que um dos princípios básicos que inspiram sua criação é a transparência,

Mais do que a obrigação de informar, a administração deve cultivar o desejo de informar, sabendo que da boa comunicação interna e externa, particularmente quando espontânea, franca e rápida, resulta em um clima de confiança, tanto internamente, quanto na relação da empresa com terceiros. A comunicação não deve restringir-se ao desempenho econômico financeiro, mas deve contemplar também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação empresarial e que conduzem a criação de valor.

Considerando-se que as práticas de governança corporativa servem como um monitoramento da administração por parte dos investidores externos e que a divulgação voluntária diminuiria a assimetria informacional gerada pelo conflito de agências pode-se inferir que as empresas que utilizam práticas de governança corporativa tendem a divulgar informações de natureza social voluntariamente, sugerindo uma relação positiva entre essas duas variáveis. Ainda sob esta ótica, em países com fraca proteção ao investidor é razoável supor que as características de governança da companhia podem representar um fator explicativo das decisões de disclosure. As práticas de governança corporativa são refletidas por uma variável dicotômica, com valor = 0 (zero) caso não haja a adesão da empresa nos níveis 1, 2 e novo mercado da Bovespa – Bolsa de Valores do Estado de São Paulo e valor = 1 (um) caso haja a adesão em qualquer um dos níveis.

Nível passado de divulgação

Salotti (2005, p. 70) discorre sobre a possível relação positiva existente entre o nível de divulgação de informações voluntárias com o nível passado de divulgação, principalmente devido a dois motivos: redução nos custos de divulgação pela divulgação anterior; e, uma força imposta pelo mercado às empresas que divulgaram informações voluntárias em períodos

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anteriores; se quem já divulgou não o fizer novamente, essa informação pode ser entendida pelo mercado como adversa, que reavalia suas expectativas e os preços das ações. A divulgação passada de informações de natureza social também está refletida numa variável dicotômica, com valor = 0 (zero) caso a empresa não tenha divulgado as informações de natureza social em período anterior e valor = 1 (um) se a divulgação ocorreu.

Grau de endividamento

Como é provável que um maior grau de endividamento gere uma maior percepção de risco por parte dos acionistas, que passam a exigir maior remuneração pela aplicação de seu capital, espera-se que empresas com menor grau de endividamento divulguem voluntariamente informações de natureza social. A proxy utilizada para representar essa variável é a relação entre o Exigível Total e o Patrimônio Líquido.

Variável de controle

O tamanho da empresa foi selecionado como uma variável de controle com base na possível influência que exerça sobre as variáveis de divulgação, desempenho, práticas de governança e nível passado de informação.

Tamanho da empresa

A literatura destaca que o porte da empresa é fator relevante para a determinação do nível de disclosure da mesma. A tendência é que empresas maiores apresentem maior grau de disclosure considerando-se que o custo de preparação e transmissão da informação é menor relativamente ao seu tamanho do que em empresas de menor porte. Embora esta probabilidade não seja verdadeira em termos absolutos, pode haver uma economia de escala em função dos componentes fixos nos custos do disclosure (Lang e Lundholm, 1993, p. 250). Além disso, as empresas maiores tendem a sofrer maior pressão para publicação de informações adicionais. A proxy utilizada para refletir o efeito tamanho (size effect) foi o Ativo Total das empresas no período analisado.

4 Metodologia

Este trabalho pode ser caracterizado como de natureza descritiva, quantitativa e explicativa, de acordo com a classificação de Abramo (1979, p. 43). A natureza descritiva se aplica porque procura-se descrever um objeto ou fenômeno que se encontra em estudo, no caso as companhias abertas brasileiras com ações listadas na Bovespa. O caráter quantitativo e explicativo se dá em virtude de se buscar analisar as relações e associações existentes entre variáveis econômico-financeiras, mediante o embasamento teórico da Teoria da Divulgação Voluntária e dos fundamentos estatísticos/matemáticos.

Configura-se, portanto, numa abordagem empírico-analítica conforme a concepção de Martins (2000, p. 26) que são as que apresentam em comum dentre outros, o uso de técnicas de coleta, tratamento e análise de dados marcadamente quantitativos e que privilegiam estudos práticos cuja prova de validação científica é buscada através de testes estatísticos dos instrumentos.

4.1 Delimitação do estudo

Dentre os diversos tipos de divulgação voluntária de informações financeiras no mercado de empresas brasileiro, encontra-se a divulgação de informações de natureza social. Sua publicação não é obrigatória de acordo com as normas contábeis definidas no Brasil. Entretanto, a CVM emitiu dois Pareceres de Orientação incentivando a divulgação de

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informações de natureza social – o Parecer de Orientação CVM nº. 15/87 e o nº. 24/92, este último tratando especificamente sobre divulgação de Demonstração do Valor Adicionado (DVA). O Conselho Federal de Contabilidade (CFC), pela Resolução CFC nº. 1.003, criou a Demonstração de Informações de Natureza Social e Ambiental que entrou em vigor em janeiro de 2006.

Esse trabalho delimita-se ao estudo da Teoria da Divulgação Voluntária como fundamentação para a construção das hipóteses que permeiam o fenômeno da divulgação voluntária de informações de natureza social no mercado de capitais brasileiros.

São estudadas as companhias abertas de natureza não financeira com ações listadas na Bovespa que divulgaram suas demonstrações contábeis nos exercícios sociais findos em 31/12/2003 e 31/12/2004.

As instituições financeiras não foram incluídas na amostra por serem reguladas pelo Banco Central. Foram excluídas da amostra as companhias do setor energético, onde existe a obrigatoriedade da divulgação do BS, conforme a Resolução 444 de 26 de dezembro de 2001 da Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica; e, ainda, as companhias de participação, como forma de evitar problemas de dupla contagem.

4.2 Escolha da regressão logística

A regressão logística é uma técnica estatística de análise multivariada utilizada em situações em que a variável dependente só pode assumir um entre dois resultados (de zero a um) e, além disso, de natureza qualitativa.

Esta técnica permite estimar a probabilidade que está associada à ocorrência de um determinado evento utilizando-se de um conjunto de variáveis independentes ou explicativas.

Segundo HAIR et al. (2005, pg. 240) a regressão logística encontra ampla aplicação nas situações nas quais o principal objetivo é identificar o grupo ao qual um item pertence (por exemplo, uma pessoa).

É o que ocorre neste estudo, onde o interesse é determinar qual a probabilidade que está associada à divulgação ou não do balanço social, quando são considerados aspectos relativos ao desempenho da empresa, níveis de governança corporativa, grau de endividamento, divulgação passada, responsabilidade social e tamanho. O uso da regressão logística é recomendado quando se apresentam restrições ao uso de outros modelos. Esta técnica tem a capacidade de contornar pressupostos estabelecidos em outras, dentre eles, ausência de normalidade na distribuição dos erros, de linearidade entre as variáveis e de homogeneidade de variância de erros.

5 Amostra e análise dos resultados

A pesquisa empírica foi realizada apenas sobre os dados das companhias abertas de natureza não financeira com ações listadas na Bovespa, excluídas as companhias do setor energético e de participações, que divulgaram suas demonstrações contábeis nos exercícios sociais findos em 31/12/2003 e 31/12/2004, conforme já ressaltado.

A amostra final resultou em 255 companhias. Eliminadas as que possuíam Patrimônio Líquido negativo (passivo a descoberto) e missing values, o número reduziu-se para 192 empresas em 2003 e 194 em 2004. As informações sobre as empresas pertencentes à amostra pesquisada foram obtidas por meio dos dados disponíveis no banco de dados mantido pela Fipecafi – Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras e no software Economática. As informações a respeito da adesão aos níveis 1, 2 e novo mercado foram obtidas no site da Bovespa.

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As empresas foram divididas em dois grupos: as que divulgaram informações de natureza social nos períodos abrangidos pela pesquisa, em número de 76 em 2003 e 65 em 2004, e as que não o fizeram - 116 em 2003 e 129 em 2004, totalizando as empresas da amostra.

As estatísticas descritivas das variáveis utilizadas são apresentadas nas Tabelas 1 e 2. Observa-se que a média de desempenho (DES) das companhias que não divulgaram informações de natureza social é bem inferior à média daquelas que o fizeram no ano de 2003. No ano de 2004 acontece exatamente o contrário. As companhias que não divulgaram informações de natureza social são as que apresentam média de desempenho melhor.

O porte (TAM) das empresas que não divulgaram informações sociais também é inferior ao das que o fizeram em 2003 e superior em 2004.

Com relação ao grau de endividamento, em 2003 as empresas não divulgadoras de informações sociais apresentaram-no maior e em 2004, menor que aquelas divulgadoras.

Tabela 1 – Estatísticas descritivas das variáveis - 2003

Variáveis N Média Desvio Padrão

Não divulgou Não divulgou Não divulgou

Divulgou Divulgou Divulgou

DIV 116 ,00 ,00 76 1,00 ,00 DES 116 6,3372 70,0442 76 44,6075 273,6697 GOV 116 6,034E-02 ,2392 76 ,1447 ,3542 NPDIV 116 9.483E-02 ,2942 76 ,75 ,4359 END 116 461,681 2796,0655 76 234,8132 500,2963 TAM 116 1573401,7155 4143317,0828 76 3600580,3026 14213123,2673

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Analisando-se a correlação entre as variáveis (Tabelas 3 e 4) verifica-se que a ocorrência de divulgação de informações sociais em 2003 está correlacionada positivamente com todas as variáveis em estudo, exceto com grau de endividamento e tamanho da empresa.

Tabela 2 – Estatísticas descritivas das variáveis - 2004

N Média Desvio Padrão

Não divulgou Não divulgou Não divulgou

Divulgou Divulgou Divulgou

129 ,00 ,00 65 1,00 ,00 129 12,1878 152,6854 65 10,7068 45,3882 129 6,977E-02 ,2557 65 ,1846 ,3910 129 ,1783 ,3843 65 ,8462 ,3636 129 179,7343 327,342 65 1456,8672 8246,6865 129 3086355,1008 12995856,2593 65 1902384,7846 3735113,4874 NPDIV END TAM Variáveis DIV DES GOV

Tabela 3 - Coeficientes de correlação de Spearman - 2003

DIV DES GOV NPDIV END TAM

DIV Correlation Coefficient 1,000 Sig. (2-tailed)

N 192

DES Correlation Coefficient ,076 1,000 Sig. (2-tailed) ,297

N 192 192

GOV Correlation Coefficient ,142 ,055 1,000 Sig. (2-tailed) ,050 ,445

N 192 192 192

NPDIV Correlation Coefficient ,670** ,081 ,098 1,000

Sig. (2-tailed) ,000 ,267 ,176

N 192 192 192 192

END Correlation Coefficient -,039 -,151* -,080 -,027 1,000

Sig. (2-tailed) ,589 ,037 ,272 ,706

N 192 192 192 192 192

TAM Correlation Coefficient -,013 ,301** -,051 -,042 -,095 1,000

Sig. (2-tailed) ,859 ,000 ,486 ,563 ,188

N 192 192 192 192 192 192

** Correlation is significant at the ,01 level (2-tailed) * Correlation is significant at the ,05 level (2-tailed)

(12)

A correlação negativa entre a divulgação e o tamanho da empresa não era esperada. No entanto, observa-se que apenas a variável NPDIV apresentou correlação significativa estatisticamente com a variável dependente DIV (Tabela 3).

Em 2004 (Tabela 4), as correlações foram positivas entre DIV e todas as outras variáveis, exceto DES e TAM, o que se mostrou surpreendente. A correlação positiva entre DIV e END também não era esperada. Houve correlação significativa estatisticamente apenas de DIV com GOV e NPDIV

A regressão logística foi realizada utilizando-se todas as variáveis, com o objetivo de avaliar as hipóteses de pesquisa estabelecidas.

A validação estatística do modelo é feita por meio dos testes e indicadores apresentados na Tabela 5.

Os Testes Step, Block e Model são utilizados para avaliar a hipótese de nulidade de todos os coeficientes. Os resultados indicam rejeição da hipótese nula a um nível de

Tabela 5 – Testes e indicadores de validação do modelo de regressão logística

Testes e Indicadores 2003 2004

Step, Block e Model

Estatística Qui-Quadrado 99,856 99,995

p-value ,000*** ,000***

-2LL 157,918 147,432

Nagelkerke R2 54,9% 55,9%

Hosmer & Lemeshow

Estatística Qui-Quadrado 5,016 6,595

p-value ,756*** ,581***

***p-value é significativo a um nível de significância de 1%

Tabela 4 - Coeficientes de correlação de Spearman - 2004

DIV DES GOV NPDIV END TAM

DIV Correlation Coefficient 1,000 Sig. (2-tailed)

N 194

DES Correlation Coefficient -,064 1,000 Sig. (2-tailed) ,377

N 194 194

GOV Correlation Coefficient ,174* ,048 1,000 Sig. (2-tailed) ,015 ,508

N 194 194 194

NPDIV Correlation Coefficient ,643** ,010 ,154* 1,000

Sig. (2-tailed) ,000 ,890 ,032

N 194 194 194 194

END Correlation Coefficient ,000 -,271** -,120 -,045 1,000

Sig. (2-tailed) ,996 ,000 ,094 ,535

N 194 194 194 194 194

TAM Correlation Coefficient -,017 ,304** -,106 -,013 -,123 1,000

Sig. (2-tailed) ,813 ,000 ,141 ,860 ,088

N 194 194 194 194 194 194

** Correlation is significant at the ,01 level (2-tailed) * Correlation is significant at the ,05 level (2-tailed)

(13)

significância de 10%, 5% e 1% e comprovam a adequação do modelo. O indicador –2LL informa o bom ajustamento geral do modelo pelo baixo valor encontrado. O poder explicativo do modelo é dado pelo indicador Nagelkerke R2 - 54,9% das variações registradas na variável dependente são explicadas pela conjunto de variáveis independentes em 2003 e 55,9% em 2004. A precisão do modelo é avaliada pelo Teste Hosmer & Lemeshow. Pode-se afirmar que inexistem diferenças significativas entre os resultados observados e os previstos pelo modelo.

Analisando-se os coeficientes da regressão evidenciados na Tabela 6 verifica-se que apenas a variável NPDIV é estatisticamente significativa no ano de 2003 e apenas as variáveis NPDIV e END o são em 2004.

De modo geral, as variáveis cujos coeficientes são significativamente diferentes de zero explicam melhor as variações da variável dependente. O sinal positivo do coeficiente aumenta a probabilidade de ocorrência da publicação voluntária de informações de natureza social. Em função disso e com base na análise dos resultados dos testes é possível aceitar ou rejeitar as hipóteses estabelecidas.

H0: Empresas com melhor desempenho tendem a divulgação voluntária de informações de natureza social.

Como a proxy DES não apresentou resultados significativos nos anos de 2003 e 2004 rejeita-se a primeira hipótese, isto é, um melhor desempenho da empresa não necessariamente influencia positivamente a divulgação voluntária de informações de natureza social. Essa característica da empresa havia sido observada por Lang e Lundholm (1992) e Salotti (2005) como fator determinante no nível de divulgação voluntária.

H1: Empresas com bons níveis de governança corporativa tendem a divulgação voluntária de informações de natureza social.

A proxy GOV não apresentou resultados significativos na amostra analisada em nenhum dos períodos. Assim, rejeita-se a segunda hipótese de que existam evidências de que as características de governança corporativa contribuam de maneira significativa para a motivação de divulgação voluntária. O resultado encontrado tem uma das prováveis explicações advinda de Lopes (2002, p. 90):

O mercado de capitais brasileiro é extremamente concentrado, com poucas (mais freqüentemente nenhuma) empresas, tendo o controle acionário negociado em bolsa. Nesse tipo de mecanismo de governança corporativa, o papel da contabilidade como redutora da assimetria de informações entre administradores e investidores é reduzido, uma vez que os proprietários têm acesso privilegiado às informações das empresas. Outras razões podem ser a proxy utilizada e particularidades dos períodos analisados. H2: : Empresas que divulgaram de informações de natureza social voluntariamente em período anterior tendem a fazê-lo novamente..

Consistente com o resultado obtido por Salotti (2005), a proxy NPDIV é significativa estatisticamente tanto no ano de 2003 quanto em 2004 e assim, aceita-se a terceira hipótese de

2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004 2003 2004 DES + + + + 0,001 0,000 0,111 0,001 0,739 0,98 GOV + + + + 1,076 0,907 2,470 1,865 0,116 0,172 NPDIV + + + + 3,452 3,496 64,231 58,866 0,000*** 0,000*** END - - + + 0,000 0,001 0,111 8,872 0,740 0,003*** Constante +/- +/- - - -1,987 -2,863 43,079 47,199 0,000*** 0,000*** Variável de Controle TAM + + + + 0,000 0,000 2,590 0,933 0,108 0,334

***p-value é significativo a um nível de significância de 1%

p-value Teste Wald Tabela 6 – Coeficientes e resultados do Teste Wald

Variáveis Sinal esperado Sinal

(14)

que o nível de divulgação anterior influencia a probabilidade de divulgação em período seguinte.

H3: Empresas com baixo nível de endividamento tendem a divulgação voluntária de informações de natureza social.

Essa variável apresentou resultado estatisticamente significativo apenas no ano de 2004. Entretanto, o sinal esperado não foi verificado em nenhum dos períodos não confirmando a relação esperada de que empresas com menor grau de endividamento divulguem voluntariamente informações de natureza social.

A variável de controle TAM também não mostrou-se significativa, não comprovando a hipótese de que o porte da empresa é uma característica determinante do seu nível de disclosure. Os estudos de Chow e Wong-Boren (1987), Raffournier (1995) e Labelle (2002) obtiveram evidências de que quanto maior o tamanho da empresa, maior é o seu nível de divulgação voluntária.

6. Considerações finais e sugestões para futuras pesquisas

Este estudo teve como objetivo encontrar evidências dos motivos que levariam as companhias negociadas no mercado de capitais brasileiro a divulgar voluntariamente informações de natureza social.

A teoria na qual o trabalho se baseou estabelece que a decisão de divulgar é explicada por determinadas características da empresa como, porte, desempenho, práticas de governança corporativa e outras.

Com base nos testes realizados e em relação às hipóteses estabelecidas, as evidências empíricas encontradas são de que a divulgação voluntária de informações de natureza social está associada positivamente apenas ao nível passado da divulgação nos dois períodos e aos níveis de governança em 2004. Com relação ao tamanho da companhia a correlação encontrada foi negativa. As variáveis grau de endividamento, desempenho e tamanho da empresa não apresentaram correlações conclusivas pois os resultados foram distintos nos dois períodos analisados. No entanto, maiores investigações são requeridas. As correlações não se apresentaram significativas estatisticamente. A falta de relacionamento encontrada com relação as variáveis DES, GOV e TAM pode ser devido às limitações das proxies utilizadas. E, ainda, às próprias limitações do estudo.

Outras relações também merecem ser estudadas como características motivadoras da divulgação voluntária de informações de natureza social, dentre elas, preocupações com a imagem, requisito para participação em premiações, índice Bovespa de responsabilidade social, obtenção de recursos junto a órgãos internacionais de fomento/desenvolvimento, porte da empresa de auditoria, lucratividade e setor.

E, ainda, a realização de estudos similares que envolvam períodos mais longos, na tentativa de verificar as evidências encontradas.

Diante do quadro exposto, pode-se pensar, e a partir daí, organizar uma nova pesquisa, no sentido de associar a maior quantidade de informações sociais à conscientização do empresariado sobre a responsabilidade social que lhe cabe. Como visto, este é um conceito que tem evoluído conforme as novas realidades humanas. Claro que, ainda está muito aquém do desejado, contudo, pela natureza, trata-se de uma evolução significativa.

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