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Ndebele, tribo africana como referencial para estamparia têxtil na decoração

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Academic year: 2021

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(1)NDEBELE, TRIBO AFRICANA COMO REFERENCIAL PARA ESTAMPARIA TÊXTIL NA DECORAÇÃO. Rejana Cera Cadore.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE ARTES E LETRAS ESPECIALIZAÇÃO EM DESIGN DE SUPERFÍCIE. NDEBELE, TRIBO AFRICANA COMO REFERENCIAL PARA ESTAMPARIA TÊXTIL NA DECORAÇÃO. MONOGRAFIA DE ESPECIALIZAÇÃO. Rejana Cera Cadore. Santa Maria, RS, Brasil 2015.

(3) NDEBELE, TRIBO AFRICANA COMO REFERENCIAL PARA ESTAMPARIA TÊXTIL NA DECORAÇÃO. por. Rejana Cera Cadore. Monografia apresentada ao Curso de Especialização em Design de Superfície, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Design de Superfície.. Orientadora: Profª. Drª. Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi. Santa Maria, RS, Brasil 2015.

(4) Universidade Federal de Santa Maria Centro de Artes e Letras Especialização em Design de Superfície. A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a monografia de especialização. NDEBELE, TRIBO AFRICANA COMO REFERENCIAL PARA ESTAMPARIA TÊXTIL NA DECORAÇÃO elaborada por Rejana Cera Cadore. como requisito parcial para obtenção do grau de Especialista em Design de Superfície COMISSÃO EXAMINADORA: Reinilda de Fátima Berguenmayer Minuzzi, Drª. (UFSM) (Presidente/Orientadora). Fabiane Vieira Romano, Drª. (UFSM). Karine Gomes Perez Vieira, Ms. (UFSM). Santa Maria, 30 de Novembro de 2015..

(5) Dedico este trabalho aos meus pais Valsir e Malize, por tudo que me proporcionaram durante a realização deste curso..

(6) AGRADECIMENTOS. Inicialmente, agradeço aos meus pais Malize e Valsir e minha irmã Regina pelo apoio que sempre tive nas minhas escolhas. Saber que podia contar com eles foi muito importante para mim durante o curso. À Universidade Federal de Santa Maria, ao Curso de Especialização em Design de Superfície, pela oportunidade de fazer parte deste grupo, em especial ao corpo docente do curso pelos conhecimentos repassados. Agradeço à professora Reinilda Minuzzi, por me oportunizar crescimento acadêmico e como pessoa, pela sua disponibilidade e atenção que sempre teve comigo, compartilhando seus conhecimentos e pela sua confiança em meu trabalho. Agradeço meu namorado Martin Fernandes Lima e a todos meus amigos pela paciência, carinho e apoio recebido nos momentos difíceis e entenderem minha ausência enquanto me dedicava ao curso e a esta monografia. Em especial a Camila Rodrigues que sempre esteve disposta a passar um café, para acompanhar as noites de trabalhos e João Manoel Lenz que me auxilou quando tive problemas tecnológicos..

(7) Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos. Friedrich Nietzsche.

(8) RESUMO. Monografia de Especialização em Design de Superfície Curso de Especialização em Design de Superfície Universidade Federal de Santa Maria. NDEBELE, TRIBO AFRICANA COMO REFERENCIAL PARA ESTAMPARIA TÊXTIL NA DECORAÇÃO AUTORA: REJANA CERA CADORE ORIENTADORA: REINILDA DE FÁTIMA BERGUENMAYER MINUZZI Data e Local da Defesa: Santa Maria, 30 de novembro de 2015. A pesquisa teve como escopo a elaboração de estampas étnicas para estamparia têxtil, focando na decoração de ambientes internos com a criação e confecção de quatro coleções de pufes e almofadas. O trabalho buscou referências criativas na Tribo africana Ndebele, da África do Sul, conhecida por sua arte mural realizada em suas residências. As estampas foram criadas a partir desse referencial, com o uso dos padrões e cores encontradas na tradicional arte africana. O desenvolvimento consistiu de pesquisa bibliográfica para melhor compreensão sobre o contexto do trabalho, discorrendo sobre o continente africano, a África do Sul, o povo Ndebele, bem como sobre design de superfície (processos de criação de estampa e as impressões), textêis (origem das fibras e tramas), tecidos africanos, decoração de ambientes internos e sua evolução. Para tanto, fez-se um levantamento de informações sobre os tecidos e estampas usadas na área de decoração em pesquisa nas lojas de Santa Maria e utilizou-se procedimentos de metodologia projetual baseada em Gui Bonsiepe, com algumas análises que melhor se adequaram ao trabalho e ao processo criativo para a elaboração dos desenhos e a confecção das coleções.. Palavras-chaves: Estamparia; Decoração; Ndebele; Étnico; Design Têxtil..

(9) ABSTRACT. Specialization Monograph in Surface Design Specialization Course in Surface Design Universidade Federal de Santa Maria. NDEBELE, AFRICAN TRIBE AS REFERENCE FOR TEXTIL PRINTING ON DECORATION AUTHOR: REJANA CERA CADORE SUPERVISOR: REINILDA DE FÁTIMA BERGUENMAYER MINUZZI Date and Place of the Defense: Santa Maria, November 30, 2015. This study had as escope the development of ethnic prints to textil printing focusing the indoors decoration with creation and production of four collections of ottomans and cushions. Creative reference came from the south african tribe Ndebele, known for their mural art held in their house walls. Prints were created from this reference, using the patterns and colors found on the traditional african art. To better understanding of the context, a bibliographic research was made, presenting african continent, South Africa, Ndebele people, surface design (print creation process and printings), textiles (fiber source and plots), africans fabrics, indoors decorations and its evolution. To reach this objective, a survey of information about fabrics and prints used on decoration area in search of Santa Maria shops was made and procedures of project methodology based on Gui Bonsiepe was used, with some analysis that better adequated to creative process and development of drawings and colections. Key words: Print; Decoration; Ndebele; Ethnic; Design Têxtil..

(10) LISTA DE FIGURAS. Figura 1 - Imagens da caverna de Blombos, África do Sul. Fonte: Isto É, 2011. ...... 22 Figura 2 - África dividida pelos colonizadores em 1914. Fonte: Andrade, 1989, p.25. ............................................................................................................................ 24 Figura 3 - Mapa do continente africano com os estados independentes. Fonte: Arnaldo da Luz; Fábio Garczarek, 2010. ............................................................ 25 Figura 4 - Mapa de Localização da África. Fonte: G1, 2009 ..................................... 26 Figura 5 - Mulher Ndebele. Fonte: Courtney-Clarke, 2002. ....................................... 28 Figura 6 - Pinturas murais. Fonte: Courtney-Clarke, 2002. ....................................... 29 Figura 7 - Imagens das pinturas murais com elementos atuais (avião, leão, galinha). Fonte: Courtney-Clarke, 2013............................................................................. 30 Figura 8 - Beadwork tradicional do povo. Fonte: Courtney-Clarke, 2002. ................. 31 Figura 9 - Bonecas Ndebele. Fonte: Biafioretti, 2010. ............................................... 31 Figura 10 - Esther Mahlangu. Fonte: O Globo, 2013. ................................................ 32 Figura 11 - Obra de Esther Mahlangu. Fonte: African Contemporary, 2007. ............ 33 Figura 12 - Obra de Esther Mahlangu. Fonte: V Gallery, 2010. ................................ 33 Figura 13 - Sapatilha Melissa com trabalho de Esther Mahlangu. Fonte: O Globo, 2013. ................................................................................................................... 34 Figura 14 - BMW com desenho de Esther. Fonte: O Globo, 2013. ........................... 34 Figura 15 - Coleção da primavera/verão 2007 de Alexandre Herchcovitch. Fonte: UOL, 2006. ......................................................................................................... 35 Figura 16 - Módulo e suas diferentes variações de repetições. Fonte: Rocha, 2014. ............................................................................................................................ 40 Figura 17 - Módulo com rapportrepresentando os encaixes. Fonte: Rocha, 2014. ... 41 Figura 18 - Cerâmica Portinari, coleção: Coimbra Dec4. Fonte: Portinari, 2014. ...... 43.

(11) Figura 19 - Wagner Campelo, papel de Parede Samba/ Alluminare. Fonte: Campelo, 2014. ................................................................................................................... 44 Figura 20 - Estampa da Coleção Astecas, da Farm. Fonte: Farm, 2014. ................. 44 Figura 21 - Tecidos Kenté, etnias Ashanti e Ewé, Gana e Togo. Fonte: Pezzolo, 2007. ................................................................................................................... 50 Figura 22 - Tecidos com bordado de ráfia. República Democrática do Congo, etnia Shoowa, Grupo Kuba. Fonte: Pezzolo, 2007. ..................................................... 51 Figura 23 - Tecido Bogolan, Etnia Bambara, Mali. Fonte: Pezzolo, 2007. ................ 52 Figura 24 - Batik original do Quênia. Fonte: Pezzolo, 2007. ..................................... 53 Figura 25 - Detalhe da casa de Claudio Bernardes. Fonte: Casa Vogue, 2002. ....... 56 Figura 26 - Trabalho de Sig Bergamin inspirado nos anos 50 em Miami. Fonte: Casa Vogue, 2002. ...................................................................................................... 56 Figura 27 - Imagens dos produtos das lojas de Santa Maria. Fonte: Arquivo pessoal. ............................................................................................................................ 59 Figura 28 - Painel de referência visual. Fonte: Arquivo pessoal................................ 60 Figura 29 - Estrutura de um pufe. Fonte: Arquivo pessoal. ....................................... 66 Figura 30 - Estrutura de uma almofada. Fonte: Arquivo pessoal. ............................. 66 Figura 31 - Painel de referência da Tribo Ndebele I. Fonte: Criado pela autora com imagens da internet. ........................................................................................... 68 Figura 32 - Painel de referência da Tribo Ndebele II. Fonte: Arquivo pessoal. ......... 69 Figura 33 - Paleta de cores base. Fonte: Arquivo pessoal. ....................................... 70 Figura 34 - Módulos em técnicas diferentes. Fonte: Arquivo pessoal. ...................... 71 Figura 35 - Uso de carimbo sobre tecido. Arquivo pessoal. ...................................... 71 Figura 36 - Tecidos com estampas texturadas. Fonte: Arquivo pessoal. .................. 72 Figura 37 - Estampa em diferentes tecidos com serigrafia a quadro. Fonte: Arquivo pessoal. .............................................................................................................. 72 Figura 38 - Impressão teste com impressão sublimática. Fonte: Arquivo pessoal. ... 73 Figura 39 - Desenhos dos rapports da Linha Terra. Fonte: Arquivo pessoal. ........... 75 Figura 40 - Desenhos dos rapports da Linha Água. Fonte: Arquivo pessoal. ........... 75 Figura 41 - Desenhos dos rapports da Linha Sol. Fonte: Arquivo pessoal. ............... 76 Figura 42 - Desenhos dos rapports da Linha Esplendor. Fonte: Arquivo pessoal. .... 76 Figura 43 - Paleta de cores Linha Terra. Fonte: Arquivo pessoal. ............................ 77.

(12) Figura 44 - Rapports coloridos e desenhados digitalmente da Linha Terra. Fonte: Arquivo pessoal. ................................................................................................. 78 Figura 45 - Combinações utilizando os rapports da Linha Terra. Fonte: Arquivo pessoal. .............................................................................................................. 78 Figura 46 - Estampa complementar da Linha Terra. Fonte: Arquivo pessoal. .......... 79 Figura 47 - Paleta de cores Linha Água. Fonte: Arquivo pessoal.............................. 79 Figura 48 - Rapports coloridos e desenhados digitalmente da Linha Água. Fonte: Arquivo pessoal. ................................................................................................. 80 Figura 49 - Combinações utilizando os rapports da Linha Água. Fonte: Arquivo pessoal. .............................................................................................................. 80 Figura 50 - Estampa complementar da Linha Água. Fonte: Arquivo pessoal. ........... 81 Figura 51 - Paleta de cores Linha Sol. Fonte: Arquivo pessoal. ................................ 82 Figura 52 - Rapports coloridos e desenhados digitalmente da Linha Sol. Fonte: Arquivo pessoal. ................................................................................................. 82 Figura 53 - Combinações utilizando os rapports da Linha Sol. Fonte: Arquivo pessoal. .............................................................................................................. 82 Figura 54 - Estampa complementar da Linha Sol. Fonte: Arquivo pessoal. .............. 83 Figura 55 - Estruturas dos pufes com lados de cores lisas. Fonte: Arquivo pessoal. ............................................................................................................................ 83 Figura 56 - Paleta de cores Linha Esplendor. Fonte: Arquivo pessoal. ..................... 84 Figura 57 - Rapports coloridos e desenhados digitalmente da Linha Esplendor. Fonte: Arquivo pessoal ....................................................................................... 84 Figura 58 - Combinações utilizando os rapports da Linha Esplendor. Fonte: Arquivo pessoal. .............................................................................................................. 85 Figura 59 - Estampa complementar da Linha Esplendor. Fonte: Arquivo pessoal. ... 85 Figura 60 - Estruturas dos pufes com assentos de cores lisas. Fonte: Arquivo pessoal. .............................................................................................................. 86 Figura 61 - Estrutura do pufe, com MDF reaproveitado. Fonte: Arquivo pessoal. ..... 87 Figura 62 - Estrutura do pufe forrado com espuma. Fonte: Arquivo pessoal. ........... 87 Figura 63 - Testes das estampas aplicadas nas almofados. Fonte: Arquivo pessoal. ............................................................................................................................ 87 Figura 64 – Pufes da Linha Terra finalizados. Fonte: Arquivo pessoal. .................... 88 Figura 65 - Almofadas da Linha Terra finalizadas. Fonte: Arquivo pessoal. ............. 89.

(13) Figura 66 - Produtos da Linha Terra ambientados. Fonte: Arquivo pessoal. ............ 89 Figura 67 - Pufes da Linha Água finalizados. Fonte: Arquivo pessoal. ..................... 90 Figura 68 - Almofadas da Linha Água finalizadas. Fonte: Arquivo pessoal. .............. 90 Figura 69 - Produtos da Linha Água ambientados. Fonte: Arquivo pessoal. ............. 91 Figura 70 - Pufes da Linha Sol finalizados. Fonte: Arquivo pessoal.......................... 91 Figura 71 - Almofadas da Linha Sol finalizadas. Fonte: Arquivo pessoal. ................. 92 Figura 72 - Produtos da Linha Sol ambientados. Fonte: Arquivo pessoal. ................ 92 Figura 73 - Pufes da Linha Esplendor finalizados. Fonte: Arquivo pessoal. .............. 93 Figura 74 - Almofadas da Linha Esplendor finalizadas. Fonte: Arquivo pessoal. ...... 93 Figura 75 - Produtos da Linha Esplendor ambientados I. Fonte: Arquivo pessoal. ... 94 Figura 76 - Produtos da Linha Esplendor ambientados II. Fonte: Arquivo pessoal. .. 94.

(14) LISTA DE QUADROS. Quadro 1 - Períodos e superfícies trabalhadas ......................................................... 37 Quadro 2 - Tendências na linha do tempo ................................................................ 62 Quadro 3 - Análise sincrônica de Pufes .................................................................... 64 Quadro 4 - Análise sincrônica de Almofadas............................................................. 64.

(15) SUMÁRIO. Resumo ...................................................................................................................... ix Abstract ....................................................................................................................... x Lista de Figuras .......................................................................................................... xi Lista de Quadros ....................................................................................................... xv Introdução ................................................................................................................. 19 Capítulo 1 ............................................................................................................... 21 CULTURA AFRICANA .............................................................................................. 21 1.1.. Continente Africano ......................................................................................... 21. 1.2.. África Do Sul.................................................................................................... 26. 1.3.. O Povo Ndebele .............................................................................................. 27. 1.3.1.. Esther Mahlangu ....................................................................................... 32. Capítulo 2 .................................................................................................................. 36 O DESIGN DE SUPERFÍCIE .................................................................................... 36 2.1.. Aspectos Históricos sobre Design de Superfície no Mundo e no Brasil .......... 36. 2.2.. Estamparia ...................................................................................................... 39. 2.3.. Principais Superfícies de Aplicação de Estampas ........................................... 42. Capítulo 3 .................................................................................................................. 46 DECORAÇÃO, TÊXTEIS E TECIDOS AFRICANOS ................................................ 46 3.1.. Têxteis ............................................................................................................. 46. 3.2.. Tecidos Africanos ............................................................................................ 48. 3.2.1.. Tecido Kenté ............................................................................................. 49. 3.2.2.. Tecido Tramado ........................................................................................ 50. 3.2.3.. Tecido Bordado ......................................................................................... 51. 3.2.4.. Tecido Tingido .......................................................................................... 51. 3.3.. Decoração de Ambientes Residenciais e os Tecidos ...................................... 54.

(16) Capítulo 4 .................................................................................................................. 58 METODOLOGIA E PROCESSO CRIATIVO ............................................................. 58 4.1.. Coleta de Dados .............................................................................................. 58. 4.2.. Metodologia Projetual ...................................................................................... 60. 4.2.1.. Análise Diacrônica .................................................................................... 61. 4.2.2.. Análise Sincrônica .................................................................................... 63. 4.2.3.. Análise Estrutural ...................................................................................... 65. 4.3.. Processo Criativo ............................................................................................ 67. 4.3.1.. O Desenvolvimento do Processo .............................................................. 67. Capítulo 5 .................................................................................................................. 74 AS COLEÇÕES......................................................................................................... 74 5.1.. Coleção Terra e Água ..................................................................................... 76. 5.1.1.. Linha Terra................................................................................................ 77. 5.1.2.. Linha Água ................................................................................................ 79. 5.2.. Coleção Sol e Esplendor ................................................................................. 81. 5.2.1.. Linha Sol ................................................................................................... 81. 5.2.2.. Linha Esplendor ........................................................................................ 84. 5.3.. Execução dos Protótipos ................................................................................. 86. 5.4.. Apresentação de Fotografias dos Produtos Finalizados e Ambientados ......... 88. 5.4.1.. Linha Terra................................................................................................ 88. 5.4.2.. Linha Água ................................................................................................ 90. 5.4.3.. Linha Sol ................................................................................................... 91. 5.4.4.. Linha Esplendor ........................................................................................ 93. 5.5.. Análise Final .................................................................................................... 95. Capítulo 6 ............................................................................................................... 97 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 97 Referências Bibliográficas ......................................................................................... 99 APÊNDICE I ............................................................................................................ 103 APÊNDICE II ........................................................................................................... 104.

(17)

(18) INTRODUÇÃO. Este trabalho de monografia do curso de Especialização em Design de Superfície aborda a estamparia étnica como tendência na estamparia têxtil voltada para decoração de ambientes internos tendo como referência de criação a arte mural da Tribo Ndebele, da África do Sul. Por séculos os negros sofreram com o preconceito devido à história de escravidão de sua raça. Apesar disso, sabe-se da importância que foi a sua contribuição na formação cultural e na identidade nacional. Com tamanha riqueza da cultura africana é de grande valia fazer o seu resgate através do design de superfície. O trabalho teve como foco o resgate cultural da estamparia étnica, valorizando a sua importância na decoração, e busca desenvolver coleções de estampas para pufes e almofadas decorativas, com um estudo exploratório usando as cores e as formas geométricas. Com a finalidade de extrair referências criativas da cultura da Tribo africana Ndebele, se fez necessário um estudo para melhor compreensão de sua arte e técnicas utilizadas, para que possam contribuir na pesquisa e no desenvolvimento das estampas para decoração. Conhecida pela sua pintura mural, realizada exclusivamente pelas mulheres em suas residências, utilizando-se de grafismos, cores intensas e contornos marcados, essa é passada de geração para geração. Também é necessário conhecer a história do continente africano, mais específico da África do Sul, país da tribo. Além de coomprender o tema de referência visual, é imprescindível conhecer o universo do design de superfície, modos de criação e possibilidades para a realização de estampas. Como funcionam os processos de repetições e criações de um rapport e módulo, as superfícies mais tradicionais usadas (têxtil, cerâmica,.

(19) 20. papelaria) e tipos de impressões. E segundo a história, quando a humanidade começou a usar diferentes suportes na elaboração de escritas e desenhos, quem foram os pioneiros no uso da estamparia no Brasil e no mundo. Para execução do trabalho, também se fez necessário, entender os têxteis e suas classificações desde sua origem (animal, vegetal, química) até as estruturas (tafetá, sarja, cetim). Os tecidos africanos realizados em teares, o uso de bordados e tingimentos para a realização dos padrões tradicionais, não têm apenas o caráter de vestuário, tem valor simbólico como de prosperidade, estado civil, classe social e outros. A decoração dos lares teve início após a revolução industrial, quando as indústrias deixam de ser dentro das casas (FORTY, 2013). Assim, os produtos de decoração ganham espaço no mercado, pois as residências viram ambientes de lazer, criação de filhos e descanso. E a decoração das mesmas tornou-se diferenciada com novo visual e objetos de design, abrindo-se um leque de possibilidades de criação para os profissionais que atuam neste setor. A realização da pesquisa foi dividida em três etapas: a primeira foi constituída pela pesquisa teórica, contextualizando a tribo Nbedele, que é tema referencial para o desenvolvimento de criação, o design de superfície e estamparia, têxteis em geral e a decoração de interiores, através de referências bibliográficas; a segunda, com a metodologia que foi dividida em: pesquisa de mercado (Santa Maria) e pesquisa projetual (baseada em Gui Bonsiepe (1984), com escolhas das análises que mais contribuíam. para. a. pesquisa);. e,. a. terceira,. com. o. processo. criativo,. desenvolvimento de desenhos, testes de materiais e superfícies têxteis (de origem natural e químico). As três etapas foram necessárias para gerar alternativas de desenhos e resultar na boa confecção dos produtos finais..

(20) 21. Capítulo 1. CULTURA AFRICANA. Ao imergir em qualquer segmento cultural, como neste estudo, a arte da Tribo africana Ndebele, a fim de extrair referências criativas, é necessário e importante melhor compreender aspectos e particularidades que irão contribuir para o desenvolvimento da proposta de geração de estampas para decoração. A tribo Ndebele, localizada na África do Sul e no Zimbabwe, já tem sido muito conhecida pela sua arte, grafismos e cores, aplicados em suas casas, vestimentas, ornamentos e objetos diversos. Assim, neste capítulo aborda-se um pouco da história do continente africano e, em especial, da África do Sul, país do povo Ndebele. O capitulo é divido em três partes: um breve relato sobre o continente africano; África do Sul, e sobre a tribo Ndebele e a preservação de sua arte e do trabalho de sua artista Esther Mahlangu.. 1.1.. CONTINENTE AFRICANO O continente africano é a maior porção de terras emersas em um bloco só.. Encontra-se localizado entre o Mar Mediterrâneo e os oceanos Índico e Atlântico. Foi no continente africano, com o Homo Sapiens que a espécie humana surgiu há mais de 160 mil anos, iniciando-se na África Oriental e na Meridional, sendo este o ponto de partida para a colonização do continente e do mundo (VISENTINI; RIBEIRO; PEREIRA, 2013). O continente é o mais extenso com 30 milhões de metros quadrados, o segundo mais populoso com cerca de um bilhão de habitantes. Segundo os autores Visentini, Ribeiro e Pereira (2013), o continente está dividido com cerca de oitocentos grupos étnicos, cada um com sua própria língua e cultura. Nele são.

(21) 22. faladas mais de mil línguas diferentes que são divididas em quatro grupos: as afroasiáticas, as khoisan, as nígero-congolesas e as nilo-saara. Há registros sobre a arte africana do período pré-histórico (Figura 1), e “arqueólogos descobriram uma espécie de ateliê na caverna Blombos, na África do Sul, onde, há 100 mil anos, humanos preparavam tintas à base de minerais” (ISTO É, 2011).. Figura 1 - Imagens da caverna de Blombos, África do Sul. Fonte: Isto É, 2011.. Os antigos povos africanos elaboravam objetos de arte a partir de diversos elementos da natureza, como pedras, madeiras, couro, marfim, metais e outros. A religião, a natureza e a vida cotidiana era o que mais representavam em suas obras. Muitas foram as tentativas de classificar os grupos étnicos na África, tanto pela cor de pele (branca ou negra), quanto pelas características culturais ou linguísticas.. Visentini, Ribeiro e Pereira (2013, p. 15) destacam que no norte e. nordeste do continente “os povos foram arabizados e/ou islamizados, pois.

(22) 23. mantinham interações com a Europa Mediterrânea e com a Ásia Ocidental e Meridional”. No restante do continente, diante das dificuldades ambientais, houve grandes migrações territoriais, onde se aperfeiçoaram na lavoura e criação nômade, onde os limites territoriais não eram barreiras e, sim, a procura por locais mais férteis. Portanto, a sociedade era focada no controle das pessoas e dos rebanhos; os povos se moviam conforme o ambiente, havendo, no decorrer desse tempo, a formação de reinos e impérios africanos, com intensas mestiçagens, gerando diversas novas culturas. Só nos últimos séculos é que as grandes migrações se estabilizaram e se iniciou um processo de adaptação ao ambiente local e a fixação de povos em locais definidos. Manuel Correia de Andrade (1989) no seu livro “O Brasil e a África” fala sobre a colonização do continente africano, processo que se iniciou ainda no século XV com os navegadores portugueses que contornaram o continente à procura de um caminho para as Índias. Como não almejavam estabelecer extensas colônias, nem conquistar o interior do continente, estabeleceram o colonialismo mercantil, baseado na conquista de penínsulas e na realização de alianças com os chefes locais para desenvolver o comércio marítimo. Neste período, as instituições africanas não foram alteradas, mantinham suas leis e seus principais costumes. Os portugueses criaram as feitorias em locais mais favoráveis ao comércio e de valor estratégico, que mais tarde formariam as colônias destinadas, principalmente, ao comércio de escravos. Neste mesmo período, entre os séculos XVI e XVII, outros países europeus também se interessaram em conquistar a África, criando companhias de comércio, fundando feitorias e mantendo contato com tribos africanas. No século XVI o comércio mais vantajoso foi o de escravos. Para Andrade (1989), durante os séculos XV, XVI e XVII os países europeus conquistaram e exploraram todos os recursos disponíveis na costa africana e, a partir do século XVIII, iniciaram a conquista do interior do território, culminando no século XIX, quando quase toda a África estava dividida entre os países colonizadores (Figura 2)..

(23) 24. Figura 2 - África dividida pelos colonizadores em 1914. Fonte: Andrade, 1989, p.25.. Ao dominarem o território africano os europeus agiam de diferentes formas: quando se deparavam com um povo organizado sob a forma de reino, estabeleciam um protetorado, onde cooptavam a classe dirigente e passavam a explorar os recursos naturais mais importantes e estabeleciam-se militarmente nos pontos mais estratégicos; já quando encontravam povos sem uma sólida estrutura política, eles se apoderavam dos territórios e os dividiam entre si usando linhas artificiais, fazendo com que tribos de etnias bem diferentes convivessem no mesmo espaço ou um mesmo povo ser divido por dois territórios. Nestes casos, os colonizadores administraram com maior controle militar. Este fato gerou grandes lutas tribais, algumas se estenderam até após a independência dos territórios. Neste período, a economia local foi destruída e os nativos foram obrigados a produzir para o mercado, como no caso da substituição da cultura do sorgo por amendoim e palmeira de óleo, distorcendo a economia do colonizado em benefício do explorador. As tribos eram desfeitas, enfraquecendo os laços familiares e refletindo na resistência do nativo. O colonizador visava à exploração dos recursos naturais existentes ou visava o povoamento, sendo estes.

(24) 25. sempre nas melhores áreas, como as colônias de povoamento na África do Sul (planaltos), Argélia (vales férteis) e no Quênia (próximo ao Quilimanjaro) (ANDRADE, 1989). O processo de descolonização da África ganha força durante as duas Grandes Guerras, pois era natural que nesses períodos as metrópoles diminuíssem o seu controle militar sobre as colônias. As elites nativas se organizaram e começaram a pressionar, querendo sua independência ou, pelo menos, mais autonomia. Muitos Estados foram conquistados com luta armada, alianças bastante diversificadas e governos autoritários, gerando grandes disputas internas, guerras civis deixando uma África pobre e com baixas condições sanitárias. Segundo Andrade (1989), a maioria dos Estados independentes foi criada a partir de 1950 (Figura 3).. Figura 3 - Mapa do continente africano com os estados independentes. Fonte: Arnaldo da Luz; Fábio Garczarek, 2010..

(25) 26. Norte-americanos, russos e chineses também interviriam na história do continente, influenciando na independência de novos Estados visando a instalação de empresas não europeias. Os povos da África do Sul se destacaram pela sua longa luta contra o seu colonizador branco, a qual durou muitas décadas.. 1.2.. ÁFRICA DO SUL A África do Sul é o país que se localiza ao extremo sul do continente africano,. banhado pelos oceanos Atlântico e Índico (Figura 4). É considerado o país mais rico e desenvolvido do continente, dispondo de áreas de solo fértil e de clima subtropical e de uma grande riqueza mineral. Segundo Visentini e Pereira (2010), no ano de 2008 a África do Sul possuía 47,8 milhões de habitantes, em uma área de 1,2 milhões de quilômetros quadrados e a população era composta de 79,3% de negros, 9,1% de brancos, 9,0% de mestiços e 2,6% de asiáticos (Censo 2011).. Figura 4 - Mapa de Localização da África. Fonte: G1, 2009. Visentini e Pereira (2010) acrescentam que baseados nos resultados do Censo de 2001, o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH 2006) da nação estava.

(26) 27. na 125ª posição, com uma expectativa de vida de 50,1 anos, podendo ter uma variação de 20 anos a mais, sem a epidemia de AIDS, porém o país tem o maior número de casos de AIDS no mundo, com 6 milhões de infectados e 350 mil mortos no ano de 2007, conforme dados da UNAIDS. Freitas [201-], em artigo para o site Escola Brasil, coloca que a economia sulafricana está relacionada à prestação de serviços e a indústria está baseada na grande quantidade de minérios existentes como o carvão mineral, manganês, ferro, cobre, platina, diamante, urânio e outros. Conforme Visentini e Pereira (2010), em 2008, a agricultura correspondia com 3,2%, a indústria com 32,1% e os serviços com 64,7%, conforme dados do Deutsche Bank de 2009. Por outro lado, conforme a World Trade Organization, em estudos do mesmo ano, as exportações de minerais são de grande importância para África do Sul chegando a mais de um terço do total vendido no ano de 2007. No que se refere aos aspectos culturais, Freitas [201-] acrescenta que no país existem 11 línguas oficiais faladas, como inglês, zulu, xhosa, sauázi, ndebele, seshoto do sul, seshotodo norte, tsonga, tswana, venda e afrikaans. Conforme consta no site do Consulado Geral da República da África do Sul no Brasil, em mais de 300 anos de sua história os colonizadores brancos de três países (Holanda, Inglaterra e França) lutaram entre si pelo direito de controlar um território vasto que, na opinião de cada um pertencia a eles. No mesmo período tribos negras fizeram o mesmo. Os colonizadores travaram batalhas com as tribos que atravessavam seus caminhos e as dominavam, chegando ao ponto de se implantar o Apartheid. Nos anos 70 a resistência ao sistema chegou a sua culminância, levando a nível mundial a luta do povo sul-africano e mudanças foram acontecendo; em 1994 foram realizadas as primeiras eleições diretas levando ao poder Nelson Mandela.. 1.3.. O POVO NDEBELE O povo Ndebele não aparece entre as grandes tribos africanas e seus. integrantes estão distribuídos em comunidades na África do Sul e Zimbabwe..

(27) 28. Apesar do seu tamanho reduzido, é atualmente a tribo africana mais conhecida mundialmente, pela sua arte colorida: decoração de casas, muros, vestimentas e objetos com grafismos geométricos e cores. Também são conhecidos pelos anéis que as mulheres casadas usam no pescoço, braços e pernas (Figura 5).. Figura 5 - Mulher Ndebele. Fonte: Courtney-Clarke, 2002.. Na reportagem de Sonia Nascimento, na Revista Raça Brasil [201-], no artigo “A arte dos Ndebele”, as tradições artísticas são exclusivas das mulheres onde são passadas de mãe para filha, sendo que possuem uma posição de destaque na sociedade por terem domínio nas artes. As meninas quando chegam à fase da puberdade são afastadas do convívio masculino por cerca de três meses, onde ficam aprendendo os costumes culturais da tribo em relação às pinturas e ao artesanato. O afastamento serve também para mostrar o quão serão boas e dedicadas como esposas e mães. A tradição artística é passada de geração para geração. Segundo Courtney-Clarke (2002) as mulheres Ndebele quando questionadas sobre o significado dos padrões usados nas pinturas murais, relatam que é apenas.

(28) 29. uma tradição passada de mãe para filha. No site Nômades Digitais (2015), menciona-se que não há muita informação sobre o padrão das pinturas realizadas nas residências Ndebeles e que a tradição, aparentemente, tem origem na Tribo Nguni, pois, após trocas culturais, as casas passaram a ser pintadas. Por outro lado, também acredita-se que as pinturas passaram a ser utilizadas como simbologia de identificação para comunicação secreta, depois de uma derrota no início do século XX para os Boers, colonos de língua holandesa. As pinturas murais (Figura 6) são a marca da tribo, e as paredes de suas casas são pintadas com formas geométricas e coloridas, realizadas manualmente, sem um desenho prévio (à mão livre). Todo o trabalho é realizado exclusivamente pelas mulheres; assim os desenhos ou pinturas podem variar de estilos, pois cada mulher expressa a sua identidade pessoal durante a elaboração.. Figura 6 - Pinturas murais. Fonte: Courtney-Clarke, 2002.. Antigamente, sem os recursos e tecnologias atuais, os desenhos eram coloridos com pigmentos naturais, pintados com os dedos nas paredes de barro e eram levados pelas chuvas de verão. Hoje já foram introduzidos pigmentos acrílicos. Em desenhos mais antigos, podem-se observar as cores predominantes usadas:.

(29) 30. preto (linhas pretas), marrom, vermelho escuro, amarelo ouro, verde, azul e, às vezes, rosa (COURTNEY-CLARKE, 2002). Atualmente as mulheres conservam a arte mural tradicional, aquela passada de geração para geração, entretanto, algumas agregam nas pinturas novos elementos como: lâmpadas, aviões e animais. Estes elementos muitas vezes são imagens de livros escolares como os leões (Figura 7). As integrantes da tribo mais velhas preferem usar os padrões tradicionais conhecidos (COURTNEY-CLARKE, 2002).. Figura 7 - Imagens das pinturas murais com elementos atuais (avião, leão, galinha). Fonte: CourtneyClarke, 2013.. Outro adorno confeccionado pelas mulheres ndebelenses é o famoso beadwork (Figura 8). Segundo Courtney-Clarke(2002) este adorno é conhecido como avental. Colorido, como toda a sua arte, feito com miçangas para serem usados pelas mulheres como uma parte essencial do traje feminino para cerimônias Nele contém informações sobre a pessoa que o está vestindo, com variações de imagens que mudam conforme a idade e o casamento. Os tradicionais aventais são usados em ocasiões especiais, como nos casamentos e na Iqhude (ritual onde as meninas são separadas dos homens quando atingem a puberdade, em uma casa preparada por sua mãe.) Após uma semana de isolamento convidam parentes, amigos e vizinhos para participarem do ritual e durante o Iqhude as mulheres vestem seus trajes tradicionais, cantam, dançam enquanto os homens permanecem isolados no pátio..

(30) 31. Figura 8 - Beadwork tradicional do povo. Fonte: Courtney-Clarke, 2002.. As bonecas dos Ndebeles (Figura 9) são feitas com miçangas e muito coloridas, representam como é o dia-a-dia da tribo e seus rituais. De acordo com Nascimento [201-], quando as meninas atingem a idade para se casarem, elas recebem uma boneca com um xale e avental mostrando assim o seu status de casada; elas também devem dar um nome a essa boneca para que no futuro seja o nome de sua primeira filha.. Figura 9 - Bonecas Ndebele. Fonte: Biafioretti, 2010..

(31) 32. 1.3.1.. Esther Mahlangu. A sul-africana Esther Mahlangu é uma famosa artista nascida na Tribo Ndebele, em 11 de novembro de 1935, criada dentro dos costumes da aldeia, que herdou de sua mãe e sua avó as tradições artísticas como a pintura, quando ainda era uma menina de apenas 10 anos. Foi no período de isolamento que Esther aprendeu as técnicas das artes de seu povo (O Globo, 2013). A obra de Esther Mahlangu (Figura 10) já circula pelo mundo há mais de 25 anos. A artista foi a primeira mulher Ndebele a atravessar o oceano para divulgar a técnica ancestral de pintar os muros das residências – à mão livre – com linhas e ângulos geométricos coloridos.. Figura 10 - Esther Mahlangu. Fonte: O Globo, 2013.. Esther foi descoberta nos anos 80 quando, durante o Apartheid, resolveu pintar todas as casas da tribo com a técnica que aprendera com sua avó quando ainda criança, para mostrar que ali residiam pessoas tão vivas quanto as cores, tentando evitar o desalojamento do seu povo. Em 1986, pesquisadores franceses em busca de movimentos artísticos tradicionais chegaram na Tribo Ndebele em Kwamalanga e se encantaram com o trabalho de Esther (Figuras 11 e 12). Três anos depois ela estava abrindo uma exposição em Paris, no Centro Pompidou (BREVES, 2013)..

(32) 33. Figura 11 - Obra de Esther Mahlangu. Fonte: African Contemporary, 2007.. Figura 12 - Obra de Esther Mahlangu. Fonte: V Gallery, 2010.. Depois de Paris, Esther participou de várias exposições pelo mundo afora, levando seus traços para meios diversos: da sapatilha Melissa (Figura 13) a uma BMW (Figura 14) (foi convidada pelo ArtCarCollection na mesma edição em que estavam Frank Stella e David Hockney) e um FIAT..

(33) 34. Figura 13 - Sapatilha Melissa com trabalho de Esther Mahlangu. Fonte: O Globo, 2013.. Figura 14 - BMW com desenho de Esther. Fonte: O Globo, 2013.. Igualmente, inspirou o estilista Alexandre Herchcovitch na coleção da. primavera/verão 2007 (Figura 15). Visitou o Brasil, em 2009, para o lançamento da sua Melissa no São Paulo Fashion Week/SPFW e, em 2013, participou do Festival Back2Black na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro..

(34) 35. Figura 15 - Coleção da primavera/verão 2007 de Alexandre Herchcovitch. Fonte: UOL, 2006.. Mesmo hoje, conhecida mundialmente, Esther ainda vive em seu vilarejo em Kwamalanga, onde tem uma fundação com objetivos de proporcionar estudos aos jovens e preservar a cultura de seu povo. A maioria dos povos do continente africano, apesar das dificuldades atuais e de um passado sofrido com o colonialismo, consegue manter um estilo de vida diferenciado. Um exemplo é um povo alegre, como o da Tribo Ndebele, que ao resgatar a sua antiga arte de pintar muros e casas, ganhou o mundo e está influenciando setores como o da moda..

(35) Capítulo 2. O DESIGN DE SUPERFÍCIE. O presente capítulo consiste em uma revisão bibliográfica que procura dar uma visão geral do Design de Superfície, focando em alguns pontos sobre o seu início, quando a humanidade começou a utilizar diferentes suportes e materiais para sua produção e aplicação em artefatos. Foram pesquisados alguns nomes pioneiros na introdução do uso da estamparia, nos trabalhos de design de superfície no Brasil e no mundo. Aborda igualmente o funcionamento de alguns dos padrões da estamparia (módulos e rapport) e o uso das cores nos projetos, bem como os softwares mais utilizados para a elaboração de projetos na área. Além disso, foca-se nos conceitos da realização de estampas a partir de módulos ou rapport, inclusive com imagens para melhor compreensão sobre os procedimentos de elaboração. Em relação ao uso das cores nos trabalhos, trata da importância do conhecimento de como utilizálas dentro de uma estampa para se obter uma harmonia de matizes e de tonalidades.. 2.1.. ASPECTOS HISTÓRICOS SOBRE DESIGN DE SUPERFÍCIE NO MUNDO E NO BRASIL As superfícies são exploradas e trabalhadas desde os primórdios da. civilização humana. A humanidade para deixar gravada a sua história, usava argilas, látex de plantas, gorduras e outros elementos que apresentavam alguma coloração na elaboração de seus trabalhos..

(36) 37. Conforme Rüthschilling (2008), o homem realiza grafismos sobre as superfícies desde os primórdios da civilização humana. Existem registros em cavernas do período paleolítico da pré-história e, já no período neolítico, o homem começa a trabalhar as superfícies das cerâmicas: As civilizações antigas desenvolveram o gosto pela decoração de superfícies em geral, principalmente nos utensílios domésticos, espaços arquitetônicos e artefatos têxteis. Pode-se dizer que a tecelagem e a cerâmica, assim como, posteriormente, a estamparia e a azulejaria, com sua linguagem visual, carregam o embrião do que hoje chamamos de design de superfície (RÜTHSCHILLING, 2008, p. 16).. Falando acerca da estamparia em outros períodos, Rüthschilling (2008), mostra que o homem se relaciona com as mais diversas superfícies desde a antiguidade (quadro 1) até os tempos modernos. Quadro 1 - Períodos e superfícies trabalhadas Período/ movimento Paleolítico. Mesolítico. Ano. Informações. 5.000.000 a 25.000 a.C. Registros de desenhos encontrados em cavernas. 25.000 a 10.000 a.C. Neolítico. 10.000 a 5.000 a.C. Incas, Maias e Astecas. 3.000 a.C a 1519. Movimento Artes e ofícios. Segunda metade do séc. XIX. Movimento ArtNoveau. Bauhaus. 1890. 1919. Registros definidos. de. desenhos. em. cavernas. mais. Início da preocupação com a beleza. Cerâmicas começaram a ter superfícies trabalhadas com cores e texturas. Surge a fiação (transformação de fibras em fios) Invenção e perfeição de técnicas de tecelagem são maiores que o obtido durante o mundo velho. Peru é o local onde surgiu e existiu o maior número de técnicas têxteis Grande impacto na produção de estamparia. Com influências islâmicas e asiáticas, com tradição na azulejaria e influência na cultura ocidental Integração do ensino de design com o de artes. Tinha um ateliê de tecelagem onde mulheres criavam estampas e design têxtil. Fonte: Adaptado de Rüthschilling, 2008, p. 14–20..

(37) 38. No site “Choco la Design”, a designer e ilustradora Bruna Bastos (2012) em seu artigo “O design de Superfície”, destaca alguns pontos citados no quadro acima, ressaltando a necessidade humana de expressar-se por meio de superfícies. “Das pinturas rupestres às corporais, passando por ornamentos encontrados nas armas de caça, vestimentas, utensílios domésticos e espaços arquitetônicos”. Ao se falar sobre estamparia ou design de superfície, Willian Morris é um dos nomes de maior destaque, por ser um dos pioneiros da área e conhecido mundialmente pelo movimento Artes e Ofícios, de 1851, destacando-se seus florais e formas orgânicas (RÜTHSCHILLING, 2008). Morris trabalhava com a repetição das formas com encaixes perfeitos e preocupava-se muito com a qualidade de seu trabalho. O movimento Artes e Ofícios iniciou na Inglaterra, ganhando destaque na Alemanha e, depois, em outros países. Nos Estados Unidos o termo Design de Superfície, já era bem conhecido (RUBIM, 2010). Os americanos criaram a Surface Design Association - SDA, em 1977, que possui associados de diferentes países. A SDA publica anualmente quatro revistas e quatro jornais, promove eventos como congressos bienais focados em assuntos e questões de diferentes interesses para todos os tipos de Surface Design. Assim, o Design de Superfície é um termo amplamente utilizado, como se pode constatar pelos eventos realizados no país e no exterior: o Surface Design Show, em Londres, o Design Fórum Superfícies, em São Paulo, o Salão Design de Superfície em Santa Maria-RS, entre outros. No Brasil uma referência de destaque é a designer Renata Rubim, que trouxe o termo Surface Design (Design de Superfície) para o Rio Grande do Sul. Isso ocorreu em 1980, quando retornou dos Estados Unidos (EUA) após temporada de estudos na área. Ao perceber que não havia uma nomenclatura para se referir a esses trabalhos, adotou-se o termo Design de Superfície, que ganhou espaço e começou a ser utilizado no restante do país. Freitas (2011) define a atividade de Design de Superfície: O Design de Superfície visa trabalhar a superfície, fazendo desta não apenas um suporte material de proteção e acabamento, mas conferindo à superfície uma carga comunicativa com o exterior do objeto e também o interior, capaz de transmitir informações sígnicas que podem ser percebidas.

(38) 39. por meio dos sentidos, como cores, texturas e grafismos (FREITAS, 2011, p. 17).. Se toda e qualquer superfície pode receber um projeto de design, é necessária a execução de determinadas etapas. A criação de estampas a partir da repetição de uma imagem ou de um grafismo é um processo baseado em conceitos como os de Rapport e de Módulo.. 2.2.. ESTAMPARIA. Na produção de estampas, além das diversas formas e das superfícies utilizadas como suporte de aplicação, tem-se diferentes formas de criação e representação. Um exemplo são as estampas localizadas ou corridas, em que se utiliza uma enorme variação de desenhos, podendo-se utilizar motivos figurativos, formas orgânicas ou geométricas. A matéria intitulada “Design para vestir”, escrita por Gava (2012) na Revista Computer Arts Brasil, fala que a estampa faz parte da peça que é desenhada e também sobre suas categorias: As estampas são separadas nas seguintes categorias: estampas localizadas (é a mais comum, a estampa fica no centro da camiseta) e a estampa frontal total (ela ocupa toda a modelagem), que pode ser impressa em telas ou silkscreen; a estampa rotativa, também conhecida por cilindro (é um desenho de padrão que obedece a medida específica), permite a impressão de uma área contínua de desenho; também tem a rapport, em que cada batida da tela forma uma arte com aparência uniforme; e ainda a digital, que vem ganhando força no País, e é como se fosse impresso no papel. (GAVA, 2012, p.37).. Para a confecção em estampa corrida, os trabalhos podem ser produzidos a partir de módulos de alguma imagem ou através do rapport. Antigamente, o trabalho era elaborado manualmente. Hoje, com as tecnologias disponíveis é possível o uso de softwares de edição de imagem ou mesclar técnicas manuais e digitais, em um mesmo trabalho. Segundo Gava (2012), é possível iniciar a confecção manualmente e, então, realizar a digitalização em vetor ou diretamente no computador. No artigo “O que é Rapport”, do site Metapix, escrito pelo designer Lula Rocha (2014), ele define o módulo e o rapport, os quais existem muitas definições e ainda.

(39) 40. são um pouco confusas. No artigo, o autor declara que o “rapporté um tipo especial de repetição, de um módulo com encaixes perfeitos, projetados para alcançar um resultado específico” e acrescenta: O módulo é a menor parte do padrão que contém todos os seus componentes; motivos, linhas, cores, texturas, espaços, etc. E o padrão é o resultado da repetição ordenada deste módulo. Mas no padrão com Rapport, o módulo tem mais um componente decisivo que fica sempre meio escondido: o encaixe (ROCHA, 2014).. As Figuras 16 e 17 apresentam modos de padrões criados a partir da repetição de um módulo e de um rapport para melhor compreensão e visualização das diferenças entre os dois. Onde os módulos não possuem um encaixe entretanto possui diversas maneiras de repetições. Já o rapport possui o encaixe perfeito e apenas uma possibilidade de repetição.. Figura 16 - Módulo e suas diferentes variações de repetições. Fonte: Rocha, 2014..

(40) 41. Figura 17 - Módulo com rapportrepresentando os encaixes. Fonte: Rocha, 2014.. Para a realização de um bom trabalho de superfície, requer-se domínio do designer sobre a formação de padrões. Não é apenas criar um módulo e repeti-lo, é necessário verificar se possui qualidade visual e, também, analisar qual dos padrões obterá o melhor desempenho a fim de que o resultado final forme um desenho uniforme e interessante (RINALDI, 2009). Há aplicações de estampas nas mais diversas superfícies, as mais conhecidas são a cerâmica e a têxtil. A estampa pode ser aplicada a partir da técnica de serigrafia a quadro, manual (uma das mais antigas) ou impressão digital. Nas digitais não se tem limitação para a criação de trabalhos como na serigrafia, que impõe limites como, por exemplo, o número de cores. Conforme Udale (2009) a impressão serigráfica necessita de materiais para a elaboração de um trabalho como: a arte (desenho), tintas, rodo e uma tela de seda ou poliéster. É necessário fazer o desenho em estêncil para ser colocado na tela e passar tinta pelas partes positivas, após isto colocar a tela sobre o tecido e passar a tinta com o rodo. Quando se usa mais cores necessita-se de mais telas. A serigrafia é um processo de impressão usado desde o século XVII. Atualmente, a tela é feita de poliamida ou poliéster e o estêncil substituído por emulsão fotográfica. Na impressão com transferência é necessário ter o desenho para ser impresso em um papel transfer. Quando seco é colocado sobre o tecido a ser.

(41) 42. trabalhado com o lado do corante para baixo e exposto ao calor e pressão, desta forma transferindo o desenho para o tecido. Quando se utiliza tinta sublimática o corante penetra no tecido não ficando apenas na superfície (UDALE, 2009). O uso das cores é uma das peças chave do design de superfície, na elaboração das estampas. Gava (2012) aborda na sua matéria “Aprenda a usar as cores”, publicada pela revista Computer Arts Brasil, que muitos designers usam as cores a partir de seu gosto pessoal. Sendo assim, necessita-se de estudo de combinações para ajudar o designer alcançar o ponto desejado. Saber utilizar o círculo cromático ajuda os profissionais a evitarem combinações aleatórias. Além disso, possuir conhecimentos teóricos sobre tonalidades, valores, escalas tonais, luminosidade e saturação ajudam na elaboração de composições harmônicas. Na matéria da revista on-line Zupi (2013) “Conheça mais sobre o design de estamparia”, cita-se que “na criação de desenhos para a estamparia é necessário que se entenda os estilos mais adequados para cada base e qual coloração funciona melhor para cada tipo de estampa”. Rubim (2010, p. 53) também aborda o uso das cores em seu livro “Desenhando a Superfície”, onde diz: “a cor é o elemento determinante da atração ou repulsa do objeto pelo espectador”.. 2.3.. PRINCIPAIS SUPERFÍCIES DE APLICAÇÃO DE ESTAMPAS. Antes de abordar as principais áreas para aplicação da estamparia, necessita-se pensar em alguns pontos em que o designer precisa ter conhecimento do produto e da estampa. O trecho retirado da dissertação de Schwartz (2008), que trata da relação visual com o objeto ou superfície, discorre: A percepção visual está relacionada, no caso da Superfície, aos aspectos relativos à forma, notados ou não de maneira organizada, estruturada ou ritmada. São representados graficamente através de texturas visuais que formam ou não padrões. Estes se forem definidos em relação a um objeto, poderão contribuir para caracterizar a aparência do mesmo. (SCHWARTZ, 2008, p. 56)..

(42) 43. Outros pontos também devem ser entendidos para que as superfícies sejam projetadas de forma correta. Segundo Bastos (2012), é preciso se ter conhecimento sobre os processos produtivos, tendências e mercado, e também, coloca como sendo as três principais superfícies que dão suportes à estamparia: a têxtil, a papelaria e a cerâmica. Van Camp (1998) coloca que, na área do setor têxtil, os profissionais tratam da criação de estruturas gráficas bidimensionais em superfícies e texturas diversas de acordo com as tendências da moda e da decoração. Rüthschilling (2008) discorre que o setor de tecidos é o maior mercado para aplicação de design de superfície e de suas diferentes técnicas. Na área têxtil, os estampados podem ser utilizados em diferentes e combinadas situações, atuando, principalmente, no vestuário, em acessórios e na decoração. No setor da papelaria, o design de superfície atua criando trabalhos para papeis de parede, embrulhos, embalagens, produtos descartáveis, entre outros. O setor da cerâmica é outra grande área de atuação com a criação de trabalhos com a finalidade de revestimentos de parede ou pisos, peças decorativas. Ambos os setores podem atuar em diversos ambientes, em especial na decoração de interiores. As superfícies mais conhecidas no mercado para aplicação da estamparia são: cerâmica (Figura 18), papelaria (Figura 19) e têxtil (Figura 20). Hoje, as possibilidades são infinitas podendo ser aplicadas em diversos suportes materiais.. Figura 18 - Cerâmica Portinari, coleção: Coimbra Dec4. Fonte: Portinari, 2014..

(43) 44. Figura 19 - Wagner Campelo, papel de Parede Samba/ Alluminare. Fonte: Campelo, 2014.. Figura 20 - Estampa da Coleção Astecas, da Farm. Fonte: Farm, 2014..

(44) 45. As aplicações mais conhecidas nessas superfícies são por serigrafia a quadro ou pela impressão digital, variam nos materiais utilizados e nas artes aplicadas, tendo-se que analisar qual se encaixa melhor para cada um. Para a realização de superfícies diversas, necessita-se ter conhecimento, estar atualizado sobre novas tecnologias e novidades da área. Realizar trabalhos inovadores, conhecer o mercado, os processos de produção, os materiais (CALDERÓN, 2010), pois quaisquer umas dessas superfícies estão avançando com as tecnologias e exigindo do mercado de trabalho, profissionais mais capacitados e criativos..

(45) Capítulo 3. DECORAÇÃO, TÊXTEIS E TECIDOS AFRICANOS. Neste capitulo abordam-se três assuntos: têxteis, tecidos africanos e decoração de ambientes residenciais, tendo como objetivo mostrar as estruturas dos tecidos, os tipos de materiais utilizados, os tecidos africanos mais conhecidos e, com relação à decoração, mostrar como se iniciou a decoração dos ambientes residenciais diferenciando dos funcionais. Os assuntos aqui relacionados separadamente podem parecer distintos ao primeiro olhar, mas Edwards (2012) destaca em seu livro a importância do uso dos tecidos na decoração: Assim como os tecidos para vestuário, os tecidos para decoração têm uma história longa e complexa. Tal qual a roupa, a roupa pode ser modesta, extravagante ou um meio-termo. Qualquer que seja o seu uso, ela apresentará um padrão. Tecidos para a decoração são confeccionados com todo o tipo de desenho (EDWARDS, 2012. p.34).. Tecidos são elementos muito usados em decoração de ambientes e pretendese discorrer sobre as origens, tendências e profissionais que atuam neste mercado.. 3.1.. TÊXTEIS A produção dos primeiros tecidos tramados iniciou na antiguidade com a. manipulação de materiais com os dedos. Os humanos faziam abrigos com o que a natureza proporcionava, utilizando galhos e tramas para proteção. A partir disso, começou a utilizar como proteção individual (PEZZOLO, 2007). Assim sendo, a arte de tecer é considerada uma das artes mais antigas do mundo..

(46) 47. Com esta manipulação manual, iniciou-se a arte da cestaria, e com a sua evolução surgiram os primeiros tecidos. O homem evoluiu e buscou novos modos de entrelaçar as tramas, criando novos padrões, desenhos e com esse trabalho novas texturas foram sendo descobertas com o uso de materiais diversos. Historicamente as primeiras fibras têxteis cultivadas pelo homem são de origem vegetal, o linho e o algodão; as de origem animal foram a lã e a seda. Hoje tais fibras são conhecidas como matérias-primas naturais (PEZZOLO,2007). Além dos tecidos que fazem parte do grupo classificados como naturais, temos os tecidos do grupo dos químicos, que são subdivididos em artificiais e sintéticos (CHATAIGNIER, 2006). As primeiras fibras químicas foram produzidas em 1885 com o objetivo de melhorar as propriedades e características das fibras naturais. Sendo que os dois principais motivos para sua confecção são: o menor tempo de produção (rapidez) e o menor custo para a população. Assim as fibras químicas se tornaram uma necessidade (PEZZOLO, 2007). Atualmente, tanto na produção de fibras naturais como nas químicas, procurase sempre o aprimoramento dos seus produtos finais. Nas de origem vegetal tem-se o cuidado desde o cultivo da planta até a colheita para que o processo de fiação seja de qualidade, como também nas de origem animal é exigido muito cuidado com os animais que vão produzir a lã ou a seda, por exemplo, pois a produção dos fios depende da qualidade da matéria-prima. E nas fibras químicas, sejam elas artificiais ou sintéticas, os laboratórios realizam constantes pesquisas para aprimoramentos técnicos, com o objetivo de produzir fibras químicas de qualidade com o intuito de chegarem mais próximo dos tecidos naturais e suprir as exigências do mercado, que dos dias de hoje não se restringem apenas à moda e à decoração, mas em outras áreas técnicas como por exemplos, medicina, aeroespacial, agricultura, esporte. (PEZZOLO, 2007). Do trabalho artesanal dos tempos antigos até a industrialização foi percorrido um longo caminho e a principal ferramenta foi o tear. O seu funcionamento é simples, consiste no trabalho de entrelaçar dois conjuntos de fios, sendo um longitudinal e o outro transversal (PEZZOLO, 2007). A evolução do tear manual, para o modelo a vapor e, depois, para os mecanizados, manteve o princípio básico das tramas e tecelagem. Sobre o assunto, Pezzolo (2007, p. 22) acrescenta: “indústrias informatizadas e matéria-prima.

(47) 48. diversificada e preparada segundo alta tecnologia permite que o universo dos tecidos seja ampliado de maneira inimaginável”. Na produção de tecidos existe uma grande variedade de formas de se entrelaçar as fibras, sendo o que os identifica. Pezzolo coloca que: As variedades de tecidos são extremamente numerosas. Seus nomes correspondem, a princípio, à natureza da fibra têxtil utilizada (lã, seda, viscose, poliéster...) e ao tipo de tecelagem, isto é, do ligamento (sistema de entrelaçamento dos fios do urdume e da trama). (PEZZOLO, 2007, p.22).. A estrutura ou o padrão de um tecido é realizado conforme a maneira de tecer sua estrutura básica, que são as maneiras de entrelaçar os fios do urdume com os da trama. Existem várias formas de tecer, porém apenas três formas de ligamento de cruzamento dos fios tramas com os de urdume, ou seja: tafetá, sarja e cetim. Conforme informações de Pezzolo (2007) os tecidos podem ser classificados quanto a sua formação em: plano, malha, de laçada, especiais. O tecido plano tem o seu entrelaçamento como sua principal característica podendo ser: liso (aspecto uniforme), maquinetado (aspecto fantasioso), jacquard (efeito decorativo) e estampado (na fase de acabamento tem aplicação de cores e desenhos). Já o tecido de malha é resultado do entrelaçamento de lançadas de um ou mais fios, como: malha de trama, malha de teia e malha mista (exemplo: tricô). O tecido de laçada usa o processo da malha com a tecelagem comum, são exemplos: rendas, cobertores. Os tecidos especiais podem ter estrutura mista de tecidos comuns, malhas; nesta classificação também aparecem os não-tecidos que são feitos sem o uso de tear, obtidos com elementos fibrosos compactados em folha única por meio mecânico, físico ou químico, tem-se como exemplos: laminado, emborrachado, feltro, lenço para higiene e toalha para limpeza.. 3.2.. TECIDOS AFRICANOS A África possui grande acervo de técnicas em estamparia têxtil artesanal, pois. são muitos processos criados há milhares de anos, os quais, preservados, foram assimilados por muitos povos (DE - ÁFRICA, 2015)..

(48) 49. As variedades de materiais e cores dos tecidos africanos desempenham um forte papel dentro das sociedades, que vai além do uso no vestuário. Os trajes típicos são símbolos da prosperidade, onde a qualidade, tamanho e ornamentação dos tecidos usados nas vestimentas indicam a classe social do usuário. Também são empregados em rituais, onde as pessoas se cobrem da cabeça aos pés, sendo que os tecidos têm grande importância e são indispensáveis (PEZZOLO, 2007). A África do Norte, após ser conquistada pelos árabes, no ano de 670, foi influenciada com o surgimento de tecidos e roupas de várias origens, como do Oriente, Ásia e Europa. No século X as túnicas, turbantes e tecidos de seda já haviam conquistado os soberanos e suas cortes (PEZZOLO, 2007). Os povos dos países da África Negra fazem uso de fibras de origem animal, como a seda e a lã, porém as de origem vegetal são amplamente utilizadas, sendo que as fibras mais antigas eram feitas com cascas de diferentes árvores. Também são utilizadas na arte africana de tecer “diferentes espécies de algodão; fibras provenientes de folhas, como as da palmeira ráfia; plantas menores, como ananás e de outros vegetais que se assemelham com o linho, como certas espécies de hibiscos” (PEZZOLO, 2007, p. 237). Nas tecelagens africanas são utilizados dois tipos de teares: o tear vertical e o horizontal. O tear vertical é fixo e de fácil montagem, ficando erguido em uma parede ou é dependurado no telhado das casas. Manuseado pelos homens é usado para trabalhos com ráfia, elaborando tecidos com até 50 cm de largura.. Já o tear. horizontal é portátil, movido na maioria das vezes por um pedal e também é usado pelos homens. Neste são confeccionadas faixas estreitas de algodão (entre 2 e 20cm de largura) que depois são unidos pelas laterais, criando mantas e tecidos. “Esta técnica oferece infinita variedade de escala e composições” (PEZZOLO, 2007, p. 239).. 3.2.1.. Tecido Kenté Os tecidos que são conhecidos como Kenté (Figura 21), muito utilizados pelos. povos Ashanti e Ewé são confeccionados com a técnica de unir faixas. São faixas de.

(49) 50. algodão e seda, tecidas em teares portáteis, realizadas exclusivamente pelos homens que, após cortadas e costuradas, são usadas para roupas de homens e mulheres (PEZZOLO, 2007). Estes tecidos são muito solicitados pela realeza e para cerimoniais. As cores e padrões utilizados são ousados e com forte simbolismo e, além dos fios tradicionais, atualmente também são confeccionados em raiom e viscose (CLARKE, 2011).. Figura 21 - Tecidos Kenté, etnias Ashanti e Ewé, Gana e Togo. Fonte: Pezzolo, 2007.. 3.2.2.. Tecido Tramado Os tecidos com desenhos tramados são obtidos através da manipulação dos. fios durante a tecelagem, onde é realizado um simples jogo com os fios do urdume que permite a realização de padrões geométricos ou figurativos. Esta técnica é muito explorada por soberanos em países como em Gana e é sempre elaborada pelos homens. E com o uso de fios de algodão ou de seda de diversas cores, mesmo num simples desenho, possibilita até a identificação do fabricante ou até de quem o está usando (PEZZOLO, 2007)..

Referências

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