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Produção do espaço na cidade de Indaiatuba (SP) : análise do processo de valorização da terra urbana no período de 2000 a 2017

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Academic year: 2021

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Universidade Estadual de Campinas Instituto de Geociências

LETÍCIA DE SOUSA ARAUJO

PRODUÇÃO DO ESPAÇO NA CIDADE DE INDAIATUBA (SP): ANÁLISE DO PROCESSO DE VALORIZAÇÃO DA TERRA URBANA NO PERÍODO DE 2000 A

2017

CAMPINAS 2019

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LETÍCIA DE SOUSA ARAUJO

PRODUÇÃO DO ESPAÇO NA CIDADE DE INDAIATUBA (SP): ANÁLISE DO PROCESSO DE VALORIZAÇÃO DA TERRA URBANA NO PERÍODO DE 2000 A

2017

DISSERTAÇÃO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

Orientador: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL

DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA

LETÍCIA DE SOUSA ARAUJO E ORIENTADA PELO PROF. DR. LINDON FONSECA MATIAS

CAMPINAS 2019

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Marta dos Santos - CRB 8/5892

Araújo, Letícia de Sousa,

Ar15p AraProdução do espaço na cidade de Indaiatuba (SP) : análise do processo de valorização da terra urbana no período de 2000 a 2017 / Letícia de Sousa Araújo. – Campinas, SP : [s.n.], 2019.

AraOrientador: Lindon Fonseca Matias.

AraDissertação (mestrado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Geociências.

Ara1. Valor (Economia). 2. Urbanização. 3. Geoprocessamento. 4. Terra – Uso. 5. Indaiatuba (SP). I. Matias, Lindon Fonseca, 1965-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Geociências. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: The production of space in the city of Indaiatuba (SP) : analysis of

the urban land valuation process in the period from 2000 to 2017

Palavras-chave em inglês: Value Urbanization Geoprocessing Land use Indaiatuba (SP)

Área de concentração: Análise Ambiental e Dinâmica Territorial Titulação: Mestra em Geografia

Banca examinadora:

Lindon Fonseca Matias [Orientador] Edson do Nascimento

Maria Cristina da Silva Schicchi

Data de defesa: 31-07-2019

Programa de Pós-Graduação: Geografia

Identificação e informações acadêmicas do(a) aluno(a) - ORCID do autor: https://orcid.org/0000-0002-1741-0677 - Currículo Lattes do autor: http://lattes.cnpq.br/2215680965095927

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AUTORA: Letícia de Sousa Araujo

PRODUÇÃO DO ESPAÇO NA CIDADE DE INDAIATUBA (SP): ANÁLISE DO PROCESSO DE VALORIZAÇÃO DA TERRA URBANA NO PERÍODO DE 2000 A

2017

ORIENTADOR: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias

Aprovado em: 31 / 07 / 2019

EXAMINADORES:

Profa. Dra. Lindon Fonseca Matias - Presidente Prof. Dr. Ederson do Nascimento

Profa. Dra. Maria Cristina da Silva Schicchi

A Ata de defesa com as respectivas assinaturas dos membros, encontra-se disponível no SIGA - Sistema de Fluxo de Dissertação e na Secretaria de Pós-graduação do IG.

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Agradecimentos

Agradeço em primeiro lugar aos meus pais, que sempre me apoiaram nas minhas escolhas e deram suporte para que eu pudesse realizar este trabalho. Agradeço, em especial, à minha mãe, que é uma mãe maravilhosa, que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos e nunca me deixou desistir.

Agradeço ao meu namorado, Robert, que me ajudou a construir esse trabalho e também escutou com paciência meus desabafos, celebrou comigo as conquistas e sempre me deu apoio.

Agradeço aos amigos da pós-graduação e do grupo GeoGet. Em especial agradeço ao Charles e a Letícia, amigos desde a graduação que compartilharam os mesmos anseios e as mesmas alegrias dessa jornada.

Agradeço igualmente ao Profº Dr. Lindon Fonseca Matias pela orientação e por tudo o que me ensinou durante todos os anos que trabalhamos juntos. Foram anos privilegiados que contribuíram imensamente na minha formação enquanto geógrafa.

Agradeço ao Profº Dr. Lauro Luiz Francisco Filho (FEC/UNICAMP) e ao Profº Dr. Vicente Eudes Lemos Alves (IG/UNICAMP), ao Profº Dr. Ederson do Nascimento (UFFS) e a Profª Maria Cristina da Silva Schicchi (PUC-Campinas) pela participação, respectivamente, na banca do Exame de Qualificação e na banca de Defesa da Dissertação e por suas sábias contribuições ao trabalho.

O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001 -. Agradeço pela concessão de bolsa de mestrado correspondente ao período de março de 2018 a fevereiro de 2019, que possibilitou dedicação exclusiva para as atividades relacionadas à pesquisa durante boa parte do mestrado.

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“[…] For long you'll live and high you'll fly And smiles you'll give and tears you'll cry And all you touch and all you see Is all your life will ever be

Run, rabbit run Dig that hole, forget the sun And when at last the work is done Don't sit down it's time to dig another one

[…]” Pink Floyd - Breathe

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RESUMO

O espaço urbano do município de Indaiatuba (SP) tem se transformado ao longo das últimas décadas, uma vez que é intrínseco da produção e reprodução do espaço urbano o seu dinamismo. Além das transformações do uso da terra, vem chamando atenção o ritmo em que estas vem ocorrendo, bem como as práticas espaciais adotadas nos últimos anos. A partir do final da década de 1970, com a instalação crescente de indústrias, fruto da desconcentração industrial da Região Metropolitana de São Paulo, o processo de urbanização se intensifica e consequentemente sua área urbanizada se expande. Essa área urbanizada, ocupada de maneira desigual, cenário de conflitos de interesses entre agentes produtores do espaço urbano, como resultado apresenta diferentes valores de uso e de troca da terra urbana. Com fundamento nessas premissas, o objetivo principal deste trabalho é analisar a diferenciação espacial do uso residencial indaiatubano, com ênfase no período do ano 2000 ao ano de 2017, interpretando-o a partir da Teoria do Valor Trabalho, principalmente no que diz respeito ao valor de troca e do valor de uso. Para tanto, a metodologia utilizada compôs-se de revisão bibliográfica referente ao suporte teórico escolhido, pesquisa de documentos em órgãos públicos, trabalhos de campo para conhecimento do objeto de estudo de forma empírica, além da utilização de tecnologias de geoprocessamento para processamento de dados, que possibilitou análises quantitativas, bem como para elaboração de mapas temáticos. O resultado da pesquisa sobre o tema abordado indica um processo de segregação socioespacial que vem se intensificando com os inúmeros loteamentos fechados e condomínios horizontais que se instalaram no município e a especulação imobiliária associada ao discurso de qualidade de vida da cidade como um todo. Dessa forma, o processo de valorização do espaço tem se intensificado e acentuado as diferenças de valor da terra do espaço intraurbano. Ademais, identifica-se um movimento no qual o valor de troca toma maior importância no processo de produção do espaço urbano em detrimento do valor de uso.

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ABSTRACT

The urban space of the municipality of Indaiatuba (SP) has been transformed during the last decades, since it is intrinsic that the production and reproduction of urban space is a dynamic process. Besides the transformations of land use, the rhythm in which they are happening are highlighted, as well as the spatial practices adopted in recent years. Since the late 1970s, with growing installation of industries, result of the industrial deconcentration of the Metropolitan Region of São Paulo, the urbanization process intensifies and consequently its urbanized area expands. This urbanized area, occupied in an unequal way, scenario of conflicts of interest between agents that produces the urban space, as a result presents different use values and exchange values of urban land. Based on these assumptions, the main objective of this work is to analyze the spacial differentiation of the indaiatubano residencial use, with emphasis on the period from the year 2000 to the year 2017, interpreting it from the Labor Theory of Value, mainly with respect to the exchange value and use value. In order to do so, the methodology used consisted of a bibliographical review of selected theoretical support, the research of documents in public organs, the fieldwork to the empirical knowledge of the study object, besides the use of geoprocessing technologies for processing data, as well as the elaboration of thematic maps. The result of the research on the subject addressed indicates a process of socio-spatial segregation that has been intensifying with numberless horizontal condominiums and closed estates that were installed in the municipality and the real estate specification associated with the quality of life discourse of the city as a whole. In this way, the process of valorization of space has been intensified and has accentuated the differences in the value of land in the intraurban space. Also, identify whether a movement in which is given more importance to the exchange value in the production of space than the value of use.

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Índice de tabelas

Tabela 1. População total do município de Indaiatuba (SP) nos anos 1830, 1972, 1920, 1940,

1950 e 1960 ... 72

Tabela 2. Área urbanizada do município de Indaiatuba (SP) em km² até 1972 ... 73

Tabela 3. População Total de Indaiatuba, Campinas e da RMC (1970-2017) ... 77

Tabela 4. Taxa Geométrica de Crescimento Anual da População (em % a.a.) de Indaiatuba, Campinas e da RMC ... 77

Tabela 5. Evolução nos saldos migratórios e participação relativa no crescimento absoluto da população (%) de 1970 a 1996 – Indaiatuba, Campinas e RMC ... 79

Tabela 6. Quantidade de loteamentos abertos e fechados aprovados de 1980 a 2017 no município de Indaiatuba (SP) ... 83

Tabela 7. Área urbanizada no município de Indaiatuba (SP) entre 2000 e 2017 ... 90

Tabela 8. Uso e ocupação da terra no município de Indaiatuba (SP) em 2017 ... 93

Tabela 9. Uso e ocupação da terra intraurbano no município de Indaiatuba (SP) em 2017... 93

Tabela 10. Detalhamento do uso residencial no município de Indaiatuba (SP) em 2017 ... 95

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Índice de quadros

Quadro 1. Principais características dos loteamentos fechados e condomínios horizontais .... 36 Quadro 2. Jornais e edições utilizadas como fonte de dados... 51 Quadro 3. Quantidade total de anúncios registrados mensalmente (2017) ... 52 Quadro 4. Zonas Residenciais Homogêneas (ZRH), descrição de texturas associadas ao poder aquisitivo muito alto em Indaiatuba (SP) ... 55 Quadro 5. Zonas Residenciais Homogêneas (ZRH), descrição de texturas associadas ao poder aquisitivo alto em Indaiatuba (SP)... 56 Quadro 6. Zonas Residenciais Homogêneas (ZRH), descrição de texturas associadas ao poder aquisitivo médio em Indaiatuba (SP)... 59 Quadro 7. Zonas Residenciais Homogêneas (ZRH), descrição de texturas associadas ao poder aquisitivo baixo em Indaiatuba (SP) ... 63 Quadro 8. Zonas Residenciais Homogêneas (ZRH), descrição da textura loteamento em fase de arruamento em Indaiatuba (SP) ... 64 Quadro 9. Valores amostrais de m² de acordo com a pesquisa de preços praticados no

mercado imobiliário em 2017 ... 99 Quadro 10. Valores médios do m² de terra urbana em alguns loteamentos do município de Indaiatuba em 2017 ... 104

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Índice de figuras

Figura 1. Fluxograma dos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa ... 47

Figura 2. Parte da PGV do município de Indaiatuba (SP) ... 48

Figura 3. Print Screen do software ArcGIS 10.6 com imagens da PGV georreferenciadas e limite do município ... 49

Figura 4. Print Screen de editor de planilhas com dados sobre imóveis ... 52

Figura 5. Igreja Nossa Senhora da Candelária ... 68

Figura 6. Aerofoto oblíqua do núcleo urbano de Indaiatuba 1939/1940 ... 70

Figura 7. Área urbanizada do município de Indaiatuba (SP) até 1972 ... 73

Figura 8. Vetores de expansão contemporâneo do município de Indaiatuba (SP) ... 78

Figura 9. Placa informativa do Parque Ecológico: a placa mostra a parte consolidada do parque ... 80

Figura 10. Fotografias das áreas de lazer do Parque Ecológico de Indaiatuba ... 82

Figura 11. Parque do Mirim ... 85

Figura 12. Loteamentos Fechados nas proximidades do Parque do Mirim ... 86

Figura 13. Portal Eletrônico do loteamento fechado Reserva Petrus em Indaiatuba (SP) ... 86

Figura 14. Localização do município de Indaiatuba (SP) ... 88

Figura 15. Vista de área de expansão urbana do município ... 90

Figura 16. Área urbanizada no município de Indaiatuba (SP) entre 2000 e 2017 ... 91

Figura 17. Uso e ocupação da terra intraurbana do município de Indaiatuba (2017)... 94

Figura 18. Outdoor na margem do Parque Ecológico apontando a colocação do município de Indaiatuba no Atlas da Violência 2019 ... 95

Figura 19. Preço médio (em reais) do m2 de terra urbana no município de Indaiatuba (SP) no ano 2000 ... 97

Figura 20. Preço médio (em reais) do m2 de terra urbana no município de Indaiatuba (SP) de acordo com pesquisa de preços praticados no mercado imobiliário no ano de 2017 ... 103

Figura 21. Preço médio (em reais) do m2 de terra urbana no município de Indaiatuba (SP) segundo a Revista Exame (2018) ... 105

Figura 22. Zonas Residenciais Homogêneas (ZRH) no município de Indaiatuba (SP) ... 107

Figura 23. Portarias loteamento Lagos de Shanadu ... 108

Figura 24. Poder aquisitivo referentes às ZRH no município de Indaiatuba (SP) ... 110

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Figura 26. Apartamentos de projeto habitacional popular no Parque Campo Bonito ... 113 Figura 27. Exemplo de loteamentos na porção sudoeste do município de Indaiatuba (SP) ... 114 Figura 28. Panfletos de loteamentos fechados localizados ao noroeste no município de

Indaiatuba (SP) ... 115 Figura 29. Panfletos de loteamentos abertos localizados ao sudoeste no município de

Indaiatuba (SP) ... 116 Figura 30. Outdoor de propaganda de loteamentos abertos localizados ao sudoeste do

município de Indaiatuba (SP) ... 117 Figura 31. Plano de circulação viário do município de Indaiatuba (SP), com destaque para o traçado do anel viário em azul ... 117

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Apêndice

Apêndice 1. Imagem Landsat 5 do município de Indaiatuba (SP) ano de 2000 ... 128

Apêndice 2. Imagem Landsat 5 do município de Indaiatuba (SP) ano de 2005 ... 129

Apêndice 3. Ortofoto do município de Indaiatuba (SP) ano de 2010 ... 130

Apêndice 4. Imagem Sentinel-2 do município de Indaiatuba (SP) ano de 2017 ... 131

Apêndice 5. Loteamentos residenciais abertos no município de Indaiatuba (SP) atualizada em agosto de 2018 ... 132

Apêndice 6. Loteamentos Fechados no município de Indaiatuba (SP) atualizada em agosto de 2018 ... 135

Apêndice 7. Lista de Condomínios Horizontais no município de Indaiatuba (SP) atualizada em 2018 ... 139

Apêndice 8. Uso e ocupação da terra do município de Indaiatuba em 2017 ... 140

Apêndice 9. Tabela do uso da terra geral (uso intraurbano e rural) no município de Indaiatuba ... 141

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...16

2. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: VALOR DE USO E VALOR DE TROCA...18

2.1 Teoria do Valor-Trabalho como forma de interpretação do processo de produção e valorização do espaço urbano...………...18

2.2 A natureza social e histórica da cidade, espaço urbano e o direito à cidade ….……...….26

3. ESPAÇOS RESIDENCIAIS FECHADOS: O VALOR DE TROCA PREPONDERANTE AO VALOR DE USO...34

3.1 Instância jurídica...34

3.2 Uma nova prática espacial: reflexões...39

4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...46

5. RESGATE HISTÓRICO E PROCESSO DE URBANIZAÇÃO INDAIATUBANO...67

5.1 A origem: o bairro rural de Itu no caminho dos tropeiros...67

5.2 Século XX: a economia agrícola e início da urbanização...69

5.3 Boom industrial: indústrias e a expansão urbana...74

5.4 Vetores de expansão urbana contemporâneos...77

5.5 Características gerais do município de Indaiatuba (SP) na atualidade ...87

6. PRÁTICAS ESPACIAIS E CONSTITUIÇÃO DO VALOR DA TERRA URBANA NO TERRITÓRIO INDAIATUBANO ...…..…………...90

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS………...………119

8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………...…………...121

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1. Introdução

Nas últimas décadas, o município de Indaiatuba (SP), localizado na Região Metropolitana de Campinas (RMC), vem se destacando pela transformação nas formas de produção de seu espaço urbano, formas estas que não são singulares, porém se conformam de maneira particular em seu território.

Seu rápido crescimento populacional alcançou, nas últimas décadas, taxas médias de crescimento acima das taxas de Campinas, principal município da RMC. Esse crescimento é associado com o processo de industrialização e urbanização, tal qual ocorreu em grande parte das cidades brasileiras a partir da metade do século XX. Destaca-se que para o município a industrialização se tornou um dos norteadores da expansão urbana. Assim, decorrente desses fatores a demanda por moradia passa a ser cada vez maior.

Atualmente, os loteamentos fechados e condomínios horizontais, sobretudo de alto padrão, são elementos importantes das práticas espaciais que vêm ocorrendo no município, uma vez que contribuem para a valorização das terras no mercado, colaborando para um cenário de especulação imobiliária.

Por conseguinte, configura-se um padrão de uso e ocupação da terra que não ocorre de maneira igualitária, devido aos conflitos de interesses dos agentes produtores do espaço urbano, gerando grandes diferenças no valor da terra urbana, que se traduzem em seu preço, fato que implica diretamente no acesso à moradia.

Dessa forma, o texto a seguir almeja contribuir para a elucidação do processo de valorização da terra urbana no município, buscando diagnosticar como vem ocorrendo esse processo, bem como as consequências em seu território, na busca de contribuir para o melhor conhecimento da situação da produção do espaço urbano do município e auxiliar para um melhor planejamento territorial e gestão urbana.

Conforme o exposto, a presente pesquisa encontra-se estruturada de maneira que dois capítulos referem-se a síntese da bibliografia fundamental para o trabalho. No primeiro deles – A produção do espaço urbano: valor de uso e valor de troca -, são apresentadas teorias e conceitos sobre a produção do espaço urbano, bem como a Teoria do Valor-Trabalho como busca de explicação da constituição do valor da terra urbana. No capítulo a seguir – Espaços residenciais fechados: o valor de troca preponderante ao valor de uso - é exposto

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sobre a instância jurídica que envolve os loteamentos fechados e condomínios horizontais e também as reflexões sobre essa forma de produção do espaço urbano.

O capítulo seguinte – Procedimentos metodológicos - trata dos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa em detalhe. Após este capítulo, o próximo – Resgate histórico e processo de urbanização indaiatubano - referem-se especificamente ao município de Indaiatuba, uma vez que se entende que é fundamental seu entendimento para compreensão em conjunto com a fundamentação teórica. Dessa forma, apresenta a conformação histórico-geográfica indaiatubana e de seu processo de urbanização recente e por fim, as características gerais do município no que tange ao período mais recente, enquadrando-a no contexto da RMC.

No capítulo Práticas espaciais e constituição do valor da terra urbana no território indaiatubano serão apresentados os resultados quantitativos e qualitativos do período delimitado pela pesquisa. Busca-se relacionar as práticas espaciais adotadas com a transformação e constituição do valor da terra urbana, que se revela em seu preço.

Por fim, no capítulo Considerações finais são expostas algumas conclusões elucidadas pelo processo de pesquisa, principalmente para o recorte espacial escolhido, e da mesma forma transpondo-as para as interpretação da realidade brasileira.

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2. A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: VALOR DE USO E VALOR DE TROCA

Nos tópicos seguintes busca-se elucidar a fundamentação teórica da Teoria do Valor-Trabalho, de Karl Marx, para o entendimento da concepção, aqui adotada, de que a terra urbana possui valor e que, no processo de produção do espaço urbano, este valor é socialmente produzido pelo trabalho humano. Também, busca-se a compreensão da cidade e do espaço urbano enquanto processo histórico, expor algumas questões referentes ao urbano, e, por fim, expor a problemática que permeia a realidade urbana que é o direito à cidade.

2.1 Teoria do Valor-Trabalho como forma de interpretação do processo de produção e valorização do espaço urbano

A Teoria do Valor é uma concepção teórica da Ciência Econômica clássica que durante os anos obteve diversas contribuições e se transformou ao longo da História do Pensamento Econômico, tanto para ajustar sua fundamentação, bem como para que sua aplicação fosse possível em cenários diversos. Dessa maneira, a Teoria do Valor-Trabalho, de Karl Marx, que será aqui utilizada, é posterior as ideias de autores como David Ricardo e Adam Smith, autores que tratam a análise do valor de uso e valor de troca com algumas diferenças do autor escolhido.

Um dos diferenciais de Marx é a abordagem do valor de uso e do valor de troca como uma relação dialética. Para Marx, o valor de uso está diretamente relacionado à sua utilidade e só se realiza no consumo (MARX, 2013 [1867]). É associada com as propriedades das matérias, ou seja, de suas qualidades físico-químicas, e estas em conjunto com sua utilidade social – que varia no decorrer da história; os valores de uso podem ser criados exclusivamente pela natureza (utilidade não mediada pelo trabalho) ou podem ser produtos do trabalho concreto (modificação da natureza) (FERREIRA, 1992). O valor de troca aparece inicialmente como a relação quantitativa, a proporção na qual valores de uso de um tipo são trocados por valores de uso de outro tipo; é uma relação que se altera constantemente no tempo e no espaço (MARX, 2013 [1867]).

Destaca-se que o trabalho concreto é uma atividade orientada segundo um objetivo pretendido, o objeto a ser modificado e o modo, e também pela técnica a ser utilizada para obter esta transformação (o que implica nos instrumentos de trabalho e o grau de

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desenvolvimento da tecnologia de produção); assim, resultados diversos, ou seja, valores de uso diversos, são produtos de atividades também diversificadas (FERREIRA, 1992).

Para dar seguimento ao entendimento da questão valor de uso/valor de troca é necessária a compreensão de que, para Marx, o valor assume formas: mercadoria, dinheiro e capital. Nesse trabalho destaca-se a categoria mercadoria, uma vez que a terra urbana se apresenta como uma mercadoria. De acordo com Marx (2013 [1867]), as mercadorias vêm ao mundo na forma de valores de uso, porém só são mercadorias porque são algo duplo, objetos úteis e, ao mesmo tempo, suportes de valor. É necessário frisar que todas as mercadorias são não-valores de uso para seus possuidores e valores de uso para seus não-possuidores, portanto, elas precisam universalmente mudar de mãos, essa mudança de mãos constitui-se na troca.

As mercadorias são valores de uso criados pelo homem, são as formas mais simples de valor e já existiam na antiguidade, mas somente na sociedade capitalista se tornam a forma elementar de riqueza, e isto só foi possível quando a força de trabalho se tornou mercadoria (valores de uso criados pela natureza sem trabalho humano não são mercadorias) (FERREIRA, 1992). Na forma mercadoria está contida a distinção entre forma natural – valor de uso – e objetividade social – valor de troca (FERREIRA, 1992).

O homem sempre cria valores de uso; eles são necessários à sua existência e o homem não encontra na natureza tudo aquilo que o satisfaz, seja espiritual ou materialmente. Valores de uso são coisas que por suas propriedades satisfazem as necessidades humanas de algum tipo, este é um dos fatores da mercadoria [...] (FERREIRA, 1992, p. 43)

Na troca, valores de uso – originados pelas matérias naturais e trabalhos concretos – de espécies diversas são igualadas qualitativamente, variando apenas a proporção em que se trocam, contudo, suas diferenças são abstraídas e as mercadorias são reduzidas a uma essência comum que elas expressam, fazendo com que como resultado, o valor apareça para possibilitar a troca. Essa abstração é a redução das coisas em cristalização de trabalho humano, ou seja, é o trabalho humano abstrato (FERREIRA, 1992).

A dupla característica da mercadoria – valor de uso e valor – existe também no trabalho concreto na mercadoria. O valor das mercadorias é a essência comum a todas elas, cuja substância é indistinta; nesse caso, não há diferença qualitativa, todas as mercadorias representam trabalho humano cristalizado e diferem entre si apenas pela quantidade de trabalho abstrato necessário à sua produção. Por outro lado, formas diferentes de trabalho, ou seja, trabalhos concretos diversos entre si, criam diferentes valores de uso. (FERREIRA, 1992, p. 53)

A diferença entre o trabalho concreto e o trabalho abstrato é que o trabalho concreto está associado a uma forma produtiva. Assim, abstraídos os valores de uso das

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mercadorias, resta somente a qualidade, possuída por todas, que são produtos do trabalho humano, entretanto, a forma concreta do trabalho não importa mais, e chega-se, portanto, ao trabalho humano abstrato que é o trabalho dos homens, enquanto dispêndio de força de trabalho, independente da forma concreta pela qual a força foi despendida (FERREIRA, 1992).

A substância do valor é, portanto, o trabalho abstrato, e a medida do valor é o tempo de trabalho abstrato necessário a produção de cada mercadoria. A grandeza do valor de uma dada mercadoria é medida, então, pela quantidade de trabalho social – trabalho abstrato – necessário à sua produção. (FERREIRA, 1992, p.54)

O trabalho abstrato iguala trabalhos concretos diversos, nele as diferenças individuais são abstraídas e, assim, surge uma média social, que é o tempo. A medida do valor é o tempo despendido de trabalho abstrato, que é uma medida socialmente determinada, dessa maneira o tempo de trabalho necessário à produção de uma espécie de mercadoria, determina seu valor (FERREIRA, 1992).

Valor é, portanto, a essência puramente social da mercadoria. O valor da mercadoria não está contido nas características naturais da mercadoria, o valor da mercadoria provém de sua origem ontológica objetiva, a equivalência entre os trabalhos dos homens, e sua realização é também puramente social: a realização do valor se dá na expressão da mercadoria como valor de troca. (FERREIRA, 1992, p. 57)

Segundo Mattei (2003), o duplo caráter do trabalho é o ponto central que diferencia a teoria de Marx da de Smith e Ricardo (consideravam o trabalho como uma unidade física imediata), uma vez que, como explicado, para aquele o trabalho humano que assume valor de troca nas sociedades capitalistas é um trabalho social igualado, porém não como um dado natural, mas como resultado histórico advindo das relações sociais de produção. Dessa forma, Marx chega ao conceito de trabalho abstrato, fazendo as mediações teóricas entre o trabalho humano, como fator natural da produção, e o trabalho na sua forma histórica, como produto e elemento do capital.

Esse é outro diferencial da análise marxista, como Mattei (2003) aponta, o conceito clássico do valor-trabalho sofre uma reformulação definitiva, pois o autor mostra o equívoco dos precursores ao desvendar que não é o trabalho que é trocado por outra mercadoria, mas a “capacidade de trabalho” (trabalho em potência ou trabalho ainda a realizar), e assim abriu caminho para a explicação do valor a partir do valor de troca das mercadorias baseado na quantidade de trabalho necessário à produção das mesmas.

É importante destacar que, originalmente para Karl Marx, a terra urbana não possui valor, uma vez que o autor considera que elementos como o ar e o solo virgem não são mercadorias, pois não podem ser reproduzidas pelo trabalho. Além disso, para Marx, com

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esses produtos (ar e solo) a necessidade é satisfeita, criando, portanto somente valor de uso, mas não mercadorias (FERREIRA, 1992). Contudo, ainda que não seja um bem produzido, seu valor será constituído de trabalho socialmente produzido e logo pode ser analisado como uma mercadoria que possui valor. Enquanto componente do espaço geográfico, a terra transcende a condição de mera superfície, sítio das edificações, e agrega atributos específicos que viabilizarão, em maior ou menor grau, as necessidades de produção e consumo no espaço urbano (RIBEIRO, 1997 apud NASCIMENTO, 2012).

Harvey (1980) corrobora nesse sentido ao afirmar que a terra urbana assume condição de terra mercadoria e, assim, apresenta um valor de uso, uma vez que esta é elemento vital, não reprodutível e indispensável à atividade humana, e também um valor de troca, devido à demanda e da possibilidade de acumulação de riqueza para quem tem sua posse, assumindo um preço.

Para Volochko (2015), a terra urbana possui um valor como resultado da sua incorporação à dinâmica da cidade, e esse valor é diferenciado pois representa o acúmulo desigual de trabalho social no espaço (infraestruturas, espaços de consumo e lazer, equipamentos etc.). Dessa forma, a mercadoria espaço é produzida histórica e socialmente e seu valor de troca é determinado pela constante transformação do seu valor de uso, de construção/destruição/reconstrução dos imóveis e infraestruturas.

Lefebvre (2001 [1968]) aponta que no urbano ocorre um conflito entre o valor de uso, ou seja, a cidade, a vida urbana, e o valor de troca, que se constitui nos espaços comprados e vendidos, no consumo dos produtos, nos bens, nos lugares e nos signos. Ocorre um conflito:

[...] entre a mobilização da riqueza (em dinheiro, em papel) e o investimento improdutivo na cidade, entre a acumulação do capital e sua dilapidação nas festas, entre a extensão do território dominado e nas exigências de uma organização severa desse território em torno da cidade dominadora. (LEFEBVRE, 2001 [1968], p.14) Nesse sentido, o autor também aponta que o núcleo urbano possui dois papéis, o de lugar de consumo e o de consumo do lugar, ou seja, valor de troca e valor de uso, respectivamente. Todavia, “[...] hoje, o valor de troca prevalece a tal ponto sobre o valor de uso que quase suprime este último.” (LEFEBVRE, 2001 [1968], p. 20).

Assim, para Carlos (2013), vem ocorrendo a passagem histórica da cidade produzida como lugar de vida, isto é, como uso, para a cidade reproduzida sob os objetivos da realização do processo de valorização, cidade como valor de troca tornando-a mercadoria. Segundo a autora, a expressão dessa contradição é a segregação que produz o espaço urbano

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(decorrente da dupla determinação do trabalho de gerar valor e satisfazer uma necessidade) que é, ao mesmo tempo e dialeticamente, valor de uso (condição necessária para a realização da vida) e valor de troca (mercadoria cujo uso está submetido ao mercado imobiliário visando à produção de valor). Ou seja:

[…] ao produzir e realizar a mercadoria, como movimento do processo de valorização, o capitalismo produz um espaço que lhe é próprio, mas também produz o espaço como mercadoria. Deste modo, o sentido do espaço redefine-se à medida que os lugares da cidade se produzem por meio de um processo de trabalho gerador de mais-valia. (CARLOS, 2013, p. 98)

Dessa forma, a análise do processo de valorização da terra urbana por meio da Teoria do Valor-Trabalho justifica-se, portanto, pois entende-se que a terra urbana, na sociedade atual, passa pela dinâmica obtenção de valor de uso e valor de troca, uma vez que, está constantemente recebendo trabalho humano no processo de produção do espaço urbano. Transpondo a análise marxiana para a mercadoria terra urbana, é importante reforçar que, se para um proprietário só houver valor de uso a terra não está para ele como mercadoria, pois esta atende a suas necessidades. Entretanto, se para um proprietário a terra urbana não atender as suas necessidades imediatas de uso, surgirá um valor de troca e a terra torna-se mercadoria e, simultaneamente, ela terá um valor de uso para alguém que virá a adquiri-la. Este é, de forma resumida, o mote da dinâmica imobiliária, o que faz um lote ou imóvel ser colocado à venda ou não.

Para complementar tal entendimento é importante abordar a questão da renda fundiária. Distingue-se aqui que esta não é uma abordagem que interpreta a produção do espaço urbano através da Teoria da Renda, mas sim uma abordagem que utiliza o conceito de renda fundiária como complemento. A renda fundiária se encaixa como parte do valor de troca que se destina ao proprietário e possuidor da terra (HARVEY, 1980). Trata-se de um conceito, que de acordo com Botelho (2010), na cidade assume uma forma abstrata, não mais como um produto do solo como se apresentava na agricultura, mas sim como o juro de um capital investido.

Como aponta Volochko (2015), o debate voltado a renda da terra urbana é algo aberto e inconclusivo, contudo é possível pensar que a renda fundiária na cidade se transforma em valor da terra urbana pela sua contínua produção/reprodução social, pelos processos espaciais particulares que a cidade engendra. Assim, ainda segundo o autor, a urbanização se tornaria um processo de transformação da renda fundiária em valor da terra, valor dos imóveis, valor do espaço urbano, dados pelo trabalho social e pela constituição de um mercado imobiliário urbano.

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Na sua teoria Karl Marx definiu três tipos de renda fundiária: a renda diferencial, que resulta da diferença da localização das terras; a renda absoluta, que se refere ao direito de obter uma renda por ter aquela posse, ou seja, uma renda mínima; e a renda de monopólio, que se refere a escassez da mercadoria terra e também em relação ao poder de compra dos usuários (ALMEIDA e MONTE-MOR, 2017). Destaca-se que a renda de monopólio se torna importante para o entendimento da fragmentação espacial e os preços elevados em áreas distantes, geralmente ocupados por condomínios e loteamentos fechados, ou seja, em ambientes elitizados, murados e de autossegregação, uma vez que utilizam elementos como localização e acessibilidade para gerar renda.

Nesta perspectiva, é possível utilizar o conceito de renda da terra para o entendimento do excedente entre grupos sociais distintos, considerando fatores como a instituição da propriedade privada da terra e o status entre as diversas áreas no espaço; dessa forma, é capaz de mitigar as questões de descontinuidade do espaço urbano e da diversidade de agentes e classes existentes (ALMEIDA e MONTE-MÓR, 2017). Harvey (1980) aponta para a questão da propriedade privada da terra, chamando atenção para o fato de que quando se tem várias propriedades de um mesmo dono, consequentemente, surgirá um monopólio das decisões e maior influência no local em que estas se encontram.

No âmbito da ciência geográfica, um dos elementos que dá valor a terra urbana é a localização, que é como um elemento de diferenciação e que está associada com a formação do preço. Villaça (2001) enfatiza que a terra urbana só interessa enquanto terra-localização, enquanto meio de acesso a todo sistema urbano, a toda a cidade. Para o autor, a localização se apresenta como um valor de uso da terra – dos lotes, das ruas, das praças, das praias – valor que, no mercado, se traduz em preço da terra, assim a localização é socialmente produzida, pois esse valor de uso é fruto de um trabalho socialmente produzido. Nesse sentido, Botelho (2008) destaca a importância do fato da impossibilidade de reprodutibilidade de localizações, no caso, localizações privilegiadas e disputadas, tornando o meio urbano mais complexo, criando áreas exclusivas nas quais os consumidores se disporão a pagar uma renda de monopólio para poderem ali se localizar, seja em função do status que tal localização pode conferir ao seu usuário, seja em função de um acesso privilegiado do urbano.

O acesso a um pedaço de terra é concretizado quando se paga por ela, através da venda ou do aluguel, pelo fato que, na sociedade atual, o uso é o produto das formas de apropriação (que tem na propriedade privada sua instância jurídica), logo, o preço é a expressão de seu valor (CARLOS, 1992).

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Os fatores que determinarão a formação do preço vinculam-se principalmente à inserção de determinada parcela no espaço urbano global, tendo como ponto de partida a localização do terreno, o acesso aos lugares ditos privilegiados (escolas, shoppings, centros de saúde, serviços, lazer, áreas verdes etc.), à infraestrutura (água, luz, esgoto, asfalto, telefone, vias de circulação, transporte), à privacidade e, secundariamente, fatores vinculados ao relevo que se refletem nas possibilidades e custos da construção (CARLOS, 1992), salienta-se que esses dois conjuntos de fatores não se excluem e possuem vínculo entre si.

Nascimento (2012) salienta que a configuração do relevo exerce influências sobre determinadas características socioespaciais no decorrer de sua evolução histórica, uma vez que aspectos como o traçado e a forma urbana dependem, em certo modo, das condições topográficas, assim como o modo de uso e ocupação da terra e a distribuição de segmentos sociais no espaço. O autor assinala que esta perspectiva não se impõe como “determinismo ambiental”, mas sim como uma ênfase na relação sociedade-natureza, colocando a topografia como um influenciador direto. Em vista disso,

[...] a participação dos atributos físicos do terreno no preço da terra dá-se à medida que estes influem na qualidade da localização da mesma. Em primeiro lugar, as características topográficas, especialmente o grau de inclinação das vertentes e o nível de umidade do terreno, podem impor restrições à expansão do tecido urbano ao dificultar e/ou encarecer os processos de loteamento e de construção de edificações. (NASCIMENTO, 2012, p. 78)

Smolka (1979) reforça que o preço de um terreno está sujeito além de suas características não-repetitivas que o torna singular, e que também é determinado pelo poder de seu proprietário em administrar a escassez do terreno (estoque) e pela disposição e capacidade do usuário em remunerar o proprietário, que aprecia o “valor’ de um terreno em função das vantagens (lucros monetários e utilidade) que o lote em questão possa oferecer em comparação com outros lotes disponíveis. Dessa forma, ainda segundo o autor, o preço de um terreno é influenciado por externalidades, ou seja, pelas atividades realizadas em outros terrenos e pelas características dessas atividades, pois a utilização de um terreno altera as características de todos os terrenos, afetando todos os seus preços.

Para Nascimento (2013) as atividades realizadas pelos diversos segmentos da sociedade urbana ao longo do tempo projetam-se no espaço de maneiras diferenciadas, levando à produção de localizações mais ou menos vantajosas, seja para a realização das atividades produtivas e a acumulação do capital, seja para o usufruto dos bens e serviços produzidos na cidade. Os diferentes grupos e classes sociais passam a disputar as áreas mais privilegiadas no contexto urbano, cujas localizações favoreçam o atendimento de suas

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necessidades e interesses; essas áreas tornam-se mais valorizadas e, consequentemente, serão apropriadas, salvo eventuais exceções, pelas camadas de maior poder econômico e político da cidade e a utilização específica que as mesmas farão desses fragmentos espaciais tenderá dialeticamente a diferenciá-los mais ainda do restante das áreas da cidade (NASCIMENTO, 2013).

Seguindo este contexto, Scott e Storper (2018) apontam que para o entendimento das cidades, ou seja, para abarcar a grande variedade de cidades e distinguir os fenômenos intrinsecamente urbanos do resto da realidade social, é necessário combinar dois processos, a dinâmica de aglomeração/polarização e o desdobramento de um nexo associado de localização, usos da terra e interações humanas. Destaca-se aqui o último, que para os autores, corresponde ao tecido essencial do espaço intraurbano, e é moldado de forma significativa pelo comportamento das empresas buscando localização de produção e das famílias que buscam espaço para viver; as empresas são identificáveis como o espaço de produção da cidade onde o trabalho e o emprego estão concentrados, e as famílias identificadas como o espaço social da cidade manifestado em bairros residenciais, tipicamente diferenciados por variáveis tais como a renda, raça e classe. Por conseguinte, ainda segundo Scott e Storper (2018), essas formas de comportamento geralmente são estruturadas por mecanismos de mercado que geram preços de terra que arbitram usos e que sustentam padrões distintivos de alocação.

O espaço urbano tornado mercadoria faz com que seu acesso seja determinado pelo mercado imobiliário; deste primeiro acesso redefinem-se outros, por exemplo, o acesso a bens e serviços urbanos, à centralidade, uma vez que os usos, tanto produtivos quanto improdutivos, submetidos ao valor de troca se articulam a partir do lugar da moradia. Essa diferença revela-se numa apropriação privada determinada pela distribuição da riqueza, portanto da posse da riqueza gerada sob sua forma privada envolvendo, diferencialmente, toda a sociedade (CARLOS, 2013).

Todos esses fatores apontados, entre outros, por Smolka (1979), Carlos (1992; 2013), Villaça (2001), Botelho (2008), Scott e Storper (2018), Volochko (2015) e Nascimento (2013), em conjunto, constituem o processo de valorização espacial. Nesta lógica, Moraes e Costa (1987) assinalam que o trabalho é a fonte do valor, e essa relação, do ponto de vista do marxismo, sendo algo contínuo, trata-se, portanto de um processo, que é fundamentalmente um processo de valorização. Ainda segundo os autores, “[...] em qualquer época e em

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qualquer lugar, a sociedade, em sua própria existência, valoriza o espaço.” (MORAES e COSTA, p. 122).

Assim, a relação sociedade-espaço é, desde logo, uma relação-valor espaço, pois é substantivada pelo trabalho humano. Por isso, a apropriação dos recursos próprios do espaço, a construção de formas humanizadas sobre o espaço, a perenização (conservação) desses constructos, as modificações, quer do substrato natural, quer das obras humanas, tudo isso representa criação de valor (MORAES e COSTA, 1987, p.123).

Esse processo de valorização da terra, portanto, decorrerá do movimento do capital que investe na ampliação de rendas fundiárias e nesse processo ocorrerá a modificação da ocupação da terra, redefinindo suas próprias condições de reprodução e expansão (SMOLKA, 1979). A retomada do debate sobre a valorização do espaço, como aponta Volochko (2015), se faz necessária, posto que se parte da hipótese de que compreender a valorização do espaço é central para o desvendamento da produção do espaço urbano atual, haja vista que a valorização do espaço urbano vem ganhando novos conteúdos através das novas dinâmicas do setor imobiliário articuladas à financeirização mundial e às novas ações estatistas.

Por fim, é necessário sempre ter em mente que o ser humano necessita, para viver, ocupar um determinado lugar no espaço e esse ato envolve produzir o lugar (CARLOS, 1992; 2008), e a produção da habitação aumenta o produto agregado da sociedade e valoriza o terreno sobre o qual é construída (ALMEIDA e MONTE-MOR, 2017). Deste modo, adentra-se a questão da habitação e do acesso à habitação, que é “[...] uma mercadoria especial, possuindo valor de uso e valor de troca, o que faz dela uma mercadoria sujeita aos mecanismos de mercado” (CORRÊA, 1999, p.62). A moradia é fundamental e por isso nela está envolta o conflito social que abarca o desejo de valorização do espaço versus a possibilidade de pagar por ele, principalmente para os grupos sociais excluídos.

2.2 A natureza social e histórica da cidade, o espaço urbano e o direito à cidade

Para entender a cidade é importante entender sua natureza intrínseca social e histórica. Não há como entender a cidade sem a compreensão de que a cidade é passado e presente. Não há como entender o presente, sem entender como se construiu o passado, como se construiu a história do lugar. Assim, corroborando com Lefebvre (2001 [1968]), “[...] a cidade tem uma história; ela é obra de uma história, isto é de pessoas e de grupos bem

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determinados que realizam essa obra nas condições históricas” (p. 52), e ainda “[...] a cidade tem uma existência histórica que não se pode desconsiderar” (LEFEBVRE, 1999 [1970], p. 61).

Destaca-se que quando se refere à obra, o autor quer dizer que as criações urbanas são como “obras” – e não produtos, deste modo, a cidade é uma “obra” e nesse sentido, é valor de uso, que se faz em meio à luta de classes.

A própria cidade é uma obra, e esta característica contrasta com a orientação irreversível na direção do dinheiro, na direção do comércio, na direção das trocas, na direção dos produtos. Com efeito, a obra é valor de uso e o produto é valor de troca. O uso principal da cidade, isto é, das ruas e das praças, dos edifícios e dos monumentos é a Festa (que consome improdutivamente, sem nenhuma outra vantagem além do prazer e do prestígio, enormes riquezas em objetos e em dinheiro). (LEFEBVRE, 2001 [1968], p.12).

Nas palavras de Carlos (1992), a cidade é construção humana, produto social do trabalho materializado, que se apresenta enquanto formas de ocupações, realizadas a partir das necessidades de produzir, comer, habitar ou viver e que são manifestações espaciais da divisão técnica e social do trabalho, num determinado momento histórico.

A cidade é uma realização humana, uma criação que vai se constituindo ao longo do processo histórico e que ganha materialização concreta, diferenciada, em função de determinações históricas específicas. [...] A cidade, em cada uma das diferentes etapas do processo histórico, assume formas, características e funções distintas. Ela seria assim, em cada época, o produto da divisão, do tipo e dos objetos de trabalho, bem como do poder nela centralizado. (CARLOS, 1992, p. 57)

Por ser produto de construção humana, também é “[...] o principal lugar dos conflitos sociais” (CORRÊA, 1999, p. 7). Assinala-se que na condição de processo histórico, a cidade está em constante transformação: a cidade “[...] muda quando muda a sociedade no seu conjunto” (LEFEBVRE, 2001 [1968], p, 51). Nesse sentido, Carlos (1992) corrobora Henri Lefebvre, quando afirma que “A cidade enquanto produto histórico e social tem relações com a sociedade em seu conjunto, com seus elementos constitutivos, e com sua história. Portanto, ela vai se transformando à medida que a sociedade como um todo se modifica.” (p. 68)

Em conjunto com essas concepções, é importante destacar que em muitas cidades brasileiras, após a segunda metade do século XX, a industrialização influenciou o processo de urbanização, e como será mostrado nos tópicos seguintes, com o município de Indaiatuba não foi diferente. A intensificação da globalização e a emergência de uma nova divisão internacional do trabalho desde o final da década de 1970 promoveram uma grande onda de

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urbanização nos países em desenvolvimento, tornando muitas cidades produtoras de bens industrializados (SCOTT e STORPER, 2018).

De acordo com Lefebvre (2001[1968]), o processo de industrialização é de suma importância para o entendimento da problemática urbana. Para o autor é incontestável que, há mais de um século e meio, esse processo é o motor das transformações na sociedade, caracterizando a sociedade moderna. Este pode ser considerado indutor de questões referentes à cidade e ao desenvolvimento da realidade urbana (contudo é preciso destacar que a Cidade preexiste à industrialização). E ainda, segundo o autor, “[...] a sociedade urbana proporciona o fim e o sentido da industrialização simplesmente porque nasce dela, a engloba e a encaminha em direção à outra coisa” (LEFEBVRE, 1999 [1970], p. 69).

Destaca-se, conforme Sposito (2012), que as cidades são marcadas por diferenciação socioespacial desde os primórdios da urbanização, uma vez que não há cidades sem divisão social do trabalho – que se estabelece diferentemente, no decorrer do processo de urbanização. Em consonância com Sposito (2012), se no passado a divisão do trabalho era relativamente simples, estabelecida, no plano territorial, sobretudo entre a cidade e o campo, no período contemporâneo, de mundialização da vida econômica e da globalização dos valores e práticas, ocorre uma reestruturação das relações entre as cidades.

Assim, “[...] pensar a cidade significa refletir sobre o espaço urbano”, uma vez que, “[...] a paisagem urbana é a forma pelo qual o fenômeno urbano se manifesta.” (CARLOS, 1992, p. 70). Nesta perspectiva, Lefebvre (2001 [1968]) considera o urbano como processo duplo – e também conflituoso: industrialização e urbanização, crescimento e desenvolvimento, produção econômica e vida social. Entende-se o espaço urbano enquanto condição, meio e produto da reprodução da sociedade (CARLOS, 1992; 2008). O urbano é produto do processo de produção num determinado momento histórico, mas também é um

modo de consumir, pensar e sentir; é um modo de vida (CARLOS, 2008). No contexto capitalista, o espaço urbano é profundamente desigual,

constituindo-se de um conjunto de diferentes usos da terra – formas espaciais – justapostos entre si, que define a organização espacial da cidade; esses usos são fragmentados e articulados, uma vez que mantêm relações espaciais uns com os outros, ainda que de intensidade variável (CORRÊA, 1999). Associada a essa produção desigual, está a segregação socioespacial, que também de acordo com Corrêa (1999), é um processo que marca essencialmente a cidade e é produto da existência de classes sociais e se realiza espacializada no urbano.

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Sposito e Góes (2013) apontam que o processo de segregação se refere ao uso residencial do espaço urbano, o que explica a composição da expressão “segregação residencial”, e assinalam a necessidade de se pensar a segregação como um processo espaciotemporal e não apenas como um fato. É importante ressaltar, que Sposito e Góes (2013) identificam um processo de transição da segregação – e autossegregação – para a fragmentação socioespacial, que é materializado pela implantação de bairros periféricos distantes do tecido urbano, e nesse sentido a importância dos espaços residenciais fechados torna-se evidente.

A segmentação das formas de produção e o uso do espaço e do tempo urbanos não se revelaram, apenas numa divisão social do espaço residencial cada vez maior, cuja radicalização nos possibilita reconhecer a segregação, o que redunda em formas diferentes de compor as temporalidades urbanas, visto que diferentes sujeitos sociais têm condições e recursos desiguais para se deslocar de um ponto a outro do espaço urbano. Ela se aprofundou com uma nova divisão técnica, e portanto econômica, do tempo e do espaço, que também é social, porque se refere aos novos ambientes para o consumo de bens e serviços cada vez mais segmentados, aumentando e tornando mais complexo o mosaico das desigualdades socioespaciais, nas formas de mobilidade e acessibilidade aos fragmentos que compõem a cidade contemporânea. (SPOSITO e GÓES, 2013, p. 301).

Dessa forma, como apontado, o espaço urbano é socialmente produzido, e produzido de maneira diferenciada, de acordo com o contexto histórico e pelos interesses de quem o produz, estes são os agentes produtores do espaço urbano. Na literatura da Geografia a concepção de agente social, como aponta Vasconcelos (2011), vem sendo discutida com ênfase por diversos geógrafos desde a década de 1970, como Horácio Capel, Teresa Barata Salgueiro, Maria Adélia de Souza, Roberto Lobato Corrêa, David Harvey, entre outros.

Dentre vários trabalhos pode-se destacar a obra de Corrêa (1999), no qual, segundo o autor, os agentes produzem e consomem o espaço, são agentes sociais complexos concretos, e não um mercado invisível ou processos aleatórios atuando sobre um espaço abstrato, suas ações são complexas, derivando da dinâmica de acumulação de capital, das necessidades mutáveis de reprodução e dos conflitos de classe que dela emergem. Para Corrêa (1999), essa complexidade de ação dos agentes sociais levam a um constante processo de reorganização espacial que se faz via incorporação de novas áreas ao espaço urbano, densificação do uso da terra, deterioração de áreas, renovação urbana, realocação diferenciada da infraestrutura e mudança, coercitiva ou não, do conteúdo social e econômico de determinadas áreas da cidade.

Assim, segundo Corrêa (1999), os agentes são cinco: (i) os proprietários dos meios de produção, sobretudo os grandes industriais e empresas comerciais, que necessitam

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de terrenos amplos e baratos que satisfaçam requisitos locacionais pertinentes às suas atividades, e não se interessam pela especulação fundiária; (ii) os proprietários fundiários, que possuem interesse na especulação fundiária, ou seja, na retenção de terras criando escassez e gerando aumento do preço e que também se interessam pela conversão de terra rural em terra urbana, uma vez que esta última é mais valorizada, portanto, tendo em vista seu valor de troca; (iii) os promotores imobiliários, que muitas vezes são também proprietários fundiários; estes realizam operações de incorporação, financiamento, estudo técnico, construção ou produção física do imóvel e construção ou transformação do capital-mercadoria em capital-dinheiro, sua atuação se faz de modo desigual, criando e reforçando a segregação residencial; (iv) o Estado, de atuação complexa e variável, em suma, atua como grande industrial, consumidor do espaço e de localizações específicas, proprietário fundiário e promotor imobiliário, sem deixar de ser também um agente de regulação do uso do solo e alvo dos movimentos sociais urbanos; e (v) os grupos sociais excluídos, que são aqueles que não possuem acesso à habitação, ou seja, que não possuem renda para pagar um aluguel ou comprar um imóvel.

David Harvey (1980) aponta para seis grupos principais que atuam no mercado da moradia enfatizando o modo distinto com que cada um determina o valor de uso e o valor de troca. Posto isto, os grupos constituem-se dos (i) usuários de moradia, que consomem os vários aspectos da habitação de acordo com seus desejos e necessidades, determinando o valor de uso, destaca-se que todos os usuários de moradia, proprietários ou não, têm o objetivo de obter valores de uso através do arranjo do valor de troca; (ii) corretores de imóveis, que operam no mercado de moradia para obter valor de troca; eles obtêm lucro através de compra e venda ou através de cobrança de custos da transação para seus serviços intermediários; desempenham papel de coordenadores passivos do mercado ou como encorajadores da atividade do mercado, forçando-o; (iii) proprietários, que possuem em sua maioria como objetivo o valor de troca; o serviço de moradia é trocado por dinheiro, são rentistas profissionais que cuidam da casa como meio de troca e não como valor de uso para si próprios; (iv) os incorporadores e a indústria da construção de moradias, que criam valores de uso para outros somente quando realizam valores de troca para si próprios; (v) instituições financeiras, que estão interessadas em obter valor de troca por meio de financiamentos e oportunidades para a criação ou aquisição de valores de uso; enfatiza-se que essas instituições como um todo estão envolvidas em todos os aspectos do desenvolvimento do patrimônio real (industrial, comercial, residência etc.), e por isso elas conseguem alocar a terra urbana para

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usos sob seu controle através do financiamento, orientadas pela lucratividade para evitar risco; e (vi) instituições governamentais, que interferem frequentemente no mercado da moradia, produzindo valores de uso, de forma direta, através da ação pública (como moradias públicas), mas também de forma indireta, auxiliando instituições financeiras aos incorporadores e à indústria da construção para obter valores de troca.

Na literatura mais recente da geógrafa portuguesa Barata Salgueiro propõe um ambiente produzido pelo Estado, “ator privilegiado”, pelos proprietários do solo, pelos promotores, pelos construtores, pelos financiadores, pelos mediadores e pelos utilizadores; e menciona ainda tipos de promotores-construtores: o Estado e as autarquias, as empresas imobiliárias e os pequenos e médios produtores (VASCONCELOS, 2011).

Necessita-se, portanto, entender os interesses de cada agente e como eles se articulam em seus interesses e produzem o espaço urbano e consequentemente criam uma dinâmica de valorização das terras urbanas. Destaca-se que a dinâmica do mercado imobiliário formal determina em grande parte o processo de organização espacial e as condições gerais de apropriação do espaço da cidade pelos diferentes grupos sociais (PIRES, 2007).

Assim, obter o entendimento dessas estratégias, juntamente com a preocupação em se construir a consciência sobre a cidade, sua dinâmica de valorização da terra, assim como a exclusão e a segregação espacial que ela acarreta, é sem dúvida uma tarefa indispensável para se reverter o quadro de injustiça e desigualdade atual e dar maior visibilidade aos excluídos urbanos (FARIAS, 2014).

Por isso, é essencial colocar em primeiro plano, como aponta Lefebvre (2001 [1968]), o direito à cidade, isto é, o direito à vida urbana, transformada, renovada. É preciso enxergar, de acordo com o autor, a cidade, o urbano, como lugar de encontro, como prioridade do valor de uso, como lugar da união da ciência e da arte. É importante situar que por vezes o direito à cidade é confundido com o direito à natureza. Entende-se que este último se trata de um desvio do direito à cidade, e deste modo torna-se uma reivindicação indireta para fugir da cidade deteriorada e não renovada em direção à vida urbana alienada antes de existir “realmente”. (LEFEBVRE, 2001 [1968])

Traduzindo as palavras de Henri Lefebvre para a atualidade das cidades brasileiras, corrobora-se com Bueno (2007), no sentido de que a concretização do direito à cidade – e necessariamente da moradia – passa pelo acesso concreto ao lugar, à terra

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urbanizada e a bairros, com serviços e com acessibilidade, passando também pela estratégia de fortalecimento da estrutura pública, que deve cuidar dos direitos individuais, coletivos e difusos. Bueno (2007) assinala que o direito à cidade se tornou um privilégio do modelo neoliberal, no qual o estado é capturado e privatizado. Assim, o privilégio é o principal ingrediente que faz com que a cidade se torne segregada e, portanto, é preciso transformar essas condições inadequadas e injustas de vida para alcançar a equidade social das condições de vida em sua amplitude sociocultural.

Carlos (2013) indica o direito à cidade como a negação do mundo invertido, aquele das cisões vividas na prática socioespacial, das representações que criam a identidade abstrata (na indiferença da constituição da vida como imitação de um modelo de felicidade forjado na posse de bens); da preponderância da instituição e do mercado sobre a vida; do poder repressivo que induz à passividade pelo desaparecimento das particularidades; da redução do espaço cotidiano ao homogêneo, destruidor da espontaneidade e do desejo. A produção do espaço urbano, na concepção desta autora, ao se submeter à lógica da acumulação, realiza a acumulação capitalista cujos objetivos se elevam e se impõem à vida e os modos de uso do espaço, tornando o valor de troca preponderante ao uso social da cidade, esse processo realiza a desigualdade na qual se assenta a sociedade de classes, apoiada na existência da sociedade privada da riqueza que cria acessos diferenciados dos cidadãos à metrópole, em sua totalidade, a partir da aquisição da moradia.

A produção do espaço urbano funda-se, assim, na contradição entre a produção social da cidade e sua apropriação privada. A existência da propriedade privada da riqueza apoiada numa sociedade de classes e a constituição do espaço como valor

de troca geram a luta pelo “direito à cidade”. (CARLOS, 2013, p. 95, grifo

nosso)

A cidade, que é produto e obra, encontra-se sob as determinações do capitalismo, que tornou a própria cidade uma mercadoria e determinou seu uso pela lógica das relações que envolvem e permitem a criação da mercadoria no movimento do processo de valorização do valor (CARLOS, 2013). Em suma, o direito à cidade “[...] é uma necessidade prática de superação da contradição valor de uso-valor de troca, que só se resolveria na superação daquilo que funda o capitalismo: a propriedade privada.” (p. 108), portanto, “a superação da segregação socioespacial encontra seu caminho na construção do direito à cidade, como projeto social.” (CARLOS, 2013, p. 109).

Em vista das complexidades e contradições do processo de produção do espaço urbano, é necessário buscar o entendimento de como as teorias e conceitos se aplicam para

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explicar as práticas espaciais urbanas que se destacam na atualidade e principalmente no recorte espacial adotado para a pesquisa, o município de Indaiatuba (SP), com o objetivo de contribuir para o planejamento e gestão local.

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3. ESPAÇOS RESIDENCIAIS FECHADOS: O VALOR DE TROCA PREPONDERANTE AO VALOR DE USO

Adota-se nesse trabalho a expressão espaços residenciais fechados para se referir aos loteamentos fechados e condomínios horizontais, atribuída por Maria Encarnação Beltrão Sposito e Eda Maria Góes no livro “Espaços residenciais fechados e cidades: insegurança urbana e fragmentação” (2013). De acordo com as autoras, os espaços residenciais fechados constituem-se por todos os tipos de empreendimentos residenciais horizontais murados e controlados por sistemas de segurança, onde o acesso de moradores é autorizado ou não segundo controles de vigilância, bem como sobre regras estabelecidas pelos proprietários e/ou locatários dos terrenos ou imóveis edificados nesses espaços. Exigem glebas de tamanho médio ou grande e se localizam em áreas periféricas, distantes de áreas centrais e/ou consolidadas e, também, dos meios de consumo coletivos.

Estes espaços atualmente conformam uma importante e complexa forma de expansão urbana, de maneira que nas seções a seguir almeja-se discutir suas questões jurídicas e também as práticas espaciais que envolvem sua materialização na produção do espaço urbano, inclusive no que tange o valor de uso versus o valor de troca.

Esse tipo de uso da terra é atualmente um uso que se destaca no município de Indaiatuba, uma vez que é a modalidade predominante de expansão urbana das últimas duas décadas. Consequentemente influencia no processo de valorização do espaço urbano atual e, dessa forma, justifica-se a necessidade de reflexão de modo mais profundo sobre o tema.

3.1 Instância jurídica

O primeiro elemento de reflexão sobre os espaços residenciais fechados é o debate em torno de sua legalidade de existência perante a legislação que está em vigor, aqui será analisado em um primeiro momento a questão dos loteamentos fechados e, em um segundo, a questão dos condomínios horizontais.

É importante inicialmente distinguir a figura do loteamento fechado e dos condomínios horizontais, uma vez que, em geral, são generalizados todos apenas como condomínios, enquanto a diferença essencial é que no “[…] loteamento fechado há apenas a implantação da infraestrutura e a demarcação dos lotes, enquanto no condomínio é necessário construir a edificação destinada à moradia.” (FREITAS, 2008, p. 95).

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A Lei Federal nº 6.766/79, conhecida como Lei de Lehmann, é a norma que rege o parcelamento do solo para fins urbanos, permitindo que os Estados, o Distrito Federal e os Municípios possam estabelecer normas complementares para adequar o previsto na lei às peculiaridades regionais e locais (BRASIL, 1979). Esta lei aponta, no capítulo I, artigo 2º, que o parcelamento do solo urbano poderá ser feito mediante loteamento, que se refere à subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com abertura de novas vias de circulação, de logradouros públicos ou prolongamento, modificação ou ampliação de vias existentes; ou desmembramento que é a subdivisão de gleba em lotes destinados à edificação, com aproveitamento do sistema viário existente, desde que não implique na abertura de novas vias e logradouros públicos, nem no prolongamento, modificação ou ampliação dos já existentes (BRASIL, 1979).

Infere-se, portanto, que existem somente duas modalidades de parcelamento do solo, loteamento e desmembramento, uma vez que não é mencionado na totalidade do texto da lei o termo ou modalidade de loteamento fechado, ou seja, dentro da legalidade, o espaço residencial fechado do tipo loteamento fechado não poderia existir, pois não está previsto em lei. Freitas (2008) aponta que o loteamento fechado se torna uma figura híbrida, que mescla características do loteamento convencional, instituído pela Lei Federal 6.766/79, com a figura do condomínio horizontal.

No caso dos condomínios horizontais, é utilizada a Lei Federal n° 4.591/64, que “[...] dispõe sobre o condomínio em edificações e as incorporações imobiliárias” (BRASIL, 1964, s.p), para amparar a sua legalidade, também é questionável, uma vez que esta não se constitui em uma forma ou modalidade de parcelamento do solo urbano como é previsto na Lei de Lehmann. Assim, de acordo com Leonelli (2013), a Lei Federal nº 4.591/64 é desvirtuada, pois possui a função de regulamentar o regime de propriedade, e é utilizada com outro objetivo, ou seja, com o objetivo de parcelar o solo urbano.

[...] em uma lei paralela, [os municípios] criam a categoria de condomínios horizontais argumentando que não se trata de parcelamento do solo, mas sim de condomínios. Ora, na prática, urbanisticamente, o que ocorre é o parcelamento do solo, a criação de lotes, a implantação de unidades unifamiliares e seu posterior fechamento. O argumento de se tratar de condomínio e não de loteamento é utilizado para escapar da criação “legal” de uma nova categoria de parcelamento do solo, o que seria contrária à Lei nº 6.766/79. No entanto, qualquer legislação que permite

condomínios horizontais fechados está criando uma nova categoria de parcelamento do solo não prevista pela lei federal brasileira. (LEONELLI, 2013,

p. 5, grifo nosso).

É importante destacar que no caso dos condomínios verticais, estes são construídos em lotes resultantes de glebas parceladas, onde o sistema viário bem como as

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