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Estudo do processo de urbanização e das transformações do uso da terra urbana no município de Santos (SP) com uso de geotecnologias

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MARIA ISABEL FIGUEIREDO PEREIRA DE OLIVEIRA MARTINS

ESTUDO DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E DAS TRANSFORMAÇÕES DO USO DA TERRA URBANA NO MUNICÍPIO DE SANTOS – SP COM USO DE

GEOTECNOLOGIAS

Campinas 2014

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

MARIA ISABEL FIGUEIREDO PEREIRA DE OLIVEIRA MARTINS

“ESTUDO DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E DAS

TRANSFORMAÇÕES DO USO DA TERRA URBANA NO MUNICÍPIO DE SANTOS – SP COM USO DE GEOTECNOLOGIAS ”

Orientador: Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO APRESENTADA AO INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS DA UNICAMP PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRA EM GEOGRAFIA NA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO ANÁLISE AMBIENTAL E DINÂMICA TERRITORIAL

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA DISSERTAÇÃO DEFENDIDA PELA ALUNA MARIA ISABEL

FIGUEIREDO PEREIRA DE OLIVEIRA MARTINS E

ORIENTADA PELO PROF. DR. LINDON FONSECA MATIAS

CAMPINAS 2014

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À minha mãe, Maria Ondina e ao meu pai, Carlos Alberto- o nosso eterno Carlão.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, pela eterna motivação e apoio à minha escolha profissional e pessoal. Sem vocês eu não teria chegado até aqui.

Agradeço ao meu irmão Murilo, que me fez acreditar novamente em renovação e leveza da vida ao me presentear com a Lara, minha sobrinha e afilhada mais que amada.

Agradeço ao Prof. Dr. Lindon Fonseca Matias pela orientação, dedicação e persistência. Escrevo aqui o meu “muito obrigada” por acreditar sempre no meu trabalho. O que permanecerá dessa convivência será a amizade, o carinho e a admiração.

Registro aqui o meu muito obrigada aos professores que compuseram a minha banca de defesa e contribuíram com dedicação a este trabalho: A Professora Dr. Regina Célia Bega dos Santos e o Professor Dr. Ailton Luchiari.

Agradeço aos meus grandes e fiéis amigos Danilo e Cassiano, por terem trazido um pedacinho de Minas Gerais para a UNICAMP e proporcionado com essa convivência, uma amizade infindável, sorrisos imensuráveis e grandes trocas profissionais.

Agradeço aos meus grandes amigos de Mococa, Anita, Bárbara, Fernando, Letícia, Aline, Tamara e Caio pelos dias felizes, pelos conselhos e pela constante credibilidade. Garanto que sem o apoio de vocês, o equilíbrio entre vida social e profissional não teria existido e o caminho se tornaria muito mais árduo e solitário.

Agradeço aos amigos que também participaram não de maneira inferior, mas de momentos com a mesma proporção de alegrias e vivências que os citados acima: Fernanda (Fê), Ana Luisa (Aninha), Isadora (Isa), Lívia (Li), Luciana (Lu), Tissiana (Tissi), Vonei, Sírius e Gustavo Teramatsu (Gu).

Pablo, "Lembrando que um dia falou "sabe, você tá tão chique, meio freak, anos 70."

Fique. Fica comigo. Se você for embora eu vou virar mendigo.Eu não sirvo pra nada. Não vou ser seu amigo. Fique. Fica comigo" (Trovoa- Metá Metá). Muito obrigada por nos permitir transformar 12 anos de uma grande amizade no amor mais belo, leve e sincero que eu pude vivenciar. Você é o melhor presente em forma de companheiro que a vida pode me dar.

Gratidão aos colegas do Geoget, que se tornaram grandes e eternos amigos: Obrigada pelos conselhos, pelas risadas e pelos momentos difíceis compartilhados.

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Agradeço aos queridos professores de Alfenas (UNIFAL-MG) e da UNICAMP, pelo apoio e pela amizade.

Agradeço à Secretaria de Desenvolvimento Urbano da Prefeitura Municipal de Santos e à Agência Metropolitana da Baixada Santista pela atenção e disponibilidade dos dados que compuseram as bases cartográficas desta dissertação.

Por fim, fica aqui os meus agradecimentos à Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) pelo auxílio financeiro para a realização desta pesquisa, cujo número do processo é 2012/19791-5.

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Ouvindo o som do trânsito aqui do décimo segundo andar, parece pra caramba com o barulho do mar. Meu olhar tá nos carros e tudo mais, no viaduto, delineio toda a forma de um robô robusto, deitado, sonhando, mas prestes a despertar. Despertador dispara o alarme: hora de sair pra andar. Hélices no ar, furiosas, velozes, separo o som em canais, metais, motores e vozes. E mesmo em pleno caos, sempre rolam prêmios: muros novos pintados por Flip, Nina, Vitché, Gêmeos. [...] Quando a percepção se altera no meu aparelho ótico, pessoas parecem com bichos dentro de um zoológico: répteis, aves, roedores, felinos, num mesmo habitat, diferentes destinos Extraio meu mosaico da cadência desse cenário, daqui do nosso império pra todo e qualquer

stereo.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS

ESTUDO DO PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E DAS TRANSFORMAÇÕES DO USO DA TERRA URBANA NO MUNICÍPIO DE SANTOS – SP COM USO DE

GEOTECNOLOGIAS

RESUMO

Dissertação de Mestrado

Maria Isabel Figueiredo Pereira de Oliveira Martins

Nas grandes cidades brasileiras, tem-se notado atualmente a precariedade quanto à aplicação de políticas públicas de gestão territorial municipal relacionadas à adequação do uso da terra urbana em conformidade com a qualidade socioambiental. Isto se verifica no município de Santos, nos diferentes padrões de distribuição das diversas formas de uso de ocupação da terra intraurbana em sua área insular. A partir da década de 1970 até os dias de hoje, a produção do espaço urbano santista ocorre principalmente por meio de empreendimentos imobiliários verticalizados, sobretudo de alto padrão e localizados próximos à orla marítima, dada a ausência de espaços disponíveis para o crescimento horizontal de sua mancha urbana e também o alto contingente populacional atraído pelas atividades portuárias e turísticas. Portanto, esta dissertação de mestrado teve como principal objetivo a construção de um discurso pautado nas metodologias geográficas, buscando compreender a produção do espaço urbano do município de Santos e auxiliar a execução de políticas públicas de ordenamento territorial tendo em vista um uso mais democrático da cidade. A partir de análises qualiquantitativas oriundas dos dados produzidos pelo mapeamento de uso da terra intraurbana, no qual foram classificadas sistematicamente 38 classes distintas das atividades que predominam em cada quadra urbana, foi possível analisar a intensidade de ocorrência de cada uma dessas atividades pelo estimador de intensidade Kernel, que possibilitou o entendimento da estruturação do espaço urbano deste município no período atual. Neste sentido, a produção cartográfica evidenciou a predominância de atividades mistas. As observações empíricas realizadas proporcionaram a análise e a diferenciação dos padrões das tipologias urbanas verificadas neste espaço urbano, evidenciando a influência direta que o preço da terra possui na distribuição espacial de cada indivíduo na área de estudo. Sob essa ótica, foi possível representar cartograficamente a ocorrência dos diferentes padrões tipológicos, em que podemos destacar as áreas de residência da população socialmente excluída e as áreas de atividades de médio e alto padrão.

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UNIVERSITY OF CAMPINAS INSTITUTE OF GEOSCIENCE

STUDY OF THE URBANIZATION PROCESS AND TRANSFORMATION OF URBAN AREA USE IN THE CITY OF SANTOS (SP) WITH THE USE OF

GEOTECHNOLOGY

ABSTRACT Master´s Thesis

Maria Isabel Figueiredo Pereira de Oliveira Martins

The public policies for territorial planning and adequacy of the urban land use in accordance with the social and environmental quality have not been well applied for brazilian major cities. Focusing to Santos (São Paulo – Brazil), it is clear that this reality also is repeated for smaller towns. Different patterns of distribution of intra-urban land use can be recognized along to Santos insular area. Also, Santo stumbles upon absence of spaces for the horizontal growth of its urban stain, being this fact justified by the high number of people which are attracted by the port activities and tourist activities. In this sense, the production of its urban space currently occurs through constant deployments vertical ventures which since 1970 decade have attributed to localities close to the waterfront the characteristic of harboring large buildings, mostly of high standard. This dissertation aims to construct a speech based on geographic methodologies which sought to understand the production of urban space in Santos with the purpose to assist the implementation of spatial planning public policies in order to provide a more democratic use of the city for all social spheres. In this way, the construction of this speech was possible from qualitative and quantitative analysis from data produced by mapping of intra-urban land use, in which were systematically classified 38 distinct classes of activities that predominate in each urban block. From the final result of this cartographic production, it was possible to analyse the intensity of occurrence of each of these activities by the Kernel Intensity Estimator, which enabled the understanding of how Santos urban space is structured in the current period. In this sense, it was evidenced how it is outstanding the presence of mixed activities. Despite of the predominance of this kind of activity, the empirical observations provided the analysis and differentiation of urban typologies of patterns found along the urban space, showing how the land price has direct influence on the spatial distribution of each individual in the study area. Under this optics it was possible showing cartographically where these typological patterns occur, uncovering how different some areas may be classified, where some are presented as home to the socially excluded population and others are defined by the presence of medium and high standard activities.

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xvii SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS...xix LISTA DE GRÁFICOS...xxi LISTA DE QUADROS...xxiii LISTA DE TABELAS...xxv INTRODUÇÃO...1

CAPÍTULO 1- A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS...5

1.1. A Valorização da terra urbana enquanto processo estruturador da cidade...10

1.2. Geotecnologias como subsídio ao entendimento da produção do espaço urbano em Santos...22

CAPÍTULO 2- METODOLOGIA DE PESQUISA...29

2.1. Levantamento bibliográfico...29

2.2. Levantamento de dados...31

2.2.1. Aquisição de dados vetoriais e organização da cartografia básica...31

2.2.2. Aquisição das ortofotocartas do ano de 2002...33

2.3. Elaboração da chave de interpretação para a distinção entre os tipos de uso da terra urbana em Santos...34

2.4. A produção cartográfica do mapa de uso e ocupação da terra urbana no município de Santos...37

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2.5. Mapas de intensidade de ocorrência dos usos da terra urbana pelo Estimador de

Intensidade Kernel...40

CAPÍTULO 3- CONTEXTUALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTOS: ENTENDENDO A ÁREA DE ESTUDO...43

3.1.Caracterização do município...43

3.2. Processos históricos: Da Santos-colônia à Rodovia Anchieta na década de 1950...58

3.2.1. Santos: O porto-colônia, a era ferroviária e o porto do café- O início da ocupação da ilha de São Vicente...58

3.2.2. A elevação à categoria de cidade, a revitalização econômica e o consequente desenvolvimento urbano de Santos...61

CAPÍTULO 4- A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO SANTISTA NO PÓS DÉCADA DE 1950 E O ATUAL PADRÃO DE DISTRIBUIÇÃO DOS USOS DA TERRA URBANA...71

4.1 Interpretação dos resultados obtidos pelas produções cartográficas...71

CONSIDERAÇÕES FINAIS...135

REFERÊNCIAS...139

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xix LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Condomínio residencial vertical "Acqua Play”, do grupo TECNISA nas

proximidades com o Morro de Santa Terezinha ... 12

Figura 2. Condomínio residencial vertical “Prime Plaza Residence” da Construtora Miramar- Grupo Mendes ... 14

Figura 3. Cortiços nas proximidades com o centro histórico da área urbana do município ... 15

Figura 4. Descrição das etapas que compuseram a elaboração do mapa de uso da terra urbana do período atual em Santos ... 32

Figura 5. Articulação das ortofotocartas ao longo da área insular do município de Santos ... 34

Figura 6. Exemplificação do processo referente às etapas de execução do mapa de uso da terra urbana (Fragmento de área nas proximidades com a Avenida D. Ana Costa) ... 39

Figura 7. Localização do município de Santos ... 44

Figura 8. Distribuição populacional por setores censitários e intensidade de ocorrência de setores censitários urbanos ... 47

Figura 9. Evolução do aumento de edificações no bairro Rádio Clube ... 51

Figura 10. Favela sobre palafitas nas proximidades do bairro Rádio Clube ... 53

Figura 11. Representação da hipsometria no município de Santos ... 54

Figura 12. Evolução da mancha urbana de Santos com base em plantas históricas referentes aos anos de 1822 a 2013 ... 63

Figura 13. Fachadas dos prédios da Alfândega, da Prefeitura Municipal, do Theatro Colyseu e da Bolsa Oficial do Café ... 67

Figura 14. Divisão territorial dos bairros da área insular ... 78

Figura 15. Mapa de uso da terra intraurbana por Atividades e distribuição por Subunidades ... 81

Figura 16. Mapa de intensidade de ocorrência da Subunidade Misto ... 89

Figura 17. Mapas de intensidade de ocorrência da Subunidade Vazio Urbano e Espaço Livre ... 93

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Figura 18. Exemplificação do tipo de vegetação encontrado em toda a extensão do calçadão que circunda a orla marítima ... 96 Figura 19. Mapa de ocorrência das Subunidades Zona Portuária e Industrial ... 98 Figura 20. Classe de uso da Subunidade Industrial: Moinho Paulista no bairro Paquetá ... 100 Figura 21. Mapa de intensidade de ocorrência da Subunidade Comercial ... 103 Figura 22. Mapa de intensidade de ocorrência da Subunidade Serviço ... 105 Figura 23. Shopping Miramar (à direita), do Grupo Mendes, no Bairro do Gonzaga .. 107 Figura 24. Mapa de intensidade de ocorrência da Subunidade Residencial ... 111 Figura 25. Ocupação por residências horizontais no Morro José Menino, nas proximidades com o Porto Valongo ... 114 Figura 26. Mapa de ocorrência de alta intensidade de todas as Subunidades ... 115 Figura 27. Padrão de ocupação típico da orla e suas proximidades. Prédio de apartamentos com estabelecimento comercial no primeiro piso... 119 Figura 28. Residencial Jardim Itaúba, lançado no ano de 2012 pela construtora e incorporadora Vértice. ... 121 Figura 29. Representação do padrão das tipologias das edificações encontradas ao longo do espaço urbano de Santos ... 123 Figura 30. Padrões de tipologia urbana no morro do José Menino ... 130

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Evolução populacional dos anos de 1991 a 2010 ... 48 Gráfico 2 Representação gráfica das áreas ocupadas pela classe Subunidade ... 73 Gráfico 3. Representação gráfica das áreas ocupadas pela classe Atividade ... 84

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Classes de uso da terra urbana para o município de Santos ... 32 Quadro 2. Descrição das tipologias encontradas ao longo do espaço urbano de Santos. ... 117 Quadro 3. Empreendimentos lançados no município de Santos no período atual ... 122

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xxv LISTA DE TABELAS

Tabela 1. Representação das áreas ocupadas pela classe Subunidade ... 72 Tabela 2. População Presente e População Residente no município de Santos ... 76 Tabela 3. Representação das áreas ocupadas pela classe Atividade ... 84

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INTRODUÇÃO

De modo geral, o processo de urbanização dos municípios brasileiros tem provocado impactos nas esferas sociais e ambientais que acarretaram reflexos considerados irreversíveis na vida cotidiana da população. Uma das maiores consequências desse processo foi a concentração de riquezas e ampliação das desigualdades sociais, sobretudo nas grandes cidades. Tais consequências vieram a desencadear um processo de exclusão de uma parcela da população ao acesso a locais mais aptos a fixar suas residências, gerando o que pode ser considerado atualmente um dos maiores problemas de ordenação do uso e ocupação da terra em áreas municipais.

Ao atribuirmos o espaço urbano enquanto aquele que foi produzido pela sociedade, como resultado da acumulação de tempos e processos históricos, é de cabível percepção que uma das principais formas que a sociedade se manifesta no espaço seria através do uso da terra urbana. Tal constatação remete ao fato que é na cidade que se concentram as desigualdades socioespaciais e, consequentemente, é no espaço urbano que ocorre a

segregação espacial através da diferenciação dopreço da terra em diversas localidades. Sendo

assim, compreender a configuração dos usos da terra urbana no município de Santos, através de uma análise dos dados obtidos dos produtos cartográficos, que sob o aporte das técnicas presentes nas geotecnologias, tornou-se fundamental para a construção de um discurso de ordem geográfica que enfatiza a compreensão da produção do espaço urbano. Para alcançar esta finalidade se buscou o aporte em literaturas que remontam às geotecnologias enquanto técnicas que auxiliaram, através da representação das formas de ocupação do espaço, o entendimento da complexidade que é a realidade representada.

Em se tratando do processo de urbanização em Santos este remonta ao início do século XVI, mas foi a partir do século XX, com o desenvolvimento do ciclo do café no país, que o município passou a assumir um caráter excepcional de desenvolvimento urbano em consequência da circulação do produto através do porto. Nos anos de 1950, o advento do turismo de veraneio advindo da melhoria das vias de acesso a toda a Região Metropolitana da Baixada Santista, fez com que ocorresse um acelerado processo de ocupação do espaço urbano de Santos, que atrelado à passividade de um controle efetivo deste crescimento,

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ocasionou uma configuração desigual do padrão de distribuição das funções urbanas no espaço urbano do município que se manifestou na ruptura do padrão tradicional de ocupação da orla marítima, que passou a abrigar uma “muralha” de edificações verticais.

A diversidade dos padrões de distribuição do uso da terra urbana em Santos revela localidades que assumem particularidades perante o restante do espaço urbano. Dentre essas localidades, se destaca a orla marítima, ocupada preferencialmente por empreendimentos imobiliários verticais e a porção noroeste da área insular do município, que se caracteriza por abrigar residências de famílias mais desfavorecidas e uma ampla área de favela sobre palafitas, evidenciando como que as boas condições de infraestruturas urbanas beneficiam aqueles que possuem maior renda. Diante de tais constatações, é notada, ativamente, a atuação de agentes produtores imobiliários que se manifestam, sobretudo, através da implantação de empreendimentos residenciais verticais de alto padrão na orla, e que sob o aporte da legislação municipal vigente, contribuem diretamente na definição do padrão de ocupação socioespacial em Santos.

Perante tais constatações, esta dissertação objetivou compreender os processos de estruturação do espaço urbano de Santos que, através da análise dos dados cartográficos produzidos, em conjunto com o levantamento dos diferentes padrões tipológicos presentes no espaço urbano, permitiram, sob o aporte teórico e metodológico das ciências geográficas, a estruturação do entendimento da complexidade dos processos geográficos que estruturam o espaço urbano santista.

Em virtude das considerações expostas, no que tange à estrutura dos capítulos da dissertação, optou-se, para o primeiro capítulo, cujo título é “A produção do espaço urbano: Reflexões teórico-conceituais”, na realização de uma síntese da bibliografia fundamental, que subsidiou a constituição de todo o aporte teórico para discorrer sobre como o espaço é produzido e reproduzido pela sociedade, como também para justificar a utilização da temática do uso da terra urbana com a finalidade de se compreender a complexidade que envolve a produção do espaço urbano. Neste mesmo capítulo é exposto também a temática que discorre sobre como o advento das geotecnologias tornou-se contribuinte para a formulação de um discurso geográfico sobre a sociedade através das amplas possibilidades de manuseio de dados sobre o espaço geográfico.

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No capítulo seguinte, intitulado “Metodologia de Pesquisa” são expostos, sistematicamente, as etapas de obtenção das bases cartográficas que deram suporte a composição dos produtos finais, assim como os procedimentos metodológicos que compuseram as produções cartográficas que subsidiaram a obtenção dos dados fundamentais

para o entendimento da temática abordada. Em um terceiro capítulo, concernente à

“Contextualização do município de Santos: entendendo a área de estudo” se enfatiza a

contextualização do município de Santos, na qual foram ressaltadas as suas características físicas, socioeconômicas e um detalhamento dos processos históricos de formação de seu espaço urbano desde o século XVI.

Por fim, o último capítulo, intitulado como “A produção do espaço urbano santista no pós década de 1950 e o atual padrão de distribuição dos usos da terra urbana: Interpretação dos resultados obtidos pelas produções cartográficas” faz elucidações ao período que sucedeu aos anos de 1950, no qual são apresentados os resultados dos dados obtidos pelas produções cartográficas e são discorridas as temáticas da ciência geográfica que auxiliaram ao entendimento da produção do espaço urbano em Santos. A opção de se abordar este período com maior explanação e atentamento se deve ao fato que foi na época referida que as modificações dos padrões de uso da terra urbana, sobretudo a verticalização da orla, contribuíram efetivamente para definir como que a área urbanizada do município se configura atualmente e como que a atuação dos agentes produtores do espaço ainda se manifesta em virtude de beneficiar uma minoria.

Em seguida, e como último item apresentado nesta dissertação, são expostas as Considerações Finais que abordam os resultados dos dados expostos, juntamente com o apontamento de sugestões para o direcionamento do planejamento urbano do município, com a finalidade de trazer para a cidade uma característica mais democrática, em que as estruturas urbanas presentes possam ser de acesso e usufruto de toda a população.

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CAPÍTULO 1- A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO: REFLEXÕES TEÓRICO-CONCEITUAIS

Compreender que a análise do espaço urbano, enquanto produção da sociedade ao longo da manutenção de sua existência no tempo torna-se indispensável para o entendimento do mundo contemporâneo, como também das relações sociais que nele ocorrem. Cabe-nos ressaltar que tal constatação advém da acumulação de inúmeros processos históricos, sobretudo pelo fato de que o homem se apropriou da natureza, transformou-a e dominou-a através do trabalho e do uso dos seus meios de produção. O espaço urbano se caracteriza

então enquanto espaço material (GOMES, 1991)sendo, portanto, aquele que foi criado pelas

relações sociais instauradas nele através do trabalho e assume, todavia, assim como os demais produtos da atual sociedade, a condição de mercadoria através do processo de compra e venda

de suas parcelas. Neste sentido, a realização do estudo que buscou compreender as

transformações e a atual configuração do uso da terra urbana no município de Santos, tornou-se imperativo para a compreensão de como a sociedade tornou-se manifesta no espaço urbano através de diferentes formas e tipologias.

Lefebvre (2008 [1970, p. 110]) aponta que o fenômeno urbano instaurado nas cidades ao longo de todo o processo histórico de modificação da natureza pela sociedade, é composto por uma diversidade de ações e formas, que se unem e se manifestam em uma complexa estrutura que é o espaço urbano. O autor destaca algumas definições que facilitam o entendimento de como podemos definir o que ele qualifica enquanto esse fenômeno e tendo em vista a complexidade envolvente nesta definição, ele nos direciona para a compreensão do urbano sob a ótica da racionalidade dialética, nos atentando que:

O urbano é cumulativo de todos os conteúdos, seres da natureza, resultados da indústria, técnicas e riquezas, obras da cultura [...], situações, ondulações ou rupturas do cotidiano [...]. Ele é mais e outra coisa que a acumulação [...]. Pode-se dizer que o urbano é forma e receptáculo, vazio e plenitude, superobjeto e não-objeto [...]. Não existe sistema do urbano, nem inserção do urbano num sistema unitário de formas em razão da independência (relativa) entre formas e conteúdos. Isso impede definir o fenômeno urbano (o urbano) por um sistema ou como um sistema. Do mesmo modo, também impede defini-lo como objeto (substância) ou como sujeito (consciência).

Sob esta ótica, entende-se que para compreender como se define e como se dá este fenômeno urbano, é necessário enxergá-lo enquanto uma totalidade complexa, dinâmica e em constante

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movimento, sendo necessário, portanto, uma leitura completa do mesmo, atentando para uma visão que não se paute em fragmentá-lo e, se possível, analisá-lo com o aporte das visões das mais variadas ciências.

Lefebvre (2008 [1970]) lembra-nos que diante de todas as definições do urbano, engendradas desde a lógica da forma à dialética dos conteúdos, ressalta que não existe, portanto, a definição exata de um sistema urbano, assim como é um equívoco definir esse urbano como um objeto ou um sujeito. O autor destaca que o urbano se mostra como uma união de redes que são constituídas nas mais variadas esferas, podendo considerar que este, enquanto forma, não tende ao harmônico e se apresenta como o lugar de ocorrência de conflitos, manifestando-se, todavia, como um movimento, não podendo, portanto, se fechar em um sistema acabado. O autor também nos alerta para o fato de que o urbano se manifesta sob a forma pontual, ou seja, ele possui um local para a sua manifestação, sendo este local a cidade. Mas embora na cidade se manifestem as formas materiais, ele direciona para o fato de não ser limitante o entendimento do urbano enquanto um único ponto no espaço, ou como algo meramente isolado, mas sim entender que este fenômeno urbano é algo colossal e grandioso, dotado de uma complexidade que se materializa nas relações que estes diversos “pontos” urbanos espalhados pelo espaço geográfico possuem entre si.

Tomamos como um dos pontos de partida que uma das maneiras de se compreender a complexidade envolvente na produção do espaço urbano seria a análise intrínseca e o entendimento de como as formas que compõem esse espaço se manifestam. Por este modo, entende-se que a sociedade atribui vida e conteúdo para as formas espaciais, que, por conseguinte, interpretar a maneira pela qual elas se distribuem ao longo do espaço urbano, pode significar no entendimento das relações que são instauradas nele. Santos (2002, p. 109), discorre este fato apontando que a sociedade se “geografiza” através das formas presentes no espaço geográfico e aponta que:

Quando a sociedade age sobre o espaço, ela não o faz sobre os objetos como realidade física, mas como realidade social, formas-conteúdo. Isto é, objetos sociais já valorizados aos quais ela (a sociedade) busca oferecer ou impor um novo valor. A ação se dá sobre objetos já agidos, isto é, portadores de ações concluídas mas ainda presentes.

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Neste intento, torna-se necessário compreender a dialética envolvente na produção do espaço urbano, este que é produto da dinâmica das relações sociais nele estabelecidas pela divisão social do trabalho e que são evidenciadas pelas formas e pelos diferentes padrões de manifestação destas nas cidades. Para isso fica evidente a necessidade de entender que a sociedade atual se organiza sob o escopo do grande capital, e que ao longo de todos os processos envolventes nesta estruturação, a terra urbana tornou-se mercadoria, logo um bem comercializável.

Por esta razão, um dos processos que emergiram em virtude da terra urbana enquanto mercadoria repercute na orientação e na reorientação do lugar de cada indivíduo no espaço urbano, evidenciando que aqueles que possuem maior renda tendem a escolher, quando possível, os melhores locais para a compra e locação de moradias no espaço urbano. Daí então o surgimento de periferias, de ocupações irregulares, de ocupação em áreas de risco e com pouca infraestrutura urbana, pois aqueles que não possuem rendas que acompanham os processos de valorização e desvalorização da terra urbana ficam a margem do poder de escolha da melhor localidade para se morar. Este processo traz à tona uma das justificativas para a ocorrência da segregação socioespacial recorrente nas cidades e como que a existência da diferenciação dos preços da terra urbana vai orientar e reorganizar o espaço urbano, fato que produz constantemente novas contradições e condições necessárias para a manutenção do sistema econômico global (LEFEBVRE, 2008 [1970]).

O espaço ao ser constatado como decorrência e meio para a existência da produção capitalista é atribuído a ele enquanto mercadoria, um valor de uso e um valor de troca através do processo de compra e venda de suas parcelas, sendo elas a terra urbana. Lefebvre (1999 [1974], p.140) indaga-se sobre como surge esse processo de valorização dos fragmentos da terra urbana e demonstra apontamentos para justificar essa atribuição de valor ao evidenciar que a cidade “[...] resulta da destruição das formações sociais anteriores e da acumulação primitiva do capital”, contendo em si trabalho morto, de um passado histórico, e trabalho vivo, pelos tempos atuais. Sendo o primeiro indispensável para a existência do segundo, evidenciando a relação dinâmica entre eles, que seria esta uma das justificativas para compreender que em muitos locais a natureza deixou de ser um meio de produção para tornar-se um produto do trabalho e, sobretudo, o local da manifestação material da sociedade.

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No município de Santos esse fato pode ser notado em diferentes localidades através de refuncionalizações urbanas, em que antigas edificações são substituídas por novos empreendimentos que substituem a função da edificação anterior. Esse fato pode ser justificado em virtude da ausência em larga escala de lotes urbanos desocupados e que impedem a ocorrência de um crescimento horizontal significativo. Sob essa ótica, para compreendermos a dinâmica deste processo, Santos (2002, p.106) ressalta que:

Os movimentos da sociedade, atribuindo novas funções às formas geográficas, transformam a organização do espaço, criam novas situações de equilíbrio e ao mesmo tempo novos pontos de partida para um movimento. Por adquirirem uma vida, sempre renovada pelo movimento social, as tornadas assim formas-conteúdo- podem participar de uma dialética com a própria sociedade e assim fazer parte da própria evolução do espaço.

Se analisarmos a cidade e o fenômeno urbano com uma visão da dinamicidade que eles englobam, podemos compreender que os movimentos da sociedade são materializados no seu espaço e estes resultam em heterogêneos padrões de vida, aparelhos administrativos e políticos, serviços dos mais variados tipos (LEFEBVRE, 1999 [1972]), assim como a ocorrência de conflitos sociais das mais variadas esperas. A cidade nos abre, portanto, uma distinção de perspectivas para a compreensão do modo de vida urbano, como também a complexidade da sociedade e toda a dimensão histórica existente neste espaço. Na cidade se reúnem todos os mercados, se aproximam os meios de produção. Ela atrai tudo àquilo que nasce da natureza e do trabalho e nela se manifestam as mais variadas morfologias, sejam as sociais, sejam as materiais. Mas cabe-nos ressaltar que a cidade em si não é criadora de nada, mas se torna o local central das criações, designando portanto, a situação urbana, em que esse urbano seria o ponto onde se acumula todos os conteúdos, desde os elementos advindos da natureza, até os elementos da cultura e situações do quotidiano (LEFEBVRE, 2008 [1970]).

Por este modo,o urbano também poderia ser definido, perante toda a complexidade

de relações estabelecidas e existentes, como o local que expressa conflitos. E analisar a cidade, com a complexidade de suas formas presentes, auxilia para o entendimento da dimensão do modo de vida urbano vivenciado pela sociedade presente. Castells (1983) destaca a força de trabalho e, sobretudo, os processos advindos dessa força como uma parcela definidora do espaço urbano através das relações sociais que são determinadas pelas diferentes parcelas sociais que se relacionam dialeticamente. É factível também evidenciar

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que o homem, ao começar a produzir mercadorias, modificou as suas relações com o meio e que tais modificações são mediadas pelo processo de divisão social do trabalho. Deste modo seria errôneo desvincular sociedade de espaço, pois o desenvolvimento da sociedade está atrelado ao da produção espacial e o homem, nessa perspectiva, é o agente social da produção do espaço (CARLOS, 2013).

Vislumbra-se assim que as contradições de uso da terra urbana estão circunscritas em todo o seu espaço, através das diferentes formas de apropriá-lo e estas contradições refletem a maneira pela qual a divisão social do trabalho se manifesta na cidade (CARLOS, 2013). Para analisarmos os problemas urbanos, caberia esclarecer as disparidades oriundas dos fenômenos urbanos expressas nas relações sociais estabelecidas e que as cidades, por englobarem os ciclos de reprodução, seriam os locais de ocorrência de uma disparidade de conflitos (LEFEBVRE, 1999 [1972]). É no espaço urbano em que se justapõem interesses do capital, simultaneamente à interesses estatais e luta de moradores contra a segregação espacial. Por

conseguinte, todas as partes constituintes desse espaço mantêm relações entre si e

manifestam-se nele, explicitando que as relações espaciais integram-se mesmo que de modo dessemelhante, as mais variadas parcelas da cidade e do espaço urbano.

Posto isso, é sabido que a cidade engloba o modo de vida urbano e é nela que se manifestam nas esferas sociais e materiais, a dinamicidade das relações da nossa sociedade através dos diferentes padrões de distribuição das formas que a compõe. Sendo o espaço urbano, neste sentido, com suas formas e estruturas (LEFEBVRE, 1991 [1974]), o meio e o local em que se manifestarão os modos de vida de uma sociedade em um determinado momento. Sob essa ótica, compreender os processos de estruturação do espaço urbano, significa entender que este é um produto da sociedade que se manifesta materialmente neste espaço, mas também, que ele é um meio para a ocorrência de todo o processo de produção e reprodução social sob o escopo do grande capital.

A união das formas urbanas que podem ser lidas enquanto pontos e linhas sob a lógica cartesiana representam, para, além disso, a estrutura da cidade e do espaço urbano, evidenciando a complexidade abstrata que nelas pode estar instaurada (LEFEBVRE, 1991 [1974]). Neste intento é importante evidenciar que o uso da terra urbana é entendido aqui enquanto a maneira pela qual é materializada na cidade, a dinamicidade das relações sociais presentes no modo de vida urbano, que em virtude das relações dialéticas engendradas nele,

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expressam as contradições necessárias para classificá-lo enquanto local de ocorrência dos conflitos das mais variadas esferas sociais e das contradições que podem ser entendidas enquanto necessárias para manutenção da existência do capitalismo global.

1.1 A Valorização da terra urbana enquanto processo estruturador da cidade

Sabe-se que a cidade se apresenta como variadas formas de ocupação do espaço e que tais ocupações são advindas da necessidade de realização de ações do cotidiano, sejam elas consumir, viver, reproduzir e habitar. A sociedade necessita, portanto, para o acolhimento de sua existência, de ocupar algum lugar no espaço, sendo a cidade um dos locais mais tendenciosos da sociedade s e reproduzir sob o escopo do capitalismo. Para a compreensão das diversas formas em que o modo de vida urbano se estrutura nas cidades, desde a distribuição arquitetônica ao longo de seu espaço como da forma pela qual a sociedade se manifesta e se reproduz, caberia elucidar quais foram os processos que fizeram com que a terra urbana se tornasse mercadoria através do processo de valorização do espaço.

Moraes e Costa (1984 , p.123) atentam para o fato de que independente do período histórico de existência de uma sociedade, a valorização do espaço é constatada em cada modo de produção , embora que manifestada de uma maneira particular para cada um deles. Os autores, ao tentar compreender os processos que contribuíram para a esta valorização do espaço, que para eles se manifesta na totalidade de rendas fundiárias, destacam que:

A apropriação dos recursos próprios do espaço, a con strução de formas humanizadas sobre o espaço, a perenização ( conservação) desses construtos, as modificações , quer do substrato natural, quer das obras humanas, tudo isso representa criação de valor.

Por este modo, a indagação seria o que ou qual processo justificaria o fato de a terra urbana ter um valor. Tal fato é explicado em virtude de a terra urbana ser considerada um “receptáculo do trabalho humano historicamente acumulado” (MORAES e COSTA, 1984, p.

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127) e que em decorrência da existência de propriedade privada, que parcelou a cidade em lotes, o próprio espaço urbano se torna um objeto de troca e, por conseguinte, algumas localidades possuem particularidades distintas quanto ao seu valor.

O espaço urbano ao tornar-se interesse do capital industrial é produzido em consequência da existência de agentes sociais históricos e concretos, que munidos de interesses que geram conflitos entre si, fizeram e fazem insurgir mecanismos criados por eles próprios para materializar os processos sociais constituintes da rede urbana. Corrêa (2012, p. 44) nos demonstra alguns exemplos desses agentes como “[...] os proprietários dos meios de produção, os proprietários fundiários, os promotores imobiliários, o Estado e os grupos sociais

excluídos”. Cabe-nos ressaltar que a atuação desses diferentes grupos sociais, que agem em

virtude do interesse sobre a terra urbana, materializa-se no território através de atividades que perpassam desde a produção industrial, como até mesmo a produção imobiliária. Dentre essas ações, evidenciam-se práticas como a inutilização de terras para cultivos agrícolas, fragmentação de lotes rurais, como também a ocupação de locais periféricos por grupos socialmente excluídos.

No município de Santos, dentre as mais variadas ações dos produtores do espaço urbano, se destaca a atuação das grandes incorporadoras imobiliárias através da refuncionalização de lotes urbanos para abrigarem, sobretudo, a implantação de empreendimentos imobiliários verticais. Essa ação que era evidenciada particularmente na região da orla marítima, ocorre, atualmente, também em áreas localizadas nas proximidades da zona mais ao centro do município, como é o caso de um dos mais recentes condomínios verticais do município (Figura 1), que composto por apartamentos de custo elevado, atende os interesses de uma minoria da população santista.

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Figura 1. Condomínio residencial vertical "Acqua Play”, do grupo TECNISA nas proximidades com o Morro de Santa Terezinha

Fonte: MARTINS e MATIAS (2013)

Em relação a quem produz o espaço urbano, mesmo que de uma maneira mais generalista, Corrêa (2012, p. 46) explicita de quais são e onde se encontram os agentes sociais da produção do espaço urbano, sendo eles os:

Bancos, companhias de seguros, empreiteiras, empresas ferroviárias de bondes, fábricas têxteis, firmas comerciais e de serviços, proprietários fundiários, grupos de previdência privada, grupos sociais excluídos, indivíduos com investimentos e ordens religiosas.

O autor evidencia também como a participação de cada um deles é diferenciada ao considerarmos o tempo e a intensidade de suas atuações no território. Entende-se, portanto, que a distinção entre as mais variadas escalas de atuação de cada agente produtor do espaço, geraria o que é evidenciado por Sposito (2012) como diferenciação socioespacial. Por esta

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causa, a autora enfatiza tal diferenciação como a marca das cidades desde o início da urbanização, sendo a divisão social e territorial do trabalho a principal presunção para a ocorrência de desigualdades territoriais através da diferenciação de distribuição de renda. Deste modo os detentores de maior poder aquisitivo possuem uma maior facilidade de escolha de fixação de moradia em relação à população com menor condição salarial para compra de imóveis.

É sabido, portanto que a cidade enquanto produção do trabalho humano se manifesta como formas de ocupação, enquanto usos da terra hierarquizados e que a terra urbana ao tornar-se mercadoria, transmite para a sua forma de uso um atributo cada vez maior de segregação, com espaços cada vez mais definidos pela propriedade privada da terra e, sobretudo, pelo valor instaurado nesta terra (CARLOS, 2013). Em Santos nota-se que a ação do capital privado na implantação de empreendimentos imobiliários, sobretudo os residenciais verticais, está atrelada à construção de condomínios compostos por altas torres de médio e alto padrão e com custos que variam no atual mercado de residencias entre R$ 6.500,00 a R$ 8.000,00 o metro quadrado (Diário do Litoral, 2013), sendo este maior valor encontrado em empreendimentos mais próximos da orla, como é o caso do mais recente empreendimento de alto padrão, promovido pelo “Grupo Mendes”, localizado em frente ao mar, nas proximidades com a Avenida Dona Ana Costa (Figura 2). Este, que é composto de um apartamento por andar, destaca-se na localidade em que está inserido, tanto pela sua altura, como pela imponência do estilo de sua construção, evidenciando o surgimento de um novo padrão de ocupação imobiliária na cidade, fato que não era tão ocorrente nos anos que iniciou a ocupação da orla.

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Figura 2. Condomínio residencial vertical “Prime Plaza Residence” da Construtora Miramar- Grupo Mendes

Fonte: MARTINS e MATIAS (2013)

Este quadro indica que embora o município tenha congregado a utilização dos instrumentos do Estatuto da Cidade desde 2005, que prevê a redução das desigualdades

socioespaciais, sobretudo no que remete à questão de acesso à moradia, os altos preços

imobiliários e a escassez de terrenos para a implantação de novas moradias, sobretudo, as de baixa renda, faz com que o município não consiga implantar programas habitacionais voltados às famílias de classe média, como o programa federal de habitação “Minha Casa Minha Vida”. Tendo em vista também os baixos salários que compõem uma grande parcela do quadro populacional em Santos, a ocupação em locais irregulares para moradia é notada em

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quantidades significativas, como é o caso da ocorrência de cortiços na região próxima ao centro histórico e à zona portuária. (Figura 3).

Figura 3. Cortiços nas proximidades com o centro histórico da área urbana do município

Fonte: MARTINS e MATIAS (2013)

Vale ressaltar que a maioria dos cortiços observados possui padrão arquitetônico semelhante, em que antigas edificações, anteriormente ocupadas por trabalhadores do porto, devido à proximidade com o local de trabalho, encontram-se atualmente interditadas pelos

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órgãos públicos de planejamento urbano e são ocupadas por uma população de baixa renda, tornando-se refúgio de moradia para essa parcela da população. Tal padrão de ocupação é evidenciado por Souza (1994), ao destacar o caso da cidade de São Paulo, quando os trabalhadores passaram a instalar suas moradias nas proximidades com as fábricas em finais do século XIX e início do século XX. Cabe-nos evidenciar que a legislação de uso e ocupação da terra urbana em Santos, juntamente com a produção privada de empreendimentos imobiliários, orientam, criam e recriam as características da divisão de cada localidade no espaço urbano, em virtude da supervalorização de algumas áreas (RIOS, 2012).

Tendo em vista que são os processos de valorização da terra que organizam e recriam espaços nas cidades, Villaça (2012, p. 27 [b]) indaga sobre como surge e de onde advém o valor da terra urbana e procura compreender “[...] qual o produto do trabalho que produz o ambiente construído?”. Com proeminência ao espaço geográfico, sabe-se que este é oriundo do processo de trabalho, não sendo exterior à sociedade, mas sim um produto dela, originário juntamente com o surgimento da sociedade (CARLOS, 2013), e que se tornou mercadoria, pois possui acumulação de trabalho morto, é a expressão da sociedade na forma material e, consequentemente, é possuidor de valor de uso e valor de troca (HARVEY, 1980).

Harvey (1980, p. 134) busca então compreensão sobre a atribuição da denominação de mercadoria para a terra urbana, sobretudo na obra O Capital, e discorre que:

A mercadoria, como simples objeto ou “coisa em si mesma”, é substituída na análise de Marx pela mercadoria como expressão de inumeráveis relações sociais que, através de simples mudança de mãos, pode passar por uma transformação real de significado.

Ou seja, no processo de compra e venda da terra, o espaço, por si só, torna-se objeto de troca, mas “[...] não pelo valor do espaço em si, mas pelo valor que lhe é atribuído segundo a lógica da circulação”, sendo esse processo um dos principais produtores do lucro sobre a terra urbana (MORAES e COSTA, 1984, p. 131).

Harvey (1980) irá discorrer também que o método marxista de relação dialética entre valor de uso e valor de troca atribui inovações aos estudos geográficos de uso da terra, pois permite a compreensão de como os espaços são definidos na cidade pela lógica de compra e venda. Entretanto, no capítulo Valor de Uso, Valor de troca e a Teoria do Uso do Solo

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ao uso da terra urbana, procurando compreender como esta se tornou mercadoria no mundo contemporâneo.

O autor evidencia então o valor de uso como sendo de natureza qualitativa, podendo este ser aplicado a várias esferas que compõem o quotidiano, seja elas ideológicas, religiosas, sociais, assim como as materiais. A sua definição reside no conceito de utilidade que algo passa a atribuir e, para Harvey (1980, p. 132), “[...] está fora da esfera de investigação da economia política”, pois se torna algo imensurável por si só enquanto valor mercadológico. Harvey (1980, p. 133), então irá enfatizar que o valor de troca “[...] reside no processo social de aplicação de trabalho socialmente necessário aos objetos da natureza para criar objetos materiais (mercadorias) apropriados para o consumo (uso) pelo homem”, possuindo então uma atribuição quantitativa. Deste modo, para as mercadorias tornarem-se valores de uso, necessita que seja atribuída a elas uma necessidade de consumi-las e o seu valor é definido no processo de troca enquanto bens de consumo.

Lefebvre (1999 [1972], p.135) discorreu também sobre valor de uso e valor de troca e assinala que:

O valor de uso corresponde à necessidade, à expectativa, à desejabilidade. O valor de troca corresponde à relação dessa coisa com as outras coisas, com todos os objetos e com todas as coisas, no “mundo da mercadoria”.

O autor qualifica o mundo da mercadoria como sendo o mercado mundial, em que tudo se vende e se compra e tudo é avaliado em dinheiro, inclusive a terra urbana. Ele discorre também sobre a classe dos proprietários dos meios de produção que sob o aporte do Estado, explora todo o conjunto da sociedade. A ênfase a tais proprietários é atribuída, porque é nesta categoria em que se encontram os “comerciantes–proprietários” de terra, que juntamente com a ação do Estado, mantém a posse da terra no viés de propriedade privada. Sendo assim, o seu processo de venda gera lucro para ambas as partes, pois é transferida também ao Estado uma parcela desta venda. A terra urbana é então subordinada ao mercado, tornando-se um bem comercializável. Para o autor, a terra urbana se torna mais dependente do valor de troca e da especulação imobiliária, do que de fato do valor de uso.

No caso de Santos, a terra urbana, mais especificamente a sua localização no município, faz com que seja atribuída a ela a classificação de desejada. Tal fato é ocorrido em

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relação aos lotes localizados mais próximos à orla marítima, que juntamente com a ausência de espaços para a expansão da mancha urbana do município, fazem com que existam altos custos para a aquisição de moradias, assim como de grandes espaços para implantação de estabelecimentos comerciais. Em virtude desta constatação, a produção do espaço urbano santista se realiza, sobretudo, através da criação de novos lotes pelo processo de substituição de antigas edificações. A ocupação da orla marítima por empreendimentos verticais no período atual é um grande exemplo de tal fato, pois até meados dos anos de 1940, uma grande parcela da avenida localizada à beira-mar era ocupada por casarões coloniais do período de

ascensão do ciclo do café1.

Novamente Harvey (1980, p. 135) irá parafrasear que “[...] o solo e suas benfeitorias são, na economia capitalista contemporânea, mercadorias”, mas que possuem atribuições diferenciadas quando comparados a outros bens de consumo, pois não podem deslocar-se livremente, assim como a mudança de seus proprietários é efetuada com pouca frequência. Cabe destacar, também, que a troca de proprietário da terra urbana é efetuada de maneira relativamente rápida, mas que o seu uso pode se estender por anos na história. A venda da terra urbana em unidades parceladas é efetuada por agentes promotores imobiliários, que estão consideravelmente atrelados ao Estado e ao grande capital. Tal processo subordina o espaço ao torná-lo parte do mercado que gera lucros imensos a seus promotores, semelhantemente ao processo de geração de lucros de grandes corporações (LEFEBVRE, 1999 [1972]).

É sabido que a terra urbana passa por um processo de valorização, que atrelada ao processo de produção do espaço pela sociedade, é transformada em produto através do trabalho, para ser consumida seja pelo capital privado, seja pelo estatal. Villaça (2012 [a]) questiona-se então sobre qual o fruto do trabalho produziria o preço da terra urbana e aponta a localização da parcela de terra como a principal determinante para originar os mais variados preços no espaço intraurbano. A localização do lote, ao agregar trabalho que fora executada externamente a ele, passa a ser determinante para o preço da terra, pois um lugar somente poderá ser considerado ótimo, seja para instalação de moradia, como de estabelecimentos

1 Destaque para o início da ascensão cafeeira em Santos com a chegada das instalações da estrada de ferro São Paulo Railway. Este período de ascensão teve destaque até as décadas iniciais do século XX. (MODAL, 2014)

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comerciais, se possuir acessibilidade, vias para circulação, assim como redes de energia e de telecomunicações. O autor destaca a acessibilidade como a principal justificativa para se determinar o valor de um lote urbano, sendo a acessibilidade a principal característica para a terra ser denominada como urbana (VILLAÇA, 2012 [b]).

Harvey (1980) ao discorrer sobre o acesso a lotes urbanos melhores localizados, assinala que os detentores de maior poder aquisitivo poderão dominar melhor o espaço de localização em relação à população mais pobre. Surge a partir de tal constatação, através da ideia de oferta e demanda, a noção de monopólio do solo urbano, em que a oferta de lotes bem localizados é escassa, e passa a ser adquirida por um grupo consideravelmente menor, enquanto que o restante da população é impelido a ocupar locais periféricos e com pouca infraestrutura. Para o autor, a escassez de lotes em locais com qualidade de acesso justificaria os principais problemas atuais referentes às desigualdades urbanas, assim como a própria estruturação da cidade. Tal fato é evidenciado em Santos ao analisarmos os espaços que são ocupados pela população de alta renda e de baixa renda, sendo o valor dos imóveis relativamente mais caros quando localizados mais próximos à orla marítima.

Villaça (2012 [a]) ressalta que a localização de um lote é a principal característica para se especificar o espaço intraurbano, pois é nela que os diversos pontos do urbano se relacionam por meio dos deslocamentos do ser humano no espaço. Evidencia-se então que se torna essencial o levantamento das diversidades de uso da terra no intraurbano para a compreensão dos processos estruturantes da atual configuração do espaço urbano de Santos, como, sobretudo, delimitar quais são os tipos e padrões de territórios encontrados no município. Villaça (2012 [b]) enfatiza também que a atuação de incorporadores imobiliários no monopólio de lotes com localização favorável no espaço, é uma das principais causas da segregação espacial no urbano, sendo a segregação, considerada por ele, a principal característica oriunda do processo de estruturação urbana.

Villaça (2012 [b], p. 74) ressalta o valor da terra urbana, atribuindo novamente a localização como a principal determinante desse valor e explica esse fato ao mostrar que:

A acessibilidade de um terreno ao conjunto urbano revela a quantidade de trabalho socialmente necessário dispendido em sua produção. Quanto mais central o terreno, mais trabalho existe dispendido na produção dessa centralidade, desse valor de uso. Os terrenos da periferia têm menos trabalho social incorporado em sua produção do que os centrais.

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O valor pago para ocupar um determinado ponto no espaço, advém não somente do custo das edificações e das instalações que compõem o imóvel, mas esse valor é também oriundo do valor que se paga para a localização do imóvel no intraurbano. “A terra-localização, como qualquer produto produzido tem o seu preço determinado basicamente pelas condições de sua produção”. (VILLAÇA, 2012 [b], p. 75). Sob essa ótica, compreende-se que o fator de maior relevância para determinar o valor de um ponto no intraurbano compreende-seria a sua localização em referência aos demais pontos da cidade. O valor de uso do ponto se dá, portanto, a partir da sua capacidade de relacionamento com os demais pontos do intraurbano. O que é notável no município de Santos é que a valorização dos terrenos próximos à orla advém, sobretudo, em consequência das atividades turísticas que o município recebe, com maior concentração nos períodos que abrigam as estações mais quentes do ano.

Moraes e Costa (1984, p. 127) ao discorrerem sobre o processo de valorização do espaço, destacam a questão da valorização da terra urbana enquanto obra do trabalho e enquanto “receptáculo do trabalho humano historicamente acumulado” e atribuem para a questão da localização de um lote, citando que “[...] no caso urbano, tem-se as localizações diferenciadas gerando lugares mais ou menos valorizados em função de sua disposição no tecido urbano”. Tal constatação facilitaria para o entendimento do porque são encontradas em maior concentração determinados tipos de uso da terra intraurbana em algumas localidades de Santos e em determinadas áreas, esse padrão não se repete. Por este modo não seria somente a localização que determina o valor da terra urbana em Santos, mas sim todo o processo histórico de ocupação que ocorreu no município, que atrelado à ação de agentes estatais e privados, delimitaram, através da lógica da valorização imobiliária, espaços de supervalorização, sobretudo em decorrência do mercado do turismo, que concorrerão para o agravamento da exclusão socioespacial em determinadas localidades do município.

Vale ressaltar que, considerado como uma das maiores atividades econômicas mundiais, o turismo se iniciou com tal configuração a partir da intensificação do capitalismo industrial e permanece até os dias que se seguem como uma oportunidade de concretização da economia do local, que se desenvolve a partir de todas as atividades advindas desse processo (FONTELES, 1999). No município de Santos nota-se que a intensificação dessa atividade deveu-se, sobretudo, por dois fatores. O primeiro se justifica pela sua localização no litoral, sendo esse um atrativo natural através da beleza da constituição morfológica do local.

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Enquanto que a segunda justificativa passa a ser explicada por uma das maiores estratégias do marketing do turismo, que seria a facilidade de acesso ao lugar. A proximidade com a capital do estado de São Paulo, a mais populosa do país, juntamente com a melhoria dos sistemas viários de acesso, foram os fatores cruciais para agregar atividades veraneias dos indivíduos que buscam boa acomodação e rápido deslocamento para o destino do lazer (FONTENELES, 1999). A padronização dos componentes urbanos dos lugares que recebem atividades turísticas também é notada no município de Santos, sendo a expressão de tal padronização, a verticalização na orla marítima por meio de uma grande concentração de empreendimentos, que substituíram as tradicionais formas de ocupação, como as residências unifamiliares, com o intuito de abrigar um número cada vez maior de turistas (SEABRA, 1979).

Geigher (1997) ressalta o turismo em massa como uma expressão da pós-modernidade, em que há uma corrida dos lugares para o ingresso no turismo global, fator que afirma esse fenômeno de padronização urbana dos lugares turísticos. Buscam-se cada vez mais atividades de lazer, mas não se exclui a necessidade do conforto e do bem estar social das pessoas que praticam a atividade turística. Santos (2000) destaca a padronização dos lugares como uma ilusão da globalização, sendo a realidade dos territórios, com todas as suas disparidades, uma das principais divergências para a ocorrência de tal fenômeno. Seriam esses fatores um dos principais contribuintes para o agravamento das disparidades socioeconômicas encontradas nos locais que agregam um alto contingente de atividades, não somente turísticas, como também de grande visibilidade econômica, como é o caso do município de Santos.

Partindo do exposto anteriormente, é notável a complexidade de relações que se estabelecem no espaço urbano. A busca por meios que possibilitem a facilitação de compreender e obter dados qualiquantitativos sobre o local estudado se torna fundamental para a construção de um discurso geográfico que vise o entendimento das transformações do uso da terra urbana em Santos. Para isso o aporte nas técnicas presentes nas geotecnologias se tornou imperativo para a realização deste estudo.

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1.2 Geotecnologias como subsídio ao entendimento da produção do espaço urbano em Santos

Lefebvre (1995 [1969]), ao fazer considerações quanto ao movimento do pensamento ao longo do desenvolvimento humano, desta ca que a ciência é um conjunto vivo, pela qual não se descarta o conhecimento adquirido anteriormente e que o conhecimento não deve ser estático, uma vez que o real, ou seja, a realidade em si também está em movimento. O espaço geográfico enquanto produto da civilização ao longo do tempo também não é estát ico, pois as relações sociais realizam-se nesse espaço, apropriando-o para a realização da vida “em todas as suas dimensões.” Que “[...] não se limitam ao mundo do trabalho, mas abrangem e ultrapassam a produção de objetos, produtos e mercadorias.” (CARLOS, 2011, p. 77).

O espaço corresponde ao local de existência da vida, ou seja, da sociedade com os seus problemas que se expressam na realização do cotidiano. Na cidade tais expressões das contradições do c otidiano aparecem, assinalado por (CARLOS, 2011, p. 79):

Sob a forma de segregação na j ustaposição morfologia social/ morfologia espacial produzindo a cidade como segregação em seu sentido estratégico: a separação das práticas sócio -espaciais visando à reprodução social, que, ao delimitar um lugar para cada um - criando áreas homogêneas apoiadas em identidades de classe, e pretensamente, apartadas do todo social e da cidade, escamoteia o conflito. A relação contraditória entre necessidade e desejo, uso e troca, identidade e não identidade, estranhamento e reconhecimento permeia a prática sócio -espacial.

A segregação espacial aparece nas cidades, também, através dos tipos de uso encontrados em seu espaço. Corrêa (1989) aponta que o espaço urbano seria a justaposição de diversos tipos de uso da terra que, agrupados entre si, definem a relação das dinâmicas da vida social de uma determinada localidade. Sabe -se, portanto que a sociedade emergiu diante da natureza, sobrepondo -se a ela e cabe à ciência da atualidade solucionar problemas oriundos da atividade humana acumulada ao longo da história (LEFEVBRE, 1995 [1969]).

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Sob essa ótica, há compreensão de que os Sistemas de Informação

Geográfica (SIG) são técnicas aplicáveis para a representação de dados oriundos

do espaço geográfico e que tais técnicas amplificam a eficiência de tratamento de

dados oriundos de diversas fontes. A noção de que “O conhecimento de como o mundo funciona é mais útil do que o conhecimento de como ele se parece ” (LONGLEY et al., 2013, p. 14), traz à tona como a utilização de SIG como um instrumento que venha aprimorar o conhecimento do espaço geográfico se torna praticamente basal em estudos que visem ao entendimento da forma como este espaço é ocupado.

É sabido que a utilização de mapas para a representação do espaço é decorrente desde tempos remotos. Reproduzir o território para fins de comunicação e conhecimento de fronteiras, assim como para agrupar informações geográficas dos mais variados tipos e fontes, é uma atividade que já constava desde as civilizações da antiguidade, como em Grécia e em Roma. Na contemporaneidade, sobretudo a partir da década de 1960, através da incorporação da linguagem matemática para a execução de análises espaciais, a ciência geográfica e, também no caso, a geografia brasileira, passaram a receber influência direta desses novos artifícios para a execução de estudos no âmbito do espaço urbano que, até então, eram, sobremaneira, influenciados pelo empirismo advindo da “escola francesa” de Geografia.

Foi a partir do período referido anteriormente, que se deu o advento das geotecnologias, que amparadas em quase sua totalidade pelo computador, abrangem no período atual praticamente todas as universidades e instituições de pesquisa que visam o

entendimento das dinâmicas do espaço geográfico e a sua consequente gestão(BOLFE, et. al.,

2008). Matias (2004) aponta que a influência das geotecnologias nas ciências geográficas trouxe à tona reflexões que evidenciam como tais instrumentos podem colaborar na compreensão da produção, da reprodução e gestão do espaço geográfico, podendo adjetivá-los como ampliadores da nossa capacidade de conhecer o território.

Considerando todo o processo histórico por que a ciência geográfica perpassou, desde quando se incorporou as geotecnologias como importantes instrumentais de suporte à análise do espaço geográfico, pode-se dizer que um dos discursos em pauta na atualidade destaca de que maneira o uso de tais instrumentos podem colaborar na compreensão do processo de produção e reprodução do espaço. Matias (2004), ao parafrasear as existentes

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