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Santos: O porto-colônia, a era ferroviária e o porto do café O início da ocupação da

CAPÍTULO 3- CONTEXTUALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE SANTOS: ENTENDENDO

3.2. Processos históricos: Da Santos-colônia à Rodovia Anchieta na década de

3.2.1. Santos: O porto-colônia, a era ferroviária e o porto do café O início da ocupação da

O início do processo histórico de ocupação do município de Santos, remonta ao período colonial, sobretudo na data de 1546, em que se iniciou o povoamento da então Vila Vicentina - ilha que comporta atualmente os municípios de Santos e São Vicente. Cabe-nos lembrar que Araújo Filho (1969) faz apontamentos a um período de aproximadamente duzentos anos, época em que ele denomina de duzentos anos de esquecimento do então município de Santos, para somente em meados do século XVIII iniciar os primórdios da utilização efetiva do porto através da exportação da cana-de-açúcar.

Os principais atrativos para que se iniciasse a ocupação da ilha para torná-la qualificada como vila em 1546 são justificados pelas condições favoráveis para navegação no estuário de Santos, assim como pela facilidade de comunicação com os demais povoados existentes da Baixada Santista. Havia uma crença que a facilidade de navegação no então embrionário porto faria da Vila Vicentina um local atrativo para o cultivo de cana-de-açúcar - um dos principais produtos de exportação do país na época referida, assim como para o escoamento do ouro que era extraído, sobretudo na região do estado de Minas Gerais. (ARAUJO FILHO, 1965).

Entretanto, notou-se a inexistência de condições físicas necessárias para seu desenvolvimento agrícola, em que tal constatação se confirmava, pois o solo do local se

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caracteriza enquanto inviável para o cultivo da cana-de-açúcar, tanto pela sua constituição arenosa nas zonas de dunas, como também pela considerável existência de zonas alagadiças, fazendo com que sobressaíssem apenas pequenas áreas próprias ao cultivo. Outro fator preponderante para adjetivar como discreto o desenvolvimento da ilha, se concentrou também no fato de que o planalto paulista, região mais próxima da Baixada Santista após as vertentes da Serra do Mar, não abrigar a quantidade necessária de famílias produtoras para que existisse um mercado de exportação de produtos agrícolas na região. A distância significativamente longa dos centros de mineração do país também se destaca enquanto justificativa para o pouco crescimento do povoado da ilha de São Vicente. Tais fatores contribuíram de fato para que o município não sustentasse a característica de centro referencial até meados do século XIX (ARAÚJO FILHO, 1965).

Araújo Filho (1969) faz apontamentos também quanto aos limites físicos impostos pelas vertentes da Serra do Mar em relação à sua comunicação entre o planalto paulista e o litoral da Baixada Santista, sendo este fator, assim como os demais já pontuados, um agravante considerável para o baixo crescimento populacional do município de Santos. O autor assinala que eram raros os trechos em que havia facilidade de comunicação direta entre ambas as regiões, sendo a comunicação física estabelecida e consideravelmente melhorada somente a partir da implantação de ferrovias, em decorrência do advento das exportações de café em meados do século XIX.

Com as atividades mineradoras vivenciando o seu declínio a partir de meados do século XVIII, o porto santista começa a ser utilizado para a exportação de cana-de-açúcar, que passou a ser cultivada no litoral norte do estado de São Paulo e no planalto paulista. O autor enfatiza que a produção de açúcar começou a se sobressair no estado de São Paulo, pois o declínio da mineração, sobretudo no estado de Minas Gerais, proporcionou para as famílias que dependiam economicamente do ouro, a necessidade de procura de novas fontes de renda. Consequentemente, estas se descolaram para outras localidades, sendo o litoral do estado de São Paulo uma importante região enquanto acolhedora dessas novas famílias, assim como o planalto paulista ou região conhecida na época como “Serra Acima”. Essas regiões tornaram-se então grandes produtoras de açúcar e passaram a se destacar como grandes fornecedoras do produto para o incremento da economia de exportação de açúcar no país por um período de aproximadamente

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trinta anos. Posteriormente a esse período, o café passou a ser o principal produto de exportação do país.

No que remete aos anos de 1850, podemos afirmar, através de dados apontados por Araujo Filho (1969, p. 82), que “[...] notamos a nítida liderança do café sobre o açúcar na exportação santista a partir de meados da década de 1850”. Nos anos de 1826, segundo dados dos referidos “Mapas de Exportação” consta que foi escoado do porto santista 154.166 arrobas de açúcar, enquanto que apenas 8.831 arrobas de café. Já nos anos de 1854/55, é claramente percebida a inversão de quantidades entre o açúcar e o café. Enquanto foi exportado 184.049 arrobas de açúcar, 773.892 arrobas de café foram exportadas no período referido. Nota-se um aumento consideravelmente exacerbado do escoamento do café no porto quando comparado ao ano inicial de levantamento de dados para o “Mapa de Exportação” da época referida (PETRONE, 1964 apud ARAUJO FILHO, 1969).

Com o já citado acréscimo considerável das exportações de café entre as décadas de 1850-60, em decorrência do aumento da área de lavoura do produto agrícola, sobretudo no planalto paulista e na região da Serra da Mantiqueira, a necessidade de instalação de uma rede ferroviária, que interligasse o planalto paulista ao oceano Atlântico, tornou-se imperativa (ARAÚJO FILHO, 1965). Foi então no ano de 1867 que se inaugurou a linha férrea São Paulo

Railway, que possibilitou um incremento no desenvolvimento do porto de Santos, tendo em

decorrência do acréscimo sobrejacente de circulação de mercadorias, a construção de duzentos metros de cais que foi definitivamente iniciada nos anos de 1890 (ARAÚJO FILHO, 1969).

Com destaque a este considerável acréscimo que a circulação de mercadorias no porto desencadeou, juntamente com o aumento do fluxo de pessoas para a localidade, enfatiza-se que Santos se descaracterizou da forma de vila em que era constituída no período colonial para tornar-se uma das cidades brasileiras de maior importância econômica no país (ARAÚJO FILHO, 1965).

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3.2.2 A elevação à categoria de cidade, a revitalização econômica e o consequente