• Nenhum resultado encontrado

JONLANG-CRIANDOATEORIADAARQUITETURA-CAP.7

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "JONLANG-CRIANDOATEORIADAARQUITETURA-CAP.7"

Copied!
26
0
0

Texto

(1)

CRIANDO TEORIA DA

ARQUITETURA:

TOMADA DE DECISÕES – A

FASE DAS ESCOLHAS

1

(CHOOSING AND THE CHOICE PHASE)

JON LANG

TRADUÇÃO DE FREDERICO FLÓSCULO PINHEIRO BARRETO

SELEÇÃO: A FASE DA ESCOLHA

Escolher é algo que envolve uma série de processos intelectuais. Requer a predição das conseqüências das ações, dado uma gama de contextos futuros possíveis; requer um valor a ser dado [positivo / negativo; preferível / indiferente / abominado; prioritário / postergável, etc.]; e requer que as decisões sejam tomadas com base em algum critério.

A prática da projetação, como um todo, envolve uma dinâmica corrente de avaliações e decisões. A fase de seleção, nessa corrente de decisões, envolve tanto a

1

Capítulo 7 do livro CREATING ARCHITECTURAL THEORY: THE ROLE OF THE BEHAVIORAL SCIENCES IN THE ENVIRONMENTAL DESIGN, de JON LANG (Primeira edição: Van Nostrand Reinhold Company Inc., Nova York, 1987, pp. 66-72).

(2)

seleção, para a efetiva implementação, de uma das possíveis soluções de projeto geradas durante a fase de elaboração de soluções [ou de projeto, propriamente dita], como a decisão [ou o reconhecimento] de que nenhuma solução ainda é suficientemente boa. Neste último caso, todo o processo pode ser abandonado, ou então retorna-se a algum ponto no passado [a uma etapa anterior em que caminhos não-trilhados ou mal-trilhados ainda podem trazer a esperança do acerto].

A fase de seleção é predominantemente interessada na questão da avaliação; mas também envolve atividades de inteligência e um enorme esforço projetual.

PROCESSOS DE AVALIAÇÃO

Tomam-se muitas decisões ao longo do processo de projetação. Sempre que uma decisão é tomada, algum tipo de avaliação ocorre. Dado que o processo integral de projeto de um edifício, de uma fração de paisagem, ou de um complexo urbano envolve uma intrincada e densa cadeia de decisões, as aplicações de valores a essas decisões é algo que ocorre continuamente. Muitas decisões são tomadas sem que haja aquilo que denominamos “reflexão consciente”, mas outras decisões são tomadas com todas as precauções e percalços da reflexão consciente, ainda que muitas vezes de forma subjetiva, outras vezes de forma objetiva, e freqüentemente, em meio a uma mistura em que as duas formas estão inextrincavelmente associadas.

A avaliação é similar à análise, mas possui uma dimensão especial. A análise é baseada na descrição e na comparação. Pode ainda envolver a predição. A avaliação, por sua vez, envolve a seguinte questão:

“O quão bom é isso ?”

Há duas fases importantes na prática do projeto ambiental, que envolve avaliações; a primeira consiste na avaliação de um projeto ainda na prancheta, antes que possa ser

(3)

implementado; a segunda ocorre depois que o projeto foi executado e colocado em operação. Aqui nos ocuparemos do primeiro tipo de avaliação.

VALORES

Toda decisão envolve a aplicação de algum tipo de sistema de valores, para a definição de possíveis cursos de ação. Se a um curso de ação – ou a um dado lugar, ou a um dado acontecimento – se associa um valor positivo, entendemos que ele é desejável. Se um valor negativo é assim associado, entendemos que é indesejável. De um modo geral, essas escalas de desejabilidade envolvem mais de dois estágios ou graus. Clientes e projetistas podem discriminar o valor do que desejam em termos de uma gradação do que seja “bom” ou “mau”. Em geral, usamos uma escala eminentemente verbal, na qual adjetivos ou expressões do “bom” e do “mau” são intensificadas por advérbios como “muito”, “bastante”, ‘razoavelmente”, “extremamente”, etc. (Bross, 1953). Na prática do projeto ambiental, o sistema de valores aplicado é inegavelmente intuitivo.

Muitos arquitetos, particularmente entre os projetistas ambientais profissionais, não acreditam que se possa desenvolver e confiar em um sistema “numérico”, totalmente objetivo e universal, de valores, para uso na avaliação da qualidade de um projeto. Os projetistas que buscam precisão nas suas avaliações podem tentar buscar ajuda nas ciências comportamentais para que elucidem essa dificuldade – e a possibilidade de uma solução satisfatória – mas, infelizmente, não encontrarão aí toda a ajuda de que necessitam.

Poucos cientistas comportamentais se ocuparam da pesquisa acerca do problema da modelação dos sistemas de valores existentes, pois esse é um tópico difícil e altamente controverso. A consideração do valor de uma vida humana, por exemplo, levanta uma legião de considerações éticas – parece ser uma daquelas questões intransponíveis. Mas nos processos de tomada de decisão (por exemplo, nos projetos de hospitais, ou mesmo nas decisões sobre se deve investir em coisas como escadas de incêndio, na segurança dos trabalhadores, etc.) atribui-se sistematicamente valores a questões como essa.

(4)

Arquitetos falam muito acerca de “buscar a verdade no projeto”. Implicitamente, essa é uma posição claramente valorativa. Uma das razões para que o processo de projetação seja argumentativo é que não há uma verdade inequívoca, singela e única, assim como não existe um sistema de valores universais e objetivos (onde as dimensões do sistema de avaliação e de mensuração sejam entendidas por todos os envolvidos) com os quais todos concordarão – exceto em casos muito específicos (ver também Manheim, 1970). Esses casos podem envolver aspectos da natureza biológica e tecnológica do ambiente.

Um exame mais minucioso mostrará que os projetistas ambientais podem aplicar - e efetivamente o fazem – valores numéricos em suas avaliações de muitos dos itens que os preocupam. Muitos desses itens têm valores de mercado. Uma edificação, os seus serviços, suas instalações, seu consumo de energia, água e outros insumos, sua manutenção, têm valores monetários, assim como o próprio trabalho do projetista. Maçãs e laranjas podem ser comparadas em termos monetários, mas isso nos fala somente de uma certa medida de sua demanda no mercado, dado o seu respectivo custo de produção. Esse valor monetário de forma alguma explica o que certa pessoa pensa de “maçãs” ou de “laranjas”. Além disso, diferentes pessoas apresentam diferentes reações aos valores monetários de “maçãs” ou de “laranjas”.

A pesquisa na área da Psicologia tem eventualmente focado na construção de escalas de preferência, visando discriminar entre os valores atribuídos pelas pessoas a diferentes objetos. As pessoas podem ser solicitadas a colocar diferentes objetos em sua ordem de preferência, ou podem ser solicitadas a assinalar um valor numérico em, digamos, uma escala de 0 a 10, explicitando o quanto apreciam algo. No projeto ambiental, há. Em geral, uma multiplicidade de clientes com diferentes valores (Manheim, 1970). A dificuldade, então, é mover-nos desde valores individuais até um consenso de todo um grupo. Se tomarmos a média dos valores individuais, como forma de representar os valores

(5)

do grupo, pode-se obter uma espécie de “resultado representativo” que não representa efetivamente nenhum dos indivíduos, nem o grupo como um todo.

A conseqüência de tudo isso é que os projetos são avaliados, em parte, por valores monetários, e em parte por valores que podem ser capturados em uma escala verbal. O custo monetário dos projetos é importante, mas além dele uma escala verbal / intuitiva / subjetiva é usada. Essas ocorrências são comuns em todo o processo de projetação.

A FASE DE ESCOLHA

Com freqüência, na práxis do projeto ambiental, a fase de projeto e de escolha entre alternativas são conjuminadas, de forma que aparentemente apenas um caminho é trilhado, apenas um projeto é desenvolvido. A questão que se coloca a esse procedimento é simples: “esse projeto é realmente bom (é bom o suficiente) ?”

Mas cresce a demanda aos projetistas, para que ofereçam aos seus clientes – em geral os patrocinadores do projeto, mas eventualmente também os usuários podem ser chamados – mais de uma possibilidade de projeto. Nesse caso, a fase de escolha é o período em que uma discriminação é feita entre diferentes projetos, e um deles é escolhido para ser implementado – pelo menos se um deles for realmente aceitável. As atividades intelectuais mais relevantes dessa fase foram diagramadas na Figura 7-1.

O grau em que a escolha que se faz é efetivamente satisfatória depende do desempenho do objeto projetado, depois que é construído, executado. Se ele “funcionar bem”, tiver um bom desempenho como forma construída, fez-se uma boa escolha. Desse modo, a predição dessa performance, de como o objeto alcançará / permitirá o alcance dos objetivos definidos para o projeto, é algo importante para a fase do projeto. O quão bem o projeto poderá criar condições para um bom desempenho do objeto – ou da edificação – depende não somente de suas próprias “qualidades”, mas também da natureza do ambiente social, cultural e físico, no qual esse objeto existe. Assim, a natureza do futuro ambiente também deve ser parte da predição. Em alguns casos, o projetista tem controle sobre

(6)

aspectos desse contexto, mas é mais freqüente que isso não ocorra. A relação entre projeto e ambiente não é unidirecional; o projeto também tem um impacto sobre o ambiente. A predição e a avaliação do impacto que pode ter um edifício, de uma paisagem projetada, de uma nova área urbana ou mesmo de toda uma nova “cidade” é, na atualidade, objeto de considerações legais.

Figura 7.1 - As atividades intelectuais da Fase de Escolha da Praxis Projetual

Teoria Substantiva

Projetos Possíveis Fase de PROJETO Predição do Futuro Contexto Predição do Desempenho Predição da Interação Avaliação Trata-se de Algo Bom o Suficiente? SIM NÃO Retorne à Fase de Projeto ou à Fase de Inteligência Selecione a Melhor Alternativa Realize Construa Implemente Critérios Decisórios Sistema de Valores

Uma vez que se faça uma predição acerca do desempenho de uma solução potencial, de forma associada ao ambiente [futuro e predito], deve-se aplicar uma determinada valoração e um determinado critério decisório. Tradicionalmente, todo esse processo tem sido conduzido de forma intuitiva, mas há uma pressão crescente para que ocorra da forma mais explícita possível, de modo que todas as pessoas envolvidas possam compreender as implicações do que se vem fazendo.

PREDIÇÃO

Enquanto que a Seção 899 do Code of Criminal Procedure [algo como o Código de Processo Penal] do Estado de Nova York ainda incrimine a arte de fazer “predições” como

(7)

um tipo de comportamento “desordeiro”, para o qual diz, expressamente, que “a boa fé dos envolvidos não os isenta”, temos que os arquitetos, os paisagistas, os urbanistas e “desenhistas urbanos”, e seus vários clientes, como vimos notando até agora, estão diretamente envolvidos na elaboração de um fluxo contínuo de predições ao longo de sua práxis, de seu trabalho.

Também notamos que na fase de escolha, os projetistas estão particularmente interessados com a predição do desempenho dos projetos que eles estão elaborando, endereçados a um contexto futuro. Várias técnicas preditivas já são bem conhecidas e praticadas pelos projetistas. Uma das mais poderosas é a construção de um protótipo ou de uma simulação do projeto, e testá-lo(a) através de experimentações. De um modo geral, no entanto, outras técnicas de predição são mais usadas, baseadas em experiências passadas. É aqui que a qualidade da teoria substantiva de que se disponha deve afetar mais claramente o resultado do projeto – ou melhor, o resultado do aspecto relacionado ao procedimento da práxis de projeto. É muito difícil elaborar predições consistentes quando o conhecimento no qual elas se baseiam é fraco, insuficiente.

A EXPERIMENTAÇÃO E A SIMULAÇÃO APLICADA À PREDIÇÃO

Predizer o desempenho de edificações e de outros produtos do projeto ambiental não é tarefa fácil, pois dificilmente se pode construir protótipos adequados, para que sejam examinados e testados antes da implementação. Esses produtos tendem a ser únicos, e mesmo nos casos dos edifícios que não são únicos, que são produzidos em série, os custos da experimentação sistemática com protótipos pode ser proibitiva na maior parte dos casos. Contudo, com determinados projetos ou partes de projetos, o uso de protótipos é viável.

O desempenho de muitos produtos industriais podem ser avaliados através de sua submissão ao escrutínio experimental. Isso é possível quando o custo de construção de um protótipo é relativamente baixo, em comparação com o total número de itens a serem construídos. Itens que serão produzidos em massa – como automóveis, telefones, panelas

(8)

ou cadeiras – podem, e freqüentemente são, sujeitos a esse tipo de teste. Se o protótipo não alcança o padrão de desempenho requerido, ele pode ser alterado e testado novamente. Ou, desafortunadamente, o produto pode ir para o mercado de qualquer jeito, mesmo que se saiba que tem defeitos conhecidos e claramente diagnosticados – defeitos que são “maquiados”, disfarçados, através de “atalhos ao projeto” –, somente sendo descobertos depois da compra e do uso. Isso também acontece com as edificações.

Os elementos do ambiente considerados na escala dos edifícios ou na escala das cidades não podem ser manipulados dessa maneira. Ainda assim, experimentos podem ser feitos nos próprios espaços e situações existentes, para testar coisas como: “o impacto da sincronia de semáforos sobre o fluxo do trânsito em determinadas ruas e avenidas”, ou ainda “o impacto de uma dada mudança no sistema de bilheteria, em um cinema, sobre o fluxo de pessoas no seu foyer”, etc.; simulações ou montagens que imitem determinadas situações, como dormitórios ou estações de trabalho – ou seja, unidades repetitivas ou com aspectos repetitivos – podem ser construídos, embora possa ser realmente difícil testá-los em condições que simulem a sua operação ou funcionamento cotidiana, tal como ocorrerá no dia-a-dia. Por isso nos valemos de “testes parciais” de aspectos parciais. As estações de trabalho podem ser testadas para vermos se são confortáveis, e como facilitam as atividades previstas para ocorrer nelas. Mesmo a sua aparência – suas qualidades estéticas – pode ser testada com a ajuda de pessoas (através de amostras de determinadas “populações” de usuários).

Uma alternativa para a realização de experimentos em sistemas reais ou em situações simuladas (com a ajuda de cenários, maquetes, arranjos). Nesse caso, modelos dos sistemas propostos são construídos e testados. Há uma variedade de tipos de modelos. Modelos Icônicos são aqueles nos quais os aspectos físicos dos sistemas reais são representados. Modelos arquitetônicos tradicionais, de edificações, maquetes, são desse tipo. Modelos Analógicos são um outro tipo. Nesse caso o modelo é representado em um meio distinto daquele do seu sistema real. A perspectiva euclidiana e a projeção ortográfica

(9)

são modelos desse tipo, extensivamente usados pelos projetistas. Dentre as várias maneiras em que esses modelos que são usados, uma consiste na simulação da aparência do que está a ser desenhado. Um avanço algo recente é o uso de filmes animados com a ajuda de computadores, que simulam a seqüência de experiências das pessoas que se deslocam pelas cidades ou em edifícios. Modelos Matemáticos Simbólicos têm sido utilizados com freqüência cada vez maior, para predizer aspectos do desempenho das edificações.

Muitos aspectos de projetos, tais como os das estruturas das edificações, dos padrões de circulação, dos sistemas mecânicos das edificações, dos sistemas de controle de perda e ganho de calor, de controle dos custos de manutenção predial e de instalações, do desempenho físico de componentes da construção, podem ser modelados matematicamente. A predição de sua performance em cada uma dessas dimensões pode ser feito com um elevado grau de exatidão. Isso somente é possível porque a “teoria positiva” nessas áreas citadas é bem desenvolvida, e as variáveis envolvidas são descritas de forma específica.

Há outras dimensões de desempenho que muito nos interessam, projetistas e pesquisadores, particularmente aquelas que se referem ao comportamento humano e à interpretação estética de edifícios que foram projetados [nos quais repousa uma grande quantidade de predições e hipóteses], em que tais simulações são de difícil simulação, assim como de serem respondidas através de medidas simplificadas, sistematizadas e normatizadas de projeto. Mesmo nos casos em que modelos matemáticos podem ser usados (como na formação de filas, nas esperas, nos fluxos de público, por exemplo), limitações quanto ao tempo e ao dinheiro levam os projetistas a se apoiarem em suas próprias experiências para fazer predições. Ao fazerem isso, eles acabam por se apoiar em uma outra classe de técnicas de predição, totalmente diferente das que se vêm examinando até aqui: as previsões baseadas na projeção de percepções passadas sobre o futuro.

(10)

TÉCNICAS DE PREVISÃO

As pessoas, até onde se sabe, não podem prever o futuro. Quando os projetistas não realizam experimentos com os sistemas que propõem, para ver como realmente funcionam, eles se vêem forçados a confiar em observações, ou em recordações do passado, de forma a poderem predizer como suas propostas irão funcionar. Recentemente, tem-se registrado um crescente volume de esforços para que isso seja feito de um modo menos casual.

Na medida em que o processo de projetação “espirala” na direção de uma possível solução, as predições devem tornar-se mais e mais específicas. No início dos trabalhos, podemos usar regras muito gerais, como para predizer o quanto um edifício pode custar, ou qual a espessura que suas lajes deverão ter. Mais adiante, deve-se proceder a cálculos que especificarão corretamente esses valores. Será muito mais fácil prever as conseqüências de variáveis dessa natureza, envolvendo custos de materiais e de trabalhos bem definidos, de estruturas e componentes bem conhecidos, do que prever as conseqüências de decisões que lidam diretamente com variáveis que envolvam, digamos, questões simbólicas e estéticas.

Há uma variedade de técnicas de previsão que podemos identificar: previsão por persistência; previsão por trajetória; previsão de padrão cíclico. Todas elas baseiam-se em descrições de ocorrências passadas. Há ainda duas técnicas que envolvem um volume de informações de maior monta: predição associativa e predição por analogia. Todas essas predições são utilizadas ordinariamente em um ou outro momento do processo de projetação – sobretudo naqueles projetos de maior envergadura (Bross, 1953).

A Previsão por Persistência funciona melhor em meio a um ambiente estável. Ao lançar mão dessa técnica, o projetista supõe que o futuro será igual – ou muito assemelhado – ao presente: que não haverá mudanças. Então tudo o que o projetista precisa realmente saber diz respeito à situação atual. Ao predizer como um projeto acarretará o alcance de determinados objetivos, um certo grupo de atividades será adequadamente desempenhado,

(11)

sua pressuposição é de que os padrões da atualidade funcionarão tão bem no futuro quanto funcionam agora. Quando não se faz nenhum tipo de predição é feita durante a “Fase da Escolha” (Choice Phase) do processo de projetação, especialmente com referência ao contexto no qual o projeto existirá, operará, será posto em prática, no futuro, temos que, efetivamente, apenas uma das seguintes suposições foi assumida:

- a de que o contexto futuro do projeto é irrelevante; - ou a de que o contexto futuro é igual ao atual;

- ou, finalmente, a de que o projeto funciona em qualquer contexto imaginável. A segunda suposição acima envolve a Previsão por Persistência. Essa técnica de predição é aceitável, sobretudo quando o futuro é próximo, quando o planejamento diz respeito a prazos curtos. Nessa escala temporal, os padrões de atividades que existem no momento estarão provavelmente presentes nos próximos meses ou semestres. Os valores estéticos desta semana provavelmente serão os mesmos da próxima semana. Os padrões de construção deste ano também serão aceitáveis no próximo qüinqüênio (observe-se que “curto prazo” tem diferentes medidas para diferentes fenômenos ou processos). Todas essas são “predições por persistência”. Sabemos ainda, contudo, que o mundo não é estável assim, mesmo no “curto prazo”, e que alguns eventos podem ter suas idiossincrasias: muitas coisas estão em mudança ao mesmo tempo, “neste momento”. Assim, o uso da Previsão por Persistência deve levar a importantes (e, em última análise, imprevisíveis desta forma) erros, ao tentarmos antecipar coisas como o contexto no qual um dado edifício vai ser recebido em um futuro próximo, ou como os padrões que se decidiu usar em um dado projeto funcionarão no futuro. Não, é claro, como deixar de considerar outras abordagens para que consigamos predizer melhor essas situações.

A Predição por Trajetória supõe que as taxas de mudanças passadas serão mantidas no futuro. Caso não se reconheça a ocorrência de mudanças no passado, com respeito a um determinado aspecto considerado – o aspecto é uma constante – então, quanto a esse aspecto, o futuro será igual ao presente. Caso se reconheça que houve mudanças, assume-se que o mesmo “passo” de sua ocorrência será mantido. Enquanto essa abordagem

(12)

se satisfatoriamente para predições de curto prazo, não se pode dizer que seja eficiente para predições em longo prazo. Projetistas ambientais2, assim como outras pessoas, estão preocupados com tendências – em todos os campos, desde os custos da construção até os tamanhos das famílias que habitarão seus projetos populares, ou os parâmetros que as bancas de concursos públicos têm usado nas suas decisões de premiação. Poucas tendências se mantêm “constantes”, evoluem numa trajetória previsível pelo futuro adentro. No caso dos edifícios, o contexto de seu uso (as demandas por atividades, sua rentabilidade, seu impacto ambiental ao longo do tempo sobre diferentes comunidades e partes de sua vizinhança, etc.) não se transforma de uma maneira homogênea, linear – nem a uma mesma “velocidade” de transformações e inovações.

A Predição Cíclica supõe que a história se repete. Essa abordagem requer muito mais informação histórica que a necessária para as predições Por Persistência e Por Trajetória. Parece funcionar muito bem com respeito a fenômenos sazonais, periódicos – e para aqueles eventos astronômicos, de natureza cíclica. Ann Tyng (1975) sugere que a empatia popular por formas ora simples ora complexas [em arquitetura] acontecem ciclicamente.

A persistência, a trajetória e o caráter cíclico como abordagens capazes de gerar técnicas de predições são usadas através de todos os aspectos da práxis do projeto ambiental. São técnicas descritivas que não requerem maiores elaborações teóricas. Na pesquisa e na elaboração de teorias, a eventual exatidão ou especificidade de seus resultados podem nos levar a questões tais como: “Por que as coisas mudaram tão de repente ?”... ou: “Por que as coisas se mantiveram tão estáveis quando esperávamos mudanças significativas ?”... e assim por diante.

2

Environmetal Designers é uma frase usada repetidamente por Lang para designar arquitetos, urbanistas, paisagistas e outros profissionais do projeto, mas também planejadores e tomadores de decisão que participam diretamente da projetação, num sentido amplo, multidisciplinar, comprometidos com o contexto da

(13)

Essas técnicas são amplamente utilizadas, e numa forma comumente casual, para predizer o desempenho de projetos de edifícios, de paisagens projetadas, de frações das cidades. Os planejadores observam quais são os projetos – e aspectos de projetos – que “funcionam”, que apresentam um bom desempenho, e supõem que os padrões que propõem em seus próprios projetos funcionarão de forma assemelhada. Essas técnicas funcionam, com freqüência, devido às várias formas de estabilidades inerentes ao mundo. Ainda assim, confiar nessas abordagens pode ser perigoso, pois podem ser impróprias para muitas situações defrontadas na realidade. Com esse tipo de técnica, as conclusões são tiradas sem que se tenha compreendido POR QUE os padrões adotados ou observados funcionam do modo como funcionam. É nesse ponto em que a Predição Associativa difere das anteriores.

A Predição Associativa se apóia no uso de uma base teórica positiva para fazer predições. Suas predições são confiáveis apenas na medida em que a base teórica é confiável. No projeto ambiental, um dos objetivos – presumidamente – é a previsão cuidadosa, acurada, do desempenho dos padrões que estão a ser projetados. Tanto melhor o conhecimento que os projetistas têm dos variados padrões disponíveis, e tanto maior a compreensão que os projetistas têm da utilidade desses padrões e sua adequação às potenciais demandas de diferentes usuários (e por que esses ajustes são desejados e perduram), mais provavelmente poderemos prever o desempenho de padrões específicos. O que realmente importa é que os relacionamentos definidos entre as variáveis nessa base teórica sejam relevantes e externamente válidos.

No passado, os projetistas fizeram um extenso uso da técnica de predição associativa, baseados em sua compreensão intuitiva do mundo à sua volta. Quando as mudanças sociais passam a lentamente acumular-se, e sua compreensão tem tempo de ajustar-se, de aprender com as novas possibilidades, incrementalmente, ocorre de os projetistas, seus clientes, e os usuários de suas realizações, simultaneamente partilharem os mesmos valores e avaliações, e poderem cooperar com razoável concordância. Nesse caso, as suas predições serão muito boas, feitas num ambiente que concorre para que se realizem.

(14)

Temos argumentado ao longo deste trabalho que esse não foi – nem é – o caso do mundo onde nasceu e no qual se desenrolou o movimento modernista na arquitetura e no design. A qualidade das teorias utilizadas por esses arquitetos foi claramente deficiente, muitas vez simplesmente errônea. Dificilmente nos surpreende, ao entendermos essas deficiências, que tudo aquilo que tanto se esperava ser certeiro, eficiente, competente, tenha falhado com tanta freqüência, em tão larga escala. As limitações atuais de nossas teorias positivas ainda definem nossa habilidade de realizar predições de boa qualidade.

As Predições por Analogia são outro tipo freqüentemente usado pelos projetistas. Baseia-se na percepção das similaridades entre dois sistemas diferentes, com respeito a uma dada dimensão que nos interessa. Um desses sistemas deve ser relativamente (ao outro) mais simples, sendo possível distinguir nele como os eventos que nos interessam são processados, como se transformam. Essa observação é então aplicada a sistemas de maior complexidade. Os resultados alcançados na aplicação da técnica dependem da qualidade da analogia estabelecida.

Os arquitetos usam com freqüência as analogias para explicar como funcionarão os projetos de edificações que eles estão propondo. Uma analogia bem feita, envolvente, convincente, é uma forma bem eficiente para realizar essas explicações. Uma das analogias mais conhecidas, nesse sentido, é aquela que Buckminster Fuller fez com respeito à “Espaçonave Terra”. Analogias também podem ser poderosamente enganadoras caso a relação seja inapropriada, se for incorretamente compreendida ou representada – ou se o desempenho da dimensão comum aos dois sistemas não é a mesma. Em tais casos, se ocorrem predições acertadas, isso não passa de coincidência, pura fortuna.

Há assim um conjunto de técnicas de predição que usamos na projetação ambiental. Quando analisamos a maioria dos projetos e planos, vemos que as predições dos contextos onde um dado projeto ou proposta atuará provavelmente se baseiam numa mistura de técnicas de persistência, de trajetória ou de associação. Já o desempenho de um edifício ou

(15)

de outro projeto ambiental provavelmente será previsto com base numa mistura de técnicas associativas e analógicas, assim como na intuição do projetista. Em todos esses casos, nós tendemos a falar em probabilidades de ocorrência deste ou daquele resultado. Não há dúvida de que temos aprendido a ser muito mais modestos quanto às nossas habilidades preditivas. Essas habilidades, no entanto, podem ser desenvolvidas na mesma medida em que o nosso conhecimento positivo acerca da forma construída se ampliar.

MEDIDAS DE EFETIVIDADE

Muitos dos aspectos da forma construída que interessam aos projetistas são criados para responder a uma multiplicidade de objetivos. Há uma multiplicidade de modos de resposta a cada um desses objetivos. Qualquer projeto que se alimente da longa cadeia de projetos passados, refletindo demandas concretas impostas por uma clientela exigente e inquieta, terá uma multiplicidade de características – e tantas, que dificilmente teremos condições para analisar todas elas. Freqüentemente, a amplitude das características que avaliamos é proporcionalmente restrita: determinadas características estéticas e outras tantas características de ordem funcional, geralmente um e outro grupo consolidados pelo senso comum. Essa ordem de restrição, esse tipo de foco, é particularmente notado quando projetos são avaliados por um corpo de especialistas – o tradicional júri dos concursos de arquitetura. Os júris são usados formalmente para deliberarem em disputas públicas, na avaliação da qualidade estética da produção de projetos e edificações (como nos casos dos comitês municipais de patrimônio, ou de certificação de qualidade), e de forma muito mais extensiva, nas avaliações dos trabalhos dos estudantes das escolas profissionalizantes em projeto ambiental.

Uma pesquisa acerca dos júris das escolas de arquitetura mostrou que são relativamente poucas as variáveis – ou aquilo que foi denominado “fator de avaliação” – consideradas por seus membros (Hassid, 1961). Os fatores selecionados variaram de situação a situação, mas poderiam ser agrupados em termos de “circulação” e “estética”.

(16)

Um estudo mais recente mostra um conjunto bem mais amplo de aspectos sendo levantados em júris, envolvendo ainda aspectos de procedimentos de analise, e ainda aspectos substantivos, relacionados à consistência e propriedade dos próprios argumentos emitidos pelos jurados, mas ainda assim as categorias de variáveis eram muito limitadas (Architecture Education Study, vol. II, 1981). Algumas vezes as questões levantadas são sistematicamente relacionadas aos objetivos que um projeto supostamente deveria responder, mas noutros casos os objetivos acabam por ser aqueles que os jurados pensam ser os mais importantes. Também é freqüente a confusão quanto ao entendimento das próprias avaliações feitas e julgamentos emitidos, pois a avaliação dos “objetivos” do projeto (o que ele irá atender) raramente é distinguida da avaliação dos “meios” (o próprio projeto, sua representação) usados para o alcance dos objetivos.

A existência de objetivos múltiplos significa que o processo de avaliação para cada solução potencial envolve o uso de certo número de medidas de efetividade provavelmente incompatíveis entre si. Algumas variáveis apresentarão valores numéricos – monetários, de área física – que as descrevem, outras terão valores categóricos, qualitativos. Não se pode simplesmente somar coisas assim, entre si. Qualquer que seja o resultado de uma avaliação que reúna tipos tão distintos de variáveis, teremos um longo trabalho para a sua explicação.

Muitas alternativas já foram propostas para aprimorar esses processos de avaliação; paulatinamente essas alternativas vêm sendo postas em prática, sob a crescente pressão pública pela transparência e qualificação dos processos avaliativos. Essas técnicas são usadas para o registro e representação das avaliações do desempenho das edificações, e de outros tipos de projetos (sobretudo os de maior escala, de maior impacto, como as represas, os plexos viários e metroviários, as expansões urbanas). Os métodos que enfeixam essas técnicas podem ser denominados de “contabilizações das avaliações” (evaluation accounts), envolvendo análises de custo-benefício, ou análises de custo-efetividade. A mais simples das contabilizações é a planilha de comparações (balance sheet), na qual os “fortes” e os “fracos” de cada esquema de projeto - em termos dos objetivos colocados e

(17)

das pessoas envolvidas, são expostos. Trata-se de um procedimento bastante usado e comum no projeto ambiental. Procedimentos mais complexos partem de elaborações da análise de custo-benefício (Litchfield, 1960), e da matriz de alcance de objetivos (Hill, 1972). A primeira análise apresenta os custos e os benefícios de cada esquema em um formato de planilha, enquanto que a matriz estende essa comparação por permitir cálculos com agrupamentos (comparando a importância relativa de grupos de variáveis, criando assim uma segunda matriz e análise, e assim por diante). Os valores dos agrupamentos de variáveis são estabelecidos por critérios como “o grau de alcance dos objetivos do projeto por esse ou aquele grupo de variáveis”. Essa técnica faz o reconhecimento da diversidade de valores que pode ser usada para avaliar tanto os objetivos de um projeto quanto o modo através do qual esses objetivos são alcançados. É também uma forma de reconhecer que muitas das preocupações que os projetistas trazem para a projetação são intangíveis (seja por valores culturais seja por valores idiossincráticos), mas que devem – de alguma forma arbitrada – em qualquer avaliação, se desejarmos que tenha validade externa, além do círculo do projetista. O problema com todas essas abordagens é que elas são tremendamente consumidoras de tempo: cada fator considerado se abre ao questionamento. Por essa razão, raramente são empregadas, a não ser em projetos de grande impacto, de larga escala física e de investimentos, onde a contabilização das avaliações é requerida, política e legalmente.

Várias abordagens possíveis têm sido sugeridas na literatura da arquitetura (ver por exemplo o trabalho de J. C. Jones, 1970). Em todas as profissões ambientais, no entanto, há uma consistente confiança em júris autoritativos, que usam amplamente de critérios subjetivos para fazerem suas avaliações – a abordagem da “caixa preta”. Os custos das construções, e os custos crescentes de manutenção, têm um importante papel nas avaliações de projeto, e nas discriminações a serem feitas entre diferentes propostas projetuais. Apesar disso, se considerarmos dois esquemas de custos aproximadamente iguais, ou dois esquemas com custos muito diferentes – nos dois casos, esquemas com desempenhos bem diferentes -, observa-se que o julgamento subjetivo é decisivamente usado nas avaliações

(18)

feitas por profissionais, nesses júris autoritativos. A qualidade das decisões depende das atitudes do júri: de suas crenças acerca de como um projeto assim funcionará, nas dimensões que escolherem para a sua consideração, e nos níveis de desempenho em que acreditem (tal como lhes pareçam).

AVALIANDO A RELAÇÃO ENTRE UMA PROPOSTA DE PROJETO E O AMBIENTE EM QUE SE INSERE

Diferentes projetistas mostram diferentes atitudes ao considerarem o impacto dos projetos que concebem, sobre seu entorno, bem como o impacto do entorno sobre seus projetos. Uma das dificuldades está na exata predição acerca de como será o ambiente em que esse projeto se insere, no futuro. Uma das respostas a isso é projetar edifícios e mesmo frações da cidade, seus logradouros, praças e outras cenas urbanas, como se fossem independentes de seus arredores. Os projetistas conseguiram se sair incólumes, com essa ordem de soluções, no passado – mas o público em geral e as pessoas com interesses diretos no bom desempenho dos projetos tornaram-se cada vez mais conscientes do impacto mais ou menos positivo / negativo que as edificações e as transformações urbanas têm em suas vidas. Cada vez mais a comunidade tem se expressado acerca disso, e questionado os projetistas e planejadores. Os arquitetos, em particular, têm-se tornado mais alertas quanto às conseqüências legais decorrentes da implantação desastrada de uma nova edificação (como o bloqueio da ventilação natural existente, ou a perda da isolação natural pré-existente, do equilíbrio no ganho / perda de calor das demais edificações, entre outros aspectos). Há ainda outros efeitos potenciais sendo reconhecidos e estudados. As pesquisas têm mostrado, por exemplo, que os grandes edifícios que são poderosos atratores de trânsito podem apresentar efeitos deletérios na sua vizinhança, através das mudanças nos padrões de trânsito, na demanda por estacionamento, nas reformas viárias (com o alargamento das vias, por exemplo, criando situações perigosas para a sua travessia, e deformando a imagem bucólica dos bairros centrais tradicionais (Newman, 1979).

(19)

As discussões acerca da necessidade de considerar os efeitos colaterais dos projetos têm focalizado especialmente no esforço de evitar os impactos negativos, mais que em promover impactos positivos. Isso é provocado, em especial, pelo efeito da legislação (de prevenção de impacto ambiental negativo, de impacto sobre a vizinhança, de geração de tráfego, de acessibilidade, entre outros aspectos), especialmente em projetos públicos de grande escala, visando a garantia de que efeitos colaterais negativos não ocorrerão. No dia 1º de janeiro de 1970, o presidente dos EUA assinou o National Environmental Policy Act, que passou a ser lei (mais sobre o assunto em Jain et all., 1977). O efeito dessa lei sobre muitos projetos e empreendimentos de grande porte foi imediato, em especial porque ordenava que o impacto do projeto no ambiente físico e social de sua vizinhança e área de implantação fosse identificado e avaliado. A avaliação determinada era claramente enviesada pelas exigências metodológicas, que enfatizavam medidas quantitativas dos eventuais impactos no ambiente natural e, em conseqüência, assumia-se, sobre as pessoas. Bem ou mal, essa lei foi um marco na consciência dos projetistas dos EUA (de onde leis assemelhadas propagaram-se pelo mundo, ainda que houvesse precedentes assemelhados na legislação de países da Europa) de que seu trabalho, aquilo que faziam, tinha impacto sobre o ambiente, sobre as pessoas. Deve-se sempre lembrar que: esses impactos podem ser em parte negativos e em parte positivos.

CRITÉRIOS DECISÓRIOS

Por mais abrangentes que sejam as previsões (acerca do estado futuro do ambiente e do desempenho dos possíveis projetos em estudo) em que nos baseamos e que incluímos em nossos trabalhos, a decisão que tomamos entre essa ou aquela alternativa de projeto, entre esse ou aquele caminho ou abordagem, sempre é muito difícil de fazer. Pode ocorrer ter termos diante de nós projetos cujos desempenhos (previstos) são muito assemelhados, por mais diferentes que sejam em seu caráter, em sua aparência; freqüentemente, temos diante de nós alternativas de projetos com uma grande variedade de pontos fortes e de pontos fracos. Mesmo que um desses projetos nos pareça ser “o melhor da amostra” –

(20)

considerados os critérios usados pela própria equipe de projeto, ou os critérios estabelecidos durante a fase de inteligência da projetação -, as atitudes que o “árbitro final”, a banca julgadora, o tomador de decisões com maior poder demonstre e detenha podem tornar qualquer procedimento de avaliação sistemática completamente irrelevante. Isso pode ocorrer no caso de uma mudança no patrocínio do projeto, na política do empreendimento, entre os momentos em que a fase de inteligência está a se completar e a fase da tomada de decisão, da escolha entre alternativas está a iniciar-se. Muitos arquitetos experimentaram essa ordem de mudança em meio a incumbências de caráter público, quando o governo de um país que está a patrocinar um determinado empreendimento, e a conjuntura política muda – e com ela a percepção que havia acerca do problema, do que era o problema em discussão. De um modo fundamental, as pessoas têm diferentes atitudes acerca do mundo e isso se reflete nos critérios decisórios que adotam.

Algumas pessoas são otimistas: elas escolhem dentre aquelas alternativas de projeto que, segundo suas previsões, terão os melhores desempenhos, levarão aos melhores resultados, seja qual seja o futuro. Outras pessoas são pessimistas: elas escolhem com base em sua percepção dos piores resultados, que buscam evitar. Nessa abordagem, “o melhor dentre os piores” ganha – ou, olhando com uma pequenina pitada de otimismo, ganha aquele que melhor opera sob as piores condições possíveis. Algumas pessoas estão mais interessadas nos ganhos e benefícios de curto prazo, e outros estão interessados nos ganhos e benefícios de longo prazo. Muitos projetistas entendem que é “sua responsabilidade” fazer a advocacia dos objetivos e processo de longo prazo, que são essas prioridades que devem gerar os principais critérios decisórios dos projetos. Já outros tomadores de decisões preferem uma mistura negociada entre aquilo que lhes dá maior lucro no curto prazo, e maior segurança no longo prazo. Seu lema pode ser assim expresso: “minimize o máximo risco !” Uma abordagem “racional” pode ser a seleção do projeto que tem as maiores probabilidades de bom desempenho no cenário futuro dado como o mais provável. Qual dessas abordagens poderá ser selecionada depende, em parte, dos interesses do tomador de decisões.

(21)

Carl Jung distinguia entre quatro tipos psicológicos, quanto ao tipo de informações que preferiam para tomar decisões, bem como à suas diferentes formas de decidir. Nessa formulação, há dois tipos em cada dimensão: tipos “sensoriais” (sensing) e “intuitivos” com respeito ao tipo de informação, e tipos “pensantes” (thinking) e “valorativos” (feeling) quanto à forma de decidir. Os tipos sensoriais enfatizam as informações diretas, empíricas, que se possa ter em evidência; os tipos intuitivos buscam entender a situação como um todo, e usam cenários hipotéticos como guias ou meios de exploração e avaliação; os tipos “pensantes” baseiam suas decisões em raciocínios lógicos e impessoais, enquanto os tipos “valorativos” enfatizam valores, interesses e considerações pessoais. Surgem conflitos – e isso é previsível – quando interagem nas equipes de projeto, pois cada um pensa que o outro não compreende o que se passa. Na realidade, cada tipo representa uma forma complementar de abordar a tomada de decisões, e suas contribuições podem ser valiosas, se coordenadas (ver Mitroff, 1983).

Há critérios decisórios ao longo de todo o processo de projetação. A fase de inteligência pode demandar um amplo conjunto de critérios decisórios, dado que muitas pessoas podem ter de participar. É aqui que as pessoas do tipo “intuitivo”-“valorativo” podem se mostrar hábeis quanto à formulação de objetivos, ao passo que os tipos “intuitivos”-“pensantes” podem ser muito bons no tocante à formulação de problemas. Na fase do projeto, as atitudes dos projetistas propriamente ditos são de evidente importância. Aqui os tipos “sensoriais”-“pensadores” podem ser úteis nas situações de resolução de problemas (problem-solving). Possivelmente, as melhores pessoas para dar conta da fase de tomada de decisões seriam os tipos “sensoriais”-“valorativos”, mas o que acaba por dominar a situação de tomada de decisão são os critérios daquela pessoa – ou do grupo de pessoas - que tem o poder real para tomar e sustentar a decisão.

(22)

A fase de escolha nem sempre existe como uma entidade separada, em qualquer das práticas de projeto ambientais conhecidas. É mais provável que se torne claramente distinta em projetos de maior escala, envolvendo interesses contrastantes, como no desenho urbano e no paisagismo. Mais freqüentemente a fase de escolha se encontra imersa na fase de desenvolvimento da proposta de projeto, com escolhas e desenvolvimentos alternando-se rapidamente entre a prancheta e a equipe responsável. Também é freqüente, em projetos de arquitetura de edificações de menor escala, que a fase de inteligência, projeto e escolha sejam praticamente uma só. As atividades de escolha – não a “fase”, em especial - são parte de todas as ações encetadas ao longo do processo de projetação. As escolhas implicam em se fazer predições, na aplicação de valores, na avaliação de conseqüências, no uso de critérios decisórios. Não há regras para assegurar que decisões favoráveis sempre sejam tomadas.

Os sistemas de predições e os sistemas de valores são imperfeitos, e os projetistas são obrigados a correr riscos. Pergunta-se se os sistemas de atividades programadas para as edificações ou para as unidades de vizinhança realmente funcionarão; perguntam-se como as pessoas reagirão aos aspectos estéticos de suas propostas – e se essa reação será mesmo relevante para qualquer mudança no projeto; pergunta-se sobre quem usará aquele edifício ou aquela praça dentro de mais alguns anos – ou num futuro décadas à frente; todas essas especulações devem levar a previsões que fundamentam a sua tomada de decisões. Algumas dessas decisões requerem claramente que os valores do projetista sejam explicitados, trazidos à consciência ou diante de todos os que discutem a tomada de decisões; e, claro, todas essas decisões requerem escolhas. A habilidade de se fazer boas predições depende da qualidade da teoria positiva de que dispõe o projetista. A natureza dos valores depende da teoria normativa de que dispõem os envolvidos no processo de projetação. O grau em que os projetistas colocam em ação suas próprias atitudes é parte de sua posição normativa.

(23)

LEITURAS ADICIONAIS

Bross, Irwin D. J. Design for Decision. Nova Iorque: Macmillan, 1953.

Chadwick, George. “Evaluation”. In A Systems View of Planning. Nova Iorque: Pergamon, 1978, pp. 250-271.

Manheim, Marvin L. “A Design Process Model: Theory and Application to Transportation Planning”. In Gary Moore, editor, Emerging Methods in Environmental Planning and Design. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1970, pp. 331-348.

(24)

PLANO DA TRADUÇÃO (NEGADO) PARA A REVISTA ELETRÔNICA “PARANOÁ”

- São 22 (vinte e duas) “apostilas”, capítulo a capítulo do livro, com o agrupamento das introduções a cada uma das Partes e seções do livro, e seus respectivos capítulos iniciais. A presente “apostila” é mostrada em vermelho, contra o conjunto das demais “apostilas”. Com isso se pretende que o livro Creating Architectural Theory, de Jon Lang, possa servir como livro texto em disciplina sobre teoria da arquitetura e do projeto.

Prefácio

PARTE 1. O MOVIMENTO MODERNO, TEORIA DA ARQUITETURA E AS CIÊNCIAS SOCIAIS

1.O Legado do Movimento Moderno

2.A Natureza e Utilidade da Teoria

3.As Ciências Comportamentais e a Teoria Arquitetônica

PARTE 2. TEORIA ARQUITETÔNICA EXPLÍCITA: Conceitos de Práxis e Conceitos de Ambiente

TEORIA DE PROCEDIMENTOS Metodologia de Projeto

4.Modelos de Práxis do Projeto Ambiental

5.Atividades de Inteligência e a Fase de Inteligência

(25)

7. Decisão e a Fase da Decisão

TEORIA SUBSTANTIVA

O Ambiente e o Comportamento Humano

CONCEITOS FUNDAMENTAIS SOBRE AMBIENTE E COMPORTAMENTO HUMANO

8.A Natureza do Ambiente

9.Processos Fundamentais do Comportamento Humano

10.O Ambiente Construído e o Comportamento Humano

PADRÕES DE ATIVIDADES E O AMBIENTE CONSTRUÍDO

11.A Situação Física Envolvente do Comportamento: Uma Unidade para a Análise e Projeto Ambientais

12.Antropometria e Ergonomia

13.Mapas Espaciais e Comportamento Espacial

14.Privacidade, Territorialidade e Espaço Pessoal – Teoria Proxêmica

15.Interação Social e o Ambiente Construído

16.Organização Social e o Ambiente Construído

VALORES ESTÉTICOS E O AMBIENTE CONSTRUÍDO 17.Teoria Estética

(26)

18.Estética Formal

19.Estética Simbólica

PARTE 3. TEORIA NORMATIVA DO PROJETO AMBIENTAL Polêmica e Prática

20.Compreendendo as Teorias Normativas do Projeto Ambiental

21.Questões Sócio-Físicas Contemporâneas no Projeto Ambiental – Uma Instância Normativa

Referências

Documentos relacionados

Compostos de coordenação com 2-(metiltio)-benzoico e íons trivalentes lantânio, cério, túlio e itérbio foram sintetizados pelo método de sistema aberto, seguindo o

A prevalência de TEPT em estudantes universitários vítimas de traumas sexuais, físicos e psicológicos ocorridos em ambientes domésticos, vivenciados na infância e na adolescência,

E tendo em vista a significativa presença do mobile-learning nos dias atuais, tanto na Educação a Distância, como para pessoas com deficiência visual por suas características

Verificou-se assim, que no final dos anos de 1980 ocorreram algumas modificações na postura profissional dos Assistente Sociais na saúde, a exemplo de uma

Marido este que configurou a formação do campo artístico na cidade do Recife durante os anos trinta, reabrindo o Museu de Arte e História Antiga de Pernambuco e inaugurando

Observando um panorama geral, é visto que grande parte das salas de aula continua com cadeiras separadas e enfileiradas uma atrás da outra, um quadro negro

Portanto, o objetivo do presente estudo foi avaliar aspectos nutricionais, físicos, químicos, microbiológicos e sensoriais de linguiças elaboradas com filés de bagres brancos

Nesse sentido, para demonstrar melhor a compreensão alcançada, a discussão segue a ordem dos objetivos propostos para esta pesquisa e que compreendem as áreas e