UNIVERSIDADE FEDERALDO RIODEJANEIRO CENTRO DE LETRAS E ARTES
ESCOLADEBELASARTES-EBA
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM ARTES VISUAISARQUÉ
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Dalila dos Santos Cerqueira Pinto 2007
11
UNIVERSIDADEFEDERAL DORIO DE JANEIRO
CENTRO DE LETRASEARTES ESCOLA DE BELAS ARTES-EBA
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃOEMARTES VISUAISDALILA DOS SANTOS CERQUEIRA PINTO
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TIPOS E
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A GRAVURA DE MARCELO
GRASSMANN
Rio
de
Janeiro
2007
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DALILA
DOS SANTOS CERQUEIRA PINTO
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É
TIPOS
E MEMÓ
RIA
A
GRAVURA DE MARCELO GRASSMANN
Dissertação submetida ao Programa de Pós
-Graduação em Artes Visuais/ Escola de Belas Artes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários
à obtenção do título de Mestre em História e
Crítica da Arte.
Orientadora:Prof
Dra
Maria Luisa LuzTávoraCo
-
Orientadora:ProfDra
Ana Maria Tavares CavalcantiRio deJaneiro
IV
DALILA DOS SANTOS CERQUEIRA PINTO
ARQU
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A
GRAVURA DE
MARCELO GRASSMANN
Dissertação submetida ao Programa de Pós
-
Graduação em Artes Visuais / Escola de BelasArtes, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtençãodo títulodeMestre em História e Crítica da Arte.
Aprovada por:
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Maria Luisa LuzTá®Universidade Federal do Rio de Janeiro
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RosaMariaLellis WerneckUniversidade Federal do Rio de Janeiro
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ÛProf. Dr WalterFonsecaBoechat
Instituto Brasileiro de Medicina e Reabilitação
V
Pinto,Dalila dos Santos Cerqueira,
Arquétipos e memória: a gravura de Marcelo Grassmann. /Dalila dos
Santos Cerqueira Pinto.-Rio de Janeiro: UFRJ,2007.
XX,155f: il.; 30cm.
Orientadora: Maria Luisa LuzTávora.
Dissertação(Mestrado)-UFRJ/EBA,Programa dePós-Graduaçãoem ArtesVisuais,2007.
Referências bibliográficas: f.146
-
149.P659
1. Gravura. 2. Grassmann,Marcelo, 1925- -Biografia.3. Arquétipos.
I. Távora,Maria Luisa Luz. II.Universidade Feral doRiodeJaneiro,Escola de Belas Artes. III.Título.
VI
il
Ao Dr Walter Boechat, meu agradecimento por sua
supervisão
desenvolvimento desta pesquisa, possibilitando uma
melhor compreensão daárea da Psicologia Analítica.
observações valiosas no e
Vil
AGRADECIMENTOS
Ao corpodocente do PPGAV pelo aprendizado. \
AProfessora DoutoraMaria Luisa LuzTávora,pela orientação,cuidados e amizade.
AProfessora Doutora Ana Maria Tavares Cavalcanti,pelaco
-
orientação e apoio.A Professora Doutora Rosa Maria Lellis Wemeck, pela oportunidade do conhecimento sobre
afenomenologia,ecomoamiga pelo saber ouvir,tantoquantodiscutirasquestões.
Ao artista Marcelo Grassmann, por sua obra que possibilitou esta pesquisa, e à sua esposa
Ana Elisa Sampaio Dias Baptista (Zizi), pela ajuda no depoimento e nas etapas ao longo do trabalho.
A Pinacoteca do Estado de SãoPaulo, pelo acesso e autorização para o uso das imagens do
seuacervo,sobre
a
obra deMarcelo Grassmann.Ao Gustavo Galvão,à equipe e aos clientes do Museu do Inconsciente pela receptividade e
colaboração como material para esta pesquisa.
Às bibliotecárias Marinalda de Melo Ataídee Dilza Torres de Alvim da Biblioteca da EBA e da Biblioteca da FAU,esuasequipes,profissionaissolícitos esempre dispostosàajudar.
A Wânia Maria Monteiro, da Casa de Cultura Grassmann-Prefeitura do Município de São
Simão,pelasinformações preciosas que contribuíram paraestetrabalho.
Aocrítico de arteOlívioTavaresde Araújo,pela ajudacominformações sobreoartista
.
Aos amigos, pela presença sempre encorajadora e aos colegas de mestrado por dividir osmomentos de alegriae de dúvidas.
Aminha mãe,Alice,poracreditar sempre. \
Aminha irmã Bete,amiga,companheirae parceira dos muitos momentos desta pesquisa,e da relaçãoArte/Ciência.
Aosmeus filhos,e marido,Cristal,Davie Nelson,pelacompreensãoe carinho.
V l l l
RESUMO
PINTO, Dalila dos Santos Cerqueira. Arquétipos e Memória: A Gravura de Marcelo
Grassmann. Orientadora: Maria Luisa Luz Távora. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 2007.
Dissertação (Mestradoem História e Crítica da Arte)
Trata a presente dissertação da análise da gravura do artista brasileiro Marcelo Grassmann ), como estudo das relações da Arte com as áreas da Psicologia Analítica e (1925
-História Cultural. Os conceitos da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung permitem
identificar na gravura de Grassmann, uma estruturação de formas e representações de imagens arquetípicas, simbólicas, provindas do inconsciente coletivo, património comum a todos os homens. Deve
-
se à conceituaçãode nachleben e pathosformeln do historiador daarteAby Warburg,e o estudo dos arquivos da memória e a noção de engrama,a possibilidade de estabelecer a ligação entre obras de arte de períodos diversos, artistas e épocas históricas,
numa estrutura que hoje definimos como rede. Conteúdos históricos e individuais,
preenchendo os arquétiposenquanto formas vazias são evidenciados na imagem. A pesquisa
apresenta Marcelo Grassmann como memoriador, elaborando nas xilogravuras, litografias e gravuras em metal, a reconstrução pela memória. Resgate da história de um passado
transformadoem presente, noespaço privilegiadoque éaArte. O trabalho contribuicom uma
IX
ABSTRACT
PINTO, Dalila dos Santos Cerqueira. Archetypes and Memory: The Marcelo Grassmann
Printmaking. Orientadora: Maria Luisa Luz Távora. Rio de Janeiro: EBA/UFRJ, 2007.
Dissertação(Mestradoem História e Crítica da Arte)
This essay deals with theanalysisof the brazilian artist Marcelo Grassmann engraving(1925
-
),as study of the relations ofthe Art withthe areasof Analytical PsychologyandCulturalHistory. The concepts of the Analytical Psychology of Carl Gustav Jung allow toidentify in
the Grassmann engraving,thestructure of forms and archetypical representations of symbolic images coming from the unconscious collective mind, that is common patrimony to human being. Owing to the conceptualization of nachleben and pathosformeln of the art historian
Aby Warburg, and the study of the archives of the memory and the notion of engrama,the
possibility to establish the linking between works of art of diverse periods, artists and historical times,in a structurethat today we define as net. Historical and individual contents,
filling the archetype as empty forms are evidenced in the image. The research presents
Marcelo Grassmann as a memory rescuer, elaborating in the wood engravings, lithographies
and metal engravings, the reconstruction through the memory. It is the rescue of the memory
of the history of apast transformed into to present,in the privileged space that is the Art. The
X
ILUSTRAÇÕES
N° Pág.
Sem título,1941. Marcelo Grassmann. Desenho a lápis. Coleção do artista.
1. 8
2. Semtítulo,1941.MarceloGrassmann. Desenhoa lápis. Coleçãodo artista. 9
3. O bêbado, 1944. Oswald Goeldi. Xilogravura. Goeldi: modernidade extraviada.
Cabo,Sheila,RJ: Diadorim, 1995,II.25.
13
4. Pelo Sertão, 1946/48. Lívio Abramo. Xilogravura. A xilogravura de Lívio
Abramo, Dissertação de mestrado EBA/UFRJ. Rodrigues, José augusto F., RJ,
1997,p. 190.
13
Sem título, 1946. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca do
EstadodeSão Paulo,SP. Tombo 7697.
5. 13
6. Sem título, 1949. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca do
Estado de SãoPaulo,SP. 20,3 x 25 cm.Tombo,1997.
13
Sem título, 1949. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca do
Estado de SãoPaulo,SP. 25 x 20,5 cm.Tombo,2017.
7. 14
Sem título, 1952. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo daPinacoteca
do Estado de SãoPaulo,SP.29,6x44,5cm. Tombo,2186.
8. 14
Springfish, 1920. Alfred Kubin. Litografia. 32,5 x 22,3 cm. Fine Arts Museum
of San Francisco,EUA.
9. 15
10. Kampf gegendenischisasdrachen, 1940. AlfredKubin. Nanquin e aquarela.39,1
x31,2cm.Oberösterreichisches Landesmuseum Linz.
15
11. Os três Cavaleiros,1954. Marcelo Grassmann. Litografia. Acervo da Pinacoteca
doEstado deSão Paulo,SP.Tombo,2073.
18
12. A morte e a donzela, 1995. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. O mundo
mágico deMarcelo Grassmann.Steen,Edla,SP: Arte Aplicada Editora,1995.
26
13. A morte e a donzela, 1994. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. O mundo
mágico de Marcelo Grassmann. Steen,Edla,SP: ArteAplicada Editora,1995.
26
Ser fantástico,século XV. Anónimo. Misericórdia das cadeiras do coro. Entalhe.
La Edad Media fantastica. Baltrusaitis, Jurgis,Madri: Ediciones Cátedra, 1994,
p. 21.
Gryla do Saltério Louterell, sem data. Anónimo. La Edad Media fantastica.
Baltrusaitis,Jurgis,Madri: EdicionesCátedra,1994, p.49.
14. 30
XI
Figura de um cavaleiro, sem data. Anónimo. Afresco. La Edad Media fantastica.
Baltrusaitis,Jurgis,Madri: EdicionesCátedra,1994,p. 49.
16. 31
AtentaçãodeSantoAntão(detalhe). Hieronymus Bosch. Pintura. La Edad Media 32
fantastica. Baltrusaitis,Jurgis,Madri:Ediciones Cátedra,1994,p.54.
17.
Retábulo dos Eremitas. Hieronymus Bosch. Desenho. La Edad Media fantastica.
Baltrusaitis,Jurgis,Madri: EdicionesCátedra, 1994,p. 52.
18. 32
Armaduras dentadas e joelheira em forma de cabeça, anónimo. La Edad Media 33
fantastica. Baltrusaitis,Jurgis,Madri: Ediciones Cátedra,1994, p. 158e 174.
19.
Livro das maravilhas do mundo, século XIV. John Mandeville. Ilustração.
Marvels of the East. A study in the History of Monsters. Wittkower, Rudolf.
JournaloftheWarburgandCourtauld Institutes, vol. 5,1942,p. 159
-
197.20. 34
Habitantes das ilhasde Angaman (cinocéfalos),MarcoPolo. Ilustração doséculo
XV,Lendo Imagens. Manguei, Alberto,SP: Editora SchwarczLtda,2006, p. 131.
21. 34
O Hortelão, 1580. Giuseppe Arcimboldo. Pintura. Museu Cívico de Cremona.
40,6 x 30,5 cm.
22. 35
23. O Bibliotecário, 1566. Giuseppe Arcimboldo. Pintura. 97 x 71 cm. Skoklosters 35
Slott,Bálsta-Stockholm.
24. Sem título, 1968. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da Pinacoteca 37
do Estado de SãoPaulo,SP.39,3x29,6 cm. Tombo,2311.
25. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 37
Pinacoteca do Estado deSãoPaulo,SP. 39,3 x 29,6cm. Tombo,2336.
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 38
Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP.32,8 x 49,5cm. Tombo,2266.
26.
27. Sem título,sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervoda Pinacoteca do 38
EstadodeSãoPaulo.
Sem título, 1960. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da Pinacoteca 39 do Estado deSãoPaulo,SP. 29,7x 44,5cm.Tombo,2164.
28.
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 39 PinacotecadoEstado deSãoPaulo,SP. 29,7x39,3cm. Tombo,2314.
29.
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 40
Pinacoteca do Estado deSãoPaulo,SP.39,8x59cm. Tombo, 2299.
30
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 40
PinacotecadoEstado deSão Paulo,SP. 33,3x49,3 cm. Tombo,2202.
XI1
32. Sem titulo, sem data. Enio Sergio de Carvalho. Esculturas. Atelier de terapia
ocupacional do Hospital Psiquiátrico PedroII.Fotos DalilaSantos,2006.
52
33. Retrato de Simonetta Vespucci,sem data. Piero di Cosimo. Pintura. Aeloqüência dossímbolos. Wind,Edgar.SP:Edusp,1997,fig. 5.
54
34. Medalha de Tommaso Campeggi (reverso), 1525. Anónimo. Baixo relevo. A
eloqiiência dossímbolos. Wind,Edgar.SP: Edusp,1997,fig.3.
55
35. Manuscrito grego, século III A.C. Anónimo. O homem e seus símbolos. Jung, Carl. RJ: Editora NovaFronteira,1997,p. 38.
55
36. Emblematum Libellus de Andréa Alciati, 1542. Anónimo. Xilografia. A
eloqiiência dossímbolos. Wind,Edgar.SP: Edusp,1997,fig. 4.
55
37. Sem título,sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. 55 Sem título, 1949. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca do
Estado deSãoPaulo,SP. 23,5x26,5cm.Tombo,1995.
38. 56
39. Sem título, 1949. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca do
Estado de SãoPaulo,SP. 20,5x25cm. Tombo,1996.
56
Sem título, sem data.Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervoda Pinacoteca do
EstadodeSãoPaulo,SP.
40. 57
41. Sem título,sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervoda Pinacotecado
EstadodeSão Paulo,SP.
58
42 Sem título,sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervoda Pinacoteca do
Estadode São Paulo,SP.
58
43. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Desenho. Acervo da Pinacoteca do 59
Estado de SãoPaulo,SP.
44. Sem título,semdata. Adelina Gomes. Pintura. Imagens do Inconsciente. Silveira,
Nise. Brasília: EditoraAlhambra Ltda,1981,p.233.
59
Sem título, 1949. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP. 25x23,5cm.Tombo,2016.
45. 59
46. Manuscrito alquímico, século XVII. Anónimo. O homem e seus símbolos. Jung,
Carl. RJ: Editora Nova Fronteira,1997,p.31.
62
Semtítulo,sem data.Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervoda Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP.
47. 63
Sem título,sem data. MarceloGrassmann. Xilogravura. Acervo daPinacoteca do
Estado de São Paulo,SP.
Feiticeira cercada de demónios, século XVII. Gravura. Anónimo. O homem e
seussímbolos.Jung,Carl. RJ:Editora Nova Fronteira, 1997,p. 177.
49. 64
50. Salomé,semdata. Desenho.Anónimo.O homem e seus símbolos.Jung,Carl. RJ:
EditoraNova Fronteira,1997,p. 179.
64
Virgem Maria,século XV. VanEyck. O homemeseus símbolos. Jung,Carl. RJ:
Editora Nova Fronteira,1997,p. 185.
51. 64
Sem título,sem data. MarceloGrassmann. Xilogravura. Manuel, Pedro. Marcelo
Grassmann.SP: Art Editora Ltda,1984. p.44.
52. 64
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Litografia. Manuel, Pedro. Marcelo
Grassmann. SP: Art Editora Ltda,1984. p. 65.
53. 65
54. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Desenho. Manuel, Pedro. Marcelo
Grassmann. SP:ArtEditoraLtda,1984. p. 137.
65
Sem título, 1967. Olívio Fidélis. Pintura. Arqueologia da Psique
-
Catálogo daExposição Museu de Imagens do Inconsciente. Silveira, Nise. RJ: Editado por Museu de Imagens do Inconsciente,1997.p. 29.
55. 66
56. Deus herói Raven, sem data. Anónimo. Desenho. O homem e seus símbolos.
Jung,Carl. RJ:EditoraNova Fronteira,1997, p.72.
66
Jonas saindo da baleia,século XV. Anónimo. Desenho. Arqueologia da Psique
-Catálogo da Exposição Museu de Imagens do Inconsciente. Silveira, Nise. RJ:
Editado por MuseudeImagensdoInconsciente,1997. p.28.
57. 67
58. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Desenho. Manuel, Pedro. Marcelo
Grassmarm. SP:ArtEditora Ltda,1984. p113.
67
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo,SP. 39,5x59,3cm. Tombo, 2296.
59. 68
60. Deus sol,sem data. Anónimo. Baixo relevo. Arqueologia daPsique
-
Catálogo daExposição Museu de Imagens do Inconsciente. Silveira, Nise. RJ: Editado por
Museu de Imagens do Inconsciente,1997. p. 22.
68
61. Sem título, 1975. Carlos Pertuis. Desenho. Arqueologia da Psique
-
CatálogodaExposição Museu de Imagens do Inconsciente. Silveira, Nise.RJ: Editado por Museu de Imagens do Inconsciente,1997. p. 23.
68
62. A Barca do Sol, 19a dinastia Egípcia. Anónimo. Papiro. ArqueologiadaPsique
-Catálogo da Exposição Museu de Imagens do Inconsciente. Silveira, Nise. RJ:
Editado por Museu de ImagensdoInconsciente,1997. p. 20.
XIV
63. Sem título,1976. CarlosPertuis. Desenho. Arqueologia da Psique
-
Catálogo da Exposição Museu de Imagens do Inconsciente. Silveira, Nise. RJ: Editado porMuseu de Imagens do Inconsciente,1997.p. 21.
69
64. Fortuna, sem data. Anónimo. Gravura. El Renacimiento del Paganismo.
Warburg,Aby. Madri: Alianza Editorial,2005. p. 194.
69
65. Anave dos loucos,d. 1500. Hieronymus Bosch.Desenho. As Belas
-
Artesvol. 3- A arte flamenga e holandesa. Hammacher, A.M. e Vandenbrande, R. H.
Lisboa: 25,5x 16,5 cm. Imprimarte,1971.p.213.
70
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da
Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP. 38,7x 59cm.Tombo,2294.
66. 71
67. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca
do Estado de SãoPaulo,SP.
72
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 72
Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP.24,57x 32,5 cm.Tombo,2178.
68.
69. Sem título, 1954. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca do
Estado de SãoPaulo,SP.35 x51cm.Tombo,2046.
73
70. Sem título, 1949. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca do
Estado de São Paulo,SP.25,5x23cm.Tombo,2004.
73
71. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Disponível em:
http://diversao.uol.com.br/album/marcelo grassmann album.jhtm
73 acesso em 05/04/2007.
72. Sem título, 1954. Marcelo Grassmann. Litografia. Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo,SP.50x40cm.Tombo,2091.
74
73. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca 74 do Estado de SãoPaulo,SP.
74. Sem título,sem data. Marcelo Grassmann. Litografia. Acervo da Pinacoteca do
Estado de SãoPaulo,SP. 32 x 41 cm.Tombo,2151.
74
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Litografia. Manuel, Pedro. Marcelo
Grassmann. SP: Art Editora Ltda,1984. p. 71.
75. 75
76. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Desenho. Manuel, Pedro. Marcelo
Grassmann. SP:ArtEditora Ltda,1984. p.143.
75
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Desenho. Manuel, Pedro. Marcelo
Grassmann. SP:ArtEditora Ltda,1984. p.145.
77. 75
78. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da
Pinacoteca do Estado de São Paulo,SP.32,6 x 49cm. Tombo,2209.
XV
79. Sem título, 1977. Marcelo Grassmann. Desenho. Manuel, Pedro. Marcelo
Grassmann. SP:Art EditoraLtda,1984. p.138.
76
80. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Manuel, Pedro.
MarceloGrassmann. SP: ArtEditora Ltda,1984. p. 100.
77
81. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Manuel, Pedro.
Marcelo Grassmann. SP: Art Editora Ltda,1984. p.101.
77
82. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Manuel, Pedro.
Marcelo Grassmann.SP:ArtEditoraLtda,1984. p.95.
78
83. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da
Pinacoteca do Estado deSãoPaulo,SP. 38,7x 59 cm.Tombo,2294.
78
84. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da
Pinacoteca do Estado deSão Paulo,SP. 32,7x49,3cm.Tombo,2275.
79
85. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da
Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP. 32,7x49,2cm.Tombo,2273.
80
Morte de Orfeu,sem data. Anónimo. Gravura(nortedaItália). EI Renacimiento del Paganismo.Warburg,Aby. Madri:Alianza Editorial,2005. p. 402.
86. 99
87. Morte de Orfeu,sem data.Albrecht Dürer.Desenho.El Renacimientodel
Paganismo. Warburg,Aby. Madri: Alianza Editorial,2005.p.402.
99
88. Morte de Orfeu, sem data. Anónimo. Detalhe de um vaso grego. EI 100
Renacimiento del Paganismo. Warburg, Aby. Madri: Alianza Editorial,2005. p.
403.
89. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 102
Pinacoteca do Estado de São Paulo,SP. 32,7 x 49,3 cm.Tombo,2275.
90. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 102 Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP.32,7x49,2 cm.Tombo,2273.
Toucados góticose chineses,séculos XIIaXVI. Anónimos. Ilustração. La Edad 103
Mediafantastica.Baltrusaitis,Jurgis,Madri: Ediciones Cátedra,1994, p. 181.
91.
92. Cabeças coroadas por animais,séculos XIaXV. Anónimos. Ilustração. La Edad 105
Media fantastica. Baltrusaitis,Jurgis,Madri: Ediciones Cátedra,1994, p. 172.
93. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca 107 doEstado deSãoPaulo,SP.
Sem título, 1950. Marcelo Grassmann.Gravura em metal. Acervoda Pinacoteca 108
do EstadodeSãoPaulo,SP.28
x
20cm. Tombo,2321.XVI
95. Sem título, 1962. Marcelo Grassmann.Gravura em metal. Acervo da Pinacoteca 109
do Estado de São Paulo,SP.32,9x49,6cm. Tombo,2247.
96. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 110
Pinacoteca do EstadodeSãoPaulo,SP.49 x 33 cm. Tombo,2210.
97. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Litografia. Acervo da Casa de 111
Cultura Grassmann,SãoSimão/SP.
98. Sem título, 1997. Marcelo Grassmann. Desenho.
http://diversao.uol.com.br/album/marcelo grassmann album.ihtm
Disponível em: 112 acesso em 05/04/2007.
99. Ramos comtorsos humanos, séculoXIII e XIV. Anónimo. Ilustração. La Edad 113
Media fantastica. Baltrusaitis,Jurgis,Madri: Ediciones Cátedra,1994, p. 135.
100. Combate contra a cauda, século XII a XIV. Anónimo. Ilustração. La Edad 114
Media fantastica. Baltrusaitis,Jurgis,Madri: Ediciones Cátedra,1994,p. 140.
101. Sem título,1968. MarceloGrassmann. Gravura em metal.AcervodaPinacoteca 115
do Estado de SãoPaulo,SP. 29,6x39,3cm.Tombo,2222.
102. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 115
Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP.32,8x49cm.Tombo,2249. 103. Sem titulo, 1967. Marcelo Grassmann.Desenho. 49 X 65 cm.
Disponívelem:http://www.bolsadearte.com/cotacoes/grassmann.htm
acesso em 05/04/2007.
116
104. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 116 Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP.33x49,6cm. Tombo,2289.
105. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 117
Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP.29,7x39,3cm. Tombo,2316.
106. Grylas multicéfalas, séculosXIII aXIV. Anónimo. Ilustração. La Edad Media 119 fantastica. Baltrusaitis,Jurgis,Madri: Ediciones Cátedra, 1994, p. 38.
Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 121 Pinacoteca do Estado de SãoPaulo,SP.29,6 x 39,3cm.Tombo,2319.
107.
108. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 121 Pinacoteca do Estado de São Paulo,SP. 29,6 x39,2 cm. Tombo,2315.
109. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 122 PinacotecadoEstadode SãoPaulo,SP. 29,6x24,6 cm.Tombo,2174.
XVll
110. Guerreiro com espada levantada, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em 123
metal. 62 x45cm.
Disponível em:
http://www.bcb.gov.br/htms/galeria/grassmann/obras.asp?idpai=arteobras acesso em 06/04/2007.
1 1 1. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca 126
do Estado de SãoPaulo,SP.
112. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Xilogravura. Acervo da Pinacoteca 126
do Estado deSãoPaulo,SP.
113. Sem título,sem data. MarceloGrassmann. Litografia. Acervo da Pinacoteca do 127
Estado deSãoPaulo,SP.
114. Sem título,1962.MarceloGrassmann. Gravuraem metal. Acervoda Pinacoteca 127
do Estado de SãoPaulo,SP. 24,1x16,8cm. Tombo,2168.
115. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Litografia. Acervo da Casa de 128
CulturaGrassmann,SãoSimão/SP.
116. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Litografia. Acervo da Casa de 128 Cultura Grassmann,SãoSimão/SP.
117. Sem título,1968. Marcelo Grassmann. Gravuraem metal.Acervoda Pinacoteca 129 doEstado de SãoPaulo,SP. 29,7x 39,3cm.Tombo,2310.
118. Sem título,1968. Marcelo Grassmann. Gravuraem metal. Acervoda Pinacoteca 129
doEstadode São Paulo,SP.29,6 x 39,3cm. Tombo,2326.
119. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Gravura em metal. Acervo da 130
Pinacoteca do EstadodeSão Paulo,SP.32,6 x50cm. Tombo,2244.
120. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Desenho. Marcelo Grassmann. 130
Manuel,Pedro. SP: Art Editora Ltda,1984. p.141.
121. Sem título, 1997. Marcelo Grassmann. Desenho. Disponível em: 131
http://diversao.uol.com.br/album/marcelo grassmann album,jhtm acesso em
05/04/2007.
122. Sem título, sem data. Marcelo Grassmann. Desenho. Marcelo Grassmann. 131
Manuel,Pedro.SP: ArtEditora Ltda,1984. p. 12.
Anjoda noite,2005. MarceloGrassmann.Desenho(detalhe).50x35 cm.
123. 132
Isis cuidando das arvores, século XV. Ilustração. Anónimo. La Edad Media 133 fantastica. Baltrusaitis,Jurgis,Madri: EdicionesCátedra,1994,p. 259.
124.
125. As parcas, ou as nuvens, século XIX. Goya. Pintura. Goya. Grandes Artistas.
Chabrun,Jean
-
François,Lisboa: Editorial Verbo,1974, p. 224.XV111
126. O castigo da luxúria, século XLX. Segantini. Pintura 99 x 172,8 cm (detalhe). 134
Quarante peintures fantastiques. Watney, Simon, Espanha: Éditions du Chêne,
1977,II. 27.
127. Sem título, 1081. Desenho chinês segundo Li Long-mien. La Edad Media 134
fantastica.Baltrusaitis,Jurgis,Madri: Ediciones Cátedra,1994,p. 160.
128 A Trindade, 1500. Anónimo flamengo. Pintura. 16,5 x 10,8 cm. Quarante 135
peinturesfantastiques. Watney,Simon,Espanha:Éditions du Chêne,1977, II. 1.
Alegoria da prudência,século XVI. Tiziano.Pintura. La Edad Media fantastica.
Baltrusaitis,Jurgis,Madri: EdicionesCátedra,1994,p. 40.
129. 136
130. Lepassé,le présent etl'avenir, 1834. Honoré Daumier.Lithographie.21.4 x 19.6cm. Ilustraçãodo jomal:"La Caricature",09/01/1834.
137
Poder cego, 1937. Schlichter. Pintura. 179x 100 cm. Arte fantástica,Schurian,
Walter,Lisboa:Editora Taschen,2005,p.53.
131. 138
O pecado, 1893. Stuck. Pintura. 94,5 x 59,5 cm. Arte fantástica, Schurian, 139
Walter,Lisboa:Editora Taschen,2005, p.29.
132.
Retratode mulher,século XVI. Pontormo. Desenho.AsBelas-Artesvol. 2-A 140 arte italianaaté1850. Monteverdi,Mário. Lisboa: Imprimarte,1971. p.344.
133.
Aquiles em Esciros, século XV. (desenho do tipo encontrado em sarcófagos -Woburn Abbey). El Renacimiento del Paganismo. Warburg, Aby. Madri: Alianza Editorial, 2005. p.86.
134. 140
135. Sem título, século XV. Boticelli? Desenho. EI Renacimiento del Paganismo.
Warburg,Aby.Madri: Alianza Editorial,2005. p. 86.
141
136. A sereia, 1887. Bócklin. Afresco sobre madeira. 103 x 150 cm. Quarante 141
peintures fantastiques. Watney, Simon, Espanha: Éditions du Chêne, 1977, II.
25.
Grande anjo, 2004. Roberto Fabelo. Carvão sobre tecido. 143 x 140 cm. 142
Catálogo da Exposição Arte de Cuba, RJ: Centro Cultural Banco do Brasil,
2006,p. 18.
XIX
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
1
-
12
-
O MUNDO DE MARCELO GRASSMANN 72.1
-
UM ARTISTA E O SEUPERCURSO 72.1
.
1-
Técnicase processosdecriaçãoUMA OBRA ESUASREFERÊNCIAS
Imagensmedievaise renascentistas na obra de Grassmann
19
2.2
-
232.2.1- 30
ASPECTOSDAPSICOLOGIAANALÍTICA E A RELAÇÃO COM A 41 OBRA DE ARTE
3
-3.1- ASFORÇAS DO INCONSCIENTE AS IMAGENS DO INCONSCIENTE
f
ARQUÉTIPOS:o símbolonasimagens de Grassmann
O Uróboro
Asombra
AGrandeMãe
A anima O herói
A viagemnoturnapelomar
43 3.2- 49 3.3- 53 3.3
.
1 - 54 3.3.
2-
57 3.3.3 - 58 3.3.
4-
61 3.3.5- 66 3.3.
6-
68XX
PERCURSOS DE INVESTIGAÇÃOHISTÓRICA NA GRAVURA DE 82
MARCELO GRASSMANN 4
-ASPECTOS DA MEMÓRIA:a memória simbólica ASPECTOS DA HISTÓRIA:os testemunhos figurativos
A HISTÓRIA DA ARTE E OS ARQUIVOS DA MEMÓRIA: Aby 90 Warburg
GRASSMANN:O MEMORIADOR
O pathos de gestualeemoção
Adereços de cabeça As figuras sem pernas As figuras multicéfalas 4.1
-
85 4.2- 88 4.3 -4.4- 97 4.4.1-
98 4.
4.2- 103 4.4.
3- 113 4.4.4- 1184.4
.
5- A ninfaextática: asdonzelas de GrassmannEVIDÊNCIA DAS PATHOSFORMELN EM OBRAS DE OUTROS 133 ARTISTASE PERÍODOS HISTÓRICOS
124 4.5
-CONCLUSÃO
5- 143
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
6- 146 6.1- LIVROS 146 PERIÓDICOS 6.2
-
148 6.3- SITES 148 6.4-
ENTREVISTAS 149 7-
ANEXOS 150ANEXO I: GLOSSÁRIO DE TERMOS E DAS TÉCNICAS DE 150 GRAVURA MAIS UTILIZADAS POR GRASSMANN
7.1
-ANEXO II: GLOSSÁRIO DE TERMOS DAPSICOLOGIA ANALÍTICA 153 ANEXO III: GLOSSÁRIODESÍMBOLOS
7.2
1
-
INTRODUÇÃOPara além da discussão dos limites, que qualquer das técnicas de gravação e seus suportes possam trazer, é na poética da gravura de Marcelo Grassmann, no que ela contém de mais profundo e expressivo,queestapesquisase debruça e mergulha para estudo e análise: estudar
a obra gravada do artista Marcelo Grassmann, abordá
-
la enquanto campo simbólico dasformas na sua gravura como construção de imagens arquetípicas e investigar como se dá o
processode atualizaçãoda históriaatravésdamemória,emsuaarte.
Pode
-
se imaginar tudo que já foi escrito: as homenagens, as reportagens, as entrevistas,apresentaçõesde exposições, artigos,e ainda assim trazemos outra abordagem de Grassmann.
Sua obra sempre foi tratada como espaço construído na ordenação de imagens anteriores.
Falou
-
se dasbrenhas misteriosascom quesua gravuranosenvolve; estilo original,fantástico,mágico, surreal; falou-se mesmo da presençado passadoe da atemporalidadedasuagravura.
O que mais caberia dizer? Sempre umaoutra face aparecerá,se nos dispusermos a olhar com
atenção e com olhos de ver,a artede MarceloGrassmann.
r
E nosso objetivo com esta pesquisa, ampliar o estudo sobre essas abordagens que apenas
“tateiam” a obra, sem de fato apreendê
-
la em profundidade. Acreditamos ser de relevânciapensar as relações da Arte com outrasáreas, como a da Psicologia e da História, trabalhando naconcepção deumaciência da cultura.
As litografias, as xilogravuras, ou as gravuras em metal foram verdadeiros instrumentos,
meios de que o artista se serviu, para imprimir sua arte da memória, no campo da gravura
artística brasileira e num âmbito maior,no universo daArte.
Há sessenta anos, Grassmann cria esse mundo que seduz, fenômeno de zoomorfia, mundo onde homeme animal se interpenetram e se fazem um só. Cavaleiros, monstrose donzelas, há
muito são os personagens desse mundo misterioso, arcaico, simbólico, atemporal. Um universo fantástico, grassmanianno
,
feito de criaturas vindas de uma memória, cuja histórianãosaberíamosrelembrar,semo auxílio desuaarte.
Para um recorte nesta grande história, poderíamos escolher o período mais profícuo em exposiçõesou na produção das obras,fizemosoutraescolha. Nesta pesquisa sobre aobra do
artista,vamosa umoutrocaminhoque ultrapassa umrecortetemporal,de técnica,ou temática.
O foco sobre o qual trabalharemossua obra será o da escolha que reivindica a presença das
áreas da História e da Psicologia, sobasquais elaserá analisada. Assim priorizaremosaobra
compacta e conexa, em sua forma de se apresentar à nossa percepção. Para o Marcelo que
trabalha por impulso e, incansável, procura no exercício constante da gravura,entre chapas,
ácidos e buris, outrae ainda outra imagem,todosos tempossãosempre umsó: aquele que vê
na criação, a forma de dizer sobreas ações expressivas do homem, temade toda sua obra. É
ele mesmo quem diz: “o artista tem um estranho poder sobreavida. Criasobreo nada,e isso
lhe dá a sensação de eternidade”. (STEEN, 1995, p. 6). Sua obra tem girado em tomo do mesmo tema e variações, todo este tempo e podemos perceber, com vigor e imaginação renovados.
Grassmann em suagravuraconstrói coma imaginaçãocriativa, umaestruturação de formas e
representações de imagens arquetípicas, simbólicas, provindas do inconsciente coletivo,
património comum a todos os homens. Elabora a reconstrução da memória ocidental, para o
resgate da história de um passado transformado em presente, no espaço privilegiado que é a
Arte,hipóteseque esperamos,fundamentada,vá abrigar todaaobra de Marcelo Grassmann.
No primeiro capítulo, faremos uma breve biografia do artista, acentuando as etapas mais
marcantes para construção de seu trabalho. Estudos, influências e caminhos escolhidos.
Depoimentos do artista completarão e enriquecerão esta etapa da pesquisa, com seus
comentários sobre a arteda gravura,gravadores e processosdegravação. Abordaremos ainda
ofantásticoe ogrotescoem suaarte,e oestranhamentoquenos causa suasimagens.
Como situar Marcelo Grassmann? Se por um lado,de início,a linha moderna de grande força
de sentido expressionista e social o arrebata para suas fileiras, não é aí que ele se instala.
Emboracom estímulos colhidos dos sentimentos humanos,todaviasuaobra nãose engaja nas
imagens de um realismo social. Seu trabalho vai além de tudo isso, em uma outra forma de
engajamento, mas não menos envolvido com a vivência do homem. Com o figurativismo
predominandoem seus trabalhos e com sua grande preocupaçãode que a despersonalização
pelaabstraçãofizesse com que os vocabulários começassem a coincidir, ele desenvolveu em
suaobra umsentido para além destas discussões. As técnicas de gravura usadas,axilografia,
a litografia e o metal, onde ele finalmente se estabeleceu, vão pouco a pouco falando da preocupação do gravador em revelar, em vez de representar, impondo-se sobre diferentes
suportes (madeira,pedrae metal).
Ambiguamente estas mesmas técnicas parecem nos mostrar ser somente meios, ferramentas para que ele expresse seu imaginário. Para que nos fale não só de uma arte brasileira e contemporânea, mas de uma arte universal e atemporal. Seus temas nos falam do ser que
somos. Denúncia dos vícios, desejos e poderes do homem, painel de medose angústias, sua gravura vai abrigar o agitado mar e suas tormentas, que é a realidade psicológica, pelas
imagens de seres habitantes de um universo arcaico. Imagens sem lugar e sem tempo. Seu tema, o ser humano e variações é devassado e apresentado pelas imagens das paixões, dos sentimentos em alto grau de intensidade. Terrível desumanidade aflora em certas expressões
de sentimentos condenáveis que degradam o rosto humano. Este será transfigurado,
deformado,transgredindoem vários momentosos limites darazão.
Sobre o assunto, Arnheim nosalerta queosmonstros podem ser gerados pela maneira fácilou
difícil. Nosdizque
o pai domonstrobarato équem inadvertidamente faz rabiscos num papel. Com um
simples riscar da caneta pode fazer com que um braço saia de uma boca [...]. Só quando o artista setorna desesperadamente consciente da desfiguração do mundo,
vendo
-
seforçadoa construiruma imagem fiel que reflita as absurdas contradições e disfunções que elee osoutrospadecem, só então o monstro se gera pela maneira difícil. Os monstros são um meio de representar a precária situação dos assuntoshumanos.(ARNHEIM,1997,p.253 e254).
Os monstros na obra de Grassmann são presenças que agem no sentido de alertar. São denúncias visíveis pela imagem do próprio comportamento do homem. Monstros são distorções da natureza que provocam temor. Podem ser entendidos como falhas, maus
instintos do homem e se convertem num retrato doque poderia ser evitado. Dá
-
se como nostextos de Shakespeare em que ele manifestou e interpretou como aviso, esta ambigúidade do
caráter humano, esta verdade dupla; a troca pelos seres, de uma natureza primeira, por qualidades monstruosas. Assim escreve ele.
"Masseconsiderardes a verdadeiracausa,
detodosestesfogos,de todos estesfantasmaserrantes,
destas aves eanimaissemvalor nem gênero,
destes velhosque enganam, destascriançasque iludem
detodos estesseresquetrocamsuasleis, sua naturezae suasfaculdadesprimitivas,
por qualidadesmonstruosas-então,vereis
que océuosdotou desses espíritos
para deles fazerinstrumentode medoede avisos,
paracerta monstruosa condição.” 1
A psicologia de Carl Gustav Jung, fundamentará o segundo capítulo com o conceito de inconsciente coletivo. Jung também nos esclarecerá sobre o conceito de arquétipo, alicerces da vida psíquica, comum a todos os seres humanos, onde estão conteúdos arcaicos e primitivos, base onde repousam os complexos. A atualização do arquétipo é feitaatravés da
í
imagem. Representações provocadas pela ativação de energia criadora, em imagens
arquetípicas, atravésda imaginação,se apresentarão sob a formade símbolos. E preciso uma
permeabilidade entre inconsciente e consciente, para que os símbolos venham à tona. No artista,existeestapermeabilidade.
r
E no espaço do inconsciente coletivo, não do pessoal, que Grassmann como um crisol vivo,
identifica, elabora, e na criação da sua obra, revela o ser. O artista elabora imagens
primordiais através da imaginação, em representações ou “revelações”, e constrói espaços
baseados em uma ordenação interior. Trata
-
se da área das representações simbólicas. Comelas, ele dialoga e interpreta a realidade. Um símbolo é polissêmico; é articulador entre
consciente e inconsciente. Como nos diz Jung, “ a obra reconhecidamente simbólica na sua
linguagem, nos diz bem alto: estou em condições de dizer mais do que realmente digo; eu entendo paraalém de mim.” (JUNG,1999, p.65).
O terceiro capítulo irá tratar da análise da obra de Marcelo Gassmann como construção histórica pela memória.O historiadorda arte Aby Warburg,nosdará subsídios para caminhar nesse “aolado” de passado / presente com seusestudos sobre os arquivos da memória, onde
as imagens são realidades históricas inseridas num processo de transmissão de cultura. Ele
formulou o conceito de pathosformeln
,
para explicar sua concepção de transmissão de umamemória coletiva,atravésde imagens eodenachlebenousobrevivência, paraa possibilidade
dessa transmissão. Nesta estrutura ou rede de relações entre obras de arte de períodos
distantes entre si, as imagens, formas expressivas da antiguidade, dotadas de uma vida póstuma, atravessariam períodos “encobertas”, e regressariam constantemente. Warburg
começa a conceber a história da arte, em termos de uma memória errática de imagens que
retornamsempre.
Warburg enveredou para as pesquisas sobre os arquivos de memória, quando estudou a
natureza do símbolo e sua função na transmissão da cultura por imagens, atraído pelas
pesquisas sobre engrama do neurocientista Richard Semon. O sistema neuropsíquicocomum
a todos os seres humanos abriga estruturas mnemónicas que são usadas para relembrar
imagens.
A perspectiva de análisedaobra de Grassmann envolvendo-a como construçãohistórica pela memória, vai abordá
-
lo como memoriador, na medida em que pela reconstrução mnemónica,suaobra oferece reflexõessobre um passado como aspecto do presente.
Este conceito é esclarecido na obra de Jacques Le Goff, “História e Memória”, onde ele aborda esta relação: “penso que a história é bem a ciência do passado, com a condição de
reposta em causa.” (GOFF, 2003, p.26). É ainda Le Goff que define a existência de pelo
menos dois tipos de história: a da memória coletiva e a dos historiadores, sendo que “a
primeiraé essencialmentemítica,deformada,anacrónica,masconstituiovivido desta relação nuncaacabadaentreo presenteeo passado” (GOFF,2003, p.29).
Outros historiadores recorreram ao estudo das memórias para a construção da história. Um
exemplo disto é o texto do historiador Simon Schama,citado por Peter Burke no seu livro “ O que é história cultural?i>»
Em Rembrandt's Eyes (1999),por exemplo, Simon Schamatenta
,com suaaudácia
característica, apresentar a cidade de Amsterdã no século XVII tal como ela se
apresentava aos cinco sentidos. Evoca seus cheiros, especialmente os de sal,
madeira podre e fezes humanas, e, em certos lugares, de ervas e especiarias.
Descreve seus sons, os carrilhões de muitos relógios, “o marulhar das águas dos canais batendo nas pontes”, o serrar das madeiras e, no que ele chama de “ zona clangorosa” , onde se faziam armas,o som do martelo sobre o metal. . (BURKE,
2005,p.144)
Procuramos desenvolver em cada capítulo, dirigido às áreas usadas como base, um apoio
através dos conceitos de seus teóricos, que enriquecerá as considerações tecidas, além de
ajudar na análise de algumas obras do artista. Poderemos identificar a importância da
permeação das imagens através das épocas. A possibilidade de entrevistar Marcelo
Grassmann foi de suma importância para a elaboração desta pesquisa. Com ele atravessamos
os tempos, com a possibilidade de chegarmos ao atual pela memória de sua obra, e da
descoberta decada umdostesourosdesua gravura.
Este trabalho apresenta 3 anexos: o primeiro sobre técnicas da gravura, para quem não está familiarizado com seus termos; o segundo sobre a linguagem de domínio específico da
psicologia analítica;o terceiro apresenta um glossário com osignificado de alguns símbolos,
que mais aparecem na gravura de Grassmann.
Estaremos incluindo na dissertação,a transcrição em CD (áudio), da entrevistacom o artista em maio de 2005, e reproduções de suas gravuras que nos permitam penetrar no universo
artístico deGrassmann.
A amplitudee originalidade desta pesquisa é a de abordar pela primeira vez a obra do artista Marcelo Grassmann, conjugando os aspectos da Psicologia Analítica e da História. Estas
áreas até agora citadas como referência em sua obra, nunca foram pesquisadas no sentido de aprofundar conhecimentos que dessem embasamento ao estudo sobre as imagens de sua
O caminho da históriaculturalfoi adanarração dos“ pequenosfatos”.Adécadade 70testemunhou a definição,
destenovo gênero histórico,a“micro” história, associadoa um pequenogrupodehistoriadores italianos,como Carlo Ginzburg,Giovanni Levi e Edoardo Grendi. (BURKE,2005,p.60).
gravura. Consideramos que assim pensada,aanálise das gravuras de Grassmann,possibilitará
a compreensão da obra de vários outros artistas que mergulharam neste mesmo universo.
Trata-se de um mundo fantástico, mítico, arquetípico, histórico
-
mnêmico, de onde comcerteza sairemos mais enriquecidos, e onde poderemos aquilatar, a importância que cerca a
2-O MUNDO DE MARCELO GRASSMANN
2.1-UM ARTISTA E O SEU PERCURSO 1
Em São Simão, cidade do interior doEstado de São Paulo, a colonização alemã trouxe para a região a fundição de metais, a arquitetura da construçãoem madeira assimcomonovidades naengenharia de construção
das casas. A família Grassmann, de origem alemã mudou
-
se para a região em 1899,contribuindo com a fabricaçãodecarroças,“ trolys”,máquinas de secar e separarcaféemsua
fundição de ferro e bronze assim como obras de serralheria, grades e portões para as casas e igrejas, não sócomoproteção,mas com unisentidoestético,embelezandoas residências. Os
projetoscontinham em seus desenhos elementos figurativos,lembranças do paísde origem de
seusartesãos,certamenteproduto desuasmemórias.
Em 23 de setembro de 1925 nasceu Marcelo, quarta geração desta família de imigrantes no
Brasil. Quando tinha 7 anos, mudou
-
se com sua família para São Paulo (capital) onde freqüentou o grupo escolar. Em 1939, com 14 anos de idade cursou por 3 anos o Instituto Profissional Masculino, no Brás (atualmente Escola Técnica Getúlio Vargas) uma escola de formação profissionalizante onde depois de um ano de estudos passando pelas várias modalidades de oficinas (entalhe, modelagem, escultura, fundição serralheria, pintura,eletricidade)oferecidas para descobriromaior interesse do aluno,ele escolheu a escultura.
Talvez ainda não fosse possível prever o artista que nos deixaria espantados com o mundo fantástico povoado de personagens de sonhosoupesadelos.O gravador que iria construir uma
obra riquíssima sem se deixar influenciar por modismosou porcorrentes poéticaspelasquais passoua artebrasileira. Mantendo
-
se fiela sua temática mágica,original,como professoremSão Paulo iniciou vários artistas na arte da gravura. Ainda assim “sua obra admirável, tal
comonãoteve entre nósprecursores,também nãodeixou continuadores”(LEITE,1966, p.31).
Mas certamente queao coletarmos todosos dados sobre ele e sua história familiar,seguindo
apenas o caminho causal, podemos observar a influencia dessa formação na raiz da
construção do Grassmann gravador. A disciplina artesanal do entalhe em madeira, o
aprendizado do uso de goivas e formões e orientação acadêmica dos professores Laurindo
Galante na modelagem e Vicente Policeni nodesenho e entalhes, no Instituto Profissional, o
ajudou a elaborar um substrato que o prepararia para a artesania da sua gravura. A profundidade criadora, esta resultado dasua sensibilidade,que ele nos apresenta naordem de
nossas percepções se manifestaria mais tarde na obra, universo grassmanniano de nossos
medos mais primitivos.
Quando menino, Marcelo contemplava maravilhado os desenhos da imprensa a que tinha
acesso. No seu caso, tanto das histórias em quadrinhos infantis como Flash Gordon de Alex Raymond e o Príncipe Valente de H. Foster quanto das ilustrações de publicações como O Tesouro da Juventude e semanalmente o Suplemento Juvenil que olhava com interesse,
imaginando e os recriando em seus desenhos. Uma formaçãoartística vinda das histórias em
quadrinhose“de umamemória nas casas,de muitas edições freqüentemente doD.Quixote do
Gustavo Doré, e da Divina Comédia também, que por sua vez tinha muito a ver com a fantasia das históriasem quadrinhos da época” (GRASSMANN,2005).
Quando jovem Marcelocursou umaescola profíssionalizante onde teveo apeloda tecnologia
como a mecânica, ou da arte como a modelagem e a pintura. Acabou aprendendo tanto o
entalhe em madeira,oferecidocomoescultura,tornando
-
se um artesão, um entalhador,assimcomo modelagem que lhe deu uma formação manual para fazer esculturas além das aulas de
desenho. Nos três anos do curso profissional, o
per
íodo de entalhador vai de 1942 a 1943,aprendeu a entalhar com técnica em alto relevo, guirlandas, elementos decorativos, flores e grifosque jáapareciam em seusdesenhos(Ils 1
-
2).II.2.SemTitulo,Grassmann.1941
O próprio artistacomenta que hojeem diatem consciênciado porquê dessa escolha. “Porque
na parte de entalhe havia muito do que eles chamavam de coisas do Renascimento. Na
verdade os móveis entalhados tinham muitos ornatos. Esses ornatos vieram já dos gregos,
depois dos romanos, depois o Renascimento usou muito. Os mascheroni como diziam os
professores. Então eucomecei aesculpirmadeira. Aover essesmodelosera muito frequente a
presença desses monstros fantásticos como o grifo, quimeras que vinham já dos
sarcófagos gregos.” (GRASSMANN, 2005). Monstros estes que já marcavam presença em
uma moldura de espelhodoavôpaterno ena serralheria doportãodesua casaem SãoSimão. A busca por exercer a profissão o levou a procurar fábricas de móveis, onde seus desenhos
não foram aceitos. O comentário foi de que os desenhos eram muito bem feitos, mas não
estavam no padrão de entalhadores profissionais. Grassmann querendo expandir seu universo
modelava não mais folhagens, mas figuras monstruosas que começavam a aparecer em suas
criações. Ao mesmo tempo nos livros de Gustave Doré, o termo xilogravura ainda não tinha
para ele o sentido que viria a ter, não sabia que técnica era aquela. Acompanhando as
ilustraçõesdosuplemento literário do Jornal A Manhã,do Rio deJaneiroondesempre vinham
ilustraçõesdas xilogravuras de Goeldi, procuravaentender aquela combinação e tensãoentre
áreasbrancase pretasque resultavamem algo que o despertava e o provocava atentar fazer o mesmo. Voltou
-
se então para a xilo, de início usando as mesmas ferramentas do entalhe(formõese goivas),as quais logo abandona dando
-
asa um amigo quedecide continuar como entalhador. Amigose colegas que fez no Instituto Profissional,como Octávio Araújo e LuizSacilotto na pintura, passaram a se reunir na casa de um deles, onde o material de todos era
juntará a eles mais tarde e juntos começarão assim a incursionar no mundo oficial da arte.
Esse pequeno grupo freqüentava a Seção de Arte da Biblioteca Municipal na Consolação,
onde Sérgio Milliet,Diretor da Bibliotecanadécada de 40 ecrítico deartenojornal O Estado
de São Paulo, colocava em dia todas as revistas e informações. Nestas publicações imagens
sobre gravura,pintura antigae moderna podiam ser encontradas. Milliet,além disto comprava
muitas obras de arte para o acervo, o que os ajudou a entrar em contato com o moderno.
Milliet criou a Seçãode Arte daBiblioteca Municipal de São Paulo
“inaugurada oficialmente, a 25 de janeiro de 1945. Além da coleção de livros
especializados e organizados [...] sobre os diferentes assuntosartísticos, a Seção
formou o primeiro acervo público de arte moderna brasileira, trabalhando numa dimensão museal” (GONÇALVES,2006)
São também companheiras desuashorasdeestudo na Biblioteca,asobras de KätheKollwitz,
artista expressionista alemã, de Arnold Böcklin, de Thomas Hans ambos ligados ao simbolismo e de Alfred Kubin1 expressionista alemão. Grassmann admira em Kubin o
desenho fantástico, sobretudo o visionário de sua arte que surge como que do inconsciente
dominando a avalanche de formas e figuras, formas que parecem transpor os limites da
realidade visível.
As reuniões com os amigos continuaram; os estudos, as descobertas por conta própria, o autodidatismo, oexpressionismo germânico que cala tão fundo ao artista e com o qual tanto se identifica. Reunindoos amigos Octávio Araújo,Sacilotto e Andreatini organizam o grupo dos Quatro Novíssimos. Em 1946 expõem no Instituto de Arquitetura do Brasil, no Rio de Janeiro. Talvez pela facilidade de reprodução,a xilografia de Marcelo tenha sido usada para ilustrar o texto,desta primeira exposição no Rio de Janeiro.
Mostra de predominante orientação expressiva, ela precederá a apresentação dos “19
pintores” em São Paulo, considerada nesta cidade a evidência de uma nova geração. Os
quatro têm pouco menos de 20 anos, desenham, gravam e pintam. A crítica do jornal A
Manhã
,
do Rio de Janeirose pronuncia favoravelmenteaosjovensartistas. Mais tarde serão on úcleo do Grupo dos 19, expondo várias vezes juntos e formado entre outros por Aldemir
Martins, Lothar Charoux, Mário Gruber e Maria Leontina. Em 1947 na Exposição dos 19,
Kubin descrevendo em uma passagem de sua autobiografia a respeito dos estudos para suascriações cita a
impressãoquelhecausou,aobra de artistasqueadmirava:‘‘prepareiséries inteiras de água tintas; conheci todos
os desenhos deKlinger, Goya, de Groux, Rops,Munch, Ensor, Redon sem que eu notasse, influíram em minhaobra” (RAABE,1977,p.10).
Geraldo Ferraz comentará que“eram jovens talentosos de SãoPaulo,etc e tal e temiinava: A
bola vem altademais,otempodo expressionismo já passou.” (GRASSMANN,2005).
No livroArteno Brasil Walter Zaniniseexpressousobreas críticas da época:
Pela imprensa, Sergio Milliet dizia que de um modo geral os“dezenovissimosmuito
pacatamente seguem as pegadas dos mais velhos e não nos trazem novidades pequenas ou grandes. Exibem-se mais como uma geração de epigonos que de líderes.”
Outros
cr
íticos acompanhavam Milliet nessepontode vista, comoQuirinodaSilva,queos tachava de “velhos da pior velhice e Ibiapaba Martins, queos definia como jovens muito disciplinados na esteira queos mestrestraçaram.” (ZANINI, p. 649, 651,1979).
No mesmo texto Zanini destaca que dentre todos Marcelo Grassmann seria aquele de trajetória mais individualizada.
Acrítica foi muito forte para eles. Os 19 quandose reuniam,se juntavam,nãovisavamformar
umaescola,era apenasumaformade contaraosoutroso que estavam fazendo.
Sobre oassuntoMarcelo Grassmanncomenta:
Hojevocê liga uma televisão e sabe quais as exposições e qual o tipo de artista que
está expondo, em que galeria, sebem que nem todos. Mas você sabe o que está
sendo feito e naquela época não havia isto, então havia necessidade de um intercâmbio quase direto um com ooutro.(GRASSMANN,1984).
Em 1948, Grassmann começou a colaborar com o suplemento literário do Diário de São Paulo de Assis Chateaubriand, (lá estavam Geraldo Ferraz e Patrícia Galvão, a Pagu)
desenhando para ilustrar textos e poesias e com o jornal O Estado de São Paulo através de
Sergio Milliet, no mesmo tipo de suplemento literário. Mas já não havia exclusividade.
Muitosoutrosartistas foram convidados para ilustrar.
O ambiente intelectual era rico e a época fundamental para ele porque favoreceu “primeiro a
divulgação do trabalho; uma espécie de contato mais direto de grupos, que gravavam, que faziam gravura, que faziam pintura. Visitávamos Bonadei. [...], enfim tinha um intercâmbio
muito grande nesse período”. (GRASSMANN, 2005). “Havia uma movimentação tudo no
centro,perto da ruaSete de Abril. Víamos Rebolo, Volpi, Graciano(todos pintores do Grupo Santa Helena)” (GIOIA,2006).
Em 1950 Grassmann fez uma pequena exposição na ENBA, no Rio de Janeiro e conheceu
Goeldi pessoalmente. Houve uma identificação imediata dele com a obra de Grassmann.
Goeldi ficou muito entusiasmadocomseu bestiário particular,se afina com osrasgos depreto
-se amigos,comentamos trabalhos de muitos artistas europeusqueMarcelo já conhecia,como
Ensor e Kubin, expressionistas alemães1que faziam gravura. Goeldi seria referência para o
jovem artista Marcelo Grassmann que iniciava na arte dagravura.
Ainda em 1950 Grassmann fez contato com Stockinger e Di Cavalcanti, não ligados à gravura, e com os gravadores Darei Valença Lins e Lívio Abramo. A atividade como
ilustradorsoma
-
se à meta incessantea queGrassmann sempre se propôs: aprender,vivenciar,praticaragravura e as artes. E assim foi com a iniciação na litografiacom instruções de Poty,
experiência naquela ocasiãoainda rudimentar.
O
Na xilogravura,Grassmann começou trabalhandoa fio comoGoeldi (Ils 3 e 5). Mais tarde é
que explorou a possibilidade das gamas de cinza nas matrizes de topo possivelmente pela influência de Lívio Abramo e pelo contato com o professor Kohler que ensinava gravura de toponohorto florestal noRio deJaneiro.
Depois de um certo período o trabalho na gravura começou a se tomar muito “viciado”.
Grassmann caminhava para algo muito rebuscado, muito ornamental, era uma orientação
diferente, própria do Lívio Abramo (Ils 4 e 6). O uso de muitos buris e ferramentas traziam umefeito“rendado” que lhe fez receber de Goeldiem 1952aobservação: “assim você parece
uma bordadeira” (GRASSMANN, 2005) (II. 7). Goeldi era um purista, mantendo-se na
gravura de fio,todasuavida. Lívio Abramo,porseu tumo,dedicou
-
se à gravura de topo.Kubinem 1911 junto com Kandinsky,Franz Marc e Hunter formou o grupo DerBlaue Reiter,onde colaborou em 1912comalguns desenhos,no qual logo ingressariam também August Macke e Klee.
O jovemGoeldi conheceu Kubin numa mostranaSuíça, e foiincentivadopor ele na sua obra,tomando
-
se seu correspondenteGrassmann venho a conhecer ostermosrelativos à gravura em madeira com a descoberta dos gravadores de
reprodução.
Agravuraem madeira é a mais antiga forma de multiplicar imagens, e especificamente a gravura em madeira de fio,ou fibra. Apenas no séculoXVIIIé que o gravador inglês Thomas Bewick descobre quea madeiracortada
na direção transversal aotronco de arvore (le bois débout) permitia uma gravação mais fina, uma vez que a
madeira de topoémais duraenão permite fissuras,nem buracos,como a de fibra. Agravura detopo éfeitanos moldes dagravura em metal,com buril.(CABO,1995,p.61)
Gravuras deFio Gravurasde Topo
II.3.O bêbado,Goeldi.1944. II.4. PeloSertão,Abramo.1946/48
Essa crítica é um divisor de águas para Grassmann. Goeldi chamou sua atenção para a
pertinênciadaelaboração, maisnosuportemetal quena madeira.
No Liceu de Artes e Ofícios no Rio de Janeiro, Grassmann, Poty, e Darei iniciaram seus estudos noexercício nometal,a água forte,sob a orientação de HenriqueOswald.
Apoiado pela orientação de Goeldi ele não mais volta à xilo. Para ele, aparece um mundo muito mais rico,nagravuraem metal(II. 8).
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II.7.Sem titulo,Grassmann.1949 II.8.Semtitulo,Grassmann 1952
Emfins de1950 no Rio de Janeiro,oartista expõe noSalão Nacional de Belas Artes,ganhaa
medalha dePrata e recebe oscomentários eelogios de Lívio Abramono jornal A Tribuna da
Imprensa:
os trabalhos apresentados revelam o aparecimento de um artistana acepção ampla do termo [ ] transforma em linguagem plástica própria o seu mundo subconsciente, o seu mundo íntimo com técnica requintada, linguagem plástica original, temas do mundo subconsciente e íntimo. (ABRAMO, apud MANUEL,
1984 p.23)
Em 1951 ganhou a medalha de ouro no Salão Nacional de Belas Artes. Conheceu Mário
Cravo que também estava expondo, e tinha prensas para impressão no seu atelier na Bahia.
Em 1952 Grassmann trabalhoucom Mário Cravo em Salvador. Fez litografias e também uma
série de gravuras em metal. Confirmandooque Goeldi previra,alise encontravaocaminho a
seguir. O prémio de viagem ao estrangeiro em gravura, no Salão de Arte Moderna veio em 1952, maselesó viajou paraaEuropaem 1954. Quandoem Viena se inscreveu naAcademia
de Arte Aplicada para conhecer melhor a técnica da litografia, e tentou encontrar
-
se comm r
Kubin. Este residia no pequenocastelo Zwickledt pertode Schärding naAustria desde junho
de 1906. Kubin não pode recebê
-
lo,mas lhe enviou umacartadelicada:Estimado Senhor MarceloGrassmann:em alemão há um ditado que diz: oque Deus
uniu, o homem não deve separar. Na língua internacional da arte, podemos nos comunicar,sempre quesurja uma obra das minhas mãos, mesmoque sejam apenas algunstraços. Você irá sentir minha presença
melhorse procurasseessesrastrosnas coleções oficiais etambém noarquivo Kubin em Hamburgo
Decoração,do seu
a1Alfred Kubin
Saudaçõesao Oswaldo Goeldi.(MANUEL,1984,p.26).
Por tudoisso, a meu ver seria
Apesar da decepção por não conhecê
-
lo pessoalmente, Marcelo aprendeu mais uma lição: oartista está mais naobra (Ils. 9e 10).
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11.9.Springfish. Kubin,A 1920
Aos 26anos,ojovem artistaMarceloGrassmann jáera ummestre. A crítica o elogia.
O repertório presente nas gravuras e desenhos de sua produção o acompanhará obra afora,
algunstemas sendo elaborados com maior ou menor intensidade,mas sempre presentes. São
variações em tomo de figuras humanas e animais, imagens muito parecidas, mas é o próprio artista quem faladareincidênciada temática figurativaefantásticanagravuraou noexercício do desenho que hojese faz mais presente na suaprodução. Como ele nosdiz,“Se você pega toda a obradePicasso vai verque hámeia dúzia de temas.” (MOLINA,2006).
Goeldi em 1958 no debate sobre a gravura no suplemento dominical do Jornal do Brasil,
intermediado por Ferreira Gullar afirmou na discussão a respeito da formação do artista
gravador: “O artista, a meu ver, tem que descobrir por si mesmo tudo o que servirá à sua
expressão porque essa necessidade de expressão é o que o fará descobrir os valores das gravurasetudoo quevierdeforaoué desnecessárioou prejudicial” (GULLAR,1957,p.3).
Grassmannem umaentrevistaanosmais tarde afirmará“Nãoexiste artista que brotado nada”
(MOLINA, 2006). Com essa afirmação Grassmann compreende o alerta do mestre Goeldi fato que o fará valorizar não apenas a expressão comopedra detoque da sua obra,masque irá
validar toda sua formação como profissional do entalhe e anterior a ela, todo o aprendizado visual da infância.
Ainda no debate sobre a gravura no Jornal do Brasil em 1958, Grassmann comentando a
necessidade do ensino da técnica principalmente do trabalho no metal, observa: “O trabalho
no metal implica uma técnica complexíssima em todo o aprendizado anterior à criação
propriamente ditae ninguém aprende sozinho.” (GULLAR,1958,p. 3). Apesardocomentário
voltar-se mais ao ensino da técnica, Marcelo sabe que na formação do artista a visão de
aprendizagem deveser bem mais ampla,construídanasvárias viasdacultura.
EssaéaformaçãodeGrassmann,à qual ele deve indicaçãode caminhos.
Numa entrevista a autora em 2005 Marcelo relembrou a grande movimentação que havia na
área cultural. Períododemaior produção,exposiçõesaquie fora do Brasil: “a primeira Bienal foiem 51. O Brasil tinha um contato muito grandecom o exterior Na Suíça por exemplo,
umaespécie de Bienal era a Xilon.” (GRASSMANN,2005).Elee Goeldi participaram várias
vezes desteevento.
Desde o modernismo da década de 20, as realizações artísticas no Brasil buscavam uma
identidade própria, e ao mesmo tempo absorver as correntes internacionais que recebíamos
O professorMárioBaratanaIntroduçãoàGravura noBrasil,afirma:
no plano artístico, Goeldi com suas xilos de caráter expressionista, criativo que encerraoperíodo de realizações dagravurabrasileiraatravés da formação didática realizada na Europa diretamente e não por influências; Lívio Abramo como significativo representante oficial da nova fase que vem pelo século atual, e a
geração“pós Goeldi” que ficou emum lado, na linha modernade grandeforçade sentido expressionista e social, e de outro, mais numerosa baseada sobretudo em metal com efeitos abstracionistas e recursos de composição pura (FERREIRA,
CAMARÁe TÁVORA,1995,p.17).
Grassmann nos oferece uma linguagem, um dizer que não poderia usar de qualquer outra
técnica para ser compreendido. A escolha pelo fazer arcaico do corte, do arrancar matéria,
pelo deixar marcas na matriz, foi escolha consciente de trabalho necessário; a imagem carregando o poder destaaçãoque não poderia se apresentarcom a mesma força se escolhida
outramaneira de expressão.Devemos lembrar que a gravuranomovimento expressionista
profundamente ligada à tradição figurativa alemã,[..
necessidades de expressão e comunicaçãodesuaarte.
Há uma valorização dogestocriativo emsua dimensão física.
Não se oculta a história do trabalho, a história da lutacontraamatéria.(TÁVORA,
1990, p.83
-
85).] atendeu à conjugaçãodas
Na vida do artista sucederam
-
se Salões, Bienais e Mostras. Grassmann é até hoje um trabalhador incansável. Da Bienal de São Paulo,participou seis vezes recebendo em 1955, na III Bienal,o prémio de melhor gravador nacional,e em 1959 o de melhor desenhista nacional.Recebeu ainda agrande medalha de ouro do governo doEstado de SãoPaulo em
1957 e participou nos anos subseqüentes, das Bienais de Paris e Tóquio. Integrou
mostras de arte contemporânea brasileira exibidas na Argentina, no Chile, EUA,
Itália, Áustria,Peru, México e Inglaterra. Tanto no Brasil como na maioria desses
paísestevetambémmostrasindividuais.(NEISTEIN,1981,p.91-92).
Em 1969,dezoitoanos passados daI ediçãoda Bienal foi montada uma sala especial desuas
gravuras. Participou das edições de 25, 29 e31 da Bienal de Veneza e na XXIX, em 1958,
recebeu o prémio de arte sacra com a gravura Os Três Cavaleiros que lhe trouxe o
reconhecimento internacional. Na representação brasileira, além dele, estavam Fayga Ostrower, Goeldi e Lívio Abramo. E foi uma surpresa para o artista ter sua obra premiada
II.11. Os Três Cavaleiros.Grassmann.1954
Ainda em dezembro de 1969, foi montada a retrospectiva “25 anos de gravura” apresentada
no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Nesse ano, o governo do Estado de São Paulo
comprou do artista 384 gravuras entre metais, litos e xilos. A negociaçãoé intermediada por Marcos Marcondes da Art Editora S.P com Delmiro Gonçalves, na época diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Só os metais são cerca de 181, possivelmente o maior acervo de um gravador em uma só instituição. Para Grassmann, uma solução para a
quantidadedecópias que seacumulavam.Começava a se tomar difícil guardaralémda prova
final, todas as provas de estado, etapas do trabalho. Muitas ele chegou a queimar. Com a
aquisição, veio a possibilidade de mostrar os estágios por que passa a obra antes do seu
resultado final,e Marcelovislumbrou a possibilidade de serdidáticoe mostrar os estados. O
r
professor Marcelo Grassmann,da Fundação Alvares Penteadoem SãoPaulo, ondese formou importantecentrode aprendizagem da gravura em 1960,falou mais alto dentro do artista.
r
E ele mesmo quem comenta que a gravura é um processo de criação que permite o acompanhamento de todasas etapas de umaidéia,do desenvolvimentode umaidéia,em que