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Oficinas terapêuticas na atenção primária: um relato de experiência

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA GRACIELA DE OLIVEIRA ANTUNES

OFICINAS TERAPÊUTICAS DA ATENÇÃO PRIMÁRIA:

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Porto Alegre 2014

GRACIELA DE OLIVEIRA ANTUNES

OFICINAS TERAPÊUTICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA:

Um Relato de Experiência.

Orientadora: Dra. Jussara Gue Martini

FLORIANÓPOLIS (SC) 2014

GRACIELA DE OLIVEIRA ANTUNES Monografia apresentada

ao Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Área Atenção Psicossocial. Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista.

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OFICINAS TERAPÊUTICAS NA ATENÇÃO BÁSICA: Um Relato de Experiência

O trabalho intitulado OFICINAS TERAPÊUTICAS NA ATENÇÃO PRIMÁRIA de autoria da aluna GRACIELA DE OLIVEIRA ANTUNES foi examinado e avaliado pela banca avaliadora, sendo considerado APROVADO no Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem – Área Atenção Psicossocial.

_____________________________________ Profa. Dra. Jussara Gue Martini

Orientadora

_____________________________________ Profa. Dra. Vânia Marli Schubert Backes

Coordenadora do Curso

_____________________________________ Profa. Dra. Flávia Regina Souza Ramos

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E o bonito desta vida é poder costurar sonhos, bordar histórias e desatar os nós de nossos dias. Cidinha Araújo

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por estar sempre ao meu lado guiando o meu caminho e as minhas escolhas e minha família que é a minha fonte de amor e que me dá energia para que eu possa realizar o meu trabalho com muita dedicação

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RESUMO

Esta é uma pesquisa convergente assistencial, realizada na Estratégia de Saúde da Família Jardim Protásio Alves em Porto Alegre. Apresenta um relato de experiências das oficinas terapêuticas em saúde mental. Inicialmente foram identificados pela equipe de saúde indivíduos com perfil para participar das oficinas, pacientes em sofrimento psíquico e também pessoas que trabalham com artesanato. Os encontros iniciaram em fevereiro e continuam acontecendo semanalmente. O objetivo do trabalho foi criar um espaço de convivência na unidade básica para atender pessoas em sofrimento psíquico ou em vulnerabilidade social. Foi possível realizar trocas de experiências através do uso do artesanato e também propiciar um espaço de reinserção social e desconstrução da imagem criada pela loucura, além de ser um local de respeito às diferenças. Foram utilizadas técnicas de crochê, fuxico, coelhos de páscoa em EVA, móbiles em feltros entre outros. Espera-se que outros serviços possam criar espaços de convivência que contemplem os pacientes em sofrimento psíquico, avaliando e divulgando seus resultados como forma de estimular outras experiências deste tipo.

Palavras chaves: Enfermagem. Atenção psicossocial. Saúde Mental. Oficinas Terapêuticas. Relato de Experiências.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO...08 1 OFICINAS TERAPÊUTICAS...10 X 2 PLANO DE AÇÃO...12 3 RELATO DE EXPERIÊNCIA...13 X 4 CONCLUSÃO...19 REFERÊNCIAS...21 X APÊNDICE ...22 X

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INTRODUÇÃO

Com a reorganização da atenção básica no Brasil a atenção primária é colocada como organizadora e coordenadora do cuidado, ficando responsável pela integração entre todos os pontos da rede de atenção à saúde. Assim, é fundamental que haja uma reestruturação das formas de atendimento para que seja possível atender todas as demandas da população (Portaria 4279/2010). Uma das principais demandas dos usuários são os sofrimentos mentais que, em muitos casos, são gerados por vulnerabilidades sociais.

A Equipe de Saúde da Família Jardim Protásio Alves, serviço em que foi realizada a experiência aqui relatada, iniciou suas atividades há 11 anos. Trabalha com uma comunidade de aproximadamente 6000 pessoas, onde há duas áreas de invasões, com populações vulneráveis, apresentado um crescimento populacional desordenado, condições precárias de moradia, sem infraestrutura sanitária. No território existe uma escola comunitária infantil, duas associações comunitárias, não há cooperativas e escolas regulares na região.

A equipe não possui um cadastro atualizado de usuários que utilizam psicotrópicos e suas principais patologias. Os registros existentes ficam nos prontuários dos pacientes e, até o momento não foi possível realizar pesquisa nestes documentos. Os atendimentos em saúde mental, por médicos e enfermeiros, no período de janeiro a novembro de 2013, totalizaram 986 consultas, sendo uma média mensal de 87,81 consultas. Destes atendimentos, os casos mais graves são levados para discussão com a equipe de saúde mental da região, que se reúne uma vez por mês. Como o número de reuniões é insuficiente, é necessário que haja uma priorização dos casos, nestes encontros discutimos a situação do usuário que está em sofrimento, levando em conta o contexto familiar e social em que o mesmo está inserido, buscando alternativas na rede de atendimento para definir qual é a melhor conduta em cada caso. Outro recurso utilizado é a emergência psiquiátrica para situações de risco.

Observa-se que a população atendida é carente de espaços de escuta e de interação com a comunidade, porque não existem lugares de convivência próximos, nem áreas de lazer que possam promover estas oportunidades.

De acordo com o ministério da saúde, 12% da população brasileira sofre com transtornos mentais, destes 3% representam transtornos graves e persistentes o que representa 5 milhões de brasileiros. As doenças psiquiátricas mais prevalentes estão associadas à depressão, à ansiedade e aos transtornos de ajustamento.

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Segundo a OMS, no mundo, os problemas de saúde mental ocupam cinco posições no ranking das dez principais causas de incapacidade atingindo mais de 400 milhões de pessoas.

O trabalho proposto, considerando o exposto, é a realização de oficinas terapêuticas pela equipe da Estratégia de Saúde da Família Jardim Protásio Alves, utilizando como ferramenta de trabalho o artesanato com o objetivo de atender pessoas que procuram a unidade e que estão com algum sofrimento psíquico ou em vulnerabilidade social e relatar as experiências destas oficinas.

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1. OFICINAS TERAPÊUTICAS

A reforma psiquiátrica visa desconstruir conceitos e práticas de isolamento e exclusão da loucura, esta nova visão do tratamento tenta tirar o foco do modelo hospitalar e ampliar o tratamento com valorização do ambiente familiar, relações sociais e os vínculos do sujeito (Antonacci Et al, 2011). Os avanços em direção à consolidação da reforma psiquiátrica representam uma grande conquista, permitindo uma maior valorização das atividades realizadas pelas equipes de atenção básica no território, especialmente as que visam à reconstrução da identidade dos sujeitos com uso do trabalho (Lussi Et al, 2008).

O movimento da reforma psiquiátrica teve como paradigmas norteadores a desinstitucionalização o que vem ao encontro de um atendimento realizado na atenção básica, e a reabilitação psicossocial que, segundo Cedraz et al (2005), se fundamenta na ideia de que o individuo em sofrimento mental teve muitas perdas ocasionadas pelo seu adoecimento. Sendo assim o processo parte da falta e vai em direção ao desejo de proporcionar a equidade entre iguais e diferentes.

Segundo a declaração de Caracas (1990), a reestruturação da assistência psiquiátrica deve estar ligada à Atenção Primária em Saúde, no âmbito dos Sistemas Locais de Saúde, permitindo assim a promoção de modelos alternativos, centrados na comunidade e dentro de suas redes sociais.

Segundo Ribeiro 2004, citando Aun (1999), alguns estudos sobre a influência da rede na saúde do sujeito destacam que as doenças crônicas e prolongadas empobrecem a rede social, produzem um impacto negativo no indivíduo e sobrecarregam suas relações intimas. Além disso, Sluki aponta que “existe uma correlação direta entre a qualidade da rede social e a qualidade da saúde”, indicando que quanto maior é o isolamento das pessoas, maior o adoecimento e que, consequentemente, quanto menor a rede social, maior a probabilidade de morte e de re-hospitalização.

As pessoas em sofrimento psíquico tem uma tendência ao isolamento social, elas acabam desenvolvendo um confinamento que não é institucional e sim mental e o trabalho em grupo associado ao tratamento convencional ajuda muito na melhora da doença.

As oficinas terapêuticas, regulamentadas pela portaria 189 de 1991(SNA – Brasil,1991), são atividades em grupo que possuem a função de socialização, expressão e inserção social, valorizando o trabalho em grupo como espaço terapêutico. Elas se

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constituem, então, em um espaço de convivência que restabelece a cidadania do usuário e sua capacidade de desenvolver relações sociais, além de expressar os seus sentimentos através da arte, independentemente de qual seja a dinâmica da oficina. É possível através da convivência em grupo trabalhar com a diversidade, desenvolver a criatividade, trocar saberes e trabalhar a autoestima.

Segundo Soares et al (2010), a educação em saúde atualmente considera a interação entre os saberes do educador e do educando e a multidimensionalidade do individuo, buscando a participação popular no desenvolvimento da qualidade de vida e da autonomia do individuo. Sob esta perspectiva de educação em saúde existe uma convergência com o propósito das oficinas, uma vez que elas visam à interação entre as pessoas, diminuindo o isolamento causado pela doença mental e possibilitando que o indivíduo saia da posição passiva e adquira maior autonomia. Desenvolvendo, assim, uma clinica construtiva e inventiva, que possa propiciar novas possibilidades de viver. Uma clínica que propicia a criação e que pode transformar o cotidiano (Lima, 2004).

Para Guerra, 2004, a particularidade dos casos, o trabalho multidisciplinar e o respeito ao doente mental deu novo valor ao uso das atividades como um valioso recurso no tratamento clinico e na reabilitação psicossocial. Nesta lógica, as oficinas ressurgiram, reguladas em legislação no Brasil, introduzindo um novo elemento à paisagem institucional da assistência em saúde mental. Além disso, diz que mais que desenvolvimento de habilidades, busca-se introduzir na cultura a diferença que a loucura representa, essa associação amplia o conceito de clínica, denominada ampliada, antimanicomial, ou psicossocial, que traz repercussões sobre as oficinas nesta proposta.

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2. PLANO DE AÇÃO

Na etapa de planejamento das oficinas, definiu-se que elas aconteceriam quinzenalmente, com duração de duas horas, a partir de fevereiro de 2014, na sala de grupo da unidade, sendo coordenadas pela especializanda e por uma agente comunitária de saúde, que foi escolhida de acordo com o seu interesse em participar das atividades.

O público alvo do grupo foram os indivíduos que procuraram a unidade de saúde e que durante o atendimento tiveram identificada alguma situação de sofrimento psíquico ou vulnerabilidade social ou em visitas domiciliares em que esta demanda estivesse presente. Além destas pessoas, foram convidadas, ainda, pessoas da comunidade que trabalham com artesanato para que pudessem compartilhar o seu conhecimento com os outros.

No primeiro encontro foram firmados os contratos do grupo e, também, realizada uma dinâmica de interação e definição de quais atividades artesanais que os participantes gostariam de realizar.

Após cada encontro foi realizado um diário de campo para que fossem registradas as atividades realizadas e as impressões do funcionamento do grupo.

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3. RELATO DE EXPERIÊNCIA E ANÁLISE

Para a realização do primeiro encontro foram distribuídos 25 convites a pessoas que trabalham com artesanato e a usuários que tem algum sofrimento mental e que a equipe identificou como potencial participante do grupo. Foi solicitado que cada participante trouxesse ideias ou trabalhos para mostrar ao grupo para que fosse possível observar o interesse do grupo na realização das atividades.

No primeiro encontro vieram cinco participantes, foi realizada uma dinâmica de apresentação em que os participantes referiam porque estavam ali e quais as suas expectativas em participar do grupo.

Duas participantes relataram que há três anos já haviam participado de um grupo de artesanato na unidade e trouxeram relatos de que “adoro estar aqui com estas meninas, amo estar aqui...”, outra trouxe que “trabalho com artesanato desde os 7 anos, a minha vida é o artesanato e foi o que me tirou de uma depressão...”. Outra participante trouxe que estava ali porque era nova na região e que não conhecia ninguém ali, outra trouxe que “recebi o convite, moro aqui há um ano, faço flores, crochê e se alguém se interessar eu posso ensinar...”, também havia no grupo uma adolescente que veio acompanhando a vó.

Observando as falas acima concordo com o que diz Guerra, 2004, que independente de qual nível de complexidade de atenção o que importa é a ressocialização e a integração do portador de sofrimento mental em uma rede comum de significados cotidianos partilhados socialmente, buscando assim o resgate da cidadania e a recuperação ou criação de novos enlaçamentos sociais, numa rede que permita ao sujeito inserir-se socialmente. Exercendo seu papel político e social na medida do possível.

Quatro usuárias e a especializanda trouxeram seus trabalhos para mostrar ao grupo, crochê, flores de EVA, móbile confeccionado com feltro, bordado em ponto cruz, sabonete decorado e foram mencionadas também algumas outras possibilidades de trabalho. Neste caso ficou muito evidente a troca de saberes e o desejo de dividir os conhecimentos entre todos os integrantes do grupo, de uma forma muito natural e respeitando as vontades de todos.

O grupo definiu então no primeiro encontro que a periodicidade deveria ser semanal, para que o mesmo não se esvaziasse e para que o grupo não perdesse o interesse. Para o

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próximo encontro trabalharíamos com confecção de móbiles de feltro e toalha com ponto cruz, que uma das participantes demonstrou interesse em fazer para o seu filho (usuária esta que é muito deprimida e que tem uma dificuldade muito grande de vínculo com o seu bebê). Uma das participantes ficou de trazer também os moldes em EVA para confeccionarmos coelhos para a páscoa.

Observei uma vontade muito grande dos participantes de que o grupo desse certo e da equipe muita ansiedade, porque como temos muitos funcionários novos, devido a uma troca no contrato de trabalho no município e muitos colegas nunca tinham trabalhado em atenção primária. O trabalho com sofrimento mental gera muitas dúvidas e ansiedade porque escutar o sofrimento do outro pode remeter a questões íntimas do profissional e em muitos momentos causar sofrimento e nem todos conseguem trabalhar bem estas questões. Para Ribeiro, 2004, citando Sluzki,1995, a doença mental é crônica o que gera um cuidado continuado e este pode ser percebido como pouco efetivo e gratificante, já que a melhora é lenta e pode esgotar os membros da equipe.

O acesso à unidade é o acolhimento que é o primeiro espaço de interlocução entre o usuário e os profissionais de saúde, este é um dos momentos que são identificados os usuários em sofrimento. O acolhimento é uma prática presente em todas as relações de cuidado, nos encontros reais entre trabalhadores de saúde e usuários, nos atos de receber e escutar as pessoas, podendo acontecer de formas variadas (Brasil, 2011).

No segundo encontro estiveram presente 8 participantes, sendo que duas são adolescentes que viram o grupo acontecendo na unidade e se interessaram em participar. As atividades desenvolvidas foram confecção de coelhos em EVA, móbiles em feltro e crochê.

Duas das participantes são artesãs e exercem uma liderança natural porque com os seus conhecimentos e a sua disponibilidade em socializá-los viraram referência para o grupo. Segundo Guerra, 2004, a entrada do artesão e do artista enquanto monitores possibilita uma leitura diferenciada da produção da loucura, colocando-a num outro registro simbólico e cultural, esta coordenação do grupo por alguém da comunidade abre uma possibilidade de circulação comunitária ou mesmo de entrada na localidade onde o usuário mora.

Aquela participante que queria fazer ponto cruz trouxe uma revista com um tapete e pediu que uma das artesãs lhe ajudasse a fazer e durante a confecção do seu trabalho, inclusive com muita concentração e habilidade, verbalizou o seu sofrimento em morar no lugar e não conseguir se relacionar com os outros e também a dificuldade que tem em cuidar do seu filho quando ele está em casa e não na creche. As demais participantes trouxeram que

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com o convívio em grupo ela fará amizade, vai sair de casa e ficará melhor, porque o choro do filho é reflexo da sua irritabilidade com a sua situação.

Ribeiro, 2004, citando Dabas (1993), afirma que o trabalho em rede é construído através de grupos sociais, o que possibilita uma modalidade participativa que propicia trocas e a resolução de problemas comuns, por meio da organização de modelos de vida cotidiana entre familiares, vizinhos, amigos e colaboradores da pessoa ou família. Uma outra participante tem esquizofrenia, vive muito sozinha, apenas com o seu cachorro, estava muito ansiosa com inicio do grupo por ser uma oportunidade de sair de casa. Quando começamos as atividades ela trouxe que tem muita dificuldade em bordar e costurar, então perguntei se ela gostaria de fazer recortes em Eva e ela gostou da atividade. Observei que uma das participantes demonstrou muita impaciência com a falta de precisão com os recortes, fiquei ao lado dela durante as atividades tentando auxiliá-la quando necessário. Segundo Almeida, 2004, a adequação das atividades deve ser avaliada individualmente de acordo com o interesse pessoal e esta relação pode ser terapêutica e não a atividade em si.

Neste grupo fiquei um pouco angustiada devido às diferenças que começaram a aparecer no grupo e algumas dificuldades de convivência. Para Cedraz, 2005, uma vez que as oficinas são uma estratégia de desinstuticionalização, deve ser um espaço de várias coisas, menos um dispositivo disciplinador. Devem sustentar um espaço criativo que aceita várias formas de expressão e aceita o estranho, sem a necessidade de intervenção para o reestabelecimento da normalidade.

Pinto, 2011, em seu trabalho que avalia a qualidade das oficinas ela afirma que o coordenador do grupo não deve ser um mediador de conflitos e sim apontar formas criativas e diferentes de resolver questões de conflito, e que os usuários não deixem de negociar os seus desejos. Ela cita que a "reabilitação é um processo que implica a abertura de espaços de negociação para o usuário, para a sua família, para a comunidade circundante e para os serviços que se ocupam do usuário” (SARACENO, 1999, p.21).

As participantes trouxeram o desejo de realizar atividades duas vezes por semana, mas devido à indisponibilidade de sala expliquei que não seria possível.

No terceiro encontro estiveram presentes sete participantes, muito animadas, duas delas trouxeram presentes confeccionados por elas em casa. Continuamos a fazer os coelhos de páscoa em EVA, o tapete de crochê e o móbile. Uma das participantes trouxe para o lanche do grupo um bolo feito por ela e um suco, mesmo sem combinação prévia. Estavam todas muito integradas ao trabalho que nem viram a hora passar.

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Recebemos da secretaria da saúde alguns materiais solicitados pelo grupo para a confecção dos trabalhos, o que animou muito as usuárias. Foi combinado que os produtos confeccionados serão vendidos em uma feira de artesanato no posto na próxima campanha de vacina, para que seja possível comprar outros materiais. Segundo Ribeiro (2004) o objeto produzido deve representar e apresentar o sujeito socialmente e funcionar como intermediário entre este e aqueles com os quais o individuo se relaciona, deve ser capaz de gerar valor, destituindo assim a conotação de exploração sustentada pela ergoterapia, por anos a fio, dentro das instituições psiquiátricas.

No quarto encontro estavam presentes quatro participantes, sendo uma integrante nova que faz tratamento diretamente observado devido a sua patologia psiquiátrica, costuma ser muito falante, mas chegou ao grupo muito quieta, apresentou-se disse que gostava de crochê, tricô e quis inserir-se na atividade que estava sendo desenvolvida. Durante o grupo começou a ficar muito ansiosa, saiu da sala várias vezes para fumar, disse que o cheiro da cola que estava sendo usada estava lhe incomodando. Começou a falar das suas internações psiquiátricas e mostrou inclusive uma cicatriz no seio de uma mordida que levou durante uma internação. As outras usuárias ficaram surpresas com as colocações, mas desviaram o assunto para o trabalho realizado. Observei que a paciente não se sentiu incomodada, inclusive disse que em breve estará de aniversário e trará um bolo para comemorar no grupo. A presença das internações e o sofrimento causado por elas são muito presentes e marcante na sua história e será mencionado muitas vezes, independente do tempo que faça e sem considerar se as pessoas do seu convívio entendem ou não, mesmo que acabe se expondo, mostrando o corpo, é a sua forma de mostrar as suas marcas. Falando sobre oficinas terapêuticas Pinto,2011, cita que “novos arranjos subjetivos através das práticas oferecidas visando o espaço social, e não propriamente na direção de restituir um estado de equilíbrio perdido ou perturbado pela doença, como se entende no uso corrente do termo” (RANGEL, 2006, p.58).

Neste encontro uma das participantes, que é adolescente trouxe materiais que comprou porque ficou interessada e também uma embalagem para colocar doces para páscoa.

Uma das nossas artesãs trouxe um jornal com uma reportagem sobre a terapia artesanal, mostrou ao grupo e falou sobre os benefícios. Sugeriu que fizéssemos um mural para divulgar o grupo para que outras pessoas fossem beneficiadas. A especializanda comprometeu-se em fazer o mural na sala de espera.

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No quinto encontro estiveram presentes seis participantes, a adolescente que participa regularmente trouxe uma amiga e também irmãos pequenos que ficaram brincando durante o grupo com jogos que foram oferecidos. As crianças provocaram certa irritação em uma das participantes do grupo que realizou algumas atividades propostas, mas ficou a maior parte do tempo quieta, no caso desta usuária ainda não foi possível identificar algo que lhe chamasse a atenção realmente. Uma das participantes continua na confecção do seu tapete e demonstra muita alegria em ver os resultados.

Para Pinto, 2011 quando cita Saraceno (1999, p.16) a “reabilitação não é a substituição da desabilitação pela habilitação, mas um conjunto de estratégias orientadas a aumentar essas oportunidades: é somente no interior de tal dinâmica das trocas que se cria um efeito reabilitador”.

No sexto encontro que aconteceu no inicio de abril, estiveram presentes 8 participantes, sendo duas alunas da PUC, que fazem estágio na unidade, três integrantes novas, convidadas pelo grupo. Neste grupo foram confeccionados fuxicos para fazer tiaras, prendedores de cabelo e tudo mais que a imaginação permitir, estes materiais serão guardados para a realização da feira.

Este encontro foi muito divertido, pois uma das integrantes novas contou histórias engraçadas e piadas, o que integrou muito o grupo. Inclusive esta pessoa sugeriu que fizéssemos um grupo na rua perto da região onde mora para que as pessoas se interessem em participar, o grupo ficou de decidir sobre isso.

Observei que houve durante os encontros a participação de pessoas de forma irregular, algumas pessoas participaram de alguns encontros e não permaneceram, outras vieram de forma irregular, faltaram, alguns integrantes muito interessados em que o grupo desse certo e fosse uma referência para a unidade de saúde para que pudesse beneficiar as pessoas com o aprendizado de coisas novas e também pelo espaço de convivência.

As usuárias que mais faltaram foram aquelas que têm patologias psiquiátricas mais severas, porque a integração ao grupo e as atividades não foi muito fácil, além de alguns esquecimentos do dia do grupo e também de questões pessoais. Teve uma das usuárias que tem depressão teve ótimo vínculo com o grupo, realizava as atividades com muito interesse, muito quieta, mas sempre que precisava de ajuda pedia auxilio, trouxe muitas questões pessoais que lhe incomodavam e o grupo tentou ajudar.

Como o grupo é novo ainda não é uma referência para o serviço, acredito que esta imagem será construída com o tempo, a equipe vai incorporando na rotina do serviço para que ele seja um suporte para o trabalho diário com os usuários em sofrimento psíquico.

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CONCLUSÃO

As patologias psiquiátricas são muito frequentes e estão relacionadas aos problemas sociais cada vez mais presentes em nossa sociedade. A atenção básica em saúde é a porta de entrada do sistema e de básica só tem o nome, porque pode não ser um atendimento que utilize alta tecnologia, mas é um atendimento de alta complexidade porque está próximo aos usuários e toda a sua rede social, questões individuais, familiares, trabalhando com situações diversas e tentando interligar a rede de atendimento para assistir aos indivíduos e famílias, exigindo competências diversas.

Infelizmente, após anos da reforma psiquiátrica ainda não temos uma assistência ao paciente em sofrimento psíquico que atenda às suas necessidades. Pode-se afirmar que isto ocorre, em grande parte, pela negligência social e política em relação à saúde mental, o que produz uma aparente carência de recursos para dar conta da demanda crescente de adoecimento mental. No entanto, um dos pontos positivos, atualmente é a qualificação dos profissionais da rede de atenção básica, para que consigam realizar uma escuta qualificada dos usuários e a utilização de recursos locais de atendimento como os grupos, oficinas, consultas, supervisão do tratamento, discussão de casos e acompanhamento terapêutico através de visitas domiciliares, além de outras formas que são criadas diariamente na saúde pública para atender os indivíduos em sofrimento mental, cada vez mais presente nos nosso cotidiano profissional.

As oficinas tem sido um dispositivo rico de reinserção através da convivência de pessoas que estão no mesmo contexto social, mas que possuem experiências individuais que ao serem compartilhadas enriquecem a todos, pois geram a troca de saberes motivada pela confecção de algum objeto. O objeto tem um valor simbólico, pois representa a capacidade de produzir e pode ter um valor social no momento que é comercializado e que pode tornar-se uma fonte de renda. O trabalho em conjunto pode gerar tornar-sentimentos de pertencimento àquele grupo social, aumentar a autoestima, pois sentir-se capaz de produzir algo é gratificante. As dificuldades de convivência aparecem e o grupo encarrega-se de resolvê-las através de estratégias que vão sendo construídas naturalmente.

A proposta do curso de especialização em enfermagem em atenção psicossocial foi a realização de um trabalho de conclusão que realizasse atividades nos serviços dos especializandos para que fosse uma experiência produtiva e realmente importante para as

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atividades. Foi um trabalho interessante, pois foi necessário identificar a necessidade do serviço e pensar em uma atividade prática que fosse importante para a unidade. Foi com este enfoque que iniciei o grupo que deu inicio a este trabalho e que continuará produzindo lindos objetos reais e simbólicos para quem produz e para quem recebe. Espero que esta experiência seja inspiradora de ideias em outras unidades.

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Referências

ALMEIDA, A.M.G.; MORAES, B. M.; BARROSO, C.M.C.; MARCIA, M.M.B.; JOSÉ, J.C.S. Oficinas em saúde mental: relato de experiências em Quixadá e Sobral. Publicado em Oficinas terapêuticas em saúde mental: sujeito, produção e cidadania. Coleções IPUB.Rio de Janeiro, contra capa livraria, 2004, 117-133.

ANTONACCI, M.H; PINHO, LB. Saúde mental na atenção básica: uma abordagem convergente ssistencial. Rev Gaúcha Enferm, Porto Alegre, 2011, v.32, n. 1, p.136-142.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Acolhimento à demanda espontânea / Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. (Brasília, Ministério da Saúde, 2011. Normas e Manuais Técnicos e Cadernos de Atenção Básica n. 28, Volume I) Disponível em

www.saude.gov.br/legislações/gm acesso em 07.12.2013.

CEDRAZ, A.; DIMENSTEIN, M. Oficinas terapêuticas no cenário da reforma psiquiátrica: modalidades desinstitucionalizantes ou não? Rev. Mal-Estar e subjetividade. Fortaleza, 2005, v.5, n 2, p. 300-327.

GUERRA, A.M.C.,Oficinas em saúde mental: percurso de uma história, fundamentos de uma prática. Publicado em COSTA, C.M.;FIGUEIREDO, A. C.,Oficinas Terapêuticas em saúde mental-sujeito, produção e cidadania. Coleções IPUB. Rio de Janeiro:Contra capa livraria, p. 23-58, 2004.

LIMA, E.A.Oficinas, Laboratórios, Ateliês, Grupos de Atividades: Dispositivos para uma clinica atravessada pela criação. In: COSTA, C.M.;FIGUEIREDO, A. C.,Oficinas Terapêuticas em saúde mental-sujeito, produção e cidadania. Coleções IPUB. Rio de Janeiro: Contra capa livraria, p. 54-81, 2004.

LUSSI, I.A.O.; MATSUKURA, T. S.; HAHN, M. S. Reabilitação psicossocial: oficinas de geração de renda no contexto da saúde mental.O Mundo da Saúde. São Paulo, v. 35, n. 2, 2011.

PINTO, VA.M.. Oficinas Terapêuticas na Saúde Mental: um olhar na perspectiva dos

usuários do CAPS. Dissertação de mestrado, defendida no Programa de Pós-Graduação em

Enfermagem UFRJ, 2011.

REINALDO,A. M. S; SOARES, A. N. Oficinas Terapêuticas para Hábitos de Vida Saudável: Um Relato de Experiência. Esc Anna Nery Revista de Enfermagem, 2010, v. 14, n. 2, p. 391-398.

RIBEIRO, R.C.F., Oficinas e redes sociais na reabilitação psicossocial. In: COSTA, C.M.;FIGUEIREDO, A. C.,Oficinas Terapêuticas em saúde mental-sujeito, produção e cidadania. Coleções IPUB. Rio de Janeiro, contra capa livraria, p. 105-116, 2004.

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Universidade Federal de Santa Catarina

Curso de Especialização em Linhas de Cuidado em Enfermagem

Atenção Psicossocial

Termo de consentimento para a secretaria municipal de saúde

Este curso está sendo proporcionado pelo Ministério da Saúde em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina, na modalidade à distância, com 5 encontros presenciais, que ocorrem na Escola de Saúde Pública do RS. O último encontro será realizado em maio de 2014, onde deverá ser apresentado um TCC baseado em uma pesquisa convergente assistencial que deve ser desenvolvida na Atenção Básica, preferencialmente nos locais de trabalho.

Estou desenvolvendo um projeto para realizar oficinas de artesanato voltadas para os usuários que procuram a unidade de saúde ou são identificados em visitas domiciliares e que estão em sofrimento psíquico e também usuários em vulnerabilidade e que tenham interesse em participar das oficinas.

As oficinas serão conduzidas por mim e pela agente de saúde Bianca a intenção é escolher junto as pacientes quais trabalhos são interessantes para elas e compartilhar conhecimentos.

Como o tempo para avaliação do trabalho é muito pequeno a ideia é trabalhar com um diário de campo onde será possível observar as impressões dos usuários e as minhas também.

Gostaria de solicitar a autorização para realização da atividade junto à coordenação da unidade e da gerência distrital.

Atenciosamente,

Graciela de Oliveira Antunes.

Referências

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