n^
TEoRLADo
CoNHECIMENTO ÀmftOoolocn
;;áli*
do
Projeto Epistemológico de PopperwILsoN PESSOA MENDONçA
I
The Logi"
of
Scientific Discovery. Lond¡es: Hutchinson, I 96g, p. 30'Ibid.,p.3L.
&dernos de Histôria e Filosofía da Ciência 7 (1984), pp. 5-19.
truir
esse caminho.l.
O programa do empirismo logico e a questão do psicologistroNo piimãiro capítulo
deA
Logica da Pesquisa Científica,Popperintroduz,
com oobje-tivo
de resolver um problema surgidono
interior
da teoria empirista da ciência, uma distinção que, pela simplificação dos termos envolvidosno
problema, é característica de suáatitude filosófica. Após
examinar as inconsistências lógicas dos programas dejustifìcação
indutiva
do conhecimento científìco-, Popper relaciona-as a"uma
confusão äntre prôblemas psicológicos e epistemológicos"l e estabelece, então, o objetode
suasinvestigações:
,'O ato de conceber ou inventü uma teoria parece-me não reclamar análise lógica nem
As objeções de Popper são dirigidas à vinculação entre empirismo e lógica
formal
que caracterizou o Círculo de Viena, e procuram apresentar o problema da justificação
indutiva
do conhecimento comoum
pseudoproblema. Com efeito, sob a suposição deque as questões relativas à aquisição
do
conhecimento devem ser encaradas exclusiva' mente deum ponto
de vista psicológico, a epistemologia, enquando lógica do conheci' mento, se reduz ao estudo dos métodos de teste a que se submetem idéias científicas7Z formuladas, sem lugar,
portanto,
para o problema da indução. Não éoutro
oF
6
llilsott
Pcssoa Mendonça'
'---olidc
loi
extraída aúltirna
citaçã<-r.O fato
de Popper, na continuação desse trecho' serccusar a
con
construdc
lbrrnação
numa cdesse
process
estimul;;irr'n-;j
logismo significao
abandono de qualquerintònto
<lcex
conhecimento'Masoproblemadajustificaçãoin<lutivadoconlrecimentocientíficonãosedeixa
conlundir,
rras teorias criticadasþor
Popper, com un-'a elucidação dos processos psico-lógicosde
concepçãodc
novas idéias. Issopode
ser mostrado apaftir
daleitu¡a
deCarnap.
Foi
Carnap quenr colocou as bases teóricas <lo empirismo lógico ao elaborar, em,4Esttuture
lógica dctMt,ttlo,
uma teoriaconl
a lneta dõ ordenar os conceitos4 de todasas ciôncias e
outro,
em dtc,
scgundo suaforma
gtalnbóm, e
Ao
ntcsmo tempo, Carnapinterprcta
esseclo conhecilncnto: a base
última
do sistem dclo-
de uma experiência pura, não inteÈrr,
,.u
prËfá.io à 2à p'<l¡*eo deA
:t^l:tr:
livro
como uma tentativa dedemonstraçã
acoroocom a qual é
possívela
reduçãode
todos
,,
dado'ócarnap c'r€
quc'a
lógica desenvoluidupot
Frege, whitehead e Russell contém osinst¡u-;.;t,j,
.oprr.,
de firnclamentar o emþirismo como sistema' e que essa fundarnentação tleveria ser realizada pela extensãodaieforma
formalista da matemática ao âmbito das;,e;;i;r";.pl;i.*.t
ñ.rru
tentativa de rlemonstração o conceito de estrutura ocupa lu-garcentral'
êññô
.re
e Russell eCarnap
empo' queWhitehead
t
a dõ que¿
€"não só aaritnrétìca
e
tzrespeito
nciados deestrutura,,.s
teoriadas
tipo
parti-3nril,p.31.
4Ao inué, de "conceitos", Carnap prefere, às vezes, usar "objetos", sem estabelecer
distin-çõcs entre os dois te¡nros.
sCt. nre Logical Strut:ture
of
thellorlLl
itPseutloproblents in Philosoplty'lJerkeley:Uni-versity ofCalifornia P¡ess,1969, $ 64,
l0l-103'
6cr.
türt
,p
vt
1 r:r. nia. ,p vtt.
8 rbid, , p. 23 .I
Da
Teoriado
Conhecimento àMetodobgia:
7Antilise do
hoieto
Epistemologico de Popperferência
somentea
propriedades formais significadoda
relação e dotipo
de objeto relaçãofor
atribuído, arbitrariamente, umssa relação pode ser completamenfe
especi-,'#J,:î.Hi:;ï]iï::i;:l'Jiäi?åi::
um plano. O
fato
de a descrição estruturalser completa significa, para Carnap, que o que se pode dizer de uma maneira
puramen-ie formal
nãotraz
consigo nenhum problemade
fundamentação,A
isso Carnap sóprecisa
juntar
a afirmaçãode
que "enunciados científìcos falam somente de formas, sem determinaro
que são os elementos e as relações tlessasformas",e
para remeter a ciência ao que se oferecejuntamente
com sua fundamentação. Em outras palavras, o dado seria o formal.A
importância
da
descriçãoestrutural
reside,para
Carnap,na
possiblidade de..uma descrição definida de todos os objetos de um dado
domínio
sem indicar nenhun-tcleles através de uma definição ostensiva e sem fazer qualquer referência a um objeto
fora do domínio
em questão".roAplicado
à
totalidude dos obietos de conhecimento, um sistema de descrições estruturois deveria possibilitar todotipo
de disttnçdo imaginá' vel, eliminando qualquer argumentaçõo afavor
de um conhecimento apriori.
O conceito de estrutura é
o
instrumentológico
de que Carnap se serye para supe-rar a dificuldade que se coloca imediatamente no caminho de uma afìrmação doempi
rismo.A
descrição estrutural do dado deveria proporcionar a elaboração de enunciados sobrea
baseúltima da
experiência sem mescla deinstrumental
conceitual prévio. Carnap supõe queno
fluxo
da experiência certos elementos básicos chamados "expe-riências elementares" estão ligados entre si mediante uma única relação através da qual"todos
os estados de coisas reconhecíveis podem ser expressos":1t
a relaçãoassimétri-ca
"evocação de similaridade".A
atribuição
deum
númerodistintivo
a cadaum
dos elementos básicospermite
uma
descriçãoestrutural
do fluxo
da
experiência cujo reconhecimento, segundo Carnap, é imediato.l 2 Assim, a base pura do conhecimento éconcebida à maneira de um esquema est¡utural.
No
sistema de constituição, os conceitos estão ordenados de tal forma que um da-do conceito pode sem¡rre serreduzido
a conceitos de níveis mais baixo e, finalmente, aos conceitos que se referem ao imediatamente dado. Carnap reconhece que, no meio dos conceitos atuais das várias ciências, as relações de redutibilidade vigem em diferen-tes direções, não sendo,portanto,
suficientes para a determinação unívoca da formaethid.,y't.21. lo,lå,ì/., p. 15. | | Ihirl. , p. lz3 . l2r-f. a,tianre p. 7
F
to
destes,O
sisterna defonnação dos conceitos; distinção básica entre ps
entre os
conceitos são raco¡do com os processos psicológicos reais:
vem deternrinada pela referência ao
"eu"
para o qual os processos psicológicos existem,8
Wilson Pessoa Mendonça13Cf. Tt,, Logical Stnrcltte
ol
thell'orltl
i'i
Pseut)oproblents in Philosophy, ob.cit.,
$$
62 e 63. pp. 99-101.
'ac¡. Ihi,l., g -s4, pp. 88-89.
tslbid., p.
89. Sirnilarmente:"4
fornrulaçâo clo sistena de constituiçdo nâo alnrejarepre-senlar a maneira errì que os vários conteú<ios da experiência são experinrentados, Irtas levat en't
contír sonìente as relações lógicas contidas neles; isso é 1'eito através de ùÍÃre(otßtruçao racional rla síntese dos conteú<1os tla experiência, a qual, ua experrência real, é, n¡ rttaior parte, intuitiva," {.ibid.,p.171).
16ft,i.i., p. too.
| 7
Ds Teoria
do Ønhecimento
àMetodologia:
9 AruÍlìse dohoieto
Epistemolôgico de Poppersu'erior
ao desses riltimos. Embora um conceito possa semPre se¡ reduzido a conceitos-äir
báti.or
e, emúltima
instância, a relações básicas entre vivências elementares, issonão signifìca que o conceito em questão possa ser decomposto nos conceitos inferiores como uma soluçíio em seus Componentes. E preciso lembrar que
"redução"
tem osen-tido
preciso de uma transformação de enunciados que pteserva a independência recí-proca de conc¿itos situados em níveis diferentes:18lbirt.,p.l22. con tes por trat 78, mentos de "quasi-análise", $
7l,pp.
114-116.2ocf. Ihíd., g 65, "The Given Does Not Have a Subject", pp, 103-106, onde Carnap diz, por exemplo: "os ele¡nentos básicos devem ser chamados experiências do eu após a constituiçâo ter sido efetuada; então nós dizemos: no nosso sistema de constituiçâo,'minhas experiências'são
elementos básicos." (p. 104).
2l"A
distinção entre objetos reais e não reais aparece somente num nível de constituiçalo rclativamente avançado. No início do sistema, as experiôncias devem se¡ tomadas simplesmentecomo ocorren. Nâô fala¡enros de realidade ou irrealidade em conexâo com estas experiências"
(Ibíd., p.
l0l).
Pa¡a Carnap, o fato de não pressupor realidade para as "esperiências elenlenta¡es" que põe na base (autopsicológica) de seu sistema de constituição permite qualificar a sua posição como um "solipsismo metodológico" (Cf . ibid., p. 102).---Fl
10
Wilsln Pessoa Mendonça"Se a constituiçâo leva à tbrmação de novos níveis lógicos (como ocorre no caso dos
objetos culturais, e especialmente nos mais altos níveis de objetos culturais, onde isso é
marcantc) os objetos constituídos têm um modo diferente de ser (...). Portanto, na-o há
psicologismo em nossa manei¡a de constituÍ os objetos cultu¡ais."2 2
Na medida em que as vivências elenìentares psicológicas e a noção do
"eu"
são elasmesnras co¡ìstituídas a
partir
de uma relação básica formalmente especificada, a posi-ção de Carnap é nâo-psicologista.É
igualmente não-psicologista essa dimensão de suateoria
queafirma
a autonomia dos conceitos situados em níveis diferentes. De outro ponto de vista, contudo, Carnap é psicologista.E
verclacle que a teoria de Carnap procura pres€rvaf a autonomia metodológica dasciências que
tem
por
objeto
níveis distintos do sistema de constituição;mas nã'o é me-nos verdade que os enunciados dessas ciências só adquirem sentido porque podem ser traduzidos em enunciados de estrutura sobre relações entre "núnhas vivénciaspsicoló-gicas".
A
análisedo
modo como
se dd essa traduçã'o, quetem o
sentido de uma re-dução, conduz àcrítica
de Popper.A
redução dos conceitos cientificamente signifìcativos à base da experiência se dá pela aplicação de regras gue governam a transformação detodæ
as proposições sobre os conceitos superiores em descrições estruturais sobreo
dado. Tais descrições, comojá
visto,
são dadas extensionalmente como uma lista de pares onde cada símbolo repre-s€nta uma viv€ncia elementar.No
processo real da ciência, a aquisição de conceitos écronologicamente anterior à sua justÍficação. No que toca à validação científica, contu-do, as proposições sobre um conceito só podem ser consideradas científicas depois que
o
conceito em questão éconstituído
desde a base.23 Ofato
de as regras de constitui-ção serem fo¡mas lógicas independentes detodo
conteúdo implica que a linguagem daciência só comporta enunciados cujo sentido, em
última
instância, é defìnido extensio-nalnrente em termos de relações entre vivências psicológicas, Somente uma linguagent assimpode permitit'
a
afirmaçõo segundo aqual
os conceitos sótêm
sentfulo porque vêm definidos desde o que se oferece imediatamente na experiência.Qual pode ser, então, o signifìcado da teoria da constituição proposta por Carnap? O
último
parágrafoprocurou
mostrar que ele não é mais do que o de uma tentativa deelaboração de um sistema
formal
onde alguns Çonceitos d.ad.os necessariamente deante-mão,
podem ser extensionalmente defìnidos e algumas proposições 7ii científicas po-denr ser funclamentadas. Frente a um conceito qualquer, Carnap tem duas altemativas:ou
bemo
conceito pode serdefinido
com a ajuda de outros conceitosjá fundamenta-clos,e
dessaforma acolhido
em seu sistema de constituição;ou
bemo
conceito não atende as exigénciæ do sistemaformal
e deve ser declarado nãocientífìco,
metafísico.Trata-æ,
portanto,
de investigaruma
linguagema¡tifìcial
quepermita
a
ordenação, sobreuma
bæeformal,
dos conceitos quejá
mostraram seu valorno âmbito
dapes-22Ibid., pp.232-233
2x
Da Teoria
do
Conhecimento òMetodologia:
I
1Análise do
hoieto
Epistemológico de Popper-,,¡ca
S€ essefor o
caso,difìcilmente
a teoria de Carnap pode ser considerada comoÏäu
àrronuração
da possibilidadedo
empirismo como teoria da formação doconhe-amento'
""'ó
drr.nuolvimento dos
trabalhosde carnap
publicados depois deA
Estrutura acima. Nesses trabalhos, as proposições esentido
de uma linguagem básica que seo espaço e
no
tempo. Certamente, oftsica-Estrutura Lôgica
do
Mundo,
mas Camap opsicológica". Há duas razões para isso, dasi'"'ffå
:,;lÏi:å1
i3,l:liä
11'"':",*
conta o menor número de pressupostos:
,.um sistema com base autopsicológica tem ainda
a
vantagem de que a totalidade dosobjetos é constituída sobre uma base conside¡avelmente menot."2'
São razões de economia de pressupostos, entretanto, que se tomam determinantes nos trabalhos posteriores de Camap. Referindo-se ao fìsicalismo adotado como forma geral de seu sistema depois de
A
EstruturaLógicado ll[undo,
Carnap abandonaqual-quer justificação que lembre a pretendida explicação lógica do processo cognitivo:"Eu
conside¡aria, agora, especialmente, uma fo¡ma que contivesse conro elementos básicos coisas físicas,e
como conceitos bdsicos propriedades observáveis e relaçõesentre essas coisas. Uma das vantagens dessa base está no fato de que, relativamente às
propriedades e relações indicadas, há um alto grau de acordo intersubjetivo. Todos os
õonõeitos que os cientistas usam em sua comunicaçâo lingüística pré-sistemática são
dessa espécie. Portanto, um sistema de constituição com tal base parece
particular-mente adequado para uma reconstrução ¡acional dos sistemas conceituais das ciências
empíricas."2 5
Ora, a
mertos que se queiratomar
comoum
dado a linguagem ordinária de que fazem uso os cientistas, a concepção do sistema de constituição com base fisicalistasig-nifìca
que Carnap não pretende mais, com a reconstrução racional dos conceitos,dis-tinguir
entreo
puramente dadoe asíntese2ó. Sem dúvida,isso deve ser compreendidocomo
o
reconhecimentode
queo
programade uma
genealogia dos conhecimentos2a lbid ., p . tot . 25"Preface
to the Second Ectition"
in
Ttte Logicol Sîructt¿re of the ll/orld &.Pseudoproblemsin Philosophy, ob cit., pp.VII-VIII.
2óN"lron Goodman, que desenvolve as idéias de
Carnap, também parece desistir de fazer da
"reconstruçalo ¡acional" uma teoria da gênese do conhecimento na linha empirista. "Eu nÂo estou
procurando distinguir ent¡e
o
imediato e o não imediato", diz Goodman em The Structuteoî
Appearance. Cambridge: Ha¡vard, 1951, p. 105.
-g-l2
l4)ilsr¡n Pc.sx¡a Møtdortç'afalhou,2 7 passando a dar lugar, explicitamente, à construção de sistemas formais onde os conceitos cientíhcos, e só eles, devem ser investidos de signifìcado logicamente rigo-foso.
Podemos retontar, agora, as observações feitas
no
início
desta seção. ,4 Estrutura Lógica do fultutclo, ao invés de uma teoria da gênese do conhecimento, é a exposição depontos
bdsicose
realizaçãode
um
sistemalinguístico formal
onde só são admitidos conceitos que possant se¡ reduzidos a enunciados estruturais sobre as experiências pelas quais percebo similaridades em nrinhas vivências psicológicas elementares. Eis porque Carnap é fundamentalnrente psicologista. Talves, então, Popper estejacerto
ao ver noempirismo lógico, cujo
caminhofoi
abertopor
Carnap,"uma
confusão entre proble' mas psicológicos e episternológicos".2.
A
crítica de Popper ao empit'ismo lôgicoÉ enquanto proposta de unr
critério distintivo
entreo
que pode ser expresso em uma linguagemformal
unificadora da ciência eo
que deve ser declarado não científìco, en-quãnto proposta deunl
"critério
de Dema¡cação entre a ciência emetafísica"," qu.
uobra de Carnap é criticada por Popper. Retomarei, resumidamente, essa
crítica,
distin-guindo dois pontos principais,l)
Frente àeigência,
emprincípio
:azoável, de que a linguagem da ciência só de' veria conter conceitos defìnidos, Popper não pode deixar de observar que ela é irreali-zável. Defato,
para queum
termo como"solú\el",
por exemplo, possa ser remetido àbase da experiência, é preciso transformar, de modo
definitivo,
um enunciado.como"x
é solúvel" na série de enunciados que descrevem as vivências elementares pelas quais eu percebo que"x",
por exemplo açúcar, é dissolvido quando misturado em água. Mas de' ve-se tambémdefrnir
"ágvî",
e nos enutlciados pelos quais isso éfeito
devenr constar' necessariamente, os que se referenr às experiéncias quepermitem
caracteúzar "água"como
o
compostoquínúco
no
qual
algurnas substâncias, precisanrente todos os"x"
que satisfazem"x
é
solúvel",
podem se¡ dissolvidas. Assim, a defìnição de"solúvel"
depende da definição de"água"
e essa depende daquela,o
que, sem dúvida, é urn cir-culo vicioso.Mas a
crítica
de Popper vai mais longe. Mesmoum
termo co¡no"dissolvido"
não pode ser conclusivamentereduzido
a
experiências perceptivas, pois paraafirmar
que algofoi
dissolvido em água é preciso estar certo de que esse algo pode ser recuperado27É vertlade quc, no Prelãcio à 2. edição de The Logical Structure of the World, Carnap pro-cura reafirnta¡ a orientação filosófica do livro. No entflnto, o nresmo Pretãcio documenta a
mu-dança de Carnap enr clireça-o a uma reconstrução racional dos conceitos sobre base "fisicalista",
ten<lo enr vista as dificrrldades apresentadas por ser¡ projeto inicial.
2E"Th.
Demarcationlletween Science and lrletaphysics" é justanrente
o título
do estutiocrítico de Popper sobre Canrap, o qual aparece em Schilpp,P. A. (ed.), ThePhilosophl,ofRudolf
Cørnap La Salle: Open Cou¡t Publishing Co., 1963, e enr Popper, K.R.,Conjectures and
Refuta-fibns, Londres: Routledge and Kegan Pau1,1963.
Da Teoria
do
Conhecimentr¡ àMetodología:
13Andlise do Plctjelo Episterutlôgico de Popper
um sistema de antecipação que tem seu correspondente lógico nos enunciados teóricos não restritos chamados
"leis naturais".
Afirmat
que algo é solúvel é afìrmar que, para uma totalidade de casos nâ'o esgotável na sérielimitada
de fatos que podemosconsta-tar,
esse algo terâ sempre um comportamento regular, regulado por leis. É só então que posso constataro
fato
de que essa substância que estava diante de mimfoi
dissolvidaêm
água.Logo,
a constatação dos fatos não é independente dos sistemas conceituais que permitem a comunicação sobre eles.Um
predicado simplescomo "dissolvido"
só pode ser a¡rlicado atítulo
de uma expectativa de que a substância em questão mantenhaum
comportamento conforme leis(lawJike
behaviour).Não
menos do que "solúræl", o predicado"dissolvido"
tam-bém não podeær
integralmente conelacionado às vivências psicológicas pelas quais percebo que açúcar, por exemplo,foi
dissolvldo em meu catë.A
"cetteza sensível" que eu tenho de minha percepção não vem da experiênciabruta.
Ela não éum
dado. Ela não é mais do que a crença (belief, no sentido de Peirce) que acompanha uma expecta-tiva de comportamento habitual.Agora, se todos os conceitos, na medida em que
îazem
inplícita
uma expectativade
comportamento das coisasconforme leis,
ultrapassamo
que é dado naexperiên-cia,3¡ não
podem serconstituídos como quer
Camap. Resuita,portanto,
inviável aidéia de uma linguagem da ciéncia estritamente definida,
2) A
limitação
da linguagem da ciência a enunciados completamente verifìcáveisem
termos de experiências imediatas (se isso fosse possível) signifìca, para Popper, aexclusão mesma das teorias científicas, pois "as leis científicas (...) não podem ser logi-camente reduzidas a enunciados elementares de experiência",3 2
2eCf . The
Logic of Scientific Discover¡r,op. cit., p.440 e Coniectures and Relutotions,ob. cit., p.278.
30
nre Logic of Scientifíc Discovery, ob. cit.,
p.424.
3 r Ver
adiante p. 1 8.
32The
-I
14
Wilsrttt Pesstta Mentlonçulæis naturais são enunciados universais que não admitem decomposição em
qual-<¡uer número
finito
de descrições de ocorrências singulares.A
questão é a de saber que papeì desempenham tais enunoiados emum
sistema como o de Carnap. A impossibili-dade de unta tedução estrita das leis naturais a uma base empírica é reconhecida pores-te. Tal
inrpossibiliclade deveria invalidar, de umponto
de vista lógico, as leis naturais-e conr -elas
a
representação dominante da teoria-,
ou servir de refutação aocritério
deCarnap.33 Popper adota a segunda alternativa.
No
quadrodo
empirismo lógico, Schlicktentou
uma terceira alternativa aoconce-ber
asleis
universaiscomo
regras para a transfornração de enunciados empíricos enr enunciados igualmenteempíricos.
Comonão
poderianr ser consideradas enunciadosanalíticos, eram
vistascomo
pseudoenunciados senr necessidade de justifìcação.34 Pop¡ær, aocontrário,
prefere t¡atá-las como genuínos e¡runciados sintéticos, cujainve-rificabilidade
sustentaunr
julgarnerrto negativoemitido
contra
o
empirismo lógico. Além disso, Popper observa que a solução de Schlick ignora ofato
de que os enuncia-dosditos
empíricos não são mais passíveis de verificação estrita do que as leis naturais.Com efeito,
em vista da argumentação contidaenr
1), qualquer enunciado, mesmo o mais simples enunciado de obærvação, contém predicados universais que denotam ex-pectativasde
conrportamentoconforme
leis, Nesse sentido, nenr ¡lresmo a afirmação"aqui
há unr copo com água" pode ser fundamentada empiricamente, pois os termos"copo" e
"água"
trazem, inrplicitamente, hipóteses quetêm o
mesnro sfc¡us de umalei
natural.3s
Enunciados empíricos singulares estão situados acima da experiência enão podem servir de base a uma argumentação que os distingue de enunciados teóricos universais, A impossibilidade de justificação lógica desses, que levou Schlick a concpbê-los como pseudoenunciados, deve ser transferida também àqueles, o que implica a ne-gação radical de uma fundamentação lingüístico-formal do empirismo.
3.
Kant
mal compreendidoNo prefácio à 2a Edição alemã (1963) de
A
Lógico da Pesquisa CientíJica, Popper diz"A
teoria do conhecimento ainda hoje está sob a influência da grande coûente que se associa aos nomes de Locke, Berkeley, llunre e Mill (.,.). De minha parte,oponho-mea essa tradição porque aceito contribuições Kantianas para a teoria do conlrecinrento, contribuições que tenho por decisivas."s 6
A
crítica
de Popper ao empirismológico
demonstra que qualquer tentativa de re-nlissãodo
conhecimentoa uma
base de experiêltcia pura está fadada ao fracasso. O33Yer Conieclures ond Refittations,ol¡. cit., p. 261, onde Popper
se relire a aceitação por parte
cle Carnap dessa C¡ítica.
t4Cf. u, citações de Schlick en't
The Logic
o!
St'ientifit' Discover¡,,ob. cit., p. -ì7.3 t
cr. i hirt., pp. 94-9 5.
3óCito conforme tradução desse prefácio contida em .A Lógica da Pesquisu Científica, Sao
Dt
Teorisdo
Conhecinrcnto àMerodologia.'
15Andlise do
hojent
Epistemolôgico de Popperacesso âs
bases
'horizonte
de expectativas"o
papel deum
",
"confere sentido ou signi riéìrcias,ações
horizonte de expectativast
te lingüístico nos enunciados teóricos formulados ao
modo
de asserções sobre o com-Dortamento das coisas conforme leis, Há,aqui,
uma analogia com a concepção kantia-åu de uma natureza determinada categorialmente, Da mesma forma como não cabees-oerar, segundo
Kant,
que
mas experiências conduza àforma-ieo
¿or conceitos,senão
possibilitadas por um trabalho pré-vtoda
razão, nâo háque
Popper, as teorias científìcas como generalizações indutivas processadas sobre uma base empírica, senão que essa base só é ac€ ssível enquanto teoricamente in terpretad a.Mas a ligação de Popper a Kant não vai além do reconhecimento do caráter neces-sariamente antecipador das teorias científìcas,3E Popper, que se refere a seu trabalho como unra teoria do conhecinrento,3 e não julga necessário empreender uma análise
so-bre as condições de possibilidade
do
conhecimento. Isso se deve tanto à suacrítica
aoempirismo lógico quanto à sua interpretação peculiar de Kant.
Popper chega a
Kant
apósexibir
æ difìculdades incontomáveis da concepção enl-pirista. Que essas difìculdades inexistem na teoria do conhecimento de Kant é reconJre-cido por Popper, mas o problema com Kant é que ele teria "provado dentasiadamente". Ern que consiste isso? De acordo com Popper, se a possibilidade do conhecimento resi-de, como querKant,
em que nossointelecto
não descobre leis na Naturezaenr si mes-ma. mas, ao contrário, trata de prescrevê-las a ela, o fato do conhecimento toma-se não só possível, mas também necessá¡io logicamente. Tendo enr vista que a teorianewto-niana
representavapara
Kant o
modelo
do
conhecimento verdadeiro,a
solução deKant
leva, ainda segundo Popper,ao
problemade
saber porque nossointelecto
não funcionoumuito
antes e não descobriu a teoria newtoniana antes de Newton.aoBastará comentar
um
trecho da Crítíca da Razão Pura para mostrar que essaargu-mentação, com a qual Popper espera provar que a teoria deKant "é
uma estranhamis-3 7
O b¡ec t i v e K rtowled ge, I -ondres : Oxlbrrl I lnive¡sity Press, | 9'1 2, p. 3 4 5.
3aÍtm
Unerule,! Quest, Cìltsgorv: Fontana, 1976,p.82, Popper diz, referindo-se ao tempo em
que escreveu scu prinreiro livro:
"[iu
concedia ao idealismo que nossas teorias são ativamentepro-duzidas por nossas nìentes, ao invés de inrpressas em nós pela realidade (...) Eu tam¡énr inte¡-pretava
a
clor¡trina de Kartt da inrpossibiliclade de conhecer coisas enr si mesmas conrocorres-pondcntlo ao ca¡dter necessarianrente hipotético de nossas teo¡ias." 39O prirnciro
liwo
de Popper,lao
publicado,chamava-se Die beiden Grundproblente der
Erkenntnistlteorie. A
reduça-o
drástica, segundo Popper-
desse liv¡o foi publicada conl o tí-tulo Logik der l"orschuttg e, posterionnente, traduzida e renranejada pelo autor sob otítulo
77leLogic of Scientilic Discovery. Mas a icléia da vinculaçâo conr a teo¡ia do conhecimento sempre foi mantida por Popper, como prova o
título
de um dos parágrafos d,e Unended Quest,ob. cit.:"The-ory of Knowledge: l.ogik der Forschung".
aoCf
F-tura
de absurdo everdade",al
estábaseada,elasim,emumabsurdodeinterpretação.
No
$26 da Crítica da RuzõttPura,Kant
diz:
É
verdacle, segundoKant,
que ointelecto
impõe, como condição de possibilidadedo con¡ecimento,
leis aos fenômenos, determinando assim,do ponto
de vistaformal,
mentalmente.
oderia ignorar isso?É
curioso
Popper se apresente como Kantiano, ou que veja sua crí-tica aoernpiri
o"o
resultado de terlido
Kant e de ter compreendido al-guns de seusp
s¡,44nritern a avaliação do stotus
científico
de idéias concorentes.16
llilson
Pcsst¡a Mcntlottç'uar Ibi,l., p. 9s. o2
Critirl,.r, tle Io Raisott Pure ,l'atis, Presses (Iuiversitai¡es de Ftance, I 975, pp. 142-1 43. (O
t¡e-cho faz parte da 2a edição d^ Crítico).
4 3No entanto, para I'opper, o projeto de Kant, sobretudo em As lundações I\Ietafísicøs da
Cién-cia Natura!, mas tambént na Crltica do Rozõo Puro, eta
o
de fo¡necer urtra detlução o priori clt física newtoniana.Cl.Coniectures and Refunfions, ob. cit., p.94.4aUnencled
Quesl,ob.cit., p. 83.
Da
Teoia
do
C.onhecimento dMetodologia:
17 Attdlise dohr¡ieto
Epistemolôgico de Popperlógico mantinha
no
essencial, em qì.te pesem os esforços de seus defensores, a metafísi-ca empirista. Reabilitar uma teoria do conhecimento centrada em fatos em si era voltar de uma maneita acrítica a unt estágio dafìlosofia
superado porKant.
Daí que Popper se recuse a qualquer fundamentaçã'oúltima
que proponha uma epistemologia segundo o modelo de regras metodológicas convencionais.Essa metodologia convencional, não fundarnentada, que será posteriormente
des-dobrada
no
programa deum
"racionalismocrítico"
de base decisional, almejarecons-t¡uir
a teoriado
conhecimento. Por um lado, ela deve ser capaz de elucidar os procedi-mentos dos cientistas segundo as exigências que definern inte¡namente a ciência-
épor
isso que ela é uma Lógica du pesquisa;poroutro
lado, ela deve subnteter os proble-mas das velhas teoriasdo
conheci¡nento a uma interpretação ntetodológica como
in-tuito
de mostrar que osprincípios
básicos dessas teorias são hiJróstases de regras con-vencionais quenão
presupõem nenhuma tomada de posição metafísica-
é por
issoque ela pode ser considerada
wa
reconstrução positiva da teo¡ia do conhecimento. Assim, a epistemologia pode passar sem as idéiasoutrera
ligadas a toda discussão sobreo
conhecimento.A
objetividadedo objeto
de conhecimento é substituída pela reg¡a co¡rvencionalque
pror'be a aceitação de enunciados que não sejam passíveis deacordo intersubjetivo de sujeitos anônimos.a
6
Isso leva à concepção dos fatos naturais colno efeitos físicos reprodutíveis, pelo nìenos errrptitìcípio, por
qualquer unr que do-mine as regras da experiência,Ao
mesmo tempo, a questão sobre a existência efetiva de efeitos únicos, não manipuláveis, torna-se uma questão metafísica.a ? Oprincípio
dacausalidade é visto como a versão metafísica da regra metodológica que diz que a ciên-cia deve buscar explicações causais para todos os eventos que possamos descrever.a E A uniformidacle da Natureza dilui-se no postulado
arbitrário
segundo o qual um novosis-tema
teórico
deve sempreincorporar
as explicações positivas dos sistemas anterio-res.aeA
afirmaçãoda
universalidade das leis naturais se baseia numa decisão"útil
ef¡utífera",s0 A
própria
questeo da verclade é evitada eernseulugar
aparecem "consi-derações lógicas sobre relações de dedutibilidade".sI
Da mesma forma que não sepre-l8
Wilson Pessoa Mendonçacisa dizer que uma teoria é falsa, mas que está em contradição lógica com alguns enun' ciados básicos aceitos, essa aceitaçã'o
não
os
toma
verdadeiros,pois
é
puramente áecisional.t2
Nestesentido,
o
progressodo
conhecimento pode ser completamente avaliado em termos formais.st
À t*to¿ologia,
fìnalmente, pode passaf sem a idéia de que há uma realidade independente a ser descoberta:,,E, parece-rne, contudo, que dentro da rnetodologìa nâo temos de plessupol o realismo
,"tãtíri"o;nr*
poA"*oË, creio, ti¡a¡ muito auxlíio dele, a ndo serdeumaespéciein-tuitiva. Pois uma vez que nos foi dito que a
meta
ex-plicação mais satisfatóiia será aquela que é mais
s
,1f,-ie
testada, nós sabemos tudoo
que precisamA
investigação metodológica sobreo
-cas entre enunciados de uma linguagem des para ess€ programa; mas' em grande rnente podem ser esclarecedoras de um p
rece reconhecer isso ao lembrar que
"não
se deve esperar verdades profundas da parte ãametodologia".t
u Podemos, então,co-preender
a lecusa de Popper em explicar por que ternostido
sucessoma que ela
"não
Pode 'metafísica' ".s 7 Essa acado do
telmo "metafísica"
até æ poder dcientífico
positivo. Nesse caso, ela signific1978, p.
ls.)
s6Th, Logi, of Scientilic Discovery, ob. cit., p. 54'
Dø Teoriø
do
C'onhecimento àMetodologia:
ß
Antílise do