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Possibilidades e limites da liberdade de expressão frente às redes sociais

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Academic year: 2021

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

GABRIEL COSTA MÂNICA

POSSIBILIDADES E LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO FRENTE ÀS REDES SOCIAIS

Ijuí (RS) 2019

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GABRIEL COSTA MÂNICA

POSSIBILIDADES E LIMITES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO FRENTE ÀS REDES SOCIAIS

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito, objetivando a aprovação no componente curricular Trabalho de Curso – TC.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: Ma. Eloísa Nair de Andrade Argerich

Ijuí (RS) 2019

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RESUMO

O presente estudo visa analisar o direito constitucional de liberdade de expressão e as redes sociais, bem como os conflitos entre os direitos fundamentais na utilização dessa recente tecnologia. O estudo é efetuado a partir dos princípios fundamentais da liberdade de expressão e dignidade humana e visa compreender os limites impostos pela Constituição Federal de 1988 ao se referir à utilização das redes sociais e publicações anônimas ou não, que violam os direitos fundamentais. O estudo analisa, também, alguns casos concretos, antigos e atuais, que interligam os princípios da liberdade de expressão, da autonomia e da dignidade humana a fim de compreender o seu importante papel na construção de jurisprudências e pensamentos doutrinários. Discute, ainda, o método utilizado pelo Supremo Tribunal Federal para decidir casos em que há colisão de direitos fundamentais.

Palavras-chave: Liberdade de expressão. Direitos fundamentais. Dignidade humana. Redes sociais. Limites.

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ABSTRACT

This study aims to analyze the constitutional right to freedom of expression and social networks, as well as the conflicts between fundamental rights in the use of this recent technology. The study is based on the fundamental principles of freedom of expression and human dignity and aims to understand the limits imposed by the Federal Constitution of 1988 when referring to the use of social networks and anonymous publications or not, which violate fundamental rights. The study also analyzes some concrete cases, old and current, linking the principles of freedom of expression, autonomy and human dignity in order to understand their important role in the construction of jurisprudence and doctrinal thoughts. It also discusses the method used by the Federal Supreme Court to decide cases in which there is a collision of fundamental rights.

Key words: Freedom of expression. Fundamental rights. Human dignity. Social networks. Limits.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 5

1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ... 7

1.1 A evolução histórica da liberdade de expressão nas Constituições brasileiras ... 7

1.1.1 A liberdade de expressão no âmbito internacional ... 14

1.2 Liberdade de expressão: conceito e características ... 19

1.3 Dimensões e limites da liberdade de expressão ... 22

2 LIMITES E POSSIBILIDADES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO FRENTE ÀS REDES SOCIAIS ... 26

2.1 A utilização das redes sociais no Brasil ... 26

2.1.1 Do Facebook ao Instagram ... 28

2.1.2 O problema do anonimato e a responsabilidade civil nas redes sociais ... 30

2.2 Análise de casos concretos e atuais acerca da violação da liberdade de expressão .... 33

2.2.1 Caso Carolina Dieckmann ... 34

2.2.2 Caso Giana Laura Fabi ... 36

2.2.3 Intercept Vaza Jato: conflitos entre direitos fundamentais ... 37

2.3 Posição do Supremo Tribunal Federal quanto à liberdade de expressão ... 39

CONCLUSÃO ... 42

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INTRODUÇÃO

A principal justificativa para a realização deste estudo é a constatação da liberdade de expressão utilizada sem limitações nas redes sociais, em todos os níveis e aspectos das relações coletivas, o que leva a postular acerca da garantia da privacidade na vida social e profissional. Nesse contexto, a temática possui especial relevância quando dimensionada a partir da utilização das redes sociais, principalmente do Facebook, Watsapp e Instagram, que promovem a exposição da vida privada e a publicação de comentários de postagens sem critérios de natureza ético-social.

O intuito, portanto, é de contribuir, senão para a conscientização da importância da Internet no cotidiano das pessoas, enquanto instrumento de comunicação, com o fomento do debate e da reflexão sobre a matéria, mas, também, para que as pessoas possam compreender que as ferramentas digitais podem transformar vidas (para melhor ou para pior) quando há violação do direito à liberdade de expressão e informação e afronta à democracia.

O principal objetivo desta pesquisa é abordar o impacto das redes sociais sobre os direitos fundamentais, em especial o direito da liberdade de expressão que, neste meio, muitas vezes é utilizado de maneira equivocada, adquirindo ainda mais agressividade nas campanhas presidenciais de 2018.

Este estudo, desenvolvido em dois capítulos, utilizou o método de abordagem hipotético-dedutivo, e no seu delineamento a coleta de dados foi realizada em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e na rede de computadores.

O primeiro capítulo explica a evolução da liberdade de expressão a partir das Constituições brasileiras, realizando, assim, um comparativo desse direito durante as

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diferentes realidades sociopolíticas de cada época vivenciadas no país. Aborda, outrossim, de forma breve, o Direito no âmbito internacional como, por exemplo, nos Estados Unidos, a fim de demonstrar que aquele país não segue a mesma linha de interpretação utilizada no Brasil.

Ato contínuo, para avançar no estudo, define-se o conceito de liberdade de expressão e se descreve as suas características, contando, para tanto, com dispositivos da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e posições doutrinárias referentes ao tema.

A partir da análise dos limites da liberdade de expressão, no Brasil, o estudo visa demonstrar que esta não é absoluta, uma vez que, em casos concretos, pode haver interferência em outros direitos fundamentais também garantidos pela Carta Magna de 1988, havendo, portanto, colisão entre direitos fundamentais.

O segundo capítulo, por sua vez, procura tecer características das redes sociais utilizadas em larga escala no Brasil, as quais são utilizadas como meio de compartilhamento de opiniões dos usuários que exercem o direito de liberdade de expressão.

Assim, a partir do direito de liberdade de expressão – direito ao anonimato e dignidade humana – são expostos casos concretos referentes ao conflito de direitos fundamentais em tela e, a partir disto, é realizada uma análise jurídica acerca do seu conflito. O assunto consegue abranger desde a comunicação social até a política, sendo utilizados, para tanto, temas atuais que permitem compreender a dimensão da interpretação dos direitos presentes na atual Lei Maior.

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1 LIBERDADE DE EXPRESSÃO NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

O avanço das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) trouxe diversos benefícios à humanidade, notadamente a facilitação da comunicação e agilidade na busca e aceleração de informações, tornando-se um espaço aberto, no qual todos podem se comunicar de maneira horizontal, sem barreiras, além de expressar seus sentimentos sem se importar com o que os outros vão pensar ou responder.

A internet é um ambiente que possibilita a aproximação das pessoas, sem passividade ou hierarquias e, por isso, traz muitos benefícios, mas, também, alguns aspectos negativos.

A liberdade de expressão, ao invés de contribuir no fortalecimento da democracia e da própria liberdade de manifestação (em uma acepção mais ampla) e informação, passou a ser geradora de uma série de conflitos, especialmente ao ser utilizada como instrumento de discursos de ódio ou de apologia ao crime.

A partir dessas considerações iniciais, este capítulo visa analisar aspectos históricos sobre a liberdade de expressão e informação, bem como os limites impostos pelas Constituições brasileiras, desde o ano de 1824 até a presente data. O intuito é verificar qual a correlação existente entre a liberdade de informação e manifestação e os direitos dos cidadãos estabelecidos em cada época, uma vez que o sistema político que vigeu em cada uma das sete Constituições brasileiras possibilita a compreensão dessa evolução.

A fim de compreender a relevância da liberdade de informação para a democracia, optou-se por um deslinde histórico de toda a sua trajetória no ordenamento jurídico constitucional brasileiro.

1.1 A evolução histórica da liberdade de expressão nas Constituições brasileiras

Historicamente, a liberdade de expressão surgiu no país com a primeira Carta Imperial. Em 1824, o tema já ganhava relevância e o constituinte já positivava, na Lei Maior, a liberdade na previsão de censura, bem como a sua limitação no direito de informar por meio da imprensa oficial.

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Em uma análise mais pontual dos Textos Constitucionais anteriores à Constituição Federal de 1988 é possível inferir que a liberdade de expressão nem sempre foi considerada tal qual na atualidade, uma vez que era entendida como “manifestação do pensamento”.

A Constituição do Império, de 1824, oficialmente denominada “Constituição Política do Império do Brasil” – a mais longa da história constitucional brasileira –, foi outorgada pelo Imperador no período em que nascia uma fase pós-constituinte influenciada pelas ideias do governo de Portugal. Seu conteúdo mostrava duas faces incontrastáveis: a do liberalismo e a do absolutismo. No primeiro, o texto outorgado não contemplava a declaração de direitos, enquanto o segundo trazia estampada a concentração de poderes nas mãos do Imperador. Na verdade, nesta época foi instituído o quarto Poder que se opunha à

doutrina de Montesquieu, denominado de “Separação de Poderes”. O Poder Moderador1, da

Carta do Império, é literalmente a constitucionalização do absolutismo, segundo entendimento de Paulo Bonavides e Paes de Andrade (2008, pp. 106-107).

Nesse período, o rol de direitos e garantias sofreu forte influência das Revoluções Americana (1776) e Francesa (1789), configurando-se como liberal, pois continha as liberdades públicas estabelecidas como direitos civis e políticos. Cabe salientar a manutenção da escravidão, uma vez que o regime, segundo Pedro Lenza (2015, p. 126), “[...] se baseava na monocultura latifundiária e escravocrata, como mancha do regime até 13 de maio de 1888, data de sua abolição, data de sua abolição, quando da assinatura da Lei Áurea.”

Dentre as liberdades públicas, a Carta Imperial, no seu art. 179, estabelecia que:

Art.179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Politicos dos Cidadãos Brazileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Imperio, pela maneira seguinte.

[...]

IV. Todos podem communicar os seus pensamentos, por palavras, escriptos, e publical-os pela Imprensa, sem dependencia de censura; com tanto que hajam de responder pelos abusos, que commetterem no exercicio deste Direito, nos casos, e pela fórma, que a Lei determinar. (BRASIL, 1824, sic).

1 Art. 98. O Poder Moderador é a chave de toda a organização Política, e é delegado privativamente ao

Imperador, como Chefe Supremo da Nação, e seu Primeiro Representante, para que incessantemente vele sobre a manutenção da Independencia, equilibrio, e harmonia dos mais Poderes Politicos. (BRASIL, 1824, sic).

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O artigo supracitado versa, especialmente, sobre a liberdade de imprensa2 que, no entanto, servia como pressuposto para o exercício de outras espécies de liberdade.

Em 1889, com o enfraquecimento da Monarquia, o fortalecimento dos ideais republicanos, liderados por Marechal Deodoro da Fonseca, e sem o apoio do povo, nasceu a República que, mesmo sem legitimidade, foi implantada no Brasil. Em 1891 foi promulgada a primeira Constituição da República do Brasil, que implantou o presidencialismo no país, bem como a forma de Estado federativa e a forma de governo republicana (BONAVIDES; ANDRADE, 2008).

Um dos pontos essenciais daquela época foi o aprimoramento da Declaração de

Direitos, que aboliu a pena galés3, de banimento e de morte. Houve, contudo, a “prevalência

de proteção às clássicas liberdades privadas, civis e políticas, não se percebendo a previsão de direito dos trabalhadores [...].” (BONAVIDES; ANDRADE, 2008, pp. 106-107).

Em relação à Constituição Republicana de 1891, a liberdade de expressão permaneceu inserida no contexto da lei anterior, demonstrando que ainda não havia a especificação de liberdades, limitando-se, apenas, ao exercício da liberdade em um sentido amplo, como se pode observar no art. 72, em seu caput e no § 12, respectivamente:

Art. 72. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no país a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à segurança individual e à propriedade nos termos seguintes.

[...]

§ 12. Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento pela imprensa, ou pela tribuna, sem dependência de censura, respondendo cada um pelos abusos que cometer nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido o anonimato. (BRASIL, 1891).

2 A imprensa surgiu no Brasil no ano de 1808, quando passou a circular no dia 1° de junho, o “Correio

Braziliense”, periódico editado em Londres por Hipólito José da Costa Pereira Furtado de Mendonça, o verdadeiro idealizador das informações impressas no Brasil Colônia. Até 1999, contudo, o dia da imprensa era comemorado 10 de setembro, em referência ao jornal “Gazeta do Rio de Janeiro”, que passou a circular no mesmo ano com a chegada da Família Real portuguesa ao país junto com toda a sua corte. Tal fato se deu pelo conturbado momento em que vivia a Europa, quando as tropas de Napoleão Bonaparte se apoderavam de toda Península Ibérica. O Rei D. João VI aportou na Bahia e assinou a Carta Régia, abrindo os portos brasileiros às nações amigas, e criou o jornal oficial da corte. (COLETÂNEA,1997).

3 Espécie de antiga sanção criminal. O Código Criminal de 1830 adotou a pena, determinando, no art. 44, os réus

a andarem com calceta no pé e corrente de ferro, juntos ou separados, e a serem empregados nos trabalhos públicos da província onde ocorrera o delito, à disposição do governo (COLETÂNEA, 1997).

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Percebe-se, com a leitura do artigo exposto anteriormente, que o anonimato, neste período, já estava vedado. Denota-se, assim, um pequeno avanço em relação à liberdade de expressão, muito embora, com relação a esta, não fizesse menção expressa.

Convém destacar que nesse período a liberdade de expressão estava relacionada à liberdade de informação prestada pela imprensa. A história constitucional, contudo, mostra que apesar da grande importância atribuída à liberdade de imprensa em relação às demais liberdades públicas, entre os anos de 1891 até 1934, “[...] enquanto a imprensa literária ou industrial era amplamente franqueada a nacionais e estrangeiros, a imprensa política era restrita aos nacionais.” (BALEEIRO, 1968, p. 225).

Com efeito, o Texto Constitucional de 1934, de caráter eminentemente social, manteve os direitos e garantias individuais baseados na tradição do liberalismo, apesar dos avanços inspirados na Constituição de Weimar, de 1919:

Seguindo uma certa tendência europeia do pós-guerra, mas que na verdade só iria se firmar definitivamente ao término da Segunda Grande Guerra, alguns dos preceitos do chamado “Welfare State” foram consagrados no texto. Pela primeira vez na história constitucional brasileira, considerações sobre a ordem econômica e social estiveram presentes. Uma legislação trabalhista garantia a autonomia sindical, a jornada de oito horas, a previdência social e os dissídios coletivos [...]. (BONAVIDES; ANDRADE, 2008, p. 327).

A Constituição de 1934 trouxe, por conseguinte, a marca social dos direitos do homem, ampliando os direitos e garantias fundamentais, nos quais se incluiu o direito de liberdade de expressão. Nesta senda, adicionou a censura ao espetáculo e às diversões públicas, a proibição de propaganda de guerra ou de processos violentos que pudessem subverter a ordem política ou social, e o direito de resposta por conta do ofensor, como se pode observar em seu art. 113, inc. 9:

Art. 113. A Constituição assegura a brasileiros e a estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à liberdade, à subsistência, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes:

[...].

9) Em qualquer assunto é livre a manifestação do pensamento, sem dependência de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um pelos abusos que cometer, nos casos e pela forma que a lei determinar. Não é permitido anonimato. É segurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos independe de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda, de guerra ou de processos violentos, para subverter a ordem política ou social.

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No curto período de vigência da Constituição Democrática de 1934, constata-se que a liberdade de manifestação também apresentou regramento à liberdade de imprensa, ou seja:

[...] foram adotados dois modelos distintos de exploração para a imprensa escrita e para a imprensa não escrita. Enquanto a imprensa escrita continuou, em princípio, franqueada à exploração pelos particulares (pelas empresas jornalísticas, mas com limitações, em especial, dirigidas à exploração por estrangeiros), a imprensa não escrita deveria ser explorada, direta ou indiretamente, pelo Estado. Esse quadro, adotado inicialmente pela Constituição de 1934, segue, grosso modo, até os dias atuais. (BALEEIRO, 1968, p. 679).

Com a transformação da realidade sócio-política brasileira e, consequentemente, a implantação do Estado Novo, de Getúlio Vargas, em 1937 – compreendido como um regime inspirado no fascismo já adotado na Europa – a “Constituição Polaca” (como era apelidada a Constituição de 1937, em razão de ser inspirada pela Constituição da Polônia), caracterizava-se como autoritária e visava atender interescaracterizava-ses de grupos políticos, bem como concentrar as forças no Poder Executivo. Assim, a referida Constituição permaneceu restringindo o exercício do direito a manifestação:

Art. 122. A Constituição assegura aos brasileiros e estrangeiros residentes no País o direito à liberdade, à segurança individual e à propriedade, nos termos seguintes: [...]

15) Todo cidadão tem o direito de manifestar o seu pensamento, oralmente, ou por escrito, impresso ou por imagens, mediante as condições e nos limites prescritos em lei4.(BRASIL, 1937).

Percebe-se que o legislador censurava previamente o cidadão, de forma que este, ao exercer o seu direito de expressão, ao observar as “condições” e “limites prescritos em leis”, rechaçasse a liberdade em seu estado pleno. Registra-se, inclusive, que muitas limitações foram impostas para cercear a liberdade de manifestação e informação, como consta no art. 15 da Constituição de 1937:

Art. 15. A lei pode prescrever:

a) com o fim de garantir a paz, a ordem e a segurança pública, a censura prévia da imprensa, do teatro, do cinematógrafo, da radiodifusão, facultando à autoridade competente proibir a circulação, a difusão ou a representação;

b) medidas para impedir as manifestações contrárias à moralidade pública e aos bons costumes, assim como as especialmente destinadas à proteção da infância e da juventude;

c) providências destinadas à proteção do interesse público, bem-estar do povo e segurança do Estado.

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A imprensa regular-se-á por lei especial, de acordo com os seguintes princípios: a) a imprensa exerce uma função de caráter público;

b) nenhum jornal pode recusar a inserção de comunicados do Governo, nas dimensões taxadas em lei;

c) é assegurado a todo cidadão o direito de fazer inserir gratuitamente, nos jornais que o difamarem ou injuriarem, resposta, defesa ou retificação;

d) é proibido o anonimato;

e) a responsabilidade se torna efetiva por pena de prisão contra o diretor responsável e pena pecuniária aplicada à empresa; [...].

Se, porém, por um lado, a Carta de 1937 garantia a liberdade de manifestação condicionada aos limites prescritos em lei, por outro observa-se

A ampla prática da censura, com fundamento em expressões juridicamente indeterminada, como “garantir a paz, a ordem e a segurança pública”, “medidas para impedir as manifestações contrárias à moralidade pública e aos bons costumes” ou “providências destinadas à proteção do interesse público, bem-estar do povo e segurança do Estado”. (BALEEIRO, 1968, p. 691).

Seguindo esta análise, a Constituição Federal brasileira, de 1946, inicialmente, se revelou aberta em relação ao direito de liberdade de expressão, com influência do liberalismo que ascendia nos países considerados potências mundiais. Da mesma forma, mostrou-se pontual em sua restrição, ao proibir a propaganda preconceituosa com raça ou classe social, fato que por si só demonstra um pequeno avanço na Carta Magna.

Ao passo, todavia, que apresentava ser um caminho rápido para os atuais direitos fundamentais, essa Constituição apresentou, também, pontos negativos acerca do tema, visto que manteve as tendências centralistas do Poder Executivo.

Em relação à liberdade de manifestação de pensamento, contudo, pouco ou quase nada mudou em relação à Carta de 1937, pois mesmo com viés preventivo, a Constituição de 1946 prescreve no seu art. 141, § 5º:

É livre a manifestação de pensamento, sem que dependa de censura, salvo quanto a espetáculos e diversões públicas, respondendo cada um, nos casos e na forma que a lei preceituar, pelos abusos que cometer. Não é permitido o anonimato. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros e periódicos não dependerá de licença do Poder Público. Não será, porém, tolerada propaganda de guerra, de processos violentos para subverter a ordem política e social, ou de preconceitos de raça ou de classe. (BRASIL, 1946).

Tecnicamente, a Carta de 1946 foi considerada vigente até 1967, porém, virou “letra morta” nas mãos dos governantes militares logo após o Golpe de 1964.

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Violou-se o processo constitucional e usurpou-se o poder. Tivemos que enfrentar situações de absoluto desprezo pelo regime das liberdades públicas. A partir daí, tivemos uma Carta em 1967”, relembra Celso de Mello. Essa Carta preocupou-se, fundamentalmente, com a segurança nacional. Deu mais poderes à União e ao presidente, além de restringir direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros. (STF, 2005).

O Regime Militar destacou-se por censurar praticamente todas as espécies de liberdades do cidadão brasileiro. Há de se referir, no entanto, que a Constituição de 1967, outorgada nesse período, ampliou a liberdade de manifestação de pensamento, convicção política ou filosófica, apresentando, inclusive, certa contradição, consoante se depreende no seu art. 150, § 8º, que assim expõe:

Art. 150. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

§ 8º. É livre a manifestação de pensamento, de convicção política ou filosófica e a prestação de informação sem sujeição à censura, salvo quanto a espetáculos de diversões públicas, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros, jornais e periódicos independe de licença da autoridade. Não será, porém, tolerada a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de preconceitos de raça ou de classe. (BRASIL, 1967).

Da mesma forma ocorria com a liberdade de prestação à informação, a qual, por meio da Constituição de 1967, agraciava os profissionais da mídia (jornalistas ou radialistas) com o direito não serem coagidos a indicar o nome de seu informante ou a fonte de suas informações. Ademais, o seu silêncio não poderia servir de objeto de sanção, seja direta ou indiretamente (BRASIL, 1967).

Segundo o ministro Celso de Mello (STF, 2005, [s.p.]), “Essa Carta preocupou-se, fundamentalmente, com a segurança nacional. Deu mais poderes à União e ao presidente, além de restringir direitos e garantias fundamentais dos cidadãos brasileiros.”

A sensação de liberdade durou pouco para a população brasileira. Em 1969, aproveitando o falecimento do então presidente Costa e Silva e, consequentemente, a ausência de presidente da República, sobreveio a Emenda Constitucional nº 1, a qual foi introduzida de forma autoritária, estabelecendo o início de um período repleto de censuras e represálias àqueles que a burlassem (BONAVIDES; ANDRADE, 2008).

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Em seu texto, mais especificamente no art. 153, caput, e § 8º, havia um entendimento diverso às previsões contidas nas Constituições anteriores, nos seguintes termos:

Art. 153. A Constituição assegura aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade dos direitos concernentes à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

[...]

§ 8º. É livre a manifestação de pensamento, de convicção política ou filosófica, bem como a prestação de informação independentemente de censura, salvo quanto a diversões e espetáculos públicos, respondendo cada um, nos termos da lei, pelos abusos que cometer. É assegurado o direito de resposta. A publicação de livros, jornais e periódicos não depende de licença da autoridade. Não serão, porém, toleradas a propaganda de guerra, de subversão da ordem ou de preconceitos de religião, de raça ou de classe, e as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes. ( BRASIL, 1969, sic).

Nota-se no artigo supracitado que, uma vez vedadas “as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes”, este dava abertura às diversas censuras que ocorreram no período, as quais eram arbitrariamente executadas, dependendo do interesse e da vontade dos militares que atuavam no regime ditatorial (CÂMARA DOS DEPUTADOS, 2019).

Com o fim do Regime Militar e o início de um processo de redemocratização no Brasil, a Assembleia Nacional Constituinte aprovou, em 22 de setembro de 1988, e promulgou em 5 de outubro do mesmo ano, a Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988 (CF/88), conhecida, também, como “Constituição Cidadã5”.

A atual Carta Magna do Brasil representa a transformação histórica do país, bem como serve de base para os direitos fundamentais que o povo brasileiro usufrui atualmente. Sua base possui perspectiva progressista e resistente às atrocidades cometidas contra a liberdade do cidadão no Regime Militar, atitude verificada em sua redação, consoante art. 5º, inc. IV, e art. 220, caput, já citados neste capítulo.

1.1.1 A liberdade de expressão no âmbito internacional

Com o objetivo de ampliar o embasamento teórico dos limites da liberdade de expressão, adentra-se no âmbito internacional do tema, como, por exemplo, dos Estados

5 Considerada o principal símbolo do processo de redemocratização do nacional, a CF/88 permitiu a participação

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Unidos, onde é discutido o hate speech6 (discurso de ódio), caracterizado por Daniel Sarmento (2008) como: “manifestações de ódio, desprezo ou intolerância contra determinados grupos, motivadas por preconceitos ligados à etnia, religião, gênero, deficiência física ou mental e orientação sexual, dentre outros fatores [...].”

Um ponto relevante do hate speech, especialmente quando se reporta aos limites da liberdade de expressão, refere-se às discussões que ocorrem na seara jurídica, quando pessoas recorrem ao Poder Judiciário para exigir reparação no caso de ofensa a seus direitos ou direitos de terceiros. Nas palavras de Riva Sobrado de Freitas e Matheus Felipe de Castro (2013, p. 344), observa-se que

[...] configura um ato ilícito, na esfera cível, e/ou crime, na esfera penal. Para tratar de ilícito de natureza cível, recorre-se à definição prevista no art. 187, CC, segundo a qual "também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes" (BRASIL, 2002, grifamos).

Considerando o entendimento dos autores supracitados, pode-se afirmar que o discurso de ódio nada mais é do que o excesso de liberdade de expressão, no qual as pessoas se acham no direito de expor suas ideias e convicções, independentemente de estarem ou não ofendendo o direito de terceiros. Assim, apesar da proteção internacional por meio das Declarações de Direitos, ou do fato de a CF/88 assegurar e legitimar esse direito, transbordar da liberdade é um ato ilícito. “É um transbordar da liberdade; é exceder os seus limites e entrar na zona da ofensa, da violência contra o outro.” (FREITAS; CASTRO, 2013, p. 346).

Segundo entendimento de Winfried Brugger (2007, p. 118),

O discurso do ódio refere-se a palavras que tendem a insultar, intimidar ou assediar pessoas em virtude de sua raça, cor, etnicidade, nacionalidade, sexo ou religião, ou que têm a capacidade de instigar violência, ódio ou discriminação contra tais pessoas. (apud FREITAS; CASTRO, 2013, p. 346, grifamos).

Para melhor ilustrar a tutela jurídica da liberdade de expressão e manifestação na esfera internacional, citam-se alguns precedentes da Suprema Corte dos Estados Unidos, que ao interpretar a Primeira Emenda à Constituição, assegurou a liberdade de expressão.

6 Hate speech, do inglês: discurso de ódio; qualquer ato de comunicação que inferiorize ou incite contra uma

pessoa ou grupo, tendo por base características como raça, gênero, etnia, nacionalidade, religião, orientação sexual ou outro aspecto passível de discriminação (SARMENTO, 2008, [s.p.]).

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O episódio que reflete, de forma clara, o modo como é interpretada esta norma

constitucional nos Estados Unidos, é o caso conhecido como Collin vs Smith (1977)7, em que

a Suprema Corte dos Estados Unidos entendeu inconstitucional limitar o uso de suásticas numa marcha do Partido Nacional Socialista dos Estados Unidos em um bairro repleto de sobreviventes do Holocausto na cidade de Chicago, uma vez que não cabe ao Estado limitar o livre discurso e, consequentemente, a primeira emenda. O fato evidencia que há certas ocasiões que impossibilitam o Congresso de elaborar leis, limitando e/ou cerceando a liberdade de expressão ou de imprensa (SARMENTO, 2008).

O Canadá, por outro lado, é pontual na delimitação do direito em comento, consoante se verifica no estudo de Sarmento (2008), em “A liberdade de expressão e o problema do hate

speech”:

A Carta Canadense de Direitos e Liberdades, aprovada em 1982, consagra a liberdade de expressão no seu art. 2º (b), segundo o qual todos têm direito “à liberdade de pensamento, crença, opinião, expressão, incluindo a liberdade da imprensa e de outros meios de comunicação”. No entanto, a Carta também protege o direito à igualdade, vedando discriminações (art. 15, 1) e prevendo inclusive a possibilidade de instituição de políticas de ação afirmativa em favor de minorias em situação desvantajosa (art. 15, 2). Ela contém, ainda, referência ao multiculturalismo como compromisso fundamental da sociedade canadense (art. 27). Ademais, a Carta estabelece expressa autorização para a instituição de limites aos direitos fundamentais, desde que sejam razoáveis, criados por lei e que possam ser “demonstravelmente justificados numa sociedade livre e democrática” (art. 1º).

Nota-se, portanto, que a legislação canadense, neste aspecto, se assemelha à brasileira, visto que o direito à liberdade de expressão não é absoluto, mas submetido a regras impostas pelas Leis do Estado, bem como em observância aos demais princípios que norteiam o país.

Partindo do contexto histórico pós-Segunda Guerra Mundial, a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH), adotada pela Organização das Nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948, surgiu como resposta às barbáries cometidas naquele conflito. Seu objetivo era redirecionar os princípios ideológicos das nações e proporcionar as bases para a paz mundial. Quanto à liberdade de expressão, a referida Declaração expressa o seu viés no art. 19, in verbis:

(18)

Art. 19. Todo indivíduo tem direito à liberdade de opinião e de expressão, o que implica o direito de não ser inquietado pelas suas opiniões e o de procurar, receber e difundir, sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão. (ONU, 1948).

A Declaração Universal dos Direitos Humanos serviu de fonte para o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, aprovado pelo Congresso brasileiro após o Regime Ditatorial, mediante Decreto Legislativo nº 226, de 12 de dezembro de 1991. A Carta de Adesão foi depositada na Secretaria Geral da Organização das Nações Unidas, em 24 de janeiro de 1992, sendo finalmente absorvido pelo Ordenamento Interno a 24 de abril do mesmo ano. Os termos do referido Pacto, portanto, possuem força constitucional no Brasil,

presentes na atual Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (CF/88), em seu

título II, dos “Dos Direitos e Garantias Fundamentais” (PIOVESAN, 2012).

O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, seguindo sua visão humanitária, abrange, também, o tema abordado neste capítulo, como infere o seu art. 19:

Art. 19.

1. Ninguém pode ser discriminado por causa das suas opiniões.

2. Toda a pessoa tem direito à liberdade de expressão; este direito compreende a liberdade de procurar, receber e divulgar informações e ideias de toda a índole sem consideração de fronteiras, seja oralmente, por escrito, de forma impressa ou artística, ou por qualquer outro processo que escolher.

3. O exercício do direito previsto no parágrafo 2 deste artigo implica deveres e responsabilidades especiais. Por conseguinte, pode estar sujeito a certas restrições, expressamente previstas na lei, e que sejam necessárias para:

a) Assegurar o respeito pelos direitos e a reputação de outrem; b) A protecção da segurança nacional, a ordem pública ou a saúde ou a moral públicas. (sic). (PIOVESAN, 2012, p. 481).

Com a finalidade de consolidar todos os direitos versados pelos documentos supracitados, principalmente no que tange à realidade do continente americano, em 1969 foi realizada a Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José da Costa Rica, ocasião em que foi assinado um pacto com o objetivo de estabelecer os direitos fundamentais da pessoa humana, incluindo a liberdade nesse rol. A Convenção Americana de Direitos humanos, como também é conhecida, entrou em vigor em 18 de julho de 1978, tendo o Brasil entre seus países signatários. O documento, todavia, só foi ratificado pelo Brasil em 25 de setembro de 1992, e passou a ter validade no Ordenamento Interno a partir do Decreto nº 678, de 6 de novembro de 1992. Por fim, com a Emenda Constitucional nº 45, de 2004, o referido pacto, assim como todos os tratados referentes aos direitos humanos, foi equiparado às normas constitucionais (PIOVESAN, 2012).

(19)

Diante do progresso da liberdade de expressão, esta começou a ser efetivada mundialmente, assegurando a liberdade de pessoas que, com o advento deste direito, trouxeram à tona informações relevantes para a sociedade, como podemos observar no caso Kimel vs Argentina, ocasião em que o jornalista Eduardo Gabriel Kimel, em seu livro “O Massacre de San Patricio”, criticou a atuação das autoridades encarregadas da investigação dos homicídios de cinco religiosos, dentre elas, um Juiz, o qual, por sua vez, em 6 de dezembro de 2000, promoveu uma queixa criminal contra o autor pelo delito de calúnia, sendo Kimel condenado a um ano de prisão e a uma multa de vinte mil pesos. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em 2007, reconhecendo a responsabilidade internacional, recorreu à sentença condenatória, alegando em sua petição que o Estado “violou o direito de que gozam os indivíduos de expressar suas ideias através da imprensa e do debate de assuntos públicos”, uma vez que a tipificação penal prevaleceu em detrimento do direito fundamental exposto. (BRASIL, 2014, pp. 265-292).

Diante dos argumentos apresentados por ambas as partes, inclusive com apresentação de provas documentais, a Corte declarou, por unanimidade, que:

Aceita o reconhecimento de responsabilidade internacional efetuado pelo Estado, nos termos dos parágrafos 18 a 28 desta Sentença, e manifesta que existiu violação do direito à liberdade de expressão [...]. O Estado violou o princípio de legalidade consagrado no artigo 9 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos [...]. O Estado deve adequar, em um prazo razoável, seu direito interno à Convenção Americana sobre Direitos Humanos, de tal forma que as imprecisões reconhecidas pelo Estado (parágrafos 18, 127 e 128 supra) sejam corrigidas para satisfazer os requerimentos de segurança jurídica e, consequentemente, não afetem o exercício do direito à liberdade de expressão. (BRASIL, 2014, pp. 265-292).

O caso Kimel, não obstante o direito reconhecido ao jornalista, reafirma, também, que a liberdade de expressão é um direito fundamental em uma sociedade democrática. Cabe salientar, outrossim, que a partir deste caso, consoante trecho da sentença supracitada, uma vez assumida a responsabilidade do Estado, este foi obrigado a revisar situações idênticas ou semelhantes ao presente caso, de modo que o país, de fato, se adequasse ao direito reconhecido, como forma de reparação e prevenção da sua segurança jurídica.

Registra-se que, recentemente, no dia 15 de abril de 2019, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, determinou a retirada do ar de uma reportagem publicada pelo site “O Antagonista” e pela revista digital “Crusoé”, que mencionavam ato do presidente do STF, Dias Toffoli. Ao agir dessa forma, o ministro colocou em risco a liberdade de expressão no Brasil, o que mostra com evidência que a Suprema Corte tem agido por motivos políticos e com censura.

(20)

1.2 Liberdade de expressão: conceito e características

Os direitos e deveres sempre estiveram presentes na trajetória da Humanidade e, a partir do seu conhecimento e contexto histórico, é capaz de determinar as obrigações dos cidadãos, bem como suas prerrogativas e/ou licença para realizar (ou não) determinados atos que permeiam a sociedade.

Primeiramente, para compreender as possibilidades e limites referentes ao direito de liberdade de expressão, estabelecidos na atualidade, é de suma importância apontar o que é, de fato, um direito fundamental no ordenamento jurídico. Sabe-se que ele abrange o direito à informação e à privacidade e relaciona-se com o princípio da dignidade humana.

Segundo entendimento de Uadi Lammêgo Bulos (2012, p. 228), os direitos fundamentais são “o conjunto de normas, princípios, prerrogativas, deveres e institutos inerentes à soberania popular, que garantem a convivência pacífica, digna, livre e igualitária, independente do credo, raça, origem, cor, condição econômica ou status social.” São, portanto, essenciais para o convívio em sociedade, pois cada pessoa pode usufruí-los de forma igual e sem discriminações, respeitando a individualidade de cada um.

Não se pode deixar de mencionar o entendimento de Gilmar Ferreira Mendes (2002, p. 4) a respeito dos direitos fundamentais. Segundo ele,

Os direitos fundamentais são, a um só tempo, direitos subjetivos e elementos fundamentais da ordem constitucional objetiva. Enquanto direitos subjetivos, os direitos fundamentais outorgam aos titulares a possibilidade de impor os seus interesses em face dos órgãos obrigados. Na sua dimensão como elemento fundamental da ordem constitucional objetiva, os direitos fundamentais – tanto aqueles que não asseguram, primariamente, um direito subjetivo, quanto aqueles outros, concebidos como garantias individuais – formam a base do ordenamento jurídico de um Estado de Direito democrático.

O ministro, na verdade, quis dizer que o Estado tem o dever de tutelar os direitos fundamentais enquanto direitos voltados às liberdades públicas, nas quais se inclui a liberdade de expressão como garantia individual, inclusive, abstendo-se de interferir nessa liberdade, desde que o seu exercício não afete direitos alheios. No ordenamento jurídico-constitucional brasileiro, a fundamental liberdade de expressão consiste no dever de o Estado garantir a sua plena atividade, “[...] seja em sua estrutura de liberdade individual [...] ou na divulgação de

(21)

informações pelas mídias de comunicação que possam contribuir para a justiça social.” (HOGEMANN, 2019, [s.p.]).

A partir dessas considerações é pertinente definir, também, a liberdade de expressão expressa na CF/88, que estabelece em seu art. 5º, inc. IV, uma espécie de “cláusula geral” que, em conjunto com outros dispositivos, assegura a liberdade de expressão em suas diversas manifestações, como liberdade de manifestação do pensamento (incluindo a liberdade de opinião), de expressão artística, de ensino e pesquisa, de comunicação e de informação (liberdade de “imprensa”) e de expressão religiosa (SARLET; MOLINARO, 2014, pp. 452-454).

A liberdade de expressão é fundamental para o exercício da democracia, pois sem comunicação os cidadãos teriam dificuldade para interagir no âmbito social e político. Não se trata, portanto, do direito de um, mas de todos.

A liberdade de expressão não é um direito público subjetivo de todos os cidadãos, trata-se, sobretudo, de uma característica essencial do sistema democrático [...]. Sem a liberdade de comunicar e receber ideias, os cidadãos não podem desempenhar a tarefa de se autogovernar democraticamente. O propósito da liberdade de expressão não é a autorealização pessoal, senão a preservação da democracia e o direito do povo em decidir o seu futuro. A liberdade de expressão é um meio de autodeterminação coletiva. [...]. (SOUZA, 2010, p. 184, sic).

Nesta senda, vale a pena, novamente, chamar a atenção e destacar a garantia fundamental prevista na Declaração Universal dos Direitos dos Homens, em seu art. 19, in

verbis: “Todo homem tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a

liberdade de, sem interferências, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.” (ONU, 1948, sic).

É indispensável, todavia, a compreensão do direito fundamental de liberdade de expressão em um sentido amplo, esclarecendo, assim, a visão geral e atual de como é considerada essa prerrogativa no âmbito jurídico e social, delimitando o seu conceito.

Na opinião de Frank J. Michelman (2017, p. 51), a liberdade de expressão pode ser analisada tanto a partir de uma concepção tênue como densa. O autor afirma nesse sentido que:

(22)

[...] Numa concepção tênue – e, de novo, isso é o que muitas pessoas chamam de uma concepção ‘formal’ – a liberdade de expressão está em vigor quando o Estado se abstém de suprimir ou obstruir a liberdade de expressão por meio dos atos e leis do Estado. Liberdade de expressão tênue é o que devemos chamar de liberdade de expressão ‘jurídica’ – ela significa, grosso modo, que o Estado não estabelece ou implementa quaisquer leis contra a liberdade de expressão.

Na perspectiva do autor, a liberdade de expressão “não é juridicamente livre, mas é material e socialmente livre”, ou seja, ninguém é privado injustamente da oportunidade de se expressar e/ou emitir sua opinião. No Regime Militar ocorreu exatamente o contrário, pois ele previamente interceptava e, julgando necessário, censurava essa liberdade sem que o cidadão sequer tivesse a chance de expressá-la (MICHELMAN, 2017).

Neste escopo, Frank J. Michelman (2017, p. 59) acrescenta:

Em uma concepção tênue, jurídica, a liberdade de expressão está em vigor tão logo o Estado se abstenha de reprimi-la ou obstruí-la por meio de seus próprios atos e leis. A liberdade de expressão tênue significa pura e simplesmente que o Estado não se impõe nem faz vigorar nenhuma lei contrária à livre expressão do pensamento.

A imposição de obstáculos à liberdade de expressão, seja reprimindo-a ou obstruindo-a, revela uma face nefasta do regime ditatorial vivenciado nos denominados “Anos de

Chumbo8”. Em razão da redemocratização implantada no Brasil, entretanto, atualmente ela

perpassa todos os campos, sejam jurídicos, políticos, sociais e religiosos. Nesta senda, Priscila Coelho de Barros Almeida (2015) compreende que:

Ao consagrar a liberdade de manifestação de pensamento no texto constitucional, o legislador constituinte garantiu também a liberdade de expressão, como corolário da liberdade de pensamento e opinião. [...] Assim, o indivíduo “pode manifestar-se por meio de juízos de valor (opinião) ou da sublimação das formas em si, sem se preocupar com o eventual conteúdo valorativo destas”. Essa é a exata noção da liberdade de expressão, conforme atesta Nuno e Sousa: “A liberdade de expressão consiste no direito à livre comunicação espiritual, no direito de fazer conhecer aos outros o próprio pensamento (na fórmula do art. 11° da Declaração francesa dos direitos do homem de 1989: a livre comunicação de pensamentos e opiniões)”. Não se trata de proteger o homem isolado, mas as relações interindividuais (“divulgar‟). Abrangem-se todas as expressões que influenciam a formação de opiniões: não só a própria opinião, de caráter mais ou menos crítico, referida ou não a aspectos de verdade, mas também a comunicação de factos (informações). Dessa feita, sob o manto da liberdade de expressão encontra-se agasalhada toda opinião, convicção, comentário, avaliação ou julgamento sobre qualquer assunto ou sobre qualquer pessoa, envolvendo tema de interesse público, ou não, de importância e de valor, ou não.

8 Os anos de chumbo foram o período mais repressivo da ditadura militar no Brasil, estendendo-se basicamente

do fim de 1968, com a edição do AI-5, em 13 de dezembro daquele ano, até o final do governo Médici, em março de 1974 (BONAVIDES; ANDRADE, 2008, grifamos).

(23)

Observa-se, assim, que a liberdade de expressão não é absoluta, uma vez que o direito de manifestação não pode violar os direitos fundamentais e, por isso, sofre limitações éticas e jurídicas.

1.3 Dimensões e limites da liberdade de expressão

É inegável que após o período obscuro pelo qual passou o Brasil até o ano de 1984, a CF/88 trouxe inúmeros direitos e garantias que visaram concretizar os objetivos descritos no seu art. 3º, notadamente, “o de construir uma sociedade livre, justa e igualitária”. Destaca-se, ainda, que o art. 1º, caput, efetiva o regime democrático e apresenta a cidadania como um de seus fundamentos. Então, para que se possa construir a cidadania, a liberdade de expressão não pode ser obstruída, salvo se essa ofender, for anônima ou disseminar ideias de ódio.

Neste contexto, é oportuno salientar a importância de se fazer uma análise de casos concretos que envolvem o tema ora versado, o qual influencia diretamente no Jornalismo e nas demais profissões que exigem a publicação de informações e exposição de opiniões, a fim de se compreender as dimensões e limites aplicáveis a este valor.

O ministro do STF, Gilmar Mendes, destaca nesse sentido que:

As liberdades de expressão e informação e, especificamente, a liberdade de imprensa, somente podem ser restringidas pela lei em hipóteses excepcionais sempre em razão da proteção de outros valores e interesses constitucionais igualmente relevantes, como os direitos à honra, à imagem, à privacidade e à personalidade em geral. Precedente do STF: ADPF n. 130, Rel. min. Carlos Brito. (STF, 2009).

Infere-se, portanto, que o STF não adota o entendimento de que a garantia de liberdade de expressão abrangeria o hate speech, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos. Não obstante a prevalência ao direito fundamental da liberdade de expressão, esta não é absoluta, sendo necessário, em casos de conflitos, fazer uso da ponderação, pautada pelo Princípio da Proporcionalidade, não havendo alternativa outra a não ser a análise do caso concreto.

Neste viés, a Carta Magna, em seu art. 5º, inc. IV, ao tratar do assunto, garante a realização da liberdade de expressão e, também, a limita, de forma a não se tornar abusiva, tanto que explicita: “é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato” (BRASIL, 1988).

(24)

E, uma vez vedado o anonimato, a CF/88 ressalva a delimitação imposta na liberdade de expressão ora descrita pelo julgador supracitado, assegurando que o direito fundamental em questão deve ser exercido com responsabilidade e em atenção, inclusive, a outros princípios norteadores da Lei Maior, como se depreende, também, do art. 5º, inc. X: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.” (BRASIL, 1988).

Verifica-se, portanto, que o direito fundamental à liberdade de expressão não é absoluto, tendo em vista as possíveis consequências, caso não sejam observados os elementos limitadores, os quais são imprescindíveis à integridade moral do cidadão.

Ao se afastar do âmbito jurídico e adentrar na esfera da Comunicação Social, a Carta Magna apresenta dispositivos que, não obstante o destaque de sua liberdade, também restringem este direito, influenciando diretamente no exercício da imprensa e na proteção do indivíduo, como se pode observar em seu art. 220:

A manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma, processo ou veículo não sofrerão qualquer restrição, observado o disposto nesta Constituição. § 1º. Nenhuma lei conterá dispositivo que possa constituir embaraço à plena liberdade de informação jornalística em qualquer veículo de comunicação social, observado o disposto no art. 5º, IV, V, X, XIII e XIV. (BRASIL, 1988).

Registra-se que, com a expansão das redes sociais, bem como a facilidade de utilização do anonimato, ou na sua impossibilidade, a confecção de perfis fakes, a internet acabou por exercer um meio de escopo à raiva e descontentamento de pessoas, as quais desconhecem e/ou ultrapassam os limites supracitados, ocorrendo, portanto, o exercício abusivo da liberdade de expressão. Estes casos são frequentemente observados nas mídias sociais, como o Facebook, Instagram e WhatsApp, em razão da sua rápida propagação. Tais mídias, inclusive, foram ferramentas decisivas no compartilhamento em massa de notícias falsas, conhecidas como as fake news, nas eleições dos Estados Unidos, em 2016, e no Brasil, em 2018 (FERRIGOLO, 2001).

Ainda na esfera da Comunicação Social, seguindo a linha de pensamento ora exposta, infere-se que sua liberdade não é absoluta, devendo ser submetida, também, à interferência e ponderação dos outros princípios fundamentais que norteiam a Constituição Federal.

(25)

Um caso concreto do limite da liberdade da Comunicação Social é a Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público Federal, em 2008, por intermédio da procuradora Regional dos Direitos do Cidadão, Adriana da Silva Fernandes, em face da emissora de televisão REDE TV! Na ocasião, a agente ministerial criticou a cobertura jornalística do sequestro de Santo André/SP, nacionalmente conhecido como “Caso Eloá”, que foi amplamente televisionado, ocasionando a interferência direta da ação policial, pois entrevistou o sequestrador enquanto Eloá era mantida refém pelo ex-namorado. A seguir, consta o trecho da Ação Civil Pública9 que expõe, de forma clara, o limite da liberdade de expressão neste nicho:

A Constituição Federal garante plenamente a liberdade de expressão e de manifestação do pensamento, de criação, de expressão e de informação, vedando qualquer censura de natureza política, ideológica ou artística (art. 220, caput e §2º). No entanto a liberdade de comunicação social não é absoluta, devendo estar em compasso com outros direitos inseridos na Constituição Federal, dentre eles o direito à privacidade, à imagem e à intimidade dos indivíduos (art. 220, §1º e art. 5º, X), bem como os valores éticos e sociais da pessoa e da família. Ademais, o art. 53 da Lei 4.117/62 declara que constitui abuso, no exercício da liberdade da radiodifusão, o emprego desse meio de comunicação para a prática de crime ou contravenção previstos na legislação em vigor no País, inclusive para incitar a desobediência às leis ou decisões judiciárias; comprometer as relações internacionais do País, ofender a moral familiar, pública ou dos bons costumes; colaborar na prática de rebeldia, desordens ou manifestações proibidas. (LIMA, 2012).

Neste viés, Ingo Wolfgang Sarlet e Carlos Alberto Molinaro (2014, p. 125) manifestam que:

[...] De qualquer forma, discorrer sobre a ‘liberdade de expressão’, principalmente sobre seus limites (pois nenhum direito fundamental, especialmente se tratando de uma liberdade, é absoluto), é sempre uma tarefa difícil e dolorosa [...] Há uma inderrogável perspectiva cultural que deve estar sempre presente quando se intenta refletir sobre a liberdade de expressão e seus limites.

Há, portanto, a liberdade de iniciar a discussão, visto que na sua ausência, é impossível se chegar ao senso comum ou, ao menos, próximo dele. Essa liberdade, todavia, pode esbarrar nos limites impostos tanto pela sociedade como pela legislação, ambos com fins que ultrapassam o direito pessoal, imperando, no caso, a ordem e o bem coletivo.

9 O Ministério Público Federal (MPF), por intermédio da Procuradora Regional dos Direitos do Cidadão,

Adriana da Silva Fernandes, ajuizou em 1º de dezembro de 2008, na Vara Cível da 1ª Subseção Judiciária de São Paulo, uma Ação Civil Pública (ACP) contra a RedeTV! Em função da cobertura “jornalística” do sequestro de Santo André, SP. (LIMA, 2012, p. 202, grifos do autor).

(26)

A esse respeito se manifestam Sarlet e Molinaro (2014, p. 125):

Daí ser válido afirmar que toda manifestação livre do pensamento ou a ação que a exteriorize vai revelar-se como um produto cultural amalgamado por preceitos de uma ‘moralidade pública’, acolhidos por determinados círculos sociais nos quais ela ocorre. Tal situação induz, eventualmente, conflitos entre os diversos círculos socioculturais encontrados na sociedade. Nesta linha de argumentação como, então, defender que não há assunto cuja discussão deva ser interditada? A resposta somente encontra eco na aceitação responsável das consequências ‘das minhas palavras e dos meus atos’ [...] O mais importante aí é a garantia de liberdade para a produção do debate, bem como a afirmação da atribuição de responsabilidade aos atores sociais envolvidos.

Em relação ao campo de incidência da liberdade de expressão, não se descarta, em hipótese alguma, a possibilidade de debates, a manifestação em redes sociais, a emissão de opiniões, desde que essas não excedam os limites legais, sociais e notadamente aceitos pela sociedade.

Por conseguinte, a seguir desenvolve-se alguns aspectos referentes aos limites e possibilidades da liberdade de expressão em razão da utilização das redes sociais.

(27)

2 LIMITES E POSSIBILIDADES DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO FRENTE ÀS REDES SOCIAIS

Falar em liberdade de expressão frente às redes sociais exige, sem sombra de dúvida, atenção redobrada, pois outros direitos fundamentais estão envolvidos, tais como o direito à intimidade, à privacidade e à honra.

Este capítulo aborda a relação entre Direito e redes sociais, e tem o objetivo de analisar os aspectos relativos ao direito à liberdade de expressão no âmbito dessa recente tecnologia. O estudo está organizado de maneira simples, mas de forma a contemplar a liberdade de expressão em face da utilização das redes sociais no Brasil, analisando aspectos referentes ao Facebook e Instagram e, também, os problemas relativos ao anonimato e à responsabilidade civil dos provedores.

Analisa-se, por fim, casos concretos acerca da violação de direitos fundamentais que ensejaram a tomada de posição do Supremo Tribunal Federal (STF) quanto à liberdade de informação, seus limites e possibilidades.

2.1 A utilização das redes sociais no Brasil

Para se entender melhor a utilização das redes sociais no Brasil, faz-se necessário um questionamento: redes sociais e mídias sociais são a mesma coisa? Não, elas não são a mesma coisa. Os ensinamentos de Themis Limberger (2007, p. 62, grifos do autor) são elucidativos nesse sentido:

[...] as redes sociais são os grupos de conexões e relacionamentos que temos com outras pessoas. Já as mídias sociais são plataformas que garantem que isso aconteça. Enquanto mídias sociais são plataformas que têm como sua principal função o compartilhamento em massa de conteúdo e transmissão de informações, como blogs, site e até mesmo o Youtube.

Resumindo tudo isso, podemos afirmar que as redes sociais são uma categoria dentro das mídias sociais. Locais onde podemos interagir com pessoas que conhecemos, mas nos quais a todo momento estamos expostos a uma imensidão de conteúdo.

Desse modo, é inegável que a principal função de uma rede social é conectar pessoas dentro do mundo virtual, seja para construir novas conexões sociais ou apenas para manter as já existentes (LIMBERGER, 2007).

(28)

O Facebook foi criado em 2004 apenas para estudantes de Harvard, porém, passou a ser utilizado oficial e massivamente em 2006. Por outro lado, o Instagram, criado posterior ao

WathsAPP, em 2016, é uma das mídias sociais com maior crescimento nos últimos anos e,

segundo Evan Asano, diretor executivo da MediaKix (ESTADÃO, 2019)10,

Os milhões de usuários da rede aproveitam das inúmeras possibilidades que o aplicativo de compartilhamento de fotografias oferece desde compartilhar momentos diários com o Instagram Stories até interagir e comentar nas postagens de amigos e familiares, criando uma verdadeira rede social nessa plataforma.

O Brasil, apesar do seu considerável atraso tecnológico no tocante às grandes potências mundiais, possui expressiva população interagindo nas redes sociais, sendo o

Facebook a principal delas. Nessa plataforma de interação, o Brasil ocupa, atualmente, o

terceiro lugar entre os demais países do mundo, com uma soma de mais de 130 milhões de

usuários (R7, 2019)11, perdendo apenas para a Índia e Estados Unidos.

Isto demonstra que o brasileiro está cada vez mais engajado no relacionamento digital, e busca influenciar e ser influenciado por essas tecnologias. Como consequência direta dessa evolução, os periódicos, jornais e até mesmo pronunciamentos oficiais do presidente da República estão sendo difundidos por meio das redes sociais. O fato deixa margem tanto para debates frutíferos com a sociedade, quanto possibilita que o usuário distorça a liberdade de expor seu pensamento e, assim, infrinja os demais direitos fundamentais expressos na Magna Carta.

A eleição presidencial de 2018 expôs, de forma clara, a influência do discurso divulgado nas redes sociais, sendo essas as principais fontes de campanha utilizadas pelos candidatos daquele ano. Cabe salientar que os conteúdos distribuídos são rapidamente consumidos e internalizados pelos usuários, como demonstra a pesquisa realizada pela

Datafolha (2013)12, a qual constatou que:

10 Disponível em: https://link.estadao.com.br/noticias/empresas,em-breve-seu-instagram-estara-cheio-de-propaga

ndas,70002859450. Acesso em: 2 nov. 2019.

11 Disponível em: https://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia/brasil-e-o-3-pais-com-o-maior-numero-de-usuario

s-do-facebook-0203201903/09/2019. Acesso em: 2 nov. 2019.

12 Disponível em:

(29)

Entre uma série de instituições, que incluem Congresso Nacional, Presidência da República, Igreja Católica e Imprensa, além de redes sociais, estas últimas alcançaram, ao lado da imprensa, o maior prestígio e importância na sociedade brasileira, segundo os paulistanos.

Para 65%, as redes sociais na internet têm muito prestígio na sociedade brasileira, enquanto 21% avaliam que têm pouco prestígio, e 8%, nenhum prestígio. A fatia dos que avaliam as redes sociais com muito prestígio é similar à verificada para a imprensa (61%).

Neste sentido, outra pesquisa do Datafolha (EXAME, 2018)13 aponta que:

[...] para as eleições presidenciais de 2018, foi identificado que os eleitores do candidato líder nas pesquisas, Jair Bolsonaro, se informam sobre política majoritariamente pelas redes sociais. São 61% dos eleitores que se informam pelo WhatsApp, 57% pelo Facebook e 28% pelo Instagram. Sendo essa, a primeira eleição no Brasil onde as redes sociais assumem um protagonismo.

É nítida, portanto, a mudança de planejamento de campanhas, publicidades e comércios com o ápice do alcance gerado pelas redes sociais no Brasil e no mundo. Entre as mudanças resultantes da determinante inserção das redes sociais nas relações entre os indivíduos consta a divulgação de notícias, fatos e informações. Limberger (2007, p. 51) afirma nesse sentido que

Atualmente, o acesso de um maior número de pessoas à informática representa um avanço para a comunicação, uma vez que o computador não é somente uma máquina, com seu aspecto tecnológico de última geração, mas também leva consigo a possibilidade de transmitir a informação de uma forma muito veloz. [...].

Diante de tal afirmativa, importa ressaltar o surgimento das plataformas Facebook e

Instagram, o primeiro conhecido como uma plataforma social e o segundo como aplicativo de

imagens.

2.1.1 Do Facebook ao Instagram

Além da possibilidade de interação, as redes sociais no Brasil vêm sendo uma ferramenta de trabalho para a população, uma vez que o país enfrenta há anos uma grande taxa de desemprego que leva o trabalhador a apostar neste meio para extrair dele o seu sustento. Nesta senda, está cada vez mais comum a introdução de lojas online, que tornam desnecessário o gasto com espaço físico e com empregados, tampouco exige o pagamento de impostos usualmente cobrados no comércio formal.

13 Disponível em: https://exame.abril.com.br/negocios/dino/62-da-populacao-brasileira-esta-ativa-nas-redes-soci

(30)

Neste sentido, as redes sociais estão se tornando, também, fonte de renda para o brasileiro, com forte representatividade no comércio e na publicidade. O Instagram, por exemplo, possui usuários que influenciam fortemente no ramo de roupas, calçados e demais objetos de consumo.

Se a generalidade, a dinamicidade e o funcionamento descentralizado das redes, de um lado, permitem às forças produtivas, ao comércio e ao consumo romperem fronteiras e se organizarem em escala global, proporcionando a transição para a nova economia global, de outro, conduziram a diferentes tipos de articulação no campo da sociedade civil: atores sociais organizados em torno de redes marcam a dinâmica da a ação coletiva em fins do século 20. (DE FAZIO, 2012, p. 76).

É importante compreender que no âmbito das redes sociais, qualquer indivíduo, grupo de pessoas ou empresas podem interagir entre si e se articular, pois se identificam e compartilham ideias e propostas comuns. Chama a atenção o fato de que no Instagram e no

Facebook as relações sociais são fundadas não apenas no cotidiano de parentesco ou amizade,

mas de grupos de trabalho e digitais influencers14 da moda, culinária, viagens, beleza, etc.

Fica evidente, então, que as redes sociais se apresentam como nova ferramenta a serviço da sociedade, seja para socializar informações, expressar sentimentos e opiniões, divulgar e comercializar produtos, como “[...] também aproximar atores que desenvolvem projetos distintos, porém, vinculados a um objetivo maior e comum de transformação social, de combate às formas de desigualdade, pobreza e exclusão, ou de defesa do meio ambiente.” (DE FAZIO, 2012, p. 79).

Na pesquisa citada anteriormente pelo Datafolha e publicada pela Revista Exame, consta ainda que:

Em relatório divulgado pelas empresas We are Social e Hootsuite, intitulado “Digital in 2018: The Americas”, foi divulgado que 62% da população brasileira está ativa nas redes sociais. O relatório também constatou que 58% já buscou por um serviço ou produto pela internet [...]. Entre as redes sociais mais acessadas pelos brasileiros está o YouTube, com 60% de acesso, o Facebook com 59%, o WhatsApp com 56% e o Instagram com 40%. As mídias digitais já passam a assumir um forte papel nas estratégias de marketing das empresas, sendo que 37% das pessoas compram um produto por terem visto ele na TV, contra 29% que compram por terem visto o produto primeiro na internet, conforme aponta o mesmo relatório. (EXAME, 2018).

14 Digital influencer é a pessoa capaz de influenciar o comportamento e opinião de milhares de pessoas por meio do conteúdo que publica em seus canais de comunicação, como Facebook, Instagram, Twitter e YouTube (DE FAZIO, 2012, p. 82).

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